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Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012

           Transparência e Responsabilidade Empresarial:
               uma Análise dos Sites das 500 Maiores
                                 Felipe Saraiva Nunes de Pinho
                                   Faculdade Lourenço Filho

                                  Eloísa Crígina Duarte Xavier
                                   Faculdade Lourenço Filho

                                   Vanessa Martins dos Santos
                                    Faculdade Lourenço Filho
                                     Jarbas Silva Rodrigues
                                    Faculdade Lourenço Filho


Resumo

As últimas décadas foram marcadas por profundas mudanças no cenário em que acontecem os negócios
empresariais. A sociedade e os consumidores atualmente demandam, cada vez mais, responsabilidade nas
práticas e nas políticas das empresas. Nesse sentido, a revolução no acesso à informação, desencadeada
pela Internet, possibilitou um maior controle das práticas das organizações e de seus impactos
socioambientais. O objetivo deste artigo é analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam no
Brasil, verificando o grau de transparência e de disponibilização das informações relativas às ações de
Responsabilidade Socioambiental praticadas. Acredita-se que, chamando a atenção para a forma como as
empresas disponibilizam suas informações e se comunicam com seus diferentes stakeholders, está-se
contribuindo para a promoção de empresas mais transparentes e sustentáveis.

Palavras-chave: transparência; Internet; responsabilidade empresarial.



1 A VIRADA ÉTICA: A RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E A
LEGITIMIDADE DO NEGÓCIO


      Nas últimas décadas, mais precisamente desde 1970 (DEGEORGE, 2005), crescem as
discussões sobre a responsabilidade moral das empresas, principalmente devido à pressão que a
sociedade civil tem exercido sobre as organizações empresariais, em consequência das inúmeras
denúncias de más práticas nos negócios (GONZÁLEZ, 2011). Desde então, considera-se a
importância da reflexão ética como um exercício de clarificação e justificação das políticas e




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práticas empresariais, que tem como objetivo restabelecer, construir e fortalecer a confiança dos
afetados ou interessados pelas atividades das empresas em relação à legitimidade dos negócios e
dos objetivos empresariais (GARCÍA-MARZÁ, 2004).
     No atual cenário tecnológico e informacional, a "fiscalização" ética por parte da sociedade
civil, determinará, sem dúvida, novas formas e ferramentas de gestão empresarial. Para Josep
M. Lozano (2002), por exemplo, a Ética, no atual contexto empresarial, é tão imprescindível
para o êxito dos negócios como qualquer outra ferramenta estratégica de gestão.
     Este artigo tem, pois, o objetivo de analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam
no Brasil, verificando tanto o tipo de informação disponibilizada em relação à aplicação de
práticas e de políticas de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade quanto o grau de
transparência e de facilidade de acesso a essas informações.
     Acreditamos que as empresas deveriam compreender a importância estratégica de seus
sites, como meios de divulgação de suas ações, uma vez que a Internet se apresenta como um
espaço privilegiado de comunicação entre a empresa e os seus diversos stakeholders (CLARK,
2000). Nossa intenção é, portanto, averiguar como as empresas estão, atualmente, fazendo uso
estratégico dessa tecnologia (LLOPIS, GONZÁLEZ & GASCÓ GASCÓ, 2009).
     A importância de se manter um canal de comunicação direto com a sociedade está no fato
de   que   palavras   como    transparência,      confiança,      credibilidade,      sustentabilidade   e
responsabilidade social ficaram tão evidentes hoje no mundo coorporativo que muitos acreditam
que sem sustentabilidade social e ambiental suas empresas estarão fadadas ao insucesso, em
virtude da pressão do próprio mercado e do aumento da conscientização dos consumidores.
     Uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu - organização não governamental que
estimula o consumo consciente -, em parceria com o Instituto Ethos, publicada em Dezembro de
2010 (<http://akatu.org.br/Content/Akatu/Arquivos/file/10_12_13_RSEpesquisa2010_pdf.pdf>.
Acesso em 17 de jul. 2012), revelou que 60% dos consumidores brasileiros entrevistados
defendem que "as empresas sempre deveriam fazer mais do que está estabelecido nas leis,
buscando trazer maiores benefícios para a sociedade". Um dado preocupante – que justifica o
interesse e a contribuição desta pesquisa – relacionado à transparência e à disponibilização do
acesso às informações sobre responsabilidade empresarial é que 44% dos entrevistados
Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012   3


simplesmente não acreditam "que as empresas realmente fazem aquilo que elas divulgam em
termos de responsabilidade social". Outro tema abordado pela pesquisa, que revela a percepção
e a intenção do consumo, aponta que 75% dos entrevistados reduziriam muito sua intenção de
consumo ou não recomendariam produtos que sabidamente poderiam prejudicar a saúde, 66%
não consumiriam produtos de empresas que fazem propaganda enganosa, 56% reduziriam muito
o consumo de produtos de empresas que tratam mal seus funcionários e 44% dos entrevistados
diminuiriam muito sua intenção de consumir produtos de empresas cujas atividades poderiam
ter impactos sociais e ambientais negativos.
     O que esse tipo de estudo nos mostra é que as relações tradicionais de consumo estão
mudando (UMANSKY, 2009). Hoje os consumidores e clientes de uma determinada
empresa/produto percebem mais claramente que as organizações empresariais também têm um
papel social, e compreendem que as empresas têm responsabilidade direta sobre o
desenvolvimento da sociedade e a preservação do meio ambiente. A percepção que o
consumidor tem do comportamento e das práticas da empresa influenciam suas decisões de
consumo (CREYER, 1997). O que se está testemunhando é uma mudança do paradigma de
legitimação dos negócios empresariais.
     Se, na visão de alguns pensadores contemporâneos como, por exemplo, Friedman (1970) e
Comte-Sponville (2004), ética e capitalismo não deveriam andar juntos, a mobilização da
sociedade exigindo práticas empresariais mais responsáveis têm promovido crítica e punição às
organizações que continuam centradas no modelo moral dos acionistas (shareholders). Esse
modelo defendia que as empresas deveriam ter como único objetivo declarado - ou
responsabilidade moral, como expõe Friedman (1970) - proporcionar ganhos financeiros aos
seus acionistas ou proprietários. É a regra "moral" do autointeresse, proclamada pela "economia
positiva" e liberal, que busca, por meio da eficiência econômica logística, a maximização dos
ganhos estritamente financeiros em um ambiente de escassez (SEN, 1999).
     A questão levantada pelo atual debate em torno da sustentabilidade nos negócios é que o
"crescimento econômico", defendido pela economia liberal, não proporcionou exatamente um
"desenvolvimento econômico", ou seja, além de ganhos econômicos e tecnológicos efetivos, o
crescimento também trouxe efeitos colaterais indesejados para a sociedade e para o meio
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ambiente, o que levou à crescente mobilização da sociedade civil exigindo mais
responsabilidade das empresas em relação às suas práticas para alcançar o lucro (CAPPELLIN
& GIFFONI, 2007).
     Os gestores das empresas precisam entender que as suas ações têm consequências que
podem tanto afetar a eles próprios como também causar dano ao desempenho de suas
organizações (lucro), bem como influenciar a vida de inúmeros outros indivíduos. As empresas
e os seus gestores devem, por isso, parafraseando Paul Ricoeur, buscar realizar um projeto
dialógico que vise o bem, tendo os semelhantes como parceiros e como finalidade das ações
efetivadas (RICOEUR, 1996).
     Assim, o que está em jogo é a legitimidade das práticas empresariais e consequentemente
das próprias empresas (HANDY, 2005). Comportamentos pouco éticos, como tirar vantagens de
clientes, de fornecedores ou de funcionários, podem até gerar lucro fácil e imediato, mas a
médio e longo prazo podem afetar a confiança e afastar os stakeholders e, com isso,
comprometer a sobrevivência da empresa.
     A ética, nesse sentido, é imprescindível para o sucesso de qualquer empreendimento, uma
vez que a desconfiança na empresa pode intimidar investidores e consumidores.


2 A TRANSPARÊNCIA E A GESTÃO DA CONFIANÇA


     Depois de todos esses argumentos, não se pode negar que é de extrema importância
considerar que a confiança deva ser a base de uma sociedade saudável e que é pelo perpétuo
movimento da troca de confiança que se pode construir uma sociedade próspera.
     Quando se confia em alguém, acredita-se em seus atos e em suas decisões, esperando que
eles sejam verdadeiros. Essa conduta de pensamento deve ser o fundamento de qualquer relação
social, pois, sem ela, independentemente do contexto, frustrar-se-iam expectativas, que
poderiam desencadear crises e ameaçar as relações.
     Como conquistar, então, a confiança em uma relação? Sem dúvida alguma uma boa forma
de começar é através do comportamento ético, que nos ajudaria a orientar racionalmente nossas
ações a fim de tomar decisões justas e boas (CORTINA, 2007).
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     Transformado em hábito, o agir ético poupa o indivíduo do stress de situações injustas,
assegurando segurança em suas relações e associando sua imagem a atitudes sensatas. E esse
costume de ter bons atos gratifica os seres humanos, como pessoas íntegras, conduzidas pela
moral e não pelo castigo. Uma comunicação clara e transparente, não manipuladora ou
estratégica (HABERMAS, 2008), também é importante para que não haja falhas, pois a falta de
alguma informação pode induzir ao erro ou até mesmo a ações injustas ou irresponsáveis,
desviando o indivíduo do caminho da legalidade. A falta de uma atitude transparente pode gerar
desconfiança e perda de credibilidade, quebrando os alicerces de uma relação segura e estável.
     Diversos grupos sociais vêm atualmente exigindo das empresas uma dose maior desse
comportamento responsável e transparente, já que as empresas, antes vistas como centros de
lucro, passaram a ser consideradas como “instituições sociais” e, portanto, devem também
assumir o seu papel na criação de uma sociedade mais sustentável e na preservação da vida e do
bem-estar social a curto, médio e longo prazo. Por essa razão, destaca-se a importância da
reflexão ética, das práticas transparentes e da promoção da confiança nas organizações como
modelo sustentável de gestão empresarial.
     .
2.1 A Gestão da confiança

     Vive-se hoje uma realidade de constante mutação, onde é necessária uma adaptação a cada
nova ordem criada. A competitividade exige das empresas mais e mais inovações, não só
tecnológicas, mas principalmente de gestão, para manter-se em segurança em meio à
concorrência. A gestão estratégica da confiança pode garantir à empresa uma boa reputação e,
assim, conferir-lhe mais segurança para competir, pois uma organização que se preocupa com
sua reputação ganha o respeito da sociedade.
     Em outras palavras, para que a empresa adquira segurança ela precisa ter uma boa
reputação e saber como mantê-la, o que deve ser perseguido por meio de ações concretas, com
transparência, seguindo a legislação vigente, cumprindo as determinações legais, sendo justa e
acima de tudo sustentável, pensando no futuro como um aliado, enxergando além do lucro
imediato. A atitude transparente hoje é imprescindível para que a empresa se mantenha
competitiva; mais cedo ou mais tarde ela será cobrada pelos consumidores ou pelos demais
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interessados e afetados, por isso a empresa precisa estar preparada e assumir sua
responsabilidade para conseguir sobreviver.
      É importante frisar que não se deve tratar a gestão da confiança como um custo ou um
ônus, ou simplesmente como regras ou normas morais obrigatórias. Ela deve ser, sim, encarada
como uma postura a ser adotada voluntariamente, considerada uma aliada da gestão e do
marketing da empresa.
      O ponto a ser destacado é que a gestão da confiança e as práticas da sustentabilidade e da
Responsabilidade Social Empresarial (RSE) devem começar dentro da própria empresa. Os
gestores não devem confundir RSE com filantropia, doações e caridade, esquecendo-se de ser
responsáveis dentro da organização. A valorização do capital humano pode ser um começo para
que a empresa promova a RSE na gestão da confiança interna, respeitando as relações e os
direitos trabalhistas.
      Oferecer autonomia, tratar os colaboradores como parceiros (AKTOUF, 2004), são
atitudes que com certeza renderão bons frutos à organização, pois o colaborador, sabendo que o
sucesso da empresa garantirá também o seu sucesso, terá prazer em fazer parte dessa conquista.
Assim, as regras e normas adotadas como forma de conduzir os colaboradores devem ser claras,
simples e justas. Para isso, a empresa deve certificar-se de ter uma comunicação transparente e
eficaz, prevenindo a corrupção e as irregularidades, caso contrário poderá causar mal-estar,
desconforto nas relações e a perda de confiança na gestão.
      Além das normas, as empresas devem também elencar seus valores, pois eles constituirão
um guia ético que, além de orientar, servirá de padrão para o comportamento dos parceiros
internos da organização. Agindo assim, a empresa poderá manter uma reputação íntegra e
garantir a confiança dos stakeholders, que são, em última instância, os verdadeiros responsáveis
por avaliar o desempenho das empresas e o impacto de suas ações na sociedade, influenciando
diretamente e indiretamente o consumo. A ética empresarial e a responsabilidade corporativa
devem, por isso, seguir rumo a um novo horizonte em que os gestores empresariais e a
comunidade em geral percebam que as práticas empresariais têm consequências tanto no âmbito
empresarial, como no social e no ambiental.
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2.2 A Transparência e a importância da divulgação das ações de RSE

      Todos os argumentos aqui apresentados tiveram como objetivo levar a esse ponto de
reflexão. O objetivo da pesquisa foi verificar o grau de transparência das informações relativas à
RSE disponibilizadas nos sites das maiores empresas, em termos de faturamento, que atuam no
Brasil.
      Atualmente observa-se que muitas empresas de capital aberto publicam, em seus sites,
Balanços Sociais e demonstrações financeiras relevantes, como os Balanços Patrimoniais. Dessa
maneira, acredita-se que as mídias digitais, como os sites corporativos, apresentam-se como um
novo canal aberto à transparência empresarial, diminuindo o isolamento das organizações e
colaborando para a comunicação e o esclarecimento de informações relevantes entre as
empresas e seus stakeholders.
      Como é sabido, as empresas de capital aberto, regidas pela Lei 6.404/76 (Lei da S/A),
promulgada em 1976, são obrigadas a divulgar seus resultados financeiros de forma a garantir a
segurança de seus investimentos, o que propicia a confiança de seus investidores (ORPHÃO
2003).
      É primordial, por conseguinte, que as empresas assumam uma postura de transparência em
suas ações tanto no âmbito financeiro como no social, sendo dessa forma imprescindível uma
comunicação que facilite o acesso dos stakeholders às informações relevantes da empresa. Isso
os ajudará a compreender melhor as práticas e as políticas da empresa e influenciará em suas
decisões diante da avaliação dos riscos e da relação custo/benefício, na hora de optarem por
determinado produto ou organização (BENNIS, 2008).
      O que antes era uma atribuição apenas do Estado, a fiscalização das empresas, atualmente,
está também a cargo de todos os cidadãos. O destino dos produtos fabricados traspôs as relações
tradicionais de consumidor-empresa, obrigando os gestores a repensar suas estratégias de
negócio e a maximização do lucro. O desempenho da empresa, modernamente, é analisado de
maneira sistemática, não mais podendo ser direcionado apenas ao presente e aos consumidores
diretos, mas compreendido dentro de uma ampla cadeia de relacionamentos e impactos diretos e
indiretos, presentes e futuros.
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     Nesse contexto, a postura da empresa – em relação à divulgação de suas práticas e
políticas de gestão, de seus objetivos organizacionais e de suas ações de sustentabilidade – deve
ser clara e transparente, para promover uma imagem idônea e aumentar a confiança de seus
stakeholders.
     O Balanço Social passou a ser obrigatório para as companhias de capital aberto no Brasil
mediante a Lei 11.638/07, que foi uma alteração parcial da Lei 6.404/76 e que disciplina a
divulgação dos desempenhos empresariais no âmbito das ações de responsabilidade
socioambientais.
     O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) destaca-se entre os órgãos
pioneiros, no Brasil, a oferecer um modelo padronizado para a divulgação do Balanço Social. É
uma organização da sociedade civil criada em 1991, tendo como um dos fundadores o sociólogo
Herbert de Souza, conhecido como Betinho. O Ibase tem como objetivo "a radicalização da
democracia e a afirmação de uma sociedade ativa", com a proposta de "fortalecer o tecido
associativo da sociedade, incidir em políticas públicas e criar uma nova cultura de direitos"
(<http://www.ibase.br/pt/quem-somos/>. Acesso em 14 de jun. 2012). O fortalecimento dos
laços entre sociedade e governo e a promoção do consumo consciente estão entre as suas
missões.
     Uma importante contribuição do Ibase foi a criação de um dos primeiros modelos de
Balanço Social, ainda em 1980. Nos primeiros anos da iniciativa, o projeto conseguiu apoios
importantes, de empresas como a Inepar, a Usiminas, a Companhia Energética de Brasília e a
Light. Posteriormente, o instituto lançou o Selo Social Ibase/Betinho, conferido a todas as
empresas que publicassem o Balanço Social no modelo sugerido por ele. Atualmente, esse
modelo de Balanço desenvolvido pelo Ibase continua disponível para as empresas que
desejarem utilizá-lo, porém a distribuição do selo foi suspensa em 2008.
     Para se enquadrar nos parâmetros do Ibase é fundamental mostrar dados detalhados
referentes a cada contribuição ou ação social promovida dentro e fora da organização. Nesse
sentido, não basta à empresa dizer que desenvolveu ações sociais para a comunidade. É
necessário que haja de fato números que comprovem a veracidade das práticas.
Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012      9


     Atualmente percebe-se uma nova tendência no que diz respeito aos modelos de balanços
socioambientais. As empresas vêm adotando relatórios de sustentabilidade ou relatórios
socioambientais, muitas vezes com formato assemelhado a uma revista. Estes relatórios,
utilizados como veículos de comunicação, muitas vezes integram informações econômicas,
ambientais e sociais.
     Um modelo de relatório de sustentabilidade bastante utilizado internacionalmente é o
Global Reporting Initiative - GRI (<https://www.globalreporting.org/Pages/default.aspx>.
Acesso em 27 de fev. 2012). O GRI é uma organização não-governamental fundada em 1997
pelo Programa das Nações Unida para o meio Ambiente (UNEP),                         em parceria com a
Organização Não-Governamental norte-americana Coalition for Environmentally Responsible
Economics (CERES), tendo como principal objetivo mobilizar organizações e os demais
interessados em uma economia sustentável com vista a promover a elaboração de relatórios de
sustentabilidade, que servirão como guia para as organizações que desejarem se engajar nessa
causa. Com sede central em Amsterdã, o GRI tem representantes em diversos pontos
estratégicos do mundo, como Austrália, Brasil, China, Índia e Estados Unidos, e uma rede
mundial de mais 30.000 colaboradores.
      Desde o início de sua atuação, o GRI tem focado suas atividades no desenvolvimento de
um padrão de relatório que aborde os aspectos relacionados à sustentabilidade econômica, social
e ambiental das organizações. O objetivo maior é aumentar a compreensão das empresas e dos
gestores sobre os impactos que suas empresas causam no meio social, promovendo a
conscientização da responsabilidade corporativa na melhoria da sociedade como um todo.
     Após um esforço interinstitucional, que envolveu o Instituto Ethos, a Associação
Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e o centro de Estudos em Sustentabilidade da
Fundação Getúlio Vargas (FGV), a versão em português do GRI foi finalmente lançado no
Brasil em 2006.
     Atualmente percebe-se o aumento da utilização do modelo do Relatório de
Sustentabilidade do GRI, por se tratar de uma ferramenta mais completa e utilizada
mundialmente. No Brasil a UniEthos, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação
Getúlio Vargas (GVces) e a BSD, juntamente com o GRI, vêm difundindo esse modelo
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internacional         por              meio              de            treinamentos                  certificados
(<http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/1400/o_instituto_ethos/o_uniethos/o_que_fazem
os/cursos/relatorio_gri/relatorio_de_sustentabilidade_-_gri.aspx>. Acesso em 13 de mar.
2012).
     A estrutura dos relatórios do GRI é completa e usa diretrizes para avaliar as empresas
através de indicadores de desempenho como preceitos para a análise da transparência e dos
desempenhos econômicos, ambientais e sociais.
     Também como forma de incentivar as práticas empresariais sustentáveis, várias
organizações da sociedade civil acabaram criando também prêmios e programas que buscam dar
reconhecimento    público   às      empresas      que     desenvolvem ações           de    responsabilidade
socioambiental e de sustentabilidade. Entre esses programas destaca-se o da BM&F Bovespa.
Seu programa “Relate ou Explique”, criado em 2011, orienta as empresas de capital aberto a
informar à bolsa se publicam ou não algum tipo de relatório de sustentabilidade. Caso o façam,
as empresas devem comunicar onde publicam tal relatório. Se não o fazem, as empresas devem
justificar por que não publicam.
     Durante a Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável
(junho de 2012), a BM&F Bovespa apresentou o primeiro resultado do seu programa "Relate ou
Explique". Segundo o levantamento,
                         [...] 45,31% estão entre as empresas listadas que publicam informações
                         relacionadas às dimensões social, ambiental e de governança corporativa ou
                         explicaram por que não o fazem. De um total de 448 empresas de capital
                         aberto analisadas, 96 publicam relatórios de sustentabilidade ou similares
                         (21,43%); 107 não publicam, mas explicaram por que não o fazem (23,88%)
                         e 245 não se manifestaram (54,69%). Já das 94 empresas que compõem a
                         carteira vigente do IBrX – Índice Brasil, que mede o retorno de uma carteira
                         teórica composta por 100 ações selecionadas entre as mais negociadas na
                         BOVESPA, em termos de número de negócios e volume financeiro, 49
                         publicam relatório (52,13%), 22 empresas não publicam, mas se
                         manifestaram (23,40%) e 23 das empresas não se manifestaram (24,47%)
                         (<http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/pages/BMFBOVESPA-
                         divulga-primeiros-resultados-do-Relate-ou-Explique-2012-06-18.asp>.
                         Acesso em 12 de abr. 2012).

     Infelizmente muitas empresas ainda utilizam de maneira instrumental as suas ações de
sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental (MEIRA, 2010). A Responsabilidade
Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012           11


Social Empresarial no decorrer dos anos foi sofrendo mudanças em seu sentido ético e passou a
ser praticada por muitas empresas como uma pintura verde a decorar seus textos coorporativos,
beneficiando sua imagem com um marketing positivo para seus negócios – porém falso,
imediatista e pontual – e buscando um bom retorno a curto prazo. A ação de RSE imediatista e
puramente instrumental, sem planejamento que garanta resultados duradouros em longo prazo,
pode até trazer ainda mais prejuízos irreversíveis para a organização e principalmente para a
sociedade e para o meio ambiente.
     O compromisso com a sustentabilidade socioambiental está muito mais além do
“marketing verde”. Ter um pensamento sistêmico dessa abordagem é de vital importância para
uma melhor perspectiva do futuro. As exigências morais nos negócios estão deixando de ser
ações isoladas e pontuais; determinam um novo modelo de gestão a ser seguido de maneira
imperativa e categórica e estimulam uma postura mais idônea das organizações. Não se pode
mais esperar nem aceitar que uma empresa se desenvolva e tenha um futuro "saudável" e
lucrativo em uma sociedade miserável. Dessa forma, acredita-se que as empresas e os seus
gestores perceberão finalmente que o lucro a todo custo começa a ter um custo muito alto a
pagar.
     Uma empresa inteligente pensa no futuro e consequentemente busca tornar-se sustentável,
desenvolvendo uma gestão moralmente inovadora e competitiva não só no mercado local, mas
também no mundial. Por isso, as empresas precisam repensar as estratégias e os meios
utilizados para a divulgação transparente de suas práticas éticas. Defendemos, neste trabalho,
que a Internet (sites e redes sociais) deve ser considerada como um importante veículo de
divulgação dessas práticas e de comunicação com os stakeholders. Vê-se a seguir como a
pesquisa foi realizada.


3 PESQUISA: MATERIAIS E MÉTODOS UTILIZADOS

         Foram pesquisados no estudo os sites das 500 empresas que mais se destacaram em 27
setores da economia no ano de 2010, por intermédio do Ranking publicado pela revista Isto é
Dinheiro:      As    500    maiores      da      Dinheiro        e     as      melhores           por   setor
(<http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/6354_AS+500+MAIORES+EMPRESAS+E+A
Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012   12


S+MELHORES+POR+SETOR> Acesso em 11 de jan. 2012). A pesquisa dos sites foi
realizada entre setembro de 2011 e abril de 2012. Como a intenção não foi fazer um estudo
comparativo entre as empresas – comparando suas práticas ou relatos de RSA individualmente –
optou-se por não citá-las nominalmente e sim agrupá-las em classes de acordo com a sua origem
e a amplitude de sua atuação:
                                 multinacionais: empresas de capital predominantemente de
                   origem estrangeira que atuam no Brasil e têm sede em outro país estrangeiro;
                                 multinacionais com sede no Brasil: empresas de capital
                   predominantemente de origem brasileira, que atuam internacionalmente e
                   mantêm sede principal no Brasil;
                                 nacionais: empresas com atuação restrita ao território nacional.
      Entre as 500 empresas listadas pela Revista Exame, não foi encontrada nenhuma
informação (site ou outras informações relevantes) sobre seis delas. Essas empresas ou não
divulgavam nenhum dado em relação às variáveis estudadas (Filosofia da Empresa,
Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade Socioambiental, Balanço
Social, Balanço Patrimonial), ou nem mesmo apresentavam sites próprios. A amostra final da
pesquisa foi, por isso, constituída de 494 empresas. Todas as informações relativas às variáveis
pesquisadas foram colhidas exclusivamente nos sites oficiais das empresas analisadas.
      Estabeleceram-se alguns critérios considerados pertinentes à avaliação, em relação à
forma como as empresas divulgaram as variáveis em estudo, observando se as mesmas usavam
seus sites como veículos de transparência corporativa. A análise estatística dos dados foi
realizada por meio do aplicativo SPSS for Windows 15.0. Os dados coletados foram submetidos
a análises estatísticas descritivas e inferenciais.
      Os resultados foram analisados por meio de técnicas estatísticas descritivas e analíticas
com a utilização do teste Qui Quadrado para proporção. O nível de significância utilizado na
decisão dos testes estatísticos foi de 5%.


4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
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       Iniciou-se a investigação pela análise exploratória dos dados, buscando identificar a
proporção de empresas Multinacionais, Multinacionais com sede no Brasil e Nacionais e saber
se elas estavam divulgando suas ações em relação às variáveis em estudo: Filosofia da
Empresa, ações de Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade
Socioambiental, Balanço Patrimonial, Balanço Social c⁄Padrão, Balanço Social s/padrão e
GRI.
       Julgamos que seja importante esclarecer que consideramos como informações relevantes
para a variável “Filosofia da Empresa”, declarações sobre a missão, a visão e os valores da
organização.
       Dessa forma, nosso estudo apontou que, da amostra de 494 empresas, 284 empresas eram
Nacionais (ou seja, são de origem brasileira e têm sua atuação restrita ao território nacional),
109 eram empresas Multinacionais e 101 eram empresas Multinacionais de origem brasileira,
que corresponde a 57,49%, 20,45% e 20,6%, respectivamente.
       De acordo com a Tabela 1, é possível observar os percentuais em relação às variáveis em
estudo: Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade
Socioambiental, Balanço Patrimonial. Dessa forma, é possível observar que a maioria das
empresas apresenta sua filosofia corporativa e ações ou intenções consideradas de
responsabilidade socioambiental, com 81% e 76,1%, respectivamente. Nota-se, porém, que um
número menor de empresas divulga as informações relativas às variáveis Relatório de
Responsabilidade Socioambiental e Balanço Patrimonial.
                     Tabela 1 - (Descritiva das 494 empresas analisadas)

         Variáveis                                      Respostas Empresas %
                                                        Não       94       19
         Filosofia da Empresa
                                                        Sim           400           81
                                                        Não           118           23,9
         Responsabilidade Socioambiental
                                                        Sim           376           76,1
         Relatório de Responsabilidade                  Não           276           55,9
         Socioambiental                                 Sim           218           44,1
                                                        Não           217           43,9
         Balanço Patrimonial
                                                        Sim           277           56,1
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     Em relação à variável pesquisada Balanço Social, considerou-se como padrão os modelos
fornecidos pelo Ibase e pelo Instituto Ethos. Optou-se por analisar separadamente, dentro da
variável Balanço Social, a apresentação de relatórios que utilizaram o modelo proposto pelo
GRI (ver Tabela 2). Em relação a essa variável, Balanço Social, 218 empresas apresentaram
relatórios de balanços sociais (ou relatórios de sustentabilidade) com ou sem padrão. As 276
restantes (do total de 494 empresas analisadas) não disponibilizaram nenhuma informação sobre
essa variável em seus respectivos sites.
     Tal como descrito na Tabela 2, observa-se que das 218 empresas que divulgam um
Relatório de Responsabilidade Socioambiental, pode-se observar que 80,3% não seguem um
padrão definido para a divulgação do Balanço Social, proposto pelos modelos do Ibase e do
Instituto Ethos, sendo que 19,7% apresentam em seus sites seus relatórios de acordo com esses
padrões discutidos. Já em relação à variável GRI, observa-se que 49,5% das empresas não
divulgam suas informações seguindo esse padrão internacional, enquanto 50,5% apresentam os
seus dados seguindo esse padrão.


                              Tabela 2 – (Descritiva das 218 empresas)

          Variáveis                        Respostas                Empresas      %
                                           Não                      175           80,3
          Balanço Social c/Padrão
                                           Sim                      43            19,7
                                           Não                      108           49,5
          GRI
                                           Sim                      110           50,5
     Nota. Fonte: própria.


     Uma segunda análise, utilizando-se o teste Qui Quadrado (χ2) foi realizada para verificar a
existência de diferenças entre as proporções de empresas Multinacionais com sede no Brasil,
Multinacionais e Nacionais em relação à divulgação das informações sobre as variáveis:
Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade
Socioambiental e Balanço Patrimonial. A Tabela 3 apresenta o resultado dessa análise.
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                    Tabela 3 – (Teste Qui Quadrado relativo às 494 empresas)
                                   Multinacional
Variáveis             Respostas                           Multinacional Nacional                    χ2      Valor de P
                                   c/Sede Brasil
Filosofia da          Não          20 (19,8%)             23 (21%)            51 (18%)
                                                                                                    0,544   0,758
Empresa               Sim          81(80,2%)              86 (78,9%)          233 (82%)
Responsabilidade      Não          24 (23,%)              16 (14,7%)          78 (27,5%)
                                                                                                    7,084   0,029*
Socioambiental        Sim          77 (76,2%)             93 (85,3%)          206 (72,5%)
Relatório de          Não          55 (54,5%)             44 (40,4%)          177 (62,3%)
Responsabilidade                                                                  15,505 0,00001*
Socioambiental       Sim        46 (45,5%)         65 (59,6%)       107 (37,7%)
Balanço              Não        37 (36,6%)         58 (53,2%)       122 (43%)
                                                                                  6,104    0,047*
Patrimonial          Sim        64 (63,3%)         51 (46,8%)       162 (57%)
     Nota. Fonte: própria. O símbolo de * indica que a variável é significante a 5%. Todas as
demais variáveis não apresentaram impacto estatístico significante.

     Assim, a formulação das hipóteses a serem testadas foi a seguinte:
     H0 : π1 = π2 = π3 (a proporção dos grupos é igual em relação à divulgação das
informações).
     H1: Nem todas as proporções πj são iguais (em que j = 1, 2, 3).
     Como sugerem os resultados do teste Qui Quadrado (χ2), há uma diferença significativa
entre a origem da empresa e a divulgação das informações relativas às variáveis em estudo, ou
seja, o valor de P < 0,05, sendo constatada uma diferença estatisticamente significativa nas
proporções entre a nacionalidade da empresa e a divulgação ou não de informações relativas às
variáveis pesquisadas. Desse modo, a proporção de empresas multinacionais que divulgam
informações relativas a ações de responsabilidade social é maior em comparação às nacionais e
às multinacionais brasileiras.
     Já a variável Relatório de Responsabilidade Social mostrou-se significante, ao nível alfa
de 5%. Sendo assim, é possível ressaltar mais alta proporção de empresas nacionais que não
divulgam suas informações relacionadas a esta variável em comparação às Multinacionais
c/sede no Brasil e às Multinacionais. Da mesma forma, a variável Balanço Patrimonial
apresentou-se significante, isto é, o valor de P é menor que alfa de 5%, assim é possível
observar que as Multinacionais com sede no Brasil e as nacionais apresentam maiores
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proporções, na divulgação destas informações. No entanto, a variável Filosofia foi a única que
não apresentou resultado significativo, ou seja, não há diferença nas proporções em relação à
nacionalidade e à variável em estudo, isto é, o valor de P > 0,05.
      Análise semelhante, utilizando a estatística de teste Qui Quadrado (χ2), foi utilizada na
Tabela 4, referente às variáveis Balanço Social com Padrão e GRI. Assim, é possível observar
que não há uma diferença significativa quando se compara a origem da empresa e a divulgação
de cada uma dessas variáveis. No tocante às variáveis Balanço Social com Padrão e GRI, o
valor de P apresentou-se não significante, isto é, valor de P > 0,05, sendo por isso constatado
que não há uma diferença proporcional em relação à origem da empresa – se Multinacional com
Sede no Brasil, Multinacional ou Nacional – e a divulgação de informação relacionada às
variáveis estudadas. Vale ressaltar que a maioria das empresas não utiliza o padrão
recomendado para a divulgação do seu Balanço Social. No que concerne à variável GRI, é bem
parecido o resultado das corporações que divulgam ou que não divulgam esse padrão de
relatório.


                    Tabela 4 – (Teste Qui Quadrado relativo às 218 empresas)
                                           Multinacional
Variáveis                   Respostas                         Multinacional Nacional                χ2    Valor de P
                                           c/Sede Brasil
                            Não            37 (80,4%)         56(86,2%)           82 (76,6%)
Balanço Social c/Padrão                                                                             2,315 0,314
                            Sim            9 (19,6%)          9 (13,8%)           25 (23,4%)
                            Não            24 (52,2%)         30 (46,2%)          54 (50,5%)
GRI                                                                                                 0,463 0,793
                            Sim            22 (47,8%)         35 (53,8%)          53 (49,5%)
      Nota. Fonte: própria. Todas as variáveis analisadas não apresentaram impacto estatístico
significante.

      Relativamente às 494 empresas analisadas, das variáveis utilizadas como critérios de
avaliação a Filosofia da Empresa foi a variável que teve mais destaque: 400 organizações
expuseram suas filosofias como forma de reforçar seus valores, princípios, suas normas éticas e
organizacionais, orientadas para a melhoria do desempenho corporativo. Durante a pesquisa foi
percebido que as corporações deram ênfase à Responsabilidade Socioambiental. Do total, 376
dizem em seus sites ter RSA, o que deu a impressão de que no âmbito nacional as empresas
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estão absorvendo o tema como uma estratégia de ação ou foco de atuação, embora nem todas
demonstrem de forma transparente suas atuações, pois algumas usam apenas pequenos textos
em seus sites ou revistas informativas e acabam não disponibilizando mais informações
relevantes sobre suas ações de Responsabilidade Socioambiental.
      Observou-se também que das 376 empresas que divulgam ações ou intenções de RSA
apenas 218 divulgam suas ações por meio de relatórios que buscam organizar os dados das
ações realizadas. Em relação à variável Balanço Patrimonial, apenas 277 do total das empresas
divulgam seus Balanços, o que sugere que ainda há receio por parte das corporações de
divulgarem seus resultados financeiros. A maioria das empresas analisadas só divulgam seus
balanços financeiros/patrimoniais quando são obrigadas legalmente a isso.
     Na análise das 218 empresas que divulgam suas ações de RSE, apenas 43 empregam um
padrão confiável e transparente em seus relatórios. Observou-se também que o GRI está
ganhando espaço e as empresas estão buscando se certificar para dar mais credibilidade às suas
ações de RSA por meio de relatórios de sustentabilidade que, somados ao Balanço Social,
tornam-se ferramentas completas e confiáveis, elevando a transparências das informações
divulgadas.


5 CONCLUSÕES


      As análises quantitativas precisam, muitas vezes, passar pelo crivo de uma análise
qualitativa dos dados. Das empresas analisadas, muitas se diferenciam pelas diversas
características econômicas, origem ou ramo de atuação, entretanto muitas delas se assemelham
quando o assunto é ética e transparências nos negócios.
      Nosso estudo observou que a maioria das empresas analisadas não é transparente no
modo como divulga suas ações de Responsabilidade Socioambiental ou seus resultados
financeiros. Algumas não definem para o público sua missão como empresa, seus valores e sua
sistemática administrativa. O que se observa é que ainda não há, entre as empresas analisadas
que atuam no Brasil, uma preocupação declarada e efetiva de buscar, junto a seus diferentes
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stakeholders, a associação entre a sua marca e os impactos positivos ou negativos que seus
negócios possam trazer para a sociedade ou para o meio ambiente.
      Analisando os perfis das empresas divulgados nos sites, detecta-se que muitas delas
dizem ter preocupação com seu corpo funcional, com sua missão, com seu crescimento aliado à
sustentabilidade, mas não há nada claramente expresso que descreva a estratégia ou a política
adotada para se alcançar esse fim, o que acaba se configurando como uma simples propaganda
mercadológica.
      Quando se comparam os resultados entre multinacionais e nacionais, o que se observa,
qualitativamente, é que há uma significativa diferença entre as empresas em relação à
concepção de responsabilidade social nos negócios. As organizações multinacionais tendem a
ser mais organizadas e transparentes na maneira como divulgam suas informações e, também,
bem mais preparadas em termos de políticas, balanços sociais e ações de responsabilidade
socioambiental. Em geral, as informações, relativas à RSA disponibilizadas nos sites das
empresas multinacionais que atuam no Brasil apresentam mais fácil visualização e geralmente
estão atreladas à própria marca da empresa, ou seja, são utilizadas estrategicamente como
ferramentas de gestão da confiança. Percebe-se por isso, que existe entre as empresas que atuam
internacionalmente uma maior preocupação com a imagem que a organização transmite e que é
percebida pela sociedade.
      Já no âmbito das empresas com atuação restrita ao território nacional, percebemos que
quando o assunto é responsabilidade social, ética e transparência, há o predomínio de
informações subjetivas, além da divulgação de dados e ações de RSA com poucos critérios
objetivos. A maioria destas empresas está preocupada apenas em divulgar por divulgar, sem o
real comprometimento com a transparência dos dados expostos, não havendo padrão ou
periodicidade na publicação de seus relatórios, tais como o Balanço Social e o Balanço
Financeiro, por exemplo.
      Nesse   sentido,     percebemos    que     muitos     dos    relatórios     encontrados     estavam
desatualizados, com dados de até 2008, o que nos leva a concluir que há efetivamente pouco
interesse de algumas empresas em assumirem uma postura mais transparente e responsável.
Observamos também que mesmo nesses relatórios desatualizados eram apresentadas as cifras
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das ações de RSA realizadas com números insignificantes, quando comparados à alta
rentabilidade financeira da empresa. Ou seja, não conseguimos encontrar ou compreender o
critério adotado pelas empresas para definir o montante financeiro que é destinado às ações de
RSA. Outro ponto que suscitou questionamentos foi a forma como esses relatórios, que não
utilizam padrões reconhecidos, são divulgados, levando-nos a crer que o padrão de divulgação
foi decidido pela própria empresa, de acordo com sua conveniência na apresentação ou no
ocultamento de dados e análises.
      Esses relatórios, na maioria das vezes, não divulgam por meio de cifras concretas os
percentuais gastos com políticas de treinamento e capacitação para os funcionários, e com
investimentos em ações de promoção do bem-estar social dentro e fora da organização ou em
cultura e educação para os filhos dos funcionários ou para os próprios funcionários. Ficam de
fora também as informações sobre a base de cálculo da receita operacional utilizada na folha
dos funcionários e sobre os indicadores sociais internos e externos, como gastos com
alimentação e saúde dos empregados. Nesse sentido, percebemos o quanto a divulgação de
relatórios e balanços (sociais e patrimoniais) sem padrão pode comprometer a transparência, a
significância e fidelidade das informações divulgadas.
      Observa-se que a maioria das empresas que declara espontaneamente apresentar um
Balanço Social o faz, na verdade, incorporando os dados relativos às ações de RSA e
sustentabilidade ao próprio Balanço Financeiro, o que acaba gerando informações que nem
sempre condizem com os parâmetros do Ibase e do GRI. Essa falta de critério compromete não
somente as informações contidas nos balanços, mas também a compreensão de quem o analisa,
pois fica confuso entender o que distingue Balanço Financeiro de Balanço Social.
      Outra particularidade observada é a dificuldade em encontrar os balanços nos sites das
empresas consultadas. Muitos deles estavam em subpáginas, sem link direto ou com links
"quebrados", sendo necessária muita atenção e paciência para encontrar as informações e os
balanços. Isso nos leva a concluir que muitos gestores ainda não consideram esse tipo de
informação importante para o relacionamento com os diferentes stakeholders da empresa.
      Observamos, através da pesquisa, que o conceito de responsabilidade socioambiental
ainda é encarado superficialmente e de maneira subjetiva pelas organizações: cada empresa faz
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uma gestão da responsabilidade socioambiental à sua maneira. Encontramos, a título de
exemplo, empresas que ajudam ou se filiam a instituições de assistência social, ou ainda outras
que plantam algumas árvores ou reciclam alguns produtos esporadicamente e que se
autoproclamam responsáveis em seus sites. Estampam na página principal do site a logomarca
da entidade beneficiada, ou algumas fotos de ações ambientais, embora efetivamente nenhum
dado ou balanço contabilize essas ações sociais, o que tipifica uma estratégia de propaganda
empresarial.
      Mesmo o tema da sustentabilidade e da RSA estando em destaca na mídia, o que se
observa é a imaturidade e o pouco compromisso das organizações com relação ao assunto. Mais
do que qualquer sentimento de “obrigatoriedade”, o que as empresas e os gestores precisam
analisar é o papel social que eles atribuem às suas organizações.
      Os paradigmas que orientam o consumo e a gestão empresarial estão mudando. Observa-
se um aumento gradativo da conscientização dos consumidores, de que eles também são
responsáveis na hora de escolher as empresas e os produtos que consomem. Na perspectiva do
consumo ético, o consumidor é lembrado de que a ação de consumir também implica um ato de
cidadania, que deve ter suas consequências avaliadas em termos de corresponsabilidade, ou seja,
o consumidor - enquanto cidadão - precisa assumir também o seu compromisso na promoção de
uma sociedade mais justa escolhendo entre os vários produtos e empresas aquelas que têm
práticas mais éticas (CORTINA, 2004). Espera-se com isso que investidores e consumidores,
cada vez mais, prestam atenção às praticas de responsabilidade corporativa como um sinal de
boa gestão.
      A gestão transparente propicia aos stakeholders mais conhecimentos sobre as práticas e
políticas das empresas, o que acaba aumentando a consciência da sociedade sobre as
implicações do modelo de desenvolvimento vigente. O que se busca, com a gestão transparente
é estimular a harmonia entre indivíduo, sociedade e meio ambiente e também garantir
sustentabilidade para as gerações futuras.
      O novo paradigma que se delineia sustenta que ser responsável socialmente é um fator de
competitividade dentro do mercado; usar da transparência e da ética nos negócios e assumir um
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compromisso social e ambiental serão um grande diferencial competitivo das empresas do
século XXI.
       Nesse cenário, cabe a cada um de nós assumirmos nossa responsabilidade e atuar na
fiscalização das organizações, exigindo produtos ou meios de produção sustentáveis que tragam
retorno para a sociedade. Por isso, é necessário o amadurecimento de uma consciência como
sociedade, como cidadão e como corresponsáveis da construção dessa nova realidade.



              Transparency and Corporate Responsibility:
                  an Analysis of Sites of 500 Largest
Abstract

The last few decades have been marked by profound changes in the world of enterprise business. Society
and consumers of today start to demand more and more responsible policies and practices
from companies. Thus, the Internet boom and           the     easy      access       to     information via
web have allowed greater control of the practices adopted by the enterprises and its social and
environmental impacts. The aim of this paper is to analyze the sites of the 500 biggest companies
operating in Brazil in order to verify its degree of transparency and its capacity of providing information
about Social and Environmental Responsibility. We believe that by calling attention to the way
companies communicate with its various stakeholders we are contributing to build more transparent and
sustainable corporations.
Keywords: transparency, Internet, enterprise responsibility


                                              Referências

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avestruz. São Paulo: Atlas, 2004.

BARBIERI, J. C. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à
prática. São Paulo: Saraiva, 2009.
Bennis, W. G. Transparência: como criar uma cultura de valores essenciais nas organizações.
Rio de Janeiro: Elsevier, 2008.

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CLARK, A. (2000). They’re talking about you: Some thoughts about managing online
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Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012   23


LOZANO, J. M. La empresa ciudadana: un reto de innovación. Madrid: Esade, 2002.

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UMANSKY, S. N. La regulación de la conducta en las relaciones de consumo. Enfoques,
vol.21,                   n.2,                   pp.                 15-35. Disponível
em:<http://www.scielo.org.ar/pdf/enfoques/v21n2/v21n2a03.pdf>. Acesso em 12 de abr.
2012.

Felipe Saraiva Nunes de Pinho
Professor da Faculdade Lourenço Filho
Psicólogo, Mestre em Linguística (UFC)
DEA em Filosofia Moral (Universidad de Barcelona)
e-mail: felipepinho@outlook.com

Eloísa Crígina Duarte Xavier
Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Lourenço Filho
e-mail: eloisacrigina@hotmail.com

Vanessa Martins dos Santos
Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Lourenço Filho
e-mail: vanessapatchele@gmail.com

Jarbas Silva Rodrigues
Professor da Faculdade Lourenço Filho
Graduação em Estatística (UFC)
Mestre em Logística e Pesquisa Operacional (UFC)
e-mail: jarbas31@yahoo.com.br

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Transparência e responsabilidade empresarial

  • 1. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 Transparência e Responsabilidade Empresarial: uma Análise dos Sites das 500 Maiores Felipe Saraiva Nunes de Pinho Faculdade Lourenço Filho Eloísa Crígina Duarte Xavier Faculdade Lourenço Filho Vanessa Martins dos Santos Faculdade Lourenço Filho Jarbas Silva Rodrigues Faculdade Lourenço Filho Resumo As últimas décadas foram marcadas por profundas mudanças no cenário em que acontecem os negócios empresariais. A sociedade e os consumidores atualmente demandam, cada vez mais, responsabilidade nas práticas e nas políticas das empresas. Nesse sentido, a revolução no acesso à informação, desencadeada pela Internet, possibilitou um maior controle das práticas das organizações e de seus impactos socioambientais. O objetivo deste artigo é analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam no Brasil, verificando o grau de transparência e de disponibilização das informações relativas às ações de Responsabilidade Socioambiental praticadas. Acredita-se que, chamando a atenção para a forma como as empresas disponibilizam suas informações e se comunicam com seus diferentes stakeholders, está-se contribuindo para a promoção de empresas mais transparentes e sustentáveis. Palavras-chave: transparência; Internet; responsabilidade empresarial. 1 A VIRADA ÉTICA: A RESPONSABILIDADE EMPRESARIAL E A LEGITIMIDADE DO NEGÓCIO Nas últimas décadas, mais precisamente desde 1970 (DEGEORGE, 2005), crescem as discussões sobre a responsabilidade moral das empresas, principalmente devido à pressão que a sociedade civil tem exercido sobre as organizações empresariais, em consequência das inúmeras denúncias de más práticas nos negócios (GONZÁLEZ, 2011). Desde então, considera-se a importância da reflexão ética como um exercício de clarificação e justificação das políticas e 1
  • 2. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 2 práticas empresariais, que tem como objetivo restabelecer, construir e fortalecer a confiança dos afetados ou interessados pelas atividades das empresas em relação à legitimidade dos negócios e dos objetivos empresariais (GARCÍA-MARZÁ, 2004). No atual cenário tecnológico e informacional, a "fiscalização" ética por parte da sociedade civil, determinará, sem dúvida, novas formas e ferramentas de gestão empresarial. Para Josep M. Lozano (2002), por exemplo, a Ética, no atual contexto empresarial, é tão imprescindível para o êxito dos negócios como qualquer outra ferramenta estratégica de gestão. Este artigo tem, pois, o objetivo de analisar os sites das 500 maiores empresas que atuam no Brasil, verificando tanto o tipo de informação disponibilizada em relação à aplicação de práticas e de políticas de responsabilidade socioambiental e sustentabilidade quanto o grau de transparência e de facilidade de acesso a essas informações. Acreditamos que as empresas deveriam compreender a importância estratégica de seus sites, como meios de divulgação de suas ações, uma vez que a Internet se apresenta como um espaço privilegiado de comunicação entre a empresa e os seus diversos stakeholders (CLARK, 2000). Nossa intenção é, portanto, averiguar como as empresas estão, atualmente, fazendo uso estratégico dessa tecnologia (LLOPIS, GONZÁLEZ & GASCÓ GASCÓ, 2009). A importância de se manter um canal de comunicação direto com a sociedade está no fato de que palavras como transparência, confiança, credibilidade, sustentabilidade e responsabilidade social ficaram tão evidentes hoje no mundo coorporativo que muitos acreditam que sem sustentabilidade social e ambiental suas empresas estarão fadadas ao insucesso, em virtude da pressão do próprio mercado e do aumento da conscientização dos consumidores. Uma pesquisa realizada pelo Instituto Akatu - organização não governamental que estimula o consumo consciente -, em parceria com o Instituto Ethos, publicada em Dezembro de 2010 (<http://akatu.org.br/Content/Akatu/Arquivos/file/10_12_13_RSEpesquisa2010_pdf.pdf>. Acesso em 17 de jul. 2012), revelou que 60% dos consumidores brasileiros entrevistados defendem que "as empresas sempre deveriam fazer mais do que está estabelecido nas leis, buscando trazer maiores benefícios para a sociedade". Um dado preocupante – que justifica o interesse e a contribuição desta pesquisa – relacionado à transparência e à disponibilização do acesso às informações sobre responsabilidade empresarial é que 44% dos entrevistados
  • 3. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 3 simplesmente não acreditam "que as empresas realmente fazem aquilo que elas divulgam em termos de responsabilidade social". Outro tema abordado pela pesquisa, que revela a percepção e a intenção do consumo, aponta que 75% dos entrevistados reduziriam muito sua intenção de consumo ou não recomendariam produtos que sabidamente poderiam prejudicar a saúde, 66% não consumiriam produtos de empresas que fazem propaganda enganosa, 56% reduziriam muito o consumo de produtos de empresas que tratam mal seus funcionários e 44% dos entrevistados diminuiriam muito sua intenção de consumir produtos de empresas cujas atividades poderiam ter impactos sociais e ambientais negativos. O que esse tipo de estudo nos mostra é que as relações tradicionais de consumo estão mudando (UMANSKY, 2009). Hoje os consumidores e clientes de uma determinada empresa/produto percebem mais claramente que as organizações empresariais também têm um papel social, e compreendem que as empresas têm responsabilidade direta sobre o desenvolvimento da sociedade e a preservação do meio ambiente. A percepção que o consumidor tem do comportamento e das práticas da empresa influenciam suas decisões de consumo (CREYER, 1997). O que se está testemunhando é uma mudança do paradigma de legitimação dos negócios empresariais. Se, na visão de alguns pensadores contemporâneos como, por exemplo, Friedman (1970) e Comte-Sponville (2004), ética e capitalismo não deveriam andar juntos, a mobilização da sociedade exigindo práticas empresariais mais responsáveis têm promovido crítica e punição às organizações que continuam centradas no modelo moral dos acionistas (shareholders). Esse modelo defendia que as empresas deveriam ter como único objetivo declarado - ou responsabilidade moral, como expõe Friedman (1970) - proporcionar ganhos financeiros aos seus acionistas ou proprietários. É a regra "moral" do autointeresse, proclamada pela "economia positiva" e liberal, que busca, por meio da eficiência econômica logística, a maximização dos ganhos estritamente financeiros em um ambiente de escassez (SEN, 1999). A questão levantada pelo atual debate em torno da sustentabilidade nos negócios é que o "crescimento econômico", defendido pela economia liberal, não proporcionou exatamente um "desenvolvimento econômico", ou seja, além de ganhos econômicos e tecnológicos efetivos, o crescimento também trouxe efeitos colaterais indesejados para a sociedade e para o meio
  • 4. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 4 ambiente, o que levou à crescente mobilização da sociedade civil exigindo mais responsabilidade das empresas em relação às suas práticas para alcançar o lucro (CAPPELLIN & GIFFONI, 2007). Os gestores das empresas precisam entender que as suas ações têm consequências que podem tanto afetar a eles próprios como também causar dano ao desempenho de suas organizações (lucro), bem como influenciar a vida de inúmeros outros indivíduos. As empresas e os seus gestores devem, por isso, parafraseando Paul Ricoeur, buscar realizar um projeto dialógico que vise o bem, tendo os semelhantes como parceiros e como finalidade das ações efetivadas (RICOEUR, 1996). Assim, o que está em jogo é a legitimidade das práticas empresariais e consequentemente das próprias empresas (HANDY, 2005). Comportamentos pouco éticos, como tirar vantagens de clientes, de fornecedores ou de funcionários, podem até gerar lucro fácil e imediato, mas a médio e longo prazo podem afetar a confiança e afastar os stakeholders e, com isso, comprometer a sobrevivência da empresa. A ética, nesse sentido, é imprescindível para o sucesso de qualquer empreendimento, uma vez que a desconfiança na empresa pode intimidar investidores e consumidores. 2 A TRANSPARÊNCIA E A GESTÃO DA CONFIANÇA Depois de todos esses argumentos, não se pode negar que é de extrema importância considerar que a confiança deva ser a base de uma sociedade saudável e que é pelo perpétuo movimento da troca de confiança que se pode construir uma sociedade próspera. Quando se confia em alguém, acredita-se em seus atos e em suas decisões, esperando que eles sejam verdadeiros. Essa conduta de pensamento deve ser o fundamento de qualquer relação social, pois, sem ela, independentemente do contexto, frustrar-se-iam expectativas, que poderiam desencadear crises e ameaçar as relações. Como conquistar, então, a confiança em uma relação? Sem dúvida alguma uma boa forma de começar é através do comportamento ético, que nos ajudaria a orientar racionalmente nossas ações a fim de tomar decisões justas e boas (CORTINA, 2007).
  • 5. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 5 Transformado em hábito, o agir ético poupa o indivíduo do stress de situações injustas, assegurando segurança em suas relações e associando sua imagem a atitudes sensatas. E esse costume de ter bons atos gratifica os seres humanos, como pessoas íntegras, conduzidas pela moral e não pelo castigo. Uma comunicação clara e transparente, não manipuladora ou estratégica (HABERMAS, 2008), também é importante para que não haja falhas, pois a falta de alguma informação pode induzir ao erro ou até mesmo a ações injustas ou irresponsáveis, desviando o indivíduo do caminho da legalidade. A falta de uma atitude transparente pode gerar desconfiança e perda de credibilidade, quebrando os alicerces de uma relação segura e estável. Diversos grupos sociais vêm atualmente exigindo das empresas uma dose maior desse comportamento responsável e transparente, já que as empresas, antes vistas como centros de lucro, passaram a ser consideradas como “instituições sociais” e, portanto, devem também assumir o seu papel na criação de uma sociedade mais sustentável e na preservação da vida e do bem-estar social a curto, médio e longo prazo. Por essa razão, destaca-se a importância da reflexão ética, das práticas transparentes e da promoção da confiança nas organizações como modelo sustentável de gestão empresarial. . 2.1 A Gestão da confiança Vive-se hoje uma realidade de constante mutação, onde é necessária uma adaptação a cada nova ordem criada. A competitividade exige das empresas mais e mais inovações, não só tecnológicas, mas principalmente de gestão, para manter-se em segurança em meio à concorrência. A gestão estratégica da confiança pode garantir à empresa uma boa reputação e, assim, conferir-lhe mais segurança para competir, pois uma organização que se preocupa com sua reputação ganha o respeito da sociedade. Em outras palavras, para que a empresa adquira segurança ela precisa ter uma boa reputação e saber como mantê-la, o que deve ser perseguido por meio de ações concretas, com transparência, seguindo a legislação vigente, cumprindo as determinações legais, sendo justa e acima de tudo sustentável, pensando no futuro como um aliado, enxergando além do lucro imediato. A atitude transparente hoje é imprescindível para que a empresa se mantenha competitiva; mais cedo ou mais tarde ela será cobrada pelos consumidores ou pelos demais
  • 6. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 6 interessados e afetados, por isso a empresa precisa estar preparada e assumir sua responsabilidade para conseguir sobreviver. É importante frisar que não se deve tratar a gestão da confiança como um custo ou um ônus, ou simplesmente como regras ou normas morais obrigatórias. Ela deve ser, sim, encarada como uma postura a ser adotada voluntariamente, considerada uma aliada da gestão e do marketing da empresa. O ponto a ser destacado é que a gestão da confiança e as práticas da sustentabilidade e da Responsabilidade Social Empresarial (RSE) devem começar dentro da própria empresa. Os gestores não devem confundir RSE com filantropia, doações e caridade, esquecendo-se de ser responsáveis dentro da organização. A valorização do capital humano pode ser um começo para que a empresa promova a RSE na gestão da confiança interna, respeitando as relações e os direitos trabalhistas. Oferecer autonomia, tratar os colaboradores como parceiros (AKTOUF, 2004), são atitudes que com certeza renderão bons frutos à organização, pois o colaborador, sabendo que o sucesso da empresa garantirá também o seu sucesso, terá prazer em fazer parte dessa conquista. Assim, as regras e normas adotadas como forma de conduzir os colaboradores devem ser claras, simples e justas. Para isso, a empresa deve certificar-se de ter uma comunicação transparente e eficaz, prevenindo a corrupção e as irregularidades, caso contrário poderá causar mal-estar, desconforto nas relações e a perda de confiança na gestão. Além das normas, as empresas devem também elencar seus valores, pois eles constituirão um guia ético que, além de orientar, servirá de padrão para o comportamento dos parceiros internos da organização. Agindo assim, a empresa poderá manter uma reputação íntegra e garantir a confiança dos stakeholders, que são, em última instância, os verdadeiros responsáveis por avaliar o desempenho das empresas e o impacto de suas ações na sociedade, influenciando diretamente e indiretamente o consumo. A ética empresarial e a responsabilidade corporativa devem, por isso, seguir rumo a um novo horizonte em que os gestores empresariais e a comunidade em geral percebam que as práticas empresariais têm consequências tanto no âmbito empresarial, como no social e no ambiental.
  • 7. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 7 2.2 A Transparência e a importância da divulgação das ações de RSE Todos os argumentos aqui apresentados tiveram como objetivo levar a esse ponto de reflexão. O objetivo da pesquisa foi verificar o grau de transparência das informações relativas à RSE disponibilizadas nos sites das maiores empresas, em termos de faturamento, que atuam no Brasil. Atualmente observa-se que muitas empresas de capital aberto publicam, em seus sites, Balanços Sociais e demonstrações financeiras relevantes, como os Balanços Patrimoniais. Dessa maneira, acredita-se que as mídias digitais, como os sites corporativos, apresentam-se como um novo canal aberto à transparência empresarial, diminuindo o isolamento das organizações e colaborando para a comunicação e o esclarecimento de informações relevantes entre as empresas e seus stakeholders. Como é sabido, as empresas de capital aberto, regidas pela Lei 6.404/76 (Lei da S/A), promulgada em 1976, são obrigadas a divulgar seus resultados financeiros de forma a garantir a segurança de seus investimentos, o que propicia a confiança de seus investidores (ORPHÃO 2003). É primordial, por conseguinte, que as empresas assumam uma postura de transparência em suas ações tanto no âmbito financeiro como no social, sendo dessa forma imprescindível uma comunicação que facilite o acesso dos stakeholders às informações relevantes da empresa. Isso os ajudará a compreender melhor as práticas e as políticas da empresa e influenciará em suas decisões diante da avaliação dos riscos e da relação custo/benefício, na hora de optarem por determinado produto ou organização (BENNIS, 2008). O que antes era uma atribuição apenas do Estado, a fiscalização das empresas, atualmente, está também a cargo de todos os cidadãos. O destino dos produtos fabricados traspôs as relações tradicionais de consumidor-empresa, obrigando os gestores a repensar suas estratégias de negócio e a maximização do lucro. O desempenho da empresa, modernamente, é analisado de maneira sistemática, não mais podendo ser direcionado apenas ao presente e aos consumidores diretos, mas compreendido dentro de uma ampla cadeia de relacionamentos e impactos diretos e indiretos, presentes e futuros.
  • 8. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 8 Nesse contexto, a postura da empresa – em relação à divulgação de suas práticas e políticas de gestão, de seus objetivos organizacionais e de suas ações de sustentabilidade – deve ser clara e transparente, para promover uma imagem idônea e aumentar a confiança de seus stakeholders. O Balanço Social passou a ser obrigatório para as companhias de capital aberto no Brasil mediante a Lei 11.638/07, que foi uma alteração parcial da Lei 6.404/76 e que disciplina a divulgação dos desempenhos empresariais no âmbito das ações de responsabilidade socioambientais. O Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas (Ibase) destaca-se entre os órgãos pioneiros, no Brasil, a oferecer um modelo padronizado para a divulgação do Balanço Social. É uma organização da sociedade civil criada em 1991, tendo como um dos fundadores o sociólogo Herbert de Souza, conhecido como Betinho. O Ibase tem como objetivo "a radicalização da democracia e a afirmação de uma sociedade ativa", com a proposta de "fortalecer o tecido associativo da sociedade, incidir em políticas públicas e criar uma nova cultura de direitos" (<http://www.ibase.br/pt/quem-somos/>. Acesso em 14 de jun. 2012). O fortalecimento dos laços entre sociedade e governo e a promoção do consumo consciente estão entre as suas missões. Uma importante contribuição do Ibase foi a criação de um dos primeiros modelos de Balanço Social, ainda em 1980. Nos primeiros anos da iniciativa, o projeto conseguiu apoios importantes, de empresas como a Inepar, a Usiminas, a Companhia Energética de Brasília e a Light. Posteriormente, o instituto lançou o Selo Social Ibase/Betinho, conferido a todas as empresas que publicassem o Balanço Social no modelo sugerido por ele. Atualmente, esse modelo de Balanço desenvolvido pelo Ibase continua disponível para as empresas que desejarem utilizá-lo, porém a distribuição do selo foi suspensa em 2008. Para se enquadrar nos parâmetros do Ibase é fundamental mostrar dados detalhados referentes a cada contribuição ou ação social promovida dentro e fora da organização. Nesse sentido, não basta à empresa dizer que desenvolveu ações sociais para a comunidade. É necessário que haja de fato números que comprovem a veracidade das práticas.
  • 9. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 9 Atualmente percebe-se uma nova tendência no que diz respeito aos modelos de balanços socioambientais. As empresas vêm adotando relatórios de sustentabilidade ou relatórios socioambientais, muitas vezes com formato assemelhado a uma revista. Estes relatórios, utilizados como veículos de comunicação, muitas vezes integram informações econômicas, ambientais e sociais. Um modelo de relatório de sustentabilidade bastante utilizado internacionalmente é o Global Reporting Initiative - GRI (<https://www.globalreporting.org/Pages/default.aspx>. Acesso em 27 de fev. 2012). O GRI é uma organização não-governamental fundada em 1997 pelo Programa das Nações Unida para o meio Ambiente (UNEP), em parceria com a Organização Não-Governamental norte-americana Coalition for Environmentally Responsible Economics (CERES), tendo como principal objetivo mobilizar organizações e os demais interessados em uma economia sustentável com vista a promover a elaboração de relatórios de sustentabilidade, que servirão como guia para as organizações que desejarem se engajar nessa causa. Com sede central em Amsterdã, o GRI tem representantes em diversos pontos estratégicos do mundo, como Austrália, Brasil, China, Índia e Estados Unidos, e uma rede mundial de mais 30.000 colaboradores. Desde o início de sua atuação, o GRI tem focado suas atividades no desenvolvimento de um padrão de relatório que aborde os aspectos relacionados à sustentabilidade econômica, social e ambiental das organizações. O objetivo maior é aumentar a compreensão das empresas e dos gestores sobre os impactos que suas empresas causam no meio social, promovendo a conscientização da responsabilidade corporativa na melhoria da sociedade como um todo. Após um esforço interinstitucional, que envolveu o Instituto Ethos, a Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje) e o centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (FGV), a versão em português do GRI foi finalmente lançado no Brasil em 2006. Atualmente percebe-se o aumento da utilização do modelo do Relatório de Sustentabilidade do GRI, por se tratar de uma ferramenta mais completa e utilizada mundialmente. No Brasil a UniEthos, o Centro de Estudos em Sustentabilidade da Fundação Getúlio Vargas (GVces) e a BSD, juntamente com o GRI, vêm difundindo esse modelo
  • 10. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 10 internacional por meio de treinamentos certificados (<http://www1.ethos.org.br/EthosWeb/pt/1400/o_instituto_ethos/o_uniethos/o_que_fazem os/cursos/relatorio_gri/relatorio_de_sustentabilidade_-_gri.aspx>. Acesso em 13 de mar. 2012). A estrutura dos relatórios do GRI é completa e usa diretrizes para avaliar as empresas através de indicadores de desempenho como preceitos para a análise da transparência e dos desempenhos econômicos, ambientais e sociais. Também como forma de incentivar as práticas empresariais sustentáveis, várias organizações da sociedade civil acabaram criando também prêmios e programas que buscam dar reconhecimento público às empresas que desenvolvem ações de responsabilidade socioambiental e de sustentabilidade. Entre esses programas destaca-se o da BM&F Bovespa. Seu programa “Relate ou Explique”, criado em 2011, orienta as empresas de capital aberto a informar à bolsa se publicam ou não algum tipo de relatório de sustentabilidade. Caso o façam, as empresas devem comunicar onde publicam tal relatório. Se não o fazem, as empresas devem justificar por que não publicam. Durante a Rio + 20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável (junho de 2012), a BM&F Bovespa apresentou o primeiro resultado do seu programa "Relate ou Explique". Segundo o levantamento, [...] 45,31% estão entre as empresas listadas que publicam informações relacionadas às dimensões social, ambiental e de governança corporativa ou explicaram por que não o fazem. De um total de 448 empresas de capital aberto analisadas, 96 publicam relatórios de sustentabilidade ou similares (21,43%); 107 não publicam, mas explicaram por que não o fazem (23,88%) e 245 não se manifestaram (54,69%). Já das 94 empresas que compõem a carteira vigente do IBrX – Índice Brasil, que mede o retorno de uma carteira teórica composta por 100 ações selecionadas entre as mais negociadas na BOVESPA, em termos de número de negócios e volume financeiro, 49 publicam relatório (52,13%), 22 empresas não publicam, mas se manifestaram (23,40%) e 23 das empresas não se manifestaram (24,47%) (<http://www.bmfbovespa.com.br/empresas/pages/BMFBOVESPA- divulga-primeiros-resultados-do-Relate-ou-Explique-2012-06-18.asp>. Acesso em 12 de abr. 2012). Infelizmente muitas empresas ainda utilizam de maneira instrumental as suas ações de sustentabilidade e de responsabilidade socioambiental (MEIRA, 2010). A Responsabilidade
  • 11. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 11 Social Empresarial no decorrer dos anos foi sofrendo mudanças em seu sentido ético e passou a ser praticada por muitas empresas como uma pintura verde a decorar seus textos coorporativos, beneficiando sua imagem com um marketing positivo para seus negócios – porém falso, imediatista e pontual – e buscando um bom retorno a curto prazo. A ação de RSE imediatista e puramente instrumental, sem planejamento que garanta resultados duradouros em longo prazo, pode até trazer ainda mais prejuízos irreversíveis para a organização e principalmente para a sociedade e para o meio ambiente. O compromisso com a sustentabilidade socioambiental está muito mais além do “marketing verde”. Ter um pensamento sistêmico dessa abordagem é de vital importância para uma melhor perspectiva do futuro. As exigências morais nos negócios estão deixando de ser ações isoladas e pontuais; determinam um novo modelo de gestão a ser seguido de maneira imperativa e categórica e estimulam uma postura mais idônea das organizações. Não se pode mais esperar nem aceitar que uma empresa se desenvolva e tenha um futuro "saudável" e lucrativo em uma sociedade miserável. Dessa forma, acredita-se que as empresas e os seus gestores perceberão finalmente que o lucro a todo custo começa a ter um custo muito alto a pagar. Uma empresa inteligente pensa no futuro e consequentemente busca tornar-se sustentável, desenvolvendo uma gestão moralmente inovadora e competitiva não só no mercado local, mas também no mundial. Por isso, as empresas precisam repensar as estratégias e os meios utilizados para a divulgação transparente de suas práticas éticas. Defendemos, neste trabalho, que a Internet (sites e redes sociais) deve ser considerada como um importante veículo de divulgação dessas práticas e de comunicação com os stakeholders. Vê-se a seguir como a pesquisa foi realizada. 3 PESQUISA: MATERIAIS E MÉTODOS UTILIZADOS Foram pesquisados no estudo os sites das 500 empresas que mais se destacaram em 27 setores da economia no ano de 2010, por intermédio do Ranking publicado pela revista Isto é Dinheiro: As 500 maiores da Dinheiro e as melhores por setor (<http://www.istoedinheiro.com.br/noticias/6354_AS+500+MAIORES+EMPRESAS+E+A
  • 12. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 12 S+MELHORES+POR+SETOR> Acesso em 11 de jan. 2012). A pesquisa dos sites foi realizada entre setembro de 2011 e abril de 2012. Como a intenção não foi fazer um estudo comparativo entre as empresas – comparando suas práticas ou relatos de RSA individualmente – optou-se por não citá-las nominalmente e sim agrupá-las em classes de acordo com a sua origem e a amplitude de sua atuação:  multinacionais: empresas de capital predominantemente de origem estrangeira que atuam no Brasil e têm sede em outro país estrangeiro;  multinacionais com sede no Brasil: empresas de capital predominantemente de origem brasileira, que atuam internacionalmente e mantêm sede principal no Brasil;  nacionais: empresas com atuação restrita ao território nacional. Entre as 500 empresas listadas pela Revista Exame, não foi encontrada nenhuma informação (site ou outras informações relevantes) sobre seis delas. Essas empresas ou não divulgavam nenhum dado em relação às variáveis estudadas (Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade Socioambiental, Balanço Social, Balanço Patrimonial), ou nem mesmo apresentavam sites próprios. A amostra final da pesquisa foi, por isso, constituída de 494 empresas. Todas as informações relativas às variáveis pesquisadas foram colhidas exclusivamente nos sites oficiais das empresas analisadas. Estabeleceram-se alguns critérios considerados pertinentes à avaliação, em relação à forma como as empresas divulgaram as variáveis em estudo, observando se as mesmas usavam seus sites como veículos de transparência corporativa. A análise estatística dos dados foi realizada por meio do aplicativo SPSS for Windows 15.0. Os dados coletados foram submetidos a análises estatísticas descritivas e inferenciais. Os resultados foram analisados por meio de técnicas estatísticas descritivas e analíticas com a utilização do teste Qui Quadrado para proporção. O nível de significância utilizado na decisão dos testes estatísticos foi de 5%. 4 RESULTADOS E DISCUSSÃO
  • 13. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 13 Iniciou-se a investigação pela análise exploratória dos dados, buscando identificar a proporção de empresas Multinacionais, Multinacionais com sede no Brasil e Nacionais e saber se elas estavam divulgando suas ações em relação às variáveis em estudo: Filosofia da Empresa, ações de Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade Socioambiental, Balanço Patrimonial, Balanço Social c⁄Padrão, Balanço Social s/padrão e GRI. Julgamos que seja importante esclarecer que consideramos como informações relevantes para a variável “Filosofia da Empresa”, declarações sobre a missão, a visão e os valores da organização. Dessa forma, nosso estudo apontou que, da amostra de 494 empresas, 284 empresas eram Nacionais (ou seja, são de origem brasileira e têm sua atuação restrita ao território nacional), 109 eram empresas Multinacionais e 101 eram empresas Multinacionais de origem brasileira, que corresponde a 57,49%, 20,45% e 20,6%, respectivamente. De acordo com a Tabela 1, é possível observar os percentuais em relação às variáveis em estudo: Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade Socioambiental, Balanço Patrimonial. Dessa forma, é possível observar que a maioria das empresas apresenta sua filosofia corporativa e ações ou intenções consideradas de responsabilidade socioambiental, com 81% e 76,1%, respectivamente. Nota-se, porém, que um número menor de empresas divulga as informações relativas às variáveis Relatório de Responsabilidade Socioambiental e Balanço Patrimonial. Tabela 1 - (Descritiva das 494 empresas analisadas) Variáveis Respostas Empresas % Não 94 19 Filosofia da Empresa Sim 400 81 Não 118 23,9 Responsabilidade Socioambiental Sim 376 76,1 Relatório de Responsabilidade Não 276 55,9 Socioambiental Sim 218 44,1 Não 217 43,9 Balanço Patrimonial Sim 277 56,1
  • 14. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 14 Em relação à variável pesquisada Balanço Social, considerou-se como padrão os modelos fornecidos pelo Ibase e pelo Instituto Ethos. Optou-se por analisar separadamente, dentro da variável Balanço Social, a apresentação de relatórios que utilizaram o modelo proposto pelo GRI (ver Tabela 2). Em relação a essa variável, Balanço Social, 218 empresas apresentaram relatórios de balanços sociais (ou relatórios de sustentabilidade) com ou sem padrão. As 276 restantes (do total de 494 empresas analisadas) não disponibilizaram nenhuma informação sobre essa variável em seus respectivos sites. Tal como descrito na Tabela 2, observa-se que das 218 empresas que divulgam um Relatório de Responsabilidade Socioambiental, pode-se observar que 80,3% não seguem um padrão definido para a divulgação do Balanço Social, proposto pelos modelos do Ibase e do Instituto Ethos, sendo que 19,7% apresentam em seus sites seus relatórios de acordo com esses padrões discutidos. Já em relação à variável GRI, observa-se que 49,5% das empresas não divulgam suas informações seguindo esse padrão internacional, enquanto 50,5% apresentam os seus dados seguindo esse padrão. Tabela 2 – (Descritiva das 218 empresas) Variáveis Respostas Empresas % Não 175 80,3 Balanço Social c/Padrão Sim 43 19,7 Não 108 49,5 GRI Sim 110 50,5 Nota. Fonte: própria. Uma segunda análise, utilizando-se o teste Qui Quadrado (χ2) foi realizada para verificar a existência de diferenças entre as proporções de empresas Multinacionais com sede no Brasil, Multinacionais e Nacionais em relação à divulgação das informações sobre as variáveis: Filosofia da Empresa, Responsabilidade Socioambiental, Relatório de Responsabilidade Socioambiental e Balanço Patrimonial. A Tabela 3 apresenta o resultado dessa análise.
  • 15. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 15 Tabela 3 – (Teste Qui Quadrado relativo às 494 empresas) Multinacional Variáveis Respostas Multinacional Nacional χ2 Valor de P c/Sede Brasil Filosofia da Não 20 (19,8%) 23 (21%) 51 (18%) 0,544 0,758 Empresa Sim 81(80,2%) 86 (78,9%) 233 (82%) Responsabilidade Não 24 (23,%) 16 (14,7%) 78 (27,5%) 7,084 0,029* Socioambiental Sim 77 (76,2%) 93 (85,3%) 206 (72,5%) Relatório de Não 55 (54,5%) 44 (40,4%) 177 (62,3%) Responsabilidade 15,505 0,00001* Socioambiental Sim 46 (45,5%) 65 (59,6%) 107 (37,7%) Balanço Não 37 (36,6%) 58 (53,2%) 122 (43%) 6,104 0,047* Patrimonial Sim 64 (63,3%) 51 (46,8%) 162 (57%) Nota. Fonte: própria. O símbolo de * indica que a variável é significante a 5%. Todas as demais variáveis não apresentaram impacto estatístico significante. Assim, a formulação das hipóteses a serem testadas foi a seguinte: H0 : π1 = π2 = π3 (a proporção dos grupos é igual em relação à divulgação das informações). H1: Nem todas as proporções πj são iguais (em que j = 1, 2, 3). Como sugerem os resultados do teste Qui Quadrado (χ2), há uma diferença significativa entre a origem da empresa e a divulgação das informações relativas às variáveis em estudo, ou seja, o valor de P < 0,05, sendo constatada uma diferença estatisticamente significativa nas proporções entre a nacionalidade da empresa e a divulgação ou não de informações relativas às variáveis pesquisadas. Desse modo, a proporção de empresas multinacionais que divulgam informações relativas a ações de responsabilidade social é maior em comparação às nacionais e às multinacionais brasileiras. Já a variável Relatório de Responsabilidade Social mostrou-se significante, ao nível alfa de 5%. Sendo assim, é possível ressaltar mais alta proporção de empresas nacionais que não divulgam suas informações relacionadas a esta variável em comparação às Multinacionais c/sede no Brasil e às Multinacionais. Da mesma forma, a variável Balanço Patrimonial apresentou-se significante, isto é, o valor de P é menor que alfa de 5%, assim é possível observar que as Multinacionais com sede no Brasil e as nacionais apresentam maiores
  • 16. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 16 proporções, na divulgação destas informações. No entanto, a variável Filosofia foi a única que não apresentou resultado significativo, ou seja, não há diferença nas proporções em relação à nacionalidade e à variável em estudo, isto é, o valor de P > 0,05. Análise semelhante, utilizando a estatística de teste Qui Quadrado (χ2), foi utilizada na Tabela 4, referente às variáveis Balanço Social com Padrão e GRI. Assim, é possível observar que não há uma diferença significativa quando se compara a origem da empresa e a divulgação de cada uma dessas variáveis. No tocante às variáveis Balanço Social com Padrão e GRI, o valor de P apresentou-se não significante, isto é, valor de P > 0,05, sendo por isso constatado que não há uma diferença proporcional em relação à origem da empresa – se Multinacional com Sede no Brasil, Multinacional ou Nacional – e a divulgação de informação relacionada às variáveis estudadas. Vale ressaltar que a maioria das empresas não utiliza o padrão recomendado para a divulgação do seu Balanço Social. No que concerne à variável GRI, é bem parecido o resultado das corporações que divulgam ou que não divulgam esse padrão de relatório. Tabela 4 – (Teste Qui Quadrado relativo às 218 empresas) Multinacional Variáveis Respostas Multinacional Nacional χ2 Valor de P c/Sede Brasil Não 37 (80,4%) 56(86,2%) 82 (76,6%) Balanço Social c/Padrão 2,315 0,314 Sim 9 (19,6%) 9 (13,8%) 25 (23,4%) Não 24 (52,2%) 30 (46,2%) 54 (50,5%) GRI 0,463 0,793 Sim 22 (47,8%) 35 (53,8%) 53 (49,5%) Nota. Fonte: própria. Todas as variáveis analisadas não apresentaram impacto estatístico significante. Relativamente às 494 empresas analisadas, das variáveis utilizadas como critérios de avaliação a Filosofia da Empresa foi a variável que teve mais destaque: 400 organizações expuseram suas filosofias como forma de reforçar seus valores, princípios, suas normas éticas e organizacionais, orientadas para a melhoria do desempenho corporativo. Durante a pesquisa foi percebido que as corporações deram ênfase à Responsabilidade Socioambiental. Do total, 376 dizem em seus sites ter RSA, o que deu a impressão de que no âmbito nacional as empresas
  • 17. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 17 estão absorvendo o tema como uma estratégia de ação ou foco de atuação, embora nem todas demonstrem de forma transparente suas atuações, pois algumas usam apenas pequenos textos em seus sites ou revistas informativas e acabam não disponibilizando mais informações relevantes sobre suas ações de Responsabilidade Socioambiental. Observou-se também que das 376 empresas que divulgam ações ou intenções de RSA apenas 218 divulgam suas ações por meio de relatórios que buscam organizar os dados das ações realizadas. Em relação à variável Balanço Patrimonial, apenas 277 do total das empresas divulgam seus Balanços, o que sugere que ainda há receio por parte das corporações de divulgarem seus resultados financeiros. A maioria das empresas analisadas só divulgam seus balanços financeiros/patrimoniais quando são obrigadas legalmente a isso. Na análise das 218 empresas que divulgam suas ações de RSE, apenas 43 empregam um padrão confiável e transparente em seus relatórios. Observou-se também que o GRI está ganhando espaço e as empresas estão buscando se certificar para dar mais credibilidade às suas ações de RSA por meio de relatórios de sustentabilidade que, somados ao Balanço Social, tornam-se ferramentas completas e confiáveis, elevando a transparências das informações divulgadas. 5 CONCLUSÕES As análises quantitativas precisam, muitas vezes, passar pelo crivo de uma análise qualitativa dos dados. Das empresas analisadas, muitas se diferenciam pelas diversas características econômicas, origem ou ramo de atuação, entretanto muitas delas se assemelham quando o assunto é ética e transparências nos negócios. Nosso estudo observou que a maioria das empresas analisadas não é transparente no modo como divulga suas ações de Responsabilidade Socioambiental ou seus resultados financeiros. Algumas não definem para o público sua missão como empresa, seus valores e sua sistemática administrativa. O que se observa é que ainda não há, entre as empresas analisadas que atuam no Brasil, uma preocupação declarada e efetiva de buscar, junto a seus diferentes
  • 18. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 18 stakeholders, a associação entre a sua marca e os impactos positivos ou negativos que seus negócios possam trazer para a sociedade ou para o meio ambiente. Analisando os perfis das empresas divulgados nos sites, detecta-se que muitas delas dizem ter preocupação com seu corpo funcional, com sua missão, com seu crescimento aliado à sustentabilidade, mas não há nada claramente expresso que descreva a estratégia ou a política adotada para se alcançar esse fim, o que acaba se configurando como uma simples propaganda mercadológica. Quando se comparam os resultados entre multinacionais e nacionais, o que se observa, qualitativamente, é que há uma significativa diferença entre as empresas em relação à concepção de responsabilidade social nos negócios. As organizações multinacionais tendem a ser mais organizadas e transparentes na maneira como divulgam suas informações e, também, bem mais preparadas em termos de políticas, balanços sociais e ações de responsabilidade socioambiental. Em geral, as informações, relativas à RSA disponibilizadas nos sites das empresas multinacionais que atuam no Brasil apresentam mais fácil visualização e geralmente estão atreladas à própria marca da empresa, ou seja, são utilizadas estrategicamente como ferramentas de gestão da confiança. Percebe-se por isso, que existe entre as empresas que atuam internacionalmente uma maior preocupação com a imagem que a organização transmite e que é percebida pela sociedade. Já no âmbito das empresas com atuação restrita ao território nacional, percebemos que quando o assunto é responsabilidade social, ética e transparência, há o predomínio de informações subjetivas, além da divulgação de dados e ações de RSA com poucos critérios objetivos. A maioria destas empresas está preocupada apenas em divulgar por divulgar, sem o real comprometimento com a transparência dos dados expostos, não havendo padrão ou periodicidade na publicação de seus relatórios, tais como o Balanço Social e o Balanço Financeiro, por exemplo. Nesse sentido, percebemos que muitos dos relatórios encontrados estavam desatualizados, com dados de até 2008, o que nos leva a concluir que há efetivamente pouco interesse de algumas empresas em assumirem uma postura mais transparente e responsável. Observamos também que mesmo nesses relatórios desatualizados eram apresentadas as cifras
  • 19. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 19 das ações de RSA realizadas com números insignificantes, quando comparados à alta rentabilidade financeira da empresa. Ou seja, não conseguimos encontrar ou compreender o critério adotado pelas empresas para definir o montante financeiro que é destinado às ações de RSA. Outro ponto que suscitou questionamentos foi a forma como esses relatórios, que não utilizam padrões reconhecidos, são divulgados, levando-nos a crer que o padrão de divulgação foi decidido pela própria empresa, de acordo com sua conveniência na apresentação ou no ocultamento de dados e análises. Esses relatórios, na maioria das vezes, não divulgam por meio de cifras concretas os percentuais gastos com políticas de treinamento e capacitação para os funcionários, e com investimentos em ações de promoção do bem-estar social dentro e fora da organização ou em cultura e educação para os filhos dos funcionários ou para os próprios funcionários. Ficam de fora também as informações sobre a base de cálculo da receita operacional utilizada na folha dos funcionários e sobre os indicadores sociais internos e externos, como gastos com alimentação e saúde dos empregados. Nesse sentido, percebemos o quanto a divulgação de relatórios e balanços (sociais e patrimoniais) sem padrão pode comprometer a transparência, a significância e fidelidade das informações divulgadas. Observa-se que a maioria das empresas que declara espontaneamente apresentar um Balanço Social o faz, na verdade, incorporando os dados relativos às ações de RSA e sustentabilidade ao próprio Balanço Financeiro, o que acaba gerando informações que nem sempre condizem com os parâmetros do Ibase e do GRI. Essa falta de critério compromete não somente as informações contidas nos balanços, mas também a compreensão de quem o analisa, pois fica confuso entender o que distingue Balanço Financeiro de Balanço Social. Outra particularidade observada é a dificuldade em encontrar os balanços nos sites das empresas consultadas. Muitos deles estavam em subpáginas, sem link direto ou com links "quebrados", sendo necessária muita atenção e paciência para encontrar as informações e os balanços. Isso nos leva a concluir que muitos gestores ainda não consideram esse tipo de informação importante para o relacionamento com os diferentes stakeholders da empresa. Observamos, através da pesquisa, que o conceito de responsabilidade socioambiental ainda é encarado superficialmente e de maneira subjetiva pelas organizações: cada empresa faz
  • 20. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 20 uma gestão da responsabilidade socioambiental à sua maneira. Encontramos, a título de exemplo, empresas que ajudam ou se filiam a instituições de assistência social, ou ainda outras que plantam algumas árvores ou reciclam alguns produtos esporadicamente e que se autoproclamam responsáveis em seus sites. Estampam na página principal do site a logomarca da entidade beneficiada, ou algumas fotos de ações ambientais, embora efetivamente nenhum dado ou balanço contabilize essas ações sociais, o que tipifica uma estratégia de propaganda empresarial. Mesmo o tema da sustentabilidade e da RSA estando em destaca na mídia, o que se observa é a imaturidade e o pouco compromisso das organizações com relação ao assunto. Mais do que qualquer sentimento de “obrigatoriedade”, o que as empresas e os gestores precisam analisar é o papel social que eles atribuem às suas organizações. Os paradigmas que orientam o consumo e a gestão empresarial estão mudando. Observa- se um aumento gradativo da conscientização dos consumidores, de que eles também são responsáveis na hora de escolher as empresas e os produtos que consomem. Na perspectiva do consumo ético, o consumidor é lembrado de que a ação de consumir também implica um ato de cidadania, que deve ter suas consequências avaliadas em termos de corresponsabilidade, ou seja, o consumidor - enquanto cidadão - precisa assumir também o seu compromisso na promoção de uma sociedade mais justa escolhendo entre os vários produtos e empresas aquelas que têm práticas mais éticas (CORTINA, 2004). Espera-se com isso que investidores e consumidores, cada vez mais, prestam atenção às praticas de responsabilidade corporativa como um sinal de boa gestão. A gestão transparente propicia aos stakeholders mais conhecimentos sobre as práticas e políticas das empresas, o que acaba aumentando a consciência da sociedade sobre as implicações do modelo de desenvolvimento vigente. O que se busca, com a gestão transparente é estimular a harmonia entre indivíduo, sociedade e meio ambiente e também garantir sustentabilidade para as gerações futuras. O novo paradigma que se delineia sustenta que ser responsável socialmente é um fator de competitividade dentro do mercado; usar da transparência e da ética nos negócios e assumir um
  • 21. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 21 compromisso social e ambiental serão um grande diferencial competitivo das empresas do século XXI. Nesse cenário, cabe a cada um de nós assumirmos nossa responsabilidade e atuar na fiscalização das organizações, exigindo produtos ou meios de produção sustentáveis que tragam retorno para a sociedade. Por isso, é necessário o amadurecimento de uma consciência como sociedade, como cidadão e como corresponsáveis da construção dessa nova realidade. Transparency and Corporate Responsibility: an Analysis of Sites of 500 Largest Abstract The last few decades have been marked by profound changes in the world of enterprise business. Society and consumers of today start to demand more and more responsible policies and practices from companies. Thus, the Internet boom and the easy access to information via web have allowed greater control of the practices adopted by the enterprises and its social and environmental impacts. The aim of this paper is to analyze the sites of the 500 biggest companies operating in Brazil in order to verify its degree of transparency and its capacity of providing information about Social and Environmental Responsibility. We believe that by calling attention to the way companies communicate with its various stakeholders we are contributing to build more transparent and sustainable corporations. Keywords: transparency, Internet, enterprise responsibility Referências AKTOUF, O. Pós-globalização, Administração e racionalidade econômica. A síndrome do avestruz. São Paulo: Atlas, 2004. BARBIERI, J. C. Responsabilidade social empresarial e empresa sustentável: da teoria à prática. São Paulo: Saraiva, 2009. Bennis, W. G. Transparência: como criar uma cultura de valores essenciais nas organizações. Rio de Janeiro: Elsevier, 2008. CAPPELLIN, P.; Giffoni, R. As empresas em sociedades contemporâneas: a responsabilidade social no Norte e no Sul. Cad. CRH, vol.20, n.51, 419-434. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ccrh/v20n51/a04v2051.pdf>. Acesso em 12 de abr. 2012
  • 22. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 22 CLARK, A. (2000). They’re talking about you: Some thoughts about managing online commentary affecting corporate reputation. Journal of Communication Management, 5 (3), 262- 276. Disponível em: <http://www.emeraldinsight.com/journals.htm?articleid=1524177>. Acesso em 12 de abr. 2012. COMTE-SPONVILLE, A. Le Capitalisme est-il moral? Paris: Albin Michel, 2004. CORTINA, A. Por una ética del consumo. Madrid: Taurus, 2004. __________. Construir confiança. Ética da empresa na sociedade da informação e das comunicações. São Paulo: Edições Loyola, 2007. DEGEORGE, R. T. A history of business ethics. Disponível em: <http://www.scu.edu/ethics/practicing/focusareas/business/conference/presentations/business- ethics-history.html>. Acesso em 01 de mar. 2011. CREYER, E. H. The influence of firm behavior on purchase intention: do consumers really care about business ethics? Journal of Consumer Marketing, Vol. 14 Iss: 6, 421 – 432. Disponível em: <http://www.emeraldinsight.com/journals.htm?articleid=856270&show=abstract>. Acesso em 14 de jun. 2012. FRIEDMAN, Milton. The Social Responsibility of Business is to Increase its Profits. The New York Times Magazine, September 13, 1970. Disponível em: <http://www.colorado.edu/studentgroups/libertarians/issues/friedman-soc-resp-business.html>. Acesso em 01 de mar. 2011. GARCÍA-MARZÁ, D. Confianza y poder: la responsabilidad moral de las empresas de comunicación. In CORTINA, A. Construir confiança. Ética da empresa na sociedade da informação e das comunicações. São Paulo: Edições Loyola, 2007. GONZÁLEZ, E. E. La Responsabilidad Moral de la Empresa: una revisión de la teoría de los Stakeholders desde la Ética Discursiva. (Tesis Doctoral). Universitat Jaume I, Castellón, España, 2001. HABERMAS, J. Conciencia moral y acción comunicativa. Madrid: Editorial Trotta, 2008. HANDY, C. Para que serve uma empresa? In: Ética e Responsabilidade Social nas Empresas (Harvard Business Review). Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. LLOPIS, T. González, R.; GASCÓ GASCÓ, J.L. (2009). Análisis de páginas web corporativas como descriptor Estratégico. Investigaciones Europeas de Dirección y Economía de la Empresa, Vol. 15, Nº 3, pp. 119-133. Disponível em: <http://www.aedem- virtual.com/articulos/iedee/v15/153119.pdf>. Acesso em 12 de abr. 2012.
  • 23. Revista Científica da Faculdade Lourenço Filho - v.9, n.1, 2012 23 LOZANO, J. M. La empresa ciudadana: un reto de innovación. Madrid: Esade, 2002. MEIRA, F. B. A ética empresarial em movimento: as (de)limitações do campo. Revista Gestão e Planejamento, Salvador, v. 11, n. 1, p. 119-138, jan./jun, 2010. Disponível em:<http://www.revistas.unifacs.br/index.php/rgb/article/view/716/927>. Acesso em 12 de abr. 2012. ORPHÃO, R. S. Direito e Transparência na divulgação de informações: a regulamentação brasileira versus americana. São Paulo: Textonovo, 2003. RICOEUR, P. Sí mismo como otro. Siglo veintiuno de España Editores, 1996. SEN, A. Sobre ética e economia. São Paulo: Companhia das Letras, 1999. UMANSKY, S. N. La regulación de la conducta en las relaciones de consumo. Enfoques, vol.21, n.2, pp. 15-35. Disponível em:<http://www.scielo.org.ar/pdf/enfoques/v21n2/v21n2a03.pdf>. Acesso em 12 de abr. 2012. Felipe Saraiva Nunes de Pinho Professor da Faculdade Lourenço Filho Psicólogo, Mestre em Linguística (UFC) DEA em Filosofia Moral (Universidad de Barcelona) e-mail: felipepinho@outlook.com Eloísa Crígina Duarte Xavier Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Lourenço Filho e-mail: eloisacrigina@hotmail.com Vanessa Martins dos Santos Aluna do Curso de Administração de Empresas da Faculdade Lourenço Filho e-mail: vanessapatchele@gmail.com Jarbas Silva Rodrigues Professor da Faculdade Lourenço Filho Graduação em Estatística (UFC) Mestre em Logística e Pesquisa Operacional (UFC) e-mail: jarbas31@yahoo.com.br