SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 14
Descargar para leer sin conexión
A ciência na Ilustração
Portuguesa e n’O Occidente no
último quartel do séc. XIX




                            Filipa M. Ribeiro
                        Universidade de Aveiro
                III Jornadas Internacionais de
                                   Jornalismo
                                   Março 2008
Objectivos
1. Caracterizar e comparar a forma como a ciência
   foi noticiada em duas publicações ilustradas da
   segunda metade do séc.XIX; Ilustração Portugueza
   e O Occidente;

2. Identificar indícios reveladores de    uma nova
   literacia emergente em Portugal:       a literacia
   científica;

3. Demonstrar que é possível falar de um ciência
   finissecular.
1885-1900: Contexto cultural

 Na literatura finissecular, abundam as
    imagens de um mundo em ruínas prestes
    a desabar;



 Modernidade/ ruralidade;

 Desenvolvimento industrial/crescimento demográfico

 Nacionalismo/ colonialismo;

 Nostalgia dos Descobrimentos/ declínio do conceito de
     raça
1885-1900: Contexto cultural



A Filosofia era uma forma de conhecimento
  relacional;


A ciência deveria ser mais racional,
  possibilitando um conhecimento ilimitado;


Ideia de «crise» como factor essencial no
  pensamento social finissecular
1885-1900: Contexto Científico


Conjuntura favorável à contestação das ideias
  que ganharam força com o triunfo do
  positivismo e do cientismo;


Entre 1838 e 1880, a produção científica é
  “quase nula” (A. Manuel Baptista).


Entre 1863-1908 há um reavivar das
  actividades científicas (D. Carlos)
Ilustração Portugueza



• Junho de 1884, periodicidade semanal

• Cariz literário (48%) e artístico (37,5%)

• Temas de actualidade nacional
e temas menos usuais

• Circulação nacional
O Occidente



• Fundada em 1877 por Caetano Alberto

• Artigos illustrados, aspectos e costumes,
  bellas-artes, calendário, chronica elegante,
  colónias e ilhas adjacentes, congresso,
  edifícios e monumentos, estrangeiro, exército
  e marinha, exposições, feiras, festas,
  habitações artísticas, folhetins, guerra russa,
  retratos, sport, theatros, variedades, vistas
  gerais.
Ilustração                  vs     O Occidente
                                  • Generalista;
• Especializada;
                                  • Circulação nacional e
• Circulação nacional;              internacional;
• Sem rubricas específicas
  para a ciência;                 • Rubrica Novidades da
                                    sciencia durante a
                                    década de 1890-1900;
• Tipologia de artigos
  variada;
                                  • Tipologia de conteúdos
• Visão da ciência                  uniforme e pouco
  enquanto forma de                 diversa;
  conhecimento útil à
  sociedade, mas sobre a          • Visão da ciência centrada
  qual é preciso reflectir          unicamente na
                                    tecnologia. Confundia-se
                                    ciência com técnica.
Ilustração             vs     O Occidente

• Notícias múltiplas e        • Notícias sumário e de
  temáticas;                    interesse humano;

• Estética da                 • Estética da informação
  informação cuidada            cuidada e constante;
  e constante;
                              • Títulos curtos e sóbrios;
• Títulos curtos e
  sóbrios;                    • Fontes de informação
                                baseadas em revistas
                                científicas estrangeiras.
• Fontes de
  informação baseadas
  essencialmente no
  autor do texto.
•Alfabetização científica
                                   prática e cultural;

Uma nova literacia                 •Alfabetização cívica
                                   •Apreciar a beleza do saber
                                   intelectual

• A Ilustração Portugueza e O Occidente
  mostram que tal como a arte, a ciência pode
  ser a ligação humana e visível do trabalho
  intelectual;

• Correntes de pensamento europeias;

• Novas áreas científicas; Ciência torna-se
  profissão;

• Proliferam os congressos. Conhecimento
  científico torna-se internacional;

• Contributo de homens notáveis
Uma nova literacia

• Maior interesse público pela ciência;

• Criação em 1890 da rubrica “Novidades da
  Sciencia” ;

• História da ilustração científica;

• Incentivo de D. Carlos I;

• Era da modernidade
Uma nova literacia

• Reflexão sobre a própria ciência;

• Ênfase na divulgação de novas descobertas;

• Reflexão sobre as instituições científicas;

• Busca pela legitimidade científica das coisas;

• Ciência como fonte geradora de
  conhecimento;

• Ciência humanista complementada por uma
  ciência prática
Linhas de investigação
  futura


 O papel da Ilustração Portugueza e d’O
Occidente numa (ainda por fazer) história do
  jornalismo de ciência em Portugal e na
                  Europa
Muito obrigada pela atenção!

Más contenido relacionado

Similar a A ciência na imprensa ilustrada portuguesa do séc. XIX

Geração de 70
Geração de 70Geração de 70
Geração de 70inesabento
 
O espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileiraO espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileiraJéssica de Paula
 
O que é divulgação científica? - Henrique César da Silva
O que é divulgação científica? - Henrique César da SilvaO que é divulgação científica? - Henrique César da Silva
O que é divulgação científica? - Henrique César da SilvaCleberson Moura
 
Programa%20Historia%20A%2010.pdf
Programa%20Historia%20A%2010.pdfPrograma%20Historia%20A%2010.pdf
Programa%20Historia%20A%2010.pdfRitaGomes445013
 
Cultura em Portugal
Cultura em PortugalCultura em Portugal
Cultura em Portugalnanasimao
 
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
Novos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arteNovos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arte
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arteGabriel
 
Elisabeth batista
Elisabeth batistaElisabeth batista
Elisabeth batistaliterafro
 
A emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmop
A emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmopA emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmop
A emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmopSheila Santos
 
Palestra Biblio.lab Divulgação Científica
Palestra Biblio.lab Divulgação Científica Palestra Biblio.lab Divulgação Científica
Palestra Biblio.lab Divulgação Científica Fábio de Albuquerque
 
Divulgação Científica - Fábio F. de Albuquerque
Divulgação Científica - Fábio F. de AlbuquerqueDivulgação Científica - Fábio F. de Albuquerque
Divulgação Científica - Fábio F. de AlbuquerqueSemana Biblioteconomia
 
Estudo introdutório de história
Estudo introdutório de históriaEstudo introdutório de história
Estudo introdutório de históriaeunamahcado
 
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impressoA enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impressoEmerson Mathias
 
tesedoutcontopopular000074266.pdf
tesedoutcontopopular000074266.pdftesedoutcontopopular000074266.pdf
tesedoutcontopopular000074266.pdfZélia fernandes
 

Similar a A ciência na imprensa ilustrada portuguesa do séc. XIX (20)

Etnografi..
Etnografi..Etnografi..
Etnografi..
 
Geração de 70
Geração de 70Geração de 70
Geração de 70
 
O espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileiraO espetáculo das raças antropologia brasileira
O espetáculo das raças antropologia brasileira
 
O que é divulgação científica? - Henrique César da Silva
O que é divulgação científica? - Henrique César da SilvaO que é divulgação científica? - Henrique César da Silva
O que é divulgação científica? - Henrique César da Silva
 
39 319-1-pb (1)
39 319-1-pb (1)39 319-1-pb (1)
39 319-1-pb (1)
 
Programa%20Historia%20A%2010.pdf
Programa%20Historia%20A%2010.pdfPrograma%20Historia%20A%2010.pdf
Programa%20Historia%20A%2010.pdf
 
Cultura em Portugal
Cultura em PortugalCultura em Portugal
Cultura em Portugal
 
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
Novos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arteNovos campos de investigação historiográfica   a literatura, o cinema  e a arte
Novos campos de investigação historiográfica a literatura, o cinema e a arte
 
Cenáculo
CenáculoCenáculo
Cenáculo
 
O Renascimento
O RenascimentoO Renascimento
O Renascimento
 
Inf historia 6
Inf historia 6Inf historia 6
Inf historia 6
 
Realismo/Naturalismo
Realismo/NaturalismoRealismo/Naturalismo
Realismo/Naturalismo
 
Elisabeth batista
Elisabeth batistaElisabeth batista
Elisabeth batista
 
A emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmop
A emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmopA emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmop
A emergencia de_um_ponto_de_vista_cosmop
 
Palestra Biblio.lab Divulgação Científica
Palestra Biblio.lab Divulgação Científica Palestra Biblio.lab Divulgação Científica
Palestra Biblio.lab Divulgação Científica
 
Divulgação Científica - Fábio F. de Albuquerque
Divulgação Científica - Fábio F. de AlbuquerqueDivulgação Científica - Fábio F. de Albuquerque
Divulgação Científica - Fábio F. de Albuquerque
 
Estudo introdutório de história
Estudo introdutório de históriaEstudo introdutório de história
Estudo introdutório de história
 
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impressoA enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
A enciclopédia barsa e o contexto dos anos 60 – algumas percepções do impresso
 
tesedoutcontopopular000074266.pdf
tesedoutcontopopular000074266.pdftesedoutcontopopular000074266.pdf
tesedoutcontopopular000074266.pdf
 
4 pi cap1
4 pi cap14 pi cap1
4 pi cap1
 

Más de Filipa M. Ribeiro

Combining permanence and change:the strength of strong ideals
Combining permanence and change:the strength of strong ideals Combining permanence and change:the strength of strong ideals
Combining permanence and change:the strength of strong ideals Filipa M. Ribeiro
 
Governing modes and the European Research Area: (non) plus ultra?
Governing modes and the European Research Area:  (non) plus ultra?Governing modes and the European Research Area:  (non) plus ultra?
Governing modes and the European Research Area: (non) plus ultra?Filipa M. Ribeiro
 
Genetics, evolution, communication: a love story
Genetics, evolution, communication: a love story Genetics, evolution, communication: a love story
Genetics, evolution, communication: a love story Filipa M. Ribeiro
 
Quem São Elas_o crime do queijo
Quem São Elas_o crime do queijoQuem São Elas_o crime do queijo
Quem São Elas_o crime do queijoFilipa M. Ribeiro
 
Communication and Science in the land of utopias
Communication and Science in the land of utopias Communication and Science in the land of utopias
Communication and Science in the land of utopias Filipa M. Ribeiro
 
The Place Of Utopia In Todays Science
The Place Of Utopia In Todays ScienceThe Place Of Utopia In Todays Science
The Place Of Utopia In Todays ScienceFilipa M. Ribeiro
 
MudançAs Climaticas E ComunicaçãO
MudançAs Climaticas E ComunicaçãOMudançAs Climaticas E ComunicaçãO
MudançAs Climaticas E ComunicaçãOFilipa M. Ribeiro
 

Más de Filipa M. Ribeiro (13)

Combining permanence and change:the strength of strong ideals
Combining permanence and change:the strength of strong ideals Combining permanence and change:the strength of strong ideals
Combining permanence and change:the strength of strong ideals
 
Governing modes and the European Research Area: (non) plus ultra?
Governing modes and the European Research Area:  (non) plus ultra?Governing modes and the European Research Area:  (non) plus ultra?
Governing modes and the European Research Area: (non) plus ultra?
 
Genetics, evolution, communication: a love story
Genetics, evolution, communication: a love story Genetics, evolution, communication: a love story
Genetics, evolution, communication: a love story
 
Knowledge regimes
Knowledge regimesKnowledge regimes
Knowledge regimes
 
Quem São Elas_o crime do queijo
Quem São Elas_o crime do queijoQuem São Elas_o crime do queijo
Quem São Elas_o crime do queijo
 
Communication and Science in the land of utopias
Communication and Science in the land of utopias Communication and Science in the land of utopias
Communication and Science in the land of utopias
 
The Place Of Utopia In Todays Science
The Place Of Utopia In Todays ScienceThe Place Of Utopia In Todays Science
The Place Of Utopia In Todays Science
 
Livro Textos De Amor
Livro Textos De AmorLivro Textos De Amor
Livro Textos De Amor
 
Livro Patrimoniogenetico
Livro PatrimoniogeneticoLivro Patrimoniogenetico
Livro Patrimoniogenetico
 
MudançAs Climaticas E ComunicaçãO
MudançAs Climaticas E ComunicaçãOMudançAs Climaticas E ComunicaçãO
MudançAs Climaticas E ComunicaçãO
 
Utopia E Cinema Filipa
Utopia E Cinema  FilipaUtopia E Cinema  Filipa
Utopia E Cinema Filipa
 
A Cor Da Ciencia
A Cor Da CienciaA Cor Da Ciencia
A Cor Da Ciencia
 
The Bodys Mistake
The Bodys MistakeThe Bodys Mistake
The Bodys Mistake
 

A ciência na imprensa ilustrada portuguesa do séc. XIX

  • 1. A ciência na Ilustração Portuguesa e n’O Occidente no último quartel do séc. XIX Filipa M. Ribeiro Universidade de Aveiro III Jornadas Internacionais de Jornalismo Março 2008
  • 2. Objectivos 1. Caracterizar e comparar a forma como a ciência foi noticiada em duas publicações ilustradas da segunda metade do séc.XIX; Ilustração Portugueza e O Occidente; 2. Identificar indícios reveladores de uma nova literacia emergente em Portugal: a literacia científica; 3. Demonstrar que é possível falar de um ciência finissecular.
  • 3. 1885-1900: Contexto cultural Na literatura finissecular, abundam as imagens de um mundo em ruínas prestes a desabar; Modernidade/ ruralidade; Desenvolvimento industrial/crescimento demográfico Nacionalismo/ colonialismo; Nostalgia dos Descobrimentos/ declínio do conceito de raça
  • 4. 1885-1900: Contexto cultural A Filosofia era uma forma de conhecimento relacional; A ciência deveria ser mais racional, possibilitando um conhecimento ilimitado; Ideia de «crise» como factor essencial no pensamento social finissecular
  • 5. 1885-1900: Contexto Científico Conjuntura favorável à contestação das ideias que ganharam força com o triunfo do positivismo e do cientismo; Entre 1838 e 1880, a produção científica é “quase nula” (A. Manuel Baptista). Entre 1863-1908 há um reavivar das actividades científicas (D. Carlos)
  • 6. Ilustração Portugueza • Junho de 1884, periodicidade semanal • Cariz literário (48%) e artístico (37,5%) • Temas de actualidade nacional e temas menos usuais • Circulação nacional
  • 7. O Occidente • Fundada em 1877 por Caetano Alberto • Artigos illustrados, aspectos e costumes, bellas-artes, calendário, chronica elegante, colónias e ilhas adjacentes, congresso, edifícios e monumentos, estrangeiro, exército e marinha, exposições, feiras, festas, habitações artísticas, folhetins, guerra russa, retratos, sport, theatros, variedades, vistas gerais.
  • 8. Ilustração vs O Occidente • Generalista; • Especializada; • Circulação nacional e • Circulação nacional; internacional; • Sem rubricas específicas para a ciência; • Rubrica Novidades da sciencia durante a década de 1890-1900; • Tipologia de artigos variada; • Tipologia de conteúdos • Visão da ciência uniforme e pouco enquanto forma de diversa; conhecimento útil à sociedade, mas sobre a • Visão da ciência centrada qual é preciso reflectir unicamente na tecnologia. Confundia-se ciência com técnica.
  • 9. Ilustração vs O Occidente • Notícias múltiplas e • Notícias sumário e de temáticas; interesse humano; • Estética da • Estética da informação informação cuidada cuidada e constante; e constante; • Títulos curtos e sóbrios; • Títulos curtos e sóbrios; • Fontes de informação baseadas em revistas científicas estrangeiras. • Fontes de informação baseadas essencialmente no autor do texto.
  • 10. •Alfabetização científica prática e cultural; Uma nova literacia •Alfabetização cívica •Apreciar a beleza do saber intelectual • A Ilustração Portugueza e O Occidente mostram que tal como a arte, a ciência pode ser a ligação humana e visível do trabalho intelectual; • Correntes de pensamento europeias; • Novas áreas científicas; Ciência torna-se profissão; • Proliferam os congressos. Conhecimento científico torna-se internacional; • Contributo de homens notáveis
  • 11. Uma nova literacia • Maior interesse público pela ciência; • Criação em 1890 da rubrica “Novidades da Sciencia” ; • História da ilustração científica; • Incentivo de D. Carlos I; • Era da modernidade
  • 12. Uma nova literacia • Reflexão sobre a própria ciência; • Ênfase na divulgação de novas descobertas; • Reflexão sobre as instituições científicas; • Busca pela legitimidade científica das coisas; • Ciência como fonte geradora de conhecimento; • Ciência humanista complementada por uma ciência prática
  • 13. Linhas de investigação futura O papel da Ilustração Portugueza e d’O Occidente numa (ainda por fazer) história do jornalismo de ciência em Portugal e na Europa
  • 14. Muito obrigada pela atenção!