Netnografia: Reações dos consumidores à crise do suco AdeS

Netnografia: uma visão geral da
pesquisa etnográfica online
Flávia Galindo
UFRRJ

O que pretendemos hoje...
Apresentar a netnografia no contexto da pesquisa
qualitativa para o Marketing;
Apresentar algumas premissas e especificações do
método;
Compreender sua aplicabilidade a partir das questões
de investigação mais adequadas ao método;
Apresentar os passos do método;
Discutir brevemente duas experiências netnográficas:
Caso AdeS e HB20 (Hyundai).
AGENDA

“Os dados digitais agora podem mostrar como
brigamos, amamos, envelhecemos, quem somos
e como estamos mudando.
Basta olhar: afastando-se apenas um pouco, os
dados revelam o comportamento das pessoas
quando acham que ninguém está olhando”
(CHRISTIAN RUDDER, 2015)

Pesquisa qualitativa em Marketing
Compreender as lógicas
culturais e sociológicas que
orientam as ações
mercadológicas e que mediam
as relações entre empresa,
consumidores e demais atores
sociais.
Com uma abordagem
interpretativista dos
fenômenos, é possível discutir
aspectos simbólicos e práticos
que envolvem consumidores e
organizações produtivas.

Quando é utilizada?
• Para substituir (ou
complementar) a informação
estatística
• Para captar dados psicológicos
ou sócioantropológicos
• Para indicar o funcionamento
de estruturas e organizações

PRÁTICAS E REPRESENTAÇÕES
Práticas
O que as pessoas fazem
Representações
O que as pessoas pensam
sobre o que fazem
Sistemas de valores
DiscursosGestos e Ações

4 formas de abordagens e
instrumentos de coleta de dados
em pesquisa qualitativa
Observações (notas de campo, como observação
participante ou observador, outsider ou insider)
Entrevistas (não estruturadas ou semiestruturadas, com
protocolos observacionais, roteiros e/ou questionários)
Análise documental
Análise de materiais audiovisuais

Abordagens e instrumentos de
coleta de dados em pesquisa
qualitativa Observações (notas de
campo, como observação
participante ou observador,
outsider ou insider)
ETNOGRAFIA NETNOGRAFIA

Mas... O que é ETNOGRAFIA?
Referência: Malinowski e a obra “Os argonautas do Pacífico”.
Etnografia é uma descrição cultural.
Baseia-se na observação
participante, com a PRESENÇA do
pesquisador e contato direto com
seus informantes.
Estudo profundo dos seres
humanos em suas redes de
significados.

E a Netnografia?
É uma abordagem
etnográfica no ambiente
da internet, desenvolvida
por Robert Kozinets
Marketing Professor – York University
Toronto – Canada

Um mundo nem on, nem off line...
ONE LINE!!!
• O conceito de CIBRIDISMO propõe o fim do on e do off
line, pois estamos on e off simultaneamente!
Integração
humano-
computador
Extensões
tecnológicas
Mobilidade

Nem on, nem off line...
ONE LINE!!!
Integração
humano-
computador
Extensões
tecnológicas
Mobilidade
Ubiquidade, fim do
desktop e local “fixo”
para conexão

ONE LINE!!!
Integração
humano-
computador
Extensões
tecnológica
s
Mobilidade
Plataformas sociais
como espaços, não
como canais

ONE LINE!!!
Integração
humano-
computador
Extensões
tecnológicas
Mobilidade
Óculos, monitores,
Dispositivos,
nanotecnologia...

O princípio da Netnografia é a observação participante da forma cultural e
coletiva nos espaços virtuais e sociais.
Aplica-se bem para o mundo online, mas precisou ser adaptada para
as diferentes formas de mídia social.
O pesquisador deve PARTICIPAR de uma comunidade online e
OBSERVÁ-LA, mapeando seus DISCURSOS e repertório de
SIGNIFICADOS (funcionais, hedônicos e sociais).

Fonte: CASTELLS, M. Communication Power. Oxford: Oxford University Press, 2010.
“O individualismo em rede é um padrão social , não um acúmulo de
indivíduos isolados. O que ocorre é que indivíduos montam suas
redes, online e offline, com base em seus interesses, valores,
afinidades e projetos.”
Individualismo em Rede

Quantos? Onde? Por quê?
COMO?
Questões para a
Netnografia?

Passos do Método Netnográfico

1. Busca no
Google
2. Sugiro monitoramento em
Ferramentas que rastreiam redes
sociais, redes virais, blogs, microblogs
e comentários na imprensa online:
“How Sociable”, “Topsy” e “Social
Mention”, Page Rank.
3. Busca específica
por fóruns
4. Debates e
análises
5. Definição baseada nos
critérios do método
definidos por Kozinets:
Relevância, Atividade,
Interatividade,
Substancialidade,
Heterogeneidade e
Riqueza de Dados.
1
2
3
4
5
Como buscar comunidades?

Fonte: Kozinets, Robert V. Netnografia – Realizando Pesquisa Etnográfica Online: Porto Alegre,2014.
Rituais Linguagem Hábitos
Religião Paixão
Histórias
Compartilhadas
Engajamento
Netnografia: Cultura - Características

Netnografia: Jornada Comportamental

OBJETO DE ESTUDO
O Caso AdeS, referente ao produto
da empresa anglo-holandesa
Unilever, líder em vendas de bens
de consumo em vários países do
mundo (desde produtos
alimentícios, a itens de higiene
pessoal e de limpeza).
A marca AdeS é líder na categoria de
sucos de frutas com soja, com
45% do mercado.

PROPOSTA DO ESTUDO
Compreender como os
consumidores brasileiros
reagiram às informações
sobre uma crise alimentar
originada em um sistema
produtivo altamente
tecnificado.

Principais fatos da crise
(cronologia)Data inicial: 23/02/2013 - Envase de 96 caixas do suco sabor maçã de
1,5l em Pouso Alegre (MG)
1º registro de reclamação:09/03/2013 – uma família registrou queixa
na Polícia Civil de Ribeirão Preto (SP) por queimadura na boca de um jovem
de 17 anos. O caso veio a público dia 19/03/2013.
13/03/2013: a Unilever se pronuncia desativando a linha de produção e
informando que havia um problema de CONTAMINAÇÃO (não de envase).
Até o dia 15/03: 14 pessoas haviam reclamado no SAC da empresa.
18/03: ANVISA suspende de forma preventiva a linha de fabricação.
21/03: Unilever se reune com a SENACON (Secretaria Nacional do
Consumidor – Min. Justiça) , com o DPDC-MJ (Departamento de Proteção e
Defesa do Consumidor) e a ANVISA-MS. Decidem pelo recall do produto.
22/03: a Superintendência Estadual de Vigilância Sanitária divulga laudo
comunicando que no lugar do suco de soja foi evasado hidróxido de sódio a
2,5% de água, substância utilizada para limpeza da linha de produção. A
SENACON informou que houve falha no processo de higienização.
Data final para o estudo: 08/04/2013 - ANVISA liberou a fabricação,
distribuição, comercialização e consumo de todos os lotes dos alimentos com
soja da marca Ades, produzidas em Pouso Alegre – MG.

Comunidade escolhida
Página “AdeS Brasil” no Facebook: apresentou intensas formas de
interação online, registrando mais de um milhão de acessos (curtir).
A página é heterogênea, interativa e altamente ativa, com farto conteúdo
postado pelo grande público.
Análise do post postado pelo fabricante em 18/03, no qual mais de 1,8
milhão de pessoas curtiram, e que foi compartilhado mais de 1500 vezes.
Ao todo, 1228 comentários foram lidos e categorizados.

Principais resultados
A sociedade se apropriou do espaço para elaborar
críticas e opiniões sobre o problema.
Observamos quatro distintas categorias de reações
que vão da surpresa inicial ao repúdio.
Não há sequencia das reações e sentimentos, pois o
ambiente se mostra altamente reflexivo – pusemos
uma lente de uma realidade em pequena escala do
dinamismo e incoerencia da vida social.

1. A notícia que surpreende...
- Surpresos com a falha no processo industrial
- Observamos duas representações sociais emergindo destas elaborações: a) a
multinacional infalível que rompe a linha imaginária da proteção trazida pelas noções de
tecnologia e modernidade, e b) a saudabilidade do produto industrializado.
Informante 1: q diria!!!
Informante 2: a gente acha q
esta consumindo um produto
saudavel e na verdade não
sabemos o que pode ser
saudavel e confiavel p se comer
ou beber

- Medo, desapontamento e busca por informações em meio a uma sensação de pesar e
resignação (“aff...”).
- A desconfiança leva os consumidores a refletirem e reformularem suas decisões de
consumo.
Informante 2: Hj em dia não
podemos consumir nada com
tranquilidade mais ..afff
Informante 3: Não me sinto
segura pra consumir outros
produtos da Ades produzidos
em Pouso Alegre.
Informante 4: Ades, fiquei
decepcionado demais. (...) E
agora, o que faço com todas as
caixas que comprei dos outros
sabores?

- Observamos a preocupação de muitos pais preocupados com o hábito que eles mesmos
fomentaram nos filhos pelo produto que julgavam saudável.
Informante 1: Tanta coisa na
cabeça, e aquilo que achei
saudável dar para meu filho de 1
ano agora tira meu sono. É de
lascar!!!! Resolve aí, dá para
consumir ou não? Que sabores ?
Informante 2: Comprei
ontem os sucos para meu filho
levar a escola, o que devo fazer?

Os consumidores intensivos e a
relação de dependência
Informante 1: Eu estou decepcionada e
mais, sou transplantada renal e tive
alterações nas minhas taxas
elementares para não sofrer uma
parada renal. E agora? Joguei fora 4
caixas de Ades e fiquei sem alimentação já
q fazia parte dela. Deixei de tomar e vou
fazer novos exames, acho que
responsabilidade com alimentos
industriais deve ser extrema porque
os consumidores da Ades são
pessoas divididas entre crianças e
serve como complemento alimentar
para nós todos. Se eu perder meu rim
por causa das taxas e for provado q o
motivo foi a alteração do produto, vcs me
darão um novo rim?
Informante 3: Que não se repita. Onde
já se viu isso? A maioria das pessoas
que tomam esses produtos é pq são
alérgicas, intolerantes aos seus
similares comuns, se as pessoas já
tomam os produtos pq tem algum tipo de
problema de saúde, imagina tomar os
produtos ades contaminados com
produtos de limpeza?! Aff

2. A maçã da ira
Informante 1: vcs são uns
palhaço
Informante 2: Que vergonhaa.
Informante 3: CADE A
RESPONSABILIDADE DA
EMPRESA FABRICAÇÃO
Informante 4: Nossa q
absurdo nada mais e confiavel
so tem propaganda msm cadê a
"qualidade"
Informante 5: nao esqueci o
episódio do Toddinho la no RS
em 2011. foi embalado agua
sanitaria da maquina tbm. cade
o controle de vcs nao pode
haver falha humana gente!
Informante 6: Lembram do
leite coom soda caustica?

2. A maçã da ira
Informante 4: Afffff, nunca
mais eu tomo!
Informante 1: Na dúvida
melhor NÃO CONSUMIR fica a
dica!
Informante 2: NUNCA MAIS
NA MINHA VIDA EU COMPRO
UM PRODUTO ADES!

3. O consumidor cordial:
guiados pelo passado
Informante 1: Por gentileza,
eu gostaria de uma informação.
Como que produtos de limpeza
ou soda cáustica misturaram-se
a sucos de frutas e soja?
Crianças levam suco ADES
como lanche nas escolas, idosos
tomam diariamente por causa
da soja. Como ficamos nós
consumidores? A promessa
desse suco é que é saudável!
Poderiam responder-me?
Grata.
Informante 1: Pelo menos eles
se dignificaram a contar e
corrigir o problema, às vezes
tem tanta coisa podre por aí que
consumimos e nem sabemos...
Informante 2: Prestem atenção
empresa Ades, erro desse tipo
pode prejudicar muito a vida
alguem!! [vou continuar
tomando, e dando pra
minha filha, pq foi o unico
suco de caixa, que nao deu
assaduras nela!!]
Informante 2: Sempre tomei,
e vou continuar tomando, o
engraçado é acontecer um
problema e todo mundo cai
matando... Mas quando um
politico rouba o povo na cara
dura cade todo mundo pra
reclamar de imposto ou
qualquer coisa do tipo? (...)
Informante 4: “Super
transparente! Adorei e
comprarei um estoque antes de
acabar as do supermercado!!!!
Amoooo ADES e super
defendooooo”

4. Escapismo sardônico:
rota de quê?
- Esse tópico traz toda a sorte de material textual e visual que parece ser uma espécie de
válvula de escape que transforma um fato perigoso e desagradável em um fardo mais leve; e
“sardônico” por se tratar de um material crítico, irônico e sarcástico, por vezes mordaz e
extremamente zombeteiro.
Informante 1: que bom, nao
gosto de ades mesmo kkk
Informante 2: vish..nunca
gostei desses sucos de tinta msm
Informante 3: Em relaçao a
isso, to tranquila nao gosto e nao
consumo.
Informante 4: Me dei beem!!!
Nao consumo esses sucos de
cx,nunca confiei,tenho mais
trabalho mas prefiro suco feito
na hora...

4. Escapismo sardônico:
rota de quê?

Considerações
Comunidades na internet dão voz ao cidadão, mas essa voz nem sempre está
articulada e “pronta” – ela é diamante bruto polido por outras opiniões,
informações, reavaliações em contextos coletivos.
Esse estudo nos mostra a impossibilidade de cristalizar uma opinião que se
mostra mutante e vai ao encontro dos estudos que defendem como relações
mercantis são relações sociais onde o mercado é o montante de ações vinculadas
em redes de relacionamentos, nos quais circulam informações e geram
confiança.
A confiança, portanto, não pode ser estudada apenas na perspectiva do recurso
individual, as inclinações pessoais se contextualizam de acordo com o estilo de
vida e com o contexto institucional do indivíduo.

Contextualizando
Automóveis são “sonho de consumo” em todas as
classes sociais e possuir um carro significa status e bem
estar para a maioria da população.
No Brasil, o carro é o transporte de massa (DaMatta et al,
2010).
O automóvel tem fortes significados culturais,
estabelece conexões com grupos sociais e, talvez por isso, o
Brasil seja o 3º maior mercado de passageiros e veículos
comerciais de passeio do mundo (atrás da China e EUA).

Considerando
cultura e
consumo em
ambiente
urbano.
Considerando
um mundo
social
mediado pela
internet.
A tecnologia
superando as
fronteiras do
espaço pelos
interesses
comuns.
Desafio:
pesquisar
discursos
em
construção.

Como observar
a livre
associação
entre
consumidores?
Os aspectos centrais da vida
urbana contemporânea –
mobilidade, comunicação,
tecnologia, conectividade,
identidade e cidadania –
perpassam e impulsionam
interações no ambiente
virtual.

LANÇAMENTO HB20
•Usamos a netnografia para observar
uma comunidade de indivíduos
interessados em um novo automóvel
que ainda seria lançado no mercado.
•Antes de sua chegada, o lançamento
mobilizou centenas de consumidores
em discussões da internet.
•Pesquisa na Comunidade sobre HB20
entre agosto/12 e abril/13.Lançamento em outubro de 2012
Comunidade que tem o intuito de “divulgar informação, compartilhar
conhecimento, e agregar valor a seus participantes”. Apresenta-se como
uma congregação de consumidores, sem vínculo institucional com
a Hyundai.
A comunidade HB20 – a associação
de consumidores por uma
promessa

•Quando iniciamos a
investigação, contava com
pouco mais de 300 membros
(ago/12).
•Em abril de 2013, possuía
6.130 membros e quase 40 mil
mensagens trocadas.
•Análise de cerca de 700 posts,
350 páginas de textos.
•Objetivo: investigar dinâmicas
de atração e discursos dos
internautas em torno de uma
marca em construção.
Lançamento em outubro de 2012
Indagamos: o que mobiliza
consumidores em torno de um
produto a ser lançado?

NETNOGRAFIA HB20
Comunidades automotivas
Dimensões de diferenciação e hierarquização
EXPERIÊNCIA DE USO DA MARCA/MODELO
INFORMAÇÃO
SOBRE A
CATEGORIA
(-) (+)
(+) Teóricos Experts
(-) Novatos Pragmáticos

INFORMAÇÃ
O SOBRE A
CATEGORIA
(-) (+)
Buscam a comunidade como meio de socialização/formação para o
consumo de automóveis. Procuram conhecimento sobre a categoria de
maneira geral, e sobre a marca e o modelo em si. Em alguns casos,
podem até ter pouca experiência de uso de outros automóveis, mas
não da marca/modelo, que é foco das discussões da comunidade.

INFORMAÇÃ
O SOBRE A
CATEGORIA
(-) (+)
São usuários da marca ou do modelo em discussão na comunidade. Podem ser compradores
que realizaram escolhas emocionais (com baixo nível de informação sobre a categoria) ou
meros usuários do produto (não participaram do processo de compra em si e, por isso, tem
pouca informação sobre a categoria). Em alguns casos, buscam a comunidade para
justificar, a posteriori, sua escolha a partir do reforço do grupo ou compartilhar a paixão e os
prazeres do uso. Dentre os pragmáticos há também os detratores da marca – consumidores
que tiveram experiências ruins e desejam disseminar sua insatisfação, evitando que os
demais cometam o mesmo erro.

INFORMAÇÃ
O SOBRE A
CATEGORIA
(-) (+)
São consumidores que acumulam informação sobre a categoria ou sobre a indústria, mas
não detêm conhecimento específico e experiência com a marca/modelo em debate na
comunidade. Como consumidores “experientes” de outras marcas/modelos, podem buscar a
internet como meio de “adquirir” experiência a partir de outrem, antes de investir na
marca/modelo em questão, minimizando a percepção de risco em compras de ciclo longo e
alto envolvimento, como a do automóvel

INFORMAÇÃ
O SOBRE A
CATEGORIA
(-) (+)
São líderes de opinião dentro da comunidade, ocupando posição de prestígio por conciliar
tanto o conhecimento com a categoria como a experiência de uso. Em geral, são
embaixadores da marca, já que consolidam sua liderança no grupo a partir do envolvimento
com o produto e a comunidade. Além dos consumidores bem informados e experientes,
ocupam esse quadrante os insiders da indústria (funcionários da fabricante e
concessionárias), ainda que a opinião destes mostre-se “menos isenta”, sendo passível de ser
contestada pela experiência do consumidor comum e por suas impressões.

(In)Formação: conhecimento e um carro
que passa a existir antes de vir a ser
Expectativas, entre dados e suposições:
“Bem, moro em Brasília e aqui é
tudo bem plano, carro 1.0 então
não é inconveniente aqui, pois pras
minhas necessidades acho que
vai bastar (também não pretendo
viajar com ele), só que eu prezo
muito por conforto. Será que
realmente vale a pena eu comprar
um 1.0 comfort style? Peço a
opinião de vocês pra eu poder
pensar melhor, valeu ”
-Espaço com capacidade de
produção e reprodução de
conhecimento.
-Operando na esfera
coletiva, ancorando
informações subjetivas e
objetivas.
-Espaço de consulta,
aconselhamentos e
debates, que não é da
empresa – o sujeito quer a
opinião do grupo.
-Painéis projetivos sem
controle da indústria, em
ambiente reflexivo.

Sociabilidades: do virtual para o
presencial
“INFORMANTE 1: E ai, galera?
Entrei aqui no forum, pois ja estou
pensando em comprar o meu
hb20. Parece que ainda nao tem
ninguém de Natal, né? Abraços!
INFORMANTE 2: E ai, brother?
Fiquei feliz em saber que nao sou o
unico de Natal por aqui... Ja tem
varios rodando por aqui... Todo dia
vejo uns tres maios ou menos. Bora
manter contato, brother. (Tópico:
“Novato. Natal - RN”, em
21/11/2012) ”
- Linguagem informal,
intimidades
- Espaço masculinizado com
palavrões e termos
automotivos.
- Desejo de mostrar os
“possantes” para o grupo: a
motivação extra para os
encontros de carros ou
daqueles interessados em
comprar um carro.

Esperanças, ideologias e debates
“INFORMANTE 1: Bem que Hyundai
poderia ser a primeira a ter coragem de
quebrar esse cartel das montadoras..
igual a oi quando começou a fazer celular
desbloqueado ou a tim com planos
ilimitados.. preços mais baixos justos.. e
carro com a mesma qualidade que eles
vendem lá fora. ...(Topico “Hyundai HB20 e
seu verdadeiro preço”, em 08/08/2012).
INFORMANTE 2: Vejo diversos
comentários na internet quanto as
mobilizações e pessoas indignadas quanto
aos impostos cobrados. Também acho que
deveríamos fazer algo quanto a isso. (...)
INFORMANTE 3: Vou andar a pé pra
sempre por causa disso. #chatiado
- As incertezas tentam ser
minimizadas com informaçoes
em primeira mão.
- As “impressões” circulam
sem restrição a partir das
experiências pretérias de cada
um com a marca ou com a
concessionária.
- Na ausência do carro, surgem
ideologias sobre a indústria, a
categoria automóveis e aos
direitos do consumidor.

O lançamento:
o fim do “mistério” e a busca pelas experiências
Boicote? “Legal o Boicote, esperam que consigam.... Mas pra quem quer
comprar a hora é agora em outubro, pelo menos talvez
consigamos algum desconto pelo IPI ainda estar baixo, porque
depois que o IPI voltar ao normal, mesmo se a hyundai manter
(sic) os preços, ela não vai querer dar desconto nem a pal
(sic).Ou é caro agora ou mais caro depois... faze (sic) o quê
BRASIL. Como eu to sem carro atualmente, vai ser dificil eu
esperar abaixar.. se abaixar o preço...”
( Tópico: “Vamos boicotar o HB20 agora, que eles baixam os preços”,
em 17/09/2012)

Estabelecendo a 1ª. Hierarquia
O domínio dos pragmáticos
“Hj fui até a loja, e já tinham os dois testes drives 1.0 e 1.6. Eu
comprei o 1.6 que deve chegar até fim deste mês. Mas tive a
chance e o (prazer) de dirigir o 1.0, pois o outro havia saído com
outro cliente. Fiquei muito surpresa, pois o 1.0 anda muito bem.
Imaginem então o 1.6.... Mas digo, aqueles que compraram o
1.0 e não dirigiram, fiquem confiantes de que ele anda
muuuuito bem e com o ar "bombando". A dirigibilidade é
maravilhosa e super macio e confortável. Amei. É isso aí. Bjs a
todos.”
(Tópico: “Teste drive em Florianopolis -eu fiz!!!”, em
11/10/2012)

“Vc tá metendo o loko (sic) aí pra cima de todo mundo aqui
dizendo q já está com o carro e tals (sic)... queremos ver se
realmente vc está de posse da máquina mesmo, posta umas
fotos aqui pra todo mundo tirar suas conclusões [do painel do
computador de bordo que indica o consumo]. Não vem
causando aqui não, pois este canal foi feito pra troca de
informações e conhecimentos... não é um facebook da vida que
vc sai, dizendo o que quer e pensa sem ao menos ter uma
procedência. Eu, assim como muitos aqui, estamos (sic) "full
time" só antenados desde as especulações até o lançamento
oficial... e até o momento ng recebeu o veículo... e pq vc
gostosão do Morumbi já ta com o seu? Muito estranho filhão...
quer ter credibilidade? Posta fotos!”
(Tópico: “Comprei, mas me arrependi”, em 15/10/2012).

Informante 1: “Uhuuuuuuuuuu Feliz da vidaaaa. Peguei o
meu ontem (16/10)!!!!!!!!! Adquiri o 1.6 Premium manual -
cinza titanium galera. Sinceramente, o carro é SHOW!! Lindo
demais e confortável!! Realmente, quando se entra... parece ser
um carro para outro nível.. Bom, espero que seja um carro
formidável como aparenta ser. Seguem umas fotos para vcs
admirarem huhuhuhuhuh.”
Informante 2: “Cadê as foto pow, só uma? mal tirada ainda :s
(...) kkkk os cara tao (sic) de sacanagem. Se eu tivesse pegado o
meu primeiro tava cheio de foto e tinha tirado as dúvidas de
todos já.”

Informante 1: “Acontece que nem todo mundo tem o tempo ocioso que nem o seu! Quer
ver mais fotos e de melhor enquadramento?? Acesse o site do hb20.com.br. Caso
contrário, compre o seu e qnd estiver com ele faça o que bem entender!!! HAAA. Quem fala
o que quer.. ouve o que não quer!”
Informante 2: “Humm, tempo livre pra postar uma foto vc teve né? Estranho. Já provou
o que todo mundo aki (sic) tava pensando. Tu q é (sic) um invejoso que deve ter tirado essa
foto da garagem de alguém e postou aki (sic) todo paquitão..."
Informante 1: “kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk me poupe... não sou criança que nem vc
para ficar inventando nada. Muito menos tenho que ficar provando qlq coisa... a foto que
postei.. se parecer uma loja... me avise taa. DESCULPE AE, se já estou com o carrão e vc
não kkkkkkkkkkkkkkkkkk (...) Mas apesar da sua petulância.... espero que vc tb pegue logo
seu carro! FLW. Segue mais uma fotinhaa huhuhuhuh”
(Tópico: “Já esta em minha garagem =D”, em 17/10/2012)

Considerações finais
- A indústria não é capaz de controlar todas as interações nesse
universo dinâmico e vivo, contudo, ela foi capaz de jogar as varetas e montar
um jogo no qual o HB20 foi pensado para atrair em torno dele esses indivíduos,
com essas configurações de vida.
- A indústria é parte da vida dos indivíduos, e tem sido capaz de compreender
grande parte de suas ações e expectativas e, por esse motivo, ainda que os
grandes centros urbanos apresentem enormes problemas relacionados à
mobilidade, o que movimenta demanda e consumo é o caldeirão
cultural da vida social.
- Ao contrário do senso comum que postula a Internet como um
ambiente de isolamento social, esta pesquisa mostra o oposto. É por
meio da interação virtual que os apaixonados por carros e aqueles ávidos por
informações para tomada de decisão conseguem se articular e, em alguns casos,
ensejam encontros presenciais.

AGRADECIMENTOS
Flávia Galindo
flaviagalindo@ufrrj.br
@flaviagalindo

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