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Projecto EcoFamílias
Relatório Final
Abril de 2008
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 2
1. Equipa
Francisco Ferreira, Vice-Presidente da Quercus, Professor universitário
(supervisão)
Ana Rita Antunes, Engenheira do Ambiente
(coordenação)
Ana Filipa Alves, Engenheira do Ambiente
Sara Ramos, Engenheira do Ambiente
Ricardo Gomes, Engenheiro do Ambiente
Carla Verdasca, Engenheira do Ambiente
Sara Campos, Ciências da Comunicação (lic.)
Ana Padrão Dias, Arquitecta
Patrícia Sá Santos, Arquitecta
Inês Pinto, Engenheira do Ambiente
Nuno Pereira, Engenheiro do Ambiente
Filipa Carlos, Engenheira do Ambiente
Fernando Miguel Naves Sousa, Biólogo
Colaboração no capítulo "Caracterização social":
Susana Fonseca, Socióloga
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 3
2. Índice
1. Equipa ...................................................................................................................2
2. Índice.....................................................................................................................3
3. Resumo Executivo.................................................................................................5
4. Introdução..............................................................................................................8
5. Objectivos............................................................................................................11
6. Metodologia.........................................................................................................12
6.1 Selecção das Famílias..................................................................................12
6.2 Monitorização ...............................................................................................15
6.3 Medições de consumos ................................................................................16
6.4 Recomendações...........................................................................................18
7. Caracterização social...........................................................................................19
7.1 Caracterização social ...................................................................................19
7.2 Práticas ambientais e de eficiência energética .............................................22
7.2.1 Percepção sobre os gastos energéticos do agregado ...........................23
7.3 As condições de habitabilidade.....................................................................24
7.3.1 Disponibilidade para investir..................................................................25
8. Caracterização das Habitações ...........................................................................26
8.1 Caracterização da Construção......................................................................28
8.1.1 Paredes exteriores.................................................................................31
8.1.2 Superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas) ....................35
8.1.3 Protecção solar......................................................................................37
8.1.4 Orientação Solar....................................................................................39
9. Caracterização de Equipamentos eléctricos e Iluminação ...................................41
9.1.1 Consumos totais de electricidade ..........................................................44
9.1.2 Água Quente Sanitária ..........................................................................45
9.1.3 Climatização..........................................................................................46
9.1.4 Cozinha .................................................................................................48
9.1.5 Entretenimento ......................................................................................50
9.1.6 Informática e Telecomunicações ...........................................................52
9.1.7 Iluminação.............................................................................................54
9.1.8 Frio........................................................................................................58
9.1.9 Máquinas...............................................................................................62
10. Análise de consumos globais...........................................................................64
10.1.1 Consumo energético global ...................................................................64
10.1.2 Electricidade..........................................................................................66
10.1.3 Gás........................................................................................................68
10.1.4 Água......................................................................................................68
11. Emissões de GEE vs Consumo de energia......................................................71
12. Identificação do potencial de poupança energética ..........................................73
12.1 Informática....................................................................................................76
12.2 Entretenimento .............................................................................................77
12.3 Iluminação ....................................................................................................78
12.4 Substituição de equipamentos......................................................................81
12.4.1 Frigoríficos.............................................................................................81
12.4.2 Arcas frigoríficas....................................................................................82
12.4.3 Máquina de lavar roupa.........................................................................83
12.4.4 Máquina de secar roupa........................................................................85
12.4.5 Máquina de lavar loiça...........................................................................85
12.5 Temperaturas de lavagem............................................................................86
12.5.1 Roupa....................................................................................................86
12.5.2 Loiça......................................................................................................88
12.6 Mudança para contador Bi-Horário...............................................................90
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 4
13. Conforto higrotérmico.......................................................................................92
14. Divulgação .....................................................................................................101
14.1 Solicitada pela comunicação social ............................................................101
14.2 Rubrica EcoFamílias – Sociedade Civil ......................................................102
14.3 Minuto pela Terra........................................................................................103
14.4 Minuto Verde ..............................................................................................104
14.5 Seminários e Feiras....................................................................................107
15. Indicadores e benefícios da medida...............................................................109
16. Conclusões ....................................................................................................111
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 5
3. Resumo Executivo
O projecto EcoFamílias teve como objectivo analisar os consumos de 225 famílias
distribuídas equitativamente pelas nove zonas climáticas de Portugal Continental,
definidas pelo Decreto-Lei nº 80/2006, de 4 de Abril (Regulamento das Características
de Comportamento Térmico dos Edifícios - RCCTE) e propor medidas de redução do
consumo de energia eléctrica pela alteração de comportamentos. Este projecto foi
desenvolvido pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza,
promovido pela EDP Distribuição e aprovado pela ERSE no âmbito do Plano para a
Eficiência no Consumo (PPEC)
A adesão ao projecto foi maior nas zonas litorais e menos significativa nas zonas
interiores, não se conseguindo respeitar o objectivo inicial de assegurar 25 famílias por
zona. Para atingir as 225 famílias foram aceites inscrições de zonas climáticas onde o
limite estabelecido de 25 famílias já havia sido atingido. Embora a selecção de famílias
tivesse superado o número previsto (225), apenas foi possível acompanhar 206 devido
a um conjunto de dificuldades, como a distância entre as famílias, a indisponibilidade
de horários para receber a equipa EcoFamílias e a desmarcação das visitas no
momento.
A integração de variáveis de caracterização social neste estudo permitiu perceber que
a amostra está sobrevalorizada em termos de habilitações académicas de nível
superior o que tem óbvios reflexos nas profissões mais correntes. Também em termos
etários se observa uma maior preponderância dos escalões intermédios. Este contexto
exerce óbvias influências nas respostas e consumos registados, levando a que por
vezes a realidade vivida e percepcionada se afaste do padrão da população
portuguesa.
As práticas quotidianas ligadas à poupança de energia surgem entre as mais
frequentemente implementadas, sendo-lhes associado um baixo nível de exigência e
esforço, com excepção da área da mobilidade. Mas a adopção de mais ou menos
práticas ambientais e com maior ou menor frequência também decorre do
conhecimento que cada agregado manifesta em relação àqueles que são os maiores
consumos no espaço doméstico. Os dados recolhidos indicam que há uma relativa
consonância entre os valores efectivamente medidos e a percepção de consumos
mais significativos em áreas como a do frio, do uso das máquinas de lavar e secar e
até da climatização. As áreas da iluminação e informática parecem sofrer de um efeito
de alguma invisibilidade, no sentido em que existem claras discrepâncias entre os
valores medidos e a percepção do seu peso na factura eléctrica mensal. Ainda assim,
a iluminação acaba por ser uma das áreas onde a disponibilidade para investir ao
longo do próximo ano mais se manifesta.
A nível de construção a partir da entrada do primeiro RCCTE, em 1991, verifica-se
uma melhoria do desempenho térmico das habitações e um aumento do uso de
isolamento térmico, apesar de ainda longe do ideal. A tipologia de parede exterior mais
comum nas habitações das EcoFamílias é composta por parede dupla de tijolo com
isolamento térmico (62%). Nas superfícies envidraçadas verifica-se a mesma
tendência de melhoria, depois da entrada em vigor do RCCTE. A existência de vidros
duplos com caixilharia de PVC ou alumínio e corte térmico identificadas em habitações
construídas antes de 1991 devem-se a situações de reabilitação.
Na distribuição de consumos os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas
frigoríficas) medidos representam a maior fatia de consumo de electricidade das
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 6
famílias (24%). As máquinas de lavar loiça e roupa representam uma fatia de 16%.
Muito próximo da categoria de Frio, estão em conjunto as categorias de Iluminação,
Entretimento e Informática que, em conjunto, representam cerca de 21% do consumo
total de electricidade das EcoFamílias. Estas são as categorias onde o potencial de
poupança está mais associado à alteração de comportamentos, pela eliminação de
consumos de stand-by e off-power e substituição de lâmpadas. Por esta razão foram
também as três categorias onde o projecto mais incidiu.
Através da análise dos dados de consumo eléctrico medidos nos equipamentos de
entretenimento foi possível verificar que cerca de 65% destes equipamentos
evidenciam a existência de consumos off-power ou stand-by. Os equipamentos
informáticos têm um peso crescente nos lares portugueses. Reflexo disto é o facto de
70% das EcoFamílias possuírem computador. Em cerca de 76% das medições
realizadas verificou-se a existência de consumos off-power e/ou stand-by num ou mais
equipamentos.
Na iluminação identificou-se a utilização predominante das lâmpadas incandescentes,
representando 46% do total de lâmpadas caracterizado. Outro facto que se verifica na
iluminação é uma cada vez maior utilização das lâmpadas de halogéneo (22%) e
lâmpadas fluorescentes compactas (22%), o que significa já uma melhoria ao nível da
eficiência energética relativamente à utilização das lâmpadas incandescentes. As
lâmpadas de halogéneo apresentam um consumo elevado, relativamente ao número
de horas de utilização. O potencial de poupança destas lâmpadas pode ser
significativo se substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas.
Os equipamentos de frio das EcoFamílias são maioritariamente posteriores à entrada
em vigor da etiqueta de eficiência energética: 86% dos frigoríficos e 72% das arcas.
Também as máquinas de lavar presentes nas EcoFamílias são maioritariamente
posteriores à entrada em vigor das respectivas etiquetas.
O consumo médio das EcoFamílias aproxima-se da média nacional: no período em
avaliação (2007) foi de 3.333 kWh/ano, enquanto a média nacional é de 3.533
kWh/ano.
Em relação ao tipo de contador, verificou-se que mais de metade das EcoFamílias
(51%) não têm contador bi-horário (BH). Fazendo a análise da despesa das
EcoFamílias possuindo contador simples ou BH, verifica-se que compensa a todas as
famílias a opção pelo contador BH, podendo-se transferir em média 1513 kWh/ano
para o período de vazio.
O potencial de poupança energética do projecto EcoFamílias foi calculado pela
substituição de lâmpadas incandescentes e de Halogéneo por fluorescentes
compactas, eliminação de consumos de stand-by e off-power. Foi também calculado o
potencial de poupança pela troca de equipamentos de frio e máquinas de lavar, com
tempo de retorno de investimento inferior a seis anos.
Ao analisar por categoria de actuação verifica-se que as reduções mais significativas
são conseguidas com a anulação de consumos stand-by e off-power dos
equipamentos de entretenimento (33%), seguido pela substituição da iluminação
(31%) e dos equipamentos de frio (18%). A anulação de consumos stand-by e off-
power dos equipamentos de informática (17%) está em quarto lugar, seguindo-se o
contributo dos microondas (1%).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 7
As medidas tomadas com este projecto representam uma poupança anual de 35.815
kWh/ano, com a anulação de consumos de stand-by e off-power nas categorias de
Entretenimento e Informática. As alterações de comportamento representam uma
poupança de 5,3% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. A troca de
lâmpadas representa uma poupança de 22.140 kWh/ano, cerca de 3,2% do consumo.
No total com alteração de comportamentos e potencial de troca de equipamentos, as
famílias incluídas no projecto obtém uma poupança de 71.634 kWh/ano (10% do
consumo total de electricidade), representando uma redução de 34.456 kg CO2.
A Entidade Reguladora dos Sistemas Energéticos (ERSE) considera que as medidas
alcançadas com o Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica
(PPEC) em 2007 têm reflexo até 2023, o projecto EcoFamílias atinge uma poupança
global de 1,07 GWh, contabilizando apenas as famílias em causa e não o efeito
multiplicador muito significativo que o projecto teve, através da divulgação efectuada.
O potencial de poupança aqui atingido pode ainda ser melhorado pela análise em
adição da colocação de equipamentos de energias renováveis e melhoramentos nos
aspectos construtivos.
O potencial de poupança obtido neste projecto, aplicado a todas as famílias residentes
em Portugal Continental resulta numa poupança de 1,2 TWh/ano. Esta poupança
traduz-se numa redução de 586 mil toneladas de CO2, relativamente às emissões de
2007, contribuindo em cerca de 1% para o cumprimento do Protocolo de Quioto por
Portugal.
Este projecto foi amplamente divulgado em seminários e congressos, além de ter
estado presente em programas de televisão e rádio como Sociedade Civil (RT2) e Um
Minuto pela Terra (Antena 1).
A inscrição voluntária das famílias e o contacto directo com as mesmas revelou um
bom método de sensibilização para os consumos de energia e consequentemente
com maior potencial para as poupanças energéticas.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 8
4. Introdução
O Aquecimento Global é provavelmente o maior problema ambiental do séc. XXI. O
último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas
(Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC) confirma a acção do Homem
como principal responsável pelo aquecimento global, e que as suas consequências –
as Alterações Climáticas – não poderão ser já todas evitadas.
O Aquecimento Global, associado à emissão de gases de efeito de estufa (GEE), está
intrinsecamente ligado à forma como a sociedade e a vida humana urbana estão
organizadas. Desta forma, o combate às alterações climáticas, pela diminuição da
emissão dos GEE, tem que ser feito a vários níveis e todos os actores da sociedade
têm um papel a desempenhar. Governos, empresas e cidadãos todos juntos, e cada
um na sua dimensão e responsabilidade, podem e devem desenvolver esforços para a
alteração de comportamentos e forma de estar na vida.
Na sequência do denominado pacote Energia/Clima em discussão e aprovação na
União Europeia como forma de responder às novas exigências de mitigação definidas
na Conferência das Partes sobre Alterações Climáticas em Bali em Dezembro de
2007, Portugal encara por agora metas de emissão de GEE de 27% para o período de
2008-2012 em relação a 1990 e de 29,4% para 2020, em relação ao mesmo ano base.
No entanto, em 2005 Portugal já estava 45% acima das emissões de 1990. Em 2006
registou-se uma diminuição, estando agora 40% acima das emissões, também em
relação a 1990.
O consumo de energia final em Portugal, entre 2000/2005, sofreu um aumento de
12%, tendo o consumo de electricidade neste período sofrido um aumento de 19,2%1
.
O consumo de electricidade entre 2002 e 2005 cresceu a uma média de
aproximadamente 5,7% ao ano. A partir de 2005 verifica-se um abrandamento no
crescimento do consumo eléctrico. Em 2006 o aumento foi apenas de 2,6% e em 2007
ainda se registou um aumento mais ligeiro de 1,8%2
.
O sector residencial em Portugal é uma das áreas onde o consumo de energia tem
crescido consideravelmente, e as previsões mostram que este crescimento continuará.
Representa 17% do total da energia final consumida e é o terceiro maior sector de
consumo em Portugal, depois da indústria e dos transportes 3
(Figura 1). Um estudo
da Rede Eléctrica Nacional (REN) indicou que um kWh poupado em Portugal é dez
1
Ministério da Economia e Inovação. 2008. Energia - Política Energética - Caracterização
Energética Nacional - http://www.min-economia.pt/
2
Rede Eléctrica Nacional. 2007. Dados Técnicos - www.ren.pt
3
Fernandes, Alexandre. 2007. Implementação do sistema energético em edifícios. Seminário
Conservação de Energia & Energias Renováveis no Sector Doméstico, Quercus, Fundação
Calouste Gulbenkian, Lisboa.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 9
vezes mais barato que um ganho no investimento da produção de energias
renováveis4
.
Transportes
35%
Industria
33%
Residencial
17%
Serviços
13%
Agricultura
2%
Figura 1 – Consumo de Energia Final em Portugal, em 2005 (DGEG, Balanço
energético 2005)
Existe um potencial de economia de energia elevado nas famílias devido à pouca
eficiência energética do parque instalado, nomeadamente na iluminação,
equipamentos de frio, equipamentos audiovisuais5
e informáticos.
Outra área importante para o elevado consumo de energia no sector doméstico é a
construção. A qualidade das novas habitações portuguesas é ainda muito baixa,
especialmente no que concerne ao seu desempenho energético6
. A falta de
fiscalização no sector levou a que os regulamentos existentes fossem frequentemente
ignorados ou aplicados de forma deficiente. Em 2006 foi publicada nova legislação7
,
muito mais exigente do ponto de vista da construção e da fiscalização, de modo a
melhorar a qualidade do parque edificado.
4
Verdelho, P. 2005. Eficiência energética e gestão da procura no contexto da regulação do
sector eléctrico. Seminário Conservação de Energia & Energias Renováveis, Quercus, FLAD,
Lisboa.
5
ADENE – Agência para a Energia. 2004. Eficiência energética em equipamentos e sistemas
eléctricos no sector residencial.
6
DECO – Pro Teste (2005). Casas novas: caras e sem conforto térmico, Pro Teste n.º 254 –
Jan. 2005 - p. 8 to 13.
7
Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE)
(Decreto-Lei n.º 80/2006, de 4 de Abril) e Regulamento dos Sistemas Energéticos e de
Climatização dos Edifícios (RSECE) (Decreto-Lei n.º 79/2006 de 4 Abril).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 10
Na mesma altura foi publicada legislação com vista à certificação energética de
edifícios8
, de forma a aumentar a consciencialização e educação dos vendedores e
compradores, com vista a uma maior eficiência energética nos edifícios. É crucial
informar os cidadãos sobre os aspectos relevantes a ter em conta na compra de uma
casa e encorajá-los a procurar e exigir habitações de melhor qualidade.
A consciencialização dos consumidores, fornecendo às famílias informação sobre
forma de utilização da energia, é essencial para estas conseguirem um consumo mais
racional, anulando alguns consumos desnecessários. Também a identificação dos
equipamentos ineficientes, e a sua substituição por outros eficientes, é uma medida
importante para o aumento da eficiência energética.
Desde 2004 a Quercus tem desenvolvido esforços e trabalho no sentido de alertar os
consumidores e população em geral para o fenómeno das Alterações Climáticas e
sensibilizar para o consumo de energia, através do projecto EcoCasa. No sentido de
aprofundar os conhecimentos do sector doméstico com vista à redução do consumo
energético, a Quercus desenvolveu em 2005/2006 o programa EcoFamílias, tendo
acompanhado um grupo de 30 famílias da Área Metropolitana de Lisboa.
Com base na experiência adquirida em 2005/2006, surge o projecto EcoFamílias
promovido pela EDP Distribuição e aprovado no âmbito do Plano de Promoção de
Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica (PPEC) 2007. Este projecto foi alargado a
todo o país, de forma a ter uma percepção mais real ao nível nacional do potencial de
poupança de energia eléctrica das famílias portuguesas.
8
Decreto-Lei n.º 78/2006 de 4 de Abril, Sistema Nacional de Certificação Energética e da
Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 11
5. Objectivos
O projecto EcoFamílias pretendeu ser um meio de sensibilização dos cidadãos para as
questões ligadas ao consumo de energia eléctrica no sector doméstico, através da
sensibilização para a redução e racionalização deste consumo.
A realização do projecto EcoFamílias surge como forma de aproximação às famílias
portuguesas, actuando directamente nas suas habitações, com o objectivo de
racionalizar os seus consumos energéticos, através da mudança de comportamentos,
sem contudo interferir na sua qualidade de vida. Este projecto teve também como
objectivo a divulgação das acções e resultados conseguidos à escala nacional, para
potenciar e alargar o alcance do projecto a todas as famílias.
Os consumos energéticos ao nível doméstico não são constantes ao longo de um ano
devido nomeadamente à variação própria introduzida pelas estações. O EcoFamílias
acompanhou 225 famílias residentes em Portugal Continental, durante o ano de 2007.
Desta forma, pretendeu-se caracterizar os hábitos de utilização de equipamentos, bem
como as necessidades energéticas que são diferentes ao longo do ano, devido às
diferenças climatéricas existentes no território nacional.
O projecto EcoFamílias contou com a experiência adquirida numa iniciativa da
Quercus, entre Novembro de 2005 e Outubro 2006, onde foram acompanhadas 30
famílias na Área Metropolitana de Lisboa. Este projecto representou um alargamento
da primeira experiência, envolvendo um número consideravelmente superior de
famílias e uma maior cobertura geográfica do território nacional continental.
O projecto teve os seguintes objectivos e visou contribuir para:
 Caracterizar hábitos de consumos energéticos das famílias portuguesas;
 Delinear planos de gestão de procura para as famílias e promover a sua
implementação;
 Promover a eficiência do consumo energético no sector doméstico, através do
aconselhamento directo e personalizado;
 Reduzir os consumos das famílias, através do seu acompanhamento directo.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 12
6. Metodologia
6.1 Selecção das Famílias
Este projecto teve como objectivo analisar os consumos de famílias pelas diferentes
zonas climáticas de Portugal Continental, em 2007, decorrendo em fases distintas ao
longo do tempo (Tabela 1). Para obter uma amostra representativa das várias zonas
climáticas, 25 famílias por zona, o projecto foi divulgado através da internet, por
comunicado de imprensa (Anexo I) e difundido através dos meios de comunicação
social, nomeadamente através da RTP, Rádio Renascença e outras rádios e jornais
locais. Esta divulgação teve como objectivo a inscrição voluntaria de famílias neste
projecto.
Tabela 1 – Fases do projecto EcoFamílias
Inicio do projecto
Selecção das familias
Visitas EcoFamílias
Instalação de equipamentos
Equipamentos de Telemetria
Recolha de equipamentos
Avaliação do potencial de poupança
Relatório Final
D
i
v
u
l
g
a
ç
ã
o
As inscrições recebidas somaram 350 famílias no total, mas não repartidas de forma
igual pelas diferentes zonas climáticas. A adesão ao projecto foi maior nas zonas
litorais e menos significativa nas zonas interiores.
Nas zonas climáticas cujo número de famílias era inferior ao necessário foi realizada
nova divulgação, contactando directamente as Câmaras Municipais, Juntas de
Freguesia, Escolas e Associações, para uma maior divulgação local. Os contactos
regionais e locais foram realizados via e-mail, fax e por telefone e tiveram maior
incidência nas zonas interior Norte e Sul, devido à baixa taxa de participação das
famílias. Mesmo assim não foi conseguido o número proposto de 25 famílias em cada
zona climática. Para conseguir o número global de 225 famílias foram então aceites
inscrições de zonas climáticas já preenchidas com 25 famílias.
Nas zonas climáticas com número superior ao pretendido o critério de selecção foi o
de conseguir atingir todos os estratos sociais, de forma a ter uma amostra
representativa da sociedade portuguesa. Os critérios de selecção escolhidos tiveram
por base a informação presente nos dados dos Censos 2001. Nesta segunda fase as
famílias foram seleccionadas tendo em conta o número de elementos de agregado
familiar, a idade dos elementos, o nível de ensino do casal e número de divisões da
casa. Foi também estabelecida alguma colaboração com os Gabinetes de Acção
Social e Associações de Solidariedade Social, de modo a angariar famílias de estratos
sociais mais baixos, de modo a constituir-se uma amostra representativa da população
de acordo com os Censos de 2001.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 13
O universo de famílias do projecto foi então fechado com 225 famílias a nível nacional.
No entanto durante as visitas surgiram algumas situações que levaram à necessidade
de substituir algumas EcoFamílias, como a indisponibilidade de horários para receber
a equipa EcoFamílias, desconfiança por parte das famílias, principalmente as do
interior do país que se tinham inscrito através de associações, e desmarcação das
visitas no momento. Assim, embora a selecção de famílias tivesse atingido as 225,
para efeitos de relatório apenas foram consideradas 206 famílias (Tabela 2).
Tabela 2 – Número, composição do agregado familiar e distribuição pretendida das
EcoFamílias
Código da Zona
Climática
Zona
Climática
Composição do
Agregado Familiar
Número de
EcoFamílias
Total
A I1V1
1Pessoa 2
32
2Pessoas 7
3/4Pessoas 17
5+Pessoas 6
B I1V2
1Pessoa 3
30
2Pessoas 8
3/4Pessoas 14
5+Pessoas 5
C I1V3
1Pessoa 1
24
2Pessoas 6
3/4Pessoas 14
5+Pessoas 3
D I2V1
1Pessoa 3
31
2Pessoas 5
3/4Pessoas 18
5+Pessoas 5
E I2V2
1Pessoa 0
18
2Pessoas 4
3/4Pessoas 11
5+Pessoas 3
F I2V3
1Pessoa 1
22
2Pessoas 4
3/4Pessoas 14
5+Pessoas 3
G I3V1
1Pessoa 0
6
2Pessoas 1
3/4Pessoas 2
5+Pessoas 3
H I3V2
1Pessoa 1
29
2Pessoas 8
3/4Pessoas 18
5+Pessoas 2
I I3V3
1Pessoa 1
14
2Pessoas 2
3/4Pessoas 10
5+Pessoas 1
Número total de famílias 206
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 14
A Figura 2 ilustra a distribuição geográfica do universo de EcoFamílias que integraram
o projecto.
Figura 2 – Distribuição geográfica das EcoFamílias
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 15
6.2 Monitorização
Neste projecto foram utilizados instrumentos para a medição de consumos eléctricos e
registo de valores de temperatura e humidade, dentro de cada habitação. A seguir
descrevem-se os instrumentos utilizados, durante as fases de avaliação de consumos
e potencial de poupança.
Termohigrómetro com registo (data-logger) (Figura 3) – Permite a leitura e o registo
de valores de temperatura e humidade, em intervalos pré-definidos, ao longo do
tempo, com armazenamento de dados. Foram instalados 82 termo-higrómetros nas
casas das Ecofamílias.
Figura 3 – Termohigrómetro utilizado na medição e registo dos valores de
Temperatura e Humidade em cada EcoFamília.
Equipamento de medição local (Figura 4) – O aparelho Energy check permite a
leitura de consumos eléctricos em cada tomada, para um ou mais aparelhos;
capacidade de leitura e registo até 99 dias, com armazenagem de dados. Foram
instalados para medição 300 energy-check.
Figura 4 – Instrumento de medição utilizado na medição e registo de consumo de
energia eléctrica de equipamentos
Instrumento de medição remoto (Figura 5) – Este instrumento permite a
telecontagem dos consumos eléctricos em cada disjuntor, enviando os dados por
GPRS para uma base de dados central. Esta solução permite a monitorização de
equipamentos ligados directamente ao sistema eléctrico da casa, como iluminação de
tecto, fornos e placas de fogão eléctricas. Foram instalados 50 equipamentos de
medição nas casas das EcoFamílias.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 16
Figura 5 – Instrumento de telecontagem utilizado na leitura a partir do quadro eléctrico.
Este equipamento que não estava inicialmente previsto, mas optou-se pela sua
aquisição permitindo a análise do potencial de poupança dos electrodomésticos.
6.3 Medições de consumos
Durante todo o programa, quer a caracterização dos consumos energéticos, quer a
avaliação da redução dos mesmos, foram realizadas medições dos consumos de
equipamentos eléctricos de acordo com as acções e ferramentas que a seguir se
descrevem.
Medição de consumo de equipamentos. Através de instrumentos de medição de
consumos eléctricos, quer locais, quer remotos, descritos no ponto anterior (Figura 6).
Com este método pretendeu-se obter uma grelha, o mais completa possível, dos
consumos reais de cada equipamento para uma avaliação o mais fidedigna possível
do potencial de poupança associada à anulação de stand-by e off-power dos
equipamentos, troca de lâmpadas e substituição de electrodomésticos.
Figura 6 – Medição de equipamentos com Energy Check
Registo de níveis de temperatura e humidade relativa, através de
termohigrómetros. Estes instrumentos foram instalados geralmente uma sala ou quarto
principal. Os valores de temperatura e humidade foram registados em intervalos de 15
minutos. Este intervalo de tempo permite identificar as flutuações de temperatura
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 17
dentro de cada divisão e os períodos em que estão ligados os aparelhos de
climatização.
Com este método pretendeu-se perceber o desempenho das paredes exteriores e
superfícies envidraçadas relativamente ao conforto higrotérmico no interior das
habitações, relacionando as flutuações de temperatura e humidade ao longo do dia e
de acordo com os usos da casa.
Registo dos consumos globais de energia. Os consumos globais foram
monitorizados através das leituras dos contadores e da análise das facturas de
electricidade e gás. Foram também registadas as leituras de consumo de água, por
terem implicação directa no consumo de energia, pela necessidade de aquecimento.
Dado a distribuição geográfica das famílias foi pedido às famílias registassem as
leituras dos seus contadores, na página de internet onde também se disponibilizaram
as leituras dos equipamentos de medição remota. Nas famílias sem acesso à internet
foi deixada uma folha para registo das leituras de contadores.
Figura 7 – Campos de preenchimento de dados dos contadores da base de dados
online.
Levantamento dos equipamentos eléctricos existentes e hábitos de consumo.
Através de um questionário (Anexo II) desenvolvido para o efeito foram identificados
todos os equipamentos eléctricos existentes nas EcoFamílias. Para a caracterização
dos hábitos de consumo foi solicitado à EcoFamília que identificasse o tempo de
utilização de cada equipamento, a permanência ou não dos mesmos em stand-by.
Caracterização da Construção. A caracterização da construção é relevante na
medida em que o desempenho energético dos edifícios influencia o conforto interior, e
determina a necessidade de recorrer à climatização para o garantir. Foi efectuada a
análise da solução construtiva adoptada através de um inquérito (Anexo II). Para a
caracterização foi ainda feita a medição e verificação da dimensão e espessura das
paredes exteriores (materiais seleccionados para os panos de parede e isolamento
térmico) e registo da orientação solar das mesmas. As janelas foram caracterizadas
pelo registo das suas áreas, orientações solares, forma de sombreamento e tipo de
caixilharia e tipo de vidro, adoptados em cada caso.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 18
Caracterização social. Foi elaborado um questionário para a caracterização social
das famílias, que não estava inicialmente previsto (Anexo II).
6.4 Recomendações
O potencial de poupança energética foi calculado com base nas características dos
consumos de:
 stand-by
 off-power
 iluminação
 equipamentos de frio
 máquinas de lavar roupa e loiça
Este projecto teve por objectivo o aumento da eficiência energética por alteração de
comportamentos e por isso incidiu mais na redução ou mesmo anulação dos
consumos de stand-by e off-power, que pode ser conseguido desta forma.
A mudança de hábitos de consumo também pode verificar-se na adesão aos
contadores bi-horários, com consequente adequação de planos de gestão da procura.
As recomendações sobre aspectos construtivos/conforto higrotérmico foram dadas na
ficha de recomendações entregues às famílias.
As fichas de recomendação dadas a cada família estão reproduzidas no Anexo IV
deste relatório.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 19
7. Caracterização social9
No intenso debate que tem vindo a acontecer nos últimos anos sobre a temática da
energia, a inclusão de variáveis sociais que permitam contextualizar e compreender os
comportamentos e as opções quotidianas dos cidadãos tendeu a ser esquecida. Em
alternativa, o debate manteve-se muito na área das tecnologias e suas
potencialidades, persistindo, contudo, a perplexidade perante a não adesão dos
cidadãos a soluções consideradas, muitas vezes, como claramente vantajosas em
termos ambientais e económicos.
Ciente desta lacuna e aproveitando a oportunidade de poder desenvolver o projecto
das EcoFamílias a nível nacional, a Quercus decidiu integrar algumas questões
básicas que permitem adicionar um pouco de contexto social a um conjunto alargado
de dados que são recolhidos no âmbito do projecto. Assim, de seguida é apresentada
uma descrição geral de algumas variáveis sociais relevantes para a análise deste
tema.
Não obstante o esforço realizado no sentido de procurar aproximar a amostra de
famílias abrangidas pelo projecto do panorama geral do país (observável através dos
dados mais recentes dos Censos 2001), os resultados apontam para um
enviusamento significativo em termos de variáveis fundamentais para a temática da
energia como são a idade e as habilitações académicas. Da mesma forma, o facto de
o projecto abranger 225 famílias, mas de apenas 142 terem efectivamente respondido
ao inquérito de caracterização social, reduziu ainda mais esta aproximação à realidade
nacional. Esta diferença de inquéritos respondidos, em relação ao número de famílias
deveu-se ao facto que muitas vezes não haver disponibilidade de tempo para a
realização dos três inquéritos (Social, Equipamentos e Construção).
7.1 Caracterização social
Uma análise de algumas das variáveis básicas em termos de caracterização social
indica-nos que se verifica uma significativa dispersão das EcoFamílias pelo país, com
maior destaque para a região de Lisboa, Porto, Setúbal.
A tipologia familiar assume maioritariamente a figura de uma família com filhos (70%),
onde ter um (41,4%) ou dois filhos (42,4%) acaba por ser a situação mais comum.
Sem filhos são cerca de 14%, muito embora nestas situações possam estar também
englobadas famílias em que os filhos já não residem com os pais. A coabitação entre
2, 3 ou 4 pessoas num mesmo espaço acaba por abranger cerca de 85% da amostra
9
Trabalho realizado por Susana Fonseca, Socióloga.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 20
inquirida, sendo a situação mais frequente a primeira (31%). Comparando estes
valores com os dos Censos 2001 é possível concluir que existe alguma proximidade,
registando-se uma pequena sobre-representação das famílias com 4 ou 5 elementos.
Existe uma clara sub-representação das pessoas que vivem sozinhas, que nas
EcoFamílias representam pouco mais de 6%, ao passo que em Portugal o valor é de
17%. Esta discrepância não é de somenos importância para esta área, quando se
sabe que o aumento dos agregados de menor dimensão tende a representar um
desafio significativo em termos de eficiência energética, quando comparados com
agregados mais numerosos.
Analisando os grupos etários é possível concluir que os mais jovens e os mais velhos
se encontram em menor número do que seria de esperar quando se comparam com
os Censos 2001 e os grupos etários intermédios (entre os 30 e os 44 anos e entre os
45 e os 65 anos) estão sobre-representados face à realidade portuguesa.
No que concerne à ocupação profissional, observa-se um desequilíbrio na amostra em
termos de habilitações académicas, onde os grupos com menor escolaridade estão
sub-representados, acontecendo o oposto com o grupo dos que se enquadram numa
escolaridade de nível superior. De facto, se em Portugal esta categoria não enquadra
mais do que 10% da população, na amostra em análise ela ascende a quase metade
(46,8%). A comparação noutras categorias torna-se um pouco mais complexa, uma
vez que os dados dos Censos contabilizam toda a população e, logo, as crianças, que
neste estudo estão excluídas. Assim, os números registados em graus de ensino
como o 1º, o 2º e 3º ciclos serão necessariamente mais elevados nos primeiros e
menores no segundo. Contudo, a discrepância registada ao nível do ensino superior
não é abrangida por este contexto da mesma forma e representa, assim, um elemento
fundamental a ter em conta na análise de todas as questões subsequentes,
nomeadamente, as referentes a práticas e representações.
Como referido, o maior relevo dos níveis de habilitações superiores determina,
necessariamente, uma distribuição anormal no que concerne às profissões mais
frequentes. Nesta amostra existe uma sobre-representação das profissões intelectuais
e científicas (23,2% vs 8,5 nos censos 2001) e das profissões técnicas intermédias
(23,9% vs 9,5%), que contrasta com uma clara sub-representação dos trabalhadores
da produção industrial e artesãos (2,9% vs 25,5% nos Censos 2001) e dos
trabalhadores menos qualificados das áreas da agricultura, indústria e comércio (8%
vs 15%).
Em geral, o trabalho por conta de outrem abrange uma boa parte da amostra (66%) e
o trabalho enquanto principal meio de vida (por oposição a situações como a
aposentação ou o desemprego) enquadra quase 70% dos inquiridos.
Um factor sempre importante na análise das práticas de promoção da eficiência
energética e, particularmente, num contexto em que se pretende promover e incentivar
alterações às mesmas, é a propriedade da habitação. Nesta amostra quase 85% das
famílias são proprietárias e apenas cerca de 13% são arrendatárias. Ainda que não
sejam o factor fundamental, o facto das famílias sentirem que estão a investir num
espaço que é seu e sobre o qual têm quase total autoridade e responsabilidade,
permite-lhes encarar, com maior naturalidade, a possibilidade de proceder a
mudanças de carácter estrutural que podem representar ganhos significativos em
termos de eficiência energética.
Por último, apresentam-se os dados relativos aos escalões de rendimento das
EcoFamílias envolvidas. Esta questão é sempre complicada de aplicar e os resultados
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 21
nem sempre espelham a realidade, mas ainda assim foi tomada a decisão de a incluir
como variável de caracterização importante para o tema. O escalão que inclui maior
número de famílias é o dos 1501-3000 euros mensais (34,5%), seguido do escalão
entre 750-1500 euros (21,8%) e do escalão abaixo dos 750 euros (19%).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 22
Tabela 3 – Distribuição das EcoFamílias segundo o rendimento declarado
Rendimento Categoria %
Menos de 759€ 1 19
Entre 750€ e 1500€ 2 22
Entre 1501 e 3000€ 3 35
Entre 3001 e 5000€ 4 16
Entre 5001 e 10 000€ 5 3
Acima de 10 000€ 6 0,7
NS/NR 99 5
7.2 Práticas ambientais e de eficiência energética
Uma análise das práticas ambientais mais frequentes em cada agregado (onde se
conjugaram áreas como a energia, a água, os resíduos ou os produtos ecológicos)
permite verificar que as relativas à poupança de energia em casa são as que, não só
são mais frequentemente executadas, como são as que, no entender dos inquiridos,
menor esforço implicam. Há apenas a sublinhar a excepção da área da mobilidade,
onde a frequência da troca do transporte individual pelo transporte colectivo ou por
andar a pé nas distâncias mais curtas é baixa (ainda que o conjunto das respostas
sempre e alguma frequência equivalha a 66%), sendo uma das acções às quais é
atribuído um maior grau de esforço para ser realizada (38%) (Tabela 4).
Tabela 4 - Práticas ambientais mais frequentes e grau de esforço que lhe está
associado
Sempre /
Algumas vezes (%)
Muito esforço /
Algum esforço (%)
Comprar produtos em embalagens
reutilizáveis
52 43
Utilizar transportes colectivos ou
andar a pé em curtas distâncias
66 38
Separar os resíduos 84 20
Fechar a torneira quando lava os
dentes ou faz a barba
64 16
Comprar produtos amigos do
ambiente
62 41
Desligar as luzes quando não são
necessárias
89 15
Fechar a água enquanto se
ensaboa no duche
63 39
Vestir mais uma camisola para
evitar ter que aquecer mais a casa
85 13
Reutilizar água (por exemplo do
chuveiro)
30 42
Usar as máquinas da roupa e loiça
com carga completa
98 9
Não deixar os aparelhos em stand-
by
73 23
Secar a roupa ao ar 96 7
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 23
Baixar os estores durante o dia no
Verão
90 5
Quanto às razões para se fazer mais ou menos pelo ambiente, existem pequenas
diferenças entre aquilo que se imagina que impede os restantes cidadãos de assumir
práticas ambientais no seu dia-a-dia, e aquelas que são as razões apontadas para o
seu agregado. Contudo, mais do que uma diferença nas razões, regista-se uma
diferença na concentração em determinadas razões. Para os outros, o comodismo e a
falta de informação surgem destacados enquanto razões para uma menor adopção de
práticas ambientais, surgindo de seguida a perspectiva de que as pessoas não
pensam nisso. Quando nos aproximamos da esfera individual, ainda que o comodismo
e a falta de informação mantenham o seu protagonismo, os valores registados
aproximam-se de outras razões como: ser dispendioso, não pensarem nisso ou a falta
de apoio institucional à sua implementação. Também é de sublinhar o facto das não
respostas subirem para o dobro.
7.2.1 Percepção sobre os gastos energéticos do agregado
Criar um contexto onde seja possível trabalhar o tema da eficiência energética e
propor alterações nos hábitos quotidianos dos agregados familiares implica,
necessariamente, uma consciência clara sobre quais os consumos de energia com
maior peso na factura familiar mensal. O desconhecimento dos portugueses sobre a
questão energética (como é repetidamente sublinhado pelos dados dos vários
inquéritos do Eurobarómetro sobre a matéria) e a dificuldade em lidar com um tema
que tem muito de intangível (a energia não se vê e não tem uma utilidade em si, mas
antes nos serviços que nos permite desfrutar), pode acarretar dificuldades acrescidas
na implementação de medidas de eficiência.
Perceber onde estão os maiores consumos dentro de casa é, assim, um primeiro
passo para um trabalho em prol da eficiência energética. Neste sentido, as famílias
abrangidas por este estudo foram questionadas sobre este tema e os resultados
indicam algum desfasamento entre aqueles que são os dados oficiais e a percepção
que as famílias têm sobre as áreas com maior peso na sua factura. O que os dados
gerais indicam é que é a área do frio que maior peso tem na factura mensal dos
agregados familiares (32%) em termos de consumo de electricidade, seguida da área
do aquecimento/arrefecimento (17%), da iluminação (12%), do entretenimento (11%) e
das máquinas de lavar e secar (10%).
A percepção dos gastos energéticos quotidianos parece distanciar-se, em alguns
casos de forma significativa, dos consumos reais e dos valores referidos acima. As
máquinas de lavar surgem em primeiro lugar seguidas da área do frio. O
entretenimento, a climatização e a cozinha surgem em terceiro lugar, registando o
mesmo número de respostas. Em suma, quer o frio, quer a climatização, ainda que
não nos lugares que lhe cabem em termos dos estudos sobre o consumo de energia
nos agregados em Portugal, são percepcionados como áreas com um contributo
significativo para a factura mensal. Só o caso da iluminação, incluída nos dados
oficiais na categoria dos maiores consumos domésticos, fica de fora do conjunto de
situações mais referidas pelos inquiridos (três mais relevantes) (Tabela 5).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 24
Tabela 5 - Comparação da repartição do consumo doméstico de electricidade segundo
dados da ADENE10
e as respostas dos inquiridos quando questionados sobre o tema
Categoria de consumo
Distribuição de
consumos (%)
Percepção das
EcoFamílias no
consumo (%)
Frio 32 21
Aquecimento e arrefecimento 17 12
Iluminação 12 10
Máquinas de lavar e secar (roupa e loiça) 10 26,5
Entretenimento 9 12
Cozinha (forno e pequenos electrodomésticos) 3 12
Informática 2 5
7.3 As condições de habitabilidade
Como já foi referido anteriormente, a componente de aquecimento/arrefecimento pode
ter um peso significativo na factura energética dos agregados familiares. A
necessidade de recorrer com maior ou menor frequência ao seu uso pode depender
de diversos factores, muito embora um dos principais se prenda com as condições da
própria habitação.
Os resultados do inquérito indicam que as características da casa que mais
directamente estão ligadas ao conforto térmico parecem já fazer parte dos requisitos
tidos em conta para avaliar um investimento nesta área. O conforto térmico, a
qualidade dos materiais e acabamentos, a existência de vidros duplos e a própria ficha
técnica da habitação são critérios considerados muito importantes na avaliação de
uma casa. Os factores ligados à climatização assumem menor relevo, ainda que o
aquecimento central comece a ser referido já com alguma insistência quando se trata
de definir as características importantes a considerar no momento de adquirir uma
nova casa (63,1%). Este número deve ser olhado com alguma preocupação,
principalmente se considerarmos que a existência de ar condiciona acolhe apenas
cerca de metade das referências. Considerando o clima ameno de grande parte das
regiões do país, e o facto de Portugal ser mais conhecido pelas suas altas
temperaturas do que pelas baixas, este padrão de respostas merece uma reflexão
mais profunda se o objectivo é contribuir para uma maior eficiência energética do país.
Os dados sobre a satisfação com a casa que actualmente possuem, quando esta é
avaliada do ponto de vista de variáveis ligadas à eficiência energética, espelham
algum descontentamento, uma vez que 60% consideram estar total ou bastante
10
ADENE. Projecto EURECO – Campanha de medições por utilização em 400 unidades de
alojamento na União Europeia. 2002.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 25
satisfeitos com o conforto térmico da sua casa e cerca de 50% referem estar nessa
mesma situação em relação ao isolamento das janelas. Não se trata de valores muito
negativos, mas demonstram claramente que há ainda uma larga margem de
intervenção com o objectivo de promover uma maior eficiência energética e uma
melhor qualidade de vida.
7.3.1 Disponibilidade para investir
Tornar o quotidiano mais eficiente pode implicar a realização de investimentos
substantivos, principalmente quando se pretende fazer alterações estruturais, onde
muitas vezes os ganhos tendem a ser mais visíveis. No sentido de testar a
disponibilidade dos agregados inquiridos para realizarem investimentos que promovam
a eficiência energética, estes foram confrontados com alguns dados que lhes
apresentavam os ganhos económicos que poderiam ser obtidos se fossem feitos
investimentos em determinadas áreas – iluminação, frio, isolamento, vãos
envidraçados, climatização, painel solar.
De uma forma geral é possível afirmar que as pessoas que já investiram em cada uma
destas áreas tende as rondar os 25%, sendo que o valor mais elevado se refere à
instalação de janelas duplas e caixilharias (34,5%) e o mais baixo ao isolamento da
casa e climatização eficiente (18%). Quanto à disponibilidade para investir durante o
próximo ano, a iluminação é a que acolhe mais respostas positivas (55%), seguida da
área do frio (36%), da climatização mais eficiente ou limpa (29%), do isolamento da
casa (27,5 %) e por último, das janelas duplas e caixilharias (25,4%). Já no que
concerne ao painel solar, cerca de 42% dos agregados inquiridos refere ter interesse
em investir durante o próximo ano.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 26
8. Caracterização das Habitações
O RCCTE – Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos
Edifícios – divide o território de Portugal em nove zonas climáticas (seguindo os limites
de cada concelho) combinando três zonas de Inverno (I) e três zonas de Verão (V),
correspondendo a zona I1V1 ao clima mais ameno e a zona I3V3 ao clima mais
rigoroso. Incidindo este projecto sobre a eficiência energética e avaliação de
consumos, também ao nível das habitações, a caracterização das EcoFamílias está de
acordo com estas nove zonas climáticas (Figura 8).
Figura 8 – Mapa das zonas climáticas de acordo com o RCCTE (DL 80/2006)
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 27
A distribuição das habitações das EcoFamílias quanto ao tipo de habitação é
relativamente equilibrada a nível nacional: 53% reside em Moradias e 47% em
Apartamentos. Esta distribuição verifica-se na generalidade das zonas climáticas,
sendo que nas zonas I1V1, I1V2, I2V2 e I3V2 que tem mais apartamentos que
moradias, cerca 40% e 60%, respectivamente. Neste projecto todas as EcoFamílias da
zona climática I3V1 residem em Moradias (Figura 9).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3
Apart
Moradia
Figura 9 – Tipo de habitação das EcoFamílias, por zona climática.
A tipologia de habitação mais comum nas EcoFamílias é o T3 (37%), e verifica-se um
equilíbrio entre T2 (27%) e T4 (22%) (Figura 10).
T0
1%
T1
1%
T2
28%
T3
36%
T4
22%
>T5
12%
Figura 10 – Tipologia das habitações das EcoFamílias
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 28
8.1 Caracterização da Construção
O programa EcoFamílias, de participação voluntária, não teve como critério de
selecção as características construtivas o que originou uma base aleatória, no que diz
respeito a estas características.
O primeiro RCCTE entrou em vigor em 1991 (Decreto-Lei 40/90 de 6 de Fevereiro),
tendo sido revogado pelo Decreto-Lei 80/2006 de 4 de Abril, em vigor desde 1 de
Julho de 2007. A aplicação do RCCTE teve implicações na construção dos edifícios ao
nível do isolamento da sua envolvente (paredes exteriores, pavimento térreo e
coberturas). O isolamento térmico da envolvente da construção influencia a
capacidade de resistência à passagem de calor entre o interior e exterior, fundamental
para o seu bom desempenho energético. Embora se registe uma melhoria na
construção das habitações após 1991, este Regulamento teve uma aplicação
deficiente.
Apesar das exigências do RCCTE, continuaram a verificar-se anomalias frequentes,
tais como pontes térmicas11
e paredes duplas sem tubos de ventilação ou drenagem
nas suas caixas de ar12
, que acabam por originar patologias de difícil reparação.
É também após a entrada em vigor do RCCTE que aparecem as caixilharias com
ruptura térmica13
. A aplicação de vidro duplo e parede dupla torna-se praticamente
uma regra a partir desta legislação.
A qualidade do isolamento e da caixilharia são dois dos aspectos que foram
analisados neste projecto. Quanto melhor isolada termicamente e melhor seja a
orientação solar de uma habitação, melhor será o seu desempenho energético e,
consequentemente, o conforto do utente.
Na caracterização das soluções construtivas foi considerado o ano de construção
(informação obtida junto das EcoFamílias) e, sempre que possível, foram recolhidos
outros dados pela visita à habitação. Os dados recolhidos passam pela identificação
dos sistemas construtivos e materiais utilizados para a envolvente directa em contacto
com o exterior (paredes e envidraçados). Nas paredes e lajes pretendeu-se
caracterizar os seus constituintes (materiais e isolamento), tipologia de parede (dupla
ou simples, por exemplo) e nas superfícies envidraçadas (janelas e portas
envidraçadas), o tipo de vidro e de caixilharia.
11
As pontes térmicas (zonas sensíveis da construção) são responsáveis, na maioria dos casos,
pelo aparecimento de condensações ou outras patologias que influenciam o conforto
higrotérmico, e normalmente decorrem da má aplicação do material de isolamento ou da sua
inexistência.
12
A caixa de ar em parede dupla, é o espaço de ar que fica entre os panos de alvenaria (em
tijolo ou outro). Este espaço poderá ser preenchido na sua totalidade ou em parte pelo
isolamento térmico.
13
As caixilharias com ruptura de térmica ou corte térmico, são fabricadas de forma a promover
uma redução da transmissão térmica entre 40% a 60% o que significa uma optimização no que
respeita à conservação de temperatura interior.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 29
Analisando o tipo de paredes exteriores com o ano de construção, verifica-se que a
partir da entrada em vigor do RCCTE (1991) há uma melhoria do desempenho térmico
destas, verificando-se também um aumento significativo do uso de isolamento térmico
(Figura 11).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
parede
simples de
pedras/
isolamento
parede
simples de
tijolo s/
isolamento
parede
simples de
tijolo c/
isolamento
não id.
parede
simples de
tijolo c/
isolamento
xps
parede
duplade
tijolo s/
isolamento
parede
duplade
tijolo c/
isolamento
eps
parede
duplade
tijolo c/
isolamento
xps
parede
duplade
tijolo c/
isolamento
lãmineral
parede
duplade
tijolo c/
isolamento
poliuretano
parede
duplade
tijolo c/
isolamento
não id.
>1991
<1991
Figura 11 – Tipo de parede exterior de acordo com o ano de construção das
habitações.
Fazendo a mesma análise para as superfícies envidraçadas verifica-se a mesma
tendência de melhoria destas, depois da entrada em vigor do primeiro RCCTE (Figura
12). Na análise desta figura chama-se a atenção para a existência de vidros duplos
com caixilharia PVC e vidros duplos com caixilharia de alumínio com corte térmico em
habitações construídas antes de 1991, facto que se deve a situações de reabilitação.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 30
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Vidro
simples
com
caixilho de
alumínio
sem corte
térmico
Vidro
simples
com
caixilho de
alumínio
comcorte
térmico
Vidro
simples
com
caixilho de
madeira
Vidro
simples
com
caixilho de
PVC com
corte
térmico
Vidro
duplo com
caixilho de
alumínio
sem corte
térmico
Vidro
duplo com
caixilho de
alumínio
comcorte
térmico
Vidro
duplo com
caixilho de
madeira
Vidro
duplo com
caixilho de
PVC sem
corte
térmico
Vidro
duplo com
caixilho de
PVC com
corte
térmico
>1991
<1991
Figura 12 – Tipo de envidraçados de acordo com o ano de construção das habitações.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 31
8.1.1 Paredes exteriores
As alvenarias dos nossos dias são muito diferentes das construídas há alguns séculos
na construção tradicional. As paredes exteriores dos edifícios, desde que concebidas e
executadas de acordo com os códigos e regras construtivas adequados, são capazes
de desempenhar um papel resistente e higrotérmico apropriado, mesmo quando
sujeito a condições adversas.
O avanço da tecnologia e dos processos construtivos permite que hoje a parede seja
constituída por um conjunto de camadas justapostas de materiais distintos,
desempenhando cada uma delas a sua função, de modo a que a parede resultante dê
resposta a todos os requisitos construtivos exigidos, de forma o mais racional e
económica possível.
A transmissão de energia entre o exterior e o interior é um factor determinante no
desempenho energético do edifício seja qual for o sistema de climatização, daí que a
primeira decisão a tomar seja a escolha do sistema construtivo da envolvente da
construção que deverá ser adequada ao clima do lugar em que se insere. Assim, as
diferenças construtivas entre os elementos analisados ocorrem por diversas razões
entre elas a zona do território (norte, sul e centro, interior e litoral do país), factores
climáticos e data de construção da habitação.
Numa parede dupla com isolamento térmico no seu interior, apenas é aproveitada
parte da inércia térmica, tornando-se necessário corrigir as pontes térmicas. Este facto
traduz-se numa maior área de isolamento e, consequentemente, no aumento da
espessura da parede, peso da estrutura e fundações, tornando a solução mais
dispendiosa. Para o seu bom desempenho, é também fundamental que exista uma
caixa de ar bem ventilada (através de pequenos furos para favorecer a ventilação e
drenagem).
Por oposição, o sistema construtivo composto por parede simples com isolamento
térmico pelo exterior faz um maior aproveitamento da inércia térmica, e não possui
pontes térmicas, traduzindo-se numa solução menos dispendiosa.
A tipologia de parede exterior mais comum nas habitações das EcoFamílias é
composta por parede dupla de tijolo com isolamento térmico (62%), este facto é
justificado por se tratar de construções posteriores a 1991 (ano de aplicação do
primeiro RCCTE). Esta situação está de acordo com os resultados obtidos no inquérito
social, em que 60% das famílias consideram estar total ou bastante satisfeitos com o
conforto térmico da sua casa.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 32
4%
19%
1%
1%
12%
39%
9%
3%
1%
10%
1% parede simples de pedra s/
isolamento
parede simples de tijolo s/
isolamento
parede simples de tijolo c/
isolamento não id.
parede simples de tijolo c/
isolamento xps
parede dupla de tijolo s/
isolamento
parede dupla de tijolo c/
isolamento eps
parede dupla de tijolo c/
isolamento xps
parede dupla de tijolo c/
isolamento lã mineral
parede dupla de tijolo c/
isolamento poliuretano
parede dupla de tijolo c/
isolamento não id.
parede tripla de pedra+ tijolo
c/ isolamento xps
Figura 13 – Tipo de parede e isolamento existente nas habitações das EcoFamílias
A identificação do tipo de isolamento térmico utilizado foi feita com base no
testemunho das famílias que em alguns casos acompanharam a construção da
habitação, ou recorrendo à ficha técnica da habitação (elemento relevante na
aquisição de habitação). Nem sempre foi possível confirmar a sua natureza.
O tipo de isolamento mais utilizado é o poliestireno expandido (EPS), seguido do
poliestireno extrudido (XPS), lã mineral e por fim poliuretano.
O poliestireno expandido (EPS)14
vulgarmente conhecido como esferovite, é uma
espuma termoplástica, tal como o XPS. É um material celular e que se apresenta no
mercado com múltiplas formas e funções, sendo a sua aplicação na construção civil
extraordinariamente variada. A sua principal vantagem é a baixa condutibilidade
térmica15
(U-value) apresentada.
14
O poliestireno expandido ou EPS é um material rígido que apresenta uma estrutura assente
em esferas cheias de ar produzidas através de vapor de água.
15
Condutibilidade térmica é a capacidade que uma substância possui para transmitir calor por
condução. É geralmente simbolizada com a letra K ou então denominada U-value.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 33
O poliestireno extrudido (XPS)16
, é muito utilizado actualmente na construção civil, por
possuir, um baixo índice de condutibilidade térmica7
(U-value), o que o torna muito
resistente às trocas térmicas, favorecendo a conservação da temperatura no ambiente
interior. Possui ainda uma excelente resistência às acções mecânica e ambientais,
sendo largamente utilizado nas chamadas “coberturas invertidas” em que o isolamento
térmico se encontra por cima da impermeabilização.
A manta de lã de rocha é um material de isolamento térmico flexível, leve e de muito
fácil instalação. A lã de rocha, além de bom isolante térmico é também um excelente
isolante acústico, e ainda incombustível, resistente à água, não corrosiva e não é
atacada por sais nem por ácidos. É muito utilizado para isolar paredes ou na
impermeabilização de lajes.
Na análise do tipo de parede exterior com as zonas climáticas, ao contrário do que
seria de esperar as construções não se encontram adaptadas às especificidades
climáticas locais (Figura 14). O tipo de parede com pior comportamento térmico
aparece nas zonas climáticas mais rigorosas, mas são também nestas zonas que
residem as EcoFamílias de classes de rendimento mais baixas, o que pode influenciar
estes resultados.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
parede
simples de
pedra s/
isolamento
parede
simples de
tijolo s/
isolamento
parede
simples de
tijolo c/
isolamento
não id.
parede
simples de
tijolo c/
isolamento
xps
parededupla
detijolo s/
isolamento
parededupla
detijolo c/
isolamento
eps
parededupla
detijolo c/
isolamento
xps
parededupla
detijolo c/
isolamento lã
mineral
parededupla
detijolo c/
isolamento
poliuretano
parededupla
detijolo c/
isolamento
não id.
paredetripla
depedra +
tijolo c/
isolamento
xps
I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3
Figura 14 – Tipo de parede exterior de acordo com a zona climática
16
O poliestireno extrudido ou XPS é uma espuma homogénea rígida de poliestireno, obtida por
um processo de extrusão em contínuo, que se apresenta sob a forma de placas de cor azul ou
rosa.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 34
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 35
8.1.2 Superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas)
Através das superfícies envidraçadas ocorrem as maiores trocas térmicas. De um
modo geral, traduzem-se em ganhos térmicos no Verão e perdas térmicas no Inverno.
A orientação solar dos envidraçados é também um factor importante em termos
térmicos e em termos de iluminação, condicionando o conforto interior. A energia
acumulada é influenciada pela intensidade da radiação solar incidente na superfície
envidraçada, da sua área e do seu factor solar17
.
Em Portugal, o quadrante Sul é o mais favorável para os ganhos térmicos uma vez
que recebe radiação solar directa ao longo do dia. No quadrante Norte a iluminação é
constante mas é também o quadrante onde não se registam ganhos térmicos e
existem perdas térmicas, uma vez que não recebe radiação solar directa. No
quadrante Este, durante o período da manhã ocorrem os ganhos térmicos, período em
que recebe radiação solar directa. A Oeste os mesmos ganhos ocorrem durante o
período da tarde, devido ao “movimento aparente” do Sol.
A utilização de vidros duplos, preferencialmente de baixa emissividade18
, com
caixilharias com corte térmico, pode reduzir até 50% das perdas térmicas pelas
janelas, assim como o ruído do exterior. Importa frisar que, por exemplo, cerca de 15%
da energia utilizada para aquecimento e arrefecimento de uma habitação é perdida
através de frinchas existentes em caixilharias mal vedadas ou empenadas.
A caracterização das superfícies envidraçadas das habitações das EcoFamílias foi
feita tendo em conta o tipo de vidro e caixilharia existente. Ao analisar as superfícies
envidraçadas existentes, e tal como já foi mostrado na Figura 12, verifica-se que a
maioria é composta por vidro duplo (os envidraçados possuem 52% vidro duplo e 48%
possuem vidro simples). Estes resultados estão relacionados com o facto de, a partir
de 1991, o RCCTE estabelecer a sua obrigatoriedade (embora nem sempre se
verifique) e por se tratar de uma medida relativamente simples, face a outras, na área
da construção, que melhora significativamente o conforto térmico do edifício. Esta
situação está de acordo com os resultados obtidos no inquérito social, em que 50%
das famílias consideram estar total ou bastante satisfeitos situação em relação ao
isolamento das janelas.
Em relação ao material da caixilharia verificou-se que a maioria é em alumínio (71%
de alumínio; 19% de madeira; 10% PVC) (Figura 15). Verifica-se também que a
caixilharia em madeira tem entrado em desuso provavelmente devido ao seu
17
O factor solar de um envidraçado é o quociente entre a energia que o atravessa e a radiação
solar que nele incide.
18
A emissividade mede a capacidade de um corpo em emitir energia. Os vidros de baixa
emissividade possuem a característica de reduzir a transferência de calor, proporcionando um
elevado isolamento térmico.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 36
comportamento térmico e, principalmente porque empenam com o uso e a idade, com
os respectivos inconvenientes associados, tanto na abertura e fecho das janelas.
30%
1%
15%
2%
19%
21%
4%
4%
4%
Vidro simples com caixilho
de alumínio sem corte
térmico
Vidro simples com caixilho
de alumínio com corte
térmico
Vidro simples com caixilho
de madeira
Vidro simples com caixilho
de PVC com corte térmico
Vidro duplo com caixilho de
alumínio sem corte térmico
Vidro duplo com caixilho de
alumínio com corte térmico
Vidro duplo com caixilho de
madeira
Vidro duplo com caixilho de
PVC sem corte térmico
Vidro duplo com caixilho de
PVC com corte térmico
Figura 15 – Tipo de envidraçados existentes nas habitações das EcoFamílias
Ao analisar o tipo de vidro e o tipo de caixilho verificamos que a maior percentagem
(21%) corresponde a envidraçados compostos por vidro duplo com caixilharia em
alumínio com corte térmico, seguido dos envidraçados compostos por vidro duplo com
caixilho de alumínio simples (19%).
Verifica-se que as melhores soluções de tipos de vidro e caixilho, analisado em função
da zona climática, encontram-se nas zonas onde o clima é menos rigoroso (Figura 16).
Este facto pode ser motivado por uma maior preocupação com o conforto interior ou
devido às EcoFamílias destas zonas climáticas pertencerem a classes de rendimento
mais elevadas.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 37
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Vidro
simples
com
caixilho de
alumínio
sem corte
térmico
Vidro
simples
com
caixilho de
alumínio
comcorte
térmico
Vidro
simples
com
caixilho de
madeira
Vidro
simples
com
caixilho de
PVC com
corte
térmico
Vidro duplo
com
caixilho de
alumínio
sem corte
térmico
Vidro duplo
com
caixilho de
alumínio
comcorte
térmico
Vidro duplo
com
caixilho de
madeira
Vidro duplo
com
caixilho de
PVC sem
corte
térmico
Vidro duplo
com
caixilho de
PVC com
corte
térmico
I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3
Figura 16 – Tipo de envidraçado de acordo com a zona climática.
8.1.3 Protecção solar
A protecção solar é quase sempre imprescindível para se poder tirar partido da nossa
maior fonte de energia – o Sol. Esta pode ser conseguida por exemplo, através de
estores ou portadas, pelo lado exterior do vidro.
Os raios solares ao atingirem directamente o vidro geram o chamado "efeito de
estufa": atravessam o vidro e vão aquecer a habitação, sendo depois impedidos pelo
mesmo de voltarem a sair. Uma vez aquecida a massa de ar interior, o calor só se
perde à noite, quando a temperatura exterior é inferior à interior19
, pois o fluxo de calor
através do vidro verifica-se sempre da temperatura mais alta para a mais baixa.
Em termos de ganhos e perdas térmicas, existem diferenças entre proteger os
envidraçados pelo exterior ou pelo interior. Uma janela protegida pelo interior do vidro
deixa passar mais 20% a 30% da radiação solar para o seu interior, do que uma
protegida pelo exterior. Este facto pode ser vantajoso no Inverno, mas no Verão pode
conduzir a um sobreaquecimento do interior, e a um consequente aumento do gasto
de energia em sistemas de climatização para o frio. No entanto, no que diz respeito a
19
O fluxo de calor, neste caso através do vidro, verifica-se sempre da temperatura mais alta
para a mais baixa.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 38
perdas térmicas, uma janela a Norte com sombreamento pelo exterior, pode deixar
perder mais calor durante a noite do que uma protegida por estores interiores, o que
igualmente, poderá conduzir a um aumento de gasto de energia em sistemas de
climatização para aquecer no Inverno.
Das habitações analisadas, 78% apresenta protecção pelo interior e exterior,
maioritariamente com recurso a estores no exterior e cortinados no interior. Os estores
podem ser úteis para alcançar o conforto interior desde que se faça um correcto uso
deles. A protecção pelo interior representa 12% das EcoFamílias, seguido de 6% de
protecção pelo exterior (Figura 17).
12%
2%
6%
78%
1% 1%
Protecção pelo interior
Protecção entre janelas
Protecção pelo exterior
Protecção pelo interior e
exterior
Protecção interior e entre
janelas
Nenhum tipo de protecção
Figura 17 – Localização do protecção solar nas habitações das EcoFamílias.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 39
8.1.4 Orientação Solar
De acordo com a análise efectuada no que diz respeito à envolvente das habitações
(paredes exteriores e superfícies envidraçadas), todas as orientações solares são
contempladas, existindo um relativo equilíbrio nessa distribuição. Esta orientação é
dada pela orientação da fachada com maior área envidraçada (Figura 18).
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3
O
SO
S
SE
E
NE
N
NO
Figura 18 – Orientação solar por zona climática.
A orientação Norte deve ser evitada porque é neste quadrante que ocorrem grandes
perdas térmicas e não existem ganhos, uma vez que não recebe radiação solar
directa, independentemente da altura do ano e do dia. Isto significa que no Inverno, os
gastos de energia para manter a temperatura de conforto aumentam e pode ser
necessário recorrer a iluminação auxiliar durante o dia.
A orientação Sul, como já foi referido, é a que apresenta maior potencialidade para o
aproveitamento do Sol. A incidência da radiação solar neste quadrante pode ser
controlada na sua totalidade com o recurso a estores, portadas, palas de
sombreamento horizontais ou outros elementos de sombreamento, uma vez que o Sol,
consoante a estação do ano, apresenta diferentes ângulos de incidência solar.
A Nascente e a Poente, a entrada de raios solares através das superfícies
envidraçadas é de difícil controlo. O período da manhã é aquele em que se regista a
incidência solar directa a Nascente e quando ocorrem os ganhos térmicos. O mesmo
se verifica a Poente mas no período da tarde. Nestas orientações os raios solares
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 40
atingem uma inclinação quase perpendicular ao vidro, o que dificulta a sua protecção
de outro modo que não seja a total.
Assim, recomenda-se que no Verão se protejam os envidraçados no período da
manhã a Nascente, podendo desprotege-los no período da tarde, promovendo
também a ventilação dos compartimentos. A Poente os envidraçados devem ser
protegidos no período da tarde. Durante o Inverno dever-se-á fazer o processo inverso
de modo a promover os ganhos solares e minimizar as perdas térmicas
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 41
9. Caracterização de Equipamentos eléctricos e
Iluminação
Tal como descrito no capítulo da Metodologia, a recolha de dados foi efectuada
através dos inquéritos de identificação e utilização dos instrumentos de medição de
consumos locais e remotos e também pelo registo das leituras dos contadores de
electricidade, gás e água.
Através do inquérito de levantamento dos equipamentos eléctricos existentes foram
identificados 170 equipamentos diferentes nas EcoFamílias. A Figura 19 mostra a taxa
de presença dos equipamentos nas EcoFamílias. Nesta análise não foram
considerados os equipamentos presentes em menos de 10% das EcoFamílias, por
não se considerar como presença significativa.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 42
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
Antenainterior
Aparelhagem
Aquecedorelectrico
ArCondicionado
Arca
Aspirador
Calculadora
Caldeira
Colunas
Combinado
Computador
Descodificador
Despertador
Desumidificador
DVD
Esquentadoragás
Exaustor
FerroEngomar
Forno
Frigorifico
Impressora
Irradiadoraoleo
MaquinaCafé
Maquinaloiça
MaquinaRoupa
Maquinasecar
Microondas
Placa
Portátil
PS
rádio
Router
Secador
Telefone
Televisão
Termoventilador
Torradeira
Ventoinha
Video
Ventoinha
Video
Taxadepresença(%)
Equipamentos
Figura 19 – Taxa de presença dos equipamentos nas EcoFamílias.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 43
Pela análise da Figura 19 verifica-se que equipamentos como fogão,
frigorífico/combinado, máquina de lavar roupa existem em todas as EcoFamílias e
85% das famílias possuem micro-ondas. Outros equipamentos como computador
estão presentes em cerca de 70% das famílias abrangidas por este programa.
Os equipamentos identificados foram agrupados nas seguintes categorias:
 Água Quente Sanitária (AQS)
 Climatização
 Cozinha
 Entretenimento
 Frio
 Iluminação
 Informática e Telecomunicações
 Máquinas e Outros
Na medição de consumos eléctricos, foram caracterizados 653 equipamentos no total
das 206 EcoFamílias, numa média de 3 equipamentos por EcoFamília.
A medição de alguns aparelhos apresentou algumas dificuldades. O caso dos
electrodomésticos encastrados, sistemas de aquecimento e caldeiras, em que não se
consegue ter acesso às fichas de electricidade dos mesmos, foi uma condicionante às
medições efectuadas em várias habitações. A opção de colocar numa parte das
habitações instrumentos de mediação nos disjuntores foi precisamente para
ultrapassar esta dificuldade. No entanto, muitos dos quadros eléctricos encontrados
estão mal estruturados, tendo muitos circuitos no mesmo disjuntor. Assim, em vez de
medições de apenas um equipamento obteve-se uma medição simultânea de vários
equipamentos, o que não ajudou a uma caracterização pormenorizada em muitos
casos.
Os equipamentos de entretenimento (televisão, DVD, vídeo-gravador, etc.) estão todos
ligados à mesma tomada, que se encontra por trás de móveis, o que tornou por vezes
a sua medição impraticável. Em alguns casos ainda assim foi possível medir os
equipamentos mas apenas em conjunto. Houve também casos em que se assumiu
medir alguns equipamentos em conjunto, por se verificar que existiam em quase todas
as casas, como por exemplo um conjunto composto por uma televisão, DVD,
aparelhagem de som e descodificador de televisão (vulgarmente conhecido por
powerbox).
Na fase de validação, algumas medições foram ainda rejeitadas. Para além disso,
existiram medições que não foi possível considerar devido a problemas com os dados
dos instrumentos de medição local e remoto, o que condicionou uma caracterização
mais completa das famílias.
A leitura dos contadores de algumas EcoFamílias também não foi possível, devido ao
facto de alguns se encontrarem fechados, apenas acessíveis para os técnicos das
empresas. Dado que se optou pela inserção, por parte das famílias, dos dados dos
contadores numa base de dados online, há algumas falhas de registo, existindo
mesmo famílias que não existem valores das contagens. Nas famílias sem acesso à
internet foi entregue uma folha para o registo das leituras, mas muitas das famílias não
os registaram.
Como se pode verificar pelas situações descritas, a implementação do programa
EcoFamílias no terreno teve que transpor algumas dificuldades e ajustar-se em alguns
momentos às situações que iam surgindo. Desta experiência resulta que os dados
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 44
recolhidos em cada EcoFamília apresentam diferenças, quer em termos de qualidade,
quer em quantidade.
9.1.1 Consumos totais de electricidade
Na Figura 20 apresenta-se a repartição dos consumos de electricidade com base nos
consumos eléctricos dos equipamentos medidos. No caso da iluminação e
climatização, o valor apresentado foi calculado através da potência e tempo de
utilização referido pelas famílias, por não ter sido possível medir.
Entretenimento
6%
Informática
7%
Máquina de
lavar loiça
7%
Máquina de
lavar roupa
9%
Arca
10%
Frigorífico
14%
Climatização
9%
Iluminação
8%
Não medido
30%
Figura 20- Distribuição dos consumos de electricidade pelas categorias.
Os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas) medidos representam a
maior fatia de consumo (24%). As máquinas de lavar loiça e roupa representam 16%
do consumo total.
Os equipamentos não medidos incluem aparelhos de ar condicionado,
electrodomésticos encastrados, equipamentos eléctricos de aquecimento de águas
sanitárias e pequenos electrodomésticos.
Muito próximo da categoria Frio, estão em conjunto as categorias de Iluminação,
Entretimento e Informática representam cerca de 21% do consumo total das
EcoFamílias. Estas são as categorias onde este projecto vai incidir mais na alteração
de comportamentos para a eliminação de consumos de stand-by e off-power e
substituição de lâmpadas.
A análise dos equipamentos eléctricos foi feita por categorias, visto terem sido
realizadas medições individuais e por grupo de equipamentos.
A compreensão desta distribuição de consumos é fundamental para a mudança de
comportamentos. A comparação da repartição dos consumos das famílias (Figura 20)
com a percepção que estas têm dos mesmos (Tabela 5), permitiu verificar que há
alguma concordância no que concerne à área do frio e mesmo da climatização. Já em
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 45
termos das áreas da iluminação e das máquinas de lavar observa-se uma
subvalorização no primeiro caso e o efeito contrário no segundo.
De sublinhar, é ainda o facto dos consumos reais medidos nas EcoFamílias
comprovarem a percepção que os inquiridos têm sobre o peso que o consumo das
máquinas de lavar (roupa e loiça) tem nas despesas mensais do agregado, o que não
acontece quando comparamos com os dados oficiais. Esta aparente incoerência
poderia levar a uma interpretação que apontasse para uma incorrecta percepção dos
inquiridos sobre as áreas de maior consumo de electricidade no seu agregado, quando
o que se verifica é que as medições registadas nas EcoFamílias, dão origem a
padrões de consumo diferentes dos registados entre a população portuguesa em
geral. Tal situação não será de estranhar, face às diferenças sublinhadas no capítulo
da caracterização social em variáveis tão relevantes para este tema, como são o grau
de habilitações, a idade ou a ocupação profissional.
A área da iluminação é aquela onde a distância entre os dados reais relativos à
população portuguesa ou os dados recolhidos nas EcoFamílias e a percepção do
consumo é maior, isto quando analisamos as principais categorias de consumo.
9.1.2 Água Quente Sanitária
Na Tabela 6 encontram-se os equipamentos presentes nas EcoFamílias, para o
aquecimento da água.
Tabela 6 – Tipo de Equipamentos da categoria de Águas Quente Sanitária presentes
nas EcoFamílias
Categoria
Esquentador Termoacumulador
Caldeira a gás Caldeira a gasóleo
Painel solar
Tipo de Equipamento
AQS
Nas EcoFamílias, ainda prevalece o gás como fonte de energia para aquecimento de
águas, quer através de esquentadores, como caldeiras (Figura 21).
Gás
81%
Eléctrico
6%
Lenha
1%
Renováveis
6%
Gasóleo
6%
Figura 21 – Distribuição das várias formas de energia para AQS, nas EcoFamílias
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 46
O gasóleo apresenta um peso significativo, 6%, estando na mesma proporção que a
energia eléctrica e energias renováveis.
9.1.3 Climatização
Na Tabela 7 apresentam-se os equipamentos presentes nas EcoFamílias, para o
aquecimento e arrefecimento das habitações.
Tabela 7 – Tipo de equipamentos da categoria Climatização presentes nas
EcoFamílias
Categoria
Acumulador de calor Desumidificador
Aquecedor infra-vermelhos Escalfeta
Aquecimento central eléctrico Irradiador a óleo
Ar condicionado Termoventilador
Lareira eléctrica Ventoinha
Aquecimento central a gás Aquecedor Catalítico
Aquecedor de halógeneo Aquecimento central a gasóleo
Braseira eléctrica Lareira a lenha
Tipo de Equipamento
Climatização
Os equipamentos eléctricos são mais utilizados pelas EcoFamílias, sendo o irradiador
a óleo o equipamento mais presente (30%), seguido dos equipamentos de ar
condicionado (18%).
Figura 22 – Equipamentos de climatização (ar Condicionado e lareira com recuperador
de calor)
Analisou-se a presença de equipamentos de climatização por escalão de rendimentos
e verifica-se que o escalão médio de rendimento – escalão 3 – tem um maior número
de famílias com equipamentos de climatização, e com maior variedade de tipos de
equipamentos (Figura 23).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 47
O menor número de equipamentos de climatização na classe de rendimentos superior
pode ser justificado pelas melhores soluções construtivas das habitações, o que
implica uma menor necessidade de utilização destes equipamentos.
0
20
40
60
80
100
120
1 2 3 4 5/6 99
Númerodefamílias
Classe de rendimento
Irradiador óleo Aquecedor infra-vermelhos Ar Condicionado
Termoventilador Aquecimento Central a gás Ventoinha
Desumidificador Acumulador de calor Escalfeta
Aquecedor catalítico Aquecimento Central Gasóleo Braseira
Lareira Lareira electrica Aquecedor halogéneo
Fogão a lenha Emissor térmico Econo-heat
Aquecimento central a Electricidade
Figura 23 – Presença dos vários tipos de equipamentos de climatização existente nas
EcoFamílias, por escalão de rendimento.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 48
9.1.4 Cozinha
Os equipamentos eléctricos presentes numa cozinha são muitos variados, com
características e funções muito diferentes (Tabela 8).
Tabela 8 – Tipo de equipamentos da categoria Cozinha presentes nas EcoFamílias.
Categoria
Batedeira Máquina de café
Espremedor de citrinos Máquina de Pão
Exaustor Micro-ondas
Placa a gás Picador de gelo
Forno eléctrico Placa eléctrica
Fritadeira eléctrica Torradeira
Grelhador eléctrico Tostadeira
Jarro eléctrico Varinha mágica
Robô Picadora
Cafeteira Máquina de sumos
Liquidificador Base para comida quente
Bimby Chaleira
Fiambreira Fogão com placa electrica
Forno a gás Placa de indução
Iogurteira Máquina de batidos
Máquina de cozer a vapor Misturadora
Panela eléctrica Patusca
Placa vitrocerâmica
Cozinha
Tipo de Equipamento
No que respeita aos electrodomésticos de cozinhar a placa a gás continua a ter muito
maior peso (82%) do que as eléctricas (Figura 24) No caso do forno existe uma maior
presença de fornos eléctricos nas casas das EcoFamílias (69%).
Forno
electrico
69%
Forno a gás
31%
Placa a gás
82%
Placa
eléctrica
18%
Figura 24 – Percentagem de placas e fornos a gás e eléctricos
As medições de consumos nas cozinhas apresentam algumas dificuldades por
diversas razões, entre as quais electrodomésticos encastrados ou ligados
directamente à instalação eléctrica da casa (por exemplo, forno eléctrico e exaustor).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 49
Dos pequenos electrodomésticos apresentados na Tabela 8 o mais comum, e também
o mais utilizado, é o micro-ondas, estando presente em cerca de 85% das
EcoFamílias.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 50
9.1.5 Entretenimento
Na análise do tipo de equipamentos de Entretenimento (Figura 25) existentes nos
lares das EcoFamílias, verificou-se que 99% têm pelo menos um aparelho de
televisão, sendo que uma família não possui este equipamento por opção e a outra
possui um videoprojector. Outros equipamentos como DVD ou aparelhagem de som,
são comuns nas EcoFamílias, encontrando-se em 80% e 64 % das famílias,
respectivamente. Nesta categoria estão ainda incluídos equipamentos como o
descodificador de televisão (vulgarmente conhecido por powerbox) ou consolas, num
total de 29 tipos de equipamentos (Tabela 9).
Figura 25 – Equipamentos de entretenimento
Tabela 9 – Tipo de equipamentos de Entretenimento presentes nas EcoFamílias.
Categoria
Amplificador Vídeo
Aparelhagem de som DVD
Leitor de CDs Porta CD
Descodificador Rádio
Sist. de som panorâmico Auscultadores sem fios
Consola Satélite
Adaptador TV Televisão
Gira-Discos Adaptador PS
LCD Antena Interior
Plasma Karaoke
PlaySation Leitor ipod
Subwoofer Projector
Transmissor Receptor Comando
Volante PS Transformador
Video
Entretenimento
Tipo de Equipamento
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 51
Do consumo dos equipamentos medidos verificou-se que nas EcoFamílias os
aparelhos de entretenimento apresentam grandes variações de consumos: entre os 3
e os 822 kWh/ano, numa média de cerca de 223 kWh/ano (Figura 26), que
corresponde em média a 6% do consumo total de electricidade. Analisando ainda o
gráfico os resultados nesta categoria, concluiu-se que o consumo total destes
aparelhos não é semelhante em famílias do mesmo escalão de rendimento.
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
1(B09)
1(G06)
1(H21)
1(I02)
2(A02)
2(A25)
2(D01)
2(D09)
2(D11)
2(D12)
2(D22)
2(F02)
2(F16)
2(H08)
2(I08)
3(A11)
3(A26)
3(B34)
3(B36)
3(C04)
3(C15)
3(C16)
3(D15)
3(D21)
3(D26)
3(F07)
3(F18)
3(H25)
3(H33)
4(A07)
4(B21)
4(E08)
4(E10)
4(E24)
4(F11)
4(F12)
4(F15)
4(I20)
5(A38)
5(D23)
99(F10)
Consumo(kWh/ano)
EcoFamília
Figura 26 – Consumo dos equipamentos de Entretenimento (kWh/ano) nas
EcoFamílias, por escalão de rendimento.
Através da análise dos dados de consumo eléctrico medidos nestes equipamentos foi
possível verificar que cerca de 65% evidenciam a existência de consumo off-power ou
de stand-by. Equipamentos como as aparelhagens de som e os leitores de DVD e
vídeo são normalmente fontes de consumos off-power.
Uma outra análise neste grupo foi a influência da potência dos aparelhos no consumo
total de electricidade. Assim, analisou-se grupo de equipamentos com a mesma
constituição, tendo sido possível nas EcoFamílias A11, A26 e A38. Na análise do
grupo constituído por televisão, DVD e Aparelhagem verifica-se que o consumo mais
elevado é no conjunto com maior potência e não no que apresenta mais horas de
consumo (Figura 27).
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 52
0
100
200
300
400
500
600
0
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2000
3000
4000
5000
6000
7000
8000
9000
10000
3(A11) 3(A26) 5(A38)
Consumo(kWh/ano)
horas/ano
EcoFamília
Tempo (horas/ano) Consumo (kWh/ano) Consumo instantâneo (W)
Figura 27 - Comparação entre o número de horas de utilização e o consumo médio por
mês do grupo de entretenimento constituido por televisão, DVD e Aparelhagem.
9.1.6 Informática e Telecomunicações
Os equipamentos informáticos (Figura 28) têm um peso crescente nos lares
portugueses. Reflexo disto é o facto de 70% das EcoFamílias possuírem computador.
Figura 28 – Equipamentos de informática
Os computadores fixos estão presentes em 62% das famílias e os portáteis em 19%.
Nesta categoria foram identificados 21 equipamentos diferentes nesta categoria
(Tabela 10).
Tabela 10 – Tipo de equipamentos da categoria Informática e Telecomunicações
existentes nas EcoFamílias
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 53
Categoria
Calculadora Impressora
Carregador de telemóvel Modem
Colunas Monitor
Computador pessoal Multifunções
Computador portátil Scanner
Sintetizador Telefone
Fax Carregador máquina fotográfica
Carregador de pilhas Router
Disco externo UPS
Transformador Webcam
USB com placa de rede
Tipo de Equipamento
Informática e
Telecomunicações
Das medições realizadas nesta categoria, não se encontrou uma relação entre os
rendimentos da família e o consumo deste tipo de equipamentos. Como se pode
verificar pela Figura 29, o consumo destes equipamentos é muito variável entre
famílias, dependendo muito da utilização que cada uma faz destes equipamentos
(trabalho ou lazer). Os consumos nesta categoria variam de 48 a 3.202 kWh/ano,
representando um peso médio de 7% da factura total de electricidade.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
2(B16)
2(D08)
2(D22)
2(E01)
2(E17)
2(F02)
2(F14)
3(A18)
3(A19)
3(A20)
3(A23)
3(B15)
3(B18)
3(B20)
3(C08)
3(C13)
3(C17)
3(D15)
3(E28)
3(F08)
3(F25)
4(A03)
4(A32)
4(C01)
4(C27)
4(E08)
4(E10)
4(F03)
4(F11)
4(I20)
5(A38)
5(F19)
99(B11)
Consumo(kWh/ano)
EcoFamília
Figura 29 – Consumo eléctrico da categoria Informática (kWh/ano) nas EcoFamílias
Em cerca de 76% das medições realizadas verificou-se a existência de consumos off-
power e/ou stand-by num ou mais equipamentos. Fazendo a análise individual dos
equipamentos verificou-se a existência de consumos off-power em computadores,
multi-funções e colunas de som.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 54
9.1.7 Iluminação
Na categoria Iluminação foram identificados 6 tipos de lâmpadas nas EcoFamílias
(Tabela 11).
Tabela 11 – Tipo de equipamentos de Iluminação presentes nas EcoFamílias.
Categoria
Lâmpada de halogéneo Lâmpada fluorescente compacta
Lâmpada fluorescente Lâmpada incandescente
LED Néon
Tipo de Equipamento
Iluminação
Na iluminação (Figura 30) identificou-se a utilização, ainda predominante, das
lâmpadas incandescentes, representando 46% do total de lâmpadas caracterizado
(Figura 31). Outro facto que se verifica na iluminação é uma cada vez maior utilização
das lâmpadas de Halogéneo (22%) e lâmpadas fluorescentes compactas (22%), o que
significa uma melhoria ao nível da eficiência energética relativamente à utilização das
lâmpadas incandescentes. As lâmpadas fluorescentes encontrando-se principalmente
nas cozinhas (10%). Duas EcoFamílias, já optaram em algumas zonas da casa por
LEDs, e uma possuía Néons.
Figura 30 – Iluminação de halogéneo
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 55
Lâmpadas de
halogéneo
22%
LED
0,33%
Lâmpadas
incandescentes
46%
Néon
0,07%
Lâmpada
fluorescente
compacta
22%
Lâmpada
fluorescente
10%
Figura 31 - Percentagem de presença dos vários tipos de lâmpadas nas EcoFamílias
Nesta categoria foram poucas as medições que se conseguiram realizar, visto a
iluminação ser predominantemente de tecto. Na contabilização total da Iluminação
existente numa habitação, os candeeiros de secretária, de sala ou de quarto, têm
pouco peso (13% do número total de lâmpadas).
Da análise da iluminação existente nas EcoFamílias verificou-se que a potência média
das lâmpadas incandescentes é de 43 Watts (W) e a das lâmpadas de Halogéneo é
de 59W. No caso das lâmpadas fluorescentes, a potência média é de 27W e a das
lâmpadas fluorescentes compactas é de 13W. O número médio por quarto nas
EcoFamílias é de 3 lâmpadas.
Na análise da Iluminação verifica-se que em praticamente todas as EcoFamílias ainda
existe uma presença significativa das lâmpadas incandescentes, em todos os escalões
de rendimento (Figura 32). Nestes casos, o potencial de redução de consumo pela
troca por lâmpadas fluorescentes compactas, poderá ser elevado, dependendo do
tempo de utilização das mesmas.
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 56
0
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10
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18
1 2 3 4 5/6 99
Númeromédiodelâmpadas
Classe de rendimento
LH LF LFC LI
Figura 32 – Número médio e tipo de lâmpadas existentes por EcoFamília, por escalão
de rendimento.
Relativamente às lâmpadas de halogéneo verifica-se que também têm uma presença
muito forte nas habitações (22%), em parte devido à construção, com a sistematização
de tectos falsos com iluminação de Halogéneo embutida, mas também devido aos
fabricantes de candeeiros, que apostaram fortemente nos candeeiros para estas
lâmpadas. Pela análise da Figura 32 verifica-se um aumento do número de lâmpadas
fluorescentes compactas com a classe de rendimento.
Na categoria de Iluminação foram cruzados os dados de tempo de utilização com o
consumo das lâmpadas (Figura 33). Em termos de utilização das lâmpadas verifica-se
que as lâmpadas fluorescentes de 36 W são as mais utilizadas. Verifica-se também
que apesar de uma utilização elevada dos LED de 2W, o consumo associado a este é
muito baixo.
0
10
20
30
40
50
60
0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800
Consumomédio(kWh/ano)
tempo médio (h/ano)
Lâmpada de Halogéneo 50 Lâmpada de Halogéneo 55
Lâmpada fluorescente 18 Lâmpada fluorescente 36
Lâmpada fluorescente compacta 11 Lâmpada fluorescente compacta 15
Lâmpada incandescente 25 Lâmpada incandescente 40
Led 1,3 Led 2
Projecto EcoFamílias – Relatório Final
Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 57
Figura 33 – Consumo médio e tempo de utilização médio por tipo de lâmpada
As lâmpadas de halogéneo apresentam um consumo elevado, relativamente ao
número de horas de utilização. O potencial de poupança destas lâmpadas pode ser
significativo se substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas.
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  • 2. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 2 1. Equipa Francisco Ferreira, Vice-Presidente da Quercus, Professor universitário (supervisão) Ana Rita Antunes, Engenheira do Ambiente (coordenação) Ana Filipa Alves, Engenheira do Ambiente Sara Ramos, Engenheira do Ambiente Ricardo Gomes, Engenheiro do Ambiente Carla Verdasca, Engenheira do Ambiente Sara Campos, Ciências da Comunicação (lic.) Ana Padrão Dias, Arquitecta Patrícia Sá Santos, Arquitecta Inês Pinto, Engenheira do Ambiente Nuno Pereira, Engenheiro do Ambiente Filipa Carlos, Engenheira do Ambiente Fernando Miguel Naves Sousa, Biólogo Colaboração no capítulo "Caracterização social": Susana Fonseca, Socióloga
  • 3. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 3 2. Índice 1. Equipa ...................................................................................................................2 2. Índice.....................................................................................................................3 3. Resumo Executivo.................................................................................................5 4. Introdução..............................................................................................................8 5. Objectivos............................................................................................................11 6. Metodologia.........................................................................................................12 6.1 Selecção das Famílias..................................................................................12 6.2 Monitorização ...............................................................................................15 6.3 Medições de consumos ................................................................................16 6.4 Recomendações...........................................................................................18 7. Caracterização social...........................................................................................19 7.1 Caracterização social ...................................................................................19 7.2 Práticas ambientais e de eficiência energética .............................................22 7.2.1 Percepção sobre os gastos energéticos do agregado ...........................23 7.3 As condições de habitabilidade.....................................................................24 7.3.1 Disponibilidade para investir..................................................................25 8. Caracterização das Habitações ...........................................................................26 8.1 Caracterização da Construção......................................................................28 8.1.1 Paredes exteriores.................................................................................31 8.1.2 Superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas) ....................35 8.1.3 Protecção solar......................................................................................37 8.1.4 Orientação Solar....................................................................................39 9. Caracterização de Equipamentos eléctricos e Iluminação ...................................41 9.1.1 Consumos totais de electricidade ..........................................................44 9.1.2 Água Quente Sanitária ..........................................................................45 9.1.3 Climatização..........................................................................................46 9.1.4 Cozinha .................................................................................................48 9.1.5 Entretenimento ......................................................................................50 9.1.6 Informática e Telecomunicações ...........................................................52 9.1.7 Iluminação.............................................................................................54 9.1.8 Frio........................................................................................................58 9.1.9 Máquinas...............................................................................................62 10. Análise de consumos globais...........................................................................64 10.1.1 Consumo energético global ...................................................................64 10.1.2 Electricidade..........................................................................................66 10.1.3 Gás........................................................................................................68 10.1.4 Água......................................................................................................68 11. Emissões de GEE vs Consumo de energia......................................................71 12. Identificação do potencial de poupança energética ..........................................73 12.1 Informática....................................................................................................76 12.2 Entretenimento .............................................................................................77 12.3 Iluminação ....................................................................................................78 12.4 Substituição de equipamentos......................................................................81 12.4.1 Frigoríficos.............................................................................................81 12.4.2 Arcas frigoríficas....................................................................................82 12.4.3 Máquina de lavar roupa.........................................................................83 12.4.4 Máquina de secar roupa........................................................................85 12.4.5 Máquina de lavar loiça...........................................................................85 12.5 Temperaturas de lavagem............................................................................86 12.5.1 Roupa....................................................................................................86 12.5.2 Loiça......................................................................................................88 12.6 Mudança para contador Bi-Horário...............................................................90
  • 4. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 4 13. Conforto higrotérmico.......................................................................................92 14. Divulgação .....................................................................................................101 14.1 Solicitada pela comunicação social ............................................................101 14.2 Rubrica EcoFamílias – Sociedade Civil ......................................................102 14.3 Minuto pela Terra........................................................................................103 14.4 Minuto Verde ..............................................................................................104 14.5 Seminários e Feiras....................................................................................107 15. Indicadores e benefícios da medida...............................................................109 16. Conclusões ....................................................................................................111
  • 5. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 5 3. Resumo Executivo O projecto EcoFamílias teve como objectivo analisar os consumos de 225 famílias distribuídas equitativamente pelas nove zonas climáticas de Portugal Continental, definidas pelo Decreto-Lei nº 80/2006, de 4 de Abril (Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios - RCCTE) e propor medidas de redução do consumo de energia eléctrica pela alteração de comportamentos. Este projecto foi desenvolvido pela Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza, promovido pela EDP Distribuição e aprovado pela ERSE no âmbito do Plano para a Eficiência no Consumo (PPEC) A adesão ao projecto foi maior nas zonas litorais e menos significativa nas zonas interiores, não se conseguindo respeitar o objectivo inicial de assegurar 25 famílias por zona. Para atingir as 225 famílias foram aceites inscrições de zonas climáticas onde o limite estabelecido de 25 famílias já havia sido atingido. Embora a selecção de famílias tivesse superado o número previsto (225), apenas foi possível acompanhar 206 devido a um conjunto de dificuldades, como a distância entre as famílias, a indisponibilidade de horários para receber a equipa EcoFamílias e a desmarcação das visitas no momento. A integração de variáveis de caracterização social neste estudo permitiu perceber que a amostra está sobrevalorizada em termos de habilitações académicas de nível superior o que tem óbvios reflexos nas profissões mais correntes. Também em termos etários se observa uma maior preponderância dos escalões intermédios. Este contexto exerce óbvias influências nas respostas e consumos registados, levando a que por vezes a realidade vivida e percepcionada se afaste do padrão da população portuguesa. As práticas quotidianas ligadas à poupança de energia surgem entre as mais frequentemente implementadas, sendo-lhes associado um baixo nível de exigência e esforço, com excepção da área da mobilidade. Mas a adopção de mais ou menos práticas ambientais e com maior ou menor frequência também decorre do conhecimento que cada agregado manifesta em relação àqueles que são os maiores consumos no espaço doméstico. Os dados recolhidos indicam que há uma relativa consonância entre os valores efectivamente medidos e a percepção de consumos mais significativos em áreas como a do frio, do uso das máquinas de lavar e secar e até da climatização. As áreas da iluminação e informática parecem sofrer de um efeito de alguma invisibilidade, no sentido em que existem claras discrepâncias entre os valores medidos e a percepção do seu peso na factura eléctrica mensal. Ainda assim, a iluminação acaba por ser uma das áreas onde a disponibilidade para investir ao longo do próximo ano mais se manifesta. A nível de construção a partir da entrada do primeiro RCCTE, em 1991, verifica-se uma melhoria do desempenho térmico das habitações e um aumento do uso de isolamento térmico, apesar de ainda longe do ideal. A tipologia de parede exterior mais comum nas habitações das EcoFamílias é composta por parede dupla de tijolo com isolamento térmico (62%). Nas superfícies envidraçadas verifica-se a mesma tendência de melhoria, depois da entrada em vigor do RCCTE. A existência de vidros duplos com caixilharia de PVC ou alumínio e corte térmico identificadas em habitações construídas antes de 1991 devem-se a situações de reabilitação. Na distribuição de consumos os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas frigoríficas) medidos representam a maior fatia de consumo de electricidade das
  • 6. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 6 famílias (24%). As máquinas de lavar loiça e roupa representam uma fatia de 16%. Muito próximo da categoria de Frio, estão em conjunto as categorias de Iluminação, Entretimento e Informática que, em conjunto, representam cerca de 21% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. Estas são as categorias onde o potencial de poupança está mais associado à alteração de comportamentos, pela eliminação de consumos de stand-by e off-power e substituição de lâmpadas. Por esta razão foram também as três categorias onde o projecto mais incidiu. Através da análise dos dados de consumo eléctrico medidos nos equipamentos de entretenimento foi possível verificar que cerca de 65% destes equipamentos evidenciam a existência de consumos off-power ou stand-by. Os equipamentos informáticos têm um peso crescente nos lares portugueses. Reflexo disto é o facto de 70% das EcoFamílias possuírem computador. Em cerca de 76% das medições realizadas verificou-se a existência de consumos off-power e/ou stand-by num ou mais equipamentos. Na iluminação identificou-se a utilização predominante das lâmpadas incandescentes, representando 46% do total de lâmpadas caracterizado. Outro facto que se verifica na iluminação é uma cada vez maior utilização das lâmpadas de halogéneo (22%) e lâmpadas fluorescentes compactas (22%), o que significa já uma melhoria ao nível da eficiência energética relativamente à utilização das lâmpadas incandescentes. As lâmpadas de halogéneo apresentam um consumo elevado, relativamente ao número de horas de utilização. O potencial de poupança destas lâmpadas pode ser significativo se substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas. Os equipamentos de frio das EcoFamílias são maioritariamente posteriores à entrada em vigor da etiqueta de eficiência energética: 86% dos frigoríficos e 72% das arcas. Também as máquinas de lavar presentes nas EcoFamílias são maioritariamente posteriores à entrada em vigor das respectivas etiquetas. O consumo médio das EcoFamílias aproxima-se da média nacional: no período em avaliação (2007) foi de 3.333 kWh/ano, enquanto a média nacional é de 3.533 kWh/ano. Em relação ao tipo de contador, verificou-se que mais de metade das EcoFamílias (51%) não têm contador bi-horário (BH). Fazendo a análise da despesa das EcoFamílias possuindo contador simples ou BH, verifica-se que compensa a todas as famílias a opção pelo contador BH, podendo-se transferir em média 1513 kWh/ano para o período de vazio. O potencial de poupança energética do projecto EcoFamílias foi calculado pela substituição de lâmpadas incandescentes e de Halogéneo por fluorescentes compactas, eliminação de consumos de stand-by e off-power. Foi também calculado o potencial de poupança pela troca de equipamentos de frio e máquinas de lavar, com tempo de retorno de investimento inferior a seis anos. Ao analisar por categoria de actuação verifica-se que as reduções mais significativas são conseguidas com a anulação de consumos stand-by e off-power dos equipamentos de entretenimento (33%), seguido pela substituição da iluminação (31%) e dos equipamentos de frio (18%). A anulação de consumos stand-by e off- power dos equipamentos de informática (17%) está em quarto lugar, seguindo-se o contributo dos microondas (1%).
  • 7. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 7 As medidas tomadas com este projecto representam uma poupança anual de 35.815 kWh/ano, com a anulação de consumos de stand-by e off-power nas categorias de Entretenimento e Informática. As alterações de comportamento representam uma poupança de 5,3% do consumo total de electricidade das EcoFamílias. A troca de lâmpadas representa uma poupança de 22.140 kWh/ano, cerca de 3,2% do consumo. No total com alteração de comportamentos e potencial de troca de equipamentos, as famílias incluídas no projecto obtém uma poupança de 71.634 kWh/ano (10% do consumo total de electricidade), representando uma redução de 34.456 kg CO2. A Entidade Reguladora dos Sistemas Energéticos (ERSE) considera que as medidas alcançadas com o Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica (PPEC) em 2007 têm reflexo até 2023, o projecto EcoFamílias atinge uma poupança global de 1,07 GWh, contabilizando apenas as famílias em causa e não o efeito multiplicador muito significativo que o projecto teve, através da divulgação efectuada. O potencial de poupança aqui atingido pode ainda ser melhorado pela análise em adição da colocação de equipamentos de energias renováveis e melhoramentos nos aspectos construtivos. O potencial de poupança obtido neste projecto, aplicado a todas as famílias residentes em Portugal Continental resulta numa poupança de 1,2 TWh/ano. Esta poupança traduz-se numa redução de 586 mil toneladas de CO2, relativamente às emissões de 2007, contribuindo em cerca de 1% para o cumprimento do Protocolo de Quioto por Portugal. Este projecto foi amplamente divulgado em seminários e congressos, além de ter estado presente em programas de televisão e rádio como Sociedade Civil (RT2) e Um Minuto pela Terra (Antena 1). A inscrição voluntária das famílias e o contacto directo com as mesmas revelou um bom método de sensibilização para os consumos de energia e consequentemente com maior potencial para as poupanças energéticas.
  • 8. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 8 4. Introdução O Aquecimento Global é provavelmente o maior problema ambiental do séc. XXI. O último relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC) confirma a acção do Homem como principal responsável pelo aquecimento global, e que as suas consequências – as Alterações Climáticas – não poderão ser já todas evitadas. O Aquecimento Global, associado à emissão de gases de efeito de estufa (GEE), está intrinsecamente ligado à forma como a sociedade e a vida humana urbana estão organizadas. Desta forma, o combate às alterações climáticas, pela diminuição da emissão dos GEE, tem que ser feito a vários níveis e todos os actores da sociedade têm um papel a desempenhar. Governos, empresas e cidadãos todos juntos, e cada um na sua dimensão e responsabilidade, podem e devem desenvolver esforços para a alteração de comportamentos e forma de estar na vida. Na sequência do denominado pacote Energia/Clima em discussão e aprovação na União Europeia como forma de responder às novas exigências de mitigação definidas na Conferência das Partes sobre Alterações Climáticas em Bali em Dezembro de 2007, Portugal encara por agora metas de emissão de GEE de 27% para o período de 2008-2012 em relação a 1990 e de 29,4% para 2020, em relação ao mesmo ano base. No entanto, em 2005 Portugal já estava 45% acima das emissões de 1990. Em 2006 registou-se uma diminuição, estando agora 40% acima das emissões, também em relação a 1990. O consumo de energia final em Portugal, entre 2000/2005, sofreu um aumento de 12%, tendo o consumo de electricidade neste período sofrido um aumento de 19,2%1 . O consumo de electricidade entre 2002 e 2005 cresceu a uma média de aproximadamente 5,7% ao ano. A partir de 2005 verifica-se um abrandamento no crescimento do consumo eléctrico. Em 2006 o aumento foi apenas de 2,6% e em 2007 ainda se registou um aumento mais ligeiro de 1,8%2 . O sector residencial em Portugal é uma das áreas onde o consumo de energia tem crescido consideravelmente, e as previsões mostram que este crescimento continuará. Representa 17% do total da energia final consumida e é o terceiro maior sector de consumo em Portugal, depois da indústria e dos transportes 3 (Figura 1). Um estudo da Rede Eléctrica Nacional (REN) indicou que um kWh poupado em Portugal é dez 1 Ministério da Economia e Inovação. 2008. Energia - Política Energética - Caracterização Energética Nacional - http://www.min-economia.pt/ 2 Rede Eléctrica Nacional. 2007. Dados Técnicos - www.ren.pt 3 Fernandes, Alexandre. 2007. Implementação do sistema energético em edifícios. Seminário Conservação de Energia & Energias Renováveis no Sector Doméstico, Quercus, Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa.
  • 9. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 9 vezes mais barato que um ganho no investimento da produção de energias renováveis4 . Transportes 35% Industria 33% Residencial 17% Serviços 13% Agricultura 2% Figura 1 – Consumo de Energia Final em Portugal, em 2005 (DGEG, Balanço energético 2005) Existe um potencial de economia de energia elevado nas famílias devido à pouca eficiência energética do parque instalado, nomeadamente na iluminação, equipamentos de frio, equipamentos audiovisuais5 e informáticos. Outra área importante para o elevado consumo de energia no sector doméstico é a construção. A qualidade das novas habitações portuguesas é ainda muito baixa, especialmente no que concerne ao seu desempenho energético6 . A falta de fiscalização no sector levou a que os regulamentos existentes fossem frequentemente ignorados ou aplicados de forma deficiente. Em 2006 foi publicada nova legislação7 , muito mais exigente do ponto de vista da construção e da fiscalização, de modo a melhorar a qualidade do parque edificado. 4 Verdelho, P. 2005. Eficiência energética e gestão da procura no contexto da regulação do sector eléctrico. Seminário Conservação de Energia & Energias Renováveis, Quercus, FLAD, Lisboa. 5 ADENE – Agência para a Energia. 2004. Eficiência energética em equipamentos e sistemas eléctricos no sector residencial. 6 DECO – Pro Teste (2005). Casas novas: caras e sem conforto térmico, Pro Teste n.º 254 – Jan. 2005 - p. 8 to 13. 7 Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios (RCCTE) (Decreto-Lei n.º 80/2006, de 4 de Abril) e Regulamento dos Sistemas Energéticos e de Climatização dos Edifícios (RSECE) (Decreto-Lei n.º 79/2006 de 4 Abril).
  • 10. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 10 Na mesma altura foi publicada legislação com vista à certificação energética de edifícios8 , de forma a aumentar a consciencialização e educação dos vendedores e compradores, com vista a uma maior eficiência energética nos edifícios. É crucial informar os cidadãos sobre os aspectos relevantes a ter em conta na compra de uma casa e encorajá-los a procurar e exigir habitações de melhor qualidade. A consciencialização dos consumidores, fornecendo às famílias informação sobre forma de utilização da energia, é essencial para estas conseguirem um consumo mais racional, anulando alguns consumos desnecessários. Também a identificação dos equipamentos ineficientes, e a sua substituição por outros eficientes, é uma medida importante para o aumento da eficiência energética. Desde 2004 a Quercus tem desenvolvido esforços e trabalho no sentido de alertar os consumidores e população em geral para o fenómeno das Alterações Climáticas e sensibilizar para o consumo de energia, através do projecto EcoCasa. No sentido de aprofundar os conhecimentos do sector doméstico com vista à redução do consumo energético, a Quercus desenvolveu em 2005/2006 o programa EcoFamílias, tendo acompanhado um grupo de 30 famílias da Área Metropolitana de Lisboa. Com base na experiência adquirida em 2005/2006, surge o projecto EcoFamílias promovido pela EDP Distribuição e aprovado no âmbito do Plano de Promoção de Eficiência no Consumo de Energia Eléctrica (PPEC) 2007. Este projecto foi alargado a todo o país, de forma a ter uma percepção mais real ao nível nacional do potencial de poupança de energia eléctrica das famílias portuguesas. 8 Decreto-Lei n.º 78/2006 de 4 de Abril, Sistema Nacional de Certificação Energética e da Qualidade do Ar Interior nos Edifícios (SCE).
  • 11. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 11 5. Objectivos O projecto EcoFamílias pretendeu ser um meio de sensibilização dos cidadãos para as questões ligadas ao consumo de energia eléctrica no sector doméstico, através da sensibilização para a redução e racionalização deste consumo. A realização do projecto EcoFamílias surge como forma de aproximação às famílias portuguesas, actuando directamente nas suas habitações, com o objectivo de racionalizar os seus consumos energéticos, através da mudança de comportamentos, sem contudo interferir na sua qualidade de vida. Este projecto teve também como objectivo a divulgação das acções e resultados conseguidos à escala nacional, para potenciar e alargar o alcance do projecto a todas as famílias. Os consumos energéticos ao nível doméstico não são constantes ao longo de um ano devido nomeadamente à variação própria introduzida pelas estações. O EcoFamílias acompanhou 225 famílias residentes em Portugal Continental, durante o ano de 2007. Desta forma, pretendeu-se caracterizar os hábitos de utilização de equipamentos, bem como as necessidades energéticas que são diferentes ao longo do ano, devido às diferenças climatéricas existentes no território nacional. O projecto EcoFamílias contou com a experiência adquirida numa iniciativa da Quercus, entre Novembro de 2005 e Outubro 2006, onde foram acompanhadas 30 famílias na Área Metropolitana de Lisboa. Este projecto representou um alargamento da primeira experiência, envolvendo um número consideravelmente superior de famílias e uma maior cobertura geográfica do território nacional continental. O projecto teve os seguintes objectivos e visou contribuir para:  Caracterizar hábitos de consumos energéticos das famílias portuguesas;  Delinear planos de gestão de procura para as famílias e promover a sua implementação;  Promover a eficiência do consumo energético no sector doméstico, através do aconselhamento directo e personalizado;  Reduzir os consumos das famílias, através do seu acompanhamento directo.
  • 12. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 12 6. Metodologia 6.1 Selecção das Famílias Este projecto teve como objectivo analisar os consumos de famílias pelas diferentes zonas climáticas de Portugal Continental, em 2007, decorrendo em fases distintas ao longo do tempo (Tabela 1). Para obter uma amostra representativa das várias zonas climáticas, 25 famílias por zona, o projecto foi divulgado através da internet, por comunicado de imprensa (Anexo I) e difundido através dos meios de comunicação social, nomeadamente através da RTP, Rádio Renascença e outras rádios e jornais locais. Esta divulgação teve como objectivo a inscrição voluntaria de famílias neste projecto. Tabela 1 – Fases do projecto EcoFamílias Inicio do projecto Selecção das familias Visitas EcoFamílias Instalação de equipamentos Equipamentos de Telemetria Recolha de equipamentos Avaliação do potencial de poupança Relatório Final D i v u l g a ç ã o As inscrições recebidas somaram 350 famílias no total, mas não repartidas de forma igual pelas diferentes zonas climáticas. A adesão ao projecto foi maior nas zonas litorais e menos significativa nas zonas interiores. Nas zonas climáticas cujo número de famílias era inferior ao necessário foi realizada nova divulgação, contactando directamente as Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, Escolas e Associações, para uma maior divulgação local. Os contactos regionais e locais foram realizados via e-mail, fax e por telefone e tiveram maior incidência nas zonas interior Norte e Sul, devido à baixa taxa de participação das famílias. Mesmo assim não foi conseguido o número proposto de 25 famílias em cada zona climática. Para conseguir o número global de 225 famílias foram então aceites inscrições de zonas climáticas já preenchidas com 25 famílias. Nas zonas climáticas com número superior ao pretendido o critério de selecção foi o de conseguir atingir todos os estratos sociais, de forma a ter uma amostra representativa da sociedade portuguesa. Os critérios de selecção escolhidos tiveram por base a informação presente nos dados dos Censos 2001. Nesta segunda fase as famílias foram seleccionadas tendo em conta o número de elementos de agregado familiar, a idade dos elementos, o nível de ensino do casal e número de divisões da casa. Foi também estabelecida alguma colaboração com os Gabinetes de Acção Social e Associações de Solidariedade Social, de modo a angariar famílias de estratos sociais mais baixos, de modo a constituir-se uma amostra representativa da população de acordo com os Censos de 2001.
  • 13. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 13 O universo de famílias do projecto foi então fechado com 225 famílias a nível nacional. No entanto durante as visitas surgiram algumas situações que levaram à necessidade de substituir algumas EcoFamílias, como a indisponibilidade de horários para receber a equipa EcoFamílias, desconfiança por parte das famílias, principalmente as do interior do país que se tinham inscrito através de associações, e desmarcação das visitas no momento. Assim, embora a selecção de famílias tivesse atingido as 225, para efeitos de relatório apenas foram consideradas 206 famílias (Tabela 2). Tabela 2 – Número, composição do agregado familiar e distribuição pretendida das EcoFamílias Código da Zona Climática Zona Climática Composição do Agregado Familiar Número de EcoFamílias Total A I1V1 1Pessoa 2 32 2Pessoas 7 3/4Pessoas 17 5+Pessoas 6 B I1V2 1Pessoa 3 30 2Pessoas 8 3/4Pessoas 14 5+Pessoas 5 C I1V3 1Pessoa 1 24 2Pessoas 6 3/4Pessoas 14 5+Pessoas 3 D I2V1 1Pessoa 3 31 2Pessoas 5 3/4Pessoas 18 5+Pessoas 5 E I2V2 1Pessoa 0 18 2Pessoas 4 3/4Pessoas 11 5+Pessoas 3 F I2V3 1Pessoa 1 22 2Pessoas 4 3/4Pessoas 14 5+Pessoas 3 G I3V1 1Pessoa 0 6 2Pessoas 1 3/4Pessoas 2 5+Pessoas 3 H I3V2 1Pessoa 1 29 2Pessoas 8 3/4Pessoas 18 5+Pessoas 2 I I3V3 1Pessoa 1 14 2Pessoas 2 3/4Pessoas 10 5+Pessoas 1 Número total de famílias 206
  • 14. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 14 A Figura 2 ilustra a distribuição geográfica do universo de EcoFamílias que integraram o projecto. Figura 2 – Distribuição geográfica das EcoFamílias
  • 15. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 15 6.2 Monitorização Neste projecto foram utilizados instrumentos para a medição de consumos eléctricos e registo de valores de temperatura e humidade, dentro de cada habitação. A seguir descrevem-se os instrumentos utilizados, durante as fases de avaliação de consumos e potencial de poupança. Termohigrómetro com registo (data-logger) (Figura 3) – Permite a leitura e o registo de valores de temperatura e humidade, em intervalos pré-definidos, ao longo do tempo, com armazenamento de dados. Foram instalados 82 termo-higrómetros nas casas das Ecofamílias. Figura 3 – Termohigrómetro utilizado na medição e registo dos valores de Temperatura e Humidade em cada EcoFamília. Equipamento de medição local (Figura 4) – O aparelho Energy check permite a leitura de consumos eléctricos em cada tomada, para um ou mais aparelhos; capacidade de leitura e registo até 99 dias, com armazenagem de dados. Foram instalados para medição 300 energy-check. Figura 4 – Instrumento de medição utilizado na medição e registo de consumo de energia eléctrica de equipamentos Instrumento de medição remoto (Figura 5) – Este instrumento permite a telecontagem dos consumos eléctricos em cada disjuntor, enviando os dados por GPRS para uma base de dados central. Esta solução permite a monitorização de equipamentos ligados directamente ao sistema eléctrico da casa, como iluminação de tecto, fornos e placas de fogão eléctricas. Foram instalados 50 equipamentos de medição nas casas das EcoFamílias.
  • 16. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 16 Figura 5 – Instrumento de telecontagem utilizado na leitura a partir do quadro eléctrico. Este equipamento que não estava inicialmente previsto, mas optou-se pela sua aquisição permitindo a análise do potencial de poupança dos electrodomésticos. 6.3 Medições de consumos Durante todo o programa, quer a caracterização dos consumos energéticos, quer a avaliação da redução dos mesmos, foram realizadas medições dos consumos de equipamentos eléctricos de acordo com as acções e ferramentas que a seguir se descrevem. Medição de consumo de equipamentos. Através de instrumentos de medição de consumos eléctricos, quer locais, quer remotos, descritos no ponto anterior (Figura 6). Com este método pretendeu-se obter uma grelha, o mais completa possível, dos consumos reais de cada equipamento para uma avaliação o mais fidedigna possível do potencial de poupança associada à anulação de stand-by e off-power dos equipamentos, troca de lâmpadas e substituição de electrodomésticos. Figura 6 – Medição de equipamentos com Energy Check Registo de níveis de temperatura e humidade relativa, através de termohigrómetros. Estes instrumentos foram instalados geralmente uma sala ou quarto principal. Os valores de temperatura e humidade foram registados em intervalos de 15 minutos. Este intervalo de tempo permite identificar as flutuações de temperatura
  • 17. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 17 dentro de cada divisão e os períodos em que estão ligados os aparelhos de climatização. Com este método pretendeu-se perceber o desempenho das paredes exteriores e superfícies envidraçadas relativamente ao conforto higrotérmico no interior das habitações, relacionando as flutuações de temperatura e humidade ao longo do dia e de acordo com os usos da casa. Registo dos consumos globais de energia. Os consumos globais foram monitorizados através das leituras dos contadores e da análise das facturas de electricidade e gás. Foram também registadas as leituras de consumo de água, por terem implicação directa no consumo de energia, pela necessidade de aquecimento. Dado a distribuição geográfica das famílias foi pedido às famílias registassem as leituras dos seus contadores, na página de internet onde também se disponibilizaram as leituras dos equipamentos de medição remota. Nas famílias sem acesso à internet foi deixada uma folha para registo das leituras de contadores. Figura 7 – Campos de preenchimento de dados dos contadores da base de dados online. Levantamento dos equipamentos eléctricos existentes e hábitos de consumo. Através de um questionário (Anexo II) desenvolvido para o efeito foram identificados todos os equipamentos eléctricos existentes nas EcoFamílias. Para a caracterização dos hábitos de consumo foi solicitado à EcoFamília que identificasse o tempo de utilização de cada equipamento, a permanência ou não dos mesmos em stand-by. Caracterização da Construção. A caracterização da construção é relevante na medida em que o desempenho energético dos edifícios influencia o conforto interior, e determina a necessidade de recorrer à climatização para o garantir. Foi efectuada a análise da solução construtiva adoptada através de um inquérito (Anexo II). Para a caracterização foi ainda feita a medição e verificação da dimensão e espessura das paredes exteriores (materiais seleccionados para os panos de parede e isolamento térmico) e registo da orientação solar das mesmas. As janelas foram caracterizadas pelo registo das suas áreas, orientações solares, forma de sombreamento e tipo de caixilharia e tipo de vidro, adoptados em cada caso.
  • 18. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 18 Caracterização social. Foi elaborado um questionário para a caracterização social das famílias, que não estava inicialmente previsto (Anexo II). 6.4 Recomendações O potencial de poupança energética foi calculado com base nas características dos consumos de:  stand-by  off-power  iluminação  equipamentos de frio  máquinas de lavar roupa e loiça Este projecto teve por objectivo o aumento da eficiência energética por alteração de comportamentos e por isso incidiu mais na redução ou mesmo anulação dos consumos de stand-by e off-power, que pode ser conseguido desta forma. A mudança de hábitos de consumo também pode verificar-se na adesão aos contadores bi-horários, com consequente adequação de planos de gestão da procura. As recomendações sobre aspectos construtivos/conforto higrotérmico foram dadas na ficha de recomendações entregues às famílias. As fichas de recomendação dadas a cada família estão reproduzidas no Anexo IV deste relatório.
  • 19. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 19 7. Caracterização social9 No intenso debate que tem vindo a acontecer nos últimos anos sobre a temática da energia, a inclusão de variáveis sociais que permitam contextualizar e compreender os comportamentos e as opções quotidianas dos cidadãos tendeu a ser esquecida. Em alternativa, o debate manteve-se muito na área das tecnologias e suas potencialidades, persistindo, contudo, a perplexidade perante a não adesão dos cidadãos a soluções consideradas, muitas vezes, como claramente vantajosas em termos ambientais e económicos. Ciente desta lacuna e aproveitando a oportunidade de poder desenvolver o projecto das EcoFamílias a nível nacional, a Quercus decidiu integrar algumas questões básicas que permitem adicionar um pouco de contexto social a um conjunto alargado de dados que são recolhidos no âmbito do projecto. Assim, de seguida é apresentada uma descrição geral de algumas variáveis sociais relevantes para a análise deste tema. Não obstante o esforço realizado no sentido de procurar aproximar a amostra de famílias abrangidas pelo projecto do panorama geral do país (observável através dos dados mais recentes dos Censos 2001), os resultados apontam para um enviusamento significativo em termos de variáveis fundamentais para a temática da energia como são a idade e as habilitações académicas. Da mesma forma, o facto de o projecto abranger 225 famílias, mas de apenas 142 terem efectivamente respondido ao inquérito de caracterização social, reduziu ainda mais esta aproximação à realidade nacional. Esta diferença de inquéritos respondidos, em relação ao número de famílias deveu-se ao facto que muitas vezes não haver disponibilidade de tempo para a realização dos três inquéritos (Social, Equipamentos e Construção). 7.1 Caracterização social Uma análise de algumas das variáveis básicas em termos de caracterização social indica-nos que se verifica uma significativa dispersão das EcoFamílias pelo país, com maior destaque para a região de Lisboa, Porto, Setúbal. A tipologia familiar assume maioritariamente a figura de uma família com filhos (70%), onde ter um (41,4%) ou dois filhos (42,4%) acaba por ser a situação mais comum. Sem filhos são cerca de 14%, muito embora nestas situações possam estar também englobadas famílias em que os filhos já não residem com os pais. A coabitação entre 2, 3 ou 4 pessoas num mesmo espaço acaba por abranger cerca de 85% da amostra 9 Trabalho realizado por Susana Fonseca, Socióloga.
  • 20. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 20 inquirida, sendo a situação mais frequente a primeira (31%). Comparando estes valores com os dos Censos 2001 é possível concluir que existe alguma proximidade, registando-se uma pequena sobre-representação das famílias com 4 ou 5 elementos. Existe uma clara sub-representação das pessoas que vivem sozinhas, que nas EcoFamílias representam pouco mais de 6%, ao passo que em Portugal o valor é de 17%. Esta discrepância não é de somenos importância para esta área, quando se sabe que o aumento dos agregados de menor dimensão tende a representar um desafio significativo em termos de eficiência energética, quando comparados com agregados mais numerosos. Analisando os grupos etários é possível concluir que os mais jovens e os mais velhos se encontram em menor número do que seria de esperar quando se comparam com os Censos 2001 e os grupos etários intermédios (entre os 30 e os 44 anos e entre os 45 e os 65 anos) estão sobre-representados face à realidade portuguesa. No que concerne à ocupação profissional, observa-se um desequilíbrio na amostra em termos de habilitações académicas, onde os grupos com menor escolaridade estão sub-representados, acontecendo o oposto com o grupo dos que se enquadram numa escolaridade de nível superior. De facto, se em Portugal esta categoria não enquadra mais do que 10% da população, na amostra em análise ela ascende a quase metade (46,8%). A comparação noutras categorias torna-se um pouco mais complexa, uma vez que os dados dos Censos contabilizam toda a população e, logo, as crianças, que neste estudo estão excluídas. Assim, os números registados em graus de ensino como o 1º, o 2º e 3º ciclos serão necessariamente mais elevados nos primeiros e menores no segundo. Contudo, a discrepância registada ao nível do ensino superior não é abrangida por este contexto da mesma forma e representa, assim, um elemento fundamental a ter em conta na análise de todas as questões subsequentes, nomeadamente, as referentes a práticas e representações. Como referido, o maior relevo dos níveis de habilitações superiores determina, necessariamente, uma distribuição anormal no que concerne às profissões mais frequentes. Nesta amostra existe uma sobre-representação das profissões intelectuais e científicas (23,2% vs 8,5 nos censos 2001) e das profissões técnicas intermédias (23,9% vs 9,5%), que contrasta com uma clara sub-representação dos trabalhadores da produção industrial e artesãos (2,9% vs 25,5% nos Censos 2001) e dos trabalhadores menos qualificados das áreas da agricultura, indústria e comércio (8% vs 15%). Em geral, o trabalho por conta de outrem abrange uma boa parte da amostra (66%) e o trabalho enquanto principal meio de vida (por oposição a situações como a aposentação ou o desemprego) enquadra quase 70% dos inquiridos. Um factor sempre importante na análise das práticas de promoção da eficiência energética e, particularmente, num contexto em que se pretende promover e incentivar alterações às mesmas, é a propriedade da habitação. Nesta amostra quase 85% das famílias são proprietárias e apenas cerca de 13% são arrendatárias. Ainda que não sejam o factor fundamental, o facto das famílias sentirem que estão a investir num espaço que é seu e sobre o qual têm quase total autoridade e responsabilidade, permite-lhes encarar, com maior naturalidade, a possibilidade de proceder a mudanças de carácter estrutural que podem representar ganhos significativos em termos de eficiência energética. Por último, apresentam-se os dados relativos aos escalões de rendimento das EcoFamílias envolvidas. Esta questão é sempre complicada de aplicar e os resultados
  • 21. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 21 nem sempre espelham a realidade, mas ainda assim foi tomada a decisão de a incluir como variável de caracterização importante para o tema. O escalão que inclui maior número de famílias é o dos 1501-3000 euros mensais (34,5%), seguido do escalão entre 750-1500 euros (21,8%) e do escalão abaixo dos 750 euros (19%).
  • 22. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 22 Tabela 3 – Distribuição das EcoFamílias segundo o rendimento declarado Rendimento Categoria % Menos de 759€ 1 19 Entre 750€ e 1500€ 2 22 Entre 1501 e 3000€ 3 35 Entre 3001 e 5000€ 4 16 Entre 5001 e 10 000€ 5 3 Acima de 10 000€ 6 0,7 NS/NR 99 5 7.2 Práticas ambientais e de eficiência energética Uma análise das práticas ambientais mais frequentes em cada agregado (onde se conjugaram áreas como a energia, a água, os resíduos ou os produtos ecológicos) permite verificar que as relativas à poupança de energia em casa são as que, não só são mais frequentemente executadas, como são as que, no entender dos inquiridos, menor esforço implicam. Há apenas a sublinhar a excepção da área da mobilidade, onde a frequência da troca do transporte individual pelo transporte colectivo ou por andar a pé nas distâncias mais curtas é baixa (ainda que o conjunto das respostas sempre e alguma frequência equivalha a 66%), sendo uma das acções às quais é atribuído um maior grau de esforço para ser realizada (38%) (Tabela 4). Tabela 4 - Práticas ambientais mais frequentes e grau de esforço que lhe está associado Sempre / Algumas vezes (%) Muito esforço / Algum esforço (%) Comprar produtos em embalagens reutilizáveis 52 43 Utilizar transportes colectivos ou andar a pé em curtas distâncias 66 38 Separar os resíduos 84 20 Fechar a torneira quando lava os dentes ou faz a barba 64 16 Comprar produtos amigos do ambiente 62 41 Desligar as luzes quando não são necessárias 89 15 Fechar a água enquanto se ensaboa no duche 63 39 Vestir mais uma camisola para evitar ter que aquecer mais a casa 85 13 Reutilizar água (por exemplo do chuveiro) 30 42 Usar as máquinas da roupa e loiça com carga completa 98 9 Não deixar os aparelhos em stand- by 73 23 Secar a roupa ao ar 96 7
  • 23. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 23 Baixar os estores durante o dia no Verão 90 5 Quanto às razões para se fazer mais ou menos pelo ambiente, existem pequenas diferenças entre aquilo que se imagina que impede os restantes cidadãos de assumir práticas ambientais no seu dia-a-dia, e aquelas que são as razões apontadas para o seu agregado. Contudo, mais do que uma diferença nas razões, regista-se uma diferença na concentração em determinadas razões. Para os outros, o comodismo e a falta de informação surgem destacados enquanto razões para uma menor adopção de práticas ambientais, surgindo de seguida a perspectiva de que as pessoas não pensam nisso. Quando nos aproximamos da esfera individual, ainda que o comodismo e a falta de informação mantenham o seu protagonismo, os valores registados aproximam-se de outras razões como: ser dispendioso, não pensarem nisso ou a falta de apoio institucional à sua implementação. Também é de sublinhar o facto das não respostas subirem para o dobro. 7.2.1 Percepção sobre os gastos energéticos do agregado Criar um contexto onde seja possível trabalhar o tema da eficiência energética e propor alterações nos hábitos quotidianos dos agregados familiares implica, necessariamente, uma consciência clara sobre quais os consumos de energia com maior peso na factura familiar mensal. O desconhecimento dos portugueses sobre a questão energética (como é repetidamente sublinhado pelos dados dos vários inquéritos do Eurobarómetro sobre a matéria) e a dificuldade em lidar com um tema que tem muito de intangível (a energia não se vê e não tem uma utilidade em si, mas antes nos serviços que nos permite desfrutar), pode acarretar dificuldades acrescidas na implementação de medidas de eficiência. Perceber onde estão os maiores consumos dentro de casa é, assim, um primeiro passo para um trabalho em prol da eficiência energética. Neste sentido, as famílias abrangidas por este estudo foram questionadas sobre este tema e os resultados indicam algum desfasamento entre aqueles que são os dados oficiais e a percepção que as famílias têm sobre as áreas com maior peso na sua factura. O que os dados gerais indicam é que é a área do frio que maior peso tem na factura mensal dos agregados familiares (32%) em termos de consumo de electricidade, seguida da área do aquecimento/arrefecimento (17%), da iluminação (12%), do entretenimento (11%) e das máquinas de lavar e secar (10%). A percepção dos gastos energéticos quotidianos parece distanciar-se, em alguns casos de forma significativa, dos consumos reais e dos valores referidos acima. As máquinas de lavar surgem em primeiro lugar seguidas da área do frio. O entretenimento, a climatização e a cozinha surgem em terceiro lugar, registando o mesmo número de respostas. Em suma, quer o frio, quer a climatização, ainda que não nos lugares que lhe cabem em termos dos estudos sobre o consumo de energia nos agregados em Portugal, são percepcionados como áreas com um contributo significativo para a factura mensal. Só o caso da iluminação, incluída nos dados oficiais na categoria dos maiores consumos domésticos, fica de fora do conjunto de situações mais referidas pelos inquiridos (três mais relevantes) (Tabela 5).
  • 24. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 24 Tabela 5 - Comparação da repartição do consumo doméstico de electricidade segundo dados da ADENE10 e as respostas dos inquiridos quando questionados sobre o tema Categoria de consumo Distribuição de consumos (%) Percepção das EcoFamílias no consumo (%) Frio 32 21 Aquecimento e arrefecimento 17 12 Iluminação 12 10 Máquinas de lavar e secar (roupa e loiça) 10 26,5 Entretenimento 9 12 Cozinha (forno e pequenos electrodomésticos) 3 12 Informática 2 5 7.3 As condições de habitabilidade Como já foi referido anteriormente, a componente de aquecimento/arrefecimento pode ter um peso significativo na factura energética dos agregados familiares. A necessidade de recorrer com maior ou menor frequência ao seu uso pode depender de diversos factores, muito embora um dos principais se prenda com as condições da própria habitação. Os resultados do inquérito indicam que as características da casa que mais directamente estão ligadas ao conforto térmico parecem já fazer parte dos requisitos tidos em conta para avaliar um investimento nesta área. O conforto térmico, a qualidade dos materiais e acabamentos, a existência de vidros duplos e a própria ficha técnica da habitação são critérios considerados muito importantes na avaliação de uma casa. Os factores ligados à climatização assumem menor relevo, ainda que o aquecimento central comece a ser referido já com alguma insistência quando se trata de definir as características importantes a considerar no momento de adquirir uma nova casa (63,1%). Este número deve ser olhado com alguma preocupação, principalmente se considerarmos que a existência de ar condiciona acolhe apenas cerca de metade das referências. Considerando o clima ameno de grande parte das regiões do país, e o facto de Portugal ser mais conhecido pelas suas altas temperaturas do que pelas baixas, este padrão de respostas merece uma reflexão mais profunda se o objectivo é contribuir para uma maior eficiência energética do país. Os dados sobre a satisfação com a casa que actualmente possuem, quando esta é avaliada do ponto de vista de variáveis ligadas à eficiência energética, espelham algum descontentamento, uma vez que 60% consideram estar total ou bastante 10 ADENE. Projecto EURECO – Campanha de medições por utilização em 400 unidades de alojamento na União Europeia. 2002.
  • 25. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 25 satisfeitos com o conforto térmico da sua casa e cerca de 50% referem estar nessa mesma situação em relação ao isolamento das janelas. Não se trata de valores muito negativos, mas demonstram claramente que há ainda uma larga margem de intervenção com o objectivo de promover uma maior eficiência energética e uma melhor qualidade de vida. 7.3.1 Disponibilidade para investir Tornar o quotidiano mais eficiente pode implicar a realização de investimentos substantivos, principalmente quando se pretende fazer alterações estruturais, onde muitas vezes os ganhos tendem a ser mais visíveis. No sentido de testar a disponibilidade dos agregados inquiridos para realizarem investimentos que promovam a eficiência energética, estes foram confrontados com alguns dados que lhes apresentavam os ganhos económicos que poderiam ser obtidos se fossem feitos investimentos em determinadas áreas – iluminação, frio, isolamento, vãos envidraçados, climatização, painel solar. De uma forma geral é possível afirmar que as pessoas que já investiram em cada uma destas áreas tende as rondar os 25%, sendo que o valor mais elevado se refere à instalação de janelas duplas e caixilharias (34,5%) e o mais baixo ao isolamento da casa e climatização eficiente (18%). Quanto à disponibilidade para investir durante o próximo ano, a iluminação é a que acolhe mais respostas positivas (55%), seguida da área do frio (36%), da climatização mais eficiente ou limpa (29%), do isolamento da casa (27,5 %) e por último, das janelas duplas e caixilharias (25,4%). Já no que concerne ao painel solar, cerca de 42% dos agregados inquiridos refere ter interesse em investir durante o próximo ano.
  • 26. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 26 8. Caracterização das Habitações O RCCTE – Regulamento das Características de Comportamento Térmico dos Edifícios – divide o território de Portugal em nove zonas climáticas (seguindo os limites de cada concelho) combinando três zonas de Inverno (I) e três zonas de Verão (V), correspondendo a zona I1V1 ao clima mais ameno e a zona I3V3 ao clima mais rigoroso. Incidindo este projecto sobre a eficiência energética e avaliação de consumos, também ao nível das habitações, a caracterização das EcoFamílias está de acordo com estas nove zonas climáticas (Figura 8). Figura 8 – Mapa das zonas climáticas de acordo com o RCCTE (DL 80/2006)
  • 27. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 27 A distribuição das habitações das EcoFamílias quanto ao tipo de habitação é relativamente equilibrada a nível nacional: 53% reside em Moradias e 47% em Apartamentos. Esta distribuição verifica-se na generalidade das zonas climáticas, sendo que nas zonas I1V1, I1V2, I2V2 e I3V2 que tem mais apartamentos que moradias, cerca 40% e 60%, respectivamente. Neste projecto todas as EcoFamílias da zona climática I3V1 residem em Moradias (Figura 9). 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 Apart Moradia Figura 9 – Tipo de habitação das EcoFamílias, por zona climática. A tipologia de habitação mais comum nas EcoFamílias é o T3 (37%), e verifica-se um equilíbrio entre T2 (27%) e T4 (22%) (Figura 10). T0 1% T1 1% T2 28% T3 36% T4 22% >T5 12% Figura 10 – Tipologia das habitações das EcoFamílias
  • 28. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 28 8.1 Caracterização da Construção O programa EcoFamílias, de participação voluntária, não teve como critério de selecção as características construtivas o que originou uma base aleatória, no que diz respeito a estas características. O primeiro RCCTE entrou em vigor em 1991 (Decreto-Lei 40/90 de 6 de Fevereiro), tendo sido revogado pelo Decreto-Lei 80/2006 de 4 de Abril, em vigor desde 1 de Julho de 2007. A aplicação do RCCTE teve implicações na construção dos edifícios ao nível do isolamento da sua envolvente (paredes exteriores, pavimento térreo e coberturas). O isolamento térmico da envolvente da construção influencia a capacidade de resistência à passagem de calor entre o interior e exterior, fundamental para o seu bom desempenho energético. Embora se registe uma melhoria na construção das habitações após 1991, este Regulamento teve uma aplicação deficiente. Apesar das exigências do RCCTE, continuaram a verificar-se anomalias frequentes, tais como pontes térmicas11 e paredes duplas sem tubos de ventilação ou drenagem nas suas caixas de ar12 , que acabam por originar patologias de difícil reparação. É também após a entrada em vigor do RCCTE que aparecem as caixilharias com ruptura térmica13 . A aplicação de vidro duplo e parede dupla torna-se praticamente uma regra a partir desta legislação. A qualidade do isolamento e da caixilharia são dois dos aspectos que foram analisados neste projecto. Quanto melhor isolada termicamente e melhor seja a orientação solar de uma habitação, melhor será o seu desempenho energético e, consequentemente, o conforto do utente. Na caracterização das soluções construtivas foi considerado o ano de construção (informação obtida junto das EcoFamílias) e, sempre que possível, foram recolhidos outros dados pela visita à habitação. Os dados recolhidos passam pela identificação dos sistemas construtivos e materiais utilizados para a envolvente directa em contacto com o exterior (paredes e envidraçados). Nas paredes e lajes pretendeu-se caracterizar os seus constituintes (materiais e isolamento), tipologia de parede (dupla ou simples, por exemplo) e nas superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas), o tipo de vidro e de caixilharia. 11 As pontes térmicas (zonas sensíveis da construção) são responsáveis, na maioria dos casos, pelo aparecimento de condensações ou outras patologias que influenciam o conforto higrotérmico, e normalmente decorrem da má aplicação do material de isolamento ou da sua inexistência. 12 A caixa de ar em parede dupla, é o espaço de ar que fica entre os panos de alvenaria (em tijolo ou outro). Este espaço poderá ser preenchido na sua totalidade ou em parte pelo isolamento térmico. 13 As caixilharias com ruptura de térmica ou corte térmico, são fabricadas de forma a promover uma redução da transmissão térmica entre 40% a 60% o que significa uma optimização no que respeita à conservação de temperatura interior.
  • 29. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 29 Analisando o tipo de paredes exteriores com o ano de construção, verifica-se que a partir da entrada em vigor do RCCTE (1991) há uma melhoria do desempenho térmico destas, verificando-se também um aumento significativo do uso de isolamento térmico (Figura 11). 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% parede simples de pedras/ isolamento parede simples de tijolo s/ isolamento parede simples de tijolo c/ isolamento não id. parede simples de tijolo c/ isolamento xps parede duplade tijolo s/ isolamento parede duplade tijolo c/ isolamento eps parede duplade tijolo c/ isolamento xps parede duplade tijolo c/ isolamento lãmineral parede duplade tijolo c/ isolamento poliuretano parede duplade tijolo c/ isolamento não id. >1991 <1991 Figura 11 – Tipo de parede exterior de acordo com o ano de construção das habitações. Fazendo a mesma análise para as superfícies envidraçadas verifica-se a mesma tendência de melhoria destas, depois da entrada em vigor do primeiro RCCTE (Figura 12). Na análise desta figura chama-se a atenção para a existência de vidros duplos com caixilharia PVC e vidros duplos com caixilharia de alumínio com corte térmico em habitações construídas antes de 1991, facto que se deve a situações de reabilitação.
  • 30. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 30 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Vidro simples com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro simples com caixilho de alumínio comcorte térmico Vidro simples com caixilho de madeira Vidro simples com caixilho de PVC com corte térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio comcorte térmico Vidro duplo com caixilho de madeira Vidro duplo com caixilho de PVC sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de PVC com corte térmico >1991 <1991 Figura 12 – Tipo de envidraçados de acordo com o ano de construção das habitações.
  • 31. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 31 8.1.1 Paredes exteriores As alvenarias dos nossos dias são muito diferentes das construídas há alguns séculos na construção tradicional. As paredes exteriores dos edifícios, desde que concebidas e executadas de acordo com os códigos e regras construtivas adequados, são capazes de desempenhar um papel resistente e higrotérmico apropriado, mesmo quando sujeito a condições adversas. O avanço da tecnologia e dos processos construtivos permite que hoje a parede seja constituída por um conjunto de camadas justapostas de materiais distintos, desempenhando cada uma delas a sua função, de modo a que a parede resultante dê resposta a todos os requisitos construtivos exigidos, de forma o mais racional e económica possível. A transmissão de energia entre o exterior e o interior é um factor determinante no desempenho energético do edifício seja qual for o sistema de climatização, daí que a primeira decisão a tomar seja a escolha do sistema construtivo da envolvente da construção que deverá ser adequada ao clima do lugar em que se insere. Assim, as diferenças construtivas entre os elementos analisados ocorrem por diversas razões entre elas a zona do território (norte, sul e centro, interior e litoral do país), factores climáticos e data de construção da habitação. Numa parede dupla com isolamento térmico no seu interior, apenas é aproveitada parte da inércia térmica, tornando-se necessário corrigir as pontes térmicas. Este facto traduz-se numa maior área de isolamento e, consequentemente, no aumento da espessura da parede, peso da estrutura e fundações, tornando a solução mais dispendiosa. Para o seu bom desempenho, é também fundamental que exista uma caixa de ar bem ventilada (através de pequenos furos para favorecer a ventilação e drenagem). Por oposição, o sistema construtivo composto por parede simples com isolamento térmico pelo exterior faz um maior aproveitamento da inércia térmica, e não possui pontes térmicas, traduzindo-se numa solução menos dispendiosa. A tipologia de parede exterior mais comum nas habitações das EcoFamílias é composta por parede dupla de tijolo com isolamento térmico (62%), este facto é justificado por se tratar de construções posteriores a 1991 (ano de aplicação do primeiro RCCTE). Esta situação está de acordo com os resultados obtidos no inquérito social, em que 60% das famílias consideram estar total ou bastante satisfeitos com o conforto térmico da sua casa.
  • 32. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 32 4% 19% 1% 1% 12% 39% 9% 3% 1% 10% 1% parede simples de pedra s/ isolamento parede simples de tijolo s/ isolamento parede simples de tijolo c/ isolamento não id. parede simples de tijolo c/ isolamento xps parede dupla de tijolo s/ isolamento parede dupla de tijolo c/ isolamento eps parede dupla de tijolo c/ isolamento xps parede dupla de tijolo c/ isolamento lã mineral parede dupla de tijolo c/ isolamento poliuretano parede dupla de tijolo c/ isolamento não id. parede tripla de pedra+ tijolo c/ isolamento xps Figura 13 – Tipo de parede e isolamento existente nas habitações das EcoFamílias A identificação do tipo de isolamento térmico utilizado foi feita com base no testemunho das famílias que em alguns casos acompanharam a construção da habitação, ou recorrendo à ficha técnica da habitação (elemento relevante na aquisição de habitação). Nem sempre foi possível confirmar a sua natureza. O tipo de isolamento mais utilizado é o poliestireno expandido (EPS), seguido do poliestireno extrudido (XPS), lã mineral e por fim poliuretano. O poliestireno expandido (EPS)14 vulgarmente conhecido como esferovite, é uma espuma termoplástica, tal como o XPS. É um material celular e que se apresenta no mercado com múltiplas formas e funções, sendo a sua aplicação na construção civil extraordinariamente variada. A sua principal vantagem é a baixa condutibilidade térmica15 (U-value) apresentada. 14 O poliestireno expandido ou EPS é um material rígido que apresenta uma estrutura assente em esferas cheias de ar produzidas através de vapor de água. 15 Condutibilidade térmica é a capacidade que uma substância possui para transmitir calor por condução. É geralmente simbolizada com a letra K ou então denominada U-value.
  • 33. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 33 O poliestireno extrudido (XPS)16 , é muito utilizado actualmente na construção civil, por possuir, um baixo índice de condutibilidade térmica7 (U-value), o que o torna muito resistente às trocas térmicas, favorecendo a conservação da temperatura no ambiente interior. Possui ainda uma excelente resistência às acções mecânica e ambientais, sendo largamente utilizado nas chamadas “coberturas invertidas” em que o isolamento térmico se encontra por cima da impermeabilização. A manta de lã de rocha é um material de isolamento térmico flexível, leve e de muito fácil instalação. A lã de rocha, além de bom isolante térmico é também um excelente isolante acústico, e ainda incombustível, resistente à água, não corrosiva e não é atacada por sais nem por ácidos. É muito utilizado para isolar paredes ou na impermeabilização de lajes. Na análise do tipo de parede exterior com as zonas climáticas, ao contrário do que seria de esperar as construções não se encontram adaptadas às especificidades climáticas locais (Figura 14). O tipo de parede com pior comportamento térmico aparece nas zonas climáticas mais rigorosas, mas são também nestas zonas que residem as EcoFamílias de classes de rendimento mais baixas, o que pode influenciar estes resultados. 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% parede simples de pedra s/ isolamento parede simples de tijolo s/ isolamento parede simples de tijolo c/ isolamento não id. parede simples de tijolo c/ isolamento xps parededupla detijolo s/ isolamento parededupla detijolo c/ isolamento eps parededupla detijolo c/ isolamento xps parededupla detijolo c/ isolamento lã mineral parededupla detijolo c/ isolamento poliuretano parededupla detijolo c/ isolamento não id. paredetripla depedra + tijolo c/ isolamento xps I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 Figura 14 – Tipo de parede exterior de acordo com a zona climática 16 O poliestireno extrudido ou XPS é uma espuma homogénea rígida de poliestireno, obtida por um processo de extrusão em contínuo, que se apresenta sob a forma de placas de cor azul ou rosa.
  • 34. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 34
  • 35. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 35 8.1.2 Superfícies envidraçadas (janelas e portas envidraçadas) Através das superfícies envidraçadas ocorrem as maiores trocas térmicas. De um modo geral, traduzem-se em ganhos térmicos no Verão e perdas térmicas no Inverno. A orientação solar dos envidraçados é também um factor importante em termos térmicos e em termos de iluminação, condicionando o conforto interior. A energia acumulada é influenciada pela intensidade da radiação solar incidente na superfície envidraçada, da sua área e do seu factor solar17 . Em Portugal, o quadrante Sul é o mais favorável para os ganhos térmicos uma vez que recebe radiação solar directa ao longo do dia. No quadrante Norte a iluminação é constante mas é também o quadrante onde não se registam ganhos térmicos e existem perdas térmicas, uma vez que não recebe radiação solar directa. No quadrante Este, durante o período da manhã ocorrem os ganhos térmicos, período em que recebe radiação solar directa. A Oeste os mesmos ganhos ocorrem durante o período da tarde, devido ao “movimento aparente” do Sol. A utilização de vidros duplos, preferencialmente de baixa emissividade18 , com caixilharias com corte térmico, pode reduzir até 50% das perdas térmicas pelas janelas, assim como o ruído do exterior. Importa frisar que, por exemplo, cerca de 15% da energia utilizada para aquecimento e arrefecimento de uma habitação é perdida através de frinchas existentes em caixilharias mal vedadas ou empenadas. A caracterização das superfícies envidraçadas das habitações das EcoFamílias foi feita tendo em conta o tipo de vidro e caixilharia existente. Ao analisar as superfícies envidraçadas existentes, e tal como já foi mostrado na Figura 12, verifica-se que a maioria é composta por vidro duplo (os envidraçados possuem 52% vidro duplo e 48% possuem vidro simples). Estes resultados estão relacionados com o facto de, a partir de 1991, o RCCTE estabelecer a sua obrigatoriedade (embora nem sempre se verifique) e por se tratar de uma medida relativamente simples, face a outras, na área da construção, que melhora significativamente o conforto térmico do edifício. Esta situação está de acordo com os resultados obtidos no inquérito social, em que 50% das famílias consideram estar total ou bastante satisfeitos situação em relação ao isolamento das janelas. Em relação ao material da caixilharia verificou-se que a maioria é em alumínio (71% de alumínio; 19% de madeira; 10% PVC) (Figura 15). Verifica-se também que a caixilharia em madeira tem entrado em desuso provavelmente devido ao seu 17 O factor solar de um envidraçado é o quociente entre a energia que o atravessa e a radiação solar que nele incide. 18 A emissividade mede a capacidade de um corpo em emitir energia. Os vidros de baixa emissividade possuem a característica de reduzir a transferência de calor, proporcionando um elevado isolamento térmico.
  • 36. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 36 comportamento térmico e, principalmente porque empenam com o uso e a idade, com os respectivos inconvenientes associados, tanto na abertura e fecho das janelas. 30% 1% 15% 2% 19% 21% 4% 4% 4% Vidro simples com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro simples com caixilho de alumínio com corte térmico Vidro simples com caixilho de madeira Vidro simples com caixilho de PVC com corte térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio com corte térmico Vidro duplo com caixilho de madeira Vidro duplo com caixilho de PVC sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de PVC com corte térmico Figura 15 – Tipo de envidraçados existentes nas habitações das EcoFamílias Ao analisar o tipo de vidro e o tipo de caixilho verificamos que a maior percentagem (21%) corresponde a envidraçados compostos por vidro duplo com caixilharia em alumínio com corte térmico, seguido dos envidraçados compostos por vidro duplo com caixilho de alumínio simples (19%). Verifica-se que as melhores soluções de tipos de vidro e caixilho, analisado em função da zona climática, encontram-se nas zonas onde o clima é menos rigoroso (Figura 16). Este facto pode ser motivado por uma maior preocupação com o conforto interior ou devido às EcoFamílias destas zonas climáticas pertencerem a classes de rendimento mais elevadas.
  • 37. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 37 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% Vidro simples com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro simples com caixilho de alumínio comcorte térmico Vidro simples com caixilho de madeira Vidro simples com caixilho de PVC com corte térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de alumínio comcorte térmico Vidro duplo com caixilho de madeira Vidro duplo com caixilho de PVC sem corte térmico Vidro duplo com caixilho de PVC com corte térmico I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 Figura 16 – Tipo de envidraçado de acordo com a zona climática. 8.1.3 Protecção solar A protecção solar é quase sempre imprescindível para se poder tirar partido da nossa maior fonte de energia – o Sol. Esta pode ser conseguida por exemplo, através de estores ou portadas, pelo lado exterior do vidro. Os raios solares ao atingirem directamente o vidro geram o chamado "efeito de estufa": atravessam o vidro e vão aquecer a habitação, sendo depois impedidos pelo mesmo de voltarem a sair. Uma vez aquecida a massa de ar interior, o calor só se perde à noite, quando a temperatura exterior é inferior à interior19 , pois o fluxo de calor através do vidro verifica-se sempre da temperatura mais alta para a mais baixa. Em termos de ganhos e perdas térmicas, existem diferenças entre proteger os envidraçados pelo exterior ou pelo interior. Uma janela protegida pelo interior do vidro deixa passar mais 20% a 30% da radiação solar para o seu interior, do que uma protegida pelo exterior. Este facto pode ser vantajoso no Inverno, mas no Verão pode conduzir a um sobreaquecimento do interior, e a um consequente aumento do gasto de energia em sistemas de climatização para o frio. No entanto, no que diz respeito a 19 O fluxo de calor, neste caso através do vidro, verifica-se sempre da temperatura mais alta para a mais baixa.
  • 38. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 38 perdas térmicas, uma janela a Norte com sombreamento pelo exterior, pode deixar perder mais calor durante a noite do que uma protegida por estores interiores, o que igualmente, poderá conduzir a um aumento de gasto de energia em sistemas de climatização para aquecer no Inverno. Das habitações analisadas, 78% apresenta protecção pelo interior e exterior, maioritariamente com recurso a estores no exterior e cortinados no interior. Os estores podem ser úteis para alcançar o conforto interior desde que se faça um correcto uso deles. A protecção pelo interior representa 12% das EcoFamílias, seguido de 6% de protecção pelo exterior (Figura 17). 12% 2% 6% 78% 1% 1% Protecção pelo interior Protecção entre janelas Protecção pelo exterior Protecção pelo interior e exterior Protecção interior e entre janelas Nenhum tipo de protecção Figura 17 – Localização do protecção solar nas habitações das EcoFamílias.
  • 39. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 39 8.1.4 Orientação Solar De acordo com a análise efectuada no que diz respeito à envolvente das habitações (paredes exteriores e superfícies envidraçadas), todas as orientações solares são contempladas, existindo um relativo equilíbrio nessa distribuição. Esta orientação é dada pela orientação da fachada com maior área envidraçada (Figura 18). 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% I1V1 I1V2 I1V3 I2V1 I2V2 I2V3 I3V1 I3V2 I3V3 O SO S SE E NE N NO Figura 18 – Orientação solar por zona climática. A orientação Norte deve ser evitada porque é neste quadrante que ocorrem grandes perdas térmicas e não existem ganhos, uma vez que não recebe radiação solar directa, independentemente da altura do ano e do dia. Isto significa que no Inverno, os gastos de energia para manter a temperatura de conforto aumentam e pode ser necessário recorrer a iluminação auxiliar durante o dia. A orientação Sul, como já foi referido, é a que apresenta maior potencialidade para o aproveitamento do Sol. A incidência da radiação solar neste quadrante pode ser controlada na sua totalidade com o recurso a estores, portadas, palas de sombreamento horizontais ou outros elementos de sombreamento, uma vez que o Sol, consoante a estação do ano, apresenta diferentes ângulos de incidência solar. A Nascente e a Poente, a entrada de raios solares através das superfícies envidraçadas é de difícil controlo. O período da manhã é aquele em que se regista a incidência solar directa a Nascente e quando ocorrem os ganhos térmicos. O mesmo se verifica a Poente mas no período da tarde. Nestas orientações os raios solares
  • 40. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 40 atingem uma inclinação quase perpendicular ao vidro, o que dificulta a sua protecção de outro modo que não seja a total. Assim, recomenda-se que no Verão se protejam os envidraçados no período da manhã a Nascente, podendo desprotege-los no período da tarde, promovendo também a ventilação dos compartimentos. A Poente os envidraçados devem ser protegidos no período da tarde. Durante o Inverno dever-se-á fazer o processo inverso de modo a promover os ganhos solares e minimizar as perdas térmicas
  • 41. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 41 9. Caracterização de Equipamentos eléctricos e Iluminação Tal como descrito no capítulo da Metodologia, a recolha de dados foi efectuada através dos inquéritos de identificação e utilização dos instrumentos de medição de consumos locais e remotos e também pelo registo das leituras dos contadores de electricidade, gás e água. Através do inquérito de levantamento dos equipamentos eléctricos existentes foram identificados 170 equipamentos diferentes nas EcoFamílias. A Figura 19 mostra a taxa de presença dos equipamentos nas EcoFamílias. Nesta análise não foram considerados os equipamentos presentes em menos de 10% das EcoFamílias, por não se considerar como presença significativa.
  • 42. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 42 0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100 Antenainterior Aparelhagem Aquecedorelectrico ArCondicionado Arca Aspirador Calculadora Caldeira Colunas Combinado Computador Descodificador Despertador Desumidificador DVD Esquentadoragás Exaustor FerroEngomar Forno Frigorifico Impressora Irradiadoraoleo MaquinaCafé Maquinaloiça MaquinaRoupa Maquinasecar Microondas Placa Portátil PS rádio Router Secador Telefone Televisão Termoventilador Torradeira Ventoinha Video Ventoinha Video Taxadepresença(%) Equipamentos Figura 19 – Taxa de presença dos equipamentos nas EcoFamílias.
  • 43. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 43 Pela análise da Figura 19 verifica-se que equipamentos como fogão, frigorífico/combinado, máquina de lavar roupa existem em todas as EcoFamílias e 85% das famílias possuem micro-ondas. Outros equipamentos como computador estão presentes em cerca de 70% das famílias abrangidas por este programa. Os equipamentos identificados foram agrupados nas seguintes categorias:  Água Quente Sanitária (AQS)  Climatização  Cozinha  Entretenimento  Frio  Iluminação  Informática e Telecomunicações  Máquinas e Outros Na medição de consumos eléctricos, foram caracterizados 653 equipamentos no total das 206 EcoFamílias, numa média de 3 equipamentos por EcoFamília. A medição de alguns aparelhos apresentou algumas dificuldades. O caso dos electrodomésticos encastrados, sistemas de aquecimento e caldeiras, em que não se consegue ter acesso às fichas de electricidade dos mesmos, foi uma condicionante às medições efectuadas em várias habitações. A opção de colocar numa parte das habitações instrumentos de mediação nos disjuntores foi precisamente para ultrapassar esta dificuldade. No entanto, muitos dos quadros eléctricos encontrados estão mal estruturados, tendo muitos circuitos no mesmo disjuntor. Assim, em vez de medições de apenas um equipamento obteve-se uma medição simultânea de vários equipamentos, o que não ajudou a uma caracterização pormenorizada em muitos casos. Os equipamentos de entretenimento (televisão, DVD, vídeo-gravador, etc.) estão todos ligados à mesma tomada, que se encontra por trás de móveis, o que tornou por vezes a sua medição impraticável. Em alguns casos ainda assim foi possível medir os equipamentos mas apenas em conjunto. Houve também casos em que se assumiu medir alguns equipamentos em conjunto, por se verificar que existiam em quase todas as casas, como por exemplo um conjunto composto por uma televisão, DVD, aparelhagem de som e descodificador de televisão (vulgarmente conhecido por powerbox). Na fase de validação, algumas medições foram ainda rejeitadas. Para além disso, existiram medições que não foi possível considerar devido a problemas com os dados dos instrumentos de medição local e remoto, o que condicionou uma caracterização mais completa das famílias. A leitura dos contadores de algumas EcoFamílias também não foi possível, devido ao facto de alguns se encontrarem fechados, apenas acessíveis para os técnicos das empresas. Dado que se optou pela inserção, por parte das famílias, dos dados dos contadores numa base de dados online, há algumas falhas de registo, existindo mesmo famílias que não existem valores das contagens. Nas famílias sem acesso à internet foi entregue uma folha para o registo das leituras, mas muitas das famílias não os registaram. Como se pode verificar pelas situações descritas, a implementação do programa EcoFamílias no terreno teve que transpor algumas dificuldades e ajustar-se em alguns momentos às situações que iam surgindo. Desta experiência resulta que os dados
  • 44. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 44 recolhidos em cada EcoFamília apresentam diferenças, quer em termos de qualidade, quer em quantidade. 9.1.1 Consumos totais de electricidade Na Figura 20 apresenta-se a repartição dos consumos de electricidade com base nos consumos eléctricos dos equipamentos medidos. No caso da iluminação e climatização, o valor apresentado foi calculado através da potência e tempo de utilização referido pelas famílias, por não ter sido possível medir. Entretenimento 6% Informática 7% Máquina de lavar loiça 7% Máquina de lavar roupa 9% Arca 10% Frigorífico 14% Climatização 9% Iluminação 8% Não medido 30% Figura 20- Distribuição dos consumos de electricidade pelas categorias. Os equipamentos de frio (frigoríficos/combinados e arcas) medidos representam a maior fatia de consumo (24%). As máquinas de lavar loiça e roupa representam 16% do consumo total. Os equipamentos não medidos incluem aparelhos de ar condicionado, electrodomésticos encastrados, equipamentos eléctricos de aquecimento de águas sanitárias e pequenos electrodomésticos. Muito próximo da categoria Frio, estão em conjunto as categorias de Iluminação, Entretimento e Informática representam cerca de 21% do consumo total das EcoFamílias. Estas são as categorias onde este projecto vai incidir mais na alteração de comportamentos para a eliminação de consumos de stand-by e off-power e substituição de lâmpadas. A análise dos equipamentos eléctricos foi feita por categorias, visto terem sido realizadas medições individuais e por grupo de equipamentos. A compreensão desta distribuição de consumos é fundamental para a mudança de comportamentos. A comparação da repartição dos consumos das famílias (Figura 20) com a percepção que estas têm dos mesmos (Tabela 5), permitiu verificar que há alguma concordância no que concerne à área do frio e mesmo da climatização. Já em
  • 45. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 45 termos das áreas da iluminação e das máquinas de lavar observa-se uma subvalorização no primeiro caso e o efeito contrário no segundo. De sublinhar, é ainda o facto dos consumos reais medidos nas EcoFamílias comprovarem a percepção que os inquiridos têm sobre o peso que o consumo das máquinas de lavar (roupa e loiça) tem nas despesas mensais do agregado, o que não acontece quando comparamos com os dados oficiais. Esta aparente incoerência poderia levar a uma interpretação que apontasse para uma incorrecta percepção dos inquiridos sobre as áreas de maior consumo de electricidade no seu agregado, quando o que se verifica é que as medições registadas nas EcoFamílias, dão origem a padrões de consumo diferentes dos registados entre a população portuguesa em geral. Tal situação não será de estranhar, face às diferenças sublinhadas no capítulo da caracterização social em variáveis tão relevantes para este tema, como são o grau de habilitações, a idade ou a ocupação profissional. A área da iluminação é aquela onde a distância entre os dados reais relativos à população portuguesa ou os dados recolhidos nas EcoFamílias e a percepção do consumo é maior, isto quando analisamos as principais categorias de consumo. 9.1.2 Água Quente Sanitária Na Tabela 6 encontram-se os equipamentos presentes nas EcoFamílias, para o aquecimento da água. Tabela 6 – Tipo de Equipamentos da categoria de Águas Quente Sanitária presentes nas EcoFamílias Categoria Esquentador Termoacumulador Caldeira a gás Caldeira a gasóleo Painel solar Tipo de Equipamento AQS Nas EcoFamílias, ainda prevalece o gás como fonte de energia para aquecimento de águas, quer através de esquentadores, como caldeiras (Figura 21). Gás 81% Eléctrico 6% Lenha 1% Renováveis 6% Gasóleo 6% Figura 21 – Distribuição das várias formas de energia para AQS, nas EcoFamílias
  • 46. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 46 O gasóleo apresenta um peso significativo, 6%, estando na mesma proporção que a energia eléctrica e energias renováveis. 9.1.3 Climatização Na Tabela 7 apresentam-se os equipamentos presentes nas EcoFamílias, para o aquecimento e arrefecimento das habitações. Tabela 7 – Tipo de equipamentos da categoria Climatização presentes nas EcoFamílias Categoria Acumulador de calor Desumidificador Aquecedor infra-vermelhos Escalfeta Aquecimento central eléctrico Irradiador a óleo Ar condicionado Termoventilador Lareira eléctrica Ventoinha Aquecimento central a gás Aquecedor Catalítico Aquecedor de halógeneo Aquecimento central a gasóleo Braseira eléctrica Lareira a lenha Tipo de Equipamento Climatização Os equipamentos eléctricos são mais utilizados pelas EcoFamílias, sendo o irradiador a óleo o equipamento mais presente (30%), seguido dos equipamentos de ar condicionado (18%). Figura 22 – Equipamentos de climatização (ar Condicionado e lareira com recuperador de calor) Analisou-se a presença de equipamentos de climatização por escalão de rendimentos e verifica-se que o escalão médio de rendimento – escalão 3 – tem um maior número de famílias com equipamentos de climatização, e com maior variedade de tipos de equipamentos (Figura 23).
  • 47. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 47 O menor número de equipamentos de climatização na classe de rendimentos superior pode ser justificado pelas melhores soluções construtivas das habitações, o que implica uma menor necessidade de utilização destes equipamentos. 0 20 40 60 80 100 120 1 2 3 4 5/6 99 Númerodefamílias Classe de rendimento Irradiador óleo Aquecedor infra-vermelhos Ar Condicionado Termoventilador Aquecimento Central a gás Ventoinha Desumidificador Acumulador de calor Escalfeta Aquecedor catalítico Aquecimento Central Gasóleo Braseira Lareira Lareira electrica Aquecedor halogéneo Fogão a lenha Emissor térmico Econo-heat Aquecimento central a Electricidade Figura 23 – Presença dos vários tipos de equipamentos de climatização existente nas EcoFamílias, por escalão de rendimento.
  • 48. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 48 9.1.4 Cozinha Os equipamentos eléctricos presentes numa cozinha são muitos variados, com características e funções muito diferentes (Tabela 8). Tabela 8 – Tipo de equipamentos da categoria Cozinha presentes nas EcoFamílias. Categoria Batedeira Máquina de café Espremedor de citrinos Máquina de Pão Exaustor Micro-ondas Placa a gás Picador de gelo Forno eléctrico Placa eléctrica Fritadeira eléctrica Torradeira Grelhador eléctrico Tostadeira Jarro eléctrico Varinha mágica Robô Picadora Cafeteira Máquina de sumos Liquidificador Base para comida quente Bimby Chaleira Fiambreira Fogão com placa electrica Forno a gás Placa de indução Iogurteira Máquina de batidos Máquina de cozer a vapor Misturadora Panela eléctrica Patusca Placa vitrocerâmica Cozinha Tipo de Equipamento No que respeita aos electrodomésticos de cozinhar a placa a gás continua a ter muito maior peso (82%) do que as eléctricas (Figura 24) No caso do forno existe uma maior presença de fornos eléctricos nas casas das EcoFamílias (69%). Forno electrico 69% Forno a gás 31% Placa a gás 82% Placa eléctrica 18% Figura 24 – Percentagem de placas e fornos a gás e eléctricos As medições de consumos nas cozinhas apresentam algumas dificuldades por diversas razões, entre as quais electrodomésticos encastrados ou ligados directamente à instalação eléctrica da casa (por exemplo, forno eléctrico e exaustor).
  • 49. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 49 Dos pequenos electrodomésticos apresentados na Tabela 8 o mais comum, e também o mais utilizado, é o micro-ondas, estando presente em cerca de 85% das EcoFamílias.
  • 50. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 50 9.1.5 Entretenimento Na análise do tipo de equipamentos de Entretenimento (Figura 25) existentes nos lares das EcoFamílias, verificou-se que 99% têm pelo menos um aparelho de televisão, sendo que uma família não possui este equipamento por opção e a outra possui um videoprojector. Outros equipamentos como DVD ou aparelhagem de som, são comuns nas EcoFamílias, encontrando-se em 80% e 64 % das famílias, respectivamente. Nesta categoria estão ainda incluídos equipamentos como o descodificador de televisão (vulgarmente conhecido por powerbox) ou consolas, num total de 29 tipos de equipamentos (Tabela 9). Figura 25 – Equipamentos de entretenimento Tabela 9 – Tipo de equipamentos de Entretenimento presentes nas EcoFamílias. Categoria Amplificador Vídeo Aparelhagem de som DVD Leitor de CDs Porta CD Descodificador Rádio Sist. de som panorâmico Auscultadores sem fios Consola Satélite Adaptador TV Televisão Gira-Discos Adaptador PS LCD Antena Interior Plasma Karaoke PlaySation Leitor ipod Subwoofer Projector Transmissor Receptor Comando Volante PS Transformador Video Entretenimento Tipo de Equipamento
  • 51. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 51 Do consumo dos equipamentos medidos verificou-se que nas EcoFamílias os aparelhos de entretenimento apresentam grandes variações de consumos: entre os 3 e os 822 kWh/ano, numa média de cerca de 223 kWh/ano (Figura 26), que corresponde em média a 6% do consumo total de electricidade. Analisando ainda o gráfico os resultados nesta categoria, concluiu-se que o consumo total destes aparelhos não é semelhante em famílias do mesmo escalão de rendimento. 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1(B09) 1(G06) 1(H21) 1(I02) 2(A02) 2(A25) 2(D01) 2(D09) 2(D11) 2(D12) 2(D22) 2(F02) 2(F16) 2(H08) 2(I08) 3(A11) 3(A26) 3(B34) 3(B36) 3(C04) 3(C15) 3(C16) 3(D15) 3(D21) 3(D26) 3(F07) 3(F18) 3(H25) 3(H33) 4(A07) 4(B21) 4(E08) 4(E10) 4(E24) 4(F11) 4(F12) 4(F15) 4(I20) 5(A38) 5(D23) 99(F10) Consumo(kWh/ano) EcoFamília Figura 26 – Consumo dos equipamentos de Entretenimento (kWh/ano) nas EcoFamílias, por escalão de rendimento. Através da análise dos dados de consumo eléctrico medidos nestes equipamentos foi possível verificar que cerca de 65% evidenciam a existência de consumo off-power ou de stand-by. Equipamentos como as aparelhagens de som e os leitores de DVD e vídeo são normalmente fontes de consumos off-power. Uma outra análise neste grupo foi a influência da potência dos aparelhos no consumo total de electricidade. Assim, analisou-se grupo de equipamentos com a mesma constituição, tendo sido possível nas EcoFamílias A11, A26 e A38. Na análise do grupo constituído por televisão, DVD e Aparelhagem verifica-se que o consumo mais elevado é no conjunto com maior potência e não no que apresenta mais horas de consumo (Figura 27).
  • 52. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 52 0 100 200 300 400 500 600 0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000 3(A11) 3(A26) 5(A38) Consumo(kWh/ano) horas/ano EcoFamília Tempo (horas/ano) Consumo (kWh/ano) Consumo instantâneo (W) Figura 27 - Comparação entre o número de horas de utilização e o consumo médio por mês do grupo de entretenimento constituido por televisão, DVD e Aparelhagem. 9.1.6 Informática e Telecomunicações Os equipamentos informáticos (Figura 28) têm um peso crescente nos lares portugueses. Reflexo disto é o facto de 70% das EcoFamílias possuírem computador. Figura 28 – Equipamentos de informática Os computadores fixos estão presentes em 62% das famílias e os portáteis em 19%. Nesta categoria foram identificados 21 equipamentos diferentes nesta categoria (Tabela 10). Tabela 10 – Tipo de equipamentos da categoria Informática e Telecomunicações existentes nas EcoFamílias
  • 53. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 53 Categoria Calculadora Impressora Carregador de telemóvel Modem Colunas Monitor Computador pessoal Multifunções Computador portátil Scanner Sintetizador Telefone Fax Carregador máquina fotográfica Carregador de pilhas Router Disco externo UPS Transformador Webcam USB com placa de rede Tipo de Equipamento Informática e Telecomunicações Das medições realizadas nesta categoria, não se encontrou uma relação entre os rendimentos da família e o consumo deste tipo de equipamentos. Como se pode verificar pela Figura 29, o consumo destes equipamentos é muito variável entre famílias, dependendo muito da utilização que cada uma faz destes equipamentos (trabalho ou lazer). Os consumos nesta categoria variam de 48 a 3.202 kWh/ano, representando um peso médio de 7% da factura total de electricidade. 0 500 1000 1500 2000 2500 3000 3500 2(B16) 2(D08) 2(D22) 2(E01) 2(E17) 2(F02) 2(F14) 3(A18) 3(A19) 3(A20) 3(A23) 3(B15) 3(B18) 3(B20) 3(C08) 3(C13) 3(C17) 3(D15) 3(E28) 3(F08) 3(F25) 4(A03) 4(A32) 4(C01) 4(C27) 4(E08) 4(E10) 4(F03) 4(F11) 4(I20) 5(A38) 5(F19) 99(B11) Consumo(kWh/ano) EcoFamília Figura 29 – Consumo eléctrico da categoria Informática (kWh/ano) nas EcoFamílias Em cerca de 76% das medições realizadas verificou-se a existência de consumos off- power e/ou stand-by num ou mais equipamentos. Fazendo a análise individual dos equipamentos verificou-se a existência de consumos off-power em computadores, multi-funções e colunas de som.
  • 54. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 54 9.1.7 Iluminação Na categoria Iluminação foram identificados 6 tipos de lâmpadas nas EcoFamílias (Tabela 11). Tabela 11 – Tipo de equipamentos de Iluminação presentes nas EcoFamílias. Categoria Lâmpada de halogéneo Lâmpada fluorescente compacta Lâmpada fluorescente Lâmpada incandescente LED Néon Tipo de Equipamento Iluminação Na iluminação (Figura 30) identificou-se a utilização, ainda predominante, das lâmpadas incandescentes, representando 46% do total de lâmpadas caracterizado (Figura 31). Outro facto que se verifica na iluminação é uma cada vez maior utilização das lâmpadas de Halogéneo (22%) e lâmpadas fluorescentes compactas (22%), o que significa uma melhoria ao nível da eficiência energética relativamente à utilização das lâmpadas incandescentes. As lâmpadas fluorescentes encontrando-se principalmente nas cozinhas (10%). Duas EcoFamílias, já optaram em algumas zonas da casa por LEDs, e uma possuía Néons. Figura 30 – Iluminação de halogéneo
  • 55. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 55 Lâmpadas de halogéneo 22% LED 0,33% Lâmpadas incandescentes 46% Néon 0,07% Lâmpada fluorescente compacta 22% Lâmpada fluorescente 10% Figura 31 - Percentagem de presença dos vários tipos de lâmpadas nas EcoFamílias Nesta categoria foram poucas as medições que se conseguiram realizar, visto a iluminação ser predominantemente de tecto. Na contabilização total da Iluminação existente numa habitação, os candeeiros de secretária, de sala ou de quarto, têm pouco peso (13% do número total de lâmpadas). Da análise da iluminação existente nas EcoFamílias verificou-se que a potência média das lâmpadas incandescentes é de 43 Watts (W) e a das lâmpadas de Halogéneo é de 59W. No caso das lâmpadas fluorescentes, a potência média é de 27W e a das lâmpadas fluorescentes compactas é de 13W. O número médio por quarto nas EcoFamílias é de 3 lâmpadas. Na análise da Iluminação verifica-se que em praticamente todas as EcoFamílias ainda existe uma presença significativa das lâmpadas incandescentes, em todos os escalões de rendimento (Figura 32). Nestes casos, o potencial de redução de consumo pela troca por lâmpadas fluorescentes compactas, poderá ser elevado, dependendo do tempo de utilização das mesmas.
  • 56. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 56 0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 1 2 3 4 5/6 99 Númeromédiodelâmpadas Classe de rendimento LH LF LFC LI Figura 32 – Número médio e tipo de lâmpadas existentes por EcoFamília, por escalão de rendimento. Relativamente às lâmpadas de halogéneo verifica-se que também têm uma presença muito forte nas habitações (22%), em parte devido à construção, com a sistematização de tectos falsos com iluminação de Halogéneo embutida, mas também devido aos fabricantes de candeeiros, que apostaram fortemente nos candeeiros para estas lâmpadas. Pela análise da Figura 32 verifica-se um aumento do número de lâmpadas fluorescentes compactas com a classe de rendimento. Na categoria de Iluminação foram cruzados os dados de tempo de utilização com o consumo das lâmpadas (Figura 33). Em termos de utilização das lâmpadas verifica-se que as lâmpadas fluorescentes de 36 W são as mais utilizadas. Verifica-se também que apesar de uma utilização elevada dos LED de 2W, o consumo associado a este é muito baixo. 0 10 20 30 40 50 60 0 200 400 600 800 1000 1200 1400 1600 1800 Consumomédio(kWh/ano) tempo médio (h/ano) Lâmpada de Halogéneo 50 Lâmpada de Halogéneo 55 Lâmpada fluorescente 18 Lâmpada fluorescente 36 Lâmpada fluorescente compacta 11 Lâmpada fluorescente compacta 15 Lâmpada incandescente 25 Lâmpada incandescente 40 Led 1,3 Led 2
  • 57. Projecto EcoFamílias – Relatório Final Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza 57 Figura 33 – Consumo médio e tempo de utilização médio por tipo de lâmpada As lâmpadas de halogéneo apresentam um consumo elevado, relativamente ao número de horas de utilização. O potencial de poupança destas lâmpadas pode ser significativo se substituídas por lâmpadas fluorescentes compactas.