Apresentação sobre as infecções do trato urinário na gestação, abordando aspectos epidemiológicos, os agentes etiológicos mais comuns, fisiopatologia, patogênese, tipos clínicos, diagnóstico clínico e laboratorial, exames complementares, tratamento e prognóstico. Realizada na disciplina de Obstetrícia, na Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Campus Macaé.
3. INTRODUÇÃO
Definição
“A infecção do trato urinário (ITU) caracteriza-se pela
invasão e multiplicação de micro-organismos nos rins e nas
vias urinárias.”
“... abrange uma variedade de entidades clínicas, incluindo bacteriúria
assintomática (BUA), cistite, prostatite e pielonefrite”
(FIGUEIRÓ-FILHO, et.al – 2009)
(HARRISON MEDICINA INTERNA – 18ª Ed)
“ ... presença e replicação de bactérias no trato urinário, provocando danos
aos tecidos do sistema urinário. No entanto, durante a gravidez, o
entendimento desta definição deve ser ampliado, considerando-se os riscos
potenciais de complicações decorrentes da bacteriúria assintomática (BA)”
(DUARTE, et. al. - 2008)
4. ITU NA GESTANTE
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Presente em 5-20% das gestações;
Importante
fator
de
morbimortalidade;
Agravante no prognóstico da
gestante e do concepto;
Preocupação !!! maior incidência +
restrição terapêutica e profilática;
Tipos
Clínicos:
bacteriúria
assintomática, cistite, uretrite ou
pielonefrite;
Mudanças fisiológicas e anatômicas
na gestante;
5. FISIOPATOGENIA
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CAUSAS E “FATORES DE RISCO”
Infecção por microorganismos: E.coli (80%),
Staphylococcus saprophyticus, Klebsiella,
Proteus e Enterococcus;
Diabetes;
Idade avançada;
Retenção urinária;
Catéter urinário;
Incontinência fecal;
Cálculos renais;
Gravidez;
Próstata aumentada, estreitamento de uretra ou
qualquer coisa que bloqueie o fluxo da urina;
Cirurgia ou outro procedimento que envolva o trato urinário.
6. FISIOPATOGENIA
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MUDANÇAS
GESTANTE
E
ANATÔMICAS
NA
Dilatação das pelves renais e do ureter:
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FISIOLÓGICAS
“hidroureter fisiológico da gravidez”: aumento no diâmetro da
luz ureteral, hipotonicidade e hipomotilidade da musculatura
ureteral:
decorre da compressão pelo útero, pelo complexo vascular
ovariano dilatado ao nível do infundíbulo pélvico, pela
hipertrofia da musculatura longitudinal no terço inferior do
ureter e diminuição da atividade peristáltica decorrente da
atividade da progesterona;
Hidroureter:
do débito urinário +
do fluxo plasmático
renal = estase urinária.
Capacidade renal em concentrar a urina:
•
Redução da atividade antibacteriana da urina.
7. FISIOPATOGENIA
MUDANÇAS
GESTANTE:
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FISIOLÓGICAS
E
ANATÔMICAS
NA
Meio apropriado para a proliferação bacteriana;
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a
da concentração da urina reduz sua atividade antibacteriana;
da excreção de glicose e aminoácidos e da excreção de K;
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pH urinário + alcalino: favorece a proliferação bacteriana;
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Hiperestrogenismo:
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da síntese da estrogênio e progesterona;
da adesão das cepas de E.coli (adesinas tipo I) às células
uroepiteliais.
8. Infecção do
Trato Urinário
na Gravidez
Formas Clínicas,
Epidemiologia, Fatores de
risco, Manifestações
Clínicas e Diagnóstico
10. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA
Definição
A BA caracteriza-se pela colonização bacteriana do trato urinário e, como
a própria terminologia indica, não apresenta nenhuma manifestação
clínica, necessitando de suporte laboratorial microbiológico para sua
caracterização
Epidemiologia
Incide em 2 a 11% das gestantes, dependendo da população estudada
Mais frequente em multíparas
A gravidez não aumenta o risco de bacteriúria assintomática
Aumenta o risco de parto prematuro, baixo peso ao nascer e morte
perinatal, se não tratada
A gravidez aumenta em 30% a 40% o risco de progressão para
pielonefrite devido às alterações fisiológicas da gestação. Após
tratamento adequado a incidência de pielonefrite cai para 3%, com um
terço de recorrência
Aproximadamente dois terços dos casos de pielonefrite ocorrem em
gestantes que apresentaram bacteriúria assintomática previamente
Baixo índice de cura espontânea (ao contrário das não gestantes)
Pode ser persistente em um terço dos casos
11. BACTERIÚRIA ASSINTOMÁTICA
Diagnóstico
Duas uroculturas consecutivas com mais de 100.000
colônias/mL de urina, com um único tipo de bactéria
em gestante assintomática.
*Triagem - Testes rápidos:
teste do nitrito e o da esterase
de leucócitos
uroanálise microscópica
Coloração de amostra urinária pelo Gram
12. Uretrite
Definição
O acometimento uretral por bactérias ou microrganismos com
potencial patogênico, causando infecção.
Epidemiologia
50% das mulheres acometidas por esta complicação
apresentam bacteriúria não significativa (<100.000
colônias/mL de urina)
30%, os urocultivos são negativos.
20% das pacientes sintomáticas apresentam urocultivo
com mais de 100.000 colônias/mL de urina.
Principais agentes etiológicos: Chlamydia trachomatis e
Mycoplasma hominis.
O potencial de invasibilidade destes microrganismos no
trato urinário é baixo, explicando a baixa freqüência da
associação com estes microrganismo
14. CISTITE
Definição
Como cistite entende-se a infecção que compromete a bexiga
urinária (considera-se ITU baixo)
Epidemiologia
Incidência na gestação: 1% a 2%
Sem envolvimento renal em 94% dos casos
Raramente evolui para pielonefrite
Taxa de recorrência: 17%
Diagnóstico e Manifestações Clínicas
Bacteriúria significativa associada com sintomas do trato urinário
baixo: Tenesmo vesical,Disúria, desconforto suprapúbico,
polaciúria, urgência miccional, hematúria macroscópica e urina
de odor desagradável.
Ausência de manifestações sistêmicas
Associação de sintomatologia típica com urocultura positiva
Número de colônias necessárias para diagnóstico pode ser menor
(1000 colônias/ml de uma única bactéria)
Vários agentes: pode nessecitar de cistoscopia
15. PIELONEFRITE AGUDA
Definição
Infecção da pelve ou parênquima
renal, acompanhada de sintomas
locais e sistêmicos.
A pielonefrite é a forma mais
grave de ITU em gestantes
Epidemiologia
Incidência na gestação: 1% a 2%
Principal agente infectante: E. coli
Dois terços dos casos ocorrem após bacteriúria assintomática
não tratada ou tratada de forma inadequada
A maioria dos casos ocorre nos dois primeiros trimestres da
gestação, especialmente no segundo
Risco parece ser levemente maior em nulíparas
20% a 25% das gestantes evoluem com alterações de múltiplos
órgãos
De forma geral, a pielonefrite associa-se aos piores prognósticos
maternos e perinatais
16. PIELONEFRITE AGUDA
Manifestações Clínicas
Sintomas sistêmicos: Febre elevada, calafrios, lombalgia,
náuseas, vômitos, mal estar geral. dor no flanco (uni ou
bilateral) ou abdominal, anorexia, náuseas e vômitos,
freqüentemente associados a graus variáveis de
desidratação, calafrios, cefaléia
Sintomas do trato urinário baixo podem ou não estar
presentes
Alterações hematológicas, especialmente anemia
Disfunção renal, incluindo insuficiência renal aguda
Alterações pulmonares como taquipnéia (insuficiência
respiratória – SARA)
Choque séptico
Diagnóstico
Clínico
Sumário de urina
Urocultura com antibiograma (Padrão-Ouro)
17. Exames Complementares
Hemograma
com contagens globais e
diferenciais de glóbulos brancos
uréia e creatinina
ecografia de rins e vias urinárias
19. COMPLICAÇÕES PERINATAIS
Trabalho de parto prematuro: PLA2,
PGE2d,
contrações uterinas;
CIUR: contrações uterinas
trocas placentárias;
RN baixo peso;
Rotura da membrana prematura:
infecção leva a produção de PGs
(via PLA e PLC, IL-1, TNF);
proteases bacterianas
(p.ex. colagenases) reduzem
a resistência;
Paralisia cerebral ou retardo
mental: 17,9% dos casos;
Óbito perinatal: 2x da
mortalidade fetal observada
em gestações normais
20. COMPLICAÇÕES MATERNAS
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30% das gestantes c/ bacteriúria assintomática
desenvolve cistite;
50% das gestantes c/ bacteriúria assintomática
desenvolve pielonefrite;
Outras
manifestações:
pré-eclâmpsia,
anemia
hemolítica, corioamnionite, endometrite;
Outras menos frequentes: abscesso, celulite
perinefrética, obstrução urinária;
Também pode ocorrer no pós-parto, sobretudo
naquelas gestantes que apresentavam bacteriúria
assintomática pré-parto.
21. COMPLICAÇÕES MATERNAS
PIELONEFRITE:
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Normalmente, ocorre por lesão
endotelial causada por endotoxinas;
60-75% no 3º trimestre;
2-8% ocorre Insuf. Resp: edema pulmonar por
da permeabilidade capilar;
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•
Exacerbado pelo uso de tocolíticos (indutor do parto)
ou hiper-hidatração;
IR transitória em 25% dos casos;
25. Pielonefrite
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
Internação;
Hidratação com Ringer Lactato 2000 a 2500 ml;
Iniciar
antibioticoterapia
após
colher
urinocultura com antibiograma;
Utilizar Cefalotina 1g EV, 6/6h;
Continuar com medicação oral, de acordo
com antibiograma;
Ausência de resposta clínica após 48-72h: trocar
o antibiótico de acordo com a sensibilidade;
Substituir empiricamente por cefalosporina de 3ª
geração;
26. 7.
Utilizar Ceftriaxona 1 a 2g/dia. Pode-se associar
aminoglicosideo (Gentamicina 1,5mg/kg, não
excedendo 240mg/dia). Manter por 5 dias pós
resposta terapêutica;
6.
Pesquisar fatores predisponentes.
28. BIBLIOGRAFIA
1- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
Formulário terapêutico nacional 2008: Rename. Brasília: Ed. Ministério da Saúde; 2008.
2- BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Pré-natal e puerpério:
atenção qualificada e humanizada: manual técnico. Brasília, DF: Ministério da
Saúde, 2006.
3- DUARTE, G; MARCOLIN, AC; CUNHA, SERGIO. Infecção Urinária na Gravidez: Avaliação
dos Métodos para diagnóstico e do Tratamento. Revista Brasileira de Ginecologia e
Obstetrícia, 2002; 24 (7): 471-477.
4- HEILBERG, IP; SHOR, NESTOR. Abordagem Diagnóstica e Terapêutica na Infecção do Trato
Urinário. Rev Assoc Med Bras 2003; 49(1): 109-16
5- DUARTE G, MARCOLIN AC, QUINTANA SM; CAVALLI RC. Infecção Urinária na Gravidez.
Revista Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia. 2008; 30(2):93-100.
6- Atenção à Saúde da Gestante na Atenção Primária à Saúde. Grupo Hospitalar
Conceição, Porto Alegre, RS, 2011.