O documento descreve uma pesquisa sobre alfabetização conduzida em uma escola pública de São Paulo. A pesquisadora observou uma turma do 2o ano com dificuldades em leitura e escrita. A professora usava métodos tradicionais de cópia e memorização, mas a turma melhorou. A pesquisadora conclui que é preciso usar práticas sociais de escrita para dar sentido à alfabetização.
2. Projeto de Iniciação Científica:
Leitura e Escrita na perspectiva escolar atual:
Uma vivência no Projeto Bolsa Alfabetização
3. Resumo
Este trabalho tem como objetivo verificar como é
tratada a alfabetização nos anos iniciais de
escolarização, bem como identificar algumas
situações didáticas eficazes para o aprendizado dos
alunos. Para o estudo da rotina de leitura e escrita no
âmbito escolar, além da pesquisa bibliográfica, foi
realizada uma pesquisa de campo qualitativa em uma
Escola Estadual de Ensino Fundamental do Estado de
São Paulo, ligada ao projeto Bolsa Alfabetização.
4. Caracterização da Escola Pesquisada
Escola Estadual Joaquim Nabuco
A escola localiza-se na Zona
Norte de São Paulo,
pertencendo à Diretoria de
Ensino Centro. Atende alunos do
1º ao 5º ano do Ensino
Fundamental, totalizando 660
alunos, 57 professores e 4 alunas
pesquisadoras.
5. Caracterização Geral da Pesquisa
A classe observada foi o 2º ano B, do período da manhã de
2012, composta por 34 alunos matriculados com 8 anos de
idade e 2 alunos com NEE (Deficiências Múltiplas e
Síndrome de Down) com 10 anos de idade. Cerca de 10
alunos da turma apresentam dificuldades com relação à
leitura e escrita e a indisciplina é constante, talvez devido à
falta de planejamento prévio da professora.
6. Hipóteses de Leitura e Escrita - 2º B
08/02/12 09/04/12 01/06/12 12/09/12
Pré-Silábico 26 10 5 3
Silábico sem valor sonoro 4 4 4 1
Silábico com valor sonoro 1 16 2 3
Silábico alfabético 0 2 13 2
Alfabético 0 0 8 19
7. Dados Coletados
A professora seleciona dos diferentes livros didáticos,
atividades variadas e mistura os métodos, desde atividades de
cartilhas antigas, que priorizam as sílabas, como também
atividades que envolvem cantigas, parlendas, bilhetes e o
próprio estudo da língua (gramática), porém, ao invés de
trabalhar com os livros dos alunos, passa atividades na lousa,
para que eles realizem a cópia. Para que tenha alguma
utilidade didática, a cópia tem de ser ressignificada pelos
professores, não pode apenas cumprir o papel de encher o
caderno do aluno ou ocupar o tempo deles. A cópia tem de
ter um significado para ser produtivo.
8. Dificuldades encontradas
A classe é muito heterogênea, apresenta problemas
de indisciplina constante, o que dificulta o
trabalho em sala de aula.
Os alunos chegaram sem conhecimentos nenhum
sobre a língua escrita no 2º ano, o que fez com
que a professora mudasse o foco para conseguir
alfabetizá-los antes de dar os temas propostos
para o 2º ano.
9. Intervenções da Professora
Como os alunos chegaram quase todos pré-silábicos, a
professora acabou trabalhando de forma mais tradicional com
eles, para garantir a alfabetização da turma, porém, pecou nas
intervenções. Em poucos momentos ela fez trabalhos em
grupos/duplas, e quando questionada, não intervia de modo a
fazer o aluno pensar, refletir, acabava dando a resposta.
Os momentos de leitura também não foram significativos, não
havia leitura diária e sabemos que o professor é o modelo a ser
seguido para o aluno adquirir as competências leitoras e
escritoras.
17. Resultados da Pesquisa
Mesmo com todas as dificuldades encontradas, com o
modo de trabalho tradicional da professora regente, a
classe avançou de forma muito significativa.
Porém, o que fica evidenciado é que a alfabetização ainda é
tratada como antigamente: cópia e memorização.
Desta forma, o aluno está sendo alfabetizado apenas para
continuar na escola e dar sequência aos ciclos escolares e
não para desenvolver as competência leitora e escritora
para usar socialmente.
18. A escola precisa criar um ambiente alfabetizador de fato e propor
situações de práticas sociais de uso das escritas para que a
aprendizagem tenha sentido. Ensinar os diferentes gêneros como
cartas, bilhetes, receitas, contos e até mesmo o e-mail, que são
objetos comuns da cultura escrita, é a forma mais fácil de colocar o
aluno em contato com o que é realmente escrever. Neste momento,
os alunos têm a oportunidade de mostrar o que aprenderam, quando
podem dialogar com a realidade.
Segundo Ferreiro (2009, p.39): “As crianças – todas as crianças,
garanto – estão dispostas para a aventura da aprendizagem
inteligente.” Se o professor souber conduzir a aprendizagem e intervir
de forma a acrescentar conhecimentos úteis aos alunos, todos eles
serão capazes de participar da cultura letrada, cultura esta que desde
a Educação Infantil já deve ser facilitada para as crianças.
19. Depoimentos da equipe gestora sobre o
Aluno Pesquisador
Segundo a direção, “a cada ano que passa as pesquisadoras
ficam melhores, cada vez mais participativas e envolvidas
com o trabalho na sala de aula”. A coordenadora e a
professora regente da sala pesquisada concordam: “foi o
melhor projeto que o governo ‘inventou’, pois além da
experiência que a pesquisadora ganha, a sala de aula flui
melhor com a presença de duas pessoas dando suporte aos
alunos”.
20. Considerações finais:
Por que participar do projeto?
Participar do Projeto Bolsa Alfabetização possibilitou-me
crescimento como profissional, pois pude observar as
dificuldades e os sucessos anônimos que acontecem dentro
da sala de aula. Acompanhar o avanço dos alunos durante um
ano letivo é muito prazeroso, principalmente quando você
contribui para isso. É uma experiência única, que todos os
estudantes de licenciaturas, em geral, deveriam passar, pois
com certeza, as práticas docentes melhorariam em grande
escala e os alunos aprenderiam muito mais.
21. Bibliografia
FERREIRO, Emília. Reflexões sobre alfabetização. Coleção Questões da
Nossa Época – Volume 14. São Paulo. Editora Cortez, 2001.
FERREIRO, Emília. Passado e presente dos verbos ler e escrever. Coleção
Questões da Nossa Época – Volume 95. São Paulo. Editora Cortez, 2009.
GARCIA, Marisa. Programa Bolsa Alfabetização. FDE – disponível em
http://lereescrever.fde.sp.gov.br/SysPublic/InternaBolsaAlfabetizacao.as
px?alkfjlklkjaslkA=270&manudjsns=1&tpMat=0&FiltroDeNoticias=3
22. LER E ESCREVER: Guia de Planejamento e Orientações Didáticas;
Professor Alfabetizador – 2º ano (1ª série) – Volume 1. São Paulo. FDE.
2010.
LERNER, Delia. Ler e Escrever na Escola: O real, o possível e o necessário.
Porto Alegre. Editora Artmed, 2002.
LERNER, Delia. La investigación didáctica en el marco de la formación
docente inicial – Palestra proferida na FDE em 28/09/2012.
ORIENTAÇÕES CURRICULARES DO ESTADO DE SÃO PAULO: Língua
Portuguesa e Matemática – ciclo I. Secretaria da Educação. São Paulo.
FDE. 2008
23. RODRIGUES, Almir Sandro, SILVA, Ana Tereza Reis da, PARIZ, Josiane
Domingas Bertoja e Triches, Natalina. Teorias da Aprendizagem. Curitiba.
Editora IESDE BRASIL S/A, 2005.
WEISZ, Telma. Alfabetizar no contexto da cultura escrita. Revista Nova
Escola. Edição 251 página 35. Disponível em
http://revistaescola.abril.com.br/fundamental-1/telma-weisz-fala-
alfabetizacao-escolas-publicas-ultimas-decadas-683815.shtml