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Uma Noiva Para Papai                                    Leandra Logan
Casa das Noivas 5




                  Uma Noiva Para Papai
                            Leandra Logan

                Este Livro faz parte de um projeto
             sem fins lucrativos e de fãs para fãs. A
                   comercialização deste produto é
                           estritamente proibida.


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Casa das Noivas 5




                       Anteriormente na Casa das Noivas...

                               Casa das Noivas em Sídnei.
                                   A loja e as pessoas...


                           Uma nova filial da cadeia Casa das
                            Noivas em Sídnei, Austrália, não é
                        nenhuma surpresa. Mas um novo ramo da
                            família DeWilde é certamente uma
                                  descoberta chocante!
                          Natasha Pallas alcançou seu objetivo, e
                            conseguiu devolver uma das jóias
                          desaparecidas à coleção dos DeWilde.
                         No caminho, ela também se apaixona por
                        Ryder Blake, o poder e a energia por trás
                             da Casa das Noivas australiana.


                         De posse do valioso bracelete, Nick Santos
                                dirige-se a Londres e a outro
                              surpreendente segredo DeWilde!




                                                                               2
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       Querido Gabe,

      Este é só um bilhete para informá-lo de que estarei chegando de Paris na
próxima quarta-feira, ansiosa para assumir meu novo e humilde cargo na loja de
Londres.
       Em circunstâncias ordinárias estaria contando com uma banda e um motorista
uniformizado esperando por mim no aeroporto. Mas ainda tenho a intenção de provar
meu talento de estilista sem a interferência da família e, portanto, será um prazer ir
para casa sozinha. Dê lembranças minhas a todos os parentes e peça a eles para, por
enquanto, ignorarem minha existência!


       Sua prima,


       Tessa.




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Casa das Noivas 5

       CAPÍTULO I



      - Não entendo por que veio se instalar neste apartamento apertado
quando dispunha de todas as ruas de Londres para escolher. - Gabriel
DeWilde parecia chocado enquanto despia a capa de chuva. - Tessa, isso é
excentricidade demais, mesmo para você!
      Tessa Montiefiori sorriu com tolerância carinhosa enquanto via o
primo pendurar a capa no cabide atrás da porta. Adiara aquela visita ao seu
apartamento durante quase dois meses, sabendo que seu modesto estilo de
vida chocaria Gabe, mas essa noite de domingo havia sido o limite para ele.
Gabriel telefonara para dizer que estava indo para sua casa e desligara
antes que ela pudesse protestar.
     - Oh, Gabe, gostaria de ter cobrado um centavo por cada vez que me
chamou de excêntrica nesses anos todos!
      - Mas desta vez você conseguiu superar-se – ele insistiu, seguindo-a
até a pequena sala de estar. - Fingir que é uma estilista principiante e
esconder-se sobre o nome Jones, quando faz parte da família... Podemos
colocá-la num cargo de chefia na Casa das Noivas amanhã mesmo, se quiser!
Agora que sou o diretor executivo da filial londrina, posso nomeá-la gerente
de vendas da loja. Seria uma alegria tê-la...
       - Gabe, você já fez esse discurso há seis semanas, quando tudo
começou. Meus sentimentos não mudaram. Se puder vender meus vestidos
para o público e a crítica especializada sem revelar que faço parte da
família, provarei que meu talento é verdadeiro. Não quero que os
empregados da loja o acusem de nepotismo. Não acha que este é o desafio
mais criativo que já enfrentei?
       Gabe suspirou. Tessa estivera afastada desde que deixara a
universidade, três anos atrás. Começara ocupando modestas posições nas
lojas de moda da Costa Oeste americana, e depois tornara-se aprendiz de
um famoso estilista francês em Paris. Fora visitá-la nos dois lugares, sempre
na esperança de convencê-la a ir trabalhar na filial londrina da cadeia
familiar.. Finalmente ela havia concordado, mas impusera suas condições.
      - Para dizer a verdade, Tessa, quando anunciou que estava voltando
para casa, esperava ouvi-la dizer que ocuparia seu lugar na Casa das Noivas,
como cabe a um membro da família. Pensei que houvesse superado sua fase
experimental!




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      - Não é uma fase! Pretendo enfrentar novos desafios e testar meus
conhecimentos em situações inusitadas até o fim da vida! É isso que
preserva o frescor de um profissional.
       - Receber salários modestos e viver nesta pensão disfarçada de
edifício é desnecessário e inconveniente. - Gabe examinou o ambiente. As
paredes estavam descascadas, o piso de madeira não tinha brilho, e as
cadeiras que faziam conjunto com o sofá deviam ter escapado da última
guerra.
      - Este é o cenário perfeito para uma simples balconista - ela
protestou teimosa. - Além do mais, gosto daqui. Afinal, por que está criando
confusão agora, quando falta tão pouco para a realização do meu concurso?
      - É exatamente no concurso que estou pensando. Ainda há tempo para
anunciar quem realmente é, antes de encarar a imprensa amanhã. Todos os
grandes jornais estarão cobrindo a entrega do pacote de núpcias da Butique
Experimental.
      - Este é o momento para o qual venho trabalhando há meses, Gabe.
Sonho com a chance de exibir um dos meus vestidos de noiva e provar meu
talento.
      - Pense no constrangimento que vai enfrentar se alguém descobrir
que é uma Montiefiori.
      - Ninguém descobrirá. Não moro em Londres há anos, desde que fui
mandada para aquela escola na Suíça. Naquela época era uma pessoa
diferente, cheia de gordurinhas infantis e com cabelos curtos e retos.
Aquela imagem de moleque desapareceu.
     Gabe não podia desmenti-la. A figura esguia e os cabelos longos, de
um tom único entre o louro e o vermelho, eram o retrato da feminilidade.
      - A farsa chegará ao fim dentro de alguns dias - ela continuou com
tom animado. - A publicidade gerada pelo concurso trará o reconhecimento
do meu talento. Então poderei revelar minha identidade.
       - Mesmo que o resultado não seja tão bom quanto imagina?
       Otimista por natureza, Tessa nem pensara nessa possibilidade.
       - Sim, creio que sim. - Ela encolheu os ombros. - Se as coisas não
acontecerem como espero, terei de reavaliar minha posição. Talvez siga para
a loja de Nova York e assuma o nome Smith - sugeriu brincando.
      Gabe riu e olhou pela janela do segundo andar. Mesmo à luz fraca do
entardecer, podia constatar que a vizinhança era agradável, apesar de
modesta. Jardins floridos adornavam a entrada das casas do outro lado da


                                                                         5
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rua, e gramados bem cuidados ocupavam os canteiros de algumas
construções muito antigas, porém bem preservadas.
        - De quem é esta casa, afinal?
        - De uma viúva encantadora. - Tessa sorriu. - A sra. Mortimer
transformou a mansão em quatro apartamentos há muitos anos, por razões
financeiras e para ter companhia, também. Ela é adorável! Trata os
inquilinos como se fossem seus parentes.
        - Era tudo que você queria - ele provocou.- Mais parentes.
      De fato, os familiares eram muitos entre os DeWilde e os
Montiefiori. Mas a mãe de Tessa falecera num acidente aéreo quando ela
era apenas um bebê, e a sra. Mortimer satisfazia aquela espécie de carência
por afeto maternal.
      - Gostaria que pudesse ficar satisfeito com minha volta, Gabe, e que
apoiasse meu plano, mesmo sendo incapaz de aprová-lo.
        Ele a encarou com um sorriso carinhoso.
      - Pode contar comigo. Não vim aqui só para reclamar. Quero ver o
vestido que está mantendo sob segredo.
        - Pensei que nunca pediria!
       Tessa aproximou-se da área de trabalho junto à janela e afastou os
painéis da cortina japonesa que escondiam um manequim. O corpo de plástico
sustentava sua criação, um lindo vestido branco composto por um corpete de
renda com decote reto abaixo dos ombros e uma saia ampla de crepe da
China.
      Os olhos de Gabe brilharam, repletos de aprovação. A paixão de
Tessa pela vida e a coragem para assumir riscos refletiam-se em seu
trabalho.
        - É fabuloso! Muito inovador. Exatamente o que procuramos para a
loja.
        Tessa ficou mais. animada e começou a descrever a criação.
       - Vê estas pequenas pregas na cintura? Não acha que elas criam a
ilusão de múltiplas camadas na saia?
        E o que achou do bordado delicado nos ombros?
      - Você é uma verdadeira mestre nos detalhes. Tenho certeza de que
conquistará a fama com esse desenho.
      - De repente ele se virou para a cozinha. - Estou sentindo cheiro de
ensopado?


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       Tessa franziu o nariz numa expressão concentrada.
       - Sim, é ensopado. -
      - Não me diga que aprendeu a cozinhar! – Ignorando o protesto da
prima, ele invadiu a cozinha e destampou as panelas que encontrou sobre o
fogão. - Não há nada aqui!
     -É claro que não. O cheiro que está sentindo vem do ensopado da sra.
Mortimer. O apartamento dela fica bem embaixo do meu.
       - Mas... é como se ela estivesse cozinhando aqui!
      - Estamos numa construção muito antiga, Gabe. Os sons e os aromas
ultrapassam os limites frágeis de portas, janelas e paredes.
      - Felizmente, neste caso o cheiro é delicioso – Gabe comentou ao
retornar da cozinha. - Ela deve ser uma excelente cozinheira.
      - Oh, sim, e muito generosa, também. Basta alguém tocar a campainha
e a sra. Mortimer já começa a preparar o café. Temos um acordo, sabe? Eu
costuro suas roupas e limpo a escada entre os nossos apartamentos e, em
troca, ela me alimenta ocasionalmente. Ei, tenho uma idéia! Se quiser ser
Gabe Jones, primo de uma pobre balconista desconhecida, posso convidá-lo
para jantar.
       - Lianne está me esperando em casa.
       - Nós a convidaremos também. Ela será a sra. Jones.
      - Sabe de uma coisa, Tessa? Você é a mulher mais irritante que já
conheci! - Ele riu.
      - É um prazer atormentá-lo. Tem sido difícil comportar-me
adequadamente na loja e manter uma distância formal. É a única falha do
meu plano perfeito.
       Gabe viu Tessa contornar o manequim, verificando o comprimento da
saia com o auxílio de uma fita métrica, removendo alfinetes com a prática
que só a experiência pode conferir. Era uma mulher linda e graciosa, e já
devia ter encontrado outro homem para atormentar além do primo. Não
conseguia acreditar que ninguém houvesse se apaixonado por ela. Por outro
lado, só um homem especial seria capaz de lidar com o gênio inovador e
excêntrico de Tessa e ainda corresponder aos seus elevados padrões. Ela
encarava a vida de frente, de forma corajosa e apaixonada, e o gosto por
tudo que fugia ao convencional podia afastar a maioria dos homens. Por mais
que se entendessem, e apesar da certeza de ser seu primo favorito, Gabe a
sentira escapando de sua esfera de influência ao longo dos últimos anos.
Tessa era, sem dúvida, senhora do próprio destino. Só um homem forte e


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confiante sustentaria um romance com uma mulher tão determinada e
independente. É claro que tudo seria diferente se ela se interessasse por
alguém. O pobre escolhido não teria a menor chance de escapar! Gabe coçou
o queixo numa atitude distraída. Quanto mais pensava em Tessa apaixonada,
mais gostava da idéia. Ela precisava de um marido, um homem sólido e
confiável que pudesse aparar suas asas e fazê-la pousar os pés no chão
gradualmente, sem assustá-la. Estava tão feliz desde que se casara com
Lianne no último verão, que só desejava que todos no mundo desfrutassem
da mesma plenitude.
       - Em que está pensando?
       A voz de Tessa o assustou.
      - Oh, eu... estava apenas refletindo. Com o passar dos anos, serei cada
vez menos necessário em sua vida.
     - Pobrezinho! Acontece que preciso de sua ajuda neste exato
momento. - Ela riu. - Venha me ajudar com a fita métrica, sim?
       Gabe aproximou-se do vestido com cuidado quase reverente.
       - O que quer que eu faça?
      - Segure a ponta da fita bem aqui. - Ela mostrou a cintura do vestido,
onde o crepe fora costurado à renda do corpete.
      Relutante, Gabriel ajoelhou-se ao lado dela, pensando em todos os
empregados que Tessa poderia ter ao seu dispor se aceitasse um cargo de
chefia na loja.
       - Espero que toda essa farsa valha a pena.
      - O trabalho foi feito, Gabe. O prêmio foi providenciado e tudo foi
arranjado para o início do meu concurso amanhã.
       - Seu concurso? Por que insiste em chamá-lo de seu?
       Ela franziu a testa ao notar a expressão preocupada do primo.
       - O que está querendo dizer?
       - Pensei que soubesse. Shirley Briggs assumiu a autoria da promoção.
       - O quê?
      - Trata-se de uma prática comum na butique. Shirley usa sua posição
de gerente para roubar as idéias de jovens estilistas como você. Há algumas
semanas ela me procurou para discutir a idéia de lançarmos uma nova e
talentos a estilista através de um concurso patrocinado pela loja. Disse que
você havia sido escolhida para a promoção por ser um modelo muito atraente
e estar criando um vestido adequado para a ocasião.


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         - Fui escolhida porque a idéia é minha!
       - Não tinha certeza disso na época. Você não me contou nada, e por
isso não pude desmascarar Shirley. Tessa fechou os olhos para não perder a
calma.
      - E isso que recebo por fazer tudo da maneira mais correta, valendo-
me dos canais competentes. Como ela consegue repetir sempre o mesmo
truque?
       - Um aprendiz nunca quer correr o risco de perder sua chance.
Infelizmente, não posso agir sem dispor de provas. Trata-se de uma
acusação muito séria. Não sei como essa mulher foi contratada! Ela é
inadequada. Não se enquadra no perfil que a Casa das Noivas exige de seus
funcionários. Assim que tiver motivos legítimos e comprovados para demiti-
la, não hesitarei em me livrar dela. Até lá...
         Tessa suspirou com um misto de aflição e raiva.
         - Gabe, isso é horrível!
       - Eu sei. Aquele departamento precisa de alguém com personalidade e
conhecimentos adequados para transformá-lo em algo especial, algo que
lançaria a Casa das Noivas no século vinte e um.
         Os olhos verdes foram iluminados por um brilho astuto.
     - Está apelando para o meu lado mais ambicioso, e não faz questão
nem de ser sutil.
      - Então, aceite o desafio! Surpreenda a imprensa com uma notícia de
verdade amanhã.
         Ela balançou a cabeça com firmeza.
      - Não. Primeiro quero saber qual é a opinião da crítica sobre o meu
trabalho. E quero uma opinião imparcial, livre de preconceitos.
      - Está bem. - Gabe suspirou. - Você deve saber o que está fazendo. O
vestido. é maravilhoso. No entanto, não sei se devemos deixar uma porção
tão grande de colo à vista.
         - Está falando como um velho homem casado tentando proteger o que
é seu!
     - Reconheço que adoraria esconder Lianne dos olhos de outros
homens, mas não se trata de pudor ou, moralismo.
         - Vá direto ao ponto. O que pretende?
      - Estava apenas imaginando como valorizar um decote tão ousado. - E
retirou uma pequena caixa de couro azul-marinho do bolso do paletó. Sobre


                                                                           9
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o leito de veludo havia uma linda gargantilha. Era uma peça delicada, com
uma grande e perfeita pérola no centro e fileiras alternadas de diamantes e
pérolas menores.
      Tessa deixou escapar uma exclamação de surpresa. O pai dela,
George Montiefiori, havia distribuído parte de sua herança de família entre
os quatro filhos, e ela recebera aquele colar. Depois da universidade, quando
começara a viajar, entregara a jóia a Gabe para que ele a mantivesse em
segurança.
      - Foi uma excelente idéia trazê-la! - Sorrindo, pegou a gargantilha da
caixa e aproximou-se do espelho preso à parede.
       O reflexo de Gabe uniu-se ao dela quando tentava prender o fecho.
       - Deixe-me ajudá-la. - Ele ajustou o colar com facilidade, acostumado
a lidar com as jóias da família.
      - Você ostenta a gargantilha com a mesma elegância que Celeste
certamente possuía.
      Tessa ajustou o colar sobre a marca de nascença em forma de
crescente na base do pescoço, um sinal idêntico ao ostentado pela avó, que
abandonara seu pai e seu avô muitos anos antes. Apesar de ter herdado a
personalidade independente de Celeste, Tessa não era capaz de imaginar-se
fazendo a mesma escolha de vida.
      - É o acessório perfeito para o meu vestido de noiva. Quero dizer,
para o vestido que criei para o concurso - corrigiu-se apressada, notando o
sorriso de aprovação que iluminava o rosto do primo.
     - Foi o que eu pensei. Pode dizer a todos que a jóia pertence aos
DeWilde, e que nós a emprestamos para abrilhantar o evento.
       - Certo.
       - Quem sabe não se anima e decide usá-la no dia do seu casamento?
       - Gabe! - ela exclamou com uma careta de desgosto.
      - Desde que você e Lianne se casaram, não consegue mais aceitar que
alguém pode ser feliz solteiro.
       - Tem razão.
      - Pois saiba que estou muito satisfeita sozinha. Adoro acordar sem
saber como será meu dia.
       - Amar Lianne só tornou minha vida melhor. Gostaria muito de vê-la
feliz ao lado de alguém que a mereça.
       Tessa virou-se e ergueu-se na ponta dos pés para beijá-lo no rosto.


                                                                          10
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      - Tire essa idéia da cabeça. Matrimônio não faz parte da minha lista
de projetos para o futuro. Sou uma profissional, Gabe, uma mulher voltada
exclusivamente para a carreira.




       CAPÍTULO II




       -Oh, veja, vovó Milly! – A pequena Natalie estava excitada. - Ali!
      Millicent Sanders levantou-se do banco onde estivera descansando,
bem ao lado da porta da loja Casa das Noivas, e olhou na direção apontada
pela neta. Além do balcão de cosméticos, clientes aglomeravam-se em torno
de um pedestal giratório onde uma modelo exibia um vestido de noiva.
       Natalie suspirou com ar sonhador.
       - Deve ser uma princesa.
       Nicky cutucou a irmã com o cotovelo.
       - Uma Cinderela-mamãe.
      Millicent não se surpreendeu com as estranhas conclusões. Amantes
dos contos de fadas, as crianças consideravam a Inglaterra o lugar onde
seus personagens favoritos viviam felizes para sempre. A loja mundialmente
conhecida, com sua decoração elegante e cintilantes vitrinas de jóias
deslumbrantes, representava uma espécie de reino encantado em suas
mentes inocentes.
      E uma linda modelo num elaborado vestido de noiva, os cabelos claros
arranjados numa coroa sob a grinalda de pérolas, era a personificação da
princesa encantada. E o tipo de mãe com que o par sonhava e da qual
precisava.
      As crianças puxavam Millicent pelas mãos, ansiosas para participarem
da ação.
       - Mas só entramos aqui para que eu pudesse descansar um pouco! .
       - Por favor, vovó!
      - Está bem. - Millicent sorriu bem-humorada, apesar do cansaço. No
conjunto Channel azul-turquesa, os cabelos prateados e curtos, como
mandava a moda, ela aparentava menos que seus setenta anos. Infelizmente,
sentia o peso da idade e enfrentava dificuldades para acompanhar o ritmo


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frenético dos netos. Mas, por enquanto, era a única figura materna que eles
tinham, e desempenharia o papel com dedicação até que seu filho viúvo,
Steven, tivesse o bom senso de se casar novamente.
      Naturalmente, estar numa loja especializada em matrimônios só
enfatizava sua ânsia de encontrar uma nova nora. Como seria glorioso guiá-la
pelos corredores da famosa Casa das Noivas! De posse de seu cartão de
crédito, compraria tudo que a filial londrina tivesse para oferecer de
melhor.
      - O que está acontecendo? - Nick perguntou, pulando para tentar
enxergar melhor o pedestal com a modelo.
        Uma mulher num elegante vestido preto virou-se para eles.
      - A loja está patrocinando um concurso. O prêmio será um pacote com
tudo que é necessário para a realização de um casamento. - Que maneira
estranha de falar! - Natalie observou, interessada. - O motorista do táxi
que nos trouxe até aqui falava da mesma maneira.
      - E a primeira vez que eles viajam para fora do país - Millicent
explicou, embaraçada. - As crianças são de Nova York, e vieram a Londres
acompanhando o pai numa viagem de negócios.
       O rosto da inglesa iluminou-se e ela sorriu para os pequenos. Frágil e
magra, Natalie era o retrato da feminilidade em seu vestido cor-de-rosa. As
meias brancas e rendadas e os sapatos de verniz preto não pareciam
incomodá-la, e os longos cabelos castanhos eram adornados por um laço de
fita. Nick era mais forte e robusto, um típico menino americano no pulôver
que combinava com a calça escura, os cabelos dourados bem curtos e o rosto
redondo marcado por duas encantadoras covinhas. Apesar de ter apenas
quatro anos de idade, Nick já alcançava a irmã de seis em altura e peso.
        A mulher abaixou-se perto deles com um sorriso terno.
        - Onde está a mamãe? - perguntou.
      - Ela foi para o céu - Natalie respondeu num sussurro, pousando as
mãos sobre as orelhas do irmão.
      - Nick não entende bem o que aconteceu com nossa mãe - explicou,
depositando um beijo no rosto do menino antes de ser empurrada por mãos
rechonchudas e nervosas.
        Millicent notou a inquietação da desconhecida e decidiu interferir.
        - Não lamente ter mencionado minha nora. Renee nos deixou há três
anos.
        A mulher deixou transparecer o alívio.


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Casa das Noivas 5

       - Podemos nos aproximar, vovó? - Natalie pediu.
      Segurando as mãos das crianças com força, Millicent abriu caminho
entre as pessoas que cercavam o pedestal.
       Nick estava boquiaberto.
       - Ela é de verdade?
       Natalie encolheu os ombros.
     - Deve ser alguém importante. Mas quem? Cinderela? Branca de
Neve? Alice? Você a conhece, vovó?
      - Talvez... - Millicent estudava o extravagante colar que a modelo
usava com elegância. Tinha a impressão de já ter visto a jóia e a moça em
algum lugar.
       - Vamos, Nick. - Natalie segurou os ombros do irmão.
      Perdida nos próprios pensamentos, Millicent recomendou cautela ao
vê-los avançarem para o cordão de veludo que cercava o pedestal.
Lamentava o efeito que o tempo exercia sobre seu corpo. Durante anos
gozara de uma visão perfeita, mas agora precisava dos bifocais que extraía
da bolsa para enxergar com um mínimo de nitidez. Aproximando-os do rosto,
examinou a jovem valendo-se das duas metades das lentes, prestando
especial atenção ao colar que adornava o pescoço delicado. Agora tinha
certeza. A modelo possuía uma semelhança evidente com sua velha amiga
Celeste Montiefiori, que também era descendente da família DeWilde.
      Ambas exibiam o mesmo nariz empinado no rosto de formato
marcante e bem definido. E as pérolas não eram as mesmas que Celeste
costumava usar com os vestidos mais ousados para esconder a marca de
nascença na base do pescoço? Ora, ela mesma tivera oportunidade de usar
aquela jóia algumas vezes, no Festival de Cinema de Cannes, na década de
setenta, e no baile inaugural de Ronald Reagan nos anos oitenta.
      Haviam compartilhado momentos tão especiais! Mas, como acontecera
com todos os velhos amigos, o contato com Celeste tornara-se pouco
freqüente. As obrigações familiares a mantinham presa em Nova York,
deixando pouco tempo para longas viagens ou eventos sociais. Era intrigante
ver o colar novamente. Duvidava de que Celeste o houvesse confiado a
alguém que não fosse da família. Millicent fora a única pessoa a quem ela
jamais emprestara a jóia, e só porque fora muito insistente.
      Talvez a modelo fosse uma neta, filha do filho de Celeste, George. Se
não estava enganada, ele tinha três garotas e um rapaz. E a Casa das Noivas
era uma empresa familiar, com vários parentes atuando nas cinco filiais



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espalhadas pelo mundo. Millicent conhecera Celeste vinte anos atrás no sul
da França, onde ela fora recuperar-se do rompimento amoroso com um
famoso diretor do cinema italiano.
       O presente de despedida proporcionara férias encantadoras que ela
tratava de aproveitar ao máximo. Ao contrário de Millicent, que sempre
pusera a família e suas obrigações acima de tudo, Celeste preferia viver
afastada dos parentes e dizia-se incapaz de assumir responsabilidades.
Investia todo o tempo e a energia de que dispunha em ligações arriscadas e
num estilo de vida luxuoso, cortesia de amantes extravagantes cujos
presentes ela jamais recusava. Para surpresa mútua, as duas mulheres
sentiram uma simpatia imediata e intensa. Apesar das circunstâncias
distintas, tornaram-se muito amigas e passaram os anos seguintes
participando de almoços animados e divertidos acontecimentos sociais.
      Millicent considerava aquela época uma das melhores de sua vida,
quando ela e Robert possuíam bons relacionamentos. A companhia de
brinquedos, a Sanders Novelties, surgira na década de quarenta e tornara-
se a principal fabricante americana de jogos de tabuleiro. Fundada por seu
sogro, Gerald, a empresa fora herdada por Robert e acabara nas mãos de
Steven, que atualmente a administrava. Por mais que gostasse de cuidar
dele e de seus filhos, estar fora de casa e pensar em Celeste despertara
uma certa nostalgia.
      - Posso ajudá-la, senhora? - Uma mulher rechonchuda e de meia-idade
num vestido de tafetá dourado estava parada ao lado dela. O rosto anguloso
e os olhos escuros e pequenos a tornavam carrancuda, e os cabelos
castanhos presos num coque só contribuíam para a imagem sisuda.
       - Trabalha neste departamento?
       A mulher sorriu orgulhosa.
      - Sou gerente da Butique Experimental da Casa das Noivas de
Londres. Meu nome é Shirley Briggs. Veio comprar alguma coisa? Um
presente de casamento, talvez?
      - Ainda não, mas espero vir no futuro próximo. - Millicent notou a
expressão confusa da funcionária e tratou de explicar-se. - Para um
parente. - Um filho obcecado por trabalho que não sabia cuidar da própria
vida.
      Shirley carregava um cesto de vime cheio de brochuras cor-de-rosa
com o logotipo da Casa das Noivas na capa.
      - Veio numa ocasião oportuna, então. Estamos realizando um concurso
cujo prêmio será um pacote de casamento completo.


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       Natalie olhou para a funcionária com expressão encantada.
       - Ela é uma princesa de verdade?
       Shirley considerou a idéia divertida e não tentou, conter o riso.
      - Certamente não. Ela é apenas uma aprendiz de estilista da butique
exibindo uma de suas criações. O vestido faz parte do prêmio que mencionei
- ela explicou para Millicent. - Queremos atrair a atenção da mídia e do
público em geral para os jovens talentos descobertos pela loja. O vencedor
do concurso receberá um vestido idêntico àquele e tudo que é necessário
para transformar em realidade o sonho de um casamento, incluindo a
recepção e a lua-de-mel.
       Nick virou-se com expressão desconfiada.
       - Mas ela mora num castelo.
       A paciência de Shirley diminuía rapidamente.
       - É pouco provável. Ela é apenas uma funcionária modesta.
      - Então deve ser Cinderela! - Natalie deduziu triunfante. - Ela era
pobre, lembra? - perguntou ao irmão. - Depois o príncipe foi procurá-la para
devolver o sapatinho e eles se casaram.
     Nick abaixou-se e tentou enxergar alguma coisa sob o vestido
comprido.
       - Não consigo ver os pés dela, Natty.
       A menina olhou para Shirley Briggs.
       _ Pode pedir para ela erguer o vestido, por favor? Só um pouquinho.
       A gerente da butique respirou fundo.
      - Ela está se comportando como um manequim. Não pode falar com
ninguém, nem se mexer. – Temendo parecer antipática a uma cliente em
potencial, virou-se para Millicent e forçou um sorriso. – Que imaginação!
      Mas Millicent não ouvia. A modelo mudara de posição, certamente
venci da pelo cansaço, e a pequena inclinação revelara uma marca de
nascença. Abrindo mão da vaidade, pôs os óculos sobre o nariz para
enxergar melhor e certificou-se de que o pequeno crescente era idêntico ao
de Celeste, e no mesmo lugar, também. Não havia mais dúvidas. Aquela
jovem era uma Montiefiori.
      Mas por que, em nome de Deus, trabalhava numa loja de
departamentos? Shirley Briggs dissera que ela era apenas uma empregada
modesta. O mistério por trás da estranha situação era intrigante o bastante
para merecer sua atenção.


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       - Como ela se chama?
      - Tessa Jones - Shirley respondeu, aparentemente surpresa com a
pergunta inusitada.
      Tessa... Se a memória não lhe pregava uma peça, Celeste tinha três
netas, Vanessa, Catherine e... Tessa! Sim, era isso!
      - Perdoe minha curiosidade, mas Jones é o nome da família do marido
da jovem?
      - Ela é solteira. A maioria das nossas jovens estilistas prefere se
casar com o trabalho nesse estágio inicial de suas carreiras.
       Natalie sorriu para a avó.
       - Será que ela gosta de crianças?
       Nick também sorria.
       - Espero que sim!
      Millicent compreendeu que os dois acreditavam que a noiva fazia
parte do prêmio. Se ao menos fosse verdade! Celeste sempre dissera que as
netas eram criaturas doces e adoráveis, e a jovem em questão demonstrava
ter talento e ambição. Steven podia encontrar opções bem piores nos
ambientes que freqüentava. Ora, a quem tentava enganar? Ele já haVia se
deparado com mulheres horríveis, e sempre com deliberação irritante.
       Como adoraria colocá-lo no caminho de Tessa sem usar de
subterfúgios, levá-lo à loja e apresentá-los. Mas Steven havia se cansado de
suas tentativas bem intencionadas. Se estivesse apenas vivendo num limbo
de solidão, esperando que a garota certa batesse em sua porta, seria capaz
de aceitar sua decisão. Mas ele insistia em desperdiçar suas noites em
clubes e casas noturnas de gosto duvidoso. Steven dizia que era apenas
diversão, mas Millicent sabia que era só uma questão de tempo antes que
uma predadora o agarrasse e estragasse tudo. tirá-lo novamente de
circulação e colocá-lo nas mãos de uma mulher tão valiosa quanto sua finada
esposa, Renee, tornara-se a mais importante missão de sua vida. Natalie
aproximou-se com um olhar determinado, que Millicent acostumara-se a ver
em Steven sempre que ele tinha uma boa idéia.
       - Vovó, acho que este pode ser um bom negócio para nós.
       - Concordo. - Ambas olharam para Shirley, cujo rosto expressava
curiosidade.
      Depois de alguns instantes esperando em vão por uma explicação, a
gerente da butique começou a recitar as regras do concurso.



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       - Os participantes entregam uma redação de no máximo cem palavras
explicando por que se consideram merecedores do prêmio. Gabriel DeWilde,
nosso diretor executivo, julgará as composições e escolherá aquela que
julgar melhor.
       - Adoramos nossos livros de histórias! – Nick aplaudiu entusiasmado.
      - Estamos interessados em relatos da vida real - Shirley esclareceu,
retirando uma das brochuras do cesto de vime. - Aqui está - disse,
entregando o volume a Millicent. - Deve preencher o formulário na primeira
página e escrever sua redação no espaço restante.
      - Então, só preciso preencher os espaços, escrever um bom texto e
devolver o material?
       - Exatamente.
       - Tem alguma sugestão a dar?
       Shirley parecia satisfeita por ter sido consultada.
       - Em primeiro lugar, aconselho um título criativo que chame a atenção
do leitor, algo com que o público se identifique. Depois, um conteúdo original
sobre algum fato da vida real, sem esquecer que o relato deve estar ligado
ao prêmio em questão. Ter uma história dramática para contar seria um bom
começo. A Casa das Noivas quer mudar a vida de alguém, entende? Causar
impacto.
      Millicent e Natalie trocaram um sorriso. O drama era uma das
especialidades dos Sanders.
      - Infelizmente, terão de se apressar - Shirley continuou. - Os
trabalhos deverão ser entregues até as cinco horas da tarde de hoje, e a
premiação está marcada para amanhã, ao meio-dia. Espero que não seja
tarde demais para vocês.
       O sorriso de Millicent ampliou-se.
       - Pelo contrário, srta. Briggs. Creio que chegamos na hora exata.
      Shirley Briggs se afastou e Natalie puxou o irmão pela manga do
pulôver. Millicent estava pensativa. Devia dizer às crianças que a noiva não
fazia parte do prêmio. Mas isso os desestimularia para o trabalho e
arruinaria a chance de colocar Steven e Tessa na mesma órbita. Além do
mais, todos precisavam de uma aventura. Especialmente Steven.
Ultimamente ele trabalhava demais na busca de um distribuidor europeu
para os Patrulheiros do Espaço, as figuras de ação que havia criado.
       - O que faremos agora, vovó? - Nick quis saber.



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Casa das Noivas 5

      - Vamos almoçar e decidir qual a melhor maneira de contarmos nossa
história. Por que não pensam num bom título a caminho do restaurante?
       Natalie parou e olhou para um ponto distante no espaço.
       - "Uma Noiva Para o Papai". O que acham?
       Às vezes Millicent se surpreendia com o raciocínio da neta.
       - Excelente, querida!
       - Não vai ser nada difícil - a menina decidiu orgulhosa.
      - O mais difícil será manter a surpresa. Insisto para que não contem
nada ao seu pai.
       - Surpresa? - Natalie protestou. - Gostamos de contar tudo ao papai.
      - Eu sei. - Cada gole de vinho do porto, cada viagem de metrô, cada
sorvete de. chocolate era imediatamente incluído no relato diário que os
dois pequenos faziam ao pai. - Mas não quero que ele tenha esperanças.
Depois, se vencermos, teremos tempo de sobra para celebrar.
       Steven Sanders voltou à suíte no London Hilton Hotel em Park Lane
por volta das quatro da tarde de quinta-feira. Assim que abriu a porta,
Natalie e Nick saíram correndo do quarto que ocupavam do outro lado da
saleta.
       - Papai! - gritaram em coro, abraçando suas pernas.
      - E então, como foi o primeiro dia de alegria na boa e velha
Inglaterra? - ele perguntou, os olhos azuis cheios de orgulho enquanto
beijava as cabeças dos filhos.
       - Foi ótimo! - Natalie respondeu com euforia.
      Mantendo o ritual do apartamento na Quinta Avenida, ela entregou a
pasta do pai a Nicky e começou a puxar a manga do paletó preto de Steven,
ajudando-o a despi-lo.
       - E o seu dia, como foi?
       - Razoável. - Deixou que as crianças o guiassem até a poltrona, onde
se sentou com um deles em cada joelho. Só então notou que já usavam
pijamas. - Ei, não é cedo demais para irem para a cama? - Olhou para a mãe
sentada diante da escrivaninha do outro lado da sala e notou que ela também
vestia um robe de seda púrpura.
      Millicent encolheu os ombros sem desviar os olhos das palavras
cruzadas do Times aberto à sua frente.




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      - Eles colocaram os pijamas para o cochilo da tarde, e achei
desnecessário vesti-los novamente.
       - Tinha planos de levá-los para jantar fora.
       Millicent deixou escapar um suspiro dramático.
       - Os pobrezinhos estão completamente exaustos!
      Steven conteve um sorriso. Não era a primeira vez nas últimas
semanas que a mãe usava aquele truque para disfarçar o próprio cansaço. Se
ao menos aceitasse suas limitações! Mas ela se recusava a admiti-las,
especialmente nos últimos tempos. Estava desempenhando o papel da mãe
incansável para dissuadi-lo da idéia de contratar uma babá. Mas estava
determinado, e pretendia encontrar uma profissional competente durante a
estadia em Londres e, se possível, levá-la para casa na semana seguinte,
quando partissem.
      - Temos uma surpresa, papai - Nick anunciou entusiasmado. - Uma
grande surpresa.
       - É mesmo? Estou maluco para saber do que se trata.
       - Mas não podemos contar! - Natalie exclamou indignada.
       - Caso contrário, deixaria de ser uma surpresa.
     - É impossível discutir com a lógica dessa menina, Steven - Millicent
comentou.
     - Tem razão, mamãe. Quanto tempo terei de esperar pela bomba...
Quero dizer, pela agradável revelação?
      - Não se preocupe, meu filho. É só uma brincadeira inocente das
crianças. Como foi a reunião?
       - Boa para um começo. - Steven espreguiçou-se e jogou a cabeça para
trás. No momento em que se moveu, sentiu as mãos dos filhos nos cabelos e
sorriu, lembrando-se do jogo inventado recentemente: procurar fios
brancos entre os castanhos. A contagem progredia diariamente. - Acho que
a Brinquedos Butler se interessou por minha proposta. Ainda é cedo para
ter certeza de alguma coisa. A reserva britânica de Franklin Butler dificulta
uma interpretação mais próxima da realidade, mas pelo menos começamos a
conversar. Trouxe algumas amostras dos Patrulheiros...
       - Trouxe bonecas para cá? - Natalie já havia descido do joelho do pai
e transferia a pasta da mesa de café para o chão, onde a abriu sem nenhuma
dificuldade.
       - Os Patrulheiros são personagens de ação, Nat - Steven protestou.



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      A menina examinou as figuras vestidas em reluzentes uniformes
espaciais e fez uma careta decepcionada.
        - Só brinco com bonecas.
        - Prefiro os monstros - Nick resmungou, tirando o boneco da mão da
irmã.
      Steven riu. As crianças estavam sempre prontas a surpreendê-lo com
suas opiniões decididas. A reação dos filhos à sua criação teria
surpreendido os empregados da Sanders Novelties em Nova York, gente que
o tratava como um santo milagreiro por ter salvado da falência a companhia
que fora de seu pai e protegido seus empregos. A linha de super-heróis era
campeã de vendas nos Estados Unidos desde que começara a ser
comercializada, e era responsável pela atual invasão de desenhos animados,
histórias em quadrinhos e espetáculos de patinação no gelo em torno dos
mesmos personagens.
       - Qual é a graça, papai? - Nicky perguntou. - Estou tentando assustá-
lo. Rrr...
        Steven gargalhou.
     - Você deve ser o único menino no mundo que faz o capitão Lance
Starbuck rugir como um urso faminto.
        - Um visionário, como o pai - Millicent sugeriu orgulhosa.
      Nick levantou os braços do boneco e investiu contra Natalie, sabendo
que ela era presa fácil.
        - O monstro peludo vai pegar você!
      - Pare com isso! - a menina gritou apavorada, pulando no colo do pai. -
Faça-o parar, papai! Não tem graça nenhuma. Nicky tem um problema de
comportamento.
        Steven acalmou as crianças e colocou-se entre eles.
      - Quando concordei em tirá-los da escola por alguns dias para virem
comigo nesta viagem, vocês prometeram que iam se comportar bem.
Lembram?
      - O pré-primário é muito mais importante que o jardim da infância -
Natalie decretou orgulhosa. - No pré, ninguém faz bonecos de ação se
comportarem como monstros.
        Nicky respondeu com mais um rugido.
        - Eu tento ensiná-lo! - Natalie gritou com ar dramático.




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       - Deus, oh, Deus! Este menino precisa de uma mãe de verdade. Oh,
Deus...
       - Steven- Millicent interrompeu ansiosa.- Estava falando sobre a
reunião de hoje. Acha que a Brinquedos Butler vai realmente produzir e
distribuir os Patrulheiros do Espaço na Europa?
      - O pessoal de vendas está animado. O único problema é a atitude
conservadora da diretoria e do proprietário. Depois de meses de
telefonemas e mensagens por fax, Franklin ainda não está certo do
potencial do produto no mercado europeu.
       - Por que não?
       - Não sei. Ele ainda não deu uma resposta direta.
      - Mas sua decisão de vir até aqui e fazer a proposta pessoalmente
deve acelerar o ritmo das negociações.
       - Mãe, nem todos me consideram irresistível. - Ele riu.
      - São todos uns tolos. - Suspirando, Millicent voltou às palavras
cruzadas.
       Steven a observava com interesse. Havia algo de incomum no
comportamento da mãe, algum pequeno detalhe que não conseguia
identificar. Por que mantinha a testa franzida, por exemplo? Seria alguma
preocupação real, ou apenas a concentração nas palavras cruzadas?
       Como se sentisse o olhar desconfiado, ela perguntou:
       - O que pode ser bebida alcoólica à base de malte com seis letras?
       - Mmm... Uísque.
      - Perfeito! - Ela preencheu os espaços com movimentos estudados e
largou a caneta sobre a mesa. - Pronto, terminei.
       - Terminou mesmo?
       - Preenchi todos os quadradinhos. Não é esse o objetivo?
       Steven estava impressionado.
       - Vejo que encontrou um maravilhoso passatempo, mãe.
       - Não necessariamente. Estava apenas um pouco inquieta, e por isso
resolvi experimentar.
       - Os jornais americanos têm excelentes palavras cruzadas. Existem
livros inteiros dedicados a esse jogo.
       - É mesmo?



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      O tom gelado tinha o objetivo de silenciá-lo. Era a maneira mais
severa que ela encontrava para censurá-lo. Ficaria furiosa se soubesse que o
truque deixara de funcionar no décimo-segundo aniversário do filho.
      - Não fiz nenhuma insinuação - Steven justificou-se. - Só pensei que
estivesse interessada em novas atividades.
       - Tenho ocupações de sobra, obrigada. Mas ambos sabiam que tudo ia
mudar. Com uma babá cuidando das crianças, ela estaria novamente livre.
Desocupada e mais desesperada ainda para encontrar uma esposa adequada
para ele. Um arrepio percorria a espinha de Steven cada vez que pensava na
fila de debutantes que se formaria em sua porta.
      - Foi só uma idéia. Se for realmente habilidosa com as palavras
cruzadas...
      - Para ser honesta, nem todas se encaixam. – Millicent levantou-se e
esticou os braços acima da cabeça.
       - Errei em algum lugar e não consegui mais resolver o enigma.
       - Devia usar um lápis. Assim poderia apagar os erros e ir equilibrando
as palavras até encaixar todas elas.
       - Vou pensar no assunto com a atenção que ele merece - ela prometeu.
       - Mas...
       - Quanto ao jantar, pedirei a refeição no quarto.
       - E desapareceu além da porta do quarto que dividia com os netos.
       - Peça espaguete - Steven sugeriu, piscando para as crianças. - O
suficiente para todos nós.
      - Podemos ficar acordados até mais tarde? – Natalie perguntou
esperançosa.
       - É claro que sim. - E afagou a cabeça da filha.
      - Enquanto esperamos a hora do jantar, que tal brincarmos de trocar
surpresas?
       - Você começa - Nick decidiu.
      - Está bem. Frank Butler me deu um novo jogo de cartas que ele
lançou recentemente. Trata-se de uma versão ampliada do jogo de damas
que vocês têm em casa, com algumas regras extras. Está na minha pasta,
sob o envelope pardo.
      Natalie encontrou o baralho e espalhou as cartas coloridas sobre a
mesa de café.



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       - Por que chamam essa figura do baralho de dama?
      - Porque esse era o tratamento usado antigamente para as mulheres
mais velhas que permaneciam sozinhas. E como no jogo. No final, a dama fica
sem par.
       Natalie fez uma careta tristonha.
      - Como você, papai. Vovó está sempre dizendo que é um homem
sozinho. Também está sem par.
       Steven sentiu o sorriso congelar nos lábios.
       - Estamos discutindo um termo usado apenas para as mulheres.
       - E como é chamado um homem que fica velho e sozinho?
       - Não sei, Nat. Honestamente, não estou preocupado com isso. - A
linha de pensamento de Natalie devia-se inteiramente à obsessão de sua
mãe. Tinha de convencê-la a parar de referir-se à sua família como
incompleta. Era perfeitamente capaz de dar às crianças todo o amor e o
apoio de que precisavam. Os filhos eram obedientes, flexíveis, e pareciam
muito bem ajustados. Tinha de fazer a mãe entender que seu atual estilo de
vida não era prejudicial aos garotos. Além do mais, perder uma esposa na
vida era tudo que julgava-se capaz de suportar.
      - Precisamos jogar - Natalie comentou, examinando as cartas com
euforia.
      - Sim, querida, jogaremos depois do jantar. - Steven inclinou-se na
direção da filha, que permanecia sentada a seus pés. - E então? - perguntou
com tom suave. - Não têm uma surpresa para mim?
       - Bem... - ela hesitou. - Prometemos não dizer nada.
      Era melhor preparar-se. Queria saber o que estava acontecendo, mas
temia o que podia ouvir. Se a mãe orquestrara a tal surpresa, sabia que
devia esperar algum tipo de problema.
       - Vamos, desembuchem - inquietou-se. - O que aconteceu hoje?
       Millicent voltou à saleta nesse momento e respondeu pelos netos.
     - Eu os levei às maiores lojas da cidade. Harrods, Harvey Nichols,
Asprey... Foi um dia comum.
       Nick protestou.
       - E a princesa vestida de noiva? Esqueceu-se dela, vovó?




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       - É claro que não. - Ela ajeitou os cabelos e lançou um olhar
significativo na direção do filho. – Como poderia esquecer uma princesa de
contos de fadas?
       Um conto. Steven respirou fundo, experimentando um misto de alívio
e irritação. Millicent acabara de assinalar que a surpresa era apenas uma
brincadeira de faz-de-conta. Se havia preferido guardar segredo era
porque conhecia sua opinião sobre o assunto.
       - Nick - começou, tentando ser razoável com o filho - quantas vezes
já discutimos a diferença entre as histórias dos livros e a vida real?
       - Você vai ver, papai. - Nick levantou-se e correu para o quarto. .
      Segundos depois retornou carregando uma cópia bastante manuseada
de Cinderela e o cobertor velho que levava a todos os lugares. Ele pulou no
colo do pai e começou a virar as páginas, até encontrar a figura da heroína
chegando ao baile.
       - Aqui está!
       - Não entendi. - Steven franziu a testa.
       Millicent decidiu entrar em ação.
       - Estava um pouco cansada de caminhar pelas ruas, e então entrei com
as crianças na Casa das Noivas para me sentar um pouco.
       Natalie se mostrava orgulhosa.
       - Eu a vi primeiro. Cinderela estava sobre um pedestal reluzente, num
lindo vestido branco cheio de babados e rendas.
       - Era um manequim humano - a avó traduziu. - As crianças quiseram
vê-la de perto, e a imagem estimulou essas cabecinhas tão criativas.
       - Não gostaria de vê-la, papai? - Natalie sugeriu.
      Steven afrouxou a gravata, consciente de todos os olhos voltados em
sua direção. O único som na saleta era aquele que Nicky fazia enquanto
esfregava o cobertor no nariz e o cheirava.
       - Duvido que tenha tempo para isso.
       - Podemos ficar com ela, papai? Se nós a ganharmos, vai nos deixar
levá-la para casa? - Natalie segurava o rosto do pai e o encarava com ar
solene.
       Steven estava cada vez mais confuso.
       - Não creio que ela esteja à disposição para...
       - Sim ou não, papai?


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      - Estou certo de que ela é apenas uma funcionária da loja fazendo seu
trabalho.
      - E se não for? E se ela for uma princesa de verdade procurando por
um lar?
          Era tudo tão inocente que Steven decidiu participar da brincadeira.
      - Está bem, podem ficar com ela, se conseguirem. Mas... - Ele ergueu a
voz para ser ouvido acima dos aplausos excitados. - Em troca, quero que
tratem a nova babá com respeito e educação. - Todos gemeram
desanimados, principalmente Millicent. Steven a encarou.
      - Hoje telefonei para aquela agência de empregos da Bond Street e
pedi para entrevistar algumas candidatas amanhã. A pessoa que me atendeu
garantiu que todas são bem treinadas e muito agradáveis.
          - Nunca um Sanders teve de recorrer a um empregado para criar seus
filhos!
          - Mas agora é necessário, mamãe. Assunto encerrado.
          - Pelo menos tentou encontrar Mary Poppins, papai?
          - Natalie perguntou.
          Steven passou a mão pelo rosto.
          _ Não, querida, não tentei encontrá-la.
      - Mas nós dissemos que devia falar com ela! Mary Poppins é quase tão
boa quanto a princesa-mãe!
      Steven lançou um olhar sombrio e ameaçador na direção da mãe. Mary
Poppins era uma coisa. A princesa era outra. Mas a menção da palavra mãe
no meio de toda aquela confusão sugeria problemas. Que diabos Millicent
pensava estar fazendo?
      - Natalie, querida, Mary Poppins está fora de questão - a avó avisou,
esperando acalmar o filho.
       - Por quê? Ela é perfeita! - E bateu no ombro do irmão. - Não gostaria
de sair para alimentar os pássaros com ela, Nicky?
          Steven segurou o queixo da filha com firmeza, obrigando-a a encará-
lo.
          - Mary Poppins não existe.
          A voz da menina se tornou mais estridente.
     - Assistimos ao filme e lemos o livro! Ela mora em Londres! Todos
sabem disso! Por que não liga para ela?


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       Steven cobriu o rosto com as mãos.
       - O telefone dela não está na lista.
       Natalie afastou os dedos do pai para espiar entre eles.
      - Está bem, está bem - suspirou resignada. - Não precisa chorar.
Ainda nos resta a telefonista.




       CAPÍTULO III




      - Desculpem o atraso... – Tessa parou na porta do escritório de
Gabriel, no sexto andar, ao ver o brilho do tafetá dourado perto da janela.
Shirley Briggs estava presente! Quando terminara de trocar o vestido de
noiva pela calça comprida e o suéter, tinha certeza de que a reunião para a
escolha da redação vencedora do concurso seria um evento familiar.
Esperava que o cumprimento informal e as roupas casuais não despertassem
as suspeitas de Shirley e arruinassem seu disfarce.
      Vestido num terno cinzento, Gabe estava sentado atrás de uma
grande mesa de madeira escura coberta por brochuras cor-de-rosa. A
julgar pelo brilho em seus olhos, era evidente que se divertia com o
desconforto de Tessa.
       - É um prazer tê-la conosco, srta. Jones.
       - Boa noite, Tessa - Lianne cumprimentou com tom solidário.
      - Olá, Lianne. - Tessa sorriu para a esposa de Gabe, que mantinha-se
sentada na cadeira à frente da mesa do marido.
      Lianne estava radiante no vestido vermelho que Tessa desenhara e
costurara especialmente para ela meses antes. O jersey acentuava o brilho
avermelhado de seus cabelos e complementava o tom rosado da pele.
      Mas não podia elogiar a elegância com que exibia sua criação, porque
Shirley jamais entenderia o motivo pelo qual uma de suas subordinadas havia
feito um vestido para a esposa do diretor executivo da filial e nora do
presidente da cadeia de lojas. Em vez disso, decidiu falar sobre assuntos.
inofensivos.




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      - A grinalda que criou para complementar meu vestido foi um sucesso
estrondoso. Ouvi muitos elogios de onde estava, no alto do pedestal.
      - É bom saber que meu trabalho é bem aceito pelo público. Estávamos
aqui escolhendo a melhor redação. Como você é a força geradora da
promoção, achamos que gostaria de estar presente.
      - Estar presente? Tessa olhou para o primo com ar de censura.
Gabriel sabia que ela desejava participar da escolha. Havia lido cada uma
das redações com imenso interesse antes de enviá-la para o escritório da
diretoria, e tinha uma idéia bem definida a respeito de quem deveria ser o
vencedor.
       - Srta. Briggs - Gabe chamou. - Podemos dar a boa notícia a Tessa?
      - Oh, sim... é claro. - Shirley virou-se com uma brochura numa das
mãos e um lenço masculino na outra. - Sinto muito - ela choramingou. – Fiquei
tão emocionada com esta composição que... - E parou de falar para limpar o
nariz no tecido branco. As iniciais GDW bordadas num canto do lenço
chamaram a atenção de Tessa.
      Foi com prazer que ela viu o primo encolher-se ao ver a gerente da
butique atacando sua propriedade. Bem-humorada, Lianne riu e piscou para
Tessa, confirmando suas suspeitas. O lenço pertencia realmente a Gabe. E
ver a sempre contida e fria Shirley Briggs em tal estado de descontrole
emocional também era surpreendente.
       - Desculpe-me, senhor, mas os coitadinhos... Oh, eles precisam de uma
mãe! - E limpou o nariz novamente com um ruído desagradável. - Se tivesse
filhos e eles me perdessem, seria difícil demais para os pobrezinhos.
      Tessa deu alguns passos à frente e tomou a brochura da mão trêmula
da gerente. O surpreendente interesse por crianças devia ser mais retórico
que prático, já que estava cansada de vê-la tratando os filhos dos clientes
com frieza e indiferença.
      - "Uma Noiva Para o Papai"? - Confusa, leu a caligrafia infantil que
ocupava uma pequena parte da página.
      Por favor, ajudem-nos! Nosso pai precisa se casar com uma princesa.
Mamãe foi para o céu e ele ficou muito sozinho. Como é um homem muito
ocupado, ele não tem tempo para planejar um casamento. Prometemos que
seremos felizes para sempre depois disso.
       Obrigado.


       Sorrindo, ela ergueu os olhos da página.


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       - Tenho de admitir que é uma abordagem criativa.
       Mas estamos interessados neste tipo de truque?
      - Tessa, essas crianças parecem muito sinceras, e devem ser
encantadoras - Lianne opinou. – Escolhemos essa redação por unanimidade.
       Gabe fez um entusiasmado movimento afirmativo com a cabeça.
     - Fiquei impressionado com a imitação da caligrafia e a simplicidade
da mensagem. Não há outro trabalho de igual impacto.
       O rosto de Tessa estava inflamado, quase tanto quanto os cabelos
avermelhados que o emolduravam. Desde quando aqueles dois se deixavam
comover por crianças desconhecidas? A família DeWilde parecia ter
enlouquecido! Primeiro tio Jeffrey e tia Grace separavam-se, e agora o filho
deles, normalmente um homem frio e racional, derretia-se todo por causa da
história de um pai solitário que ele nem conhecia!
       -Tinha algo diferente em mente - confessou com tom petulante. - Por
exemplo, aquela garota cujo noivo é militar e está em missão fora do país.
Ela sonha ter um casamento completamente planejado para a próxima
licença do rapaz.
      - Mais uma causa válida,sem dúvida- Lianne concordou. - Ela é sozinha
e trabalha para sustentar-se. É exatamente o tipo de cliente que a Butique
Experimental quer atrair...
      - Sua idéia foi registrada, srta. Jones - Gabe a interrompeu para
demonstrar que o anonimato tornava sua opinião pouco importante. - Todos
nós gostamos muito dessa família que se prepara para receber uma nova
esposa e "mãe”. E não esqueça que estamos interessados na publicidade que
o concurso pode proporcionar. O material escolhido é emocionante, capaz de
aquecer até o mais duro coração, e a mídia não perderá a chance de
explorar um romance com tão forte apelo sentimental.
      Para Tessa, que pensava apenas em divulgar seu trabalho e conquistar
o reconhecimento da crítica e do público, aquela era uma nova visão.
       - Quanto tempo terei de passar com os vencedores? - perguntou.
       - Apenas o mínimo necessário - Lianne tentou consolá-la. - Algumas
fotos com a família, duas ou três entrevistas para os jornais mais
importantes, e você estará livre. A mídia terá mais interesse no tal pai
solitário e em sua futura esposa.
       - Tudo que pedimos é que vista sua criação durante algumas horas e
sorria - Gabe acrescentou.
       Shirley interferiu:


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      _ O sr. DeWilde pretende transformar o concurso num evento bianual
se tudo der certo amanhã. Não é muita generosidade? O mínimo que pode
fazer é seguir as instruções que ele vai dar.
      Percebendo que Tessa estava perto do limite de sua paciência, Gabe
levantou-se.
      - Estou certo de que vai lidar com os vencedores com a dignidade e a
astúcia dignas de um DeWilde. Tessa apertou a mão que ele estendeu,
lamentando não poder jogá-lo pela janela com um golpe de judô.
      - Nosso almoço chegou. - Na tarde seguinte, a voz de Franklyn Butler
ecoou na sala de reuniões. Um rapaz acabara de entrar com uma sacola
repleta de sanduíches.
       Steven sorriu para si mesmo. Barry Lambert, seu mais próximo
associado na Brinquedos Butler, o prevenira sobre os hábitos do dono da
empresa. O almoço era levado ao seu escritório todos os dias às doze e
trinta. Se a grande mesa de conferências não estivesse limpa no momento
em que a refeição fosse entregue, ele simplesmente a limpava com um
movimento de braço. Steven tinha consciência da importância dos toques
pessoais nos negócios, e por isso havia preparado sua apresentação com
cuidado, de forma que ela não entrasse em conflito com a hora da refeição.
Passara a maior parte da manhã descrevendo os inúmeros produtos que suas
figuras de ação geravam e oferecendo exemplos para inspeção. Terminara
essa etapa quinze minutos antes, dando aos seis executivos presentes uma
chance de examinarem tudo com cuidado. Enquanto os diretores afastavam
blocos e canetas para dedicarem-se à refeição, ele pavimentava o caminho
para a segunda metade da missão, a apresentação dos números relativos às
vendas. Conforme combinaram anteriormente, Barry começou a recolher
todo o material relativo aos Patrulheiros do Espaço e guardou-os na caixa
que Steven deixara sobre uma cadeira.
       Enquanto isso, Steven abria a pasta e extraía dela diversos gráficos
coloridos, que deixava sobre a cadeira a seu lado. Os olhos detiveram-se por
alguns instantes na figura maciça de Franklyn Butler, em cujas mãos residia
o destino da transação. Butler lembrava um leão-marinho com os cabelos
grisalhos, as costeletas largas e as bochechas flácidas. Sorrindo, ele
distribuía os sanduíches e oferecia chá e café. Se pudesse penetrar na
mente do empresário por trinta segundos para descobrir o motivo de suas
reservas quanto aos Patrulheiros do Espaço!
      - Sr. Sanders? - Judith, a secretária da diretoria, aproximara-se
dele sem fazer barulho, um verdadeiro modelo de eficiência no vestido de lã




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preta. – Lamento incomodá-lo, senhor, mas sua mãe deseja falar-lhe ao
telefone.
      Steven ergueu uma sobrancelha. Como Millicent tinha a ousadia de
perturbá-lo justamente naquele dia, quando concentrava todos os esforços
num dos maiores negócios de sua vida? E depois do confronto da noite
anterior?
        Judith parecia constrangida.
        - Ela perguntou se estavam em horário de almoço, e eu disse que sim.
        - Problemas, Steve? - Barry Lambert juntou-se aos dois na ponta da
mesa.
        - Minha mãe quer falar comigo.
      - Espero não ter feito algo errado. - A secretária inquietou-se. - Ela
parecia muito... excitada.
        O que só podia significar problemas.
        - Obrigado, Judith. Vou atender.
       - Sim, senhor. - Ela foi buscar o aparelho móvel e colocou-o sobre a
mesa, ao lado dele. Três luzes piscavam furiosas no painel. - A sua é a linha
dois – explicou com um sorriso profissional antes de sair e fechar a porta.
      Barry afastou o paletó para encaixar os polegares nos suspensórios e
encarou Steven com solidariedade e bom humor.
      - Aposto que Millicent quer saber se estamos arrumando alguma
confusão.
       Barry havia sido a razão da terrível discussão que ele tivera com a
mãe na noite anterior. As crianças dormiam quando ele fora buscá-lo na
suíte do hotel, pouco depois das onze. Sempre atenta a todo e qualquer sinal
de movimentação social, Millicent havia cochilado no sofá da saleta para não
perder a chance de receber o amigo inglês do filho. Algumas poucas
perguntas bem colocadas e ela já havia colocado Barry, horror dos horrores,
no rol dos solteiros adeptos das diversões noturnas. Contemporâneo de
Steven, que já completara trinta e sete anos, ele tivera muito tempo para
criar raízes profundas no cenário festivo de Londres.
      Tudo teria sido apenas um constrangimento passageiro se as duas
amigas de Barry não houvessem subido para apressá-los. Alegres,
descontraídas e reconhecidamente vulgares em sua linguagem, elas haviam
chamado Millicent de "velhinha", o que levara a uma discussão privada entre
mãe e filho. Millicent dissera-se incapaz de entender como um pai de família
podia perder tempo envolvendo-se com alguém que não tivesse os requisitos


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mínimos necessários para ser a mãe de seus filhos. Mais urna vez, haviam
debatido o velho tema.
       Desde então não voltaram a se falar. Ela e as crianças dormiam
profundamente quando deixara a suíte com todo o equipamento para a
apresentação, vestindo seu melhor terno cinzento. Não esperava ter
notícias de Millicent, já que ela era do tipo que passava dias ressentida, mas
surpreendera-se novamente com o comportamento inusitado da mãe.
      Steven respirou fundo, apertou o segundo botão e levou o fone ao
ouvido.
       - Sim, mãe? - disse com tom seco.
       - Graças a Deus o encontrei!
       - Algum problema?
      - Nenhum, felizmente. E depois de ontem à noite, acho que me deve
uma palavra agradável. Steven ofereceu um sorriso embaraçado aos
executivos sentados em torno da mesa. Todos comiam seus sanduíches e,
sem nada melhor para fazer, permaneciam atentos à sua conversa
telefônica. As conseqüências podiam ser mais sérias do que imaginava.
Butler era capaz de imaginar que, se não 'podia controlar a própria mãe,
também não conseguiria coordenar um projeto de expansão.
       - Por que telefonou?
       - Porque esperava que pudesse almoçar conosco.
       - Estamos comendo alguma coisa na sala de reuniões.
       Houve uma pausa do outro lado da linha.
       - Oh, não. Não contava com isso.
       - Onde você está, mãe?
       - Na Casa das Noivas...
       - Casa das Noivas outra vez? - Vermelho, percebeu que o nome da
famosa loja silenciou o grupo. Era surpreendente como a possibilidade de um
romance despertava a curiosidade das pessoas. Não estava com a menor
disposição para explicar os hábitos casamenteiros da mãe e a obsessão dos
filhos por contos de fadas. - O que está fazendo aí?
      - As crianças queriam que você visse a princesa. É o último dia dela
sobre o pedestal..
       - Não posso ir.




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      - Receio ter ido longe demais. Disse aos meninos que você conseguiria
escapar por alguns minutos.
      Com o coração apertado, Steven ouviu um par de vozes familiares ao
fundo, Natalie dizendo para ele se apressar, Nicky aconselhando-o a não
esquecer os sapatos da Cinderela.
       - Mãe, por que fez isso? - Não conseguia acreditar no atrevimento de
Millicent. Ultimamente ela lançava mão de todos os dispositivos de controle
disponíveis, orquestrando surpresas e disseminando a culpa. Era como se a
decisão de contratar uma babá houvesse provocado uma espécie de curto-
circuito em seu cérebro. Sentindo que as chances de encontrar outra nora
escapavam por entre seus dedos, Milly agira com uma fúria assustadora e
irritante.
       Infelizmente para ela, Steven chegara ao limite.
      - Lamento, mas não posso sair daqui - ele disse com firmeza. - Por
favor, explique tudo às crianças. Espero que tenham um almoço agradável.
Até mais tarde... - O dique metálico anunciou o fim da ligação, mas ele não
pôde resistir ao impulso de acrescentar:
       - Também amo você. - Precisava preservar as aparências.
       Esperando não ter perdido a pose de empresário competente, deixou
o aparelho sobre a mesa e começou a desembrulhar o sanduíche de rosbife
que alguém deixara diante dele.
      - Está escondendo alguma coisa de nós, Sanders? - Franklyn Butler
perguntou do outro lado.
       - O que quer dizer? - Steven devolveu apreensivo.
      - Não pude deixar de ouvir que sua mãe está na Casa das Noivas.
Pretende se casar?
      - Minha família está sempre procurando por aventuras. - Ao morder
um pedaço do sanduíche, descobriu que a boca estava seca, como sempre
ocorria nos momentos de tensão. Tinha a impressão de que o mundo se unia
para tentar casá-lo contra sua vontade.
       Judith contornava a mesa com um bule de café.
      - Creio que a loja está cheia de curiosos. Soube que a Casa das Noivas
organizou um concurso cujo prêmio será um pacote de casamento completo.
      - Com um concurso como esse, um homem pode até sentir vontade de
agarrar a primeira solteirona que encontrar! - Barry brincou, provocando
gargalhadas.



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Casa das Noivas 5

       Casados e pais de família, todos conheciam seu estilo de vida
inconseqüente e livre. Steven agradeceu pelo café, refletindo sobre o que
Judith acabara de dizer enquanto provava a bebida. Então havia um
concurso na loja. As crianças não haviam exagerado ao descrever a pompa
em torno da modelo que viram na loja. Ela devia mesmo lembrar uma
princesa. Steven sentiu-se mais calmo. Não havia nada com que se
preocupar. Mesmo que a mãe houvesse entrado na disputa e, suprema
infelicidade, conseguisse vencê-la, não tinha uma noiva para levar ao altar.
Dessa vez estava fora de perigo.
      A Casa das Noivas estava lotada quando Gabe ajudou Tessa a subir no
pedestal pela última vez. Lianne agia como dama de honra, arranjando a seda
lustrosa da cauda aos pés dela, prendendo melhor a grinalda sobre sua
cabeça e verificando a maquiagem suave.
       - Boa sorte, Tess - disse, afagando um ombro nu e afastando-se para
ir juntar-se ao marido. Tessa estudou o casal com afeto: Gabe em seu
fraque preto, os cabelos castanhos bem penteados e o rosto sério,
compenetrado, Lianne num vestido cor de esmeralda que enfatizava o azul
de seus olhos. Estavam tão animados! Tanto quanto Shirley Briggs, que
circulava no meio do público distribuindo espuma de banho em pequenas
embalagens que imitavam garrafas de champanhe. Gabe ligou o microfone
sem fio e chamou a atenção de todos.
       - Bem-vindos à Casa das Noivas...
      Tessa distraiu-se enquanto o primo explicava que a proposta da
Butique Experimental era oferecer aos consumidores roupas feitas sob
medida a preços acessíveis. Ela estudou a multidão reunida em torno do
pedestal e tentou imaginar quem havia produzido o ensaio vencedor. Havia
um considerável número de crianças na loja, o que aumentava em muito as
possibilidades.
      - E o vencedor é... - Gabe mostrou a brochura cor-de- rosa que levava
na mão. - "Uma Noiva Para o Papai". .
       O barulho tomou conta da loja. De um lado gritos desapontados e
vaias, do outro, aplausos e assobios entusiasmados. Tessa olhou para o mar
de rostos e concentrou-se no trio que devia ter produzido o materiaL Uma
senhora num elegante traje Saint Laurent correu ao balcão de cosméticos
para usar o telefone, e duas crianças excitadas pulavam em torno dela. A
menina usava um vestido azul de corte delicado e o garoto usava calça
escura e suéter vermelho. Ambos olhavam para ela com um misto de
admiração e fascínio, como se fosse o próprio Papai Noel.
       A voz de Gabe ecoou forte e clara.


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Casa das Noivas 5

         - Pedimos que o autor da redação venha até aqui, por favor.
       Tessa viu a senhora desligar o telefone e abaixar-se para falar com
as crianças. A menina ergueu os braços e começou a abrir caminho por entre
as pessoas que se aglomeravam no espaço reservado para a promoção.
         Todos abriram caminho quando ela gritou:
         - Ganhamos! Nós conseguimos!
         Gabe a ajudou a subir no pedestal e, sorrindo, mostrou a brochura.
         - Foi você quem escreveu isto aqui?
      - Sim. Vovó me ajudou a soletrar as palavras, e meu irmão Nicky
contribuiu com a idéia. – Subitamente tímida, Natalie baixou os olhos e o
tom de voz.
         - Gostou mesmo do nosso ensaio? o sorriso de Gabe tornou-se mais
amplo.
         - Gostei muito dele. Que tal ler o que escreveu em voz alta?
         - Pode me ajudar?
         Todos riram.
       - Está bem. - Um silêncio surpreendente invadiu a loja enquanto todos
se esforçavam para ouvir a voz infantil que, em alguns momentos, se tornava
quase um sussurro. Quando terminaram, Gabe empurrou-a delicadamente na
direção de Tessa, que estendeu a mão para recebê-la. Fotógrafos
posicionaram-se para registrar o momento mais importante da promoção.
         Gabe entregou a brochura a Tessa, quê passou a Natalie.
         - Não quer segurar seu trabalho para as fotos?
         - Sim, Cinderela.
         - Tessa, querida. Meu nome é Tessa.
         Natalie ofereceu um sorriso encantador.
         - Sim, Sua Alteza. Se prefere ser chamada assim...
         - Não sou quem você está pensando - Tessa explicou nervosa.
         A menina olhou para a multidão, ignorando sua resposta.
         - Venha, Nicky!
      Ao perceber que se transformara no centro das atenções, o garoto
hesitou em ir ao encontro da irmã. Vozes desconhecidas o incentivavam,
mas, assustado, ele permanecia parado no mesmo lugar.



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       - Ah, vamos lá - Natalie encorajou-o com doçura.
      - Olhe só para este vestido! É como tocar no seu cobertor. - Tessa
assustou-se ao sentir a mão delicada agarrando um punhado de crepe da
China e apertando-o entre os dedos. - É macio, suave... .
      Reunindo coragem, Nicky lançou-se como um torpedo na direção do
pedestal, escalando-o antes que Gabe pudesse estender a mão para ajudá-lo.
Tessa o segurou pelos ombros, surpreendendo-se com a solidez dos
músculos.
       - Ela diz que não é Cinderela - Natalie comentou com o irmão.
       Nicky arregalou os olhos.
       - Ela tem de ser!
      - Mas não sou, mocinho. - O sorriso forçado que oferecia aos
fotógrafos começava a provocar dores no rosto. Flashes brilhavam em
vários pontos do salão, alimentando sua confiança. Aquele era o momento
com que tanto sonhara. O trampolim de onde saltaria para o tão esperado
reconhecimento.
      No entanto, a sensação de triunfo foi suprimida momentos mais
tarde, quando Nicky, sem nenhuma cerimônia, inclinou-se e agarrou a barra
de seu vestido, levantando-o para revelar boa parte das pernas bem
torneadas. Antes que pudesse recuperar-se e reajustar o tecido leve e
delicado, meia dúzia de flashes explodiram em torno dela, capturando o
momento para a eternidade.
      - Não devia ter feito isso! - Irritada e constrangida, arrumou o
vestido com movimentos bruscos que traíam seus sentimentos.
       O rosto infantil era uma máscara de contrariedade.
       - Você já tem dois sapatos!
       - É claro que sim!
      - Meu pai devia trazer o outro sapato – Nicky explicou com ar
desanimado, balançando a cabeça para expressar seu pesar. - Para que
possamos viver felizes para sempre.
      - O quê? - Tessa murmurou confusa. As perguntas dos jornalistas
tornaram-se mais pessoais. Quando dirigiu um apelo silencioso a Gabe, tudo
que ele fez foi levar o indicador aos lábios, indicando que devia falar o
mínimo possível a fim de preservar as aparências. Mas era tarde demais. Por
mais que tentasse atrair a atenção dos fotógrafos com poses estudadas,
sabia qual seria o retrato escolhido para ocupar as principais páginas dos
jornais locais.


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      Quando os repórteres começaram a entrevistar as crianças, Millicent
decidiu interferir.
       - Os meninos não têm mais nada a dizer - anunciou, lembrando Lauren
Bacall no traje elegante e austero.
       - Meu filho Steven, pai dos garotos, cuidará de todos os detalhes.
       - Então é a avó? - perguntou uma jornalista.
       - Onde está o pai?
       - O nome Sanders tem alguma relação com a indústria de brinquedos?
       - A cerimônia está encerrada. - Tessa tentava atrair a atenção da
mídia, mas era inútil.
       Gabe notou sua aflição e decidiu usar o microfone para pôr um ponto
final na comoção.
      - Obrigado a todos por terem vindo. A Casa das Noivas agradece o
interesse e a preferência de todos os clientes.
       Com a grinalda torta sobre a cabeça e as crianças enroscadas em sua
saia, Tessa tentou escapar.
       - Foi um prazer conhecê-los, queridos - disse, puxando o vestido para
libertá-lo das mãozinhas persistentes.
     - Seu pai pode vir receber o prêmio quando quiser. - E aproximou-se
de Gabe, que segurava o microfone perto dos lábios para tecer os últimos
comentários.
      - Publicaremos tudo sobre a cerimônia de casamento oferecida como
prêmio ao pai dessas encantadoras crianças - ele disse. - Até lá...
       Natalie agarrou Tessa pela cintura com um olhar de adoração e
inclinou-se na direção de Gabe.
       - Não esqueça de dizer que ela será nossa mamãe-Cinderela.
      O anúncio alcançou o sistema de som, causando um verdadeiro
pandemônio. Repórteres e clientes voltaram-se com interesse renovado para
o pequeno grupo reunido sobre o pedestal. O que começara como uma singela
e emocionante história de amor, transformava-se repentinamente num
enredo digno de uma novela de tevê!
      - É isso mesmo! - Nicky também aproximou-se do microfone,
divertindo-se com o som da própria voz.
       - Agora estamos todos noivos dela!




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       CAPÍTULO IV




       - Por favor, tentem entender, crianças. Não sou parte do prêmio.
      - Tessa olhou para o relógio de pulso. A reunião com os Sanders
começara vinte minutos atrás na sala de Gabe, e ainda não haviam resolvido
nada. Natalie estava parada ao lado de uma estante perto da porta,
contrariada e frustrada.
      - Mas tem de ser! Meu pai é o rico Príncipe Encantado e virá buscá-la!
Depois todos nós viveremos felizes para sempre em Nova York.
      - Não, querida. - Tomando cuidado com o vestido, Tessa abaixou-se na
frente da garota. - Está apenas emocionada com tudo que aconteceu. Seu
pai certamente escolheu alguém com quem queira se casar, uma mulher que
usará o vestido oferecido pela loja e viverá com vocês para sempre.
       Natalie cerrou os punhos e um rubor intenso tingiu seu rosto.
       - Por que não tenta entender?
      Compaixão e impaciência lutavam pela supremacia no peito de Tessa.
A menina estava descontrolada, à beira das lágrimas. Também sentia-se
prestes a chorar. Seu precioso concurso corria o risco de transformar-se
num estrondoso fracasso por causa dessa confusão! Suspirando, olhou para
o primo sem saber o que fazer. Gabe permanecera em silêncio desde que
Natalie anunciara o noivado do pai com ela... Ou melhor, com Cinderela.
Aquele havia sido o ponto de partida para o desastre. O incidente com o
vestido podia ser motivo de risos, mas a afirmação de que ela, Tessa, estava
envolvida com o vencedor... Não demoraria muito para que alguém levantasse
a suspeita de fraude envolvendo o nome da loja.
       Mas não havia sido ela quem se opusera à escolha de um ensaio escrito
por uma criança? Sabia que seria uma decisão arriscada. Pela primeira vez,
havia sido a voz da razão em meio aos gritos emocionados dos oponentes.
       Tessa levantou-se para falar com Millicent.
       - Sra. Sanders, estou muito ansiosa para falar com seu filho.
      - Este é o espírito - Millicent respondeu com tom calmo, erguendo a
xícara de chá. - Mais tarde, querida, quando ele terminar de cuidar dos
negócios. E quando você estiver mais calma e descansada.


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      - Descansada! Se não mandarmos um comunicado à imprensa
imediatamente divulgando o nome da noiva do vencedor, a cidade inteira
começará a acreditar que estamos a caminho do altar!
       - E a confusão certamente os envolveria em algum nível, certo?
       - Sem dúvida nenhuma.
       Millicent balançou a cabeça.
      - Se ao menos pudéssemos interrompê-lo – comentou pesarosa. - Mas
ele está sobrecarregado, e ficaria furioso se o incomodássemos no meio de
uma reunião tão importante. Somos donos da Sanders Novelties, entende?
Estamos em Londres tentando fechar um grande negócio com uma
companhia importante.
       Gabe inclinou-se sobre a cadeira e baixou o tom de voz.
      - Tenho certeza de que seu filho adoraria receber notícias nossas
imediatamente. Ora, temos boas notícias! Ele ganhou o prêmio!
     - Tenha certeza de que ninguém precisa mais dele do que o meu
Steven.
       Gabe ergueu o corpo devagar.
       - Ótimo. Onde está acontecendo essa reunião?
      - Preciso da permissão dele para divulgar qualquer tipo de detalhe a
respeito de sua vida pessoal ou profissional. - Millicent depositou a xícara
sobre o pires sem dar importância aos suspiros aflitos das pessoas que a
cercavam. - Mas há uma questão que posso esclarecer pessoalmente e sem
demora. - E sorriu ao ver que todos se animavam. - Faço questão que me
chamem de Millicent. De agora em diante nos veremos com freqüência, e não
há razão para nos atermos a formalidades.
       - É muita gentileza sua - Tessa respondeu com esforço.
      - Se me permitem, preciso ir ao banheiro. Gabe apelou para a esposa,
que passara todo o tempo sentada ao lado da mesa alisando a grinalda que
Tessa usara com o vestido.
       - Pode acompanhá-la, querida? Não queremos que Millicent se perca
pelos corredores.
      Nem que ela falasse com algum repórter. Lianne era capaz de ler os
pensamentos do marido com facilidade espantosa. Séria, levantou-se e
deixou a grinalda sobre a agenda aberta sobre a mesa.
       - Venha comigo, sra. Millicent.




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      Gabe acompanhou-as até a porta e fechou-a com um movimento
impaciente. Tessa aproximou-se para uma palavra em particular.
       - O que será que ela está tramando?
      - Não podemos culpá-la por não querer interromper o filho numa
reunião importante.
       - Mas não acredita naquele ar indefeso, não é?
       - Nem por um segundo, Tess. Não sei por que, mas é óbvio que
Millicent decidiu interferir na vida do filho, e arrastou nossa promoção para
sua encrenca familiar.
       - Se ao menos soubéssemos quais são os planos dele.
      - Talvez o tal Steven pretenda fugir com a noiva e ela queira forçá-lo
a engolir uma cerimônia completa. Ou está fugindo do compromisso e a mãe
quer forçá-lo a marcar a data.
      - Mas por que as crianças insistem em dizer que faço parte do
prêmio? E por que Millicent apóia a idéia?
       - Talvez não aprovem a namorada - Gabe supôs.
      - Sua participação pode interferir no romance. Temos de aproveitar a
oportunidade para descobrir o que está acontecendo. - Disposto a usar a
ausência da avó das crianças a seu favor, virou-se para os pequenos. O
menino estava perto da cadeira que Lianne abandonara, tocando o véu
deixado sobre a mesa. A garota andava de um lado para o outro com os
braços cruzados. - Muito bem, Natalie. Parece que temos algo em comum,
não acha?
       - Por quê? - A testa franzida sugeria uma certa apreensão.
       - Porque escolhi seu trabalho. E... bem, um dia desses também serei
pai.
       O rosto da menina iluminou-se.
       - Qual é mesmo seu nome?
      - Gabriel DeWilde. Mas pode me chamar de Gabe, se quiser... seu pai
já tem uma namorada, certo?
       - Oh, ele tem muitas namoradas. É um homem bastante popular.
       - Mas deve haver uma favorita - Tessa insistiu .
       - Com quem ele esteve nos últimos dias?




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       - Com uma mulher que fala como você. Ela entrou no nosso quarto
ontem à noite e disse que éramos grandes, e que preferia os bebês porque
eles não sabem falar e não fazem perguntas.
       Tessa olhou para o primo com a testa franzida.
      - Essa mulher não parece ser do tipo que se casa e cuida de filhos
alheios.
       Natalie suspirou.
      - Vovó não quer vê-la nunca mais. Ouvi quando ela disse que jogaria
aquela sirigaita pela janela se papai voltasse a vê-la.
      O farfalhar de tecido chamou sua atenção e Tessa virou-se a tempo
de ver Nicky se escondendo sob as camadas de renda e cetim.
       - Agora sou Gasparzinho, o Fantasma Camarada!
       - Cuidado! Esse véu vale uma fortuna!
       - Não grite com ele! - Natalie reagiu alarmada.
       - Não estou gritando.
       - Não gosta de nós? - Nicky perguntou perturbado.
       - Por que ela mudou de idéia, Natty? O que fizemos de errado?
       Natalie chegou ao limite. Lágrimas brotaram de seus olhos e correram
pelo rosto congestionado.
     - Nicky precisa de uma mãe. Ele nem consegue se lembrar da nossa
mãe de verdade! Será que não entende?
       Em pânico, Gabe implorou:
       - Por favor, não chore.
       A menina engoliu em seco e soluçou, tentando conter-se.
       - Não estou chorando! Sou muito forte, como meu pai.
      Dominado pela compaixão, tomou a criança nos braços e a fez sentar-
se no sofá. Tessa tirou o véu da cabeça de Nicky e acomodou-o ao lado da
irmã.
      _ Muito bem... – começou hesitante. - Nicky, sei que não é um mau
menino. Quanto a você, Natalie, é evidente que está assumindo mais
responsabilidades do que pode ter, e isso a incomoda.
      - Não posso pensar em mim. Tenho de cuidar de vovó e do meu irmão
mais novo.




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       - Se quer mesmo ajudá-los, precisa nos dizer o que está acontecendo
aqui. Sua redação conta uma história verdadeira, ou não?
       Natalie abaixou a cabeça.
      - Oh, sim. Papai está ocupado demais para organizar um casamento. E
nossa mãe realmente foi para o céu.
       - Ele sabe o que fizeram para ajudá-lo? – Gabe perguntou.
       - Não, é tudo uma surpresa.
       Tessa sorriu esperançosa.
      - Mas para que tudo isso começasse, devem ter ouvido alguma coisa
sobre um eventual casamento, certo? Seu pai pretende mesmo casar-se com
alguém? Natalie limpou o rosto no lenço que Gabe oferecia.
       - Se pedir com jeitinho, tenho certeza de que ele vai aceitar.
       - Está dizendo... que espera que eu o peça em casamento?
       - É claro que sim! O que ele faria com um vestido sem uma noiva?
      - Tem razão - Gabe concordou, notando que a prima olhava para o
próprio traje com um misto de confusão e pavor.
       Tessa virou-se para ele e baixou o tom de voz.
       - Gabriel, por que Millicent Sanders me escolheu?
       - Quem sabe?
       - Pretendo arrancar a verdade dela nem que seja à força!
       Gabe a segurou pelo braço, reconhecendo o brilho que iluminava seus
olhos. Um confronto entre as duas mulheres de personalidade imperiosa era
mais do que podia suportar no momento. - Escute, é inútil enfrentar a avó
das crianças a esta altura dos fatos.
       - Por quê? Estamos em maior número. Podemos convencê-la a falar.
      - Ela é esperta demais para você. É evidente que preparou-se para
enfrentar quaisquer circunstâncias que ameacem seu plano com um simples
jogo de palavras.
       Tessa estava ofendida.
       - Também posso mentir, se for necessário!
       - E acha que eu não sei disso, modesta estilista desconhecida? O fato
é que Millicent tem mais anos de prática e decidiu que este espetáculo é
dela. Se pudermos encontrar o filho antes dessa história ir adiante... - Gabe




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parou ao ver Lianne entrar com Millicent. O rosto perturbado da esposa era
mais eloqüente que muitas palavras.
       - A história já ganhou o mundo - ela anunciou.
      - O noticiário vespertino da tevê está anunciando que Tessa foi
pedida em casamento na Casa das Noivas. Segundo o apresentador, um
empresário americano em visita ao país apaixonou-se por uma jovem estilista
britânica e usou uma redação feita pelos filhos para aproximar-se dela. O
homem conquistou seu coração, o vestido que ela criou e uma cerimônia
completa, incluindo a recepção e a viagem de lua-de-mel.
       Tomado por uma nova onda de raiva, Gabe começou a andar pela sala.
      - Agora os jornais da tarde vão publicar a história. Seremos a piada
da cidade.
       O grito de Natalie assustou a todos.
       - Você não é bonzinho! Você é o vilão!
       Gabe sentiu-se esmagado sob o olhar de acusação e o dedo em riste.
       - Não sou! - Reagiu sem pensar. - Tenho responsabilidades com os
acionistas, com banqueiros e parentes...
       Tessa tocou a manga de seu paletó.
       - Gabe, talvez eu possa dar um jeito nisso e salvar o concurso.
       De perfil, olhando para o teto como se temesse enfrentar a situação,
ele se esforçou para recuperar a calma.
       - Como?
      - Ainda não sei - ela confessou relutante. – Mas o primeiro passo é
tentar encontrar o tal Steven Sanders. Ele não devia deixar a família
vagando pelas ruas! O mínimo que podemos exigir é que se comporte com a
responsabilidade esperada de um pai. E repare os danos causados por sua
inconseqüência!
      - London Hilton em Park Lane - Millicent anunciou de onde estava. -
Suíte 807. Depois das cinco será mais fácil encontrá-lo. - Despedindo-se
com um aceno rápido, empurrou as crianças para fora da sala e partiu.
       Gabe a viu sair com um misto de espanto e fúria.
       - É inacreditável!
       - Qual será a verdadeira intenção dessa mulher?
      - Quem sabe? De qualquer maneira, lembre-se de que ela está
acostumada a vencer.


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       Tessa ergueu o queixo num gesto desafiante.
       - Eu também, primo. Eu também.
       - Vai telefonar, não é, sr. Sanders?
       A resposta de Steven foi vaga, mas a forma com que conduziu a
quinta candidata a babá até a porta da suíte sugeria firmeza. A mulher era
quase tão velha quanto sua mãe, falava com um sotaque irritante e
acreditava em dietas de fibras e laxantes de suco de limão para "manter
limpo o encanamento".
      Eram cinco e meia da tarde. Passara as últimas três horas conduzindo
entrevistas e ainda não tinha uma resposta. Suspirando, sentou-se diante da
escrivaninha e tocou a gravata de seda vermelha sobre a impecável camisa
branca. Que azar! Todas as candidatas haviam sido dispensadas por um ou
outro motivo.
      A primeira era masculina demais, a segunda, muito vulgar, e a terceira
era excessivamente rígida. A quarta... Oh, tivera a impressão de que ela
escondia alguma coisa. Não sabia o porquê, mas a jovem o levara a pensar
num filme sobre falsas babás que seqüestravam as crianças e pediam
resgates milionários.
      Talvez estivesse lidando com a situação de maneira inadequada.
Qualquer uma das três primeiras candidatas teria merecido mais atenção do
que dispensara a eles. Mas não estava satisfeito. Insistia em vê-las através
dos olhos dos filhos, e sabia que ficariam desapontados se houvesse
escolhido uma delas. Mas o que um viúvo podia fazer, além de se casar
novamente?
      Encontrar uma solução mágica? Infelizmente, sua crença na magia
morrera três anos antes, junto com Renee. Sendo assim, o que restava? As
batidas na porta o arrancaram da dolorosa reflexão. Quem poderia ser?
Mais uma candidata? A agência não fornecera um número exato, dizendo
apenas que enviaria cerca de seis pessoas. Talvez essa fosse a ideal.
Cansado, levantou-se e foi abrir a porta.
       - Steven Sanders?
      - Sim, sou eu - Os olhos registraram imediatamente a diferença entre
aquela mulher e as outras.
      - Sou... Tessa Jones. - Anunciou o nome com relutância, atenta à sua
reação. Surpresa, constatou que ele não fazia nenhum movimento brusco,
como tentar agarrá-la pelo pescoço ou puxá-la para dentro pelos cabelos.




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Uma Noiva Para Papai                                            Leandra Logan
Casa das Noivas 5

       Era evidente que não lera os jornais vespertinos. N a verdade, parecia
mais intrigado que aborrecido. Intrigado e intrigante. Era alto e esguio,
dono de um corpo forte e musculoso. Os cabelos eram curtos demais para o
seu gosto, mas combinavam com o rosto de traços marcantes. E apesar de
preferir olhos castanhos, tinha de admitir que havia um certo encanto no
azul cintilante.
      Steven limpou a garganta, sentindo a temperatura do corpo subir
rapidamente. Que surpresa! Tinha a impressão de estar diante da candidata
perfeita. Jovem, com uma expressão cheia de energia e um moderno senso
de moda. O casaco cor de violeta era digno de elogios! Tratava-se de uma
Mary Poppins dos anos noventa. Sim, estava quase certo de ter encontrado a
solução para os seus problemas.
       - Por favor, entre - convidou, afastando-se para que ela pudesse
passar. A jovem cheirava a jasmins!
       - Devia ter telefonado...
      A voz era doce e suave, mas firme e determinada. Melhor assim. Lidar
com sua família de manipuladores não era trabalho para gente insegura.
Precisava mesmo de alguém com coragem. Steven a seguiu, hipnotizado pelo
andar gracioso. Uma trança brilhante ocupava o espaço entre suas
omoplatas. Ela parou no centro da saleta, onde despiu o casaco e revelou a
blusa de cetim vermelho que usava com a calça preta. Olhando para aquele
retrato de feminilidade, imaginou como ficariam os cabelos soltos em torno
do rosto em forma de coração, e como seriam as pernas sob a calça larga.
       - Sr. Sanders?
       Ele a encarou com ar assustado.
       - Oh, sim... Estava esperando por sua chegada.
       - Então já leu os jornais?
      De repente Steven notou que ela havia deixado um periódico dobrado
sobre o casaco que depositara numa cadeira. Talvez se referisse ao anúncio
da agência. Um movimento genial, tinha de reconhecer! E pensar que tinha a
oportunidade de entrevistá-la antes de todas as outras pessoas que
procuravam por uma babá...
      Steven apontou para uma poltrona e acomodou-se em outra,
aproveitando os instantes de silêncio para recompor-se. A cabeça estava
cheia de possibilidades.




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Casa das Noivas 5

      Queria saber tudo sobre ela, mas temia assustá-la demonstrando sua
ansiedade. Devia tratá-la com cortesia distante, como fizera com as outras
candidatas.
       - Sobre o jornal, sr. Sanders...
       Ele levantou a mão.
      _ Costumo considerar tudo que a imprensa divulga com uma certa
reserva. Prefiro fazer meus próprios julgamentos. Vamos começar do início
e usar esta conversa para nos conhecermos melhor. Tenho certeza de que
podemos alcançar um acordo satisfatório para as duas partes.
      - Está bem... - Tessa o estudou com atenção. Seria essa a única
reação do sujeito ao drama que viviam?
       Esperava por ela e se mostrava ansioso para conversar.
      - Gostaria de começar dizendo que minha carreira é muito importante
para mim.
       Era fácil perceber que o homem estava impressionado.
      - É assim que deve ser. Ninguém pode alcançar bons resultados se não
aprecia o que faz.
      - Concordo.- Por mais que tentasse, não conseguia imaginar Steven
Sanders enfrentando problemas com o sexo oposto, muito menos problemas
sérios o bastante para merecerem a interferência da família.
      Talvez estivesse se valendo do charme que sabia possuir para
convencê-la a esquecer o inconveniente que os filhos e a mãe haviam causado
na loja, seu ambiente de trabalho, mas parecia seguro e sincero por
natureza.
       - Algum problema, srta. Jones?
       Ela piscou e sorriu.
      _ Oh, não! Desculpe. Acho que estou um pouco nervosa. Aconteceu
tudo tão depressa que ainda não tive tempo para organizar os pensamentos.
Por favor, pode me chamar de Tessa.
       Cândida e autêntica. Seria capaz de apostar que ela conseguia tudo
aquilo que desejava com a mistura perfeita de doçura e firmeza. As
crianças iam adorá-la! Podia imaginar os piqueniques no Central Park e as
tardes divertidas na pista de patinação do Rockefeller Center.
       - Quer dizer que esta é sua primeira tentativa?
      Que importância tinha isso? Talvez ele quisesse atribuir o fracasso
do concurso à sua inexperiência.


                                                                         45
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  • 2. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Anteriormente na Casa das Noivas... Casa das Noivas em Sídnei. A loja e as pessoas... Uma nova filial da cadeia Casa das Noivas em Sídnei, Austrália, não é nenhuma surpresa. Mas um novo ramo da família DeWilde é certamente uma descoberta chocante! Natasha Pallas alcançou seu objetivo, e conseguiu devolver uma das jóias desaparecidas à coleção dos DeWilde. No caminho, ela também se apaixona por Ryder Blake, o poder e a energia por trás da Casa das Noivas australiana. De posse do valioso bracelete, Nick Santos dirige-se a Londres e a outro surpreendente segredo DeWilde! 2
  • 3. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Querido Gabe, Este é só um bilhete para informá-lo de que estarei chegando de Paris na próxima quarta-feira, ansiosa para assumir meu novo e humilde cargo na loja de Londres. Em circunstâncias ordinárias estaria contando com uma banda e um motorista uniformizado esperando por mim no aeroporto. Mas ainda tenho a intenção de provar meu talento de estilista sem a interferência da família e, portanto, será um prazer ir para casa sozinha. Dê lembranças minhas a todos os parentes e peça a eles para, por enquanto, ignorarem minha existência! Sua prima, Tessa. 3
  • 4. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 CAPÍTULO I - Não entendo por que veio se instalar neste apartamento apertado quando dispunha de todas as ruas de Londres para escolher. - Gabriel DeWilde parecia chocado enquanto despia a capa de chuva. - Tessa, isso é excentricidade demais, mesmo para você! Tessa Montiefiori sorriu com tolerância carinhosa enquanto via o primo pendurar a capa no cabide atrás da porta. Adiara aquela visita ao seu apartamento durante quase dois meses, sabendo que seu modesto estilo de vida chocaria Gabe, mas essa noite de domingo havia sido o limite para ele. Gabriel telefonara para dizer que estava indo para sua casa e desligara antes que ela pudesse protestar. - Oh, Gabe, gostaria de ter cobrado um centavo por cada vez que me chamou de excêntrica nesses anos todos! - Mas desta vez você conseguiu superar-se – ele insistiu, seguindo-a até a pequena sala de estar. - Fingir que é uma estilista principiante e esconder-se sobre o nome Jones, quando faz parte da família... Podemos colocá-la num cargo de chefia na Casa das Noivas amanhã mesmo, se quiser! Agora que sou o diretor executivo da filial londrina, posso nomeá-la gerente de vendas da loja. Seria uma alegria tê-la... - Gabe, você já fez esse discurso há seis semanas, quando tudo começou. Meus sentimentos não mudaram. Se puder vender meus vestidos para o público e a crítica especializada sem revelar que faço parte da família, provarei que meu talento é verdadeiro. Não quero que os empregados da loja o acusem de nepotismo. Não acha que este é o desafio mais criativo que já enfrentei? Gabe suspirou. Tessa estivera afastada desde que deixara a universidade, três anos atrás. Começara ocupando modestas posições nas lojas de moda da Costa Oeste americana, e depois tornara-se aprendiz de um famoso estilista francês em Paris. Fora visitá-la nos dois lugares, sempre na esperança de convencê-la a ir trabalhar na filial londrina da cadeia familiar.. Finalmente ela havia concordado, mas impusera suas condições. - Para dizer a verdade, Tessa, quando anunciou que estava voltando para casa, esperava ouvi-la dizer que ocuparia seu lugar na Casa das Noivas, como cabe a um membro da família. Pensei que houvesse superado sua fase experimental! 4
  • 5. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Não é uma fase! Pretendo enfrentar novos desafios e testar meus conhecimentos em situações inusitadas até o fim da vida! É isso que preserva o frescor de um profissional. - Receber salários modestos e viver nesta pensão disfarçada de edifício é desnecessário e inconveniente. - Gabe examinou o ambiente. As paredes estavam descascadas, o piso de madeira não tinha brilho, e as cadeiras que faziam conjunto com o sofá deviam ter escapado da última guerra. - Este é o cenário perfeito para uma simples balconista - ela protestou teimosa. - Além do mais, gosto daqui. Afinal, por que está criando confusão agora, quando falta tão pouco para a realização do meu concurso? - É exatamente no concurso que estou pensando. Ainda há tempo para anunciar quem realmente é, antes de encarar a imprensa amanhã. Todos os grandes jornais estarão cobrindo a entrega do pacote de núpcias da Butique Experimental. - Este é o momento para o qual venho trabalhando há meses, Gabe. Sonho com a chance de exibir um dos meus vestidos de noiva e provar meu talento. - Pense no constrangimento que vai enfrentar se alguém descobrir que é uma Montiefiori. - Ninguém descobrirá. Não moro em Londres há anos, desde que fui mandada para aquela escola na Suíça. Naquela época era uma pessoa diferente, cheia de gordurinhas infantis e com cabelos curtos e retos. Aquela imagem de moleque desapareceu. Gabe não podia desmenti-la. A figura esguia e os cabelos longos, de um tom único entre o louro e o vermelho, eram o retrato da feminilidade. - A farsa chegará ao fim dentro de alguns dias - ela continuou com tom animado. - A publicidade gerada pelo concurso trará o reconhecimento do meu talento. Então poderei revelar minha identidade. - Mesmo que o resultado não seja tão bom quanto imagina? Otimista por natureza, Tessa nem pensara nessa possibilidade. - Sim, creio que sim. - Ela encolheu os ombros. - Se as coisas não acontecerem como espero, terei de reavaliar minha posição. Talvez siga para a loja de Nova York e assuma o nome Smith - sugeriu brincando. Gabe riu e olhou pela janela do segundo andar. Mesmo à luz fraca do entardecer, podia constatar que a vizinhança era agradável, apesar de modesta. Jardins floridos adornavam a entrada das casas do outro lado da 5
  • 6. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 rua, e gramados bem cuidados ocupavam os canteiros de algumas construções muito antigas, porém bem preservadas. - De quem é esta casa, afinal? - De uma viúva encantadora. - Tessa sorriu. - A sra. Mortimer transformou a mansão em quatro apartamentos há muitos anos, por razões financeiras e para ter companhia, também. Ela é adorável! Trata os inquilinos como se fossem seus parentes. - Era tudo que você queria - ele provocou.- Mais parentes. De fato, os familiares eram muitos entre os DeWilde e os Montiefiori. Mas a mãe de Tessa falecera num acidente aéreo quando ela era apenas um bebê, e a sra. Mortimer satisfazia aquela espécie de carência por afeto maternal. - Gostaria que pudesse ficar satisfeito com minha volta, Gabe, e que apoiasse meu plano, mesmo sendo incapaz de aprová-lo. Ele a encarou com um sorriso carinhoso. - Pode contar comigo. Não vim aqui só para reclamar. Quero ver o vestido que está mantendo sob segredo. - Pensei que nunca pediria! Tessa aproximou-se da área de trabalho junto à janela e afastou os painéis da cortina japonesa que escondiam um manequim. O corpo de plástico sustentava sua criação, um lindo vestido branco composto por um corpete de renda com decote reto abaixo dos ombros e uma saia ampla de crepe da China. Os olhos de Gabe brilharam, repletos de aprovação. A paixão de Tessa pela vida e a coragem para assumir riscos refletiam-se em seu trabalho. - É fabuloso! Muito inovador. Exatamente o que procuramos para a loja. Tessa ficou mais. animada e começou a descrever a criação. - Vê estas pequenas pregas na cintura? Não acha que elas criam a ilusão de múltiplas camadas na saia? E o que achou do bordado delicado nos ombros? - Você é uma verdadeira mestre nos detalhes. Tenho certeza de que conquistará a fama com esse desenho. - De repente ele se virou para a cozinha. - Estou sentindo cheiro de ensopado? 6
  • 7. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Tessa franziu o nariz numa expressão concentrada. - Sim, é ensopado. - - Não me diga que aprendeu a cozinhar! – Ignorando o protesto da prima, ele invadiu a cozinha e destampou as panelas que encontrou sobre o fogão. - Não há nada aqui! -É claro que não. O cheiro que está sentindo vem do ensopado da sra. Mortimer. O apartamento dela fica bem embaixo do meu. - Mas... é como se ela estivesse cozinhando aqui! - Estamos numa construção muito antiga, Gabe. Os sons e os aromas ultrapassam os limites frágeis de portas, janelas e paredes. - Felizmente, neste caso o cheiro é delicioso – Gabe comentou ao retornar da cozinha. - Ela deve ser uma excelente cozinheira. - Oh, sim, e muito generosa, também. Basta alguém tocar a campainha e a sra. Mortimer já começa a preparar o café. Temos um acordo, sabe? Eu costuro suas roupas e limpo a escada entre os nossos apartamentos e, em troca, ela me alimenta ocasionalmente. Ei, tenho uma idéia! Se quiser ser Gabe Jones, primo de uma pobre balconista desconhecida, posso convidá-lo para jantar. - Lianne está me esperando em casa. - Nós a convidaremos também. Ela será a sra. Jones. - Sabe de uma coisa, Tessa? Você é a mulher mais irritante que já conheci! - Ele riu. - É um prazer atormentá-lo. Tem sido difícil comportar-me adequadamente na loja e manter uma distância formal. É a única falha do meu plano perfeito. Gabe viu Tessa contornar o manequim, verificando o comprimento da saia com o auxílio de uma fita métrica, removendo alfinetes com a prática que só a experiência pode conferir. Era uma mulher linda e graciosa, e já devia ter encontrado outro homem para atormentar além do primo. Não conseguia acreditar que ninguém houvesse se apaixonado por ela. Por outro lado, só um homem especial seria capaz de lidar com o gênio inovador e excêntrico de Tessa e ainda corresponder aos seus elevados padrões. Ela encarava a vida de frente, de forma corajosa e apaixonada, e o gosto por tudo que fugia ao convencional podia afastar a maioria dos homens. Por mais que se entendessem, e apesar da certeza de ser seu primo favorito, Gabe a sentira escapando de sua esfera de influência ao longo dos últimos anos. Tessa era, sem dúvida, senhora do próprio destino. Só um homem forte e 7
  • 8. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 confiante sustentaria um romance com uma mulher tão determinada e independente. É claro que tudo seria diferente se ela se interessasse por alguém. O pobre escolhido não teria a menor chance de escapar! Gabe coçou o queixo numa atitude distraída. Quanto mais pensava em Tessa apaixonada, mais gostava da idéia. Ela precisava de um marido, um homem sólido e confiável que pudesse aparar suas asas e fazê-la pousar os pés no chão gradualmente, sem assustá-la. Estava tão feliz desde que se casara com Lianne no último verão, que só desejava que todos no mundo desfrutassem da mesma plenitude. - Em que está pensando? A voz de Tessa o assustou. - Oh, eu... estava apenas refletindo. Com o passar dos anos, serei cada vez menos necessário em sua vida. - Pobrezinho! Acontece que preciso de sua ajuda neste exato momento. - Ela riu. - Venha me ajudar com a fita métrica, sim? Gabe aproximou-se do vestido com cuidado quase reverente. - O que quer que eu faça? - Segure a ponta da fita bem aqui. - Ela mostrou a cintura do vestido, onde o crepe fora costurado à renda do corpete. Relutante, Gabriel ajoelhou-se ao lado dela, pensando em todos os empregados que Tessa poderia ter ao seu dispor se aceitasse um cargo de chefia na loja. - Espero que toda essa farsa valha a pena. - O trabalho foi feito, Gabe. O prêmio foi providenciado e tudo foi arranjado para o início do meu concurso amanhã. - Seu concurso? Por que insiste em chamá-lo de seu? Ela franziu a testa ao notar a expressão preocupada do primo. - O que está querendo dizer? - Pensei que soubesse. Shirley Briggs assumiu a autoria da promoção. - O quê? - Trata-se de uma prática comum na butique. Shirley usa sua posição de gerente para roubar as idéias de jovens estilistas como você. Há algumas semanas ela me procurou para discutir a idéia de lançarmos uma nova e talentos a estilista através de um concurso patrocinado pela loja. Disse que você havia sido escolhida para a promoção por ser um modelo muito atraente e estar criando um vestido adequado para a ocasião. 8
  • 9. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Fui escolhida porque a idéia é minha! - Não tinha certeza disso na época. Você não me contou nada, e por isso não pude desmascarar Shirley. Tessa fechou os olhos para não perder a calma. - E isso que recebo por fazer tudo da maneira mais correta, valendo- me dos canais competentes. Como ela consegue repetir sempre o mesmo truque? - Um aprendiz nunca quer correr o risco de perder sua chance. Infelizmente, não posso agir sem dispor de provas. Trata-se de uma acusação muito séria. Não sei como essa mulher foi contratada! Ela é inadequada. Não se enquadra no perfil que a Casa das Noivas exige de seus funcionários. Assim que tiver motivos legítimos e comprovados para demiti- la, não hesitarei em me livrar dela. Até lá... Tessa suspirou com um misto de aflição e raiva. - Gabe, isso é horrível! - Eu sei. Aquele departamento precisa de alguém com personalidade e conhecimentos adequados para transformá-lo em algo especial, algo que lançaria a Casa das Noivas no século vinte e um. Os olhos verdes foram iluminados por um brilho astuto. - Está apelando para o meu lado mais ambicioso, e não faz questão nem de ser sutil. - Então, aceite o desafio! Surpreenda a imprensa com uma notícia de verdade amanhã. Ela balançou a cabeça com firmeza. - Não. Primeiro quero saber qual é a opinião da crítica sobre o meu trabalho. E quero uma opinião imparcial, livre de preconceitos. - Está bem. - Gabe suspirou. - Você deve saber o que está fazendo. O vestido. é maravilhoso. No entanto, não sei se devemos deixar uma porção tão grande de colo à vista. - Está falando como um velho homem casado tentando proteger o que é seu! - Reconheço que adoraria esconder Lianne dos olhos de outros homens, mas não se trata de pudor ou, moralismo. - Vá direto ao ponto. O que pretende? - Estava apenas imaginando como valorizar um decote tão ousado. - E retirou uma pequena caixa de couro azul-marinho do bolso do paletó. Sobre 9
  • 10. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 o leito de veludo havia uma linda gargantilha. Era uma peça delicada, com uma grande e perfeita pérola no centro e fileiras alternadas de diamantes e pérolas menores. Tessa deixou escapar uma exclamação de surpresa. O pai dela, George Montiefiori, havia distribuído parte de sua herança de família entre os quatro filhos, e ela recebera aquele colar. Depois da universidade, quando começara a viajar, entregara a jóia a Gabe para que ele a mantivesse em segurança. - Foi uma excelente idéia trazê-la! - Sorrindo, pegou a gargantilha da caixa e aproximou-se do espelho preso à parede. O reflexo de Gabe uniu-se ao dela quando tentava prender o fecho. - Deixe-me ajudá-la. - Ele ajustou o colar com facilidade, acostumado a lidar com as jóias da família. - Você ostenta a gargantilha com a mesma elegância que Celeste certamente possuía. Tessa ajustou o colar sobre a marca de nascença em forma de crescente na base do pescoço, um sinal idêntico ao ostentado pela avó, que abandonara seu pai e seu avô muitos anos antes. Apesar de ter herdado a personalidade independente de Celeste, Tessa não era capaz de imaginar-se fazendo a mesma escolha de vida. - É o acessório perfeito para o meu vestido de noiva. Quero dizer, para o vestido que criei para o concurso - corrigiu-se apressada, notando o sorriso de aprovação que iluminava o rosto do primo. - Foi o que eu pensei. Pode dizer a todos que a jóia pertence aos DeWilde, e que nós a emprestamos para abrilhantar o evento. - Certo. - Quem sabe não se anima e decide usá-la no dia do seu casamento? - Gabe! - ela exclamou com uma careta de desgosto. - Desde que você e Lianne se casaram, não consegue mais aceitar que alguém pode ser feliz solteiro. - Tem razão. - Pois saiba que estou muito satisfeita sozinha. Adoro acordar sem saber como será meu dia. - Amar Lianne só tornou minha vida melhor. Gostaria muito de vê-la feliz ao lado de alguém que a mereça. Tessa virou-se e ergueu-se na ponta dos pés para beijá-lo no rosto. 10
  • 11. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Tire essa idéia da cabeça. Matrimônio não faz parte da minha lista de projetos para o futuro. Sou uma profissional, Gabe, uma mulher voltada exclusivamente para a carreira. CAPÍTULO II -Oh, veja, vovó Milly! – A pequena Natalie estava excitada. - Ali! Millicent Sanders levantou-se do banco onde estivera descansando, bem ao lado da porta da loja Casa das Noivas, e olhou na direção apontada pela neta. Além do balcão de cosméticos, clientes aglomeravam-se em torno de um pedestal giratório onde uma modelo exibia um vestido de noiva. Natalie suspirou com ar sonhador. - Deve ser uma princesa. Nicky cutucou a irmã com o cotovelo. - Uma Cinderela-mamãe. Millicent não se surpreendeu com as estranhas conclusões. Amantes dos contos de fadas, as crianças consideravam a Inglaterra o lugar onde seus personagens favoritos viviam felizes para sempre. A loja mundialmente conhecida, com sua decoração elegante e cintilantes vitrinas de jóias deslumbrantes, representava uma espécie de reino encantado em suas mentes inocentes. E uma linda modelo num elaborado vestido de noiva, os cabelos claros arranjados numa coroa sob a grinalda de pérolas, era a personificação da princesa encantada. E o tipo de mãe com que o par sonhava e da qual precisava. As crianças puxavam Millicent pelas mãos, ansiosas para participarem da ação. - Mas só entramos aqui para que eu pudesse descansar um pouco! . - Por favor, vovó! - Está bem. - Millicent sorriu bem-humorada, apesar do cansaço. No conjunto Channel azul-turquesa, os cabelos prateados e curtos, como mandava a moda, ela aparentava menos que seus setenta anos. Infelizmente, sentia o peso da idade e enfrentava dificuldades para acompanhar o ritmo 11
  • 12. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 frenético dos netos. Mas, por enquanto, era a única figura materna que eles tinham, e desempenharia o papel com dedicação até que seu filho viúvo, Steven, tivesse o bom senso de se casar novamente. Naturalmente, estar numa loja especializada em matrimônios só enfatizava sua ânsia de encontrar uma nova nora. Como seria glorioso guiá-la pelos corredores da famosa Casa das Noivas! De posse de seu cartão de crédito, compraria tudo que a filial londrina tivesse para oferecer de melhor. - O que está acontecendo? - Nick perguntou, pulando para tentar enxergar melhor o pedestal com a modelo. Uma mulher num elegante vestido preto virou-se para eles. - A loja está patrocinando um concurso. O prêmio será um pacote com tudo que é necessário para a realização de um casamento. - Que maneira estranha de falar! - Natalie observou, interessada. - O motorista do táxi que nos trouxe até aqui falava da mesma maneira. - E a primeira vez que eles viajam para fora do país - Millicent explicou, embaraçada. - As crianças são de Nova York, e vieram a Londres acompanhando o pai numa viagem de negócios. O rosto da inglesa iluminou-se e ela sorriu para os pequenos. Frágil e magra, Natalie era o retrato da feminilidade em seu vestido cor-de-rosa. As meias brancas e rendadas e os sapatos de verniz preto não pareciam incomodá-la, e os longos cabelos castanhos eram adornados por um laço de fita. Nick era mais forte e robusto, um típico menino americano no pulôver que combinava com a calça escura, os cabelos dourados bem curtos e o rosto redondo marcado por duas encantadoras covinhas. Apesar de ter apenas quatro anos de idade, Nick já alcançava a irmã de seis em altura e peso. A mulher abaixou-se perto deles com um sorriso terno. - Onde está a mamãe? - perguntou. - Ela foi para o céu - Natalie respondeu num sussurro, pousando as mãos sobre as orelhas do irmão. - Nick não entende bem o que aconteceu com nossa mãe - explicou, depositando um beijo no rosto do menino antes de ser empurrada por mãos rechonchudas e nervosas. Millicent notou a inquietação da desconhecida e decidiu interferir. - Não lamente ter mencionado minha nora. Renee nos deixou há três anos. A mulher deixou transparecer o alívio. 12
  • 13. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Podemos nos aproximar, vovó? - Natalie pediu. Segurando as mãos das crianças com força, Millicent abriu caminho entre as pessoas que cercavam o pedestal. Nick estava boquiaberto. - Ela é de verdade? Natalie encolheu os ombros. - Deve ser alguém importante. Mas quem? Cinderela? Branca de Neve? Alice? Você a conhece, vovó? - Talvez... - Millicent estudava o extravagante colar que a modelo usava com elegância. Tinha a impressão de já ter visto a jóia e a moça em algum lugar. - Vamos, Nick. - Natalie segurou os ombros do irmão. Perdida nos próprios pensamentos, Millicent recomendou cautela ao vê-los avançarem para o cordão de veludo que cercava o pedestal. Lamentava o efeito que o tempo exercia sobre seu corpo. Durante anos gozara de uma visão perfeita, mas agora precisava dos bifocais que extraía da bolsa para enxergar com um mínimo de nitidez. Aproximando-os do rosto, examinou a jovem valendo-se das duas metades das lentes, prestando especial atenção ao colar que adornava o pescoço delicado. Agora tinha certeza. A modelo possuía uma semelhança evidente com sua velha amiga Celeste Montiefiori, que também era descendente da família DeWilde. Ambas exibiam o mesmo nariz empinado no rosto de formato marcante e bem definido. E as pérolas não eram as mesmas que Celeste costumava usar com os vestidos mais ousados para esconder a marca de nascença na base do pescoço? Ora, ela mesma tivera oportunidade de usar aquela jóia algumas vezes, no Festival de Cinema de Cannes, na década de setenta, e no baile inaugural de Ronald Reagan nos anos oitenta. Haviam compartilhado momentos tão especiais! Mas, como acontecera com todos os velhos amigos, o contato com Celeste tornara-se pouco freqüente. As obrigações familiares a mantinham presa em Nova York, deixando pouco tempo para longas viagens ou eventos sociais. Era intrigante ver o colar novamente. Duvidava de que Celeste o houvesse confiado a alguém que não fosse da família. Millicent fora a única pessoa a quem ela jamais emprestara a jóia, e só porque fora muito insistente. Talvez a modelo fosse uma neta, filha do filho de Celeste, George. Se não estava enganada, ele tinha três garotas e um rapaz. E a Casa das Noivas era uma empresa familiar, com vários parentes atuando nas cinco filiais 13
  • 14. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 espalhadas pelo mundo. Millicent conhecera Celeste vinte anos atrás no sul da França, onde ela fora recuperar-se do rompimento amoroso com um famoso diretor do cinema italiano. O presente de despedida proporcionara férias encantadoras que ela tratava de aproveitar ao máximo. Ao contrário de Millicent, que sempre pusera a família e suas obrigações acima de tudo, Celeste preferia viver afastada dos parentes e dizia-se incapaz de assumir responsabilidades. Investia todo o tempo e a energia de que dispunha em ligações arriscadas e num estilo de vida luxuoso, cortesia de amantes extravagantes cujos presentes ela jamais recusava. Para surpresa mútua, as duas mulheres sentiram uma simpatia imediata e intensa. Apesar das circunstâncias distintas, tornaram-se muito amigas e passaram os anos seguintes participando de almoços animados e divertidos acontecimentos sociais. Millicent considerava aquela época uma das melhores de sua vida, quando ela e Robert possuíam bons relacionamentos. A companhia de brinquedos, a Sanders Novelties, surgira na década de quarenta e tornara- se a principal fabricante americana de jogos de tabuleiro. Fundada por seu sogro, Gerald, a empresa fora herdada por Robert e acabara nas mãos de Steven, que atualmente a administrava. Por mais que gostasse de cuidar dele e de seus filhos, estar fora de casa e pensar em Celeste despertara uma certa nostalgia. - Posso ajudá-la, senhora? - Uma mulher rechonchuda e de meia-idade num vestido de tafetá dourado estava parada ao lado dela. O rosto anguloso e os olhos escuros e pequenos a tornavam carrancuda, e os cabelos castanhos presos num coque só contribuíam para a imagem sisuda. - Trabalha neste departamento? A mulher sorriu orgulhosa. - Sou gerente da Butique Experimental da Casa das Noivas de Londres. Meu nome é Shirley Briggs. Veio comprar alguma coisa? Um presente de casamento, talvez? - Ainda não, mas espero vir no futuro próximo. - Millicent notou a expressão confusa da funcionária e tratou de explicar-se. - Para um parente. - Um filho obcecado por trabalho que não sabia cuidar da própria vida. Shirley carregava um cesto de vime cheio de brochuras cor-de-rosa com o logotipo da Casa das Noivas na capa. - Veio numa ocasião oportuna, então. Estamos realizando um concurso cujo prêmio será um pacote de casamento completo. 14
  • 15. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Natalie olhou para a funcionária com expressão encantada. - Ela é uma princesa de verdade? Shirley considerou a idéia divertida e não tentou, conter o riso. - Certamente não. Ela é apenas uma aprendiz de estilista da butique exibindo uma de suas criações. O vestido faz parte do prêmio que mencionei - ela explicou para Millicent. - Queremos atrair a atenção da mídia e do público em geral para os jovens talentos descobertos pela loja. O vencedor do concurso receberá um vestido idêntico àquele e tudo que é necessário para transformar em realidade o sonho de um casamento, incluindo a recepção e a lua-de-mel. Nick virou-se com expressão desconfiada. - Mas ela mora num castelo. A paciência de Shirley diminuía rapidamente. - É pouco provável. Ela é apenas uma funcionária modesta. - Então deve ser Cinderela! - Natalie deduziu triunfante. - Ela era pobre, lembra? - perguntou ao irmão. - Depois o príncipe foi procurá-la para devolver o sapatinho e eles se casaram. Nick abaixou-se e tentou enxergar alguma coisa sob o vestido comprido. - Não consigo ver os pés dela, Natty. A menina olhou para Shirley Briggs. _ Pode pedir para ela erguer o vestido, por favor? Só um pouquinho. A gerente da butique respirou fundo. - Ela está se comportando como um manequim. Não pode falar com ninguém, nem se mexer. – Temendo parecer antipática a uma cliente em potencial, virou-se para Millicent e forçou um sorriso. – Que imaginação! Mas Millicent não ouvia. A modelo mudara de posição, certamente venci da pelo cansaço, e a pequena inclinação revelara uma marca de nascença. Abrindo mão da vaidade, pôs os óculos sobre o nariz para enxergar melhor e certificou-se de que o pequeno crescente era idêntico ao de Celeste, e no mesmo lugar, também. Não havia mais dúvidas. Aquela jovem era uma Montiefiori. Mas por que, em nome de Deus, trabalhava numa loja de departamentos? Shirley Briggs dissera que ela era apenas uma empregada modesta. O mistério por trás da estranha situação era intrigante o bastante para merecer sua atenção. 15
  • 16. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Como ela se chama? - Tessa Jones - Shirley respondeu, aparentemente surpresa com a pergunta inusitada. Tessa... Se a memória não lhe pregava uma peça, Celeste tinha três netas, Vanessa, Catherine e... Tessa! Sim, era isso! - Perdoe minha curiosidade, mas Jones é o nome da família do marido da jovem? - Ela é solteira. A maioria das nossas jovens estilistas prefere se casar com o trabalho nesse estágio inicial de suas carreiras. Natalie sorriu para a avó. - Será que ela gosta de crianças? Nick também sorria. - Espero que sim! Millicent compreendeu que os dois acreditavam que a noiva fazia parte do prêmio. Se ao menos fosse verdade! Celeste sempre dissera que as netas eram criaturas doces e adoráveis, e a jovem em questão demonstrava ter talento e ambição. Steven podia encontrar opções bem piores nos ambientes que freqüentava. Ora, a quem tentava enganar? Ele já haVia se deparado com mulheres horríveis, e sempre com deliberação irritante. Como adoraria colocá-lo no caminho de Tessa sem usar de subterfúgios, levá-lo à loja e apresentá-los. Mas Steven havia se cansado de suas tentativas bem intencionadas. Se estivesse apenas vivendo num limbo de solidão, esperando que a garota certa batesse em sua porta, seria capaz de aceitar sua decisão. Mas ele insistia em desperdiçar suas noites em clubes e casas noturnas de gosto duvidoso. Steven dizia que era apenas diversão, mas Millicent sabia que era só uma questão de tempo antes que uma predadora o agarrasse e estragasse tudo. tirá-lo novamente de circulação e colocá-lo nas mãos de uma mulher tão valiosa quanto sua finada esposa, Renee, tornara-se a mais importante missão de sua vida. Natalie aproximou-se com um olhar determinado, que Millicent acostumara-se a ver em Steven sempre que ele tinha uma boa idéia. - Vovó, acho que este pode ser um bom negócio para nós. - Concordo. - Ambas olharam para Shirley, cujo rosto expressava curiosidade. Depois de alguns instantes esperando em vão por uma explicação, a gerente da butique começou a recitar as regras do concurso. 16
  • 17. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Os participantes entregam uma redação de no máximo cem palavras explicando por que se consideram merecedores do prêmio. Gabriel DeWilde, nosso diretor executivo, julgará as composições e escolherá aquela que julgar melhor. - Adoramos nossos livros de histórias! – Nick aplaudiu entusiasmado. - Estamos interessados em relatos da vida real - Shirley esclareceu, retirando uma das brochuras do cesto de vime. - Aqui está - disse, entregando o volume a Millicent. - Deve preencher o formulário na primeira página e escrever sua redação no espaço restante. - Então, só preciso preencher os espaços, escrever um bom texto e devolver o material? - Exatamente. - Tem alguma sugestão a dar? Shirley parecia satisfeita por ter sido consultada. - Em primeiro lugar, aconselho um título criativo que chame a atenção do leitor, algo com que o público se identifique. Depois, um conteúdo original sobre algum fato da vida real, sem esquecer que o relato deve estar ligado ao prêmio em questão. Ter uma história dramática para contar seria um bom começo. A Casa das Noivas quer mudar a vida de alguém, entende? Causar impacto. Millicent e Natalie trocaram um sorriso. O drama era uma das especialidades dos Sanders. - Infelizmente, terão de se apressar - Shirley continuou. - Os trabalhos deverão ser entregues até as cinco horas da tarde de hoje, e a premiação está marcada para amanhã, ao meio-dia. Espero que não seja tarde demais para vocês. O sorriso de Millicent ampliou-se. - Pelo contrário, srta. Briggs. Creio que chegamos na hora exata. Shirley Briggs se afastou e Natalie puxou o irmão pela manga do pulôver. Millicent estava pensativa. Devia dizer às crianças que a noiva não fazia parte do prêmio. Mas isso os desestimularia para o trabalho e arruinaria a chance de colocar Steven e Tessa na mesma órbita. Além do mais, todos precisavam de uma aventura. Especialmente Steven. Ultimamente ele trabalhava demais na busca de um distribuidor europeu para os Patrulheiros do Espaço, as figuras de ação que havia criado. - O que faremos agora, vovó? - Nick quis saber. 17
  • 18. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Vamos almoçar e decidir qual a melhor maneira de contarmos nossa história. Por que não pensam num bom título a caminho do restaurante? Natalie parou e olhou para um ponto distante no espaço. - "Uma Noiva Para o Papai". O que acham? Às vezes Millicent se surpreendia com o raciocínio da neta. - Excelente, querida! - Não vai ser nada difícil - a menina decidiu orgulhosa. - O mais difícil será manter a surpresa. Insisto para que não contem nada ao seu pai. - Surpresa? - Natalie protestou. - Gostamos de contar tudo ao papai. - Eu sei. - Cada gole de vinho do porto, cada viagem de metrô, cada sorvete de. chocolate era imediatamente incluído no relato diário que os dois pequenos faziam ao pai. - Mas não quero que ele tenha esperanças. Depois, se vencermos, teremos tempo de sobra para celebrar. Steven Sanders voltou à suíte no London Hilton Hotel em Park Lane por volta das quatro da tarde de quinta-feira. Assim que abriu a porta, Natalie e Nick saíram correndo do quarto que ocupavam do outro lado da saleta. - Papai! - gritaram em coro, abraçando suas pernas. - E então, como foi o primeiro dia de alegria na boa e velha Inglaterra? - ele perguntou, os olhos azuis cheios de orgulho enquanto beijava as cabeças dos filhos. - Foi ótimo! - Natalie respondeu com euforia. Mantendo o ritual do apartamento na Quinta Avenida, ela entregou a pasta do pai a Nicky e começou a puxar a manga do paletó preto de Steven, ajudando-o a despi-lo. - E o seu dia, como foi? - Razoável. - Deixou que as crianças o guiassem até a poltrona, onde se sentou com um deles em cada joelho. Só então notou que já usavam pijamas. - Ei, não é cedo demais para irem para a cama? - Olhou para a mãe sentada diante da escrivaninha do outro lado da sala e notou que ela também vestia um robe de seda púrpura. Millicent encolheu os ombros sem desviar os olhos das palavras cruzadas do Times aberto à sua frente. 18
  • 19. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Eles colocaram os pijamas para o cochilo da tarde, e achei desnecessário vesti-los novamente. - Tinha planos de levá-los para jantar fora. Millicent deixou escapar um suspiro dramático. - Os pobrezinhos estão completamente exaustos! Steven conteve um sorriso. Não era a primeira vez nas últimas semanas que a mãe usava aquele truque para disfarçar o próprio cansaço. Se ao menos aceitasse suas limitações! Mas ela se recusava a admiti-las, especialmente nos últimos tempos. Estava desempenhando o papel da mãe incansável para dissuadi-lo da idéia de contratar uma babá. Mas estava determinado, e pretendia encontrar uma profissional competente durante a estadia em Londres e, se possível, levá-la para casa na semana seguinte, quando partissem. - Temos uma surpresa, papai - Nick anunciou entusiasmado. - Uma grande surpresa. - É mesmo? Estou maluco para saber do que se trata. - Mas não podemos contar! - Natalie exclamou indignada. - Caso contrário, deixaria de ser uma surpresa. - É impossível discutir com a lógica dessa menina, Steven - Millicent comentou. - Tem razão, mamãe. Quanto tempo terei de esperar pela bomba... Quero dizer, pela agradável revelação? - Não se preocupe, meu filho. É só uma brincadeira inocente das crianças. Como foi a reunião? - Boa para um começo. - Steven espreguiçou-se e jogou a cabeça para trás. No momento em que se moveu, sentiu as mãos dos filhos nos cabelos e sorriu, lembrando-se do jogo inventado recentemente: procurar fios brancos entre os castanhos. A contagem progredia diariamente. - Acho que a Brinquedos Butler se interessou por minha proposta. Ainda é cedo para ter certeza de alguma coisa. A reserva britânica de Franklin Butler dificulta uma interpretação mais próxima da realidade, mas pelo menos começamos a conversar. Trouxe algumas amostras dos Patrulheiros... - Trouxe bonecas para cá? - Natalie já havia descido do joelho do pai e transferia a pasta da mesa de café para o chão, onde a abriu sem nenhuma dificuldade. - Os Patrulheiros são personagens de ação, Nat - Steven protestou. 19
  • 20. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 A menina examinou as figuras vestidas em reluzentes uniformes espaciais e fez uma careta decepcionada. - Só brinco com bonecas. - Prefiro os monstros - Nick resmungou, tirando o boneco da mão da irmã. Steven riu. As crianças estavam sempre prontas a surpreendê-lo com suas opiniões decididas. A reação dos filhos à sua criação teria surpreendido os empregados da Sanders Novelties em Nova York, gente que o tratava como um santo milagreiro por ter salvado da falência a companhia que fora de seu pai e protegido seus empregos. A linha de super-heróis era campeã de vendas nos Estados Unidos desde que começara a ser comercializada, e era responsável pela atual invasão de desenhos animados, histórias em quadrinhos e espetáculos de patinação no gelo em torno dos mesmos personagens. - Qual é a graça, papai? - Nicky perguntou. - Estou tentando assustá- lo. Rrr... Steven gargalhou. - Você deve ser o único menino no mundo que faz o capitão Lance Starbuck rugir como um urso faminto. - Um visionário, como o pai - Millicent sugeriu orgulhosa. Nick levantou os braços do boneco e investiu contra Natalie, sabendo que ela era presa fácil. - O monstro peludo vai pegar você! - Pare com isso! - a menina gritou apavorada, pulando no colo do pai. - Faça-o parar, papai! Não tem graça nenhuma. Nicky tem um problema de comportamento. Steven acalmou as crianças e colocou-se entre eles. - Quando concordei em tirá-los da escola por alguns dias para virem comigo nesta viagem, vocês prometeram que iam se comportar bem. Lembram? - O pré-primário é muito mais importante que o jardim da infância - Natalie decretou orgulhosa. - No pré, ninguém faz bonecos de ação se comportarem como monstros. Nicky respondeu com mais um rugido. - Eu tento ensiná-lo! - Natalie gritou com ar dramático. 20
  • 21. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Deus, oh, Deus! Este menino precisa de uma mãe de verdade. Oh, Deus... - Steven- Millicent interrompeu ansiosa.- Estava falando sobre a reunião de hoje. Acha que a Brinquedos Butler vai realmente produzir e distribuir os Patrulheiros do Espaço na Europa? - O pessoal de vendas está animado. O único problema é a atitude conservadora da diretoria e do proprietário. Depois de meses de telefonemas e mensagens por fax, Franklin ainda não está certo do potencial do produto no mercado europeu. - Por que não? - Não sei. Ele ainda não deu uma resposta direta. - Mas sua decisão de vir até aqui e fazer a proposta pessoalmente deve acelerar o ritmo das negociações. - Mãe, nem todos me consideram irresistível. - Ele riu. - São todos uns tolos. - Suspirando, Millicent voltou às palavras cruzadas. Steven a observava com interesse. Havia algo de incomum no comportamento da mãe, algum pequeno detalhe que não conseguia identificar. Por que mantinha a testa franzida, por exemplo? Seria alguma preocupação real, ou apenas a concentração nas palavras cruzadas? Como se sentisse o olhar desconfiado, ela perguntou: - O que pode ser bebida alcoólica à base de malte com seis letras? - Mmm... Uísque. - Perfeito! - Ela preencheu os espaços com movimentos estudados e largou a caneta sobre a mesa. - Pronto, terminei. - Terminou mesmo? - Preenchi todos os quadradinhos. Não é esse o objetivo? Steven estava impressionado. - Vejo que encontrou um maravilhoso passatempo, mãe. - Não necessariamente. Estava apenas um pouco inquieta, e por isso resolvi experimentar. - Os jornais americanos têm excelentes palavras cruzadas. Existem livros inteiros dedicados a esse jogo. - É mesmo? 21
  • 22. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 O tom gelado tinha o objetivo de silenciá-lo. Era a maneira mais severa que ela encontrava para censurá-lo. Ficaria furiosa se soubesse que o truque deixara de funcionar no décimo-segundo aniversário do filho. - Não fiz nenhuma insinuação - Steven justificou-se. - Só pensei que estivesse interessada em novas atividades. - Tenho ocupações de sobra, obrigada. Mas ambos sabiam que tudo ia mudar. Com uma babá cuidando das crianças, ela estaria novamente livre. Desocupada e mais desesperada ainda para encontrar uma esposa adequada para ele. Um arrepio percorria a espinha de Steven cada vez que pensava na fila de debutantes que se formaria em sua porta. - Foi só uma idéia. Se for realmente habilidosa com as palavras cruzadas... - Para ser honesta, nem todas se encaixam. – Millicent levantou-se e esticou os braços acima da cabeça. - Errei em algum lugar e não consegui mais resolver o enigma. - Devia usar um lápis. Assim poderia apagar os erros e ir equilibrando as palavras até encaixar todas elas. - Vou pensar no assunto com a atenção que ele merece - ela prometeu. - Mas... - Quanto ao jantar, pedirei a refeição no quarto. - E desapareceu além da porta do quarto que dividia com os netos. - Peça espaguete - Steven sugeriu, piscando para as crianças. - O suficiente para todos nós. - Podemos ficar acordados até mais tarde? – Natalie perguntou esperançosa. - É claro que sim. - E afagou a cabeça da filha. - Enquanto esperamos a hora do jantar, que tal brincarmos de trocar surpresas? - Você começa - Nick decidiu. - Está bem. Frank Butler me deu um novo jogo de cartas que ele lançou recentemente. Trata-se de uma versão ampliada do jogo de damas que vocês têm em casa, com algumas regras extras. Está na minha pasta, sob o envelope pardo. Natalie encontrou o baralho e espalhou as cartas coloridas sobre a mesa de café. 22
  • 23. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Por que chamam essa figura do baralho de dama? - Porque esse era o tratamento usado antigamente para as mulheres mais velhas que permaneciam sozinhas. E como no jogo. No final, a dama fica sem par. Natalie fez uma careta tristonha. - Como você, papai. Vovó está sempre dizendo que é um homem sozinho. Também está sem par. Steven sentiu o sorriso congelar nos lábios. - Estamos discutindo um termo usado apenas para as mulheres. - E como é chamado um homem que fica velho e sozinho? - Não sei, Nat. Honestamente, não estou preocupado com isso. - A linha de pensamento de Natalie devia-se inteiramente à obsessão de sua mãe. Tinha de convencê-la a parar de referir-se à sua família como incompleta. Era perfeitamente capaz de dar às crianças todo o amor e o apoio de que precisavam. Os filhos eram obedientes, flexíveis, e pareciam muito bem ajustados. Tinha de fazer a mãe entender que seu atual estilo de vida não era prejudicial aos garotos. Além do mais, perder uma esposa na vida era tudo que julgava-se capaz de suportar. - Precisamos jogar - Natalie comentou, examinando as cartas com euforia. - Sim, querida, jogaremos depois do jantar. - Steven inclinou-se na direção da filha, que permanecia sentada a seus pés. - E então? - perguntou com tom suave. - Não têm uma surpresa para mim? - Bem... - ela hesitou. - Prometemos não dizer nada. Era melhor preparar-se. Queria saber o que estava acontecendo, mas temia o que podia ouvir. Se a mãe orquestrara a tal surpresa, sabia que devia esperar algum tipo de problema. - Vamos, desembuchem - inquietou-se. - O que aconteceu hoje? Millicent voltou à saleta nesse momento e respondeu pelos netos. - Eu os levei às maiores lojas da cidade. Harrods, Harvey Nichols, Asprey... Foi um dia comum. Nick protestou. - E a princesa vestida de noiva? Esqueceu-se dela, vovó? 23
  • 24. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - É claro que não. - Ela ajeitou os cabelos e lançou um olhar significativo na direção do filho. – Como poderia esquecer uma princesa de contos de fadas? Um conto. Steven respirou fundo, experimentando um misto de alívio e irritação. Millicent acabara de assinalar que a surpresa era apenas uma brincadeira de faz-de-conta. Se havia preferido guardar segredo era porque conhecia sua opinião sobre o assunto. - Nick - começou, tentando ser razoável com o filho - quantas vezes já discutimos a diferença entre as histórias dos livros e a vida real? - Você vai ver, papai. - Nick levantou-se e correu para o quarto. . Segundos depois retornou carregando uma cópia bastante manuseada de Cinderela e o cobertor velho que levava a todos os lugares. Ele pulou no colo do pai e começou a virar as páginas, até encontrar a figura da heroína chegando ao baile. - Aqui está! - Não entendi. - Steven franziu a testa. Millicent decidiu entrar em ação. - Estava um pouco cansada de caminhar pelas ruas, e então entrei com as crianças na Casa das Noivas para me sentar um pouco. Natalie se mostrava orgulhosa. - Eu a vi primeiro. Cinderela estava sobre um pedestal reluzente, num lindo vestido branco cheio de babados e rendas. - Era um manequim humano - a avó traduziu. - As crianças quiseram vê-la de perto, e a imagem estimulou essas cabecinhas tão criativas. - Não gostaria de vê-la, papai? - Natalie sugeriu. Steven afrouxou a gravata, consciente de todos os olhos voltados em sua direção. O único som na saleta era aquele que Nicky fazia enquanto esfregava o cobertor no nariz e o cheirava. - Duvido que tenha tempo para isso. - Podemos ficar com ela, papai? Se nós a ganharmos, vai nos deixar levá-la para casa? - Natalie segurava o rosto do pai e o encarava com ar solene. Steven estava cada vez mais confuso. - Não creio que ela esteja à disposição para... - Sim ou não, papai? 24
  • 25. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Estou certo de que ela é apenas uma funcionária da loja fazendo seu trabalho. - E se não for? E se ela for uma princesa de verdade procurando por um lar? Era tudo tão inocente que Steven decidiu participar da brincadeira. - Está bem, podem ficar com ela, se conseguirem. Mas... - Ele ergueu a voz para ser ouvido acima dos aplausos excitados. - Em troca, quero que tratem a nova babá com respeito e educação. - Todos gemeram desanimados, principalmente Millicent. Steven a encarou. - Hoje telefonei para aquela agência de empregos da Bond Street e pedi para entrevistar algumas candidatas amanhã. A pessoa que me atendeu garantiu que todas são bem treinadas e muito agradáveis. - Nunca um Sanders teve de recorrer a um empregado para criar seus filhos! - Mas agora é necessário, mamãe. Assunto encerrado. - Pelo menos tentou encontrar Mary Poppins, papai? - Natalie perguntou. Steven passou a mão pelo rosto. _ Não, querida, não tentei encontrá-la. - Mas nós dissemos que devia falar com ela! Mary Poppins é quase tão boa quanto a princesa-mãe! Steven lançou um olhar sombrio e ameaçador na direção da mãe. Mary Poppins era uma coisa. A princesa era outra. Mas a menção da palavra mãe no meio de toda aquela confusão sugeria problemas. Que diabos Millicent pensava estar fazendo? - Natalie, querida, Mary Poppins está fora de questão - a avó avisou, esperando acalmar o filho. - Por quê? Ela é perfeita! - E bateu no ombro do irmão. - Não gostaria de sair para alimentar os pássaros com ela, Nicky? Steven segurou o queixo da filha com firmeza, obrigando-a a encará- lo. - Mary Poppins não existe. A voz da menina se tornou mais estridente. - Assistimos ao filme e lemos o livro! Ela mora em Londres! Todos sabem disso! Por que não liga para ela? 25
  • 26. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Steven cobriu o rosto com as mãos. - O telefone dela não está na lista. Natalie afastou os dedos do pai para espiar entre eles. - Está bem, está bem - suspirou resignada. - Não precisa chorar. Ainda nos resta a telefonista. CAPÍTULO III - Desculpem o atraso... – Tessa parou na porta do escritório de Gabriel, no sexto andar, ao ver o brilho do tafetá dourado perto da janela. Shirley Briggs estava presente! Quando terminara de trocar o vestido de noiva pela calça comprida e o suéter, tinha certeza de que a reunião para a escolha da redação vencedora do concurso seria um evento familiar. Esperava que o cumprimento informal e as roupas casuais não despertassem as suspeitas de Shirley e arruinassem seu disfarce. Vestido num terno cinzento, Gabe estava sentado atrás de uma grande mesa de madeira escura coberta por brochuras cor-de-rosa. A julgar pelo brilho em seus olhos, era evidente que se divertia com o desconforto de Tessa. - É um prazer tê-la conosco, srta. Jones. - Boa noite, Tessa - Lianne cumprimentou com tom solidário. - Olá, Lianne. - Tessa sorriu para a esposa de Gabe, que mantinha-se sentada na cadeira à frente da mesa do marido. Lianne estava radiante no vestido vermelho que Tessa desenhara e costurara especialmente para ela meses antes. O jersey acentuava o brilho avermelhado de seus cabelos e complementava o tom rosado da pele. Mas não podia elogiar a elegância com que exibia sua criação, porque Shirley jamais entenderia o motivo pelo qual uma de suas subordinadas havia feito um vestido para a esposa do diretor executivo da filial e nora do presidente da cadeia de lojas. Em vez disso, decidiu falar sobre assuntos. inofensivos. 26
  • 27. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - A grinalda que criou para complementar meu vestido foi um sucesso estrondoso. Ouvi muitos elogios de onde estava, no alto do pedestal. - É bom saber que meu trabalho é bem aceito pelo público. Estávamos aqui escolhendo a melhor redação. Como você é a força geradora da promoção, achamos que gostaria de estar presente. - Estar presente? Tessa olhou para o primo com ar de censura. Gabriel sabia que ela desejava participar da escolha. Havia lido cada uma das redações com imenso interesse antes de enviá-la para o escritório da diretoria, e tinha uma idéia bem definida a respeito de quem deveria ser o vencedor. - Srta. Briggs - Gabe chamou. - Podemos dar a boa notícia a Tessa? - Oh, sim... é claro. - Shirley virou-se com uma brochura numa das mãos e um lenço masculino na outra. - Sinto muito - ela choramingou. – Fiquei tão emocionada com esta composição que... - E parou de falar para limpar o nariz no tecido branco. As iniciais GDW bordadas num canto do lenço chamaram a atenção de Tessa. Foi com prazer que ela viu o primo encolher-se ao ver a gerente da butique atacando sua propriedade. Bem-humorada, Lianne riu e piscou para Tessa, confirmando suas suspeitas. O lenço pertencia realmente a Gabe. E ver a sempre contida e fria Shirley Briggs em tal estado de descontrole emocional também era surpreendente. - Desculpe-me, senhor, mas os coitadinhos... Oh, eles precisam de uma mãe! - E limpou o nariz novamente com um ruído desagradável. - Se tivesse filhos e eles me perdessem, seria difícil demais para os pobrezinhos. Tessa deu alguns passos à frente e tomou a brochura da mão trêmula da gerente. O surpreendente interesse por crianças devia ser mais retórico que prático, já que estava cansada de vê-la tratando os filhos dos clientes com frieza e indiferença. - "Uma Noiva Para o Papai"? - Confusa, leu a caligrafia infantil que ocupava uma pequena parte da página. Por favor, ajudem-nos! Nosso pai precisa se casar com uma princesa. Mamãe foi para o céu e ele ficou muito sozinho. Como é um homem muito ocupado, ele não tem tempo para planejar um casamento. Prometemos que seremos felizes para sempre depois disso. Obrigado. Sorrindo, ela ergueu os olhos da página. 27
  • 28. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Tenho de admitir que é uma abordagem criativa. Mas estamos interessados neste tipo de truque? - Tessa, essas crianças parecem muito sinceras, e devem ser encantadoras - Lianne opinou. – Escolhemos essa redação por unanimidade. Gabe fez um entusiasmado movimento afirmativo com a cabeça. - Fiquei impressionado com a imitação da caligrafia e a simplicidade da mensagem. Não há outro trabalho de igual impacto. O rosto de Tessa estava inflamado, quase tanto quanto os cabelos avermelhados que o emolduravam. Desde quando aqueles dois se deixavam comover por crianças desconhecidas? A família DeWilde parecia ter enlouquecido! Primeiro tio Jeffrey e tia Grace separavam-se, e agora o filho deles, normalmente um homem frio e racional, derretia-se todo por causa da história de um pai solitário que ele nem conhecia! -Tinha algo diferente em mente - confessou com tom petulante. - Por exemplo, aquela garota cujo noivo é militar e está em missão fora do país. Ela sonha ter um casamento completamente planejado para a próxima licença do rapaz. - Mais uma causa válida,sem dúvida- Lianne concordou. - Ela é sozinha e trabalha para sustentar-se. É exatamente o tipo de cliente que a Butique Experimental quer atrair... - Sua idéia foi registrada, srta. Jones - Gabe a interrompeu para demonstrar que o anonimato tornava sua opinião pouco importante. - Todos nós gostamos muito dessa família que se prepara para receber uma nova esposa e "mãe”. E não esqueça que estamos interessados na publicidade que o concurso pode proporcionar. O material escolhido é emocionante, capaz de aquecer até o mais duro coração, e a mídia não perderá a chance de explorar um romance com tão forte apelo sentimental. Para Tessa, que pensava apenas em divulgar seu trabalho e conquistar o reconhecimento da crítica e do público, aquela era uma nova visão. - Quanto tempo terei de passar com os vencedores? - perguntou. - Apenas o mínimo necessário - Lianne tentou consolá-la. - Algumas fotos com a família, duas ou três entrevistas para os jornais mais importantes, e você estará livre. A mídia terá mais interesse no tal pai solitário e em sua futura esposa. - Tudo que pedimos é que vista sua criação durante algumas horas e sorria - Gabe acrescentou. Shirley interferiu: 28
  • 29. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 _ O sr. DeWilde pretende transformar o concurso num evento bianual se tudo der certo amanhã. Não é muita generosidade? O mínimo que pode fazer é seguir as instruções que ele vai dar. Percebendo que Tessa estava perto do limite de sua paciência, Gabe levantou-se. - Estou certo de que vai lidar com os vencedores com a dignidade e a astúcia dignas de um DeWilde. Tessa apertou a mão que ele estendeu, lamentando não poder jogá-lo pela janela com um golpe de judô. - Nosso almoço chegou. - Na tarde seguinte, a voz de Franklyn Butler ecoou na sala de reuniões. Um rapaz acabara de entrar com uma sacola repleta de sanduíches. Steven sorriu para si mesmo. Barry Lambert, seu mais próximo associado na Brinquedos Butler, o prevenira sobre os hábitos do dono da empresa. O almoço era levado ao seu escritório todos os dias às doze e trinta. Se a grande mesa de conferências não estivesse limpa no momento em que a refeição fosse entregue, ele simplesmente a limpava com um movimento de braço. Steven tinha consciência da importância dos toques pessoais nos negócios, e por isso havia preparado sua apresentação com cuidado, de forma que ela não entrasse em conflito com a hora da refeição. Passara a maior parte da manhã descrevendo os inúmeros produtos que suas figuras de ação geravam e oferecendo exemplos para inspeção. Terminara essa etapa quinze minutos antes, dando aos seis executivos presentes uma chance de examinarem tudo com cuidado. Enquanto os diretores afastavam blocos e canetas para dedicarem-se à refeição, ele pavimentava o caminho para a segunda metade da missão, a apresentação dos números relativos às vendas. Conforme combinaram anteriormente, Barry começou a recolher todo o material relativo aos Patrulheiros do Espaço e guardou-os na caixa que Steven deixara sobre uma cadeira. Enquanto isso, Steven abria a pasta e extraía dela diversos gráficos coloridos, que deixava sobre a cadeira a seu lado. Os olhos detiveram-se por alguns instantes na figura maciça de Franklyn Butler, em cujas mãos residia o destino da transação. Butler lembrava um leão-marinho com os cabelos grisalhos, as costeletas largas e as bochechas flácidas. Sorrindo, ele distribuía os sanduíches e oferecia chá e café. Se pudesse penetrar na mente do empresário por trinta segundos para descobrir o motivo de suas reservas quanto aos Patrulheiros do Espaço! - Sr. Sanders? - Judith, a secretária da diretoria, aproximara-se dele sem fazer barulho, um verdadeiro modelo de eficiência no vestido de lã 29
  • 30. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 preta. – Lamento incomodá-lo, senhor, mas sua mãe deseja falar-lhe ao telefone. Steven ergueu uma sobrancelha. Como Millicent tinha a ousadia de perturbá-lo justamente naquele dia, quando concentrava todos os esforços num dos maiores negócios de sua vida? E depois do confronto da noite anterior? Judith parecia constrangida. - Ela perguntou se estavam em horário de almoço, e eu disse que sim. - Problemas, Steve? - Barry Lambert juntou-se aos dois na ponta da mesa. - Minha mãe quer falar comigo. - Espero não ter feito algo errado. - A secretária inquietou-se. - Ela parecia muito... excitada. O que só podia significar problemas. - Obrigado, Judith. Vou atender. - Sim, senhor. - Ela foi buscar o aparelho móvel e colocou-o sobre a mesa, ao lado dele. Três luzes piscavam furiosas no painel. - A sua é a linha dois – explicou com um sorriso profissional antes de sair e fechar a porta. Barry afastou o paletó para encaixar os polegares nos suspensórios e encarou Steven com solidariedade e bom humor. - Aposto que Millicent quer saber se estamos arrumando alguma confusão. Barry havia sido a razão da terrível discussão que ele tivera com a mãe na noite anterior. As crianças dormiam quando ele fora buscá-lo na suíte do hotel, pouco depois das onze. Sempre atenta a todo e qualquer sinal de movimentação social, Millicent havia cochilado no sofá da saleta para não perder a chance de receber o amigo inglês do filho. Algumas poucas perguntas bem colocadas e ela já havia colocado Barry, horror dos horrores, no rol dos solteiros adeptos das diversões noturnas. Contemporâneo de Steven, que já completara trinta e sete anos, ele tivera muito tempo para criar raízes profundas no cenário festivo de Londres. Tudo teria sido apenas um constrangimento passageiro se as duas amigas de Barry não houvessem subido para apressá-los. Alegres, descontraídas e reconhecidamente vulgares em sua linguagem, elas haviam chamado Millicent de "velhinha", o que levara a uma discussão privada entre mãe e filho. Millicent dissera-se incapaz de entender como um pai de família podia perder tempo envolvendo-se com alguém que não tivesse os requisitos 30
  • 31. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 mínimos necessários para ser a mãe de seus filhos. Mais urna vez, haviam debatido o velho tema. Desde então não voltaram a se falar. Ela e as crianças dormiam profundamente quando deixara a suíte com todo o equipamento para a apresentação, vestindo seu melhor terno cinzento. Não esperava ter notícias de Millicent, já que ela era do tipo que passava dias ressentida, mas surpreendera-se novamente com o comportamento inusitado da mãe. Steven respirou fundo, apertou o segundo botão e levou o fone ao ouvido. - Sim, mãe? - disse com tom seco. - Graças a Deus o encontrei! - Algum problema? - Nenhum, felizmente. E depois de ontem à noite, acho que me deve uma palavra agradável. Steven ofereceu um sorriso embaraçado aos executivos sentados em torno da mesa. Todos comiam seus sanduíches e, sem nada melhor para fazer, permaneciam atentos à sua conversa telefônica. As conseqüências podiam ser mais sérias do que imaginava. Butler era capaz de imaginar que, se não 'podia controlar a própria mãe, também não conseguiria coordenar um projeto de expansão. - Por que telefonou? - Porque esperava que pudesse almoçar conosco. - Estamos comendo alguma coisa na sala de reuniões. Houve uma pausa do outro lado da linha. - Oh, não. Não contava com isso. - Onde você está, mãe? - Na Casa das Noivas... - Casa das Noivas outra vez? - Vermelho, percebeu que o nome da famosa loja silenciou o grupo. Era surpreendente como a possibilidade de um romance despertava a curiosidade das pessoas. Não estava com a menor disposição para explicar os hábitos casamenteiros da mãe e a obsessão dos filhos por contos de fadas. - O que está fazendo aí? - As crianças queriam que você visse a princesa. É o último dia dela sobre o pedestal.. - Não posso ir. 31
  • 32. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Receio ter ido longe demais. Disse aos meninos que você conseguiria escapar por alguns minutos. Com o coração apertado, Steven ouviu um par de vozes familiares ao fundo, Natalie dizendo para ele se apressar, Nicky aconselhando-o a não esquecer os sapatos da Cinderela. - Mãe, por que fez isso? - Não conseguia acreditar no atrevimento de Millicent. Ultimamente ela lançava mão de todos os dispositivos de controle disponíveis, orquestrando surpresas e disseminando a culpa. Era como se a decisão de contratar uma babá houvesse provocado uma espécie de curto- circuito em seu cérebro. Sentindo que as chances de encontrar outra nora escapavam por entre seus dedos, Milly agira com uma fúria assustadora e irritante. Infelizmente para ela, Steven chegara ao limite. - Lamento, mas não posso sair daqui - ele disse com firmeza. - Por favor, explique tudo às crianças. Espero que tenham um almoço agradável. Até mais tarde... - O dique metálico anunciou o fim da ligação, mas ele não pôde resistir ao impulso de acrescentar: - Também amo você. - Precisava preservar as aparências. Esperando não ter perdido a pose de empresário competente, deixou o aparelho sobre a mesa e começou a desembrulhar o sanduíche de rosbife que alguém deixara diante dele. - Está escondendo alguma coisa de nós, Sanders? - Franklyn Butler perguntou do outro lado. - O que quer dizer? - Steven devolveu apreensivo. - Não pude deixar de ouvir que sua mãe está na Casa das Noivas. Pretende se casar? - Minha família está sempre procurando por aventuras. - Ao morder um pedaço do sanduíche, descobriu que a boca estava seca, como sempre ocorria nos momentos de tensão. Tinha a impressão de que o mundo se unia para tentar casá-lo contra sua vontade. Judith contornava a mesa com um bule de café. - Creio que a loja está cheia de curiosos. Soube que a Casa das Noivas organizou um concurso cujo prêmio será um pacote de casamento completo. - Com um concurso como esse, um homem pode até sentir vontade de agarrar a primeira solteirona que encontrar! - Barry brincou, provocando gargalhadas. 32
  • 33. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Casados e pais de família, todos conheciam seu estilo de vida inconseqüente e livre. Steven agradeceu pelo café, refletindo sobre o que Judith acabara de dizer enquanto provava a bebida. Então havia um concurso na loja. As crianças não haviam exagerado ao descrever a pompa em torno da modelo que viram na loja. Ela devia mesmo lembrar uma princesa. Steven sentiu-se mais calmo. Não havia nada com que se preocupar. Mesmo que a mãe houvesse entrado na disputa e, suprema infelicidade, conseguisse vencê-la, não tinha uma noiva para levar ao altar. Dessa vez estava fora de perigo. A Casa das Noivas estava lotada quando Gabe ajudou Tessa a subir no pedestal pela última vez. Lianne agia como dama de honra, arranjando a seda lustrosa da cauda aos pés dela, prendendo melhor a grinalda sobre sua cabeça e verificando a maquiagem suave. - Boa sorte, Tess - disse, afagando um ombro nu e afastando-se para ir juntar-se ao marido. Tessa estudou o casal com afeto: Gabe em seu fraque preto, os cabelos castanhos bem penteados e o rosto sério, compenetrado, Lianne num vestido cor de esmeralda que enfatizava o azul de seus olhos. Estavam tão animados! Tanto quanto Shirley Briggs, que circulava no meio do público distribuindo espuma de banho em pequenas embalagens que imitavam garrafas de champanhe. Gabe ligou o microfone sem fio e chamou a atenção de todos. - Bem-vindos à Casa das Noivas... Tessa distraiu-se enquanto o primo explicava que a proposta da Butique Experimental era oferecer aos consumidores roupas feitas sob medida a preços acessíveis. Ela estudou a multidão reunida em torno do pedestal e tentou imaginar quem havia produzido o ensaio vencedor. Havia um considerável número de crianças na loja, o que aumentava em muito as possibilidades. - E o vencedor é... - Gabe mostrou a brochura cor-de- rosa que levava na mão. - "Uma Noiva Para o Papai". . O barulho tomou conta da loja. De um lado gritos desapontados e vaias, do outro, aplausos e assobios entusiasmados. Tessa olhou para o mar de rostos e concentrou-se no trio que devia ter produzido o materiaL Uma senhora num elegante traje Saint Laurent correu ao balcão de cosméticos para usar o telefone, e duas crianças excitadas pulavam em torno dela. A menina usava um vestido azul de corte delicado e o garoto usava calça escura e suéter vermelho. Ambos olhavam para ela com um misto de admiração e fascínio, como se fosse o próprio Papai Noel. A voz de Gabe ecoou forte e clara. 33
  • 34. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Pedimos que o autor da redação venha até aqui, por favor. Tessa viu a senhora desligar o telefone e abaixar-se para falar com as crianças. A menina ergueu os braços e começou a abrir caminho por entre as pessoas que se aglomeravam no espaço reservado para a promoção. Todos abriram caminho quando ela gritou: - Ganhamos! Nós conseguimos! Gabe a ajudou a subir no pedestal e, sorrindo, mostrou a brochura. - Foi você quem escreveu isto aqui? - Sim. Vovó me ajudou a soletrar as palavras, e meu irmão Nicky contribuiu com a idéia. – Subitamente tímida, Natalie baixou os olhos e o tom de voz. - Gostou mesmo do nosso ensaio? o sorriso de Gabe tornou-se mais amplo. - Gostei muito dele. Que tal ler o que escreveu em voz alta? - Pode me ajudar? Todos riram. - Está bem. - Um silêncio surpreendente invadiu a loja enquanto todos se esforçavam para ouvir a voz infantil que, em alguns momentos, se tornava quase um sussurro. Quando terminaram, Gabe empurrou-a delicadamente na direção de Tessa, que estendeu a mão para recebê-la. Fotógrafos posicionaram-se para registrar o momento mais importante da promoção. Gabe entregou a brochura a Tessa, quê passou a Natalie. - Não quer segurar seu trabalho para as fotos? - Sim, Cinderela. - Tessa, querida. Meu nome é Tessa. Natalie ofereceu um sorriso encantador. - Sim, Sua Alteza. Se prefere ser chamada assim... - Não sou quem você está pensando - Tessa explicou nervosa. A menina olhou para a multidão, ignorando sua resposta. - Venha, Nicky! Ao perceber que se transformara no centro das atenções, o garoto hesitou em ir ao encontro da irmã. Vozes desconhecidas o incentivavam, mas, assustado, ele permanecia parado no mesmo lugar. 34
  • 35. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Ah, vamos lá - Natalie encorajou-o com doçura. - Olhe só para este vestido! É como tocar no seu cobertor. - Tessa assustou-se ao sentir a mão delicada agarrando um punhado de crepe da China e apertando-o entre os dedos. - É macio, suave... . Reunindo coragem, Nicky lançou-se como um torpedo na direção do pedestal, escalando-o antes que Gabe pudesse estender a mão para ajudá-lo. Tessa o segurou pelos ombros, surpreendendo-se com a solidez dos músculos. - Ela diz que não é Cinderela - Natalie comentou com o irmão. Nicky arregalou os olhos. - Ela tem de ser! - Mas não sou, mocinho. - O sorriso forçado que oferecia aos fotógrafos começava a provocar dores no rosto. Flashes brilhavam em vários pontos do salão, alimentando sua confiança. Aquele era o momento com que tanto sonhara. O trampolim de onde saltaria para o tão esperado reconhecimento. No entanto, a sensação de triunfo foi suprimida momentos mais tarde, quando Nicky, sem nenhuma cerimônia, inclinou-se e agarrou a barra de seu vestido, levantando-o para revelar boa parte das pernas bem torneadas. Antes que pudesse recuperar-se e reajustar o tecido leve e delicado, meia dúzia de flashes explodiram em torno dela, capturando o momento para a eternidade. - Não devia ter feito isso! - Irritada e constrangida, arrumou o vestido com movimentos bruscos que traíam seus sentimentos. O rosto infantil era uma máscara de contrariedade. - Você já tem dois sapatos! - É claro que sim! - Meu pai devia trazer o outro sapato – Nicky explicou com ar desanimado, balançando a cabeça para expressar seu pesar. - Para que possamos viver felizes para sempre. - O quê? - Tessa murmurou confusa. As perguntas dos jornalistas tornaram-se mais pessoais. Quando dirigiu um apelo silencioso a Gabe, tudo que ele fez foi levar o indicador aos lábios, indicando que devia falar o mínimo possível a fim de preservar as aparências. Mas era tarde demais. Por mais que tentasse atrair a atenção dos fotógrafos com poses estudadas, sabia qual seria o retrato escolhido para ocupar as principais páginas dos jornais locais. 35
  • 36. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Quando os repórteres começaram a entrevistar as crianças, Millicent decidiu interferir. - Os meninos não têm mais nada a dizer - anunciou, lembrando Lauren Bacall no traje elegante e austero. - Meu filho Steven, pai dos garotos, cuidará de todos os detalhes. - Então é a avó? - perguntou uma jornalista. - Onde está o pai? - O nome Sanders tem alguma relação com a indústria de brinquedos? - A cerimônia está encerrada. - Tessa tentava atrair a atenção da mídia, mas era inútil. Gabe notou sua aflição e decidiu usar o microfone para pôr um ponto final na comoção. - Obrigado a todos por terem vindo. A Casa das Noivas agradece o interesse e a preferência de todos os clientes. Com a grinalda torta sobre a cabeça e as crianças enroscadas em sua saia, Tessa tentou escapar. - Foi um prazer conhecê-los, queridos - disse, puxando o vestido para libertá-lo das mãozinhas persistentes. - Seu pai pode vir receber o prêmio quando quiser. - E aproximou-se de Gabe, que segurava o microfone perto dos lábios para tecer os últimos comentários. - Publicaremos tudo sobre a cerimônia de casamento oferecida como prêmio ao pai dessas encantadoras crianças - ele disse. - Até lá... Natalie agarrou Tessa pela cintura com um olhar de adoração e inclinou-se na direção de Gabe. - Não esqueça de dizer que ela será nossa mamãe-Cinderela. O anúncio alcançou o sistema de som, causando um verdadeiro pandemônio. Repórteres e clientes voltaram-se com interesse renovado para o pequeno grupo reunido sobre o pedestal. O que começara como uma singela e emocionante história de amor, transformava-se repentinamente num enredo digno de uma novela de tevê! - É isso mesmo! - Nicky também aproximou-se do microfone, divertindo-se com o som da própria voz. - Agora estamos todos noivos dela! 36
  • 37. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 CAPÍTULO IV - Por favor, tentem entender, crianças. Não sou parte do prêmio. - Tessa olhou para o relógio de pulso. A reunião com os Sanders começara vinte minutos atrás na sala de Gabe, e ainda não haviam resolvido nada. Natalie estava parada ao lado de uma estante perto da porta, contrariada e frustrada. - Mas tem de ser! Meu pai é o rico Príncipe Encantado e virá buscá-la! Depois todos nós viveremos felizes para sempre em Nova York. - Não, querida. - Tomando cuidado com o vestido, Tessa abaixou-se na frente da garota. - Está apenas emocionada com tudo que aconteceu. Seu pai certamente escolheu alguém com quem queira se casar, uma mulher que usará o vestido oferecido pela loja e viverá com vocês para sempre. Natalie cerrou os punhos e um rubor intenso tingiu seu rosto. - Por que não tenta entender? Compaixão e impaciência lutavam pela supremacia no peito de Tessa. A menina estava descontrolada, à beira das lágrimas. Também sentia-se prestes a chorar. Seu precioso concurso corria o risco de transformar-se num estrondoso fracasso por causa dessa confusão! Suspirando, olhou para o primo sem saber o que fazer. Gabe permanecera em silêncio desde que Natalie anunciara o noivado do pai com ela... Ou melhor, com Cinderela. Aquele havia sido o ponto de partida para o desastre. O incidente com o vestido podia ser motivo de risos, mas a afirmação de que ela, Tessa, estava envolvida com o vencedor... Não demoraria muito para que alguém levantasse a suspeita de fraude envolvendo o nome da loja. Mas não havia sido ela quem se opusera à escolha de um ensaio escrito por uma criança? Sabia que seria uma decisão arriscada. Pela primeira vez, havia sido a voz da razão em meio aos gritos emocionados dos oponentes. Tessa levantou-se para falar com Millicent. - Sra. Sanders, estou muito ansiosa para falar com seu filho. - Este é o espírito - Millicent respondeu com tom calmo, erguendo a xícara de chá. - Mais tarde, querida, quando ele terminar de cuidar dos negócios. E quando você estiver mais calma e descansada. 37
  • 38. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Descansada! Se não mandarmos um comunicado à imprensa imediatamente divulgando o nome da noiva do vencedor, a cidade inteira começará a acreditar que estamos a caminho do altar! - E a confusão certamente os envolveria em algum nível, certo? - Sem dúvida nenhuma. Millicent balançou a cabeça. - Se ao menos pudéssemos interrompê-lo – comentou pesarosa. - Mas ele está sobrecarregado, e ficaria furioso se o incomodássemos no meio de uma reunião tão importante. Somos donos da Sanders Novelties, entende? Estamos em Londres tentando fechar um grande negócio com uma companhia importante. Gabe inclinou-se sobre a cadeira e baixou o tom de voz. - Tenho certeza de que seu filho adoraria receber notícias nossas imediatamente. Ora, temos boas notícias! Ele ganhou o prêmio! - Tenha certeza de que ninguém precisa mais dele do que o meu Steven. Gabe ergueu o corpo devagar. - Ótimo. Onde está acontecendo essa reunião? - Preciso da permissão dele para divulgar qualquer tipo de detalhe a respeito de sua vida pessoal ou profissional. - Millicent depositou a xícara sobre o pires sem dar importância aos suspiros aflitos das pessoas que a cercavam. - Mas há uma questão que posso esclarecer pessoalmente e sem demora. - E sorriu ao ver que todos se animavam. - Faço questão que me chamem de Millicent. De agora em diante nos veremos com freqüência, e não há razão para nos atermos a formalidades. - É muita gentileza sua - Tessa respondeu com esforço. - Se me permitem, preciso ir ao banheiro. Gabe apelou para a esposa, que passara todo o tempo sentada ao lado da mesa alisando a grinalda que Tessa usara com o vestido. - Pode acompanhá-la, querida? Não queremos que Millicent se perca pelos corredores. Nem que ela falasse com algum repórter. Lianne era capaz de ler os pensamentos do marido com facilidade espantosa. Séria, levantou-se e deixou a grinalda sobre a agenda aberta sobre a mesa. - Venha comigo, sra. Millicent. 38
  • 39. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Gabe acompanhou-as até a porta e fechou-a com um movimento impaciente. Tessa aproximou-se para uma palavra em particular. - O que será que ela está tramando? - Não podemos culpá-la por não querer interromper o filho numa reunião importante. - Mas não acredita naquele ar indefeso, não é? - Nem por um segundo, Tess. Não sei por que, mas é óbvio que Millicent decidiu interferir na vida do filho, e arrastou nossa promoção para sua encrenca familiar. - Se ao menos soubéssemos quais são os planos dele. - Talvez o tal Steven pretenda fugir com a noiva e ela queira forçá-lo a engolir uma cerimônia completa. Ou está fugindo do compromisso e a mãe quer forçá-lo a marcar a data. - Mas por que as crianças insistem em dizer que faço parte do prêmio? E por que Millicent apóia a idéia? - Talvez não aprovem a namorada - Gabe supôs. - Sua participação pode interferir no romance. Temos de aproveitar a oportunidade para descobrir o que está acontecendo. - Disposto a usar a ausência da avó das crianças a seu favor, virou-se para os pequenos. O menino estava perto da cadeira que Lianne abandonara, tocando o véu deixado sobre a mesa. A garota andava de um lado para o outro com os braços cruzados. - Muito bem, Natalie. Parece que temos algo em comum, não acha? - Por quê? - A testa franzida sugeria uma certa apreensão. - Porque escolhi seu trabalho. E... bem, um dia desses também serei pai. O rosto da menina iluminou-se. - Qual é mesmo seu nome? - Gabriel DeWilde. Mas pode me chamar de Gabe, se quiser... seu pai já tem uma namorada, certo? - Oh, ele tem muitas namoradas. É um homem bastante popular. - Mas deve haver uma favorita - Tessa insistiu . - Com quem ele esteve nos últimos dias? 39
  • 40. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Com uma mulher que fala como você. Ela entrou no nosso quarto ontem à noite e disse que éramos grandes, e que preferia os bebês porque eles não sabem falar e não fazem perguntas. Tessa olhou para o primo com a testa franzida. - Essa mulher não parece ser do tipo que se casa e cuida de filhos alheios. Natalie suspirou. - Vovó não quer vê-la nunca mais. Ouvi quando ela disse que jogaria aquela sirigaita pela janela se papai voltasse a vê-la. O farfalhar de tecido chamou sua atenção e Tessa virou-se a tempo de ver Nicky se escondendo sob as camadas de renda e cetim. - Agora sou Gasparzinho, o Fantasma Camarada! - Cuidado! Esse véu vale uma fortuna! - Não grite com ele! - Natalie reagiu alarmada. - Não estou gritando. - Não gosta de nós? - Nicky perguntou perturbado. - Por que ela mudou de idéia, Natty? O que fizemos de errado? Natalie chegou ao limite. Lágrimas brotaram de seus olhos e correram pelo rosto congestionado. - Nicky precisa de uma mãe. Ele nem consegue se lembrar da nossa mãe de verdade! Será que não entende? Em pânico, Gabe implorou: - Por favor, não chore. A menina engoliu em seco e soluçou, tentando conter-se. - Não estou chorando! Sou muito forte, como meu pai. Dominado pela compaixão, tomou a criança nos braços e a fez sentar- se no sofá. Tessa tirou o véu da cabeça de Nicky e acomodou-o ao lado da irmã. _ Muito bem... – começou hesitante. - Nicky, sei que não é um mau menino. Quanto a você, Natalie, é evidente que está assumindo mais responsabilidades do que pode ter, e isso a incomoda. - Não posso pensar em mim. Tenho de cuidar de vovó e do meu irmão mais novo. 40
  • 41. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 - Se quer mesmo ajudá-los, precisa nos dizer o que está acontecendo aqui. Sua redação conta uma história verdadeira, ou não? Natalie abaixou a cabeça. - Oh, sim. Papai está ocupado demais para organizar um casamento. E nossa mãe realmente foi para o céu. - Ele sabe o que fizeram para ajudá-lo? – Gabe perguntou. - Não, é tudo uma surpresa. Tessa sorriu esperançosa. - Mas para que tudo isso começasse, devem ter ouvido alguma coisa sobre um eventual casamento, certo? Seu pai pretende mesmo casar-se com alguém? Natalie limpou o rosto no lenço que Gabe oferecia. - Se pedir com jeitinho, tenho certeza de que ele vai aceitar. - Está dizendo... que espera que eu o peça em casamento? - É claro que sim! O que ele faria com um vestido sem uma noiva? - Tem razão - Gabe concordou, notando que a prima olhava para o próprio traje com um misto de confusão e pavor. Tessa virou-se para ele e baixou o tom de voz. - Gabriel, por que Millicent Sanders me escolheu? - Quem sabe? - Pretendo arrancar a verdade dela nem que seja à força! Gabe a segurou pelo braço, reconhecendo o brilho que iluminava seus olhos. Um confronto entre as duas mulheres de personalidade imperiosa era mais do que podia suportar no momento. - Escute, é inútil enfrentar a avó das crianças a esta altura dos fatos. - Por quê? Estamos em maior número. Podemos convencê-la a falar. - Ela é esperta demais para você. É evidente que preparou-se para enfrentar quaisquer circunstâncias que ameacem seu plano com um simples jogo de palavras. Tessa estava ofendida. - Também posso mentir, se for necessário! - E acha que eu não sei disso, modesta estilista desconhecida? O fato é que Millicent tem mais anos de prática e decidiu que este espetáculo é dela. Se pudermos encontrar o filho antes dessa história ir adiante... - Gabe 41
  • 42. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 parou ao ver Lianne entrar com Millicent. O rosto perturbado da esposa era mais eloqüente que muitas palavras. - A história já ganhou o mundo - ela anunciou. - O noticiário vespertino da tevê está anunciando que Tessa foi pedida em casamento na Casa das Noivas. Segundo o apresentador, um empresário americano em visita ao país apaixonou-se por uma jovem estilista britânica e usou uma redação feita pelos filhos para aproximar-se dela. O homem conquistou seu coração, o vestido que ela criou e uma cerimônia completa, incluindo a recepção e a viagem de lua-de-mel. Tomado por uma nova onda de raiva, Gabe começou a andar pela sala. - Agora os jornais da tarde vão publicar a história. Seremos a piada da cidade. O grito de Natalie assustou a todos. - Você não é bonzinho! Você é o vilão! Gabe sentiu-se esmagado sob o olhar de acusação e o dedo em riste. - Não sou! - Reagiu sem pensar. - Tenho responsabilidades com os acionistas, com banqueiros e parentes... Tessa tocou a manga de seu paletó. - Gabe, talvez eu possa dar um jeito nisso e salvar o concurso. De perfil, olhando para o teto como se temesse enfrentar a situação, ele se esforçou para recuperar a calma. - Como? - Ainda não sei - ela confessou relutante. – Mas o primeiro passo é tentar encontrar o tal Steven Sanders. Ele não devia deixar a família vagando pelas ruas! O mínimo que podemos exigir é que se comporte com a responsabilidade esperada de um pai. E repare os danos causados por sua inconseqüência! - London Hilton em Park Lane - Millicent anunciou de onde estava. - Suíte 807. Depois das cinco será mais fácil encontrá-lo. - Despedindo-se com um aceno rápido, empurrou as crianças para fora da sala e partiu. Gabe a viu sair com um misto de espanto e fúria. - É inacreditável! - Qual será a verdadeira intenção dessa mulher? - Quem sabe? De qualquer maneira, lembre-se de que ela está acostumada a vencer. 42
  • 43. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Tessa ergueu o queixo num gesto desafiante. - Eu também, primo. Eu também. - Vai telefonar, não é, sr. Sanders? A resposta de Steven foi vaga, mas a forma com que conduziu a quinta candidata a babá até a porta da suíte sugeria firmeza. A mulher era quase tão velha quanto sua mãe, falava com um sotaque irritante e acreditava em dietas de fibras e laxantes de suco de limão para "manter limpo o encanamento". Eram cinco e meia da tarde. Passara as últimas três horas conduzindo entrevistas e ainda não tinha uma resposta. Suspirando, sentou-se diante da escrivaninha e tocou a gravata de seda vermelha sobre a impecável camisa branca. Que azar! Todas as candidatas haviam sido dispensadas por um ou outro motivo. A primeira era masculina demais, a segunda, muito vulgar, e a terceira era excessivamente rígida. A quarta... Oh, tivera a impressão de que ela escondia alguma coisa. Não sabia o porquê, mas a jovem o levara a pensar num filme sobre falsas babás que seqüestravam as crianças e pediam resgates milionários. Talvez estivesse lidando com a situação de maneira inadequada. Qualquer uma das três primeiras candidatas teria merecido mais atenção do que dispensara a eles. Mas não estava satisfeito. Insistia em vê-las através dos olhos dos filhos, e sabia que ficariam desapontados se houvesse escolhido uma delas. Mas o que um viúvo podia fazer, além de se casar novamente? Encontrar uma solução mágica? Infelizmente, sua crença na magia morrera três anos antes, junto com Renee. Sendo assim, o que restava? As batidas na porta o arrancaram da dolorosa reflexão. Quem poderia ser? Mais uma candidata? A agência não fornecera um número exato, dizendo apenas que enviaria cerca de seis pessoas. Talvez essa fosse a ideal. Cansado, levantou-se e foi abrir a porta. - Steven Sanders? - Sim, sou eu - Os olhos registraram imediatamente a diferença entre aquela mulher e as outras. - Sou... Tessa Jones. - Anunciou o nome com relutância, atenta à sua reação. Surpresa, constatou que ele não fazia nenhum movimento brusco, como tentar agarrá-la pelo pescoço ou puxá-la para dentro pelos cabelos. 43
  • 44. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Era evidente que não lera os jornais vespertinos. N a verdade, parecia mais intrigado que aborrecido. Intrigado e intrigante. Era alto e esguio, dono de um corpo forte e musculoso. Os cabelos eram curtos demais para o seu gosto, mas combinavam com o rosto de traços marcantes. E apesar de preferir olhos castanhos, tinha de admitir que havia um certo encanto no azul cintilante. Steven limpou a garganta, sentindo a temperatura do corpo subir rapidamente. Que surpresa! Tinha a impressão de estar diante da candidata perfeita. Jovem, com uma expressão cheia de energia e um moderno senso de moda. O casaco cor de violeta era digno de elogios! Tratava-se de uma Mary Poppins dos anos noventa. Sim, estava quase certo de ter encontrado a solução para os seus problemas. - Por favor, entre - convidou, afastando-se para que ela pudesse passar. A jovem cheirava a jasmins! - Devia ter telefonado... A voz era doce e suave, mas firme e determinada. Melhor assim. Lidar com sua família de manipuladores não era trabalho para gente insegura. Precisava mesmo de alguém com coragem. Steven a seguiu, hipnotizado pelo andar gracioso. Uma trança brilhante ocupava o espaço entre suas omoplatas. Ela parou no centro da saleta, onde despiu o casaco e revelou a blusa de cetim vermelho que usava com a calça preta. Olhando para aquele retrato de feminilidade, imaginou como ficariam os cabelos soltos em torno do rosto em forma de coração, e como seriam as pernas sob a calça larga. - Sr. Sanders? Ele a encarou com ar assustado. - Oh, sim... Estava esperando por sua chegada. - Então já leu os jornais? De repente Steven notou que ela havia deixado um periódico dobrado sobre o casaco que depositara numa cadeira. Talvez se referisse ao anúncio da agência. Um movimento genial, tinha de reconhecer! E pensar que tinha a oportunidade de entrevistá-la antes de todas as outras pessoas que procuravam por uma babá... Steven apontou para uma poltrona e acomodou-se em outra, aproveitando os instantes de silêncio para recompor-se. A cabeça estava cheia de possibilidades. 44
  • 45. Uma Noiva Para Papai Leandra Logan Casa das Noivas 5 Queria saber tudo sobre ela, mas temia assustá-la demonstrando sua ansiedade. Devia tratá-la com cortesia distante, como fizera com as outras candidatas. - Sobre o jornal, sr. Sanders... Ele levantou a mão. _ Costumo considerar tudo que a imprensa divulga com uma certa reserva. Prefiro fazer meus próprios julgamentos. Vamos começar do início e usar esta conversa para nos conhecermos melhor. Tenho certeza de que podemos alcançar um acordo satisfatório para as duas partes. - Está bem... - Tessa o estudou com atenção. Seria essa a única reação do sujeito ao drama que viviam? Esperava por ela e se mostrava ansioso para conversar. - Gostaria de começar dizendo que minha carreira é muito importante para mim. Era fácil perceber que o homem estava impressionado. - É assim que deve ser. Ninguém pode alcançar bons resultados se não aprecia o que faz. - Concordo.- Por mais que tentasse, não conseguia imaginar Steven Sanders enfrentando problemas com o sexo oposto, muito menos problemas sérios o bastante para merecerem a interferência da família. Talvez estivesse se valendo do charme que sabia possuir para convencê-la a esquecer o inconveniente que os filhos e a mãe haviam causado na loja, seu ambiente de trabalho, mas parecia seguro e sincero por natureza. - Algum problema, srta. Jones? Ela piscou e sorriu. _ Oh, não! Desculpe. Acho que estou um pouco nervosa. Aconteceu tudo tão depressa que ainda não tive tempo para organizar os pensamentos. Por favor, pode me chamar de Tessa. Cândida e autêntica. Seria capaz de apostar que ela conseguia tudo aquilo que desejava com a mistura perfeita de doçura e firmeza. As crianças iam adorá-la! Podia imaginar os piqueniques no Central Park e as tardes divertidas na pista de patinação do Rockefeller Center. - Quer dizer que esta é sua primeira tentativa? Que importância tinha isso? Talvez ele quisesse atribuir o fracasso do concurso à sua inexperiência. 45