SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 7
Descargar para leer sin conexión
244 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002
ARTIGO ORIGINAL
244
0021-7557/02/78-03/244
Jornal de Pediatria
Copyright © 2002 by Sociedade Brasileira de Pediatria
Resumo
Objetivo: apresentar a experiência do Serviço de Cirurgia
Pediátrica do Instituto da Criança do HCFMUSP no diagnóstico e
tratamento de crianças com anomalias do arco aórtico e definir a
importância dos exames complementares para o diagnóstico.
Método: estudo retrospectivo de 22 crianças com diagnóstico
de compressão traqueoesofágica por anel vascular tratadas no Insti-
tuto da Criança, no período de 1985 a 2000, investigando-se dados
clínicos pré e pós-operatórios, exames complementares e evolução.
Resultados: a anomalia vascular mais freqüente foi artéria
inominada direita anômala (10 casos), seguido de duplo arco aórtico
(7 casos) e arco aórtico à direita (5 casos). Os sintomas predominan-
tes foram respiratórios (86%) e de início precoce (76% desde o
período neonatal). Entretanto, o diagnóstico definitivo na maioria
dos casos (60%) só foi estabelecido após 1 ano de vida. O exame mais
importante para o diagnóstico foi o esofagograma. A correção de
todas anomalias foi realizada por toracotomia póstero-lateral es-
querda. Não ocorreram complicações cirúrgicas. A evolução foi pior
nos casos operados mais tardiamente. Todas as crianças permanece-
ram sintomáticas por até 6 meses, apesar de significativa melhora no
pós-operatório.
Conclusão: o diagnóstico de anel vascular deve ser investigado
nas crianças com sintomas respiratórios de início precoce e nas
“chiadoras” de difícil controle. O diagnóstico pode ser realizado de
forma simples através do esofagograma. Os demais exames de
imagem acrescentam poucas informações e são dispensáveis na
maioria dos casos. Os sintomas respiratórios podem persistir com
menor intensidade por períodos variáveis no pós-operatório.
J Pediatr (Rio J) 2002; 78 (3): 244-50:obstrução das vias respi-
ratórias, estenose traqueal, bebê chiador, estenose esofágica, disfa-
gia lusória, anomalia da aorta torácica, cirurgia da aorta torácica.
Abstract
Objective: To present the study carried out by the Pediatric
Surgery Department of Instituto da Criança at the Medical School of
Universidade de São Paulo regarding the diagnosis and treatment of
children with aortic arch abnormalities and to define the role of
complementary exams for diagnosis.
Methods: Retrospective study of 22 patients with diagnosis of
tracheoesophageal compression treated at Instituto da Criança from
1985 to 2000, analyzing pre- and postoperative clinical data, diag-
nostic exams and outcome.
Results: The most frequent diagnosis was right aberrant in-
nominate artery (10 cases), followed by double aortic arch (7 cases)
and right aortic arch (5 cases). Respiratory symptoms (86%) and
early manifestation (76% since the neonatal period) were predomi-
nant. Nevertheless, most cases (60%) had the definitive diagnosis
established only after 1 year of life. The most relevant examination
for the diagnosis was the esophagogram. The correction of all the
anomalies was carried out through left postero-lateral thoracotomy.
There were no surgical complications. The outcome was worse in
patients with delayed treatment. All children remained symptomatic
for up to 6 months, although they had significant improvement in the
postoperative period.
Conclusions: The diagnosis of vascular rings should be consid-
ered in children with early respiratory symptoms and in the wheezing
baby with difficult control. The diagnosis may be established just
through the esophagogram. Other image studies add few information
and they are unnecessary in most cases. Less severe symptoms may
persist for variable periods.
J Pediatr (Rio J) 2002; 78 (3):244-50: airway obstruction,
tracheal stenosis, wheezing baby, esophageal stenosis, dysphagia
lusoria, abnormalities of the thoracic aorta, surgery of the thoracic
aorta.
Anéis vasculares na infância: diagnóstico e tratamento
Vascular rings in childhood: diagnosis and treatment
Luis R. Longo-Santos1, João G. Maksoud-Filho2, Uenis Tannuri3, Wagner C. Andrade4,
Manoel E.P. Gonçalves5, Silvia R. Cardoso5, João G. Maksoud6
1. Médico preceptor - Disciplina de Cirurgia Pediátrica – HCFMUSP.
2. Doutor em Cirurgia. Médico do Serviço de Cirurgia Pediátrica do ICr–HCFMUSP.
3. Prof. Associado – Disciplina de Cirurgia Pediátrica – FMUSP.
4. Residente de Cirurgia Pediátrica do ICr–HCFMUSP.
5. Endoscopista do ICr–HCFMUSP.
6. Prof. Titular – Disciplina de Cirurgia Pediátrica – FMUSP.
Artigo submetido em 04.10.01, aceito em 27.03.02.
Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 245
Introdução
As anomalias congênitas do arco aórtico, também co-
nhecidas como anéis vasculares e anomalias dos vasos da
base, constituem um grupo de malformações que causam
compressão do esôfago e/ou da traquéia, sendo responsá-
veisporsintomasrespiratóriosedigestivos.Sãomalforma-
çõesraras,classicamentesubdivididasemanéiscompletos,
como o duplo arco aórtico (DAA) e o arco aórtico à direita,
com persistência do ducto arterioso (AD/LE), e em anéis
incompletos, como artéria subclávia direita anômala (AI) e
anel de artéria pulmonar1,2.
As malformações do arco aórtico foram descritas inici-
almenteemadultos,osquaisapresentavamsintomaspredo-
minantementedigestivos.Emconseqüênciadisso,nosrela-
tos clássicos encontra-se a denominação “disfagia lusória”
para nomear a compressão vascular do esôfago3. Entretan-
to a experiência em pediatria mostra que o início dos
sintomas ocorre freqüentemente nos primeiros meses de
vida, e que esses são predominantemente relacionados ao
sistema respiratório4-7.
Embora o diagnóstico genérico de compressão traqueal
e/ou esofágica possa ser estabelecido de maneira simples,
ele é, na maioria das vezes, definido tardiamente, retardan-
do o tratamento cirúrgico. Tal fato pode ser atribuido à
diversidade dos sintomas, que, muitas vezes, são confundi-
dos com afecções pulmonares ou com refluxo gastroesofá-
gico8. O desconhecimento acerca do diagnóstico de anel
vascular e, conseqüentemente, o baixo índice de suspeita
são outros fatores importantes para o atraso no tratamento
definitivo.
Váriosautoresressaltaramaimportânciadestediagnós-
tico diferencial na investigação de crianças com sintomas
respiratórios crônicos (bebês chiadores) e discutiram a
seqüência propedêutica adequada em suas experiências4-
6,8-10. A utilização de novos exames de imagem não acres-
centou necessariamente vantagens para a investigação.
O objetivo do presente trabalho é mostrar a experiência
doServiçodeCirurgiaPediátricadoInstitutodaCriançado
Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP
(ICr-HCFMUSP) no diagnóstico e tratamento das anoma-
lias do arco aórtico, e definir o papel dos diversos exames
complementares no diagnóstico dessas malformações9-11.
Métodos
De fevereiro de 1985 a abril de 2000, 22 crianças
portadoras de anel vascular foram admitidas no Serviço de
Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança. Os tipos de anel
vascular foram classificados conforme nomenclatura esta-
belecida pelo Congenital Heart Surgery Database Commi-
tee e pelo European Association for Cardiothoracic Sur-
gery1 (Tabela 1).
Os dados clínicos pré e pós-operatórios, os procedi-
mentos diagnósticos e a evolução pós-operatória imedi-
ata e tardia foram obtidos por análise retrospectiva dos
prontuários.
Resultados
Sintomas pré-operatórios
Em16crianças(73%),ossintomassurgiramnoperíodo
neonatal,sendoqueduascriançasapresentaraminsuficiên-
cia respiratória aguda, necessitando de intubação orotra-
queal após o nascimento. Nas demais, o início dos sintomas
ocorreu entre o 2º e o 6º mês de vida.
Os sintomas respiratórios predominaram, sendo mais
freqüentes crises de broncoespasmo ou chiado perene,
presentes em 19 pacientes (86%). Essas crianças foram
inicialmente tratadas como “bebê chiador”, sem melhora
até que o diagnóstico correto fosse estabelecido. Outros
sintomas respiratórios, como estridor respiratório e pneu-
moniasderepetição,foramrelatados,assimcomosintomas
digestivos (Tabela 2). Estes últimos foram os menos fre-
qüentesepoucosignificativos,nuncaconstituindoaqueixa
principal.
Tabela 1 - Incidência dos anéis vasculares
Sintomas N % casos
Chiador crônico 19 86%
Cianose às mamadas 10 45%
Estridor 9 41%
Disfagia/engasgo 8 36%
Total 22 100%
Tabela 2 - Sintomas predominantes
AI: compressão inominada (artéria subclávia direita anômala).
DAA: duplo arco aórtico.
AD/LE: arco aórtico à direita/ligamento arterioso à esquerda.
Tipo N % casos
AI 10 45%
DAA 7 32%
AD/LE 5 23%
Total 22 100%
Quatorze crianças (63%) apresentaram mais de um
episódio de pneumonia antes do diagnóstico definitivo,
cinco das quais chegaram a necessitar de ventilação mecâ-
nica e internação em terapia intensiva.
Diagnóstico
Apesar dos sintomas precoces, na maioria dos casos
(60%) o diagnóstico de compressão por anel vascular
somente foi estabelecido em idade superior a 1 ano.
Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
246 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002
Com exceção de dois pacientes, todos os demais foram
submetidos à esofagograma com bário, sendo possível iden-
tificar compressão em terço médio do esôfago e classificar o
provável tipo de malformação.
Atraqueobroncoscopiafoirealizadaem15crianças(68%),
revelando genericamente compressão pulsátil no terço infe-
rior da traquéia. Dois recém-nascidos submetidos à ventila-
ção mecânica devido à insuficiência respiratória aguda grave
tiveram o diagnóstico firmado exclusivamente por traqueo-
broncoscopia,emfunçãodaimpossibilidadederealizaçãodo
esofagograma. A traqueobroncoscopia também permitiu o
diagnóstico de traqueomalácia grave associada em três paci-
entes (14%).
Em dez crianças, foram realizados outros exames de
imagem; em nove delas, realizou-se tomografia computado-
rizadadetórax;emuma,ressonâncianuclearmagnética,eem
três, arteriografia. Esses exames apenas confirmaram o diag-
nóstico efetivamente já firmado através do esofagograma.
Nenhumdelesmodificouodiagnósticoinicial,aindicaçãoou
a abordagem cirúrgica.
Em sete crianças, realizou-se ecocardiograma, com o
objetivo de investigar eventuais malformações cardíacas
associadas. Três apresentavam sopro cardíaco, e nelas foram
diagnosticadas comunicação interatrial (2 casos) e comuni-
cação interventricular (1 caso). Em nenhum dos sete casos o
ecocardiograma conseguiu identificar o anel vascular.
Cirurgia
A idade das crianças por ocasião da cirurgia variou de 21
dias a 4 anos e 4 meses.
A via de acesso foi em todos os casos toracotomia póste-
ro-lateral esquerda transpleural12,13.
Nos casos de duplo arco aórtico (DAA), realizou-se a
ligadura do arco anterior/esquerdo, que era o não dominante,
seguida de ligadura do ducto arterioso fibrosado.
Nos casos de arco aórtico à direita (AD/LE), realizaram-
se a secção do ducto arterioso fibrosado e a liberação das
aderênciasmediastinais,comoobjetivodealiviaracompres-
são esofágica e traqueal.
Nos casos de artéria inominada anômala (AI), realizou-se
a ligadura e secção da artéria, sem necessidade de reimplante
arterial. O fluxo no membro superior direito manteve-se
normal, monitorado com oxímetro de pulso.
Uma criança portadora de AD/LE foi reoperada 6 dias
após a primeira cirurgia, com indicação baseada na manuten-
çãodesintomasintensosedecompressãotraquealàbroncos-
copia. Após dissecção ampla, com liberação de aderências
mediastinais, obteve-se melhora significativa.
Pós-operatório
Exceto duas crianças, a que necessitou de reoperação e
outra portadora de traqueomalácia grave, as demais tiveram
significativa melhora dos sintomas a partir do pós-opera-
tório imediato. Entretanto, em nenhum caso os sintomas
se resolveram completamente no período inicial, persis-
tindo por até 6 meses após a cirurgia.
Não houve complicações intra ou pós-operatórias
imediatas. Três crianças faleceram no pós-operatório
tardio, duas delas devido a complicações decorrentes de
pneumopatia crônica e infecções de repetição, aos 6
meses e dois anos após a cirurgia, respectivamente. Essas
crianças foram as primeiras desta série, e tiveram diag-
nóstico mais tardio, ou seja, com mais de 4 anos de idade.
O exame anatomopatológico dos pulmões nesses casos
revelou pneumopatia crônica com sinais de bronquiolite
obliterante. A terceira criança faleceu em decorrência de
complicações de traqueomalácia grave.
Discussão
Embora raras, as malformações do arco aórtico são
facilmente diagnosticadas, com investigação simples a
partir de manifestação clínica inespecífica, porém signi-
ficativa.Emnossacasuística,todasascriançasapresenta-
vam sintomas respiratórios, a maioria de início logo após
o nascimento. Crianças com sintomas de obstrução respi-
ratóriaalta(cianoseàsmamadas,estridorinspiratório)ou
asma de difícil controle devem ser precocemente investi-
gadas, com o objetivo de identificar a presença de com-
pressão traqueal, fazendo parte da preocupação inicial de
todo pediatra que acompanha um “bebê chiador”.
Como diagnósticos diferenciais adicionais, podemos
acrescentar outras massas torácicas que podem causar
compressão do esôfago e traquéia, como pequenos cistos
broncogênicos, cistos de duplicação esofágico e tumores
benignos e malignos do mediastino. Nesses casos, os
achados radiológico e endoscópico não-característicos
deanelvascularpodemindicarinvestigaçãocomplemen-
tar, embora a conduta permaneça cirúrgica.
A traqueobroncoscopia é exame objetivo e muito útil
para o diagnóstico destas malformações14. Em alguns
casos,principalmentenaquelescomsintomasrespiratóri-
os intensos, foi o primeiro exame a ser solicitado. Tam-
bémemcriançasintubadasdevidoàinsuficiênciarespira-
tória grave, a traqueobroncoscopia foi essencial no diag-
nóstico, pela impossibilidade de realização do esofago-
grama.
A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância
nuclear magnética (RNM), embora freqüentemente soli-
citadas, em nada contribuem para o diagnóstico. Exceto
quando indicadas com objetivo específico de definir
outras formas de compressão extrínseca da traquéia e do
esôfago, como cistos e tumores mediastinais, não acres-
centam informações relevantes para o diagnóstico das
anomalias do arco aórtico. Além disso, na maioria dos
casos de anel vascular, os vasos anômalos não são pérvi-
Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 247
os, e, portanto, não podem ser contrastados, dificultando a
interpretação das imagens10,11,15.
A arteriografia é exame invasivo, e deve ser indicado
especificamente nos casos de cardiopatia complexa, ou
quando se suspeita de anel da artéria pulmonar (casos com
compressãodaparedeanteriordoesôfagoedobrônquioE).
Nasdemaissituações,aarteriografiapodeserevitada,visto
que a definição precisa da malformação é feita no próprio
ato operatório e, como já referido, em muitas situações as
estruturas do anel vascular são atrésicas, e não são contras-
tadas na arteriografia.
Oecocardiogramaéútilparainvestigaçãodemalforma-
çõescardíacasassociadas16,masnãopermiteodiagnóstico
diferencial dos anéis vasculares. Nesta casuística, as mal-
formações cardíacas foram pouco freqüentes (13,6%), sem
repercussão clínica, e não necessitaram de correção cirúr-
gica concomitante.
Oesofagogramaé,juntamentecomoexameendoscópi-
co, o principal método diagnóstico17. Apenas com o esofa-
gogramafoipossívelidentificaraexistênciadecompressão
no terço médio do esôfago em 20 casos, sendo suficiente
para diagnosticar com precisão o tipo de malformação em
18deles(90%),conformeaimagemobtida.Emapenasdois
casos o tipo de malformação sugerido pelo esofagograma
não coincidiu com o achado intra-operatório (esofagogra-
ma interpretado como de DAA com diagnóstico intraope-
ratório de AD/LE e diagnóstico pré-operatório de AI em
criança com DAA). Entretanto, o engano na definição
Figura 1 - Esofagograma de artéria subclávia direita anômala. A - radiografia em oblíquo;
B -radiografia em perfil. Impressão oblíqua e posterior, melhor visualizada como
uma compressão aguda posterior na radiografia em perfil
A B
diagnóstica pré-operatória não levou a qualquer prejuízo
para o tratamento cirúrgico, pois através do mesmo acesso
cirúrgico foi definida a malformação e realizada a correção
adequada. As imagens características17 correspondentes a
cada tipo de anel vascular são descritas nas Figuras 1, 2 e 3.
Em relação ao tratamento cirúrgico, em todos os casos
foi realizada a ligadura e secção de estruturas que permitis-
sem liberar plenamente a compressão esofágica e traqueal
sem prejudicar o fluxo vascular. Assim, através de ligadura
do ducto arterioso e do arco aórtico atrésico ou não-
dominante, é possível resolver os casos de DAA e de
AD/LE. Nos casos de AI, embora alguns autores indiquem
reimplante da artéria subclávia direita em sua posição
anatômica18, em nossa experiência esse procedimento é
dispensável e acrescentaria morbidade cirúrgica desneces-
sária, visto que o fluxo distal se restabelece imediatamente
após o clampeamento da artéria subclávia a partir de cola-
terais, sem prejuízo funcional. O acesso cirúrgico através
de toracotomia póstero-lateral esquerda permite excelente
exposiçãodasestruturasvascularesemediastinais,possibi-
litando a definição da anatomia da anomalia e da tática
cirúrgica adequada para sua correção. Permite, também, a
liberação de aderências fibrosas que podem persistir após
aligaduravascular,evitandomanutençãodesintomascom-
pressivos. Com exceção do anel da artéria pulmonar, ano-
malia muito rara e diagnosticada quando a compressão é
identificada na parede anterior do esôfago, nas demais
anomalias do arco aórtico não é necessária circulação
extracorpórea para correção.
Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
248 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002
Figura 3 - Esofagograma de arco aórtico à D com ligamento arterioso à E. A - radiografia em
PA; B - radiografia em perfil. Compressão esofagiana discreta superior à direita,
correspondente ao arco aórtico D, e outra inferior à esquerda, correspondente à
artéria subclávia E. Em perfil, compressão posterior pronunciada, correspondente
ao bulbo de origem da artéria subclávia E
Figura 2 - Esofagograma de duplo arco aórtico. A - radiografia em AP; B - radiografia em
perfil. Duas compressões esofágicas: uma maior, superior e à direita, que corres-
ponde ao arco aórtico direito, e outra menor, inferior e à esquerda, que corresponde
ao arco aórtico esquerdo. Em perfil, observa-se compressão grande e arredondada
na parede posterior do esôfago, correspondente ao arco aórtico direito
A B
A B
Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 249
A incidência de traqueomalácia associada aos anéis
vasculares foi de cerca de 14%. A traqueomalácia e as
pneumopatias crônicas são as causas mais freqüentes da
manutenção de sintomas respiratórios no pós-operatório.
Esses sintomas residuais podem ser relacionados a altera-
ções na dinâmica traqueal, lesões crônicas do parênquima
pulmonar, hiper-reatividade crônica de vias aéreas e infec-
ções de repetição7,19,20. No pós-operatório, a fisioterapia
respiratória e a antibioticoprofilaxia são de grande valor no
tratamento a longo prazo dessas crianças.
Referências bibliográficas
1. BackerCL,MavroudisC.Congenitalheartsurgerynomenclature
and database project: vascular rings, tracheal stenosis, pectus
excavatum. Ann Thorac Surg 2000;64-4 Suppl:382-18.
2. Maksoud-Filho JG, Maksoud JG. Anomalias do arco aórtico. In:
Makosud JG. Cirurgia Pediátrica. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revinter;
1998.p574-82.
3. Palmer ED. Disfagia lusoria: clinical aspects in adults. Ann Int
Med 1955; 42:1173-79.
4. Kocis KC, Midgley FM, Ruckman RN. Aortic arch complex
anomalies: 20-year experience with symptoms, diagnosis,
associated cardiac defects, and surgical repair. Pediatr Cardiol
1997; 18:127-32.
5. Krzystolik-Ladzinska J, Wiecek-Wlodarska D, Guzikowski K,
Rokicki W, Wites M, Pieniazek P. Vascular rings as a cause of
the respiratory disturbances in children. Wiad Lek 2000;
53:289-98.
6. BackerCL,IlbawiMN,DeLeonSY.Vascularanomaliescausing
tracheoesophageal compression. Review of the experience in
children. J Thorac Cardiovasc Surg 1989;97:725-30.
7. Thomson AH, Beardsmore CS, Firmin R, Leanage R, Simpson
H. Airway function in infants with vascular rings: preoperative
and posoperative assessment. Arch Dis Child 1990; 65:171-4.
8. Bakker DA, Berger RM, Borges AJ. Vascular rings: a rare cause
for common respiratory symptoms. Acta Paediatr 1999;
88:947-52.
9. Sarbeji M, De Blic J, Le Baugeois M, Mamou MT, Revillon Y,
Paupe J. Practical diagnostic approach to anomalies of the aortic
arch. A propos of 31 pediatric cases. Rev Mal Resp 1990;7:51-7.
10. Chunk K, Colombani PM, Dudgeon DL, Haller JA. Diagnosis
and management of congenital vascular rings: a 22-year
experience. Ann Thorac Surg 1992;53:597-602.
11. van Son JA, Julsrud PR, Hagler DJ, Pugo FJ, Schaff HV,
Danielson GK, et al. Imaging strategies for vascular rings. Ann
Thorac Surg 1994; 57:604-10.
12. Backer CL, Mavroudis C. Surgical approach to vascular rings.
Adv Card Surg 1997; 9:29-64.
13. Richardson JV, Doty DB, Rossi NP, Ehrenhaft JL. Operations
for aortic arch anomalies. Ann Thorac Surg 1981; 31:426-32.
14. Chapotte C, Monrigal JP, Pezard P, Jeudy C, Subayi JB,Granry
JC, et al. Airway compression in children due to congenital heart
disease: value of flexible fiberoptic bronchoscopic assessment.
J Cardiothorac Vasc Anesth 1998; 12:145-52.
15. Maksoud-Filho JG, Gonçalves MEP, Tannuri U, Maksoud JG.
Compressões do esôfago e da traquéia por anomalias do arco
aórtico na infância. Rev Ass Med Brasil 1993; 39:155-9.
16. Burch M, Deanfield JE, Sullivan ED. Investigation of vascular
compressions of trachea: the complementary roles of barium
swalow and echocardiography. Arch Dis Child 1993; 68:171-5.
17. Neuhauser BD. The roentgen diagnosis of double aaortic arch
and other anomalies of great vessels. Am J Roengen Radiumther
1946; 56:188-91.
18. Hawkins JA, Baily WW, Clark JM. Innominate artery
compression of trachea. Treatment by reimplantation of the
innominate artery. J Thorac Cardiovasc Surg 1992; 103:678-82.
A análise dessa casuística permite-nos concluir que o
diagnóstico de anel vascular deve ser suspeitado em crian-
ças com sintomas respiratórios iniciados no período neona-
tal, e em crianças com diagnóstico genérico de “bebê
chiador” de difícil controle. O diagnóstico pode ser feito de
forma simples, através do esofagograma e endoscopia
traqueal e digestiva. Os demais exames de imagem acres-
centam poucas informações e são dispensáveis. Finalmen-
te, os sintomas respiratórios podem permanecer no pós-
operatório por períodos variáveis, em decorrência de tra-
queomalácia ou afecções pulmonares crônicas.
Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
250 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002
Endereço para correspondência:
Dr. Luis Ricardo Longo dos Santos
Rua Artur Bernardes, 265 - Jd. Sta. Francisca
CEP 07013-030 – Guarulhos, SP
E-mail:luisrls@hcnet.usp.br
19. Bertrand JM, Chartrand C, hamarre A, Lapierre JG. Vascular
ring:clinicalandphysiologicalassessmentofpulmonaryfunction
following surgical correction. Pediatr Pulmonol 1986; 2:378-83.
20. MarmonLM,ByeMR,HaasJM,BalsaraRK,DunnJM.Vascular
rings and slings: long term follow up of pulmonary functions. J
Pediatr Surg 1984; 19:683-92.
Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Alterações eco + síndrome obstrutiva do sono
Alterações eco + síndrome obstrutiva do sonoAlterações eco + síndrome obstrutiva do sono
Alterações eco + síndrome obstrutiva do sono
gisa_legal
 
O exame cardiológico inicial em pediatria seu papel na atenção primária
O exame cardiológico inicial em pediatria   seu papel na atenção primáriaO exame cardiológico inicial em pediatria   seu papel na atenção primária
O exame cardiológico inicial em pediatria seu papel na atenção primária
gisa_legal
 
Evolução eco em rn com pca
Evolução eco em rn com pcaEvolução eco em rn com pca
Evolução eco em rn com pca
gisa_legal
 
Fr cardite reumática - relato de caso
Fr   cardite reumática - relato de casoFr   cardite reumática - relato de caso
Fr cardite reumática - relato de caso
gisa_legal
 
EI por fungos no período neonatal
EI por fungos no período neonatalEI por fungos no período neonatal
EI por fungos no período neonatal
gisa_legal
 
ECO na avaliação da hipotensão
ECO na avaliação da hipotensãoECO na avaliação da hipotensão
ECO na avaliação da hipotensão
gisa_legal
 
Diag clínico em cardioped é essencial
Diag clínico em cardioped é essencialDiag clínico em cardioped é essencial
Diag clínico em cardioped é essencial
gisa_legal
 
Estenose supra VP após cirurgia de Jatene
Estenose supra VP após cirurgia de JateneEstenose supra VP após cirurgia de Jatene
Estenose supra VP após cirurgia de Jatene
gisa_legal
 
Anestesiologia 02 avaliação pré-anestésica
Anestesiologia 02   avaliação pré-anestésicaAnestesiologia 02   avaliação pré-anestésica
Anestesiologia 02 avaliação pré-anestésica
Jucie Vasconcelos
 

La actualidad más candente (19)

Estudo de caso: Assistência de Enfermagem ao portador de Transposição de Gran...
Estudo de caso: Assistência de Enfermagem ao portador de Transposição de Gran...Estudo de caso: Assistência de Enfermagem ao portador de Transposição de Gran...
Estudo de caso: Assistência de Enfermagem ao portador de Transposição de Gran...
 
Alterações eco + síndrome obstrutiva do sono
Alterações eco + síndrome obstrutiva do sonoAlterações eco + síndrome obstrutiva do sono
Alterações eco + síndrome obstrutiva do sono
 
Abd agudo. radiologico pdf
Abd agudo. radiologico pdfAbd agudo. radiologico pdf
Abd agudo. radiologico pdf
 
O exame cardiológico inicial em pediatria seu papel na atenção primária
O exame cardiológico inicial em pediatria   seu papel na atenção primáriaO exame cardiológico inicial em pediatria   seu papel na atenção primária
O exame cardiológico inicial em pediatria seu papel na atenção primária
 
2009 avaliação da condição de saúde oral de pacientes candidatos à cirurgia d...
2009 avaliação da condição de saúde oral de pacientes candidatos à cirurgia d...2009 avaliação da condição de saúde oral de pacientes candidatos à cirurgia d...
2009 avaliação da condição de saúde oral de pacientes candidatos à cirurgia d...
 
Evolução eco em rn com pca
Evolução eco em rn com pcaEvolução eco em rn com pca
Evolução eco em rn com pca
 
Apresentação pioatrite e piomiosite
Apresentação pioatrite e piomiositeApresentação pioatrite e piomiosite
Apresentação pioatrite e piomiosite
 
Fr cardite reumática - relato de caso
Fr   cardite reumática - relato de casoFr   cardite reumática - relato de caso
Fr cardite reumática - relato de caso
 
EI por fungos no período neonatal
EI por fungos no período neonatalEI por fungos no período neonatal
EI por fungos no período neonatal
 
Cirurgia abdominal completa (2012)
Cirurgia abdominal   completa (2012)Cirurgia abdominal   completa (2012)
Cirurgia abdominal completa (2012)
 
ECO na avaliação da hipotensão
ECO na avaliação da hipotensãoECO na avaliação da hipotensão
ECO na avaliação da hipotensão
 
Cardiologia completa 2013
Cardiologia   completa 2013Cardiologia   completa 2013
Cardiologia completa 2013
 
Diag clínico em cardioped é essencial
Diag clínico em cardioped é essencialDiag clínico em cardioped é essencial
Diag clínico em cardioped é essencial
 
Estenose supra VP após cirurgia de Jatene
Estenose supra VP após cirurgia de JateneEstenose supra VP após cirurgia de Jatene
Estenose supra VP após cirurgia de Jatene
 
10.2 pneumologia
10.2 pneumologia10.2 pneumologia
10.2 pneumologia
 
Anestesiologia 02 avaliação pré-anestésica
Anestesiologia 02   avaliação pré-anestésicaAnestesiologia 02   avaliação pré-anestésica
Anestesiologia 02 avaliação pré-anestésica
 
Atendimento Multiprofissional no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca
Atendimento Multiprofissional no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca Atendimento Multiprofissional no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca
Atendimento Multiprofissional no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca
 
Exame físico FAV
Exame físico FAVExame físico FAV
Exame físico FAV
 
Radioquimioterapia com cisplatina, etoposido e ifosfamida associada a ácido v...
Radioquimioterapia com cisplatina, etoposido e ifosfamida associada a ácido v...Radioquimioterapia com cisplatina, etoposido e ifosfamida associada a ácido v...
Radioquimioterapia com cisplatina, etoposido e ifosfamida associada a ácido v...
 

Similar a Anéis vasculares na infância diagnóstico e t to

Avaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr com marfan
Avaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr  com marfanAvaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr  com marfan
Avaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr com marfan
gisa_legal
 
Cc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologista
Cc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologistaCc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologista
Cc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologista
gisa_legal
 
Tx cardíaco neonatal e infantil
Tx cardíaco neonatal e infantilTx cardíaco neonatal e infantil
Tx cardíaco neonatal e infantil
gisa_legal
 
Interrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anos
Interrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anosInterrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anos
Interrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anos
gisa_legal
 
Banner eco ped 1a amostra rn final
Banner eco ped 1a amostra rn   finalBanner eco ped 1a amostra rn   final
Banner eco ped 1a amostra rn final
gisa_legal
 
Banner atresia tricuspide final
Banner atresia tricuspide   finalBanner atresia tricuspide   final
Banner atresia tricuspide final
gisa_legal
 
Incidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de DownIncidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de Down
gisa_legal
 
Constrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato de
Constrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato deConstrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato de
Constrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato de
gisa_legal
 
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento carditeDesafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
gisa_legal
 
O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...
O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...
O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...
gisa_legal
 
Abc congresso eco 2015 banners
Abc congresso eco 2015   bannersAbc congresso eco 2015   banners
Abc congresso eco 2015 banners
gisa_legal
 
Cr no po de cc e complicações respiratórias
Cr no po de cc e complicações respiratóriasCr no po de cc e complicações respiratórias
Cr no po de cc e complicações respiratórias
gisa_legal
 

Similar a Anéis vasculares na infância diagnóstico e t to (20)

Avaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr com marfan
Avaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr  com marfanAvaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr  com marfan
Avaliação clínico cardiológica e eco sequencial em cr com marfan
 
Varicocele e Infertilidade
Varicocele e InfertilidadeVaricocele e Infertilidade
Varicocele e Infertilidade
 
Cc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologista
Cc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologistaCc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologista
Cc no RN: do pediatra à avaliação do cardiologista
 
Tx cardíaco neonatal e infantil
Tx cardíaco neonatal e infantilTx cardíaco neonatal e infantil
Tx cardíaco neonatal e infantil
 
Interrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anos
Interrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anosInterrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anos
Interrupção do Arco Aórtico - experiência de 8 anos
 
A15v26n1
A15v26n1A15v26n1
A15v26n1
 
O exame cardiológico inicial em pediatria: seu papel na atenção primária
O exame cardiológico inicial em pediatria: seu papel na atenção primáriaO exame cardiológico inicial em pediatria: seu papel na atenção primária
O exame cardiológico inicial em pediatria: seu papel na atenção primária
 
Pca em RNPT
Pca em RNPTPca em RNPT
Pca em RNPT
 
Relato de caso - 04.08.2014
Relato de caso - 04.08.2014Relato de caso - 04.08.2014
Relato de caso - 04.08.2014
 
Banner eco ped 1a amostra rn final
Banner eco ped 1a amostra rn   finalBanner eco ped 1a amostra rn   final
Banner eco ped 1a amostra rn final
 
Banner atresia tricuspide final
Banner atresia tricuspide   finalBanner atresia tricuspide   final
Banner atresia tricuspide final
 
Incidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de DownIncidência de CC na sínd de Down
Incidência de CC na sínd de Down
 
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdfPancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
Pancreatite Aguda_ap hospital_final.pdf
 
Constrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato de
Constrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato deConstrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato de
Constrição fetal do canal arterial após autouso materno de propianato de
 
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento carditeDesafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
Desafios para a implantação do primeiro programa de rastreamento cardite
 
O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...
O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...
O papel do eco como método isolado na indicação cirúrgica de Cardiopatias Con...
 
Abc congresso eco 2015 banners
Abc congresso eco 2015   bannersAbc congresso eco 2015   banners
Abc congresso eco 2015 banners
 
Cr no po de cc e complicações respiratórias
Cr no po de cc e complicações respiratóriasCr no po de cc e complicações respiratórias
Cr no po de cc e complicações respiratórias
 
Cateter_umbilical_ombro_umbigo aplicacão
Cateter_umbilical_ombro_umbigo aplicacãoCateter_umbilical_ombro_umbigo aplicacão
Cateter_umbilical_ombro_umbigo aplicacão
 
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
IMPACTO DE UM PROTOCOLO DE DIAGNOSTICO GUIADO POR ULTRASSOM NO INCIO DA INTER...
 

Anéis vasculares na infância diagnóstico e t to

  • 1. 244 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 ARTIGO ORIGINAL 244 0021-7557/02/78-03/244 Jornal de Pediatria Copyright © 2002 by Sociedade Brasileira de Pediatria Resumo Objetivo: apresentar a experiência do Serviço de Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança do HCFMUSP no diagnóstico e tratamento de crianças com anomalias do arco aórtico e definir a importância dos exames complementares para o diagnóstico. Método: estudo retrospectivo de 22 crianças com diagnóstico de compressão traqueoesofágica por anel vascular tratadas no Insti- tuto da Criança, no período de 1985 a 2000, investigando-se dados clínicos pré e pós-operatórios, exames complementares e evolução. Resultados: a anomalia vascular mais freqüente foi artéria inominada direita anômala (10 casos), seguido de duplo arco aórtico (7 casos) e arco aórtico à direita (5 casos). Os sintomas predominan- tes foram respiratórios (86%) e de início precoce (76% desde o período neonatal). Entretanto, o diagnóstico definitivo na maioria dos casos (60%) só foi estabelecido após 1 ano de vida. O exame mais importante para o diagnóstico foi o esofagograma. A correção de todas anomalias foi realizada por toracotomia póstero-lateral es- querda. Não ocorreram complicações cirúrgicas. A evolução foi pior nos casos operados mais tardiamente. Todas as crianças permanece- ram sintomáticas por até 6 meses, apesar de significativa melhora no pós-operatório. Conclusão: o diagnóstico de anel vascular deve ser investigado nas crianças com sintomas respiratórios de início precoce e nas “chiadoras” de difícil controle. O diagnóstico pode ser realizado de forma simples através do esofagograma. Os demais exames de imagem acrescentam poucas informações e são dispensáveis na maioria dos casos. Os sintomas respiratórios podem persistir com menor intensidade por períodos variáveis no pós-operatório. J Pediatr (Rio J) 2002; 78 (3): 244-50:obstrução das vias respi- ratórias, estenose traqueal, bebê chiador, estenose esofágica, disfa- gia lusória, anomalia da aorta torácica, cirurgia da aorta torácica. Abstract Objective: To present the study carried out by the Pediatric Surgery Department of Instituto da Criança at the Medical School of Universidade de São Paulo regarding the diagnosis and treatment of children with aortic arch abnormalities and to define the role of complementary exams for diagnosis. Methods: Retrospective study of 22 patients with diagnosis of tracheoesophageal compression treated at Instituto da Criança from 1985 to 2000, analyzing pre- and postoperative clinical data, diag- nostic exams and outcome. Results: The most frequent diagnosis was right aberrant in- nominate artery (10 cases), followed by double aortic arch (7 cases) and right aortic arch (5 cases). Respiratory symptoms (86%) and early manifestation (76% since the neonatal period) were predomi- nant. Nevertheless, most cases (60%) had the definitive diagnosis established only after 1 year of life. The most relevant examination for the diagnosis was the esophagogram. The correction of all the anomalies was carried out through left postero-lateral thoracotomy. There were no surgical complications. The outcome was worse in patients with delayed treatment. All children remained symptomatic for up to 6 months, although they had significant improvement in the postoperative period. Conclusions: The diagnosis of vascular rings should be consid- ered in children with early respiratory symptoms and in the wheezing baby with difficult control. The diagnosis may be established just through the esophagogram. Other image studies add few information and they are unnecessary in most cases. Less severe symptoms may persist for variable periods. J Pediatr (Rio J) 2002; 78 (3):244-50: airway obstruction, tracheal stenosis, wheezing baby, esophageal stenosis, dysphagia lusoria, abnormalities of the thoracic aorta, surgery of the thoracic aorta. Anéis vasculares na infância: diagnóstico e tratamento Vascular rings in childhood: diagnosis and treatment Luis R. Longo-Santos1, João G. Maksoud-Filho2, Uenis Tannuri3, Wagner C. Andrade4, Manoel E.P. Gonçalves5, Silvia R. Cardoso5, João G. Maksoud6 1. Médico preceptor - Disciplina de Cirurgia Pediátrica – HCFMUSP. 2. Doutor em Cirurgia. Médico do Serviço de Cirurgia Pediátrica do ICr–HCFMUSP. 3. Prof. Associado – Disciplina de Cirurgia Pediátrica – FMUSP. 4. Residente de Cirurgia Pediátrica do ICr–HCFMUSP. 5. Endoscopista do ICr–HCFMUSP. 6. Prof. Titular – Disciplina de Cirurgia Pediátrica – FMUSP. Artigo submetido em 04.10.01, aceito em 27.03.02.
  • 2. Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 245 Introdução As anomalias congênitas do arco aórtico, também co- nhecidas como anéis vasculares e anomalias dos vasos da base, constituem um grupo de malformações que causam compressão do esôfago e/ou da traquéia, sendo responsá- veisporsintomasrespiratóriosedigestivos.Sãomalforma- çõesraras,classicamentesubdivididasemanéiscompletos, como o duplo arco aórtico (DAA) e o arco aórtico à direita, com persistência do ducto arterioso (AD/LE), e em anéis incompletos, como artéria subclávia direita anômala (AI) e anel de artéria pulmonar1,2. As malformações do arco aórtico foram descritas inici- almenteemadultos,osquaisapresentavamsintomaspredo- minantementedigestivos.Emconseqüênciadisso,nosrela- tos clássicos encontra-se a denominação “disfagia lusória” para nomear a compressão vascular do esôfago3. Entretan- to a experiência em pediatria mostra que o início dos sintomas ocorre freqüentemente nos primeiros meses de vida, e que esses são predominantemente relacionados ao sistema respiratório4-7. Embora o diagnóstico genérico de compressão traqueal e/ou esofágica possa ser estabelecido de maneira simples, ele é, na maioria das vezes, definido tardiamente, retardan- do o tratamento cirúrgico. Tal fato pode ser atribuido à diversidade dos sintomas, que, muitas vezes, são confundi- dos com afecções pulmonares ou com refluxo gastroesofá- gico8. O desconhecimento acerca do diagnóstico de anel vascular e, conseqüentemente, o baixo índice de suspeita são outros fatores importantes para o atraso no tratamento definitivo. Váriosautoresressaltaramaimportânciadestediagnós- tico diferencial na investigação de crianças com sintomas respiratórios crônicos (bebês chiadores) e discutiram a seqüência propedêutica adequada em suas experiências4- 6,8-10. A utilização de novos exames de imagem não acres- centou necessariamente vantagens para a investigação. O objetivo do presente trabalho é mostrar a experiência doServiçodeCirurgiaPediátricadoInstitutodaCriançado Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (ICr-HCFMUSP) no diagnóstico e tratamento das anoma- lias do arco aórtico, e definir o papel dos diversos exames complementares no diagnóstico dessas malformações9-11. Métodos De fevereiro de 1985 a abril de 2000, 22 crianças portadoras de anel vascular foram admitidas no Serviço de Cirurgia Pediátrica do Instituto da Criança. Os tipos de anel vascular foram classificados conforme nomenclatura esta- belecida pelo Congenital Heart Surgery Database Commi- tee e pelo European Association for Cardiothoracic Sur- gery1 (Tabela 1). Os dados clínicos pré e pós-operatórios, os procedi- mentos diagnósticos e a evolução pós-operatória imedi- ata e tardia foram obtidos por análise retrospectiva dos prontuários. Resultados Sintomas pré-operatórios Em16crianças(73%),ossintomassurgiramnoperíodo neonatal,sendoqueduascriançasapresentaraminsuficiên- cia respiratória aguda, necessitando de intubação orotra- queal após o nascimento. Nas demais, o início dos sintomas ocorreu entre o 2º e o 6º mês de vida. Os sintomas respiratórios predominaram, sendo mais freqüentes crises de broncoespasmo ou chiado perene, presentes em 19 pacientes (86%). Essas crianças foram inicialmente tratadas como “bebê chiador”, sem melhora até que o diagnóstico correto fosse estabelecido. Outros sintomas respiratórios, como estridor respiratório e pneu- moniasderepetição,foramrelatados,assimcomosintomas digestivos (Tabela 2). Estes últimos foram os menos fre- qüentesepoucosignificativos,nuncaconstituindoaqueixa principal. Tabela 1 - Incidência dos anéis vasculares Sintomas N % casos Chiador crônico 19 86% Cianose às mamadas 10 45% Estridor 9 41% Disfagia/engasgo 8 36% Total 22 100% Tabela 2 - Sintomas predominantes AI: compressão inominada (artéria subclávia direita anômala). DAA: duplo arco aórtico. AD/LE: arco aórtico à direita/ligamento arterioso à esquerda. Tipo N % casos AI 10 45% DAA 7 32% AD/LE 5 23% Total 22 100% Quatorze crianças (63%) apresentaram mais de um episódio de pneumonia antes do diagnóstico definitivo, cinco das quais chegaram a necessitar de ventilação mecâ- nica e internação em terapia intensiva. Diagnóstico Apesar dos sintomas precoces, na maioria dos casos (60%) o diagnóstico de compressão por anel vascular somente foi estabelecido em idade superior a 1 ano. Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
  • 3. 246 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 Com exceção de dois pacientes, todos os demais foram submetidos à esofagograma com bário, sendo possível iden- tificar compressão em terço médio do esôfago e classificar o provável tipo de malformação. Atraqueobroncoscopiafoirealizadaem15crianças(68%), revelando genericamente compressão pulsátil no terço infe- rior da traquéia. Dois recém-nascidos submetidos à ventila- ção mecânica devido à insuficiência respiratória aguda grave tiveram o diagnóstico firmado exclusivamente por traqueo- broncoscopia,emfunçãodaimpossibilidadederealizaçãodo esofagograma. A traqueobroncoscopia também permitiu o diagnóstico de traqueomalácia grave associada em três paci- entes (14%). Em dez crianças, foram realizados outros exames de imagem; em nove delas, realizou-se tomografia computado- rizadadetórax;emuma,ressonâncianuclearmagnética,eem três, arteriografia. Esses exames apenas confirmaram o diag- nóstico efetivamente já firmado através do esofagograma. Nenhumdelesmodificouodiagnósticoinicial,aindicaçãoou a abordagem cirúrgica. Em sete crianças, realizou-se ecocardiograma, com o objetivo de investigar eventuais malformações cardíacas associadas. Três apresentavam sopro cardíaco, e nelas foram diagnosticadas comunicação interatrial (2 casos) e comuni- cação interventricular (1 caso). Em nenhum dos sete casos o ecocardiograma conseguiu identificar o anel vascular. Cirurgia A idade das crianças por ocasião da cirurgia variou de 21 dias a 4 anos e 4 meses. A via de acesso foi em todos os casos toracotomia póste- ro-lateral esquerda transpleural12,13. Nos casos de duplo arco aórtico (DAA), realizou-se a ligadura do arco anterior/esquerdo, que era o não dominante, seguida de ligadura do ducto arterioso fibrosado. Nos casos de arco aórtico à direita (AD/LE), realizaram- se a secção do ducto arterioso fibrosado e a liberação das aderênciasmediastinais,comoobjetivodealiviaracompres- são esofágica e traqueal. Nos casos de artéria inominada anômala (AI), realizou-se a ligadura e secção da artéria, sem necessidade de reimplante arterial. O fluxo no membro superior direito manteve-se normal, monitorado com oxímetro de pulso. Uma criança portadora de AD/LE foi reoperada 6 dias após a primeira cirurgia, com indicação baseada na manuten- çãodesintomasintensosedecompressãotraquealàbroncos- copia. Após dissecção ampla, com liberação de aderências mediastinais, obteve-se melhora significativa. Pós-operatório Exceto duas crianças, a que necessitou de reoperação e outra portadora de traqueomalácia grave, as demais tiveram significativa melhora dos sintomas a partir do pós-opera- tório imediato. Entretanto, em nenhum caso os sintomas se resolveram completamente no período inicial, persis- tindo por até 6 meses após a cirurgia. Não houve complicações intra ou pós-operatórias imediatas. Três crianças faleceram no pós-operatório tardio, duas delas devido a complicações decorrentes de pneumopatia crônica e infecções de repetição, aos 6 meses e dois anos após a cirurgia, respectivamente. Essas crianças foram as primeiras desta série, e tiveram diag- nóstico mais tardio, ou seja, com mais de 4 anos de idade. O exame anatomopatológico dos pulmões nesses casos revelou pneumopatia crônica com sinais de bronquiolite obliterante. A terceira criança faleceu em decorrência de complicações de traqueomalácia grave. Discussão Embora raras, as malformações do arco aórtico são facilmente diagnosticadas, com investigação simples a partir de manifestação clínica inespecífica, porém signi- ficativa.Emnossacasuística,todasascriançasapresenta- vam sintomas respiratórios, a maioria de início logo após o nascimento. Crianças com sintomas de obstrução respi- ratóriaalta(cianoseàsmamadas,estridorinspiratório)ou asma de difícil controle devem ser precocemente investi- gadas, com o objetivo de identificar a presença de com- pressão traqueal, fazendo parte da preocupação inicial de todo pediatra que acompanha um “bebê chiador”. Como diagnósticos diferenciais adicionais, podemos acrescentar outras massas torácicas que podem causar compressão do esôfago e traquéia, como pequenos cistos broncogênicos, cistos de duplicação esofágico e tumores benignos e malignos do mediastino. Nesses casos, os achados radiológico e endoscópico não-característicos deanelvascularpodemindicarinvestigaçãocomplemen- tar, embora a conduta permaneça cirúrgica. A traqueobroncoscopia é exame objetivo e muito útil para o diagnóstico destas malformações14. Em alguns casos,principalmentenaquelescomsintomasrespiratóri- os intensos, foi o primeiro exame a ser solicitado. Tam- bémemcriançasintubadasdevidoàinsuficiênciarespira- tória grave, a traqueobroncoscopia foi essencial no diag- nóstico, pela impossibilidade de realização do esofago- grama. A tomografia computadorizada (TC) e a ressonância nuclear magnética (RNM), embora freqüentemente soli- citadas, em nada contribuem para o diagnóstico. Exceto quando indicadas com objetivo específico de definir outras formas de compressão extrínseca da traquéia e do esôfago, como cistos e tumores mediastinais, não acres- centam informações relevantes para o diagnóstico das anomalias do arco aórtico. Além disso, na maioria dos casos de anel vascular, os vasos anômalos não são pérvi- Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
  • 4. Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 247 os, e, portanto, não podem ser contrastados, dificultando a interpretação das imagens10,11,15. A arteriografia é exame invasivo, e deve ser indicado especificamente nos casos de cardiopatia complexa, ou quando se suspeita de anel da artéria pulmonar (casos com compressãodaparedeanteriordoesôfagoedobrônquioE). Nasdemaissituações,aarteriografiapodeserevitada,visto que a definição precisa da malformação é feita no próprio ato operatório e, como já referido, em muitas situações as estruturas do anel vascular são atrésicas, e não são contras- tadas na arteriografia. Oecocardiogramaéútilparainvestigaçãodemalforma- çõescardíacasassociadas16,masnãopermiteodiagnóstico diferencial dos anéis vasculares. Nesta casuística, as mal- formações cardíacas foram pouco freqüentes (13,6%), sem repercussão clínica, e não necessitaram de correção cirúr- gica concomitante. Oesofagogramaé,juntamentecomoexameendoscópi- co, o principal método diagnóstico17. Apenas com o esofa- gogramafoipossívelidentificaraexistênciadecompressão no terço médio do esôfago em 20 casos, sendo suficiente para diagnosticar com precisão o tipo de malformação em 18deles(90%),conformeaimagemobtida.Emapenasdois casos o tipo de malformação sugerido pelo esofagograma não coincidiu com o achado intra-operatório (esofagogra- ma interpretado como de DAA com diagnóstico intraope- ratório de AD/LE e diagnóstico pré-operatório de AI em criança com DAA). Entretanto, o engano na definição Figura 1 - Esofagograma de artéria subclávia direita anômala. A - radiografia em oblíquo; B -radiografia em perfil. Impressão oblíqua e posterior, melhor visualizada como uma compressão aguda posterior na radiografia em perfil A B diagnóstica pré-operatória não levou a qualquer prejuízo para o tratamento cirúrgico, pois através do mesmo acesso cirúrgico foi definida a malformação e realizada a correção adequada. As imagens características17 correspondentes a cada tipo de anel vascular são descritas nas Figuras 1, 2 e 3. Em relação ao tratamento cirúrgico, em todos os casos foi realizada a ligadura e secção de estruturas que permitis- sem liberar plenamente a compressão esofágica e traqueal sem prejudicar o fluxo vascular. Assim, através de ligadura do ducto arterioso e do arco aórtico atrésico ou não- dominante, é possível resolver os casos de DAA e de AD/LE. Nos casos de AI, embora alguns autores indiquem reimplante da artéria subclávia direita em sua posição anatômica18, em nossa experiência esse procedimento é dispensável e acrescentaria morbidade cirúrgica desneces- sária, visto que o fluxo distal se restabelece imediatamente após o clampeamento da artéria subclávia a partir de cola- terais, sem prejuízo funcional. O acesso cirúrgico através de toracotomia póstero-lateral esquerda permite excelente exposiçãodasestruturasvascularesemediastinais,possibi- litando a definição da anatomia da anomalia e da tática cirúrgica adequada para sua correção. Permite, também, a liberação de aderências fibrosas que podem persistir após aligaduravascular,evitandomanutençãodesintomascom- pressivos. Com exceção do anel da artéria pulmonar, ano- malia muito rara e diagnosticada quando a compressão é identificada na parede anterior do esôfago, nas demais anomalias do arco aórtico não é necessária circulação extracorpórea para correção. Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
  • 5. 248 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 Figura 3 - Esofagograma de arco aórtico à D com ligamento arterioso à E. A - radiografia em PA; B - radiografia em perfil. Compressão esofagiana discreta superior à direita, correspondente ao arco aórtico D, e outra inferior à esquerda, correspondente à artéria subclávia E. Em perfil, compressão posterior pronunciada, correspondente ao bulbo de origem da artéria subclávia E Figura 2 - Esofagograma de duplo arco aórtico. A - radiografia em AP; B - radiografia em perfil. Duas compressões esofágicas: uma maior, superior e à direita, que corres- ponde ao arco aórtico direito, e outra menor, inferior e à esquerda, que corresponde ao arco aórtico esquerdo. Em perfil, observa-se compressão grande e arredondada na parede posterior do esôfago, correspondente ao arco aórtico direito A B A B Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
  • 6. Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 249 A incidência de traqueomalácia associada aos anéis vasculares foi de cerca de 14%. A traqueomalácia e as pneumopatias crônicas são as causas mais freqüentes da manutenção de sintomas respiratórios no pós-operatório. Esses sintomas residuais podem ser relacionados a altera- ções na dinâmica traqueal, lesões crônicas do parênquima pulmonar, hiper-reatividade crônica de vias aéreas e infec- ções de repetição7,19,20. No pós-operatório, a fisioterapia respiratória e a antibioticoprofilaxia são de grande valor no tratamento a longo prazo dessas crianças. Referências bibliográficas 1. BackerCL,MavroudisC.Congenitalheartsurgerynomenclature and database project: vascular rings, tracheal stenosis, pectus excavatum. Ann Thorac Surg 2000;64-4 Suppl:382-18. 2. Maksoud-Filho JG, Maksoud JG. Anomalias do arco aórtico. In: Makosud JG. Cirurgia Pediátrica. 1ª ed. Rio de Janeiro: Revinter; 1998.p574-82. 3. Palmer ED. Disfagia lusoria: clinical aspects in adults. Ann Int Med 1955; 42:1173-79. 4. Kocis KC, Midgley FM, Ruckman RN. Aortic arch complex anomalies: 20-year experience with symptoms, diagnosis, associated cardiac defects, and surgical repair. Pediatr Cardiol 1997; 18:127-32. 5. Krzystolik-Ladzinska J, Wiecek-Wlodarska D, Guzikowski K, Rokicki W, Wites M, Pieniazek P. Vascular rings as a cause of the respiratory disturbances in children. Wiad Lek 2000; 53:289-98. 6. BackerCL,IlbawiMN,DeLeonSY.Vascularanomaliescausing tracheoesophageal compression. Review of the experience in children. J Thorac Cardiovasc Surg 1989;97:725-30. 7. Thomson AH, Beardsmore CS, Firmin R, Leanage R, Simpson H. Airway function in infants with vascular rings: preoperative and posoperative assessment. Arch Dis Child 1990; 65:171-4. 8. Bakker DA, Berger RM, Borges AJ. Vascular rings: a rare cause for common respiratory symptoms. Acta Paediatr 1999; 88:947-52. 9. Sarbeji M, De Blic J, Le Baugeois M, Mamou MT, Revillon Y, Paupe J. Practical diagnostic approach to anomalies of the aortic arch. A propos of 31 pediatric cases. Rev Mal Resp 1990;7:51-7. 10. Chunk K, Colombani PM, Dudgeon DL, Haller JA. Diagnosis and management of congenital vascular rings: a 22-year experience. Ann Thorac Surg 1992;53:597-602. 11. van Son JA, Julsrud PR, Hagler DJ, Pugo FJ, Schaff HV, Danielson GK, et al. Imaging strategies for vascular rings. Ann Thorac Surg 1994; 57:604-10. 12. Backer CL, Mavroudis C. Surgical approach to vascular rings. Adv Card Surg 1997; 9:29-64. 13. Richardson JV, Doty DB, Rossi NP, Ehrenhaft JL. Operations for aortic arch anomalies. Ann Thorac Surg 1981; 31:426-32. 14. Chapotte C, Monrigal JP, Pezard P, Jeudy C, Subayi JB,Granry JC, et al. Airway compression in children due to congenital heart disease: value of flexible fiberoptic bronchoscopic assessment. J Cardiothorac Vasc Anesth 1998; 12:145-52. 15. Maksoud-Filho JG, Gonçalves MEP, Tannuri U, Maksoud JG. Compressões do esôfago e da traquéia por anomalias do arco aórtico na infância. Rev Ass Med Brasil 1993; 39:155-9. 16. Burch M, Deanfield JE, Sullivan ED. Investigation of vascular compressions of trachea: the complementary roles of barium swalow and echocardiography. Arch Dis Child 1993; 68:171-5. 17. Neuhauser BD. The roentgen diagnosis of double aaortic arch and other anomalies of great vessels. Am J Roengen Radiumther 1946; 56:188-91. 18. Hawkins JA, Baily WW, Clark JM. Innominate artery compression of trachea. Treatment by reimplantation of the innominate artery. J Thorac Cardiovasc Surg 1992; 103:678-82. A análise dessa casuística permite-nos concluir que o diagnóstico de anel vascular deve ser suspeitado em crian- ças com sintomas respiratórios iniciados no período neona- tal, e em crianças com diagnóstico genérico de “bebê chiador” de difícil controle. O diagnóstico pode ser feito de forma simples, através do esofagograma e endoscopia traqueal e digestiva. Os demais exames de imagem acres- centam poucas informações e são dispensáveis. Finalmen- te, os sintomas respiratórios podem permanecer no pós- operatório por períodos variáveis, em decorrência de tra- queomalácia ou afecções pulmonares crônicas. Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii
  • 7. 250 Jornal de Pediatria - Vol. 78, Nº3, 2002 Endereço para correspondência: Dr. Luis Ricardo Longo dos Santos Rua Artur Bernardes, 265 - Jd. Sta. Francisca CEP 07013-030 – Guarulhos, SP E-mail:luisrls@hcnet.usp.br 19. Bertrand JM, Chartrand C, hamarre A, Lapierre JG. Vascular ring:clinicalandphysiologicalassessmentofpulmonaryfunction following surgical correction. Pediatr Pulmonol 1986; 2:378-83. 20. MarmonLM,ByeMR,HaasJM,BalsaraRK,DunnJM.Vascular rings and slings: long term follow up of pulmonary functions. J Pediatr Surg 1984; 19:683-92. Anéis vasculares na infância... - Longo-Santos LR et alii