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1 – Introdução:

Este é meu primeiro grande texto a respeito de uma grande civilização do passado. De fato,
este é o tema de minha preferência e acredito que minha contribuição, por mais débil que
seja, é muito válida, pois elucida a muitos sobre acontecimentos quase desconhecidos da
História do Mundo. Digo quase desconhecidos porque não são comumente tratado pela
História tradicional, ou seja, a História fundamentada na escola Francesa.

Os Árabes, no entanto, são muito estudados, pois sua implicação na História Ocidental é tão
grande quanto foi a de Gregos e Romanos, porém, o período da História Árabe, e porque não
dizer Islâmica, mais estudado é o compreendido entre os séculos XI e XV, pois foi entre esses
séculos que se realizaram as Cruzadas, tanto as Orientais, que levam mesmo este nome,
quanto as Ocidentais, que se realizaram especialmente em Portugal e na Espanha e que são
também conhecidas como Guerra de Reconquista.

Depois do século XV, em especial depois da queda de Granada e conseqüente fim da Guerra
de Reconquista, em 1492; e da tomada de Constantinopla, em 1453, o estudo dos povos
Islâmicos decai um pouco e só é referido no que se trata do Império Otomano (Turquia), que
passa a levar praticamente sozinho, até a I Guerra Mundial, a bandeira do Islã frente o
Ocidente.

Justamente pelo fato de meu enfoque histórico ser direcionado a civilizações Antigas e
Medievais (ou que se comportem dessa forma, como já me referi acerca das civilizações da
América pré-colombiana e do Japão) e a períodos pouco estudados pela História tradicional, é
que não me referirei, senão em pequenas menções, neste texto, às Cruzadas. Meu objetivo é
realmente explicar os primórdios do Islamismo, o início da disposição das peças no tabuleiro,
que mais tarde seria palco das Cruzadas. Pretendo elucidar ponto nebulosos a respeito da
História de Maomé, dos quatro primeiros Califas e das duas dinastias Imperiais, os Omíadas,
cujo governo estudarei por completo (exceto o seu refúgio na Espanha) e os Abássidas, cujo
governo será estudado até o Califa Harun al-Rachid, quando precipita-se a fragmentação do
poder, fragmentação esta que já havia sido iniciada justamente pela perda da Espanha, ou al-
Andalus, para os Omíadas, quando do estabelecimento da dinastia Abássida, em meados do
século VIII.

A partir das explicações dadas, pode-se concluir, corretamente, que o enfoque de meu
trabalho será entre o princípio do século VII d.C. e o princípio do século IX d.C., quando o
Império se encontra em seu apogeu cultural, mas quando encontra-se em franco
desmembramento.

Por fim, gostaria de ressaltar algumas coisas que julgo de extrema importância:

1) Alguns nomes (tanto de pessoas, quanto de lugares), senão todos, estão grafados de forma
ocidentalizada, mesmo quando entre parênteses, isso porque nos é muito difícil transliterar
palavras do alfabeto Arábico para o nosso.

2) Apesar de os Muçulmanos utilizarem-se de um sistema de contagem de anos diferente;
tanto pelo fato dos anos lunares terem durações diferentes dos anos solares utilizados por
nós, quanto pelo fato de seu marco inicial ser a Hégira, em 622 do nosso calendário; todas as
datas apresentadas no texto são pertencentes ao calendário gregoriano, todavia, deve-se
notar que algumas podem estar erradas, visto que o calendário gregoriano só foi instituído no
século XVI e, dessa forma, podem haver pequenas discrepância entre suas datas e as do
calendário juliano, que vigorava na época a que o texto se remete.

3) Desde já peço desculpas a quaisquer adeptos do Islamismo que porventura venham a ler
este texto e se sentir ofendidos com alguma das informações aqui contidas, ou mesmo com
quaisquer opiniões minhas, expostas ao longo do trabalho. Quero deixar claro que nada tenho
contra a liberdade de culto, ou mesmo contra o Islamismo em si, no entanto, o
comprometimento com a discussão crítica proposta pela História me obrigam a, por vezes,
parecer ofensivo ou demasiado crítico a essa religião, bem como a muitas outras, como ao
Cristianismo de um modo geral, o Judaísmo e várias outras citadas ou não neste texto. Que
meus pedidos de desculpas aos Muçulmanos se estendam a todos os outros religiosos.



2 – Preâmbulo da Península Arábica:

Antes de Maomé operar a unificação da península Arábica através do Islamismo, como
veremos ao longo deste texto, a região era extremamente fragmentada e nela coexistiam
diversos reinos e povos autônomos. Neste item de meu trabalho, farei um pequeno resumo de
tais povos, porém incluirei também nas descrições alguns povos que não estavam exatamente
localizados na península, mas que tiveram, ao longo da História anterior ao Islamismo, algum
contato com ela.

Antes, porém, de iniciar os relatos, é importante acentuar que toda a região é de clima árido
ou semi-árido, existe um grande deserto no norte da península, o Nufud, que constituiu para a
região uma espécie de muralha natural, impedindo sua anexação por qualquer dos grandes
Impérios antigos, nem os Mesopotâmicos, nem os Egípcios, nem os Persas, nem Alexandre, o
Grande, nem os Reinos Helenísticos, nem mesmo os Romanos conseguiram colocar a região
sob seu domínio. Talvez Alexandre tivesse conseguido operar a conquista da região, pois,
segundo consta, quando morreu, na Babilônia, estaria preparando uma expedição que teria
justamente esse objetivo. Dessa forma, julgando-se pelo retrospecto do conquistador, pode-se
concluir que a Arábia só escapou de fazer parte do enorme e efêmero Império de Alexandre,
devido à morte prematura do monarca.

Especulações históricas à parte, é interessante que se fale sobre alguns aspectos da região na
época, como por exemplo a fauna e a flora. Esta última, como se pode imaginar, era escassa,
mas mesmo assim havia além de cactos, palmeiras (nos oásis), tamareiras (uma das principais
fontes de alimentos da região), bananeiras, figueiras, abricoteiras...

Quanto à fauna, é interessante notar que além dos camelos, conhecidos e lembrados por
todos quando se menciona a região, existia uma grande variedade de animais, inclusive leões e
panteras, hoje extintos na península. Muitas aves de rapina, como abutres e urubus também
compõem a fauna Árabe, gatos e burros eram muito populares na região e, além de todos
esses animais, não podemos esquecer dos cavalos, visto que os cavalos árabes eram (ou são)
os melhores cavalos do mundo. Estes animais foram introduzidos na península pelos Hititas,
no primeiro milênio antes de Cristo, lá eles ficaram isolados dos demais cavalos da Ásia e,
dessa forma, se converteram numa espécie particular do animal, uma espécie refinada, de
físico resistente e porte elegante, muito apreciados nas diversas regiões.

Mas falemos sobre os diversos povos que habitavam a região antes do Islamismo os unificar.
2.1 – O Reino de Sabá:

O Reino de Sabá tem suas origens no século VIII a.C., no atual Iêmen. Inicialmente, o Reino
constituía-se numa Teocracia, cuja capital era a cidade de Sirwah.

No decorrer de seiscentos anos, os governantes do país expandiram seus domínios para toda a
costa do Mar Vermelho, boa parte do sul da península e algumas regiões ao norte. Nesses
anos, a capital muda duas vezes, primeiro para Marib e depois para Zafar.

As origens desse Estado remontam à organização de uma etnia, os Sabeus, em torno de seu
Rei-Deus, porém, em 115 a.C., por motivos desconhecidos, os Himiaritas (povo que estava sob
o jugo dos Sabeus) passam a governar o Reino e, no início do século I a.C., o monarca perde o
caráter divino.

Talvez o mais notável feito dos Sabeus tenha sido a construção de uma gigantesca represa
(uma das maiores, senão a maior de toda a Antiguidade), no século VI a.C..

Os Himiaritas passaram a governar o país, mas com a conversão de seus vizinhos de costa (do
outro lado da costa do Mar Vermelho), os Abissínios (Etíopes), ao Cristianismo, no século IV
d.C., passaram a enfrentar invasões constantes que visavam converter o Reino de Sabá ao
Cristianismo. Em 340 d.C., os Etíopes conquistaram o Reino e mantiveram-se no poder até 378
d.C., quando numa grande revolta, os Himiaritas retomaram o poder.

O segundo período Himiarita foi marcado por dois fatores: a nova religião, visto que durante
os 37 anos de domínio dos Etíopes, os Himiaritas não se converteram ao Cristianismo, como
queriam os invasores, mas sim, ao Judaísmo; e o descaso com o patrimônio público. Devido a
esse descaso, tudo foi se degradando, desde as construções, até as finanças e o exército. Até
que, em 530 d.C., os Etíopes conseguiram, numa nova invasão, retomar o controle sobre o
Reino.

Já era tarde, o estado de destruição no qual se encontravam as construções públicas era tal,
que o monarca Etíope empossado pelos conquistadores nada pode fazer e, por volta de 540
d.C., a grande represa construída na Antiguidade rompeu alagando boa parte do território e
matando muitas pessoas.

O rompimento da represa fez com que a seca caísse sobre a região e, dessa forma, muitos
foram os que abandonaram o país e rumaram para o norte. A escassez demográfica
decorrente desse êxodo propiciou, em 575 d.C., a invasão, a pedido dos Himiaritas, da região
pela Pérsia. Esta reempossa os Himiaritas no governo do país, e estes mantém sua soberania,
mas com a condição de que sua região se torna-se uma Satrápia Persa (território semi-
autônomo existente no Império Persa desde seus primórdios, que se destinava a, além de
pagar impostos ao governo central, vigiar a região e suas proximidades, informando quaisquer
alterações ao Grande-Rei Persa.

Em 632 d.C., o Reino de Sabá foi incorporado ao Islã, com sua conversão e anexação pelas
tropas de Maomé.

2.2 – Reino Mineano:

Reino organizado da mesma forma que o Reino de Sabá, ou seja, com um grupo étnico, os
Mineanos, se organizando numa Teocracia, cuja capital era Qarnaw (atual Ma’in).
O Reino se estabeleceu também por volta do século VIII a.C., ao norte do Reino de Sabá. Por
serem vizinhos, os dois Estados entraram em conflito várias vezes, até que, no século I a.C.,
pouco depois da ascensão dos Himiaritas no Reino vizinho, o Reino Mineano foi conquistado
pelo Reino de Sabá.

2.3 – Reino de Qataban e Reino de Hadramaut:

Reinos vizinhos, estabelecidos a leste do Reino de Sabá, tinham importância comercial
indiscutível no tocante ao comércio Índico (eram os entrepostos entre as mercadorias da Índia
e as do Mar Vermelho), além de, a exemplo do Reino de Sabá, serem produtoras de incenso e
ouro.

O Reino de Qataban se estabeleceu por volta de 600 a.C., tendo como capital Tamma (atual
Kuhlan), e perdurou até mais ou menos 50 a.C.. Já o Reino de Hadramaut, se estabeleceu por
volta de 450 a.C., tendo como capital Shabwah (atual Sabota) e perdurou até o início do século
II d.C..

Ao contrário do Reino Mineano, que foi anexado pelo Reino de Sabá, estes Reino
permaneceram autônomos. O que aconteceu foi que, devido à importância que as diversas
regiões desses Reinos adquiriram individualmente, devido ao comércio, os chefes regionais
passaram a se julgar poderosos demais para obedecerem a uma autoridade central, dessa
forma, foi ocorrendo uma gradual descentralização dessas regiões até que nos períodos
referidos, os governantes das capitais dos respectivos Reinos já não mais se consideravam,
sequer nominalmente, soberanos de todo o país. Dessa forma, ficaram extintos os Reinos.

Essas regiões continuaram a exercer políticas independentes até sua anexação pelo Islã, em
632 d.C..

2.4 – Reino de Petra:

Este Reino se localizava numa região que não pertence à península Arábica, mas sua história é
interessante ao estudo, pois depois da anexação ao Islã, a região tornou-se, junto com a Arábia
e com as regiões dos demais Reinos que citarei, o centro do Califado, especialmente no
período Omíada.

Bem, por volta de 550 a.C., várias tribos nômades do nordeste da península Arábica se
reuniram com o objetivo de proteção e auxílio mútuos, fundaram então uma cidade, Petra (em
hebraico, Sela’). Apesar de não terem conseguido conquistar muito espaço, seu Reino,
semelhante a uma cidade-Estado, prosperou. Tanto que ficou livre do domínio de Alexandre, o
Grande.

O Reino de Petra, constituído por tribos que se identificavam como Nabateus, auxiliou os
Romanos na destruição da Judéia e, em 106 d.C., Trajano transformou o Reino em província
Romana. Depois da queda de Roma, Petra nunca mais voltou a ser um Reino autônomo, tendo
pertencido ao Império Bizantino e depois ao Persa, até ser anexada ao Islã.

2.5 – Império de Palmyra ou Tadmor:

Tadmor era uma cidade a nordeste de Damasco, sua origem remonta a tempos já esquecidos,
mas ela só adquire importância quando do domínio Romano, isso porque ela é a o principal
entreposto entre o Oriente (Pérsia, Índia, China...) e Roma. Tal importância comercial lhe valeu
o status de colônia Romana.

O nome Palmyra advém, inclusive, dos Romanos, pois estes chamava a cidade assim por ela
estas localizada num oásis, onde existem muitas palmeiras, em latim, palmyra.

Em 267 d.C., Odenato, Rei de Tadmor e seu filho, foram acusados de traição a Roma e, sendo
assim, executados. Zenóbia (al-Zabba, ou Zaynab), a Rainha, assumiu o governo da cidade e,
em retaliação à atitude Imperial, lançou seus exércitos contra as possessões Romanas. Em
poucos meses, Zenóbia conquistou o Oriente Médio, a Ásia Menor, o Egito e chegou às portas
de Bizâncio (que ainda não havia sido transformada em Constantinopla).

Aureliano, então Imperador Romano, investiu contra a Rainha afim de retomar-lhe as
conquistas e, entre 272 e 273, não só retomou tudo que Zenóbia havia lhe tirado, como
também invadiu Tadmor, matou a Rainha e destruiu a cidade como exemplo.

Apesar de muito efêmero, o Império de Tadmor foi grande e, por si só já justificaria sua
menção aqui, mas, além de tudo isso, a região, assim como Petra e outras que citarei, foi uma
das principais componentes do núcleo do Império Islâmico, especialmente no Califado
Omíada.

Depois de destruída, Tadmor não foi totalmente abandonada e, mais tarde acabou
reconstruída, mas perdeu sua importância comercial.

2.6 – Reino dos Gassânidas:

O Reino dos Gassânidas foi fundado por volta de 400 d.C., por fugitivos do Reino de Sabá, que
havia sido conquistado pelos Etíopes. No princípio, esses refugiados viviam em acampamentos
itinerantes a sudeste de Damasco, porém, com o tempo, acabaram fundando duas cidades,
suas duas capitais: al-Yiabiyah e Jilliq.

A região se tornou um porto seguro para os imigrantes do Reino de Sabá, tanto que foi para lá
que estes emigraram quando a grande represa rompeu.

Aretas II foi o maior de todos os monarcas Gassânidas, tendo inclusive, lutado em favor de
Justiniano. Seu filho, al-Mundhir, foi preso pelo Império Bizantino por ter incendiado, em 580
d.C., a cidade de Hira, capital dos Lácmidas. Em retaliação pela prisão do pai, os filhos de al-
Mundhir devastaram o território do Império Bizantino, mas também acabaram derrotados e
presos.

As conquistas que fizeram passaram para as mãos dos Persas e o Reino perdeu importância, se
bem que o último soberano, Jaballah ibn-al Ayham, ofereceu muita resistência ao Islã e só caiu
diante dos Árabes na Batalha de Yarmuk, em 636, batalha na qual contou com auxílio
Bizantino.

2.7 – Reino de Hira:

Assim como o Reino de Petra, o de Hira também se constituía apenas de uma cidade-Estado.
Na verdade, esta cidade foi fundada a partir de um acampamento da tribo Tanukh (que
pertencia à etnia Lácmida), que, desde 275 d.C., havia se estabelecido na atual Síria.
Após terem tido participação efetiva na mudança dinástica do Império Persa (fim da dinastia
Arsácida e início da Sassânida), edificaram uma cidade no local de seu acampamento
permanente. A cidade levou o nome de Hira porque esta palavra quer dizer acampamento em
Siríaco.

Apesar de ter nascido sob a influência Persa, pendia entre os Impérios Persa e Bizantino, mas
seus maiores inimigos eram os Gassânidas, que, em 580 d.C., queimaram a cidade.

Após o incêndio a cidade nunca mais foi a mesma, acabou absorvida totalmente pelo Império
Persa e permaneceu parte deste até ser conquistada pelo Islã, em 633 d.C..

2.8 – Estado de Kindah e os Beduínos:

O centro da península Arábica, em especial o planalto de Nedjd, era habitado por tribos
nômades conhecidas como Beduínos, que viviam no deserto e regiões semi-desérticas a
procura de oásis e de alimentos.

Além dos Beduínos, povoavam a região os habitantes de cidades independentes, cidades-
Estado nas quais a forma de governo variava de uma para a outra.

Pois, bem essa região nunca havia conhecido nenhum tipo de centralização política, nunca
havia sido formado um Reino ou coisa parecida no centro da Arábia. Nunca até que Hassan
Tubba, soberano Himiarita do Reino de Sabá conquistou todas as tribos nômades do centro da
Arábia. Na realidade o que ele fez foi dominar as tribos de Beduínos e pô-las sob sua
autoridade. Depois de fazer isso, Hassan Tubba cedeu a região ao irmão, Hudjr, dessa forma, o
centro da Arábia, apesar de ter sido conquistado pelo Reino de Sabá, não passou a fazer parte
dele, pelo menos não na prática, porque em teoria era apenas mais um "estado" dele, um
estado governado pelo irmão do Rei.

No entanto, a dinastia de governadores de Kindah, o estado central da Arábia, só teve três
representantes, o próprio Hudjr, seu filho e seu neto, Aretas. Este último, de tão poderoso,
chegou a ser Rei de Hira, além de governar Kindah.

Após a morte de Aretas, em 529 d.C., seus filhos iniciaram uma guerra para sucede-lo, as tribos
Beduínas aproveitaram-se da situação e se declararam independentes novamente, sendo
assim, acabava o Estado de Kindah, no entanto, ele trouxe um importante aprendizado para os
povos da Arábia central: a primeira experiência de unificação, experiência esta que seria
fundamental ao Islamismo.



3 – Caaba, uma união sincrética:

A Caaba era um templo existente em Meca, a cidade onde nasceu Maomé. Meca era mais uma
daquelas cidades-Estado do centro da Arábia, com governo e leis próprias. Ao contrário do que
era mais comum nessas cidades, Meca não era uma monarquia, mas sim uma oligarquia
comercial.

Vejamos como surgiu a cidade. As origens de Meca são desconhecidas e de tão antigas,
existem lendas que remontam ao próprio Adão, porém, o que nos interessa saber é que a
cidade foi fundada por uma etnia, os Khozâ’a, já na era Cristã, mas numa data não precisada,
Qusay, líder dos Coraixitas, um povo que vivia nas montanhas próximas a Meca, liderou seu
povo numa invasão à cidade, dessa invasão resultou o domínio de Meca pelos Coraixitas e a
conseqüente subjugação dos Khozâ’a.

Os Coraixitas, amparados por seu líder, realizaram algumas mudanças na estruturação da
cidade, tornando a Caaba, seu templo, o centro de todos os cultos da Arábia Central.

A Caaba, segundo a mitologia Árabe é tão antiga quanto Meca e teria sido construída por
Adão. Ao seu redor, desenvolveu-se a cidade. O fato é que antes dos Coraixitas dominarem
Meca, o culto da Caaba era dedicado a uma estranha Pedra Negra, que muitos acreditam
(hoje), ser um pedaço de asteróide caído na Terra. Porém, Qusay, após dominar a cidade,
reconstruiu a Caaba (que segundo as lendas teria sido reconstruída dez vezes, sendo as duas
últimas já pelos Islâmicos, enquanto as duas primeiras por Adão e por seu filho Seth, irmão
mais novo de Caim e Abel, do qual descenderia toda a humanidade, uma vez que Abel foi
morto e Caim condenado por sua morte) e levou para ela as diversas divindades da Arábia
Central. O objetivo do conquistador era, não outro senão o atrair fiéis para Meca e, com isso,
realizar feiras que renderiam grandes lucros aos Coraixitas. Na verdade Meca sempre conviveu
com feiras, visto que se desenvolveu no cruzamento de rotas comerciais, tanto da Índia para a
África, quanto da Arábia para a Ásia.

A idéia de Qusay deu certo e, em pouco tempo Meca se tornou o centro mais cosmopolita da
Arábia, com visitantes em todas as épocas do ano, mas especialmente durante as festas
religiosas. No início, a cidade se limitava a sediar as feiras, mas depois de algum tempo, passou
a enviar caravanas comerciais para as diversas regiões da Arábia e até a Damasco.

Com o avanço comercial de Meca, uma elite substituiu gradualmente o poder de um só líder,
esta elite era constituída pelas famílias, ou clãs, de comerciantes ricos, ou chefes de cada uma
dessas famílias compunham o conselho dos Coraixitas, que governava Meca. Estas famílias
possuíam as melhores casa, ou seja, as mais centrais e, portanto, mais próxima a Caaba e ao
poço que havia em sua frente. Os Coraixitas mais pobres viviam no subúrbio, ou seja, nas
regiões mais afastadas do centro. Além dos Coraixitas, detentores de maior status na cidade,
havia também os membros de outras etnias, como os próprios Khozâ’a, e outros povos que
migraram para a cidade em conseqüência de sua prosperidade, prosperidade esta devida à
Caaba, dessa forma, a Caaba era, para Meca, muito mais do que um lugar de culto religioso,
era mesmo a fonte de poder e razão de existência da cidade.



4 – Maomé, um profeta revolucionário:

Existe uma certa discordância entre os autores especialistas no período, sobre em que ano
exatamente nasceu Maomé. É certo, no entanto, que a data de seu nascimento não pode ser
anterior a 567, nem posterior a 572. Dentro deste breve intervalo de possibilidades (apenas
cinco anos), o ano tomado como mais provável é o de 571, sendo assim, será esta data que
adotarei para me referir à idade do profeta nos diferentes períodos.

O fundador do Islamismo era filho de um negociante chamado Abdallah e de uma mulher
chamada Amina. Não chegou a conhecer o pai, que faleceu numa de suas viagens, antes
mesmo de seu nascimento. Quando tinha seis anos de idade, perdeu também a mãe, que só
lhe legou alguns camelos, algumas ovelhas e uma escrava.
Filho único, Maomé passou então a viver com o avô paterno, Abd al-Mottalib, que, no entanto,
só viveu até que o neto completasse oito anos de vida.

Mais uma vez sozinho no mundo, o garoto foi viver com seu tio, Abu Talib. Este, com a morte
do pai, herdara a liderança da família, os Banu Hachim, e, dessa forma, um posto no conselho
Coraixita de Meca, visto que a família, ou clã (palavra mais apropriada, visto que família, de
um modo geral, engloba apenas o núcleo familiar, enquanto que clã engloba a totalidade dos
parentes e, no caso de uma sociedade patriarcal, como a Árabe sempre foi, também as
mulheres que se casassem com os homens da família, deixando, no entanto, as mulheres
realmente do clã de fazer parte deste quando se casassem com um homem de outro clã; em
outras palavras, a mulher pertencia ao clã de seu pai até que se casasse, quando passava a
fazer parte do clã do marido) estava entre as mais proeminentes da cidade.

Abu Talib tinha um filho, Ali, que cresceu como irmão de Maomé e que, ao longo de sua
adolescência, tornou-se seu maior e melhor amigo, além de vir a ser um de seus primeiros
seguidores.

Quando passa a viver com o tio, Maomé começa a ser iniciado na profissão de mercador, ou
seja, começa a realizar viagens a toda parte, em especial para o norte, rumo a Damasco e
outras cidades do Império Bizantino e da Pérsia, principalmente na Síria. Reza a tradição
Muçulmana de que numa dessas viagens, Maomé, ainda adolescente (entre 12 e 15 anos) teria
encontrado um monge do deserto, um eremita (nos primórdios do Cristianismo os eremitas
eram muito comuns, visto que segundo as pregações do apóstolo Paulo, a salvação estaria
numa renúncia ao sexo e a sociedade, ou seja, na castidade total e esta só seria possível com o
afastamento das tentações mundanas, em suma, com o isolamento do indivíduo em um lugar
distante, como uma montanha, uma floresta ou um deserto) chamado Bahira. Este teria
predito a missão do garoto e recomendo a seu tio que o protegesse de seus possíveis inimigos
(que os Islâmicos gostam de ver como sendo os Judeus ou talvez os Bizantinos, porém, com
maior possibilidade para os primeiros).

Até os vinte anos Maomé continua trabalhando e vivendo com seu tio, até que, em 591, torna-
se agregado (um empregado que vive na casa do patrão e, em troca de seus serviços, é
sustentado por ele, porém, um agregado é muito diferente de um servo ou um escravo, pois
possui única e exclusivamente um vínculo empregatício com seu patrão, vínculo este que pode
ser desfeito a qualquer momento por qualquer das partes, ou então baseado em um acordo
formal pré-existente) de Khadidja, uma rica viúva de trinta e cinco anos.

Para a viúva, Maomé trabalha por cinco anos, provavelmente como chefe de suas caravanas
comerciais, visto que, com a morte de seu marido, não havia quem acompanhasse os
empregados nas viagens de negócios. Depois de cinco anos, o futuro profeta, agora com 25
anos, casa-se com a patroa, agora com 40 anos (idade avançada para a época e para as
condições de vida da Arábia).

O casamento resulta em tranqüilidade financeira e status social para o rapaz. Além disso, ele
tem sete filhos com a esposa (ao que, parece todos em seqüência, e nos primeiros anos de
casamento, devido à avançada idade de Khadidja): três homens que morreram ainda bebês e
quatro mulheres: Zeineb, Roqaia, Ummu Keltsum e Fátima.

Em 611, já com quarenta anos, Maomé finalmente iniciou sua vida de profeta; depois de
distribuir gordas esmolas aos pobres de Meca, retirou-se para as montanhas, onde iniciaria sua
meditação.
4.1 – Meditação e Experiência, a criação da
                                                   nova Fé:

                                                   Alguns meses se passam sem que Maomé
                                                   retorne para casa, nesse tempo, ele
                                                   observa os céus e medita constantemente
                                                   (talvez se lembrando do que o velho
                                                   eremita lhe dissera, quando garoto).

                                                   Nada acontece nos primeiros tempos de
                                                   meditação do profeta, porém, depois de
                                                   um certo período de isolamento, numa
                                                   certa noite, enquanto Maomé dormia,
                                                   sonhou com um anjo que lhe entregava um
                                                   pergaminho e ordenava: "Leia!". Maomé,
 O mais antigo exemplar do Al Corão do mundo       que era analfabeto, insistia ao anjo que não
                                                   sabia ler, no entanto este insistiu que o
                                                   homem o fizesse e este, sem escolha,
                                                   obedeceu.

Para sua própria surpresa, ele conseguiu ler tudo o que estava escrito no pergaminho e,
quando acordou, sentiu que um livro havia descido dos céus para seu coração. A este livro,
Maomé chama Corão, ou Alcorão.

À partir dessa noite, Maomé teve certeza de que era realmente o "escolhido" de Allah e que
deveria pregar ao mundo. Retornou então a cãs, onde contou sua experiência a Khadidja,
agora uma anciã de 55 anos. Ela, que poderia ter desdenhado do marido, ao contrário, tornou-
se a primeira convertida ao Islã. Nascia uma nova fé.

Maomé estava convertido, aos 40 anos, em profeta, o que, na Arábia daquela época, era
comum, visto que por todos os lados havia os Kâhin, ou profetas, que preconizavam desde a
vinda de um messias até o Juízo Final.

Inicialmente, o profeta pregou apenas para aqueles que lhe eram mais caros, ou seja, para a
mulher, para o primo, Ali; para Abu Bakr, um grande amigo; para Zayd, um escravo liberto que
Maomé adotara como filho; e para Uthman, seu genro. Maomé esperava que novos sinais dos
céus lhe fossem enviados, porém, em quase três anos nada aconteceu, dessa forma, ele se
sentia acovardado em iniciar suas pregações para estranhos.

Em 613, porém, um novo "contato divino" foi estabelecido com Maomé, ele teve uma espécie
de ataque epilético (tanto que hoje muitos historiadores suspeitam que o profeta sofresse de
epilepsia), do qual, depois de voltar a si, contou revelações. Na verdade, a partir dessa data,
esses "contatos divinos" começaram a se tornar mais freqüentes e isso motivou o profeta a
iniciar suas pregações ao povo.

A princípio, as pregações do profeta não atingiram grandes proporções, mas por volta de 615,
já havia um bom número de recém-convertidos ao Islamismo. Nesse grupo podia-se contar
principalmente jovens dos grandes clãs Coraixitas; membros dos clãs Coraixitas menos
influentes; pessoas não pertencentes aos clãs Coraixitas e escravos.
A conversão dos filhos dos grandes clãs começou a preocupar a elite Coraixita que não via com
bons olhos algumas das práticas recomendadas por Maomé, tais como: a valorização da
solidariedade e a doação de esmolas (essas práticas iam de encontro aos ideais pré-capitalistas
profundamente enraizados na sociedade Mequense, isso porque os ricos almejavam se tornar
mais ricos e para isso exploravam os pobres, sendo assim, o fato de Maomé condenar à
danação os que não fossem solidários e caridosos enfurecia as elites), e o caráter
profundamente monoteísta do Islamismo (esta era a pior característica da nova religião, do
ponto de vista dos Coraixitas, isto porque se ela se propagasse muito, poderia causar um
colapso na economia de Meca que, como expliquei anteriormente, girava em torno da Caaba).

Devido a esses pontos de conflito entre as elites de Meca e a religião de Maomé, iniciou-se
uma forte perseguição a seu culto na cidade. Tais perseguições (iniciadas em 615) acarretaram
na dissidência de muitos convertidos e na fuga de outros para a Etiópia, onde o monoteísmo
era aceito devido ao fato de o país (que à época se chamava Abissínia) ser Cristão.

Vendo que seus adeptos estavam começando a diminuir devido às perseguições, Maomé
começou a "se mexer" para arrumar um lugar onde seu culto fosse aceito.

4.2 – A Hégira:

Na verdade, Maomé não sofria, ele próprio, nenhuma sanção dos Coraixitas, porque seu tio,
Abu Talib, apesar de não ter se convertido ao Islã, permanecia como um dos membros do
conselho da cidade e protegia o sobrinho e filho adotivo da ira do conselho. Além disso,
Khadidja, sua esposa, era muito rica.

Porém, em 619, duas tragédias ocorrem em seguida para Maomé: primeiro Khadidja falece,
aos 63, vítima de sua idade avançada. O profeta havia dedicado a ela vinte e três anos de sua
vida e seu casamento havia sido tão feliz que Maomé nunca traiu a esposa, o que era
comuníssimo na época.

Porém o pior golpe viria apenas alguns dias após a morte da esposa, seu tio e protetor, Abu
Talib, chefe de seu clã, morreria e, ao se recusar a se converter, mesmo em seu leito de morte,
geraria a crença, entre os seguidores de Maomé e no próprio, de que iria para o inferno. Essa
crença fez com que Abu Lahab, irmão de Abu Talib e novo chefe do clã de Maomé, se tornasse
o pior inimigo dos Muçulmanos, incentivando as perseguições, principalmente ao próprio
Maomé.

Ao perder seus pontos de apoio, Maomé percebeu que sua vida, caso permanecesse em Meca,
correria perigo, sendo assim, abandonou imediatamente a cidade e tentou se instalar em Taif,
uma cidade nas montanhas, próxima a Meca. No entanto, depois de apenas alguns dias na
cidade, foi expulso e obrigado a voltar a Meca. Tentou então contato com os chefes das tribos
Beduínas, mas fracassou em uni-los e mesmo em converte-los, pois para estes, a unidade
política não tinha sentido, amava a liberdade e o nomadismo que lhes eram intrínsecos há
séculos.

Depois do fracasso diplomático frente aos Beduínos, Maomé voltou sua atenção à cidade onde
seu pai havia sido sepultado: Yathrib.

A cidade de Yathrib havia sido fundada por três tribos Judaicas fugidas da destruição da Judéia:
os Nadhir, os Qorayza e os Qaynoqa. Porém, depois de alguns anos do estabelecimento destas
no território, duas tribos Árabes dissidentes do Iêmen, os Khazradj e os Awz, chegaram à
cidade e depois de subjugar os Judeus, dominaram-na e passaram a lutar entre si pela
hegemonia. Os Awz com os quais os Judeus se aliaram, venceram e passaram a controlar a
cidade, num sistema semelhante ao de Meca. Porém, ao que parece, havia participação dos
membros da outra tribo Iemenita no conselho da cidade, mas uma participação minoritária.

Maomé reuniu-se, em 620, com os líderes dos seis clãs khazradj (os minoritários) e converteu-
os. Dessa forma, meio caminho já estava andado para o profeta. Depois da conversão de parte
dos membros da tribo Awz, Maomé recebeu, em 622, garantias de que poderia vir com seus
adeptos de Meca para Yathrib.

Maomé voltou para Meca e organizou a partida de seus seguidores, que partiram em
pequenos grupos para não levantar muitas suspeitas. Ele e Abu Bakr foram os últimos a deixar
a cidade. Ambos passaram por Qoba, onde Ali os esperava e os três marcham para Yathrib,
onde em 24 de setembro de 622, fazem sua entrada triunfal (notem que, como veremos mais
à frente, o dia da Hégira é considerado o 16 de julho, não o 24 de setembro).

A Hégira, ou seja, a saída dos Muçulmanos de Meca e sua ida para Yathrib, está concretizada.
Na nova cidade Maomé é recebido com honras e assume o posto de Malik (Rei). É interessante
notar que as duas tribos Iemenitas de Yathrib viram em Maomé e na nova religião tanto o
Messias do qual os Judeus da cidade falavam, quanto uma esperança para o fim das disputas
entre ambas as tribos pelo poder a cidade.

É interessante notar que a maioria dos adeptos de Maomé que havia migrado com ele de
Meca, não tinha sequer uma propriedade em Yathrib e, dessa forma, estariam condenados à
miséria se não fosse a política de intervenção do profeta, política esta que explicarei no item
seguinte.

4.3 – Destruição dos Ídolos da Caaba:

Chegando em Yathrib e obtendo o poder, Maomé tornou a cidade a inimiga número um de
Meca, tanto que esta passou desde o princípio ao confronto aberto contra o profeta.

Foram oito anos nos quais se por um lado Meca atacava, por outro Yathrib se defendia e
fortalecia. Não convém aqui explicar detalhadamente todas as batalhas entre as duas cidades-
Estado ocorridas entre 622 e 630, mas sim contar como pode Maomé, em oito anos, passar de
Malik, líder político a Califa líder político e religioso (Imam) e como pode ele, nesse mesmo
período, fortalecer sua cidade a ponto de empreender a conquista da rival.

Bem, quando da chegada do profeta a Yathrib, a cidade estava dividida em alguns grupos bem
distintos quanto a sua orientação religiosa: havia o grupo de fiéis que havia migrado de Meca
com Maomé, portanto fiéis mais antigos, mas que estavam marginalizados social e
economicamente na nova cidade; havia os convertidos de Yathrib, em especial a aristocracia
da cidade, que davam força a Maomé; havia os hesitantes, ou seja, aqueles que haviam aceito
o Islã, mas não com plena convicção; havia também os pagãos, ou seja, aqueles que se
recusavam a aceitar o Islã e continuavam a praticar suas religiões antigas; e, por fim, havia os
Judeus, que praticavam sua religião milenar (embasaba no Velho Testamento e no Talmude,
livros que dão respaldo ao Judaísmo) e nunca aceitariam a conversão ao Islamismo.

Quanto a esses grupos, Maomé tomou as seguintes providências. Das elites convertidas de
Yathrib, ele tirava o apoio para realizar seus projetos; quanto aos hesitantes, fazia de tudo
para torna-los realmente fiéis ao Islã; quanto aos pagãos, deu-lhes liberdade de culto, pois
sabia que, na posição em que se encontrava, se fosse intolerante com aqueles que
compunham a maioria da população, seria fragorosamente derrotado. Porém, as atitudes mais
marcantes do profeta foram realmente com relação aos Judeus e aos que emigraram de Meca
com ele. Como estes estavam sem terra e eram os mais leais à nova fé e como, por outro lado,
aqueles eram os maiores inimigos da fé na cidade (lembrem-se do que disse o eremita a
Maomé enquanto ele ainda era uma criança), Maomé decidiu unir o útil ao agradável, ou seja,
iniciou uma política de perseguição violenta aos Judeus, e, à medida que estes eram
exterminados, seus bens ficavam para os oriundos de Meca. Essa política, em oito anos
exterminou as três tribos Judaicas de Yathrib, além de impor o medo aos pagãos que temiam
serem os próximos a sofrerem tais perseguições. Dessa forma, Maomé conseguiu as terras e
bens dos Judeus para seus protegidos e ainda conseguiu forçar a conversão de boa parte dos
pagãos, tanto que, por volta de 628, Yathrib mudou seu nome para Medina, ou seja, a cidade
do profeta; e Maomé recebeu o título de Califa, chefe político e religioso, sendo assim, o
Estado de Medina constituía-se numa Teocracia.

Em fevereiro de 628, Maomé resolveu realizar uma peregrinação a Meca, é claro que foi
impedido pelos Coraixitas de entrar na cidade, mas firmou um acordo com eles de que poderia
realizar sua peregrinação no ano seguinte. Este acordo foi visto como um sinal de fraqueza
pelos Muçulmanos, mas, na verdade, constituía uma jogada política do profeta, isso porque,
quando em 629, ele foi até Meca, com permissão para ficar três dias, conseguiu prolongar sua
estadia realizando mais um casamento (após a morte de Khadidja, Maomé iniciou uma série
de casamentos, o primeiro deles foi justamente com a filha de seu grande amigo Abu Bakr,
mas depois foram realizados inúmeros outros, tanto que a Mesquita de Medina, a primeira
que foi construída, tinha diversos quartos para as esposas do profeta; estes quartos eram
construídos junto às paredes externas do templo e aumentavam em número à medida que o
harém de Maomé crescia), com Maimuna, filha de seu tio, al-Abbas (que não se convertera) e
tia de Khalid ibn al-Walid, o maior general de Meca.

Graças a seu casamento, Maomé conseguiu a ira do tio e a conversão de Khalid ibn al-Walid.
Este, no mesmo ano, liderou uma grande expedição contra as fronteiras do Império Bizantino,
expedição que terminou em fiasco e morte da maior parte dos Muçulmanos, mas que foi uma
demonstração de que as tropas de Medina estavam prontas para uma guerra definitiva contra
Meca.

No princípio de 630, o general Mequense recém convertido liderou os exércitos de Medina até
as portas de Meca, lá, ele recebeu uma embaixada Coraixita que se destinava a ceder aos
desígnios de Maomé. Estes eram entrar em Meca sem resistência e visitar a Caaba.

Aceitas as condições do profeta, procedeu-se a entrada em Meca. Uma pequena tropa
Mequense que ofereceu resistência foi destruída pelas tropas Muçulmanas e Maomé, junto
com seu exército marchou até a Caaba. Chegando lá, contornou o templo sete vezes e depois
entrou; então, tocou a Pedra Negra com seu cajado e gritou: "Allah é o maior!".

Depois disso, ordenou a destruição dos mais de trezentos e sessenta ídolos das várias religiões
da Arábia, que havia na Caaba e, por fim, mandou que o teto, onde havia um afresco Judaico-
Cristão, fosse pintado. Era a conquista de Meca, a vitória de Maomé, o profeta de Allah.

4.4 – A conquista da Arábia:

Depois de conquistar Meca e destruir os ídolos da Caaba, Maomé retornou a Medina, de onde
organizou expedições para toda a Arábia Central. Essas expedições colocaram boa parte da
península sob a autoridade do profeta, mas não toda, sua unificação só seria concluída um ano
após a morte de Maomé.

Na peregrinação anual dos povos Árabes à Caaba, em 631, os peregrinos não encontram suas
divindades, em seu lugar encontram a Caaba transformada numa Mesquita (templo Islâmico),
com efeito, esta peregrinação é uma transição entre o politeísmo praticado no Hedjaz até
então e o monoteísmo que o substituiria a partir do ano seguinte.

Em 632, na peregrinação anual à Caaba, Maomé se faz presente e, com várias demonstrações
dos rituais a serem seguidos nas visitas futuras, além de um discurso forte, declarou ter
cumprido sua missão e rogou a todos os Árabes que permanecessem unidos no Islã. Depois,
fechou seu discurso perguntando a todos se havia cumprido sua missão e como recebesse uma
resposta afirmativa, declarou que aquele seria seu último discurso.

É provável que Maomé já tivesse ciência de que a morte se aproximava dele, afinal, já estava
com 61 anos, idade avançadíssima para a época e sendo assim, quis dar por encerrada sua
missão, mas o fato é que o profeta estava correto em seu auspício, pois ao retornar a Medina,
morreu apenas três meses depois, no dia oito de junho de 632.



5 – O período dos quatro Califas (Rashidun):

O enterro de Maomé foi uma cerimônia simples, sem muita pompa, realizado em Medina no
dia seguinte à sua morte. O motivo pelo qual Maomé não foi sepultado com muitas honras e
estardalhaço não foi religioso ou mesmo moral, mas sim político, isso porque devido ao fato
de o profeta não ter deixado nenhum filho homem, não se sabia quem seria seu sucessor e,
sendo assim, havia muitos pretendentes ao título de governante da Arábia. Dessa forma,
alguns desses pretendentes, dentre os quais se contava Ali, o primo de Maomé, temiam que
Abu Bakr, por seu caráter de liderança fizesse de uma possível solenidade de sepultamento do
profeta, uma forma de assumir o poder.

Porém, de nada adiantaram as precauções dos candidatos à sucessão de Maomé, pois Abu
Bakr e Omar (um importante membro da sociedade Caraixita que, ao ser convertido, em 619,
proporcionou a conversão de boa parte da população de Meca devido à sua popularidade)
chamaram para eles a responsabilidade de governar a Arábia e, apoiados em no outro,
realizaram esta missão, Abu Bakr se tornou então o Califa, que segundo reza a tradição foi o
primeiro, devido ao fato de Maomé ser o Profeta.

5.1 – Os Califas:

O período que se seguiu à morte de Maomé foi o chamado Período dos Quatro Califas, ele é o
período em que começa a se formar o Império Islâmico propriamente dito, pois antes o que
Maomé fez foi costurar a colcha de retalhos que étnico-religiosa que formava a Arábia e torna-
la um país unitário. Este período é muito conturbado, com o surgimento das primeiras
sesseções religiosas no Islã e com o a abertura das novas frentes de batalha, contra Pérsia e
Império Bizantino.

Aliás, a respeito de Pérsia e Império Bizantino é interessante notar que após uma longa guerra
entre os dois Impérios, finalmente, em 628, Heráclio I, Imperador Bizantino, conseguiu uma
vitória definitiva sobre a dinastia Sassânida (a dinastia Persa). Definitiva não porque destruiu
definitivamente a dinastia, mas porque impossibilitou-a de reagir e tornou a queda do Império
Persa apenas uma questão de tempo, tanto que, em 630, o próprio Heráclio I tomou Jerusalém
aos Persas e continuaria tomando regiões não fossem os Árabes...

5.1.1 – Abu Bakr (632 – 634):

Quando Maomé morreu, as diversas religiões Árabes retomaram força, alimentadas pelos
diversos profetas aos quais já me referi. Esses profetas tentaram operar a desunificação do
que estava unificado na Arábia, porém, o novo Califa agiu rápido e em pouco tempo, contando
com a ajuda imprescindível de Khalid ibn al-Walid, não só exterminou esses profetas, como
também apaziguou os Beduínos, conquistando-os e enviou seu general ao sul da península,
onde os Estados independentes não participavam da vida do Hedjaz, esta expedição
conquistou o Reino de Sabá e os diversos Estados independentes do Iêmen, Hadramaut, Omã
e litoral do Golfo Pérsico.

Apesar do ano de 633 ter sido tão grandioso e proveitoso para o Califa, ele já estava velho e,
sendo assim, em 634, adoeceu e morreu, porém, em seu leito de morte, Abu Bakr não se
esqueceu de recompensar seu principal aliado no poder, Omar e, sendo assim, designou-o
como seu sucessor.

5.1.2 – Omar ibn al-Khattab (634 – 644):

Omar (em algumas fontes também mencionado como Umar) tomou o título de Califa e,
segundo a História é conhecido como Omar I, isto porque, futuramente haverá outros Califas
com este nome. Homem que inicialmente era um inimigo ferrenho do Islamismo, acabou se
convertendo por volta de 619, e se tornou um dos principais responsáveis pelo poder deste.
Em seu governo, ditado pelas aristocracias comerciais de Meca e Medina (esta última tinha se
convertido na capital natural do Império, devido ao fato de ter sido o verdadeiro berço do
Islamismo, de onde partiram as tropas que conquistaram Meca e toda a Arábia), concentrou
seus esforços em conquistar a Mesopotâmia, as antigas Judéia e Fenícia e em se expandir até
Alexandria, no Egito, pois queria dominar as principais rotas comerciais.

Seus exércitos foram liderados mais uma vez por Khalid ibn al-Walid, que por todos os seus
feitos em prol do Islã, recebeu o digno apelido de "A Espada de Allah".

Com efeito, o governo de Omar I foi marcado por conquistas, conquistas essas proporcionadas
pela fragilidade do decadente (e por que não moribundo) Império Persa e do enfraquecido
Império Bizantino. Quando Khalid estava velho demais para continuar suas conquistas, foi
substituído, com honras, mas as conquistas não pararam e, em 642, o Império Árabe se
estendia do Egito ao Irã.

A viabilidade das conquistas se deu devido à tolerância dos conquistadores, pois quando os
Árabes dominavam uma região, não obrigavam-na a se converter ao Islamismo, apenas
impunham um pesado tributo (que servia para financiar a conquista de novas regiões pagando
o soldo dos exércitos e proporcionando a confecção de armamentos) a quem não aceitasse a
fé de Allah.

Dos pontos de vista estratégico, cultural e econômico, Omar foi impecável. Ordenou a
construção de três cidades que serviam de bases militares (Kufa, ao sul da Babilônia antiga;
Basra, no Iraque; e Fostat (atual Cairo), no Egito) que funcionavam mais ou menos como as
colônias Romanas, ou seja, regiões com a finalidade militar de defender e controlar a região e
a finalidade social de Arabizar ou Islamizar a região. Além disso, foi Omar I quem organizou o
calendário Muçulmano que é seguido hoje, ou seja, foi ele quem fixou a Hégira (se bem que
em data errada) como marco zero do calendário Islâmico.

O Califa também organizou as finanças do Império, criando o balanço (ou lista de receita e
despesa) deste e organizou os territórios conquistados colocando um Wali, governador e
general assistido por um Amil, responsável pela receita em cada uma das regiões
conquistadas.

Além de todos esses feitos, o Califa ainda é lembrado pelos Islâmicos como um modelo das
virtudes do Muçulmano, ou seja, enérgico, justo e mais temido do que amado. Seu caráter era
tão forte e sua crueldade devia ser tamanha que, em novembro de 644, um escravo
enfurecido atacou-o causando-lhe um ferimento mortal.

Omar I ainda teve tempo de, em seu leito de morte designar um conselho com seis membros
com a função de eleger o novo Califa.

5.1.3 – Uthman ibn Affan (644 – 656):

O conselho dos seis era formado por, dentre outros, o próprio Uthman; que além de amigo de
Maomé, havia desposado uma de suas filhas; e Ali (o primo de Maomé). Este conselho
terminou por eleger Uthman como novo Califa.

Uthman, ao contrário de seus predecessores, não era uma figura famosa entre o povo, nem
tão pouco, um herói militar, era, no entanto, um importante membro da aristocracia comercial
de Meca, sendo pertencente ao clã Omíada (em Árabe, Umayyad). Dessa forma, a eleição do
novo Califa marcou a vitória, e porque não o início da hegemonia, da aristocracia comercial de
Meca sobre o Califado.

Os objetivos do novo Califa eram óbvios desde o início de seu governo, pois tentou dominar as
mais importantes regiões comerciais do Oriente Médio e norte da África. Em seu governo
Alexandria foi retomada, pois havia sido momentaneamente reconquistada pelos Bizantinos e
a conquista da Palestina e da antiga Fenícia foi consolidada. Estas conquistas, juntas,
possibilitaram o início da expansão marítima Árabe, pois antes, estes nunca haviam se
arriscado nas águas do Mediterrâneo.

A principal figura da expansão marítima é Moawiya (em Árabe, Mu’awiyya), o governador da
Síria, que instalado na proeminente cidade de Damasco, chefiou as esquadras Árabes em suas
sucessivas vitórias sobre a esquadra Imperial Bizantina. Em 649, o Chipre caiu nas mãos
Muçulmanas e isto marcou o fim da hegemonia de Constantinopla sobre as águas do
Mediterrâneo, em especial sobre o Mediterrâneo Oriental.

Com as fronteiras comerciais consolidadas e a economia do Império indo "de vento em popa",
o Califa tomou duas atitudes importantes relacionadas com a política interna: diminuiu a
fervor expansionista, com intuito de fortalecer as defesas; e direcionou seus esforços no
sentido de elaborar um texto único para o Alcorão, pois a existência de textos conflitantes
(visto que Maomé não sabia escrever e, sendo assim ditou o livro para outros) começava a
gerar discórdias religiosas que,mais tarde eclodiriam em revoltas e num cisma religioso.

Uthman, no entanto, desenvolveu em seu governo algumas vicissitudes que o tornaram muito
impopular, além de enfraquecerem a unidade do Império. Contam entre essas medidas a
prática deliberada do nepotismo (ou seja, o emprego de parentes e amigos em cargos públicos
de confiança ou não) seguido do esbanjamento do tesouro central, o que acarretou em
diminuição de recursos para fins importantes, como o militar.

Somam-se ao esbanjamento duas práticas que, por si sós, já seriam suficientes para reduzir a
receita Imperial, ou seja, a parada na expansão, que acarretou no fim (pelo menos temporário)
das presas de guerra; e a conversão ao Islamismo da maioria das populações conquistadas
anteriormente. Esta última ação reduziu as receitas, pois, como o leitor deve se lembrar,
aqueles que não quisessem se converter ao Islã depois de conquistados, não seriam obrigados,
mas estariam sujeitos a pesados tributos, dessa maneira, muitos simularam sua conversão
para assim se verem livres de impostos (dos quais os Islâmicos estavam livres).

A repercussão de tais fatos teve um peso negativo muito maior do que o peso positivo das
conquistas (leve-se em consideração que foi no governo de Uthman que as conquistas foram
realmente divididas em três frentes (como será explicado mais adiante), além disso, foi em seu
governo que a Pérsia caiu de joelhos definitivamente diante dos Árabes, com a morte do
último Grande Rei), tanto que desde o princípio de seu governo, o Califa encontrou feroz
oposição de quatro figuras importantes dentro da comunidade Islâmica: Aysha, filha de Abu
Bakr e principal esposa de Maomé; Ali, primo do profeta; al-Zubayr e Talha, ambos, assim
como Ali, membros do conselho dos seis que elegeu o Califa.

O nepotismo e o esbanjamento praticados pelo Califa se irradiaram para as províncias, dessa
forma, as populações passaram a ser muito exploradas (talvez isso tenha, mais que tudo,
motivado as conversões em massa) pelos governadores locais que eram nomeados e
renomeados pelo Califa a seu bel prazer.

A situação se tornou calamitosa quando no final de 655, Amr, o governador do Egito foi
deposto pelo Califa que nomeara para seu lugar um parente. Ele com seus soldados tentaram
depor Uthman, mas não lograram sucesso. Porém, este (o Califa) pediu auxílio ao novo
governador do Egito para que este sufocasse a revolta, este (o governador) obedecendo,
matou um importante general leal a Amr. A morte do oficial revoltou os exércitos do Califado
e, sendo assim, quando a notícia chegou a Medina, os soldados que outrora eram leais a
Uthman invadiram seu palácio e mataram-no enquanto lia o Alcorão.

5.1.4 – Ali ibn Abi Talib (656 – 661):

Quando Uthman morreu, mais do que depressa (no mesmo dia) Ali (o mesmo que era primo
de Maomé e que com ele crescera) tomou para si o título de Califa, no entanto, as
circunstâncias nas quais o antigo Califa fora morto (lendo o livro sagrado) fizeram com que,
inesperadamente, ele se converte num mártir (um herói morto). Sendo assim, Ali, que
possivelmente instigara os exércitos contra Uthman, foi considerado por seus antigos aliados
(leia-se Aysha, al-Zubayr e Talha), além de por Moawiya (governador da Síria, que era primo
de Uthman e que, dessa forma, com sua morte, herdou a chefia do clã Omíada).

Certamente, Ali contava com inúmeros aliados, dentre os quais podemos referir
principalmente os mais antigos fiéis, ou seja, os que haviam conhecido Maomé, além de quase
a totalidade dos exércitos, visto que as três fortalezas Árabes (Fostat, no Egito; Kufa e Basra, na
Mesopotâmia) lhe eram fiéis.

A viúva de Maomé (entenda-se que apesar de após a morte de Khadidja, o profeta ter criado
um harém, a primeira mulher com a qual se casou, no caso Aysha, passou para a História como
sua viúva, isto porque foi a única que teve alguma relevância depois da morte do marido, além
de ter sido a única cujo pai (Abu Bakr) também se tornou Califa), juntamente com os outros
dois inimigos de Ali, se mudou para Basra, onde pretendia corromper a fortaleza contra o novo
Califa.

Vendo que sua presença se fazia necessária junto aos exércitos, em especial na Mesopotâmia,
Ali transferiu a capital do Império de Medina (onde haviam reinado Maomé, Abu Bakr, Omar e
Uthman) para Kufa. Lá, ele organizou as tropas e marchou contra os rivais. Tudo isso ainda e
656, o mesmo ano de sua posse.

Desenrolou-se então a chamada batalha do camelo, de onde Ali saiu vitorioso, exterminando
as tropas dos oponentes e, além de matar al-Zubayr e Talha, capturou Aysha, esta foi
silenciada (pois ficou sem aliados) e então enviada de volta para Medina, onde viveu o resto de
sua vida (morreu em 678, de velhice, com quase oitenta anos) confortavelmente, mas sem ter
outra chance de agir politicamente falando.

A morte de seus inimigos serviu para consolidar as posições de Ali no Iraque (ou
Mesopotâmia), mas, no entanto, na Síria as coisas estavam diferentes. Moawiya não aceitava
o governo de Ali, a quem considerava um usurpador, dessa forma, agora aliado com Amr
(entendam que Amr, apesar de ter sido inimigo de Uthman, viu em seu primo Moawiya, um
aliado poderoso, posto que este não praticava os mesmos erros grotescos que o Califa
anterior, além disso, Ali lhe tinha usurpado a idéia de dar um golpe e tomar para si o título de
Califa, visto que havia feito isto antes, sendo assim, a vingança também o motivava), iniciou, já
em 657, suas ofensivas.

A batalha de Siffin, na margem direita do rio Eufrates, em 657, foi decisiva em muitos aspectos,
pois os exércitos de Ali estavam levando vantagem até que Amr, que comandava os exércitos
de Moawiya, ordenou que todos os seus homens colocassem sobre as espadas folhas do
Alcorão. Essa imagem fez com que as tropas de Ali desistissem de lutar, pois consideravam
sacrilégio matar homens tão leais à sua fé. Além da desistência, os homens de Ali decidiram
submete-lo a uma Arbitragem, ou seja, uma espécie de julgamento que apontaria se sua
ascensão ao poder era válida (na prática, isto punha em dúvida o mérito do governante, ou
seja, o desmoralizava).

Enquanto Ali se retirava do campo de batalha com seus homens, cerca de metade deles veio
insistir para retornar ao combate. O Califa, no entanto, achou prudente não aceitar, pois
estariam em menor número e certamente perderiam a batalha. Diante da recusa de Ali, estes
soldados desertaram, mas ao invés de passarem para o lado de Moawiya, formaram uma
milícia religiosa cujos seguidores foram batizadados de Kharidjitas (os que saem). A formação
dessa milícia marca o primeiro grande cisma do Islã.

Depois da formação do Kharidjismo, Ali teve que ocupar seu tempo enfrentando-os, dessa
forma, Moawiya passou a agir livremente e, sendo assim, não só retomou o Egito, cujo
governador era leal a Ali, e entregou-o a Amr, como, em 660, em Jerusalém, proclamou-se
Califa. Isso gerava uma situação de quase ruptura, uma vez que passava a haver dois
indivíduos que se consideravam governantes supremos do Império, um cuja influência de
estendia ao Egito e à Síria (Moawiya) e o outro, ao qual eram leais a Arábia em si e o Iraque
(Ali).

Ali finalmente derrotou os revoltosos Kharidjitas, na batalha de Nahrawan, nas margens (e
mesmo dentro dele, dizem que as águas do rio se tornaram turvas com o sangue dos
dissidentes) do rio Tigre. Porém, apesar de agora ineficazes militarmente, os Kharidjitas
continuaram a existir e a agir de forma semelhante aos terroristas de hoje, tanto que, em 661,
quando (livre dos insurretos) Ali organizava suas tropas para marcharem contra a Síria, um
Kharidjita disfarçado invadiu a Mesquita de Kufa e matou o Califa. Com a morte de Ali, o
caminho ficou livre para as pretensões de Moawiya.




                          Expansão máxima do Islã nos primeiros anos

5.2 – As Revoltas Xiitas e as dissidências religiosas no Islã:

As tensões que se iniciaram no Califado de Uthman acarretaram diversas transformações no
mundo Árabe. Porém, as principais talvez tenham sido as religiosas. Digo principais, pois além
das transformações políticas profundas ocorridas no Império Islâmico, decorrentes em grande
parte de tais dissensões religiosas (não devemos esquecer que os Kharidjitas atrapalharam a
possível e provável reação de Ali, abrindo o caminho para o fortalecimento dos Sírios), até hoje
essas diferentes correntes têm, em maior ou menor grau, alguma influência no mundo
Muçulmano, sendo que o Irã tem como religião oficial o Xiismo.

O Kharidjismo foi a primeira dessas dissensões religiosas e, como já expliquei no item anterior,
surgiu de uma discordância entre os soldados de Ali e este. Ele foi responsável por diversos
ataques tanto na época de Ali, quando ainda era efetivo numericamente o suficiente para
realizar reides, quanto em épocas posteriores, através de atentados e da conversão de
adeptos do Sunismo (ortodoxia Islâmica original) a sua causa. A principal discordância dos
Kharidjitas em relação aos Ortodoxos (os Muçulmanos que seguem os ensinamentos originais
de Maomé) era política, eles acreditavam que qualquer cidadão deveria ter o direito de
ascender ao Califado, desde que fosse Islâmico. Porém, o Califa deveria ser cobrado quanto ao
cumprimento de suas obrigações, podendo ser deposto se não as cumprisse adequadamente.
Esse princípio batia de frente com o caráter hereditário que viria a se instaurar no Califado
após a morte de Ali, sendo assim, essa seita continuou agindo contra o interesse dos Califas. O
mais curioso quanto aos Kharidjitas é que para eles (apesar de serem Islâmicos), era mais fácil
considerar um Judeu ou um Cristão como igual do que um Muçulmano não adepto de sua
causa.

Após a morte de Ali, que possuía muitos apoiadores incontestes, este foi transformado por
muitos numa figura semi-divina, de fato, Ali, bem como seus descendentes (filhos deste com
sua esposa Fátima, filha de Maomé) passaram a ser considerados mais importantes do que
Maomé. É bom que se explique que os Califas eram, até o tempo de Ali, ao mesmo tempo
Malik (Rei) e Imam (Líder Religioso), porém o culto que se desenvolveu a Ali, tratava-o, e
também a seu filho, Hussayn, como Imam. Este culto recebeu o nome de Xiismo. Os Xiitas,
uma seita que persiste, como já foi referido, até os dias de hoje, acreditam que o Califado só
pode ser exercido pelos descendentes diretos de Ali, pois estes são naturalmente divinizados.

Cada Imam tem o dom, concedido por Allah, de rever as escrituras, sendo assim, a palavra de
um Imam é absoluta sendo superior ao Alcorão e até mesmo a palavra do Imam anterior. A
crença na divindade do Imam fez com que os Xiitas não aceitassem os Califas e, sendo assim,
desenvolvessem vários ataques e revoltas ao longo de todo o Califado Omíada e depois,
também do Abássida.

Para os Xiitas, o Imam designa entre seus filhos aquele apto a ser o futuro Imam. Porém, isso
causou algumas dissidências entre os próprios Xiitas, pois o sexto Imam, Djafar, não escolheu
como futuro Imam ao seu filho mais velho, Ismail, como era costume até então, mas sim ao
seu filho mais novo, Musa. Dessa forma, alguns Xiitas que acreditavam na sucessão varonil por
idade (ou seja, o filho homem mais velho deveria ser o novo Imam), não aceitaram Musa como
Imam e passaram a cultuar Ismail como seu Imam, estes foram então ditos Ismailitas, uma
facção Xiita considerada radical até mesmo por estes (que, diga-se de passagem, já são radicais
o bastante). Os Ismailitas recusam-se a acreditar que Ismail tenha morrido um dia, ao
contrário, eles afirmam que seu líder irá retornar ao mundo e salvá-los, bem como a todos os
que se converterem, sendo assim, para os Ismailitas, com Ismail encerra-se o ciclo de Imans.
Ao contrário, para os Xiitas, que aceitaram Musa como seu Imam, o ciclo só se encerra quando
(por volta do final do século X) o décimo segundo Imam se retira para uma montanha sob o
pretexto de meditar. Os Xiitas acreditam (talvez inspirados nos Ismailitas) que este ainda está
meditando nas montanhas, até hoje, e um dia retornará para salva-los, nesse dia, as
revelações finais sobre o Alcorão serão feitas, e as partes perdidas (que teriam sido excluídas
propositalmente para retirar os predicados de Ali quando foi elaborado o texto único) serão
reencontradas.

Tanto os Xiitas, quanto os Ismailitas (que nada mais são do que uma facção dos Xiitas)
acreditam que, quando Uthman realizou a edição do texto "oficial" do Alcorão,
deliberadamente negligenciou algumas partes que beneficiavam Ali. Dessa forma, ele teria
impedido o "fundador" do Xiismo de obter privilégios semelhantes aos de Maomé.

É interessante notar no Xiismo que apesar de Ali ser seu "fundador", ou pelo menos inspirador,
seu filho Hussayn foi mais venerado, isso porque sua morte (apesar de ter sido morto numa
emboscada, armada pelo novo Califa Moawiya, que temia que o filho de Ali reunisse forças
suficientes para destrona-lo) foi considerada um rito de auto-sacrifício, em busca de
purificação, de salvação. A morte de Hussayn entrou para a História como o massacre, ou
drama, de Karbala, e inspirou o início das violentas hostilidades Xiitas ao longo da História.
Para os Xiitas, existe uma necessidade de vingar Hussayn, sendo assim, eles se mobilizam para
tal feito. Essa mobilização, aliada a outras causas que veremos mais adiante, foi uma das
responsáveis pela queda da dinastia Omíada.

O enviado de Allah que, tanto para os Xiitas, quanto os Ismailitas, esperam, é chamado de
Mahdi e será simplesmente infalível.

5.3 – As três frentes da expansão:

Certamente foi durante o governo de Uthman que a expansão dos domínios Árabes tomou
realmente a forma que viria a ter nos próximos anos, sobretudo durante a dinastia Omíada.
Três foram os caminhos adotados pelos Muçulmanos para expandir sua fé e seu controle
temporal.

Veremos neste item boa parte das principais conquistas Islâmicas desde o estágio embrionário
da divisão em frentes de combate, até o final do período ao qual se remete este texto, ou seja,
em 809, com a morte de Harun al-Rachid.

5.3.1 – Oriente:

A expansão rumo ao Oriente existiu em boa parte sobre os domínios do antigo Império Persa.
Este estava fragilizado pelas sucessivas derrotas que sofrera frente ao Império Bizantino,
sendo assim, não pode resistir à organização das tropas Islâmicas.

O leitor deve estar intrigado com uma questão importante e pouco estudada sobre o Império
Persa. Ele não havia acabado no século IV a.C., quando Alexandre matou Dario III e conquistou
seu Império Persa.

Vejamos, depois da morte de Alexandre, seu Império foi dividido entre seus principais homens,
dentre eles contavam Antígono, a quem coube o núcleo do Império, ou seja, a Grécia-
Macedônia; Ptolomeu, a quem coube o Egito; e Seleuco, a quem coube a Ásia, ou o antigo
Império Persa.

Logo no início, a Ásia Seleucida foi desmembrada em diversos Reinos: Armênia; Média
Atropatena; Partia; Bactriana e a própria Seleucida.

Em 64 a.C., a Partia, que sob a dinastia dos Arsácidas (dinastia estabelecida em 247 a.C.) se
fortalecera, toma as demais regiões, mas não recria o Império Persa, este período é chamado
de Reino Parto, e perdura até 224 d.C.. Os Partos impuseram dura resistência ao Império
Romano, tendo sido combatidos por famosos generais, tais como Lépido e Marco Antônio.

Em 224 d.C., um príncipe regional chamado Ardachêr, filho de Sâssân, organiza uma revolução
nacional e, derrubando a dinastia Arsácida, instala no lugar a sua, que em homenagem a seu
pai, se chama Sassânida. Os Sassânidas, em busca de respaldo anterior ressucitam o nome
Pérsia, bem como todos os seus títulos, dessa maneira, o soberano volta a se chamar Grande-
Rei, como na Pérsia Pré-Alexandrina e o Império volta a se chamar Império Persa.

Os Sassânidas oferecem muito mais problemas aos Romanos do que seus antecessores, os
Partos, talvez por serem mais ferozes que estes, ou pelo fato de aqueles estarem em
decadência. O fato é que um Imperador Romano é morto (Juliano, em 363) e outro capturado
e escravizado (Valeriano, em 260) em guerras contra os Persas Sassânidas.
Depois da queda do império Romano, os Sassânidas passam a disputar com os Bizantinos a
hegemonia do Oriente. De início, são atrapalhados em suas tentativas, pelos Hunos e quando
tentam conquistar territórios Bizantinos, encontram Constantinopla em seu apogeu militar,
com Justiniano, que os repele. Khosrô II, no entanto, conquista diversos territórios do Império
Bizantino (Ásia Menor, Síria, Palestina e Egito) após a morte de Justiniano, desencadeando
uma guerra feroz entre os dois Impérios.

Heráclito I, Imperador Bizantino, começa a retomar o que lhe havia sido usurpado pelos Persas
e, em 628, lhes impõe uma derrota definitiva (já mencionada anteriormente), derrota esta que
praticamente destrói qualquer chance da dinastia Sassânida se reerguer. É neste contexto que
os árabes encontra os Persas, ou seja, praticamente derrotados desde 628, precisando apesar
do "último empurrão" para caírem no precipício; e este "empurrão" é dado pelos
Muçulmanos.

Em 651, Yazdgard, último Grande-Rei Sassânida é morto pelos Árabes depois de fugir de
cidade em cidade, sendo assim, termina a dinastia, pelo menos na Pérsia, visto que no
Turquestão (antiga pátria dos Turcos, dos quais falarei brevemente no item sobre a dinastia
Abássida) e depois na China, ainda resistem Reis Sassânidas até meados do século VIII, quando
são finalmente exterminados pelos Árabes.

Se por um lado a expansão Árabe em seu rumo oriental se fundamentou na conquista dos
territórios do Império Persa, por outro, não se limitou a isso, visto que entre o governo de
Uthman (644 – 656) e o de Al-Walid (705 – 715), estenderam seus domínios do oeste do atual
Irã até certas regiões da China e da Índia, tendo inclusive se deparado com tropas da dinastia
T’ang, da China da época.

5.3.2 – Norte:

Enquanto a expansão rumo ao leste se fundamentava na anexação dos territórios do Império
Persa, a expansão no sentido norte almejava a conquista de regiões do Império Bizantino.
Iniciada por Uthman, esta direção das conquistas foi a que menos logrou efeito (pelo menos na
época referida, visto que como esta frente nunca foi esquecida pelos povos Islâmicos,
posteriormente os Turcos, saídos do Turquestão, atacaram a Ásia Menor, ou Capadócia,
visando se instalarem. Venceram a batalha de Manzikert, em 1071, iniciaram a formação do
Império Turco, ou Otomano, que, dominando os Bálcãs e boa parte dos domínios centrais do
Império Islâmico original, perdurou até o final da Primeira Guerra Mundial), pois teve como
oposição ferrenha o, ainda poderoso, Império Bizantino.

As principais motivações dessa frente de combate eram nitidamente comerciais. Os Árabes,
que estavam sob a égide de um clã comercial (os Omíadas), desejavam banir os Bizantinos do
comércio do mar Mediterrâneo e, se não pudessem conquista-los, pelos menos queriam
sobrepuja-los.

Foi com esse intuito que, já no governo de Uthman, o Império Islâmico iniciou a construção de
sua esquadra que conseguiu grandes vitórias logo de início, conquistando o Chipre e dizimando
a marinha Bizantina.

Depois de conquistar a supremacia no Mediterrâneo, os Árabes iniciaram a construção de uma
rede de postos avançados no mar, com a conquista de diversas ilhas e cidades costeiras, como
Rhodes e Chipre, além de ataques a Sicília e ao sul da Itália.
Desejando exterminar definitivamente os Bizantinos e abrir seu caminho rumo a Europa, os
Árabes enviaram, em 674, uma grande esquadra para Constantinopla, pois sabiam que se a
capital caísse, todo o Império cairia. Ocorreu um longo cerco de quatro anos, nos quais a
cidade resistia e os Árabes atacavam, até que os Bizantinos utilizaram a ciência para lhes
garantir a sobrevivência. Graças a pesquisas de Calímaco, um engenheiro da Síria que se
refugiou no Império Bizantino para fugir do domínio Islâmico, foi inventado o fogo grego, uma
mistura de petróleo, enxofre, salitre e cal viva, que se inflama com o impacto e queima em
qualquer superfície, inclusive sobre a água (devido ao petróleo, que é o que queima
realmente). Graças ao fogo grego, Constantinopla conseguiu armar suas defesas navais e
destruir a esquadra Árabe que a cercava (isso porque, como os navios da época eram feitos de
madeira, o fogo se tornava especialmente perigoso para eles). Os Árabes evitaram realizar
novas investidas navais contra Constantinopla para não perderem mais navios, em contra
partida, os Bizantinos não conseguiram reaver o que haviam perdido, pois assim como não
conseguiriam produzir fogo grego suficiente para queimar todos os navios Árabes, também
não teriam recursos para reconstruir sua marinha perdida (uma vez que depois da dispendiosa
reconquista organizada por Justiniano (que governou entre 527 e 565), as finanças Imperiais
ficaram de tal forma arruinadas, que nunca mais se recuperaram). Dessa maneira, houve uma
certa paz nos mares entre os Impérios Islâmico e Bizantino.

5.3.3 – Ocidente:

A expansão Árabe rumo ao ocidente foi a que começou mais cedo, já no governo de Omar,
talvez motivada pelo sentimento de revanchismo que boa parte dos Árabes nutria em relação
aos Abissínios (Etíopes), pois, como já foi explicado, este dominaram por longo período o
Reino de Sabá, além de tentarem impor o Cristianismo aos povos Árabes pré-Islâmicos.

Durante o Califado de Omar (634 – 644), as conquistas se estenderam até Trípoli, tendo
tomado, no caminho, o Egito e a Abissínia. No governo de Uthman, esta frente foi preterida
em detrimento das outras duas e no Califado de Ali, devido às diversas guerras que o primo de
Maomé teve que travar e ao conturbado momento político em que se encontrava o Califado, a
expansão parou momentaneamente.

Quando a dinastia Omíada se instalou, voltou seus olhos novamente a esta direção da
expansão. Talvez a ênfase maior a estas conquistas tenha sido dada quando os Árabes se
deram conta de que, pelo menos por aquela hora, não poderiam tomar Constantinopla, sendo
assim, precisavam atingir a Europa de outra maneira.

Através das conquistas no norte da África, ocorreu um aumento brutal da extensão do
Império, bem como uma verdadeira revolução na máquina de guerra Islâmica, visto que os
Berberes (povo do norte da África (região da Numídia) conhecido por sua resistência
intransponível a todos os Impérios anteriores e por seu nomadismo, além de suas altíssimas
qualificações militares) se converteram ao Islamismo e tomaram para si a responsabilidade de
invadir a Espanha Visigótica (o domínio da Espanha será contado em detalhes num item
especial, devido à grandeza do general responsável por sua conquista).
Outras conseqüências importantes tanto para o
Império Islâmico, quanto para o mundo atual
da conquista do norte da África foram: o
surgimento da África Branca, ou seja, a
irradiação dos povos Semitas da Arábia e Egito
até o Maghreb; a destruição definitiva de
Cartago (a cidade havia sido destruída pelos
Romanos em 146 a.C., porém, depois de ficar
vários anos desocupada, foi revivida por Júlio
César) para a construção, no mesmo lugar, de
Tunis; a criação de portos importantes para o
ataque a ilhas do Mediterrâneo e regiões
costeiras da Europa; além da principal
conseqüência Histórica, a conquista da Espanha
e o subseqüente fechamento do Mediterrâneo
                                                    Arquitetura islâmica no Norte da África:
à navegação Européia, pois os Árabes passaram
                                                          Mesquita em Kano, Nigéria
a domina-lo completamente.

Com certeza, com veremos, a conquista da Espanha (entre 711 e 714) marca o início do
apogeu do Império Islâmico, uma Império que existia a apenas oitenta anos e que já dominava
uma região maior do que a extensão máxima do Império Romano.

7 – A Revolução Abássida:

Acredito que muitas coisas mudaram no Império Islâmico depois da ascensão dos Abássidas ao
poder. Primeiramente, como pode-se perceber, até aqui o Império havia sido um Império
Árabe e, porque não, um Império do Hedjaz e da Síria, sendo que os Muçulmanos das demais
regiões nunca haviam sido considerados como iguais pelas elites dominantes. Sendo assim, só
não chamo o Império construído pelos seguidores da religião de Maomé de Império Árabe,
justamente porque sob os Abássidas, o Império perde esse caráter e, ao contrário, ganha, cada
vez mais um caráter Persa.

Sob a nova dinastia, ocorrem diversas transformações em diversos campos do Império.
Primeiramente, deve-se notar que, enquanto os Omíadas laicizaram o Estado, os Abássidas
retornaram à Teocracia orginal, aliás, a Teocracia Abássida era muito mais real do que a dos
Califas Ortodoxos. Os Califas dessa dinastia realmente se consideravam homens acima da
média, que haviam sido escolhidos por Allah para governar não só o Império, mas também a
vida de todos os Muçulmanos. Sendo assim, Esta dinastia retomou para o Califa o título de
Sumo Pontífice Islâmico.

Justamente pelo fato de os Abássidas se considerarem os donos da verdade Islâmica é que as
perseguições contra todos aqueles que não seguissem exatamente a Sunna do Profeta, ou
seja, todos os não Sunitas, seriam perseguidos implacavelmente, tanto por meio de armas,
quanto através da propaganda do Estado.

Porém, os Abássidas não foram de todo ruim, eles tinham uma grande preocupação com a
humanidade, por isso, tentavam de todas as maneiras tornar todos os Muçulmanos iguais, ao
contrário dos Omíadas, que não se preocupavam com o bem estar do povo. Foi sob esta
dinastia que foram produzidos os principais legados do mundo Árabe: obras literárias, como
"As mil e uma noites"; Mesquitas gigantescas, túmulos igualmente majestosos; a tradução das
antigas obras Gregas (Platão, Aristóteles, Sófocles, Aristófanes, Tales, Arquimedes, Pitágoras,
Homero...) que estavam perdidas na memória Européia, mas que foram resgatadas pelos
Árabes através da memória Persa, mantida devido à helenização da Ásia proporcionada por
Alexandre, o Grande; dentre outras grandes façanhas.

No campo da política, os Califas Abássidas criam um novo cargo: o Vizir. Este é, a exemplo do
Prefeito do Palácio, do Reino Franco, uma espécie de Primeiro Ministro Islâmico que, à medida
que os Califas vão se ocupando mais e mais da cultura e da religião, tornam-se os responsáveis
pela administração política e militar do Império.

A dinastia também é marcada pelo início da fragmentação do Império, com a criação de um
governo (mais tarde Califado) Omíada na Espanha e, com a independência das tribos Berberes
do norte da África. Além disso, a capital do Império é mais uma vez alterada, inicialmente se
centra em Kufa e depois, passa para Bagdad, uma cidade construída justamente com o intuito
de ser a nova capital do mundo Islâmico, sendo a herdeira de Ctesifonte (antiga capital do
Império Persa (se bem que o Império Persa tinha quatro capitais: Ctesifonte, Pasárgada,
Persépolis e Susa)) e da gloriosa, porém esquecida, Babilônia.

7.1 – O refúgio Omíada na Espanha:

Quando iniciou-se a dinastia Abássida, com o governo de Abu al-Abbas, os Omíadas, como já
foi dito, foram perseguidos. Boa parte deles foi exterminada de uma só vez no fatídico jantar
em Damasco. Porém, alguns membros da família resistiram ao massacre, mas perceberam que
sua permanência dentro dos domínios do novo Califa (que se denominara o caçador do sangue
Omíada) seria impossível.

Observando que, devido às conjunturas presentes no conturbado início da nova dinastia, os
Abássidas não desfrutavam de um controle pleno sobre as províncias do ocidente; Abd el-
Rahman, o último sobrevivente do clã Omíada, fugiu para al-Andalus (a Espanha), em 756.

Lá, ele obteve boa receptividade das populações e, sendo assim, pode se instalar em Córdoba,
onde se proclamou Emir (espécie de governador soberano, ou seja, muito superior aos meros
governadores de província do Império, pois tinha total autoridade sobre a região na qual
governava). Estava fundado o Emirado de Córdoba, uma região que, justamente por pertencer
aos Omíadas, não aceitava o domínio Abássida e que constituiu o primeiro grande racha
dentro do Império Islâmico.

Abd el-Rahman fundou, assim, a dinastia Omíada da Espanha, um prolongamento da dinastia
que havia governado o Império Islâmico entre 661 e 750. O Emir contava não só com o apoio
das populações Espanholas convertidas ao Islamismo, mas também com o apoio dos Bascos
que, apesar de Cristãos, preferiam manter boas relações com os Árabes do que se
submeterem aos ataques dos demais Reinos Cristãos.

Em 778, a Espanha foi atacada por Carlos Magno que, como parte de seu acordo com Harun
al-Rachid (Califa Abássida que, como veremos, mantinha um pacto com o Rei Franco)
pretendia exterminar os Omíadas da Espanha. Carlos Magno foi ajudado por Ibn el-Arabi,
antigo governador de al-Andalus, que, quando os Omíadas chegaram, se refugiou em
Saragoça, de onde pretendia reconquistar seus domínios, ajudado pelo soberano Franco.

Com a ajuda dos Bascos, o Emir Omíada trucidou as tropas de Carlos Magno e, destruindo Ibn
el-Arabi, obteve a hegemonia de toda a antiga Espanha Visigótica (exceto do Reino de Astúrias
(onde haviam se refugiado os Visigodos) e da região dos Bascos (que por meio de um tratado 6
– O Califado Omíada:

Após a morte de Ali, finda-se o período dos Califas ditos Ortodoxos, isso porque, os quatro que
reinaram depois da morte do profeta haviam tido contato direto com ele e assim, estavam
entre os primeiros convertidos ao Islã.

Moawiya dá um golpe em 660, quando se proclama Califa, em Jerusalém. Seu golpe, no
entanto, só se concretiza em 661, quando Ali morre, desde então, o antigo governador da Síria
e agora, novo Califa, introduz algumas mudanças substanciais na política e, trazendo de volta
para sua família o poder (visto que Uthman era seu primo e líder da família antes dele)
proclama o Califado como hereditário, estabelecendo assim, a dinastia Omíada, visto que uma
dinastia se caracteriza pelo domínio do poder por uma família ao longo de um certo tempo.

6.1 – Os Califas e os feitos da Dinastia:

A dinastia Omíada foi marcada por alguns pontos importantes tanto de conflito quanto de
evolução. Já mencionei que foi durante esta dinastia que o Império Islâmico atingiu seu
apogeu tanto físico (em tamanho) quanto militar, somente o apogeu cultural é que viria
posteriormente, com a dinastia Abássida.

Do ponto de vista político-religioso, a transformação do Estado em Estado Laico foi uma
evolução, no sentido em que retirou do Califa o peso de ser o sumo pontífice do Islamismo,
deixando-o livre para decidir o futuro econômico, militar, social e político do império; ao
mesmo tempo que talvez tenha sido um retrocesso, uma vez que esta separação acarretou na
dissolução da Teocracia que havia sido criada ainda na época de Maomé. O fim da Teocracia é
ruim, pois retira parte do apoio popular, advindo da Religião, ao governante.

Outra característica importante da dinastia Omíada é que ela nunca contou com o apoio total
da população do Império, tanto por causa das revoltas religiosas (Kharidjitas e Xiitas), quanto
pelo fato do tamanho do Império ter começado a torna-lo ingovernável na época. Pois em
regiões tão distantes e, sendo assim, tão distintas, se tornava difícil manter uma comunhão de
pensamentos e mesmo religiosa, em suma, o que era bom para a Espanha não
necessariamente era bom para a Síria, ou para o Iraque, ou para a Arábia.

Porém, acredito que a principal característica da dinastia Omíada tenha sido realmente a
vitória dos grupos mercantis (repito pré-capitalistas) sobre os grupos religiosos fundadores do
Império, dessa forma, o Império que foi criado e era mantido através da difusão de uma fé,
não era mais administrado pelos superiores dela.

6.1.1 – Moawiya (661 – 680):

Moawiya foi o fundador da dinastia Omíada e, apesar de não ter sido o primeiro membro
desse clã o governar o Império (Uthman também era do clã Omíada), foi, com certeza, o mais
revolucionário Califa desde de Maomé.

Em seu governo, o novo Califa operou várias transformações no mundo Islâmico. Uma delas já
foi mencionada, ou seja, foi a laicização do Estado, mas convém enumerar outras: a
transferência da capital de Kufa (para onde Ali tinha transferido-a anteriormente) para
Damasco; a proclamação da hereditariedade do título de Califa (o que fundou a dinastia
propriamente dita); a retomada das frentes expansionistas iniciadas por Uthman; a
reintegração da totalidade do Império sob uma só autoridade; o combate às dissensões
religiosas.

Quando Ali morreu, seu filho, Hassan, foi escolhido pelas tropas do Iraque como seu sucessor,
dessa forma, as disputas entre Síria e Iraque continuariam, no entanto, por motivos ignorados,
Hassan abandonou o poder, deixando-o todo para Moawiya. Existem duas hipóteses para
explicar o ocorrido, sendo uma delas mais provável. A primeira, e menos provável, é a utilizada
pelos Sunitas (os Muçulmanos Ortodoxos, ou seja, que seguem o Alcorão tal como foi escrito e
que se posicionaram ao lado dos Omíadas), e diz que num encontro entre Hassan e Moawiya,
o filho de Ali se sentiu inferior ao concorrente e, sendo assim, abandonou o poder. A outra
hipótese, mais provável, é defendida pelos Xiitas (aqueles que se posicionaram ao lado de Ali,
contra os Omíadas), segundo esta hipótese, Moawiya teria armado uma cilada para Hassan, na
dita reunião, sendo assim, o soberano Omíada teria capturado o filho de Ali e, mais tarde
matado-o com veneno.

De qualquer forma, com a abdicação de Hassan, Moawiya ficou sozinho para governar e
iniciou seu Califado em 661. Seu primeiro ato de governo foi tornar o Califa superior ao Shura,
o conselho dos seis, criado por Omar para designar o sucessor do Califa. Desta forma, o Califa
não só passava a responder sozinho pela administração Imperial, como também indicava em
vida um de seus filhos como sendo seu sucessor. Este, ainda durante a vida do pai, passava
pela aprovação (meramente formal, visto que o conselho era controlado pelo Califa) da Shura
e, sendo assim, estava efetivado como herdeiro do trono. Dessa forma foi possível a
manutenção do clã Omíada no poder.

A transferência da capital do Império para Damasco não ocorreu meramente porque o Califa
estava radicado nesta cidade, constituindo ela, sua fonte de poder. Ao contrário, foi uma
questão geopolítica e religiosa de extrema importância. Religiosa, porque em Medina, antiga
capital do Império (antes de Ali se mudar para Kufa), estava radicada a elite sacerdotal do
Império, em outras palavras, era o centro de poder do antigo Estado Teocrático Árabe, Estado
este que os Omíadas queriam derrubar. Porém, sob o ponto de vista geopolítico e também
administrativo, Damasco estava muito mais bem situada, localizando-se na Síria, a cidade
estava exatamente no núcleo do Império, de onde era possível ir facilmente para qualquer de
seus pontos, e também proteger-se de ataques, visto que não se tratava de uma cidade
costeira.

Do ponto de vista comercial, o governo de Moawiya também foi importantíssimo, pois com a
conquista do antigo Império Persa, ele dominou as rotas comerciais do oriente e, sendo assim,
o comércio Mediterrâneo (coisa que foi facilitada pelo poderio da marinha de guerra). O
domínio das rotas comerciais deu novo fôlego ao Império que havia percebido a falha de seu
sistema de tributação dos infiéis (sistema criado por Omar e que se esfacelou no final do
governo de Uthman, com a conversão em massa das populações dominadas à fé Islâmica). O
sistema de tributação perdurou, pois era interessante como forma de compelir, não
violentamente, os dominados à conversão, porém, já não era a responsável pela economia do
Império, que se apoiava agora no comércio oriental e Mediterrâneo.

No tocante às dissensões religiosas, Moawiya encontrou duras ações dos Kharidjitas, porém,
se mostrou hábil em contornar os ânimos dos Xiitas. Estes eram mais numerosos, mas menos
agressivos e organizados que aqueles.

Por fim, sobre o governo de Moawiya é interessante assinalar a importância da formação da
Monarquia Nacional e Centralizada. Centralizada ela era devido ao poder supremo do Califa,
tanto no tocante às nomeações, quanto à administração, porém, o caráter Nacional era novo,
visto que anteriormente, os Islâmicos eram considerados pertencentes cidadãos do Império,
agora não mais, estes eram apenas os Árabes, ou seja, os nascidos (ou descendentes de
nascidos) na região que vai do Iêmen (no sul da península Arábica) até a Síria (onde se localiza
Damasco). Dessa forma, mesmo que estes não fossem Islâmicos, seriam considerados
cidadãos.

O governo de Moawiya, e a dinastia Omíada como um todo, se caracterizou pelo
profissionalismo dos cargos públicos, era uma clara tentativa de combater os graves
problemas que ocorreram no governo de Uthman (o primeiro Omíada), quando o critério de
seleção para os cargos era o nepotismo. Agora, os altos cargos públicos só eram ocupados por
pessoas comprovadamente competentes, mesmo que não fossem Muçulmanas (de fato,
houve um grande número de Cristãos ocupando importantes cargos durante a dinastia
Omíada). O objetivo dos Califas Omíadas com essa atitude era, não só profissionalizar o
Estado, como também fazer o Império prosperar pela competência administrativa
(competência esta copiada, em muito, do Império Bizantino, daí os Cristãos no governo). A
colocação de não Muçulmanos em cargos públicos causava a revolta de alguns mais exaltados,
mas é importante que se note que todos os Califas Omíadas, sem exceção, sempre foram
Muçulmanos tradicionalistas (Sunitas) e grandes observadores da fé, do Alcorão e dos
costumes Árabes (as Sunnas de Maomé, daí Sunitas).

6.1.2 – Yazid (680 – 683):

Em 680, Moawiya morreu, mas seu filho, Yazid, já estava homologado há muito tempo pela
Shura, sendo assim, assumiu sem problemas.

Porém, se por um lado não houve problemas legais na cúpula Imperial, por outro, Husayn,
irmão de Hassan e filho de Ali, instalado em Meca e com o auxílio de Abdallah ibn al-Zubayr,
recusa-se a reconhecer o novo Califa. Kufa, a cidade que Ali escolhera para ser sua capital,
apóia Husayn e este se dirige para lá, em busca de homens para formar seu exército. No
entanto, no meio do caminho, é morto e decapitado (10 de outubro de 680). Para os Xiitas,
que consideravam Husayn como seu segundo Imam, a morte de seu líder foi glorificada como
um ato de auto-sacrifício (em busca da salvação eterna ao lado de Allah), sendo assim, o local
da morte do filho de Ali se tornou imediatamente um local de peregrinação Xiita.

A morte do Imam, como já me referi anteriormente, incitou os Xiitas contra os Omíadas e
gerou os movimentou que ficaram conhecidos como: "A Revoluções Xiitas no Islã". Esse
movimento foi mais forte durante a dinastia Omíada e, como veremos, contribuiu muito para
sua derrobada, em 750. Porém, mesmo depois de 750, os Xiitas continuaram causando
problemas aos Islâmicos de outras seitas, inclusive, em 1980, quando ocorreu a Revolução
Xiita Iraniana, que derrubou o Xá Rezah Pahlavi, e instaurou no poder o Aiatolá Khomeini, o
povo, nas ruas, portava estandartes nos quais estava escrito: "Xá = Yazid / Khomeini =
Hussayn", numa clara alusão à idéia de que a deposição do Xá viria vingar o marte de Hussayn,
operada por Yazid, em 680.

Apesar da morte de Husayn, al-Zubayr atinge Kufa e consegue reunir sob seu comando tanto
Xiitas, como Kharidjitas (ambos unidos pelo ódio aos Omíadas), sendo assim, quando retorna
ao Hedjaz, faz eclodir uma revolução em Medina e Meca.

Os Omíadas são expulsos da região e, temporariamente, esta passa a ser governada pelos
revoltosos. A reação Imperial não tarda, o general Muslim é enviado, em 682, à região e impõe
uma séria derrota aos revoltosos, na cidade Medina. Porém, em Meca, o general não tem a
mesma sorte, numa batalha sangrenta, Meca é incendiada, mas os exércitos do Califa,
inclusive Muslim, perecem. No incêndio, a Caaba é destruída.

Nova investida, sob o comando de Ibn Numayr, ia ser feita, em novembro de 683, mas o Califa
morre e a expedição é cancelada.

O filho de Yazid era Moawiya II, que, assim como ocorrera com o pai, já havia sido homologado
como herdeiro durante seu governo. Porém, o novo Califa assume o trono e, quarenta dias
depois, falece, vítima de uma grave doença.

A morte prematura de Moawiya II coloca o Império sob um breve período de Anarquia, uma
vez que Yazid tinha apenas 38 anos de idade e como tal, não podia ter um filho velho o
suficiente para ter um herdeiro capaz de assumir o trono.

Além das guerras ocorridas no breve governo de Yazid, houve uma expansão dos domínios no
norte da África, no entanto, esta expansão foi realizada de forma impensada, pelo general
Oqba ibn Nafi e, sendo assim, apesar de ter atingido o Maghreb pela primeira vez, gerou uma
guerra ferrenha contra os Berberes e pôs as conquistas em risco. Tanto que, em 681, o general
foi morto e suas tropas desbaratadas, o que ocasionou o avanço dos Berberes e a conseqüente
evacuação de Trípoli pelos Árabes, ou seja, no norte da África o Império começava a recuar.

6.1.3 – Mawan (684 – 685):

A morte de Moawiya II finalizou o braço principal do clã Omíada, sendo assim, o mais velho
membro de um outro braço do clã, Marwan, foi nomeado Califa. Porém, ele estava numa
situação difícil, pois além de já contar mais de 70 anos de idade (o que lhe dificultava a
locomoção junto das tropas), a demora para sua escolha (mais de três meses se passaram
entre a morte de Moawiya II e a posse de Marwan) possibilitou que al-Zubayr fosse eleito
Califa na Arábia.

O líder dos revoltosos tinha o apoio inconteste do Iraque e o Egito havia se aliado a ele, sendo
assim, das cinco principais regiões do Império (Arábia, Síria, Egito, Iraque e Oriente (visto que a
Tripolitânia, região a oeste do Egito, havia sido perdida em 681)), três apoiavam al-Zubayr,
uma apoiava Marwan e a outra, o Oriente (composto por regiões distantes como Kabul, na
China, certas regiões da Índia e do Turquestão (Mongólia)), estava há tão pouco tempo
conquistada, que tendia mais a se separar do Império, do que a apoiar um dos dois
pretendentes ao trono.

Para agravar ainda mais a situação de Marwan, começava a surgir na própria Síria, um forte
partido, os banu Qays, que apoiava al-Zubayr na sucessão Imperial. O próprio Marwan estava a
ponto de renunciar em favor do concorrente, mas um fato viria mudar o panorama político
que estava em vias de se definir em prol dos revoltosos, cujo corpo era composto por Xiitas e
Kharidjitas. Discordâncias entre al-Zubayr e seus comandados fizeram com que, tanto Xiitas,
quanto Kharidjitas, se declarassem independentes em relação a seu governo.

Esse fato encoraja Marwan a encarar uma luta contra o opositor, na medida em que reduziu
brutalmente suas fileiras. O Califa (chamarei à partir daqui Marwan e os Califas Omíadas, de
Califas e al-Zubayr, de Anticalifa) consegue colocar toda a Síria sob sua autoridade e então
marcha rumo ao Egito. Lá, ele derrota o governador nomeado por al-Zubayr e reintegra a
região a seus domínios. No entanto, quando o velho Califa retorna a Damasco e começa a
preparar sua investida contra a península Arábia, morre, em conseqüência de sua avançada
idade.

6.1.4 – Abd al-Malik (685 – 705):

A morte de Marwan não se torna nenhum grande problema, pois, justamente por ter
assumido em idade avançada, o Califa havia pensado desde o princípio em homologar seu
sucessor. E este era seu filho, Abd al-Malik.

Quando o novo Califa assume, o Império está dividido em dois: metade (Egito e Síria) sob seu
controle e a outra metade (Arábia e Iraque) sob o poder do Anticalifa de Meca. Além dos
problemas que isso acarretaria ao novo Califa, o Império Bizantino percebe que se trata de
uma boa hora para reconquistar o que lhe fora tomado, sendo assim, inicia-se (pelo mar e pelo
norte) uma forte investida Bizantina contra os domínios de al-Malik.

Se por um lado o Califa passava por um período difícil, com os Bizantinos tendo lhe tomado a
Fenícia, penetrado na Armênia, reconquistado algumas regiões do norte da África e imposto
pesados tributos; por outro, o Anticalifa também tinha sérios problemas. A al-Zubayr só
restavam a Arábia e o Iraque, o ele residisse na primeira, entregou o governo da segunda a seu
irmão, Musab.

Musab teve de enfrentar, radicado numa província que não lhe era totalmente leal, duros
embates com Xiitas e Kharidjitas. Para os primeiros, surge um líder importantíssimo, al-
Muhtar, que altera as orientações teológicas da seita. Em 685, al-Muhtar e seu general, Ibn al-
Astar, tomam Kufa e continuam avançando, dominando cidade após cidade. O irmão do
Anticalifa, no entanto, consegue vencer os revoltosos e recuperar Kufa. Com a morte de al-
Muhtar, o general Ibn al-Astar se submete a Musab, em 687.

Enquanto o Anticalifa se fortalecia, ao vencer os revoltosos do Iraque, o Califa pensava numa
maneira de interromper a seqüência de derrotas que lhe vinham sendo impostas. Decidiu,
então, em 688, utilizar-se de uma "jogada de marketing" para combater o rival. Uma vez que é
obrigação de todo Muçulmano peregrinar pelo menos uma vez na vida à Meca (estando livres
apenas aqueles a quem faltam recursos), todos os que iam para Meca (capital do Anticalifa)
podiam ser expostos à maquina de propaganda de al-Zubayr, sendo assim, o Califa proibiu
seus súditos da Síria e do Egito de peregrinarem a Meca. Para compensa-los, utilizou-se das
próprias palavras de Maomé, que se dizia o terceiro profeta (sendo o primeiro Moisés e o
segundo Jesus). Dessa forma, a cidade sagrada de Jesus (Jerusalém) também poderia ser
sagrada para Maomé e seus filhos, assim, o Califa construiu em Jerusalém, no local do antigo
templo hebraico (destruído pelos Romanos e cujas ruínas constituem, hoje, o Muro das
Lamentações) a Mesquita de Omar, mais conhecida hoje como O Domo da Rocha, destinada a
ser o novo local de peregrinação Muçulmana, em substituição a Meca.

Aliada à tática da propaganda, Abd al-Malik investe em seus exércitos e, em 690, consegue
derrotar o governador do Iraque e retomar a província. Com a retomada do Iraque, as
províncias orientais, sobre as quais a autoridade de um Califa não se fazia sentir desde Yazid,
foram reintegradas.

Cerca de um ano depois da retomada do Iraque, o general al-Hadjdjadj, aliado ao Califa,
invadiu Meca e, matando o já idoso Anticalifa, reunificou o Império. A este general, como
prêmio, foi entregue o governo da maior província do Império, o Iraque, que contava agora em
seu território com as províncias orientais. Apesar do poder que proporcionava governar
tamanha região, isto também constituía um problema, pois o Iraque, desde aquela época já
era um verdadeiro "barril de pólvora" (e olhem que a pólvora ainda nem tinha sido inventada).
O governador teve de enfrentar diversas rebeliões de Xiitas e Kharidjitas. Porém, a pior de
todas as revoltas foi a de um general seu, Ibn al-Asat, que fora enviado para derrotar um Rei
Turco (lembrem-se que os Turcos dessa época não viviam na Turquia atual, mas no
Turquestão, uma região situada nas atuais Mongólia e China), mas que se aliou com este para
derrotar o governador.

Esta revolta foi dificilmente apaziguada, o que fez com que o governador tomasse medidas
drásticas: construiu uma nova capital para a província, muito mais fortificada do que Kufa, a
cidade de Wasit e obrigou os recém convertidos ao Islã a pagarem tributo, como forma de
impedir que conspiradores se convertessem só para se livrarem de impostos.

No tocante ao ocidente, o Califa organizou a retomada das regiões perdidas, entregou o
comando das tropas daquela frente a Hassan al-Numan. O general avançou com muito êxito,
com seu numeroso exército e, mesmo combatido pelos Berberes, conseguiu tomar Cartago,
em 692.

Boa parte dos habitantes da cidade se refugiaram na Sicília (região pertencente ao Império
Bizantino), o que fez com que a notícia chegasse rapidamente e com forte impacto a
Constantinopla. Uma grande esquadra Bizantina, com muitos homens, foi enviada a Cartago e,
em 697, ela foi retomada pelos Bizantinos. Os Berberes auxiliaram os Bizantinos e impuseram
graves derrotas a al-Numan. Porém, o general não se deixou abater, reuniu novos
contingentes e partiu contra as regiões das quais havia sido expulso.

Em 698, retomou Cartago, que foi inteiramente destruída, e Derrotou Kahena, a rainha dos
Berberes. Esta região constituiria a província da Ifríqiya, e passaria a ser organizada pelo
conquistador. O general investiu no desenvolvimento de um pequeno povoado (ao que parece
muito antigo, de origem Fenícia), que existia nos arredores de Cartago. Este povoado se
chamava Túnis e se tornaria a capital da província conquistada. Com o tempo, Túnis cresceu e
ocupou o território onde um dia existiu Cartago.

Em 705, Abd al-Malik faleceu, mas deixou seu nome gravado para sempre na História, como
sendo o homem que reconstruiu um Império que estava à beira do precipício, ou seja, como
um dos maiores estadistas de todos os tempos.

6.1.5 – Al-Walid (705 – 715):
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História dos primórdios do Islã

  • 1. 1 – Introdução: Este é meu primeiro grande texto a respeito de uma grande civilização do passado. De fato, este é o tema de minha preferência e acredito que minha contribuição, por mais débil que seja, é muito válida, pois elucida a muitos sobre acontecimentos quase desconhecidos da História do Mundo. Digo quase desconhecidos porque não são comumente tratado pela História tradicional, ou seja, a História fundamentada na escola Francesa. Os Árabes, no entanto, são muito estudados, pois sua implicação na História Ocidental é tão grande quanto foi a de Gregos e Romanos, porém, o período da História Árabe, e porque não dizer Islâmica, mais estudado é o compreendido entre os séculos XI e XV, pois foi entre esses séculos que se realizaram as Cruzadas, tanto as Orientais, que levam mesmo este nome, quanto as Ocidentais, que se realizaram especialmente em Portugal e na Espanha e que são também conhecidas como Guerra de Reconquista. Depois do século XV, em especial depois da queda de Granada e conseqüente fim da Guerra de Reconquista, em 1492; e da tomada de Constantinopla, em 1453, o estudo dos povos Islâmicos decai um pouco e só é referido no que se trata do Império Otomano (Turquia), que passa a levar praticamente sozinho, até a I Guerra Mundial, a bandeira do Islã frente o Ocidente. Justamente pelo fato de meu enfoque histórico ser direcionado a civilizações Antigas e Medievais (ou que se comportem dessa forma, como já me referi acerca das civilizações da América pré-colombiana e do Japão) e a períodos pouco estudados pela História tradicional, é que não me referirei, senão em pequenas menções, neste texto, às Cruzadas. Meu objetivo é realmente explicar os primórdios do Islamismo, o início da disposição das peças no tabuleiro, que mais tarde seria palco das Cruzadas. Pretendo elucidar ponto nebulosos a respeito da História de Maomé, dos quatro primeiros Califas e das duas dinastias Imperiais, os Omíadas, cujo governo estudarei por completo (exceto o seu refúgio na Espanha) e os Abássidas, cujo governo será estudado até o Califa Harun al-Rachid, quando precipita-se a fragmentação do poder, fragmentação esta que já havia sido iniciada justamente pela perda da Espanha, ou al- Andalus, para os Omíadas, quando do estabelecimento da dinastia Abássida, em meados do século VIII. A partir das explicações dadas, pode-se concluir, corretamente, que o enfoque de meu trabalho será entre o princípio do século VII d.C. e o princípio do século IX d.C., quando o Império se encontra em seu apogeu cultural, mas quando encontra-se em franco desmembramento. Por fim, gostaria de ressaltar algumas coisas que julgo de extrema importância: 1) Alguns nomes (tanto de pessoas, quanto de lugares), senão todos, estão grafados de forma ocidentalizada, mesmo quando entre parênteses, isso porque nos é muito difícil transliterar palavras do alfabeto Arábico para o nosso. 2) Apesar de os Muçulmanos utilizarem-se de um sistema de contagem de anos diferente; tanto pelo fato dos anos lunares terem durações diferentes dos anos solares utilizados por nós, quanto pelo fato de seu marco inicial ser a Hégira, em 622 do nosso calendário; todas as datas apresentadas no texto são pertencentes ao calendário gregoriano, todavia, deve-se notar que algumas podem estar erradas, visto que o calendário gregoriano só foi instituído no
  • 2. século XVI e, dessa forma, podem haver pequenas discrepância entre suas datas e as do calendário juliano, que vigorava na época a que o texto se remete. 3) Desde já peço desculpas a quaisquer adeptos do Islamismo que porventura venham a ler este texto e se sentir ofendidos com alguma das informações aqui contidas, ou mesmo com quaisquer opiniões minhas, expostas ao longo do trabalho. Quero deixar claro que nada tenho contra a liberdade de culto, ou mesmo contra o Islamismo em si, no entanto, o comprometimento com a discussão crítica proposta pela História me obrigam a, por vezes, parecer ofensivo ou demasiado crítico a essa religião, bem como a muitas outras, como ao Cristianismo de um modo geral, o Judaísmo e várias outras citadas ou não neste texto. Que meus pedidos de desculpas aos Muçulmanos se estendam a todos os outros religiosos. 2 – Preâmbulo da Península Arábica: Antes de Maomé operar a unificação da península Arábica através do Islamismo, como veremos ao longo deste texto, a região era extremamente fragmentada e nela coexistiam diversos reinos e povos autônomos. Neste item de meu trabalho, farei um pequeno resumo de tais povos, porém incluirei também nas descrições alguns povos que não estavam exatamente localizados na península, mas que tiveram, ao longo da História anterior ao Islamismo, algum contato com ela. Antes, porém, de iniciar os relatos, é importante acentuar que toda a região é de clima árido ou semi-árido, existe um grande deserto no norte da península, o Nufud, que constituiu para a região uma espécie de muralha natural, impedindo sua anexação por qualquer dos grandes Impérios antigos, nem os Mesopotâmicos, nem os Egípcios, nem os Persas, nem Alexandre, o Grande, nem os Reinos Helenísticos, nem mesmo os Romanos conseguiram colocar a região sob seu domínio. Talvez Alexandre tivesse conseguido operar a conquista da região, pois, segundo consta, quando morreu, na Babilônia, estaria preparando uma expedição que teria justamente esse objetivo. Dessa forma, julgando-se pelo retrospecto do conquistador, pode-se concluir que a Arábia só escapou de fazer parte do enorme e efêmero Império de Alexandre, devido à morte prematura do monarca. Especulações históricas à parte, é interessante que se fale sobre alguns aspectos da região na época, como por exemplo a fauna e a flora. Esta última, como se pode imaginar, era escassa, mas mesmo assim havia além de cactos, palmeiras (nos oásis), tamareiras (uma das principais fontes de alimentos da região), bananeiras, figueiras, abricoteiras... Quanto à fauna, é interessante notar que além dos camelos, conhecidos e lembrados por todos quando se menciona a região, existia uma grande variedade de animais, inclusive leões e panteras, hoje extintos na península. Muitas aves de rapina, como abutres e urubus também compõem a fauna Árabe, gatos e burros eram muito populares na região e, além de todos esses animais, não podemos esquecer dos cavalos, visto que os cavalos árabes eram (ou são) os melhores cavalos do mundo. Estes animais foram introduzidos na península pelos Hititas, no primeiro milênio antes de Cristo, lá eles ficaram isolados dos demais cavalos da Ásia e, dessa forma, se converteram numa espécie particular do animal, uma espécie refinada, de físico resistente e porte elegante, muito apreciados nas diversas regiões. Mas falemos sobre os diversos povos que habitavam a região antes do Islamismo os unificar.
  • 3. 2.1 – O Reino de Sabá: O Reino de Sabá tem suas origens no século VIII a.C., no atual Iêmen. Inicialmente, o Reino constituía-se numa Teocracia, cuja capital era a cidade de Sirwah. No decorrer de seiscentos anos, os governantes do país expandiram seus domínios para toda a costa do Mar Vermelho, boa parte do sul da península e algumas regiões ao norte. Nesses anos, a capital muda duas vezes, primeiro para Marib e depois para Zafar. As origens desse Estado remontam à organização de uma etnia, os Sabeus, em torno de seu Rei-Deus, porém, em 115 a.C., por motivos desconhecidos, os Himiaritas (povo que estava sob o jugo dos Sabeus) passam a governar o Reino e, no início do século I a.C., o monarca perde o caráter divino. Talvez o mais notável feito dos Sabeus tenha sido a construção de uma gigantesca represa (uma das maiores, senão a maior de toda a Antiguidade), no século VI a.C.. Os Himiaritas passaram a governar o país, mas com a conversão de seus vizinhos de costa (do outro lado da costa do Mar Vermelho), os Abissínios (Etíopes), ao Cristianismo, no século IV d.C., passaram a enfrentar invasões constantes que visavam converter o Reino de Sabá ao Cristianismo. Em 340 d.C., os Etíopes conquistaram o Reino e mantiveram-se no poder até 378 d.C., quando numa grande revolta, os Himiaritas retomaram o poder. O segundo período Himiarita foi marcado por dois fatores: a nova religião, visto que durante os 37 anos de domínio dos Etíopes, os Himiaritas não se converteram ao Cristianismo, como queriam os invasores, mas sim, ao Judaísmo; e o descaso com o patrimônio público. Devido a esse descaso, tudo foi se degradando, desde as construções, até as finanças e o exército. Até que, em 530 d.C., os Etíopes conseguiram, numa nova invasão, retomar o controle sobre o Reino. Já era tarde, o estado de destruição no qual se encontravam as construções públicas era tal, que o monarca Etíope empossado pelos conquistadores nada pode fazer e, por volta de 540 d.C., a grande represa construída na Antiguidade rompeu alagando boa parte do território e matando muitas pessoas. O rompimento da represa fez com que a seca caísse sobre a região e, dessa forma, muitos foram os que abandonaram o país e rumaram para o norte. A escassez demográfica decorrente desse êxodo propiciou, em 575 d.C., a invasão, a pedido dos Himiaritas, da região pela Pérsia. Esta reempossa os Himiaritas no governo do país, e estes mantém sua soberania, mas com a condição de que sua região se torna-se uma Satrápia Persa (território semi- autônomo existente no Império Persa desde seus primórdios, que se destinava a, além de pagar impostos ao governo central, vigiar a região e suas proximidades, informando quaisquer alterações ao Grande-Rei Persa. Em 632 d.C., o Reino de Sabá foi incorporado ao Islã, com sua conversão e anexação pelas tropas de Maomé. 2.2 – Reino Mineano: Reino organizado da mesma forma que o Reino de Sabá, ou seja, com um grupo étnico, os Mineanos, se organizando numa Teocracia, cuja capital era Qarnaw (atual Ma’in).
  • 4. O Reino se estabeleceu também por volta do século VIII a.C., ao norte do Reino de Sabá. Por serem vizinhos, os dois Estados entraram em conflito várias vezes, até que, no século I a.C., pouco depois da ascensão dos Himiaritas no Reino vizinho, o Reino Mineano foi conquistado pelo Reino de Sabá. 2.3 – Reino de Qataban e Reino de Hadramaut: Reinos vizinhos, estabelecidos a leste do Reino de Sabá, tinham importância comercial indiscutível no tocante ao comércio Índico (eram os entrepostos entre as mercadorias da Índia e as do Mar Vermelho), além de, a exemplo do Reino de Sabá, serem produtoras de incenso e ouro. O Reino de Qataban se estabeleceu por volta de 600 a.C., tendo como capital Tamma (atual Kuhlan), e perdurou até mais ou menos 50 a.C.. Já o Reino de Hadramaut, se estabeleceu por volta de 450 a.C., tendo como capital Shabwah (atual Sabota) e perdurou até o início do século II d.C.. Ao contrário do Reino Mineano, que foi anexado pelo Reino de Sabá, estes Reino permaneceram autônomos. O que aconteceu foi que, devido à importância que as diversas regiões desses Reinos adquiriram individualmente, devido ao comércio, os chefes regionais passaram a se julgar poderosos demais para obedecerem a uma autoridade central, dessa forma, foi ocorrendo uma gradual descentralização dessas regiões até que nos períodos referidos, os governantes das capitais dos respectivos Reinos já não mais se consideravam, sequer nominalmente, soberanos de todo o país. Dessa forma, ficaram extintos os Reinos. Essas regiões continuaram a exercer políticas independentes até sua anexação pelo Islã, em 632 d.C.. 2.4 – Reino de Petra: Este Reino se localizava numa região que não pertence à península Arábica, mas sua história é interessante ao estudo, pois depois da anexação ao Islã, a região tornou-se, junto com a Arábia e com as regiões dos demais Reinos que citarei, o centro do Califado, especialmente no período Omíada. Bem, por volta de 550 a.C., várias tribos nômades do nordeste da península Arábica se reuniram com o objetivo de proteção e auxílio mútuos, fundaram então uma cidade, Petra (em hebraico, Sela’). Apesar de não terem conseguido conquistar muito espaço, seu Reino, semelhante a uma cidade-Estado, prosperou. Tanto que ficou livre do domínio de Alexandre, o Grande. O Reino de Petra, constituído por tribos que se identificavam como Nabateus, auxiliou os Romanos na destruição da Judéia e, em 106 d.C., Trajano transformou o Reino em província Romana. Depois da queda de Roma, Petra nunca mais voltou a ser um Reino autônomo, tendo pertencido ao Império Bizantino e depois ao Persa, até ser anexada ao Islã. 2.5 – Império de Palmyra ou Tadmor: Tadmor era uma cidade a nordeste de Damasco, sua origem remonta a tempos já esquecidos, mas ela só adquire importância quando do domínio Romano, isso porque ela é a o principal
  • 5. entreposto entre o Oriente (Pérsia, Índia, China...) e Roma. Tal importância comercial lhe valeu o status de colônia Romana. O nome Palmyra advém, inclusive, dos Romanos, pois estes chamava a cidade assim por ela estas localizada num oásis, onde existem muitas palmeiras, em latim, palmyra. Em 267 d.C., Odenato, Rei de Tadmor e seu filho, foram acusados de traição a Roma e, sendo assim, executados. Zenóbia (al-Zabba, ou Zaynab), a Rainha, assumiu o governo da cidade e, em retaliação à atitude Imperial, lançou seus exércitos contra as possessões Romanas. Em poucos meses, Zenóbia conquistou o Oriente Médio, a Ásia Menor, o Egito e chegou às portas de Bizâncio (que ainda não havia sido transformada em Constantinopla). Aureliano, então Imperador Romano, investiu contra a Rainha afim de retomar-lhe as conquistas e, entre 272 e 273, não só retomou tudo que Zenóbia havia lhe tirado, como também invadiu Tadmor, matou a Rainha e destruiu a cidade como exemplo. Apesar de muito efêmero, o Império de Tadmor foi grande e, por si só já justificaria sua menção aqui, mas, além de tudo isso, a região, assim como Petra e outras que citarei, foi uma das principais componentes do núcleo do Império Islâmico, especialmente no Califado Omíada. Depois de destruída, Tadmor não foi totalmente abandonada e, mais tarde acabou reconstruída, mas perdeu sua importância comercial. 2.6 – Reino dos Gassânidas: O Reino dos Gassânidas foi fundado por volta de 400 d.C., por fugitivos do Reino de Sabá, que havia sido conquistado pelos Etíopes. No princípio, esses refugiados viviam em acampamentos itinerantes a sudeste de Damasco, porém, com o tempo, acabaram fundando duas cidades, suas duas capitais: al-Yiabiyah e Jilliq. A região se tornou um porto seguro para os imigrantes do Reino de Sabá, tanto que foi para lá que estes emigraram quando a grande represa rompeu. Aretas II foi o maior de todos os monarcas Gassânidas, tendo inclusive, lutado em favor de Justiniano. Seu filho, al-Mundhir, foi preso pelo Império Bizantino por ter incendiado, em 580 d.C., a cidade de Hira, capital dos Lácmidas. Em retaliação pela prisão do pai, os filhos de al- Mundhir devastaram o território do Império Bizantino, mas também acabaram derrotados e presos. As conquistas que fizeram passaram para as mãos dos Persas e o Reino perdeu importância, se bem que o último soberano, Jaballah ibn-al Ayham, ofereceu muita resistência ao Islã e só caiu diante dos Árabes na Batalha de Yarmuk, em 636, batalha na qual contou com auxílio Bizantino. 2.7 – Reino de Hira: Assim como o Reino de Petra, o de Hira também se constituía apenas de uma cidade-Estado. Na verdade, esta cidade foi fundada a partir de um acampamento da tribo Tanukh (que pertencia à etnia Lácmida), que, desde 275 d.C., havia se estabelecido na atual Síria.
  • 6. Após terem tido participação efetiva na mudança dinástica do Império Persa (fim da dinastia Arsácida e início da Sassânida), edificaram uma cidade no local de seu acampamento permanente. A cidade levou o nome de Hira porque esta palavra quer dizer acampamento em Siríaco. Apesar de ter nascido sob a influência Persa, pendia entre os Impérios Persa e Bizantino, mas seus maiores inimigos eram os Gassânidas, que, em 580 d.C., queimaram a cidade. Após o incêndio a cidade nunca mais foi a mesma, acabou absorvida totalmente pelo Império Persa e permaneceu parte deste até ser conquistada pelo Islã, em 633 d.C.. 2.8 – Estado de Kindah e os Beduínos: O centro da península Arábica, em especial o planalto de Nedjd, era habitado por tribos nômades conhecidas como Beduínos, que viviam no deserto e regiões semi-desérticas a procura de oásis e de alimentos. Além dos Beduínos, povoavam a região os habitantes de cidades independentes, cidades- Estado nas quais a forma de governo variava de uma para a outra. Pois, bem essa região nunca havia conhecido nenhum tipo de centralização política, nunca havia sido formado um Reino ou coisa parecida no centro da Arábia. Nunca até que Hassan Tubba, soberano Himiarita do Reino de Sabá conquistou todas as tribos nômades do centro da Arábia. Na realidade o que ele fez foi dominar as tribos de Beduínos e pô-las sob sua autoridade. Depois de fazer isso, Hassan Tubba cedeu a região ao irmão, Hudjr, dessa forma, o centro da Arábia, apesar de ter sido conquistado pelo Reino de Sabá, não passou a fazer parte dele, pelo menos não na prática, porque em teoria era apenas mais um "estado" dele, um estado governado pelo irmão do Rei. No entanto, a dinastia de governadores de Kindah, o estado central da Arábia, só teve três representantes, o próprio Hudjr, seu filho e seu neto, Aretas. Este último, de tão poderoso, chegou a ser Rei de Hira, além de governar Kindah. Após a morte de Aretas, em 529 d.C., seus filhos iniciaram uma guerra para sucede-lo, as tribos Beduínas aproveitaram-se da situação e se declararam independentes novamente, sendo assim, acabava o Estado de Kindah, no entanto, ele trouxe um importante aprendizado para os povos da Arábia central: a primeira experiência de unificação, experiência esta que seria fundamental ao Islamismo. 3 – Caaba, uma união sincrética: A Caaba era um templo existente em Meca, a cidade onde nasceu Maomé. Meca era mais uma daquelas cidades-Estado do centro da Arábia, com governo e leis próprias. Ao contrário do que era mais comum nessas cidades, Meca não era uma monarquia, mas sim uma oligarquia comercial. Vejamos como surgiu a cidade. As origens de Meca são desconhecidas e de tão antigas, existem lendas que remontam ao próprio Adão, porém, o que nos interessa saber é que a cidade foi fundada por uma etnia, os Khozâ’a, já na era Cristã, mas numa data não precisada,
  • 7. Qusay, líder dos Coraixitas, um povo que vivia nas montanhas próximas a Meca, liderou seu povo numa invasão à cidade, dessa invasão resultou o domínio de Meca pelos Coraixitas e a conseqüente subjugação dos Khozâ’a. Os Coraixitas, amparados por seu líder, realizaram algumas mudanças na estruturação da cidade, tornando a Caaba, seu templo, o centro de todos os cultos da Arábia Central. A Caaba, segundo a mitologia Árabe é tão antiga quanto Meca e teria sido construída por Adão. Ao seu redor, desenvolveu-se a cidade. O fato é que antes dos Coraixitas dominarem Meca, o culto da Caaba era dedicado a uma estranha Pedra Negra, que muitos acreditam (hoje), ser um pedaço de asteróide caído na Terra. Porém, Qusay, após dominar a cidade, reconstruiu a Caaba (que segundo as lendas teria sido reconstruída dez vezes, sendo as duas últimas já pelos Islâmicos, enquanto as duas primeiras por Adão e por seu filho Seth, irmão mais novo de Caim e Abel, do qual descenderia toda a humanidade, uma vez que Abel foi morto e Caim condenado por sua morte) e levou para ela as diversas divindades da Arábia Central. O objetivo do conquistador era, não outro senão o atrair fiéis para Meca e, com isso, realizar feiras que renderiam grandes lucros aos Coraixitas. Na verdade Meca sempre conviveu com feiras, visto que se desenvolveu no cruzamento de rotas comerciais, tanto da Índia para a África, quanto da Arábia para a Ásia. A idéia de Qusay deu certo e, em pouco tempo Meca se tornou o centro mais cosmopolita da Arábia, com visitantes em todas as épocas do ano, mas especialmente durante as festas religiosas. No início, a cidade se limitava a sediar as feiras, mas depois de algum tempo, passou a enviar caravanas comerciais para as diversas regiões da Arábia e até a Damasco. Com o avanço comercial de Meca, uma elite substituiu gradualmente o poder de um só líder, esta elite era constituída pelas famílias, ou clãs, de comerciantes ricos, ou chefes de cada uma dessas famílias compunham o conselho dos Coraixitas, que governava Meca. Estas famílias possuíam as melhores casa, ou seja, as mais centrais e, portanto, mais próxima a Caaba e ao poço que havia em sua frente. Os Coraixitas mais pobres viviam no subúrbio, ou seja, nas regiões mais afastadas do centro. Além dos Coraixitas, detentores de maior status na cidade, havia também os membros de outras etnias, como os próprios Khozâ’a, e outros povos que migraram para a cidade em conseqüência de sua prosperidade, prosperidade esta devida à Caaba, dessa forma, a Caaba era, para Meca, muito mais do que um lugar de culto religioso, era mesmo a fonte de poder e razão de existência da cidade. 4 – Maomé, um profeta revolucionário: Existe uma certa discordância entre os autores especialistas no período, sobre em que ano exatamente nasceu Maomé. É certo, no entanto, que a data de seu nascimento não pode ser anterior a 567, nem posterior a 572. Dentro deste breve intervalo de possibilidades (apenas cinco anos), o ano tomado como mais provável é o de 571, sendo assim, será esta data que adotarei para me referir à idade do profeta nos diferentes períodos. O fundador do Islamismo era filho de um negociante chamado Abdallah e de uma mulher chamada Amina. Não chegou a conhecer o pai, que faleceu numa de suas viagens, antes mesmo de seu nascimento. Quando tinha seis anos de idade, perdeu também a mãe, que só lhe legou alguns camelos, algumas ovelhas e uma escrava.
  • 8. Filho único, Maomé passou então a viver com o avô paterno, Abd al-Mottalib, que, no entanto, só viveu até que o neto completasse oito anos de vida. Mais uma vez sozinho no mundo, o garoto foi viver com seu tio, Abu Talib. Este, com a morte do pai, herdara a liderança da família, os Banu Hachim, e, dessa forma, um posto no conselho Coraixita de Meca, visto que a família, ou clã (palavra mais apropriada, visto que família, de um modo geral, engloba apenas o núcleo familiar, enquanto que clã engloba a totalidade dos parentes e, no caso de uma sociedade patriarcal, como a Árabe sempre foi, também as mulheres que se casassem com os homens da família, deixando, no entanto, as mulheres realmente do clã de fazer parte deste quando se casassem com um homem de outro clã; em outras palavras, a mulher pertencia ao clã de seu pai até que se casasse, quando passava a fazer parte do clã do marido) estava entre as mais proeminentes da cidade. Abu Talib tinha um filho, Ali, que cresceu como irmão de Maomé e que, ao longo de sua adolescência, tornou-se seu maior e melhor amigo, além de vir a ser um de seus primeiros seguidores. Quando passa a viver com o tio, Maomé começa a ser iniciado na profissão de mercador, ou seja, começa a realizar viagens a toda parte, em especial para o norte, rumo a Damasco e outras cidades do Império Bizantino e da Pérsia, principalmente na Síria. Reza a tradição Muçulmana de que numa dessas viagens, Maomé, ainda adolescente (entre 12 e 15 anos) teria encontrado um monge do deserto, um eremita (nos primórdios do Cristianismo os eremitas eram muito comuns, visto que segundo as pregações do apóstolo Paulo, a salvação estaria numa renúncia ao sexo e a sociedade, ou seja, na castidade total e esta só seria possível com o afastamento das tentações mundanas, em suma, com o isolamento do indivíduo em um lugar distante, como uma montanha, uma floresta ou um deserto) chamado Bahira. Este teria predito a missão do garoto e recomendo a seu tio que o protegesse de seus possíveis inimigos (que os Islâmicos gostam de ver como sendo os Judeus ou talvez os Bizantinos, porém, com maior possibilidade para os primeiros). Até os vinte anos Maomé continua trabalhando e vivendo com seu tio, até que, em 591, torna- se agregado (um empregado que vive na casa do patrão e, em troca de seus serviços, é sustentado por ele, porém, um agregado é muito diferente de um servo ou um escravo, pois possui única e exclusivamente um vínculo empregatício com seu patrão, vínculo este que pode ser desfeito a qualquer momento por qualquer das partes, ou então baseado em um acordo formal pré-existente) de Khadidja, uma rica viúva de trinta e cinco anos. Para a viúva, Maomé trabalha por cinco anos, provavelmente como chefe de suas caravanas comerciais, visto que, com a morte de seu marido, não havia quem acompanhasse os empregados nas viagens de negócios. Depois de cinco anos, o futuro profeta, agora com 25 anos, casa-se com a patroa, agora com 40 anos (idade avançada para a época e para as condições de vida da Arábia). O casamento resulta em tranqüilidade financeira e status social para o rapaz. Além disso, ele tem sete filhos com a esposa (ao que, parece todos em seqüência, e nos primeiros anos de casamento, devido à avançada idade de Khadidja): três homens que morreram ainda bebês e quatro mulheres: Zeineb, Roqaia, Ummu Keltsum e Fátima. Em 611, já com quarenta anos, Maomé finalmente iniciou sua vida de profeta; depois de distribuir gordas esmolas aos pobres de Meca, retirou-se para as montanhas, onde iniciaria sua meditação.
  • 9. 4.1 – Meditação e Experiência, a criação da nova Fé: Alguns meses se passam sem que Maomé retorne para casa, nesse tempo, ele observa os céus e medita constantemente (talvez se lembrando do que o velho eremita lhe dissera, quando garoto). Nada acontece nos primeiros tempos de meditação do profeta, porém, depois de um certo período de isolamento, numa certa noite, enquanto Maomé dormia, sonhou com um anjo que lhe entregava um pergaminho e ordenava: "Leia!". Maomé, O mais antigo exemplar do Al Corão do mundo que era analfabeto, insistia ao anjo que não sabia ler, no entanto este insistiu que o homem o fizesse e este, sem escolha, obedeceu. Para sua própria surpresa, ele conseguiu ler tudo o que estava escrito no pergaminho e, quando acordou, sentiu que um livro havia descido dos céus para seu coração. A este livro, Maomé chama Corão, ou Alcorão. À partir dessa noite, Maomé teve certeza de que era realmente o "escolhido" de Allah e que deveria pregar ao mundo. Retornou então a cãs, onde contou sua experiência a Khadidja, agora uma anciã de 55 anos. Ela, que poderia ter desdenhado do marido, ao contrário, tornou- se a primeira convertida ao Islã. Nascia uma nova fé. Maomé estava convertido, aos 40 anos, em profeta, o que, na Arábia daquela época, era comum, visto que por todos os lados havia os Kâhin, ou profetas, que preconizavam desde a vinda de um messias até o Juízo Final. Inicialmente, o profeta pregou apenas para aqueles que lhe eram mais caros, ou seja, para a mulher, para o primo, Ali; para Abu Bakr, um grande amigo; para Zayd, um escravo liberto que Maomé adotara como filho; e para Uthman, seu genro. Maomé esperava que novos sinais dos céus lhe fossem enviados, porém, em quase três anos nada aconteceu, dessa forma, ele se sentia acovardado em iniciar suas pregações para estranhos. Em 613, porém, um novo "contato divino" foi estabelecido com Maomé, ele teve uma espécie de ataque epilético (tanto que hoje muitos historiadores suspeitam que o profeta sofresse de epilepsia), do qual, depois de voltar a si, contou revelações. Na verdade, a partir dessa data, esses "contatos divinos" começaram a se tornar mais freqüentes e isso motivou o profeta a iniciar suas pregações ao povo. A princípio, as pregações do profeta não atingiram grandes proporções, mas por volta de 615, já havia um bom número de recém-convertidos ao Islamismo. Nesse grupo podia-se contar principalmente jovens dos grandes clãs Coraixitas; membros dos clãs Coraixitas menos influentes; pessoas não pertencentes aos clãs Coraixitas e escravos.
  • 10. A conversão dos filhos dos grandes clãs começou a preocupar a elite Coraixita que não via com bons olhos algumas das práticas recomendadas por Maomé, tais como: a valorização da solidariedade e a doação de esmolas (essas práticas iam de encontro aos ideais pré-capitalistas profundamente enraizados na sociedade Mequense, isso porque os ricos almejavam se tornar mais ricos e para isso exploravam os pobres, sendo assim, o fato de Maomé condenar à danação os que não fossem solidários e caridosos enfurecia as elites), e o caráter profundamente monoteísta do Islamismo (esta era a pior característica da nova religião, do ponto de vista dos Coraixitas, isto porque se ela se propagasse muito, poderia causar um colapso na economia de Meca que, como expliquei anteriormente, girava em torno da Caaba). Devido a esses pontos de conflito entre as elites de Meca e a religião de Maomé, iniciou-se uma forte perseguição a seu culto na cidade. Tais perseguições (iniciadas em 615) acarretaram na dissidência de muitos convertidos e na fuga de outros para a Etiópia, onde o monoteísmo era aceito devido ao fato de o país (que à época se chamava Abissínia) ser Cristão. Vendo que seus adeptos estavam começando a diminuir devido às perseguições, Maomé começou a "se mexer" para arrumar um lugar onde seu culto fosse aceito. 4.2 – A Hégira: Na verdade, Maomé não sofria, ele próprio, nenhuma sanção dos Coraixitas, porque seu tio, Abu Talib, apesar de não ter se convertido ao Islã, permanecia como um dos membros do conselho da cidade e protegia o sobrinho e filho adotivo da ira do conselho. Além disso, Khadidja, sua esposa, era muito rica. Porém, em 619, duas tragédias ocorrem em seguida para Maomé: primeiro Khadidja falece, aos 63, vítima de sua idade avançada. O profeta havia dedicado a ela vinte e três anos de sua vida e seu casamento havia sido tão feliz que Maomé nunca traiu a esposa, o que era comuníssimo na época. Porém o pior golpe viria apenas alguns dias após a morte da esposa, seu tio e protetor, Abu Talib, chefe de seu clã, morreria e, ao se recusar a se converter, mesmo em seu leito de morte, geraria a crença, entre os seguidores de Maomé e no próprio, de que iria para o inferno. Essa crença fez com que Abu Lahab, irmão de Abu Talib e novo chefe do clã de Maomé, se tornasse o pior inimigo dos Muçulmanos, incentivando as perseguições, principalmente ao próprio Maomé. Ao perder seus pontos de apoio, Maomé percebeu que sua vida, caso permanecesse em Meca, correria perigo, sendo assim, abandonou imediatamente a cidade e tentou se instalar em Taif, uma cidade nas montanhas, próxima a Meca. No entanto, depois de apenas alguns dias na cidade, foi expulso e obrigado a voltar a Meca. Tentou então contato com os chefes das tribos Beduínas, mas fracassou em uni-los e mesmo em converte-los, pois para estes, a unidade política não tinha sentido, amava a liberdade e o nomadismo que lhes eram intrínsecos há séculos. Depois do fracasso diplomático frente aos Beduínos, Maomé voltou sua atenção à cidade onde seu pai havia sido sepultado: Yathrib. A cidade de Yathrib havia sido fundada por três tribos Judaicas fugidas da destruição da Judéia: os Nadhir, os Qorayza e os Qaynoqa. Porém, depois de alguns anos do estabelecimento destas no território, duas tribos Árabes dissidentes do Iêmen, os Khazradj e os Awz, chegaram à
  • 11. cidade e depois de subjugar os Judeus, dominaram-na e passaram a lutar entre si pela hegemonia. Os Awz com os quais os Judeus se aliaram, venceram e passaram a controlar a cidade, num sistema semelhante ao de Meca. Porém, ao que parece, havia participação dos membros da outra tribo Iemenita no conselho da cidade, mas uma participação minoritária. Maomé reuniu-se, em 620, com os líderes dos seis clãs khazradj (os minoritários) e converteu- os. Dessa forma, meio caminho já estava andado para o profeta. Depois da conversão de parte dos membros da tribo Awz, Maomé recebeu, em 622, garantias de que poderia vir com seus adeptos de Meca para Yathrib. Maomé voltou para Meca e organizou a partida de seus seguidores, que partiram em pequenos grupos para não levantar muitas suspeitas. Ele e Abu Bakr foram os últimos a deixar a cidade. Ambos passaram por Qoba, onde Ali os esperava e os três marcham para Yathrib, onde em 24 de setembro de 622, fazem sua entrada triunfal (notem que, como veremos mais à frente, o dia da Hégira é considerado o 16 de julho, não o 24 de setembro). A Hégira, ou seja, a saída dos Muçulmanos de Meca e sua ida para Yathrib, está concretizada. Na nova cidade Maomé é recebido com honras e assume o posto de Malik (Rei). É interessante notar que as duas tribos Iemenitas de Yathrib viram em Maomé e na nova religião tanto o Messias do qual os Judeus da cidade falavam, quanto uma esperança para o fim das disputas entre ambas as tribos pelo poder a cidade. É interessante notar que a maioria dos adeptos de Maomé que havia migrado com ele de Meca, não tinha sequer uma propriedade em Yathrib e, dessa forma, estariam condenados à miséria se não fosse a política de intervenção do profeta, política esta que explicarei no item seguinte. 4.3 – Destruição dos Ídolos da Caaba: Chegando em Yathrib e obtendo o poder, Maomé tornou a cidade a inimiga número um de Meca, tanto que esta passou desde o princípio ao confronto aberto contra o profeta. Foram oito anos nos quais se por um lado Meca atacava, por outro Yathrib se defendia e fortalecia. Não convém aqui explicar detalhadamente todas as batalhas entre as duas cidades- Estado ocorridas entre 622 e 630, mas sim contar como pode Maomé, em oito anos, passar de Malik, líder político a Califa líder político e religioso (Imam) e como pode ele, nesse mesmo período, fortalecer sua cidade a ponto de empreender a conquista da rival. Bem, quando da chegada do profeta a Yathrib, a cidade estava dividida em alguns grupos bem distintos quanto a sua orientação religiosa: havia o grupo de fiéis que havia migrado de Meca com Maomé, portanto fiéis mais antigos, mas que estavam marginalizados social e economicamente na nova cidade; havia os convertidos de Yathrib, em especial a aristocracia da cidade, que davam força a Maomé; havia os hesitantes, ou seja, aqueles que haviam aceito o Islã, mas não com plena convicção; havia também os pagãos, ou seja, aqueles que se recusavam a aceitar o Islã e continuavam a praticar suas religiões antigas; e, por fim, havia os Judeus, que praticavam sua religião milenar (embasaba no Velho Testamento e no Talmude, livros que dão respaldo ao Judaísmo) e nunca aceitariam a conversão ao Islamismo. Quanto a esses grupos, Maomé tomou as seguintes providências. Das elites convertidas de Yathrib, ele tirava o apoio para realizar seus projetos; quanto aos hesitantes, fazia de tudo para torna-los realmente fiéis ao Islã; quanto aos pagãos, deu-lhes liberdade de culto, pois
  • 12. sabia que, na posição em que se encontrava, se fosse intolerante com aqueles que compunham a maioria da população, seria fragorosamente derrotado. Porém, as atitudes mais marcantes do profeta foram realmente com relação aos Judeus e aos que emigraram de Meca com ele. Como estes estavam sem terra e eram os mais leais à nova fé e como, por outro lado, aqueles eram os maiores inimigos da fé na cidade (lembrem-se do que disse o eremita a Maomé enquanto ele ainda era uma criança), Maomé decidiu unir o útil ao agradável, ou seja, iniciou uma política de perseguição violenta aos Judeus, e, à medida que estes eram exterminados, seus bens ficavam para os oriundos de Meca. Essa política, em oito anos exterminou as três tribos Judaicas de Yathrib, além de impor o medo aos pagãos que temiam serem os próximos a sofrerem tais perseguições. Dessa forma, Maomé conseguiu as terras e bens dos Judeus para seus protegidos e ainda conseguiu forçar a conversão de boa parte dos pagãos, tanto que, por volta de 628, Yathrib mudou seu nome para Medina, ou seja, a cidade do profeta; e Maomé recebeu o título de Califa, chefe político e religioso, sendo assim, o Estado de Medina constituía-se numa Teocracia. Em fevereiro de 628, Maomé resolveu realizar uma peregrinação a Meca, é claro que foi impedido pelos Coraixitas de entrar na cidade, mas firmou um acordo com eles de que poderia realizar sua peregrinação no ano seguinte. Este acordo foi visto como um sinal de fraqueza pelos Muçulmanos, mas, na verdade, constituía uma jogada política do profeta, isso porque, quando em 629, ele foi até Meca, com permissão para ficar três dias, conseguiu prolongar sua estadia realizando mais um casamento (após a morte de Khadidja, Maomé iniciou uma série de casamentos, o primeiro deles foi justamente com a filha de seu grande amigo Abu Bakr, mas depois foram realizados inúmeros outros, tanto que a Mesquita de Medina, a primeira que foi construída, tinha diversos quartos para as esposas do profeta; estes quartos eram construídos junto às paredes externas do templo e aumentavam em número à medida que o harém de Maomé crescia), com Maimuna, filha de seu tio, al-Abbas (que não se convertera) e tia de Khalid ibn al-Walid, o maior general de Meca. Graças a seu casamento, Maomé conseguiu a ira do tio e a conversão de Khalid ibn al-Walid. Este, no mesmo ano, liderou uma grande expedição contra as fronteiras do Império Bizantino, expedição que terminou em fiasco e morte da maior parte dos Muçulmanos, mas que foi uma demonstração de que as tropas de Medina estavam prontas para uma guerra definitiva contra Meca. No princípio de 630, o general Mequense recém convertido liderou os exércitos de Medina até as portas de Meca, lá, ele recebeu uma embaixada Coraixita que se destinava a ceder aos desígnios de Maomé. Estes eram entrar em Meca sem resistência e visitar a Caaba. Aceitas as condições do profeta, procedeu-se a entrada em Meca. Uma pequena tropa Mequense que ofereceu resistência foi destruída pelas tropas Muçulmanas e Maomé, junto com seu exército marchou até a Caaba. Chegando lá, contornou o templo sete vezes e depois entrou; então, tocou a Pedra Negra com seu cajado e gritou: "Allah é o maior!". Depois disso, ordenou a destruição dos mais de trezentos e sessenta ídolos das várias religiões da Arábia, que havia na Caaba e, por fim, mandou que o teto, onde havia um afresco Judaico- Cristão, fosse pintado. Era a conquista de Meca, a vitória de Maomé, o profeta de Allah. 4.4 – A conquista da Arábia: Depois de conquistar Meca e destruir os ídolos da Caaba, Maomé retornou a Medina, de onde organizou expedições para toda a Arábia Central. Essas expedições colocaram boa parte da
  • 13. península sob a autoridade do profeta, mas não toda, sua unificação só seria concluída um ano após a morte de Maomé. Na peregrinação anual dos povos Árabes à Caaba, em 631, os peregrinos não encontram suas divindades, em seu lugar encontram a Caaba transformada numa Mesquita (templo Islâmico), com efeito, esta peregrinação é uma transição entre o politeísmo praticado no Hedjaz até então e o monoteísmo que o substituiria a partir do ano seguinte. Em 632, na peregrinação anual à Caaba, Maomé se faz presente e, com várias demonstrações dos rituais a serem seguidos nas visitas futuras, além de um discurso forte, declarou ter cumprido sua missão e rogou a todos os Árabes que permanecessem unidos no Islã. Depois, fechou seu discurso perguntando a todos se havia cumprido sua missão e como recebesse uma resposta afirmativa, declarou que aquele seria seu último discurso. É provável que Maomé já tivesse ciência de que a morte se aproximava dele, afinal, já estava com 61 anos, idade avançadíssima para a época e sendo assim, quis dar por encerrada sua missão, mas o fato é que o profeta estava correto em seu auspício, pois ao retornar a Medina, morreu apenas três meses depois, no dia oito de junho de 632. 5 – O período dos quatro Califas (Rashidun): O enterro de Maomé foi uma cerimônia simples, sem muita pompa, realizado em Medina no dia seguinte à sua morte. O motivo pelo qual Maomé não foi sepultado com muitas honras e estardalhaço não foi religioso ou mesmo moral, mas sim político, isso porque devido ao fato de o profeta não ter deixado nenhum filho homem, não se sabia quem seria seu sucessor e, sendo assim, havia muitos pretendentes ao título de governante da Arábia. Dessa forma, alguns desses pretendentes, dentre os quais se contava Ali, o primo de Maomé, temiam que Abu Bakr, por seu caráter de liderança fizesse de uma possível solenidade de sepultamento do profeta, uma forma de assumir o poder. Porém, de nada adiantaram as precauções dos candidatos à sucessão de Maomé, pois Abu Bakr e Omar (um importante membro da sociedade Caraixita que, ao ser convertido, em 619, proporcionou a conversão de boa parte da população de Meca devido à sua popularidade) chamaram para eles a responsabilidade de governar a Arábia e, apoiados em no outro, realizaram esta missão, Abu Bakr se tornou então o Califa, que segundo reza a tradição foi o primeiro, devido ao fato de Maomé ser o Profeta. 5.1 – Os Califas: O período que se seguiu à morte de Maomé foi o chamado Período dos Quatro Califas, ele é o período em que começa a se formar o Império Islâmico propriamente dito, pois antes o que Maomé fez foi costurar a colcha de retalhos que étnico-religiosa que formava a Arábia e torna- la um país unitário. Este período é muito conturbado, com o surgimento das primeiras sesseções religiosas no Islã e com o a abertura das novas frentes de batalha, contra Pérsia e Império Bizantino. Aliás, a respeito de Pérsia e Império Bizantino é interessante notar que após uma longa guerra entre os dois Impérios, finalmente, em 628, Heráclio I, Imperador Bizantino, conseguiu uma vitória definitiva sobre a dinastia Sassânida (a dinastia Persa). Definitiva não porque destruiu
  • 14. definitivamente a dinastia, mas porque impossibilitou-a de reagir e tornou a queda do Império Persa apenas uma questão de tempo, tanto que, em 630, o próprio Heráclio I tomou Jerusalém aos Persas e continuaria tomando regiões não fossem os Árabes... 5.1.1 – Abu Bakr (632 – 634): Quando Maomé morreu, as diversas religiões Árabes retomaram força, alimentadas pelos diversos profetas aos quais já me referi. Esses profetas tentaram operar a desunificação do que estava unificado na Arábia, porém, o novo Califa agiu rápido e em pouco tempo, contando com a ajuda imprescindível de Khalid ibn al-Walid, não só exterminou esses profetas, como também apaziguou os Beduínos, conquistando-os e enviou seu general ao sul da península, onde os Estados independentes não participavam da vida do Hedjaz, esta expedição conquistou o Reino de Sabá e os diversos Estados independentes do Iêmen, Hadramaut, Omã e litoral do Golfo Pérsico. Apesar do ano de 633 ter sido tão grandioso e proveitoso para o Califa, ele já estava velho e, sendo assim, em 634, adoeceu e morreu, porém, em seu leito de morte, Abu Bakr não se esqueceu de recompensar seu principal aliado no poder, Omar e, sendo assim, designou-o como seu sucessor. 5.1.2 – Omar ibn al-Khattab (634 – 644): Omar (em algumas fontes também mencionado como Umar) tomou o título de Califa e, segundo a História é conhecido como Omar I, isto porque, futuramente haverá outros Califas com este nome. Homem que inicialmente era um inimigo ferrenho do Islamismo, acabou se convertendo por volta de 619, e se tornou um dos principais responsáveis pelo poder deste. Em seu governo, ditado pelas aristocracias comerciais de Meca e Medina (esta última tinha se convertido na capital natural do Império, devido ao fato de ter sido o verdadeiro berço do Islamismo, de onde partiram as tropas que conquistaram Meca e toda a Arábia), concentrou seus esforços em conquistar a Mesopotâmia, as antigas Judéia e Fenícia e em se expandir até Alexandria, no Egito, pois queria dominar as principais rotas comerciais. Seus exércitos foram liderados mais uma vez por Khalid ibn al-Walid, que por todos os seus feitos em prol do Islã, recebeu o digno apelido de "A Espada de Allah". Com efeito, o governo de Omar I foi marcado por conquistas, conquistas essas proporcionadas pela fragilidade do decadente (e por que não moribundo) Império Persa e do enfraquecido Império Bizantino. Quando Khalid estava velho demais para continuar suas conquistas, foi substituído, com honras, mas as conquistas não pararam e, em 642, o Império Árabe se estendia do Egito ao Irã. A viabilidade das conquistas se deu devido à tolerância dos conquistadores, pois quando os Árabes dominavam uma região, não obrigavam-na a se converter ao Islamismo, apenas impunham um pesado tributo (que servia para financiar a conquista de novas regiões pagando o soldo dos exércitos e proporcionando a confecção de armamentos) a quem não aceitasse a fé de Allah. Dos pontos de vista estratégico, cultural e econômico, Omar foi impecável. Ordenou a construção de três cidades que serviam de bases militares (Kufa, ao sul da Babilônia antiga; Basra, no Iraque; e Fostat (atual Cairo), no Egito) que funcionavam mais ou menos como as colônias Romanas, ou seja, regiões com a finalidade militar de defender e controlar a região e
  • 15. a finalidade social de Arabizar ou Islamizar a região. Além disso, foi Omar I quem organizou o calendário Muçulmano que é seguido hoje, ou seja, foi ele quem fixou a Hégira (se bem que em data errada) como marco zero do calendário Islâmico. O Califa também organizou as finanças do Império, criando o balanço (ou lista de receita e despesa) deste e organizou os territórios conquistados colocando um Wali, governador e general assistido por um Amil, responsável pela receita em cada uma das regiões conquistadas. Além de todos esses feitos, o Califa ainda é lembrado pelos Islâmicos como um modelo das virtudes do Muçulmano, ou seja, enérgico, justo e mais temido do que amado. Seu caráter era tão forte e sua crueldade devia ser tamanha que, em novembro de 644, um escravo enfurecido atacou-o causando-lhe um ferimento mortal. Omar I ainda teve tempo de, em seu leito de morte designar um conselho com seis membros com a função de eleger o novo Califa. 5.1.3 – Uthman ibn Affan (644 – 656): O conselho dos seis era formado por, dentre outros, o próprio Uthman; que além de amigo de Maomé, havia desposado uma de suas filhas; e Ali (o primo de Maomé). Este conselho terminou por eleger Uthman como novo Califa. Uthman, ao contrário de seus predecessores, não era uma figura famosa entre o povo, nem tão pouco, um herói militar, era, no entanto, um importante membro da aristocracia comercial de Meca, sendo pertencente ao clã Omíada (em Árabe, Umayyad). Dessa forma, a eleição do novo Califa marcou a vitória, e porque não o início da hegemonia, da aristocracia comercial de Meca sobre o Califado. Os objetivos do novo Califa eram óbvios desde o início de seu governo, pois tentou dominar as mais importantes regiões comerciais do Oriente Médio e norte da África. Em seu governo Alexandria foi retomada, pois havia sido momentaneamente reconquistada pelos Bizantinos e a conquista da Palestina e da antiga Fenícia foi consolidada. Estas conquistas, juntas, possibilitaram o início da expansão marítima Árabe, pois antes, estes nunca haviam se arriscado nas águas do Mediterrâneo. A principal figura da expansão marítima é Moawiya (em Árabe, Mu’awiyya), o governador da Síria, que instalado na proeminente cidade de Damasco, chefiou as esquadras Árabes em suas sucessivas vitórias sobre a esquadra Imperial Bizantina. Em 649, o Chipre caiu nas mãos Muçulmanas e isto marcou o fim da hegemonia de Constantinopla sobre as águas do Mediterrâneo, em especial sobre o Mediterrâneo Oriental. Com as fronteiras comerciais consolidadas e a economia do Império indo "de vento em popa", o Califa tomou duas atitudes importantes relacionadas com a política interna: diminuiu a fervor expansionista, com intuito de fortalecer as defesas; e direcionou seus esforços no sentido de elaborar um texto único para o Alcorão, pois a existência de textos conflitantes (visto que Maomé não sabia escrever e, sendo assim ditou o livro para outros) começava a gerar discórdias religiosas que,mais tarde eclodiriam em revoltas e num cisma religioso. Uthman, no entanto, desenvolveu em seu governo algumas vicissitudes que o tornaram muito impopular, além de enfraquecerem a unidade do Império. Contam entre essas medidas a
  • 16. prática deliberada do nepotismo (ou seja, o emprego de parentes e amigos em cargos públicos de confiança ou não) seguido do esbanjamento do tesouro central, o que acarretou em diminuição de recursos para fins importantes, como o militar. Somam-se ao esbanjamento duas práticas que, por si sós, já seriam suficientes para reduzir a receita Imperial, ou seja, a parada na expansão, que acarretou no fim (pelo menos temporário) das presas de guerra; e a conversão ao Islamismo da maioria das populações conquistadas anteriormente. Esta última ação reduziu as receitas, pois, como o leitor deve se lembrar, aqueles que não quisessem se converter ao Islã depois de conquistados, não seriam obrigados, mas estariam sujeitos a pesados tributos, dessa maneira, muitos simularam sua conversão para assim se verem livres de impostos (dos quais os Islâmicos estavam livres). A repercussão de tais fatos teve um peso negativo muito maior do que o peso positivo das conquistas (leve-se em consideração que foi no governo de Uthman que as conquistas foram realmente divididas em três frentes (como será explicado mais adiante), além disso, foi em seu governo que a Pérsia caiu de joelhos definitivamente diante dos Árabes, com a morte do último Grande Rei), tanto que desde o princípio de seu governo, o Califa encontrou feroz oposição de quatro figuras importantes dentro da comunidade Islâmica: Aysha, filha de Abu Bakr e principal esposa de Maomé; Ali, primo do profeta; al-Zubayr e Talha, ambos, assim como Ali, membros do conselho dos seis que elegeu o Califa. O nepotismo e o esbanjamento praticados pelo Califa se irradiaram para as províncias, dessa forma, as populações passaram a ser muito exploradas (talvez isso tenha, mais que tudo, motivado as conversões em massa) pelos governadores locais que eram nomeados e renomeados pelo Califa a seu bel prazer. A situação se tornou calamitosa quando no final de 655, Amr, o governador do Egito foi deposto pelo Califa que nomeara para seu lugar um parente. Ele com seus soldados tentaram depor Uthman, mas não lograram sucesso. Porém, este (o Califa) pediu auxílio ao novo governador do Egito para que este sufocasse a revolta, este (o governador) obedecendo, matou um importante general leal a Amr. A morte do oficial revoltou os exércitos do Califado e, sendo assim, quando a notícia chegou a Medina, os soldados que outrora eram leais a Uthman invadiram seu palácio e mataram-no enquanto lia o Alcorão. 5.1.4 – Ali ibn Abi Talib (656 – 661): Quando Uthman morreu, mais do que depressa (no mesmo dia) Ali (o mesmo que era primo de Maomé e que com ele crescera) tomou para si o título de Califa, no entanto, as circunstâncias nas quais o antigo Califa fora morto (lendo o livro sagrado) fizeram com que, inesperadamente, ele se converte num mártir (um herói morto). Sendo assim, Ali, que possivelmente instigara os exércitos contra Uthman, foi considerado por seus antigos aliados (leia-se Aysha, al-Zubayr e Talha), além de por Moawiya (governador da Síria, que era primo de Uthman e que, dessa forma, com sua morte, herdou a chefia do clã Omíada). Certamente, Ali contava com inúmeros aliados, dentre os quais podemos referir principalmente os mais antigos fiéis, ou seja, os que haviam conhecido Maomé, além de quase a totalidade dos exércitos, visto que as três fortalezas Árabes (Fostat, no Egito; Kufa e Basra, na Mesopotâmia) lhe eram fiéis. A viúva de Maomé (entenda-se que apesar de após a morte de Khadidja, o profeta ter criado um harém, a primeira mulher com a qual se casou, no caso Aysha, passou para a História como
  • 17. sua viúva, isto porque foi a única que teve alguma relevância depois da morte do marido, além de ter sido a única cujo pai (Abu Bakr) também se tornou Califa), juntamente com os outros dois inimigos de Ali, se mudou para Basra, onde pretendia corromper a fortaleza contra o novo Califa. Vendo que sua presença se fazia necessária junto aos exércitos, em especial na Mesopotâmia, Ali transferiu a capital do Império de Medina (onde haviam reinado Maomé, Abu Bakr, Omar e Uthman) para Kufa. Lá, ele organizou as tropas e marchou contra os rivais. Tudo isso ainda e 656, o mesmo ano de sua posse. Desenrolou-se então a chamada batalha do camelo, de onde Ali saiu vitorioso, exterminando as tropas dos oponentes e, além de matar al-Zubayr e Talha, capturou Aysha, esta foi silenciada (pois ficou sem aliados) e então enviada de volta para Medina, onde viveu o resto de sua vida (morreu em 678, de velhice, com quase oitenta anos) confortavelmente, mas sem ter outra chance de agir politicamente falando. A morte de seus inimigos serviu para consolidar as posições de Ali no Iraque (ou Mesopotâmia), mas, no entanto, na Síria as coisas estavam diferentes. Moawiya não aceitava o governo de Ali, a quem considerava um usurpador, dessa forma, agora aliado com Amr (entendam que Amr, apesar de ter sido inimigo de Uthman, viu em seu primo Moawiya, um aliado poderoso, posto que este não praticava os mesmos erros grotescos que o Califa anterior, além disso, Ali lhe tinha usurpado a idéia de dar um golpe e tomar para si o título de Califa, visto que havia feito isto antes, sendo assim, a vingança também o motivava), iniciou, já em 657, suas ofensivas. A batalha de Siffin, na margem direita do rio Eufrates, em 657, foi decisiva em muitos aspectos, pois os exércitos de Ali estavam levando vantagem até que Amr, que comandava os exércitos de Moawiya, ordenou que todos os seus homens colocassem sobre as espadas folhas do Alcorão. Essa imagem fez com que as tropas de Ali desistissem de lutar, pois consideravam sacrilégio matar homens tão leais à sua fé. Além da desistência, os homens de Ali decidiram submete-lo a uma Arbitragem, ou seja, uma espécie de julgamento que apontaria se sua ascensão ao poder era válida (na prática, isto punha em dúvida o mérito do governante, ou seja, o desmoralizava). Enquanto Ali se retirava do campo de batalha com seus homens, cerca de metade deles veio insistir para retornar ao combate. O Califa, no entanto, achou prudente não aceitar, pois estariam em menor número e certamente perderiam a batalha. Diante da recusa de Ali, estes soldados desertaram, mas ao invés de passarem para o lado de Moawiya, formaram uma milícia religiosa cujos seguidores foram batizadados de Kharidjitas (os que saem). A formação dessa milícia marca o primeiro grande cisma do Islã. Depois da formação do Kharidjismo, Ali teve que ocupar seu tempo enfrentando-os, dessa forma, Moawiya passou a agir livremente e, sendo assim, não só retomou o Egito, cujo governador era leal a Ali, e entregou-o a Amr, como, em 660, em Jerusalém, proclamou-se Califa. Isso gerava uma situação de quase ruptura, uma vez que passava a haver dois indivíduos que se consideravam governantes supremos do Império, um cuja influência de estendia ao Egito e à Síria (Moawiya) e o outro, ao qual eram leais a Arábia em si e o Iraque (Ali). Ali finalmente derrotou os revoltosos Kharidjitas, na batalha de Nahrawan, nas margens (e mesmo dentro dele, dizem que as águas do rio se tornaram turvas com o sangue dos
  • 18. dissidentes) do rio Tigre. Porém, apesar de agora ineficazes militarmente, os Kharidjitas continuaram a existir e a agir de forma semelhante aos terroristas de hoje, tanto que, em 661, quando (livre dos insurretos) Ali organizava suas tropas para marcharem contra a Síria, um Kharidjita disfarçado invadiu a Mesquita de Kufa e matou o Califa. Com a morte de Ali, o caminho ficou livre para as pretensões de Moawiya. Expansão máxima do Islã nos primeiros anos 5.2 – As Revoltas Xiitas e as dissidências religiosas no Islã: As tensões que se iniciaram no Califado de Uthman acarretaram diversas transformações no mundo Árabe. Porém, as principais talvez tenham sido as religiosas. Digo principais, pois além das transformações políticas profundas ocorridas no Império Islâmico, decorrentes em grande parte de tais dissensões religiosas (não devemos esquecer que os Kharidjitas atrapalharam a possível e provável reação de Ali, abrindo o caminho para o fortalecimento dos Sírios), até hoje essas diferentes correntes têm, em maior ou menor grau, alguma influência no mundo Muçulmano, sendo que o Irã tem como religião oficial o Xiismo. O Kharidjismo foi a primeira dessas dissensões religiosas e, como já expliquei no item anterior, surgiu de uma discordância entre os soldados de Ali e este. Ele foi responsável por diversos ataques tanto na época de Ali, quando ainda era efetivo numericamente o suficiente para realizar reides, quanto em épocas posteriores, através de atentados e da conversão de adeptos do Sunismo (ortodoxia Islâmica original) a sua causa. A principal discordância dos Kharidjitas em relação aos Ortodoxos (os Muçulmanos que seguem os ensinamentos originais de Maomé) era política, eles acreditavam que qualquer cidadão deveria ter o direito de ascender ao Califado, desde que fosse Islâmico. Porém, o Califa deveria ser cobrado quanto ao cumprimento de suas obrigações, podendo ser deposto se não as cumprisse adequadamente.
  • 19. Esse princípio batia de frente com o caráter hereditário que viria a se instaurar no Califado após a morte de Ali, sendo assim, essa seita continuou agindo contra o interesse dos Califas. O mais curioso quanto aos Kharidjitas é que para eles (apesar de serem Islâmicos), era mais fácil considerar um Judeu ou um Cristão como igual do que um Muçulmano não adepto de sua causa. Após a morte de Ali, que possuía muitos apoiadores incontestes, este foi transformado por muitos numa figura semi-divina, de fato, Ali, bem como seus descendentes (filhos deste com sua esposa Fátima, filha de Maomé) passaram a ser considerados mais importantes do que Maomé. É bom que se explique que os Califas eram, até o tempo de Ali, ao mesmo tempo Malik (Rei) e Imam (Líder Religioso), porém o culto que se desenvolveu a Ali, tratava-o, e também a seu filho, Hussayn, como Imam. Este culto recebeu o nome de Xiismo. Os Xiitas, uma seita que persiste, como já foi referido, até os dias de hoje, acreditam que o Califado só pode ser exercido pelos descendentes diretos de Ali, pois estes são naturalmente divinizados. Cada Imam tem o dom, concedido por Allah, de rever as escrituras, sendo assim, a palavra de um Imam é absoluta sendo superior ao Alcorão e até mesmo a palavra do Imam anterior. A crença na divindade do Imam fez com que os Xiitas não aceitassem os Califas e, sendo assim, desenvolvessem vários ataques e revoltas ao longo de todo o Califado Omíada e depois, também do Abássida. Para os Xiitas, o Imam designa entre seus filhos aquele apto a ser o futuro Imam. Porém, isso causou algumas dissidências entre os próprios Xiitas, pois o sexto Imam, Djafar, não escolheu como futuro Imam ao seu filho mais velho, Ismail, como era costume até então, mas sim ao seu filho mais novo, Musa. Dessa forma, alguns Xiitas que acreditavam na sucessão varonil por idade (ou seja, o filho homem mais velho deveria ser o novo Imam), não aceitaram Musa como Imam e passaram a cultuar Ismail como seu Imam, estes foram então ditos Ismailitas, uma facção Xiita considerada radical até mesmo por estes (que, diga-se de passagem, já são radicais o bastante). Os Ismailitas recusam-se a acreditar que Ismail tenha morrido um dia, ao contrário, eles afirmam que seu líder irá retornar ao mundo e salvá-los, bem como a todos os que se converterem, sendo assim, para os Ismailitas, com Ismail encerra-se o ciclo de Imans. Ao contrário, para os Xiitas, que aceitaram Musa como seu Imam, o ciclo só se encerra quando (por volta do final do século X) o décimo segundo Imam se retira para uma montanha sob o pretexto de meditar. Os Xiitas acreditam (talvez inspirados nos Ismailitas) que este ainda está meditando nas montanhas, até hoje, e um dia retornará para salva-los, nesse dia, as revelações finais sobre o Alcorão serão feitas, e as partes perdidas (que teriam sido excluídas propositalmente para retirar os predicados de Ali quando foi elaborado o texto único) serão reencontradas. Tanto os Xiitas, quanto os Ismailitas (que nada mais são do que uma facção dos Xiitas) acreditam que, quando Uthman realizou a edição do texto "oficial" do Alcorão, deliberadamente negligenciou algumas partes que beneficiavam Ali. Dessa forma, ele teria impedido o "fundador" do Xiismo de obter privilégios semelhantes aos de Maomé. É interessante notar no Xiismo que apesar de Ali ser seu "fundador", ou pelo menos inspirador, seu filho Hussayn foi mais venerado, isso porque sua morte (apesar de ter sido morto numa emboscada, armada pelo novo Califa Moawiya, que temia que o filho de Ali reunisse forças suficientes para destrona-lo) foi considerada um rito de auto-sacrifício, em busca de purificação, de salvação. A morte de Hussayn entrou para a História como o massacre, ou drama, de Karbala, e inspirou o início das violentas hostilidades Xiitas ao longo da História. Para os Xiitas, existe uma necessidade de vingar Hussayn, sendo assim, eles se mobilizam para
  • 20. tal feito. Essa mobilização, aliada a outras causas que veremos mais adiante, foi uma das responsáveis pela queda da dinastia Omíada. O enviado de Allah que, tanto para os Xiitas, quanto os Ismailitas, esperam, é chamado de Mahdi e será simplesmente infalível. 5.3 – As três frentes da expansão: Certamente foi durante o governo de Uthman que a expansão dos domínios Árabes tomou realmente a forma que viria a ter nos próximos anos, sobretudo durante a dinastia Omíada. Três foram os caminhos adotados pelos Muçulmanos para expandir sua fé e seu controle temporal. Veremos neste item boa parte das principais conquistas Islâmicas desde o estágio embrionário da divisão em frentes de combate, até o final do período ao qual se remete este texto, ou seja, em 809, com a morte de Harun al-Rachid. 5.3.1 – Oriente: A expansão rumo ao Oriente existiu em boa parte sobre os domínios do antigo Império Persa. Este estava fragilizado pelas sucessivas derrotas que sofrera frente ao Império Bizantino, sendo assim, não pode resistir à organização das tropas Islâmicas. O leitor deve estar intrigado com uma questão importante e pouco estudada sobre o Império Persa. Ele não havia acabado no século IV a.C., quando Alexandre matou Dario III e conquistou seu Império Persa. Vejamos, depois da morte de Alexandre, seu Império foi dividido entre seus principais homens, dentre eles contavam Antígono, a quem coube o núcleo do Império, ou seja, a Grécia- Macedônia; Ptolomeu, a quem coube o Egito; e Seleuco, a quem coube a Ásia, ou o antigo Império Persa. Logo no início, a Ásia Seleucida foi desmembrada em diversos Reinos: Armênia; Média Atropatena; Partia; Bactriana e a própria Seleucida. Em 64 a.C., a Partia, que sob a dinastia dos Arsácidas (dinastia estabelecida em 247 a.C.) se fortalecera, toma as demais regiões, mas não recria o Império Persa, este período é chamado de Reino Parto, e perdura até 224 d.C.. Os Partos impuseram dura resistência ao Império Romano, tendo sido combatidos por famosos generais, tais como Lépido e Marco Antônio. Em 224 d.C., um príncipe regional chamado Ardachêr, filho de Sâssân, organiza uma revolução nacional e, derrubando a dinastia Arsácida, instala no lugar a sua, que em homenagem a seu pai, se chama Sassânida. Os Sassânidas, em busca de respaldo anterior ressucitam o nome Pérsia, bem como todos os seus títulos, dessa maneira, o soberano volta a se chamar Grande- Rei, como na Pérsia Pré-Alexandrina e o Império volta a se chamar Império Persa. Os Sassânidas oferecem muito mais problemas aos Romanos do que seus antecessores, os Partos, talvez por serem mais ferozes que estes, ou pelo fato de aqueles estarem em decadência. O fato é que um Imperador Romano é morto (Juliano, em 363) e outro capturado e escravizado (Valeriano, em 260) em guerras contra os Persas Sassânidas.
  • 21. Depois da queda do império Romano, os Sassânidas passam a disputar com os Bizantinos a hegemonia do Oriente. De início, são atrapalhados em suas tentativas, pelos Hunos e quando tentam conquistar territórios Bizantinos, encontram Constantinopla em seu apogeu militar, com Justiniano, que os repele. Khosrô II, no entanto, conquista diversos territórios do Império Bizantino (Ásia Menor, Síria, Palestina e Egito) após a morte de Justiniano, desencadeando uma guerra feroz entre os dois Impérios. Heráclito I, Imperador Bizantino, começa a retomar o que lhe havia sido usurpado pelos Persas e, em 628, lhes impõe uma derrota definitiva (já mencionada anteriormente), derrota esta que praticamente destrói qualquer chance da dinastia Sassânida se reerguer. É neste contexto que os árabes encontra os Persas, ou seja, praticamente derrotados desde 628, precisando apesar do "último empurrão" para caírem no precipício; e este "empurrão" é dado pelos Muçulmanos. Em 651, Yazdgard, último Grande-Rei Sassânida é morto pelos Árabes depois de fugir de cidade em cidade, sendo assim, termina a dinastia, pelo menos na Pérsia, visto que no Turquestão (antiga pátria dos Turcos, dos quais falarei brevemente no item sobre a dinastia Abássida) e depois na China, ainda resistem Reis Sassânidas até meados do século VIII, quando são finalmente exterminados pelos Árabes. Se por um lado a expansão Árabe em seu rumo oriental se fundamentou na conquista dos territórios do Império Persa, por outro, não se limitou a isso, visto que entre o governo de Uthman (644 – 656) e o de Al-Walid (705 – 715), estenderam seus domínios do oeste do atual Irã até certas regiões da China e da Índia, tendo inclusive se deparado com tropas da dinastia T’ang, da China da época. 5.3.2 – Norte: Enquanto a expansão rumo ao leste se fundamentava na anexação dos territórios do Império Persa, a expansão no sentido norte almejava a conquista de regiões do Império Bizantino. Iniciada por Uthman, esta direção das conquistas foi a que menos logrou efeito (pelo menos na época referida, visto que como esta frente nunca foi esquecida pelos povos Islâmicos, posteriormente os Turcos, saídos do Turquestão, atacaram a Ásia Menor, ou Capadócia, visando se instalarem. Venceram a batalha de Manzikert, em 1071, iniciaram a formação do Império Turco, ou Otomano, que, dominando os Bálcãs e boa parte dos domínios centrais do Império Islâmico original, perdurou até o final da Primeira Guerra Mundial), pois teve como oposição ferrenha o, ainda poderoso, Império Bizantino. As principais motivações dessa frente de combate eram nitidamente comerciais. Os Árabes, que estavam sob a égide de um clã comercial (os Omíadas), desejavam banir os Bizantinos do comércio do mar Mediterrâneo e, se não pudessem conquista-los, pelos menos queriam sobrepuja-los. Foi com esse intuito que, já no governo de Uthman, o Império Islâmico iniciou a construção de sua esquadra que conseguiu grandes vitórias logo de início, conquistando o Chipre e dizimando a marinha Bizantina. Depois de conquistar a supremacia no Mediterrâneo, os Árabes iniciaram a construção de uma rede de postos avançados no mar, com a conquista de diversas ilhas e cidades costeiras, como Rhodes e Chipre, além de ataques a Sicília e ao sul da Itália.
  • 22. Desejando exterminar definitivamente os Bizantinos e abrir seu caminho rumo a Europa, os Árabes enviaram, em 674, uma grande esquadra para Constantinopla, pois sabiam que se a capital caísse, todo o Império cairia. Ocorreu um longo cerco de quatro anos, nos quais a cidade resistia e os Árabes atacavam, até que os Bizantinos utilizaram a ciência para lhes garantir a sobrevivência. Graças a pesquisas de Calímaco, um engenheiro da Síria que se refugiou no Império Bizantino para fugir do domínio Islâmico, foi inventado o fogo grego, uma mistura de petróleo, enxofre, salitre e cal viva, que se inflama com o impacto e queima em qualquer superfície, inclusive sobre a água (devido ao petróleo, que é o que queima realmente). Graças ao fogo grego, Constantinopla conseguiu armar suas defesas navais e destruir a esquadra Árabe que a cercava (isso porque, como os navios da época eram feitos de madeira, o fogo se tornava especialmente perigoso para eles). Os Árabes evitaram realizar novas investidas navais contra Constantinopla para não perderem mais navios, em contra partida, os Bizantinos não conseguiram reaver o que haviam perdido, pois assim como não conseguiriam produzir fogo grego suficiente para queimar todos os navios Árabes, também não teriam recursos para reconstruir sua marinha perdida (uma vez que depois da dispendiosa reconquista organizada por Justiniano (que governou entre 527 e 565), as finanças Imperiais ficaram de tal forma arruinadas, que nunca mais se recuperaram). Dessa maneira, houve uma certa paz nos mares entre os Impérios Islâmico e Bizantino. 5.3.3 – Ocidente: A expansão Árabe rumo ao ocidente foi a que começou mais cedo, já no governo de Omar, talvez motivada pelo sentimento de revanchismo que boa parte dos Árabes nutria em relação aos Abissínios (Etíopes), pois, como já foi explicado, este dominaram por longo período o Reino de Sabá, além de tentarem impor o Cristianismo aos povos Árabes pré-Islâmicos. Durante o Califado de Omar (634 – 644), as conquistas se estenderam até Trípoli, tendo tomado, no caminho, o Egito e a Abissínia. No governo de Uthman, esta frente foi preterida em detrimento das outras duas e no Califado de Ali, devido às diversas guerras que o primo de Maomé teve que travar e ao conturbado momento político em que se encontrava o Califado, a expansão parou momentaneamente. Quando a dinastia Omíada se instalou, voltou seus olhos novamente a esta direção da expansão. Talvez a ênfase maior a estas conquistas tenha sido dada quando os Árabes se deram conta de que, pelo menos por aquela hora, não poderiam tomar Constantinopla, sendo assim, precisavam atingir a Europa de outra maneira. Através das conquistas no norte da África, ocorreu um aumento brutal da extensão do Império, bem como uma verdadeira revolução na máquina de guerra Islâmica, visto que os Berberes (povo do norte da África (região da Numídia) conhecido por sua resistência intransponível a todos os Impérios anteriores e por seu nomadismo, além de suas altíssimas qualificações militares) se converteram ao Islamismo e tomaram para si a responsabilidade de invadir a Espanha Visigótica (o domínio da Espanha será contado em detalhes num item especial, devido à grandeza do general responsável por sua conquista).
  • 23. Outras conseqüências importantes tanto para o Império Islâmico, quanto para o mundo atual da conquista do norte da África foram: o surgimento da África Branca, ou seja, a irradiação dos povos Semitas da Arábia e Egito até o Maghreb; a destruição definitiva de Cartago (a cidade havia sido destruída pelos Romanos em 146 a.C., porém, depois de ficar vários anos desocupada, foi revivida por Júlio César) para a construção, no mesmo lugar, de Tunis; a criação de portos importantes para o ataque a ilhas do Mediterrâneo e regiões costeiras da Europa; além da principal conseqüência Histórica, a conquista da Espanha e o subseqüente fechamento do Mediterrâneo Arquitetura islâmica no Norte da África: à navegação Européia, pois os Árabes passaram Mesquita em Kano, Nigéria a domina-lo completamente. Com certeza, com veremos, a conquista da Espanha (entre 711 e 714) marca o início do apogeu do Império Islâmico, uma Império que existia a apenas oitenta anos e que já dominava uma região maior do que a extensão máxima do Império Romano. 7 – A Revolução Abássida: Acredito que muitas coisas mudaram no Império Islâmico depois da ascensão dos Abássidas ao poder. Primeiramente, como pode-se perceber, até aqui o Império havia sido um Império Árabe e, porque não, um Império do Hedjaz e da Síria, sendo que os Muçulmanos das demais regiões nunca haviam sido considerados como iguais pelas elites dominantes. Sendo assim, só não chamo o Império construído pelos seguidores da religião de Maomé de Império Árabe, justamente porque sob os Abássidas, o Império perde esse caráter e, ao contrário, ganha, cada vez mais um caráter Persa. Sob a nova dinastia, ocorrem diversas transformações em diversos campos do Império. Primeiramente, deve-se notar que, enquanto os Omíadas laicizaram o Estado, os Abássidas retornaram à Teocracia orginal, aliás, a Teocracia Abássida era muito mais real do que a dos Califas Ortodoxos. Os Califas dessa dinastia realmente se consideravam homens acima da média, que haviam sido escolhidos por Allah para governar não só o Império, mas também a vida de todos os Muçulmanos. Sendo assim, Esta dinastia retomou para o Califa o título de Sumo Pontífice Islâmico. Justamente pelo fato de os Abássidas se considerarem os donos da verdade Islâmica é que as perseguições contra todos aqueles que não seguissem exatamente a Sunna do Profeta, ou seja, todos os não Sunitas, seriam perseguidos implacavelmente, tanto por meio de armas, quanto através da propaganda do Estado. Porém, os Abássidas não foram de todo ruim, eles tinham uma grande preocupação com a humanidade, por isso, tentavam de todas as maneiras tornar todos os Muçulmanos iguais, ao contrário dos Omíadas, que não se preocupavam com o bem estar do povo. Foi sob esta dinastia que foram produzidos os principais legados do mundo Árabe: obras literárias, como "As mil e uma noites"; Mesquitas gigantescas, túmulos igualmente majestosos; a tradução das antigas obras Gregas (Platão, Aristóteles, Sófocles, Aristófanes, Tales, Arquimedes, Pitágoras,
  • 24. Homero...) que estavam perdidas na memória Européia, mas que foram resgatadas pelos Árabes através da memória Persa, mantida devido à helenização da Ásia proporcionada por Alexandre, o Grande; dentre outras grandes façanhas. No campo da política, os Califas Abássidas criam um novo cargo: o Vizir. Este é, a exemplo do Prefeito do Palácio, do Reino Franco, uma espécie de Primeiro Ministro Islâmico que, à medida que os Califas vão se ocupando mais e mais da cultura e da religião, tornam-se os responsáveis pela administração política e militar do Império. A dinastia também é marcada pelo início da fragmentação do Império, com a criação de um governo (mais tarde Califado) Omíada na Espanha e, com a independência das tribos Berberes do norte da África. Além disso, a capital do Império é mais uma vez alterada, inicialmente se centra em Kufa e depois, passa para Bagdad, uma cidade construída justamente com o intuito de ser a nova capital do mundo Islâmico, sendo a herdeira de Ctesifonte (antiga capital do Império Persa (se bem que o Império Persa tinha quatro capitais: Ctesifonte, Pasárgada, Persépolis e Susa)) e da gloriosa, porém esquecida, Babilônia. 7.1 – O refúgio Omíada na Espanha: Quando iniciou-se a dinastia Abássida, com o governo de Abu al-Abbas, os Omíadas, como já foi dito, foram perseguidos. Boa parte deles foi exterminada de uma só vez no fatídico jantar em Damasco. Porém, alguns membros da família resistiram ao massacre, mas perceberam que sua permanência dentro dos domínios do novo Califa (que se denominara o caçador do sangue Omíada) seria impossível. Observando que, devido às conjunturas presentes no conturbado início da nova dinastia, os Abássidas não desfrutavam de um controle pleno sobre as províncias do ocidente; Abd el- Rahman, o último sobrevivente do clã Omíada, fugiu para al-Andalus (a Espanha), em 756. Lá, ele obteve boa receptividade das populações e, sendo assim, pode se instalar em Córdoba, onde se proclamou Emir (espécie de governador soberano, ou seja, muito superior aos meros governadores de província do Império, pois tinha total autoridade sobre a região na qual governava). Estava fundado o Emirado de Córdoba, uma região que, justamente por pertencer aos Omíadas, não aceitava o domínio Abássida e que constituiu o primeiro grande racha dentro do Império Islâmico. Abd el-Rahman fundou, assim, a dinastia Omíada da Espanha, um prolongamento da dinastia que havia governado o Império Islâmico entre 661 e 750. O Emir contava não só com o apoio das populações Espanholas convertidas ao Islamismo, mas também com o apoio dos Bascos que, apesar de Cristãos, preferiam manter boas relações com os Árabes do que se submeterem aos ataques dos demais Reinos Cristãos. Em 778, a Espanha foi atacada por Carlos Magno que, como parte de seu acordo com Harun al-Rachid (Califa Abássida que, como veremos, mantinha um pacto com o Rei Franco) pretendia exterminar os Omíadas da Espanha. Carlos Magno foi ajudado por Ibn el-Arabi, antigo governador de al-Andalus, que, quando os Omíadas chegaram, se refugiou em Saragoça, de onde pretendia reconquistar seus domínios, ajudado pelo soberano Franco. Com a ajuda dos Bascos, o Emir Omíada trucidou as tropas de Carlos Magno e, destruindo Ibn el-Arabi, obteve a hegemonia de toda a antiga Espanha Visigótica (exceto do Reino de Astúrias
  • 25. (onde haviam se refugiado os Visigodos) e da região dos Bascos (que por meio de um tratado 6 – O Califado Omíada: Após a morte de Ali, finda-se o período dos Califas ditos Ortodoxos, isso porque, os quatro que reinaram depois da morte do profeta haviam tido contato direto com ele e assim, estavam entre os primeiros convertidos ao Islã. Moawiya dá um golpe em 660, quando se proclama Califa, em Jerusalém. Seu golpe, no entanto, só se concretiza em 661, quando Ali morre, desde então, o antigo governador da Síria e agora, novo Califa, introduz algumas mudanças substanciais na política e, trazendo de volta para sua família o poder (visto que Uthman era seu primo e líder da família antes dele) proclama o Califado como hereditário, estabelecendo assim, a dinastia Omíada, visto que uma dinastia se caracteriza pelo domínio do poder por uma família ao longo de um certo tempo. 6.1 – Os Califas e os feitos da Dinastia: A dinastia Omíada foi marcada por alguns pontos importantes tanto de conflito quanto de evolução. Já mencionei que foi durante esta dinastia que o Império Islâmico atingiu seu apogeu tanto físico (em tamanho) quanto militar, somente o apogeu cultural é que viria posteriormente, com a dinastia Abássida. Do ponto de vista político-religioso, a transformação do Estado em Estado Laico foi uma evolução, no sentido em que retirou do Califa o peso de ser o sumo pontífice do Islamismo, deixando-o livre para decidir o futuro econômico, militar, social e político do império; ao mesmo tempo que talvez tenha sido um retrocesso, uma vez que esta separação acarretou na dissolução da Teocracia que havia sido criada ainda na época de Maomé. O fim da Teocracia é ruim, pois retira parte do apoio popular, advindo da Religião, ao governante. Outra característica importante da dinastia Omíada é que ela nunca contou com o apoio total da população do Império, tanto por causa das revoltas religiosas (Kharidjitas e Xiitas), quanto pelo fato do tamanho do Império ter começado a torna-lo ingovernável na época. Pois em regiões tão distantes e, sendo assim, tão distintas, se tornava difícil manter uma comunhão de pensamentos e mesmo religiosa, em suma, o que era bom para a Espanha não necessariamente era bom para a Síria, ou para o Iraque, ou para a Arábia. Porém, acredito que a principal característica da dinastia Omíada tenha sido realmente a vitória dos grupos mercantis (repito pré-capitalistas) sobre os grupos religiosos fundadores do Império, dessa forma, o Império que foi criado e era mantido através da difusão de uma fé, não era mais administrado pelos superiores dela. 6.1.1 – Moawiya (661 – 680): Moawiya foi o fundador da dinastia Omíada e, apesar de não ter sido o primeiro membro desse clã o governar o Império (Uthman também era do clã Omíada), foi, com certeza, o mais revolucionário Califa desde de Maomé. Em seu governo, o novo Califa operou várias transformações no mundo Islâmico. Uma delas já foi mencionada, ou seja, foi a laicização do Estado, mas convém enumerar outras: a transferência da capital de Kufa (para onde Ali tinha transferido-a anteriormente) para Damasco; a proclamação da hereditariedade do título de Califa (o que fundou a dinastia propriamente dita); a retomada das frentes expansionistas iniciadas por Uthman; a
  • 26. reintegração da totalidade do Império sob uma só autoridade; o combate às dissensões religiosas. Quando Ali morreu, seu filho, Hassan, foi escolhido pelas tropas do Iraque como seu sucessor, dessa forma, as disputas entre Síria e Iraque continuariam, no entanto, por motivos ignorados, Hassan abandonou o poder, deixando-o todo para Moawiya. Existem duas hipóteses para explicar o ocorrido, sendo uma delas mais provável. A primeira, e menos provável, é a utilizada pelos Sunitas (os Muçulmanos Ortodoxos, ou seja, que seguem o Alcorão tal como foi escrito e que se posicionaram ao lado dos Omíadas), e diz que num encontro entre Hassan e Moawiya, o filho de Ali se sentiu inferior ao concorrente e, sendo assim, abandonou o poder. A outra hipótese, mais provável, é defendida pelos Xiitas (aqueles que se posicionaram ao lado de Ali, contra os Omíadas), segundo esta hipótese, Moawiya teria armado uma cilada para Hassan, na dita reunião, sendo assim, o soberano Omíada teria capturado o filho de Ali e, mais tarde matado-o com veneno. De qualquer forma, com a abdicação de Hassan, Moawiya ficou sozinho para governar e iniciou seu Califado em 661. Seu primeiro ato de governo foi tornar o Califa superior ao Shura, o conselho dos seis, criado por Omar para designar o sucessor do Califa. Desta forma, o Califa não só passava a responder sozinho pela administração Imperial, como também indicava em vida um de seus filhos como sendo seu sucessor. Este, ainda durante a vida do pai, passava pela aprovação (meramente formal, visto que o conselho era controlado pelo Califa) da Shura e, sendo assim, estava efetivado como herdeiro do trono. Dessa forma foi possível a manutenção do clã Omíada no poder. A transferência da capital do Império para Damasco não ocorreu meramente porque o Califa estava radicado nesta cidade, constituindo ela, sua fonte de poder. Ao contrário, foi uma questão geopolítica e religiosa de extrema importância. Religiosa, porque em Medina, antiga capital do Império (antes de Ali se mudar para Kufa), estava radicada a elite sacerdotal do Império, em outras palavras, era o centro de poder do antigo Estado Teocrático Árabe, Estado este que os Omíadas queriam derrubar. Porém, sob o ponto de vista geopolítico e também administrativo, Damasco estava muito mais bem situada, localizando-se na Síria, a cidade estava exatamente no núcleo do Império, de onde era possível ir facilmente para qualquer de seus pontos, e também proteger-se de ataques, visto que não se tratava de uma cidade costeira. Do ponto de vista comercial, o governo de Moawiya também foi importantíssimo, pois com a conquista do antigo Império Persa, ele dominou as rotas comerciais do oriente e, sendo assim, o comércio Mediterrâneo (coisa que foi facilitada pelo poderio da marinha de guerra). O domínio das rotas comerciais deu novo fôlego ao Império que havia percebido a falha de seu sistema de tributação dos infiéis (sistema criado por Omar e que se esfacelou no final do governo de Uthman, com a conversão em massa das populações dominadas à fé Islâmica). O sistema de tributação perdurou, pois era interessante como forma de compelir, não violentamente, os dominados à conversão, porém, já não era a responsável pela economia do Império, que se apoiava agora no comércio oriental e Mediterrâneo. No tocante às dissensões religiosas, Moawiya encontrou duras ações dos Kharidjitas, porém, se mostrou hábil em contornar os ânimos dos Xiitas. Estes eram mais numerosos, mas menos agressivos e organizados que aqueles. Por fim, sobre o governo de Moawiya é interessante assinalar a importância da formação da Monarquia Nacional e Centralizada. Centralizada ela era devido ao poder supremo do Califa,
  • 27. tanto no tocante às nomeações, quanto à administração, porém, o caráter Nacional era novo, visto que anteriormente, os Islâmicos eram considerados pertencentes cidadãos do Império, agora não mais, estes eram apenas os Árabes, ou seja, os nascidos (ou descendentes de nascidos) na região que vai do Iêmen (no sul da península Arábica) até a Síria (onde se localiza Damasco). Dessa forma, mesmo que estes não fossem Islâmicos, seriam considerados cidadãos. O governo de Moawiya, e a dinastia Omíada como um todo, se caracterizou pelo profissionalismo dos cargos públicos, era uma clara tentativa de combater os graves problemas que ocorreram no governo de Uthman (o primeiro Omíada), quando o critério de seleção para os cargos era o nepotismo. Agora, os altos cargos públicos só eram ocupados por pessoas comprovadamente competentes, mesmo que não fossem Muçulmanas (de fato, houve um grande número de Cristãos ocupando importantes cargos durante a dinastia Omíada). O objetivo dos Califas Omíadas com essa atitude era, não só profissionalizar o Estado, como também fazer o Império prosperar pela competência administrativa (competência esta copiada, em muito, do Império Bizantino, daí os Cristãos no governo). A colocação de não Muçulmanos em cargos públicos causava a revolta de alguns mais exaltados, mas é importante que se note que todos os Califas Omíadas, sem exceção, sempre foram Muçulmanos tradicionalistas (Sunitas) e grandes observadores da fé, do Alcorão e dos costumes Árabes (as Sunnas de Maomé, daí Sunitas). 6.1.2 – Yazid (680 – 683): Em 680, Moawiya morreu, mas seu filho, Yazid, já estava homologado há muito tempo pela Shura, sendo assim, assumiu sem problemas. Porém, se por um lado não houve problemas legais na cúpula Imperial, por outro, Husayn, irmão de Hassan e filho de Ali, instalado em Meca e com o auxílio de Abdallah ibn al-Zubayr, recusa-se a reconhecer o novo Califa. Kufa, a cidade que Ali escolhera para ser sua capital, apóia Husayn e este se dirige para lá, em busca de homens para formar seu exército. No entanto, no meio do caminho, é morto e decapitado (10 de outubro de 680). Para os Xiitas, que consideravam Husayn como seu segundo Imam, a morte de seu líder foi glorificada como um ato de auto-sacrifício (em busca da salvação eterna ao lado de Allah), sendo assim, o local da morte do filho de Ali se tornou imediatamente um local de peregrinação Xiita. A morte do Imam, como já me referi anteriormente, incitou os Xiitas contra os Omíadas e gerou os movimentou que ficaram conhecidos como: "A Revoluções Xiitas no Islã". Esse movimento foi mais forte durante a dinastia Omíada e, como veremos, contribuiu muito para sua derrobada, em 750. Porém, mesmo depois de 750, os Xiitas continuaram causando problemas aos Islâmicos de outras seitas, inclusive, em 1980, quando ocorreu a Revolução Xiita Iraniana, que derrubou o Xá Rezah Pahlavi, e instaurou no poder o Aiatolá Khomeini, o povo, nas ruas, portava estandartes nos quais estava escrito: "Xá = Yazid / Khomeini = Hussayn", numa clara alusão à idéia de que a deposição do Xá viria vingar o marte de Hussayn, operada por Yazid, em 680. Apesar da morte de Husayn, al-Zubayr atinge Kufa e consegue reunir sob seu comando tanto Xiitas, como Kharidjitas (ambos unidos pelo ódio aos Omíadas), sendo assim, quando retorna ao Hedjaz, faz eclodir uma revolução em Medina e Meca. Os Omíadas são expulsos da região e, temporariamente, esta passa a ser governada pelos revoltosos. A reação Imperial não tarda, o general Muslim é enviado, em 682, à região e impõe
  • 28. uma séria derrota aos revoltosos, na cidade Medina. Porém, em Meca, o general não tem a mesma sorte, numa batalha sangrenta, Meca é incendiada, mas os exércitos do Califa, inclusive Muslim, perecem. No incêndio, a Caaba é destruída. Nova investida, sob o comando de Ibn Numayr, ia ser feita, em novembro de 683, mas o Califa morre e a expedição é cancelada. O filho de Yazid era Moawiya II, que, assim como ocorrera com o pai, já havia sido homologado como herdeiro durante seu governo. Porém, o novo Califa assume o trono e, quarenta dias depois, falece, vítima de uma grave doença. A morte prematura de Moawiya II coloca o Império sob um breve período de Anarquia, uma vez que Yazid tinha apenas 38 anos de idade e como tal, não podia ter um filho velho o suficiente para ter um herdeiro capaz de assumir o trono. Além das guerras ocorridas no breve governo de Yazid, houve uma expansão dos domínios no norte da África, no entanto, esta expansão foi realizada de forma impensada, pelo general Oqba ibn Nafi e, sendo assim, apesar de ter atingido o Maghreb pela primeira vez, gerou uma guerra ferrenha contra os Berberes e pôs as conquistas em risco. Tanto que, em 681, o general foi morto e suas tropas desbaratadas, o que ocasionou o avanço dos Berberes e a conseqüente evacuação de Trípoli pelos Árabes, ou seja, no norte da África o Império começava a recuar. 6.1.3 – Mawan (684 – 685): A morte de Moawiya II finalizou o braço principal do clã Omíada, sendo assim, o mais velho membro de um outro braço do clã, Marwan, foi nomeado Califa. Porém, ele estava numa situação difícil, pois além de já contar mais de 70 anos de idade (o que lhe dificultava a locomoção junto das tropas), a demora para sua escolha (mais de três meses se passaram entre a morte de Moawiya II e a posse de Marwan) possibilitou que al-Zubayr fosse eleito Califa na Arábia. O líder dos revoltosos tinha o apoio inconteste do Iraque e o Egito havia se aliado a ele, sendo assim, das cinco principais regiões do Império (Arábia, Síria, Egito, Iraque e Oriente (visto que a Tripolitânia, região a oeste do Egito, havia sido perdida em 681)), três apoiavam al-Zubayr, uma apoiava Marwan e a outra, o Oriente (composto por regiões distantes como Kabul, na China, certas regiões da Índia e do Turquestão (Mongólia)), estava há tão pouco tempo conquistada, que tendia mais a se separar do Império, do que a apoiar um dos dois pretendentes ao trono. Para agravar ainda mais a situação de Marwan, começava a surgir na própria Síria, um forte partido, os banu Qays, que apoiava al-Zubayr na sucessão Imperial. O próprio Marwan estava a ponto de renunciar em favor do concorrente, mas um fato viria mudar o panorama político que estava em vias de se definir em prol dos revoltosos, cujo corpo era composto por Xiitas e Kharidjitas. Discordâncias entre al-Zubayr e seus comandados fizeram com que, tanto Xiitas, quanto Kharidjitas, se declarassem independentes em relação a seu governo. Esse fato encoraja Marwan a encarar uma luta contra o opositor, na medida em que reduziu brutalmente suas fileiras. O Califa (chamarei à partir daqui Marwan e os Califas Omíadas, de Califas e al-Zubayr, de Anticalifa) consegue colocar toda a Síria sob sua autoridade e então marcha rumo ao Egito. Lá, ele derrota o governador nomeado por al-Zubayr e reintegra a região a seus domínios. No entanto, quando o velho Califa retorna a Damasco e começa a
  • 29. preparar sua investida contra a península Arábia, morre, em conseqüência de sua avançada idade. 6.1.4 – Abd al-Malik (685 – 705): A morte de Marwan não se torna nenhum grande problema, pois, justamente por ter assumido em idade avançada, o Califa havia pensado desde o princípio em homologar seu sucessor. E este era seu filho, Abd al-Malik. Quando o novo Califa assume, o Império está dividido em dois: metade (Egito e Síria) sob seu controle e a outra metade (Arábia e Iraque) sob o poder do Anticalifa de Meca. Além dos problemas que isso acarretaria ao novo Califa, o Império Bizantino percebe que se trata de uma boa hora para reconquistar o que lhe fora tomado, sendo assim, inicia-se (pelo mar e pelo norte) uma forte investida Bizantina contra os domínios de al-Malik. Se por um lado o Califa passava por um período difícil, com os Bizantinos tendo lhe tomado a Fenícia, penetrado na Armênia, reconquistado algumas regiões do norte da África e imposto pesados tributos; por outro, o Anticalifa também tinha sérios problemas. A al-Zubayr só restavam a Arábia e o Iraque, o ele residisse na primeira, entregou o governo da segunda a seu irmão, Musab. Musab teve de enfrentar, radicado numa província que não lhe era totalmente leal, duros embates com Xiitas e Kharidjitas. Para os primeiros, surge um líder importantíssimo, al- Muhtar, que altera as orientações teológicas da seita. Em 685, al-Muhtar e seu general, Ibn al- Astar, tomam Kufa e continuam avançando, dominando cidade após cidade. O irmão do Anticalifa, no entanto, consegue vencer os revoltosos e recuperar Kufa. Com a morte de al- Muhtar, o general Ibn al-Astar se submete a Musab, em 687. Enquanto o Anticalifa se fortalecia, ao vencer os revoltosos do Iraque, o Califa pensava numa maneira de interromper a seqüência de derrotas que lhe vinham sendo impostas. Decidiu, então, em 688, utilizar-se de uma "jogada de marketing" para combater o rival. Uma vez que é obrigação de todo Muçulmano peregrinar pelo menos uma vez na vida à Meca (estando livres apenas aqueles a quem faltam recursos), todos os que iam para Meca (capital do Anticalifa) podiam ser expostos à maquina de propaganda de al-Zubayr, sendo assim, o Califa proibiu seus súditos da Síria e do Egito de peregrinarem a Meca. Para compensa-los, utilizou-se das próprias palavras de Maomé, que se dizia o terceiro profeta (sendo o primeiro Moisés e o segundo Jesus). Dessa forma, a cidade sagrada de Jesus (Jerusalém) também poderia ser sagrada para Maomé e seus filhos, assim, o Califa construiu em Jerusalém, no local do antigo templo hebraico (destruído pelos Romanos e cujas ruínas constituem, hoje, o Muro das Lamentações) a Mesquita de Omar, mais conhecida hoje como O Domo da Rocha, destinada a ser o novo local de peregrinação Muçulmana, em substituição a Meca. Aliada à tática da propaganda, Abd al-Malik investe em seus exércitos e, em 690, consegue derrotar o governador do Iraque e retomar a província. Com a retomada do Iraque, as províncias orientais, sobre as quais a autoridade de um Califa não se fazia sentir desde Yazid, foram reintegradas. Cerca de um ano depois da retomada do Iraque, o general al-Hadjdjadj, aliado ao Califa, invadiu Meca e, matando o já idoso Anticalifa, reunificou o Império. A este general, como prêmio, foi entregue o governo da maior província do Império, o Iraque, que contava agora em seu território com as províncias orientais. Apesar do poder que proporcionava governar
  • 30. tamanha região, isto também constituía um problema, pois o Iraque, desde aquela época já era um verdadeiro "barril de pólvora" (e olhem que a pólvora ainda nem tinha sido inventada). O governador teve de enfrentar diversas rebeliões de Xiitas e Kharidjitas. Porém, a pior de todas as revoltas foi a de um general seu, Ibn al-Asat, que fora enviado para derrotar um Rei Turco (lembrem-se que os Turcos dessa época não viviam na Turquia atual, mas no Turquestão, uma região situada nas atuais Mongólia e China), mas que se aliou com este para derrotar o governador. Esta revolta foi dificilmente apaziguada, o que fez com que o governador tomasse medidas drásticas: construiu uma nova capital para a província, muito mais fortificada do que Kufa, a cidade de Wasit e obrigou os recém convertidos ao Islã a pagarem tributo, como forma de impedir que conspiradores se convertessem só para se livrarem de impostos. No tocante ao ocidente, o Califa organizou a retomada das regiões perdidas, entregou o comando das tropas daquela frente a Hassan al-Numan. O general avançou com muito êxito, com seu numeroso exército e, mesmo combatido pelos Berberes, conseguiu tomar Cartago, em 692. Boa parte dos habitantes da cidade se refugiaram na Sicília (região pertencente ao Império Bizantino), o que fez com que a notícia chegasse rapidamente e com forte impacto a Constantinopla. Uma grande esquadra Bizantina, com muitos homens, foi enviada a Cartago e, em 697, ela foi retomada pelos Bizantinos. Os Berberes auxiliaram os Bizantinos e impuseram graves derrotas a al-Numan. Porém, o general não se deixou abater, reuniu novos contingentes e partiu contra as regiões das quais havia sido expulso. Em 698, retomou Cartago, que foi inteiramente destruída, e Derrotou Kahena, a rainha dos Berberes. Esta região constituiria a província da Ifríqiya, e passaria a ser organizada pelo conquistador. O general investiu no desenvolvimento de um pequeno povoado (ao que parece muito antigo, de origem Fenícia), que existia nos arredores de Cartago. Este povoado se chamava Túnis e se tornaria a capital da província conquistada. Com o tempo, Túnis cresceu e ocupou o território onde um dia existiu Cartago. Em 705, Abd al-Malik faleceu, mas deixou seu nome gravado para sempre na História, como sendo o homem que reconstruiu um Império que estava à beira do precipício, ou seja, como um dos maiores estadistas de todos os tempos. 6.1.5 – Al-Walid (705 – 715):