1. O PAPEL DA GEOGRAFIA *
A Geografia foi implantada no sistema público no século XIX, quando as crianças
foram obrigadas a freqüentar as escolas. O primeiro estado a implantar no sistema esta disciplina
foi a Prússia, por coincidência, foi neste país que foi sistematizado e virou disciplina ou ciência
autônoma.
A função da Geografia no inicio era divulgar idéias favoráveis da Pátria, do Estado-
Nação. O exemplo alemão foi desenvolvido por outros países desenvolvidos (Estados Unidos, Grã-
Bretanha). No século XIX o ensino da Geografia desempenhou um importante papel no processo de
construção das nações (...). A escola foi fundamental porque imponha uma língua oficial, a qual
todos tinham que falar e escrever. Na escola o ensino da Geografia consolidava um patriotismo,
mostrava a nossa Pátria, que era identificada pelos mapas pelo contorno cartográfico.Todos os
manuais de Geografia pregava que o nosso país era de futuro, nossas paisagens eram as mais belas,
etc. Era uma Geografia voltada para a memorização, pois o que importava era assimilar dados e
informações, obedecer , servir a Pátria no caso de guerra.
Nos anos cinqüenta, século XX (na França, EUA, Itália, etc) e no Brasil nos setenta
(XX) nasce a Geografia Crítica, O nacionalismo existente no século anterior começa a decair,
houve o advento, a expansão das multinacionais, crescimento notável no comércio internacional, a
formação dos blocos econômicos. E aí a importância de formar cidadãos ativos, participantes na
sociedade e nas transformações.
Com a terceira revolução tecnológica exige-se maior nível de escolaridade, mão de obra
mais especializada, pessoas que saibam criar, inovar.
Segundo Vesentini (2001), acabou a era dos diplomas, é necessário ensinar os alunos a
pesquisar, a aprender a aprender, a enfrentar desafios. Oliveira (1994), coloca que a Geografia,
como as demais ciências, fazem parte do currículo na escola básica e procura desenvolver no aluno
a capacidade de observar, analisar, interpretar e pensar criticamente a realidade tendo em vista a sua
transformação.
Apesar da Geografia, como as demais ciências humanas terem passado por um processo
de discussão de suas teorias e métodos. Ainda é necessário, ainda, abrir a possibilidade da efetiva
integração metodológica entre as diferentes áreas do ensino, de modo a destruir a compartimentação
do saber, imposta pelos currículos atuais. E construir/reconstruir o conceito de totalidade, de modo
que o aluno possa simultaneamente, pensar o presente/passado e rediscutir o futuro, que, antes de
tudo, lhe pertence.
Ao profissional de Geografia, cabe a tarefa de desenvolver no aluno a visão de
totalidade da sociedade brasileira, concebendo esta totalidade como produto da unidade na
diversidade, logo, síntese de múltiplas determinações, também a tarefa de ensinar conceitos
elementares de Geografia, economia, política, sociologia, antropologia, e de outras ciências
humanas e da natureza, tais como: geologia, geomorfologia, climatologia, astronomia, etc.
Portanto a transmissão / formação desses conceitos passa necessariamente pela questão
ideológica, pela ideologia de classe que o professor. Esta ideologia é que dá parâmetros para a
definição e escolha da Geografia que se ensina, para possibilitar às crianças o processo de
amadurecimento físico, intelectuais e sociais, formando alunos críticos ou não, que permite se
posicionarem em relação ao futuro ou alienarem-se.
Certamente, quem quer transformar a realidade presente, precisa optar por um escola,
uma educação e uma Geografia que permitam construir um futuro mais consciente.
Não se pode esquecer que o aluno é UNO, da sua individualidade, de seus interesses, de
suas potencialidades, da situação cultural, econômica, social e política do momento. Não se
preocupar apenas com a transmissão dos conteúdos, sem localizá-los ou relacioná-los com a
atualidade. A história de vida do aluno e o advento dos paradigmas vigentes desta sociedade, a
sociedade globalizada, irrompem com força mostrando a necessidade de ajuste a uma nova
realidade.
Percebe-se a fragmentação do saber e o esfacelamento do ensino em algumas escolas,
devido à especialização, onde cada um sabe apenas da sua área específica e as vezes sabe pouco,
2. pois não lhe dá condições de interconectar todas as informações recebidas, para apropriar-se do
conhecimento do todo, proposto na temática escolhida pela escola.
De acordo com esta constatação, a educação apresenta um quadro deplorável, há uma decadência
significativa no campo do conhecimento. Ou seja, em função da crescente especialização das
disciplinas, há um esfacelamento do saber cientifico, resultando neste estado lamentável de
fragmentação do ensino, como diz Japiassu (1976,p.40-41)
A especialização exagerada e sem limites das disciplinas científicas, a partir, sobretudo, do
século XIX, culmina cada vez mais numa crescente fragmentação do horizonte
epistemológico. No final das contas, para retomarmos a de G.K. Chesterton, o especialista
converteu-se neste homem que, a força de conhecer cada vez mais sobre um objeto, cada
vez menos extenso, acaba por saber tudo sobre o nada. Nesse ponto de esmigalhamento do
saber, a exigência interdisciplinar não passa de manifestação, no domínio do
conhecimento, de um estado de carência .
Com isso, a escola deixa de cumprir seu papel, de proporcionar ao aluno condições de
desenvolvimento integral e de produção do seu conhecimento, o que possibilitaria seu engajamento
e participação na sociedade.Sobre isso, Freire ( 1997,p.76) explicita:
A capacidade de aprender, não apenas para nos adaptar mas sobretudo para transformar a
realidade, para nela intervir, recuando a fala de nossa educabilidade a um nível distinto do
nível do adestramento dos outros animais ou do cultivo das plantas.
Verifica-se que há necessidade de mudanças de paradigmas, para conceber o processo
de ensino e de aprendizagem. A sociedade requer homens holísticos, capazes de compreender sua
própria vida, com capacidade de criar, para gerar lucros e para viver com qualidade nas relações
humanas trabalhistas e sociais.
É possível tornar o aluno construtor do seu conhecimento, superando esta fragmentação
no ensino e recompondo o conhecimento fragmentário através do paradigma da
Interdisciplinaridade. Mas para que isso aconteça à escola precisa proporcionar, aos seus
professores, espaços e tempos para o planejamento de suas aulas, de forma coletiva, a fim de tornar
os alunos – homens holísticos do futuro.
O professor precisa ter clareza de como o aluno adquire o conhecimento, para poder ter
clareza do papel da Geografia.
Becker (1996) enfatiza que na verdade existem dois tipos de conhecimento: o
conhecimento que vem da prática e os conhecimentos teóricos que os educadores recebem na
universidade. A noção de prática está vinculada ao fazer, enquanto a de teoria, aos conteúdos que a
escola pretende transmitir.
A prática, no entanto deve ser uma estratégia que torna possível a apreensão da teoria.
Todos os professores têm teoria, mas nem sempre suas práticas são fundamentadas nas teorias, que
suas falas apresentam. A prática revela a verdadeira teoria do professor, essa teoria vem da força
trazida pelo professor, que na maioria das vezes não se questiona sobre sua origem. A prática é um
recurso sensorial, que permite a retenção da teoria pelo sujeito da aprendizagem.
Oliveira (1994) afirma que :
É na escola que uma parte do processo de conscientização e/ou não
conscientização se desenvolve. Todas as disciplinas têm papel a desempenhar
nesse processo. À Geografia cabe papel singular nesta questão. Possibilitar aos
alunos um processo de amadurecimento físico e intelectual criando um universo
crítico que lhes permita se posicionar em relação ao futuro.
A Geografia precisa ensinar de forma condizente com o tempo em que vivemos e estar
atentos às alterações que ocorrem nos diferentes espaços (município, estado, país).
3. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSULTADAS
ALMEIDA, Rosângela Doin. A Propósito da Questão Teórico-Metodologico do Ensino da
Geografia. In: Revista Terra livre. São Paulo: AGB / marco zero
BECKER, Fernando. Epistemologia do professor: cotidiano da escola. Petrópolis: Vozes, 1993.
CALLAI, H. C. (org). O Ensino da geografia. Ijuí: UNIJUÍ, 1986.
CASTRO, Iná R. de, GOMES, Paulo César da C. e CORREA, Roberto L. (org) Geografia:
conceitos e temas. Rio de Janeiro; Bertrand Brasil, 1995.
Freire, Paulo. Pedagogia da Autonomia: Saberes necessários à prática educativa.São Paulo, ed.
Paz e Terra, 1997.
JAPIASSU, Milton. Interdisciplinaridade e Patologia do Saber. Rio de Janeiro: Image. 1976.
LÜCK, Heloisa: Pedagogia interdisciplinar. fundamentos teóricos – metodológicos. 3 ed.
Petrópolis: Vozes, 1997.
MORAES, Antônio Carlos Robert. Geografia: pequena história crítica. São Paulo: Hucitec,
1983.
________. Técnica Espaço Tempo - Globalização e meio técnico- científico informacional. São
Paulo: Hucitec, 1994.
NIDELCOFF. Maria Teresa. As Ciências sociais na escola. Editora Brasiliense. 1987.
OLIVEIRA, A U. A . Para onde vai o ensino da geografia. São Paulo: ed. Contexto. 1994
( Coleção repensando o ensino).
RUA. J. Para ensinar geografia – contribuição para o trabalho com 1º e 2º graus. Rio de
Janeiro: Acess. 1993.
SANTOS, Milton. Espaço e método. São Paulo: Nobel , 1985.
SANTOS, Milton. Metamorfoses do espaço habitado: fundamentos teóricos e metodológicos da
geografia. São Paulo: Hucitec, 1988.
* por Cléa Hempe: Especialista em Orientação e Supervisão Escolar pela UNICRUZ, tutora no
curso de Especialização em Educação Ambiental, aluna no curso de Mídias na Educação pela
UFSM e aluna do Curso de Gestão de Polos pela UFPEL.