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25 de Abril de 1974
Revolução Eles não sabem que o sonho é uma constante da vida tão concreta e definida  como outra coisa qualquer  como esta pedra cinzenta em que me sento e descanso como este ribeiro manso em serenos sobressaltos como estes pinheiros altos que em verde e oiro se agitam como estas árvores que gritam em bebedeiras de azul.  Eles não sabem que sonho é vinho, é espuma, é fermento bichinho alacre e sedento de focinho pontiagudo que fuça através de tudo Em  em perpétuo movimento.  Eles não sabem que o sonho é tela é cor é pincel base, fuste, capitel que é retorta de alquimista mapa do mundo distante Rosa dos Ventos Infante caravela quinhentista que é cabo da Boa-Esperança  Ouro, canela, marfim florete de espadachim bastidor, passo de dança Columbina e Arlequim passarola voadora pára-raios, locomotiva barco de proa festiva alto-forno, geradora cisão do átomo, radar ultra-som, televisão desembarque em foguetão na superfície lunar  Eles não sabem nem sonham que o sonho comanda a vida que sempre que o homem sonha o mundo pula e avança como bola colorida entre as mãos duma criança Pedra Filosofal  António Gedeão
Democracia Eu vi Abril por fora e Abril por dentro vi o Abril que foi e Abril de agora eu vi Abril em festa e Abril lamento Abril como quem ri como quem chora. Eu vi chorar Abril e Abril partir vi o Abril de sim e Abril de não Abril que já não é Abril por vir e como tudo o mais contradição. Vi o Abril que ganha e Abril que perde Abril que foi Abril e o que não foi eu vi Abril de ser e de não ser. Abril de Abril vestido (Abril tão verde) Abril de Abril despido (Abril que dói) Abril já feito. E ainda por fazer. Abril de sim, Abril de Não  Manuel Alegre
Liberdade No céu cinzento  Sob o astro mudo  Batendo as asas  Pela noite calada  Vêm em bandos  Com pés de veludo  Chupar o sangue  Fresco da manada  Se alguém se engana  Com seu ar sisudo  E lhes franqueia  As portas à chegada  Eles comem tudo  Eles comem Amtudo  Eles comem tudo  E não deixam nada  A toda a parte  Chegam os vampiros  Poisam nos prédios  Poisam nas calçadas  Trazem no ventre  Despojos antigos  Mas nada os prende  Às vidas acabadas   Vampiros  São os mordomos  Do universo todo  Senhores à força  Mandadores sem lei  Enchem as tulhas  Bebem vinho novo  Dançam a ronda No pinhal do rei  Eles comem tudo  E não deixam nada  No chão do medo  tombam os vencidos  Ouvem-se os gritos  na noite abafada  Jazem nos fossos  Vítimas dum credo  E não se esgota  O sangue da manada  Se alguém se engana  Com seu ar sisudo  E lhes franqueia  As portas à chegada  Eles comem tudo  E não deixam nada  Zeca Afonso
 

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  • 4. Liberdade No céu cinzento Sob o astro mudo Batendo as asas Pela noite calada Vêm em bandos Com pés de veludo Chupar o sangue Fresco da manada Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo Eles comem Amtudo Eles comem tudo E não deixam nada A toda a parte Chegam os vampiros Poisam nos prédios Poisam nas calçadas Trazem no ventre Despojos antigos Mas nada os prende Às vidas acabadas Vampiros São os mordomos Do universo todo Senhores à força Mandadores sem lei Enchem as tulhas Bebem vinho novo Dançam a ronda No pinhal do rei Eles comem tudo E não deixam nada No chão do medo tombam os vencidos Ouvem-se os gritos na noite abafada Jazem nos fossos Vítimas dum credo E não se esgota O sangue da manada Se alguém se engana Com seu ar sisudo E lhes franqueia As portas à chegada Eles comem tudo E não deixam nada Zeca Afonso
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