3. Reflexão:SEGUE O SECOCarlinhos Brown A boiada seca Ô chuva vem me dizer Na enxurrada seca Se posso ir lá em cima A trovoada seca pra derramar você Segue o seco sem secar Ó chuva preste atenção que o caminho é seco Se o povo lá de cima sem secar que vive na solidão o espinho é seco Se acabar não acostumado sem secar que Se acabar parado, calado seco é o Ser Sol Se acabar baixinho chorando Sem sacar que Se acabar meio abandonado algum espinho seco secará Pode ser lágrima de São Pedro E a água que secar Ou talvez um grande amor chorando será um tiro seco Pode ser desabotoado céu E secará o seu destino seca. Pode ser coco derramado Guia de Literatura Professor André Guerra
4. De quem é a culpa? Do clima? Do solo? De Deus? E o homem? Guia de Literatura Professor André Guerra
5. CarcaráJoão do Vale CarcaráLá no sertãoÉ um bicho que avoa que nem aviãoÉ um pássaro malvadoTem o bico volteado que nem gaviãoCarcaráQuando vê roça queimadaSai voando, cantando,CarcaráVai fazer sua caçadaCarcará come inté cobra queimadaQuando chega o tempo da invernadaO sertão não tem mais roça queimadaCarcará mesmo assim num passa fomeOs burrego que nasce na baixadaCarcaráPega, mata e come CarcaráNum vai morrer de fomeCarcaráMais coragem do que homeCarcaráPega, mata e comeCarcará é malvado, é valentãoÉ a águia de lá do meu sertãoOs burrego novinho num pode andáEle puxa o umbigo inté matáCarcaráPega, mata e comeCarcaráNum vai morrer de fomeCarcaráMais coragem do que homeCarcará Guia de Literatura Professor André Guerra
10. ENREDO SINTÉTICO É a história de uma família de retirantes que vive em pleno agreste os sofrimentos da estiagem (...), um homem, uma mulher, seus filhos e uma cachorra tangidos pela seca e pela opressão dos que podem mandar (...). O que havia de unitário nas obras anteriores(do autor), apoiadas no eixo de um protagonista, dispersa-se (...)nos “casulos da vida isolada que são os diversos capítulos”, enfim, na desagregação a que o meio arrasta os destinos inúteis de Fabiano, Sinha Vitória, Baleia... (Alfredo Bosi – História concisa da literatura brasileira) Guia de Literatura Professor André Guerra
11. LINGUAGEM: As frases curtas, a pontuação precisa e cortante, o uso do futuro do pretérito nas personagens em que o discurso indireto livre permite que sejam expressos os sonhos das personagens, a inexistência de diálogos, a abundância de interjeições, exclamações, sons onomatopaicos, substituindo a fala das personagens e mostrando-lhes a animalidade, constituem alguns dos elementos enriquecedores de Vidas Secas. Guia de Literatura Professor André Guerra
12. LEMBRE-SE: • No DISCURSO DIRETO o personagem fala. Reprodução das palavras ditas pelo personagem. Normalmente, o discurso direto é encontrado nos diálogos. Ex.:“E aos conhecidos que dormiam no tronco e agüentavam cipó de boi oferecia consolações. ─ ‘Tenha paciência, apanhar do governo não é desfeita’” • No DISCURSO INDIRETO o narrador é quem transmite as idéias expressas pelo personagem. É o narrador quem fala, e não o personagem. Ex.:Sinha Vitória botou os filhos para dentro de casa, dizendo- lhes que estavam sujos como papagaios. Guia de Literatura Professor André Guerra
13. • No DISCURSO INDIRETO LIVRE não existe pensamento expresso pelo personagem. O personagem apenas pensa. O narrador reproduz a linguagem que está no pensamento do personagem. Em outros termos: a fala interior do personagem se intercala e se funde à linguagem com que o narrador relata os fatos. Ex.:“Suponha que o cevado era dele. Agora se a prefeitura tinha uma parte, estava acabado. Pois ia voltar para casa e comer a carne. Podia comer a carne? Podia ou não podia? O funcionário batera o pé agastado e Fabiano se desculpara.” Guia de Literatura Professor André Guerra
14. OS MUNDOS Mundo dos oprimidos Mundo dos opressores ● FABIANO ● SINHA VITÓRIA ● O FILHO MAIS VELHO ● O FILHO MAIS NOVO ● BALEIA E O PAPAGAIO ● PATRÃO DE FABIANO ● FISCAL DA PREFEITURA ● SOLDADO AMARELO Guia de Literatura Professor André Guerra
15. E Tomás da Bolandeira? Está entre os opressores ou entre os oprimidos? Guia de Literatura Professor André Guerra
16. O elemento Humano em Vidas Secas Guia de Literatura Professor André Guerra
19. O BICHO Vi ontem um bichoNa imundície do pátioCatando comida entre os detritos.Quando achava alguma coisa,Não examinava nem cheirava:Engolia com voracidade.O bicho não era um cão,Não era um gato,Não era um rato.O bicho, meu Deus, era um homem. Manuel Bandeira -Rio, 27 de dezembro de 1947 Guia de Literatura Professor André Guerra
20. Súplica cearenseLuiz Gonzaga Oh! Deus, perdoe este pobre coitadoQue de joelhos rezou um bocadoPedindo pra chuva cair sem pararOh! Deus, será que o senhor se zangouE só por isso o sol se arretirouFazendo cair toda chuva que háSenhor, eu pedi para o sol se esconder um tiquinhoPedir pra chover, mas chover de mansinhoPra ver se nascia uma planta no chão Meu Deus, se eu não rezei direito o Senhor me perdoe, Eu acho que a culpa foiDesse pobre que nem sabe fazer oraçãoMeu Deus, perdoe eu encher os meus olhos de águaE ter-lhe pedido cheinho de mágoaPro sol inclemente se arretirarDesculpe eu pedir a toda hora pra chegar o invernoDesculpe eu pedir para acabar com o infernoQue sempre queimou o meu Ceará Guia de Literatura Professor André Guerra