SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 87
Linguística I – 2º. sem 2014
Prof. Dra. Águida Ap. Gava
guidag@gmail.com
Linguística I - Conteúdo
• Saussure:
• O Signo
• A língua
• Língua e Linguagem
• Paradigmas linguísticos:
Quatro dicotomias saussurianas:
• língua e fala,
• significante e significado,
• sincronia e diacronia,
• e paradigma e sintagma
• Em sala: Filme: NELL – Jodie
Foster (1994) x cap. I a IV, debate
em sala – levantamento de
questões.
apoio bibliográfico
• SAUSSURE, Ferdinand de (1969).
Curso de lingüística geral. São
Paulo: Cultrix, 2006.
• FIORIN et al. Saussure: a invenção
da Linguística. Ed. Contexto, 2013.
• Apostila prof. Evani Viotti (USP)
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 2
Linguística – temos dois grandes paradigmas:
• Pesquisas empíricas: A LÍNGUA EXTERNALIZADA
• Análise de corpus – da linguística escrita e falada (a base: corpus)
• Sociolinguística
• Pragmática
• Linguística aplicada EXPERIÊNCIAS
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 3
Linguística – temos dois grandes paradigmas:
• Pesquisas introspectivas: A LÍNGUA INTERNALIZADA
• ESTRUTURALISMO
• GERATIVISMO
• FUNCIONALISMO
BASE: INTUIÇÃO DO
PESQUISADOR SOBRE O
FUNCIONAMENTO DO
PROPRIO CÉREBRO
Obs.: A linguística computacional
utiliza resultados de pesquisas
introspectivas
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 4
O Curso de Linguística Geral: A língua para
Ferdinand de Saussure
• O suíço Ferdinand de Saussure- o pai da linguística moderna.
• Ministrou três cursos na Universidade de Genebra, na Suíça nos anos
de 1907, 1908 e 1910;
• Anotações de Saussure e anotações de alunos em suas aulas, e, em
1916, dois grandes linguistas: Albert Sechehaye (1870 – 1946) e
Charles Bally (1965-1947)(editores) reuniram o material e publicaram
a famosa obra intitulada: Curso de Linguística Geral (CLG) retratando
o pensamento de Saussure.
• Obra póstuma – falecera em 1913.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 5
O Curso de Linguística Geral: A língua para
Ferdinand de Saussure
• Com Saussure, os estudos linguísticos passam a se interessar pela
língua como um sistema de valores estruturado e autônomo,
• para toda e qualquer produção linguística, seja ela feita em
português, em inglês, em francês, em libras, ou em qualquer outra
língua.
• A linguística é concebida como uma ciência: ela não só descreve fatos
linguísticos, mas busca uma explicação coerente para sua ocorrência.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 6
O pensamento de Saussure: SIGNO
• Um signo assume seu valor em
oposição aos outros valores que
poderiam assumir.
• É como o sol de verão queimando
no peito..
• Conjunção sol e sol é fogo!
• Solução de emaconhado é tapar o
sol com a peneira;
• Enquanto houver sol ainda haverá..
• Please don't take my sunshine away
SOL
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 7
O pensamento de Saussure: SIGNO
• O signo• O signo linguístico
(palavra) é composto de
duas partes chamadas
SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO
• 1. Significante: parte
física da palavra( grafia +
som).
• 2. Significado: conceito
transmitido pelo
significante.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 8
O pensamento de Saussure: SIGNO
• De forma geral, pode-se dizer
que o signo linguístico é
arbitrário porque é sempre uma
convenção reconhecida pelos
falantes de uma língua.
• não existe uma relação natural
entre a realidade fonética de um
signo linguístico e o seu
significado,
• significante e significado não
apresentam relação lógica entre
si, principalmente em relação ao
som (pense na palavra copo
para várias línguas).
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 9
O pensamento de Saussure: LINGUAGEM
• Linguagem: faculdade humana, uma capacidade que os
homens têm para produzir, desenvolver, compreender a
língua e outras manifestações simbólicas semelhantes à
língua.
• A linguagem é heterogênea e multifacetada:
• ela tem aspectos físicos, fisiológicos e psíquicos, e
• pertence tanto ao domínio individual quanto ao domínio
social.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 10
A LÍNGUA
• A língua é diferente: parte definida e essencial da faculdade da
linguagem.
• Ela é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de
convenções necessárias, estabelecidas e adotadas por um grupo
social para o exercício da faculdade da linguagem.
• A língua é uma unidade por si só.
• Para Saussure, ela é a norma para todas as demais manifestações da
linguagem.
• Princípio de classificação, pelo qual é possível estabelecer uma certa
ordem na faculdade da linguagem.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 11
LÍNGUA E LINGUAGEM
• A linguagem é a capacidade através da qual os homens podem
produzir sistemas simbólicos, ou seja, sistemas de conceitos
associados a uma determinada forma, como a língua, as artes
plásticas, o cinema, o teatro, a dança.
• A capacidade da linguagem não pode ser o objeto de estudo de uma
única ciência como a linguística,
• tem características de naturezas diversas: física, fisiológica,
antropológica, etc.
• O objeto da linguística deve ser a língua, que é um produto social da
faculdade da linguagem.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 12
A LÍNGUA
• .
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 13
• Produto social da faculdade da linguagem
• Fenômeno que está além do domínio individual de cada
um de nós.
• Produto de uma comunidade; parte do domínio dessa
comunidade.
• O português brasileiro é a língua de uma grande comunidade
de pessoas ouvintes brasileiros.
• A libras é a língua de uma grande comunidade de pessoas
surdas nascidas no Brasil.
• Elas não se limitam a uma ou outra pessoa. Elas nascem
e se desenvolvem no âmbito de um grupo social, não
no âmbito individual.
A LÍNGUA
• ela existe e se mantém por um acordo coletivo tácito entre os falantes.
• Um falante de uma língua não pode fazer modificações nessa língua a seu bel
prazer.
• De todas as manifestações da faculdade da linguagem, a língua é a que mais
bem se presta a uma definição autônoma.
• Ocupa um lugar de destaque entre as manifestações da linguagem.12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 14
LINGUAGEM E LÍNGUA
• Resumão: A língua e linguagem são bastante
diferentes: a linguagem é uma capacidade
humana, da qual a língua é um produto. A língua é
um fenômeno social e convencional.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 15
Dicotomias Saussurianas
• Os estudos linguísticos modernos que analisam a obra de
Saussure usam o termo “dicotomia” para denominar quatro
pares de conceitos centrais em sua teoria.
• Dicotomia: divisão lógica de um conceito em dois outros
conceitos, em geral contrários, que lhe esgotam a extensão
(AURÉLIO).
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 16
Dicotomias Saussurianas
• Nas dicotomias saussurianas:
• os conceitos dicotômicos se opõem,
• um só pode ser entendido em relação ao outro, e,
• juntos, formam um conceito maior, que é
• central para o entendimento do que é a língua humana.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 17
Dicotomias Saussurianas
Dicotomias saussurianas:
• língua e fala,
• significante e significado,
• sincronia e diacronia,
• e paradigma e sintagma
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 18
Língua x Fala
(Langue x Parole)
• Língua: coletiva e social
Língua, nela está o que é essencial;
A língua não é uma função do falante.
• Cada pessoa nascida no Brasil que
tem o português como língua
materna pode narrar o mesmo
acontecimento de maneiras muito
diferentes, produzindo falas
diferentes mas na mesma língua 
fato que faz com que as pessoas
consigam se comunicar.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 19
• Fala: a manifestação ou
concretização da língua, por um
indivíduo.
• na fala está o que é acessório e
mais ou menos acidental.
• A fala, diferentemente, é um
ato individual de vontade: ao
falar,
• o falante precisa fazer opções
por uma ou outra maneira de
dizer a mesma coisa (escolhe o
vocabulário que vai usar, entre
outras coisas).
LÍNGUA E FALA
A fala é a língua posta em uso.
Ela é a prática da língua, e
apresenta várias propriedades,
que vão muito além do som, do
gesto, ou da grafia.
Para Saussure, a fala não devia
ser estudada pela linguística,
justamente porque ele pensava
que ela era secundária e
assistemática.
Ele não deixa de considerar a
possibilidade de fatos da fala
interferirem na língua, a ponto
de causar algumas mudanças
no sistema.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 20
Língua e Fala - exemplo
• Um exemplo clássico do português é o do
aparecimento, nessa língua, dos fonemas /¥/ e /¯/,
grafados -lh e -nh, respectivamente.
• Eles não existiam em latim. Sua origem é fruto da
palatalização das consoantes /l/ e /n/ diante de /i/,
que deu, como resultado, a pronúncia [fi¥u] para o
latim filiu, e a pronúncia [vi¯a] para o latim vinia.
• Enquanto essas mudanças se mantinham no nível
fonético, elas estavam no domínio da fala. Com o
passar dos anos, no português elas chegaram a
alterar o sistema, passando a adquirir um caráter
distintivo.
• /¥/ e /l/ : galo - galho.
• /¯/ e /n/: pena e penha. Essa distinção, agora, é
parte da língua.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 21
LÍNGUA E FALACada teoria linguística define língua de uma maneira diferente.
A noção de língua de Saussure é uma entre várias noções de língua com as quais a
linguística moderna opera. Para Saussure, a língua é um sistema.
Um sistema é um conjunto organizado de elementos, que se define pelas características
desses elementos, e
no qual cada elemento se define pelas diferenças que apresenta em relação a outro
elemento, e por sua relação com todo o conjunto.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 22
LÍNGUA E FALA
• Pensando em uma escola:
• conjunto de elementos: os estudantes - elementos de uma escola.
• Definição de sistema: o conjunto (escola) definido por sua relação
com as partes (estudantes), e
• as partes (estudantes) definidas por sua relação com o todo (escola).
• Cada grupo de estudante pode ser definido por oposição a um outro
grupo de estudante:
• os da 1ª série são definidos por oposição aos da 2ª série; os do
período da manhã são definidos por oposição aos do período da
tarde; e assim por diante.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 23
LÍNGUA E FALA
• Metáfora da rede de pescar.
• A rede é formada de nós, e cada nó se
relaciona com todos os outros nós da
rede. A rede, que é o conjunto, é definida
como um sistema de nós; os nós, que são
as partes, são definidos por sua relação
com o todo.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 24
Exemplo
• Pensem na palavra /pata/.
• Definindo o fonema /p/
• Eu posso dizer que ele não é /b/, pelo qual
eu obtenho outra palavra: /bata/.
• Eu também posso dizer que /p/ não é /m/.
Porque seria: /mata/.
• Eu posso ir além, e dizer que /p/ não é /l/.
Se eu substituir por que seria /lata/.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 25
• Verbo como cantar, composto de dois morfemas, cant- e -ar.
• oposição com bord-, que forma o verbo bordar.
• oposição com danç-, que forma o verbo dançar.
• E como definir o morfema –ar? Por sua oposição com o morfema -er,
(beber); oposição com o morfema -ir (partir).
• Assim, /p/ tem seu valor linguístico estabelecido por sua diferença em
relação a /b/, a /m/, a /l/.
• O morfema cant- tem seu valor linguístico estabelecido pela oposição
que faz a danç-, a bord-. E o morfema -ar tem seu valor estabelecido
por sua diferença em relação a -er e -ir.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 26
EXEMPLOS
• 1 – A partir de um verbo de ação, crie uma composição e suas
oposições.
• 2- Brinque com oposições em uma rede de frases.
• 3 – Para a rede de Saussure, busque conexões e oposições em
idiomas de línguas irmãs.
• 4- Trace oposições e conexões em uma situação social.
• Resenha do texto: Conversa com Linguistas: Virtudes e controvérsias
da Linguística: Rodolfo Ilari, pg. 97 – 112.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 27
EXERCÍCIO em sala
Linguística I – 2º. sem 2014 – aula 2
Prof. Dra. Águida Ap. Gava
guidag@gmail.com
• Para Saussure, o conjunto de diferenças que existe na língua está
relacionado com a noção de valor. Em todos os exemplos acima, cada
elemento analisado tem seu valor linguístico estabelecido por sua
relação com os demais elementos da língua que sejam da mesma
natureza.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 29
Resumão:
1ª dicotomia: língua e fala
• A língua é um sistema estruturado de elementos, que se define por sua relação com
esses elementos; esses elementos, por sua vez, se definem por sua relação com o
sistema e por sua relação com os demais elementos que compõem o sistema. (para
Saussure, na língua só há diferenças).
• A diferença que se estabelece entre cada elemento do sistema revela seu valor
linguístico;
• A língua é um produto essencial da faculdade da linguagem, com base no qual todas
as outras manifestações da linguagem devem ser analisadas;
• A língua é social, exterior ao indivíduo. Ela existe por uma convenção de uma
comunidade. Não pode ser nem criada, nem modificada por um indivíduo. Nesse
sentido, a língua difere da fala, que é individual.12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 30
2ª. dicotomia saussuriana:
SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO
• A noção de valor introduzida por Saussure trata das
diferenças de que se constitui o sistema linguístico é
de extrema importância na consideração dos dois
elementos .
• As ideias,
• sons ou
• gestos.
• .
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 31
Entram na
constituição do
signo linguístico
E o que é um signo linguístico
• Signos são unidades linguísticas que significam alguma coisa.
• Por exemplo, mesa é um signo do português
• Arvoredo - composta de dois outros signos menores: arvor- (árvore)
e -edo, que significa conjunto de alguma coisa.
• Sentenças também são signos do português, porque significam
alguma coisa.
• Textos também são grandes signos, na medida em que possuem uma
significação própria.
• poemas, obras literárias.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 32
E o que é um símbolo
• A palavra símbolo é utilizada para designar o signo linguístico ou,
mais exatamente, o que chamamos de significante.
• O símbolo tem como característica não ser jamais completamente
arbitrário; ele não está vazio, existe um rudimento de vínculo natural
entre o significante e o significado.
• O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser subsídio por um
objeto qualquer, um carro, por exemplo.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 33
Teoria saussuriana: Sistema
• A noção de valor é muito importante
• Um signo se define pelas diferenças que ele tem quando comparado
a outros signos. Cada signo tem um valor, e é esse valor que permite
contrastá-lo com outros signos, e defini-lo.
• Saussure (1969:131):
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 34
signo pig
signo pork
Signo pig, que é o
animal que nós
chamamos de porco;
signo pork, que é a
carne do animal porco
Inglês
Signo Porco
signo porco
Significado: nosso
conceito do animal
[PORCO]
Significante: /porku/
Português
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 35
Nas duas línguas, temos o mesmo esquema:
Teoria saussuriana:
Sistema
• temos a impressão de que os signos são uma
mera nomenclatura das coisas que existem
no mundo.
• Com a ideia de que o nosso mundo está
repleto de coisas, e que a língua é criada para
nomeá-las.
• Então, as coisas já existiriam antes da
língua?????????.....
Significante e significado
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 36
Saussure se opõe frontalmente a essa visão. :
Para ele, nossas ideias a respeito do que as coisas são dependem da língua.
A seu ver, não existem ideias estabelecidas anteriormente à língua.
Antes da língua, nosso pensamento é uma massa amorfa indistinta, como
uma nebulosa.
• Do mesmo modo, antes da língua, a
substância fônica ou gestual que
participa da constituição dos signos
também é uma massa amorfa,
constituída, de maneira
desordenada, de todos os sons ou
gestos que o ser humano é capaz
de produzir.
Significante e
significado
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 37
• A língua é uma relação que associa a
massa amorfa do pensamento à
massa amorfa fônica/gestual,
formatando-as e delimitando-as de
uma maneira particular.
• Ao impor uma formatação à massa
amorfa do pensamento, a língua cria o
significado, que é um conceito.
Significante e significado
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 38
• Ao impor uma formatação à massa amorfa fônica/gestual, a língua
cria o significante, que é uma imagem acústica (no caso das línguas
orais) ou ótica (no caso das línguas de sinais).
• Juntos, significante e significado formam o signo linguístico.
• A formatação das massas
amorfas do pensamento e dos
sons/gestos acontece ao mesmo
tempo.
• metáfora de Saussure da folha
de papel:
• o pensamento é a frente da
folha, e o som/gesto é o verso.
• Não podemos cortar um, sem
cortar o outro.
• Portanto, A LÍNGUA CRIA
SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO
AO MESMO TEMPO.
Pensamento Sons/gestos
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 39
• Ao criar os signos, a língua
impõe uma organização, tanto
na massa amorfa do
pensamento, quanto na massa
amorfa fônica/gestual. Cada
signo adquire um valor, que vai
demarcar seus limites, e
contrapô-lo a outros signos.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 40
signo pig
signo pork
Signo pig, que é o
animal que nós
chamamos de porco;
signo pork, que é a
carne do animal porco
Inglês
Signo Porco
signo porco
Significado: nosso
conceito do animal
[PORCO]
Significante: /porku/
Português
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 41
Nas duas línguas, temos o mesmo esquema:
Teoria saussuriana:
Sistema
• enquanto em português o signo “porco” se opõe a outros animais e
suas carnes,
• em inglês, o signo pig se opõe a outros animais, mas também ao
signo pork, que é a carne do porco.
• Essa diferença entre os recortes feitos pelo inglês e pelo português
pode também ser vista em outras categorizações.
• O signo carneiro, animal e carne; o inglês tem, novamente, os signos:
sheep para o animal, e mutton para sua carne.
• O signo vaca, conceito do animal e de sua carne, no inglês são dois
signos, cow e beef, para o animal e para a carne, respectivamente.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 42
Teoria saussuriana: Sistema
• Para cores, alguns povos, ainda, têm apenas
dois signos para todas as cores: um deles
compreende o que para nós seria o preto, o
azul, o verde e o cinza; o outro compreende o
que para nós seria o branco, o amarelo, o
laranja e o vermelho.
• Os esquimós possuem mais 66 tons de neve
para descrevê-la.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 43
Significante e significado
Para Saussure, então, cada língua “cria” um mundo,
diferente do mundo físico real.
É com esse mundo criado pela língua que nós operamos.
Vejam que, de todos os sons ou gestos que os seres
humanos são capazes de
produzir, cada língua escolhe um subconjunto deles
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 44
Significante e significado
• Mas o que acontece na massa amorfa fônica ou gestual?
• Como é que as línguas fazem recortes nessa massa fônica ou gestual?
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 45
• No modelo de Saussure, podemos dizer que na formatação que o inglês faz da
massa amorfa fônica, um valor foi atribuído aos sons [T] e [D], de modo que eles
fazem parte do sistema linguístico do inglês.
• No sistema do português, esses sons não têm valor.
• Fenômenos semelhantes devem acontecer nas línguas de sinais. De todas as
configurações de mão possíveis, de todos os pontos de articulação possíveis, cada
língua de sinais deve escolher um subconjunto de configurações e pontos de
articulação, e dar valor aos membros desse subconjunto, deixando várias
configurações e pontos de articulação de fora.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 46
• ao fazer as delimitações nas massas amorfas do pensamento e do
sons/gestos, a língua produz uma forma.
>FORMA
>significante
significado
substância
substância
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 47
• Ou seja, de uma substância amorfa de pensamento e de uma
substância amorfa fônica/gestual, a língua cria uma forma.
• Significante e significado são formas, não substâncias
Linguística - ciência
A linguística tem por objeto o estudo da forma do significante e da forma do
significado, não da substância.
Para Saussure, o estudo da substância do significado é objeto de estudo da
psicologia, e o estudo da substância do significante é a fonética acústica e
articulatória.
Saussure estava tentando lançar as bases de uma ciência. Por isso, ele
precisava ser radical no estabelecimento dos limites do objeto dessa ciência.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 48
sequência linear
o significante das línguas, por ser de natureza acústica, só poderia se desenvolver
em uma sequência linear.
Ou seja, seus elementos se apresentariam um após o outro, em uma linha no
tempo.
Em outras palavras, para Saussure, na língua não existe simultaneidade.
Ele chega a dizer que, no caso do acento que se sobrepõe a uma sílaba,
diferenciando as sílabas tônicas das sílabas átonas dentro de uma mesma palavra,
não há simultaneidade de elementos significativos diferentes.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 49
• Entretanto, tal visão é questionada por um grande número de linguistas.
• Primeiro, porque ela não se aplica tão categoricamente às línguas de sinais;
• Segundo, porque ela deixa de lado muitos fenômenos das línguas orais,
que ocorrem simultaneamente à cadeia linear de significantes.
• ( Em algumas línguas orais, como o português, por exemplo, o acento da
palavra pode distinguir
• Significado: signos sábia, sabia, sabiá.
• O acento é algo que ocorre simultaneamente à pronúncia de sons
vocálicos.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 50
sequência linear
• A entonação também é distintiva de significado, e ela ocorre
simultaneamente a uma sequência de significantes.
• A sentença: Você foi ao cinema ontem e Você foi ao cinema ontem?.
• Nas línguas de sinais, a simultaneidade é um fato bastante comum:
• é possível se realizar um signo com uma mão, e outro com a outra, ao mesmo tempo.
• Além disso, enquanto as mãos estão realizando sinais lexicais, a
posição do tronco e da cabeça, a direção do olhar, as expressões
faciais estão fornecendo informações discursivas e gramaticais.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 51
sequência linear
• Mesmo assim, nas línguas de sinais, há linearidade
em todos os níveis de análise: do fonológico ao
discursivo. (INEGÁVEL)
• apesar das propriedades de simultaneidade que
ela exibe, existe muita linearidade em todas as
línguas de sinais.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 52
sequência linear
3ª. Dicotomia: SINTAGMA
E PARADIGMA • dicotomia sintagma
versus paradigma
• Nós podemos pensar
em sintagma e
paradigma como
dois eixos:
• o primeiro
corresponde a um
eixo horizontal,
• o segundo a um eixo
vertical.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 53
SINTAGMA
• O eixo sintagmático, ou horizontal,
é o eixo da linearidade.
• O exame dos elementos
linguísticos nesse eixo envolve o
contraste entre elementos que
estão adjacentes à ele na cadeia de
elementos que ocupa a linha
horizontal.
• Na mesma linha, completando seu
sentido.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 54
SINTAGMA
Por exemplo, em português, a palavra inconstitucional é formada de
quatro signos, ou morfemas: in-,
• constitu-
• -cion-, e
• -al.
Cada um desses signos adquire um valor
porque se opõe ao signo que o precede, ou
que o sucede, ou aos dois.
No nível fonológico. Por exemplo, em uma palavra do português como bota, o fonema
/b/ tem seu valor estabelecido pela relação que estabelece com o fonema /o/, que, por
sua vez, tem seu valor estabelecido pelas relações que estabelece tanto com o fonema
/b/, quanto com o fonema /t/, e assim por diante.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 55
SINTAGMA
O mesmo acontece com certas expressões: forçar a barra (insistir),
Ou não dar bola (não dar importância).
Cada termo dessas expressões complexas ganha
valor pela oposição que faz aos termos
precedentes ou seguintes e a toda a expressão.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 56
Denominamos relações sintagmáticas ou combinatórias;
EIXO SINTAGMÁTICO (ou das relações combinatória)
O mesmo acontece com certas expressões: forçar a barra (insistir),
Ou não dar bola (não dar importância).
em português, um artigo sempre vem antes do
substantivo, como em o menino, um cachorro.
Na fonologia, também há algum.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 57
Na fonologia, também há algumas ordens limitadas. Por exemplo, depois do
fonema /b/, podemos ter uma vogal (como em bebe, bicho, boca, burro), e
podemos ter as consoantes /r/ e /l/ (como em brasa, blusa), mas não podemos ter
outras consoantes como /p/,/t/, /s/, etc.
O eixo paradigmático (eixo vertical - relações associativas).
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 58
• Segundo Saussure, os signos que têm algo em comum se
associam em nossa memória, formando grupos.
• Dentro desses grupos, as relações que se estabelecem
podem ser de vários tipos.
Tomemos uma palavra do português como demonstração.
Essa palavra se associa a muitas outras no que diz respeito à
semelhança de significados
O eixo paradigmático (eixo vertical - relações associativas).
• formando, assim um paradigma com outras palavras como
exibição, amostragem, exposição, etc.
• Ela também se associa a outras palavras pela semelhança
do radical:
• formando um paradigma com palavras como demonstrar,
demonstração, demonstrável, etc.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 59
O eixo paradigmático
semelhança
de
significados
Semelhança
de radical
exibiçãoexposição
demonstração
amostragem
demonstrar demonstração demonstrável
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 60
O eixo paradigmático
semelhança
de palavras
pelo sufixo
constituição
ração
Semelhança
dos
significantes
monstro tração
educação construção
demonstração
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 61
arbitrariedade do signo linguístico
• Quando tratamos de sintagma e paradigma, precisamos discutir uma
outra noção que é bastante enfatizada na teoria saussuriana:
• a arbitrariedade do signo linguístico:
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 62
Saussure trata do signo
linguístico e da relação
entre significante e
significado da seguinte
forma:
o significante de um
signo, ou seja, sua
imagem acústica ou
gestual, é imotivado.
Saussure quer dizer que não existe
nenhuma relação de semelhança entre
essa imagem acústica ou gestual e o
conceito associado a essa imagem.
• Para ele, o significante /mar/ do signo mar não tem nenhuma relação
com o conceito ao qual está associado.
• O som não nos dá a ideia de mar.
• O fato de o som [maR] nos levar ao conceito que temos de [MAR] é
resultado de uma convenção aceita pelos falantes do português.
• Ahhhh.. Todo sentido!
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 63
arbitrariedade do signo linguístico
Ultima dicotomia: SINCRONIA E DIACRONIA
• Para Saussure, a linguística é um tipo de ciência que deve se construir
sobre dois eixos:
• o do estado: eixo sincrônico: a língua é estudada como ela se
apresenta em um determinado momento de sua história. Toda
intervenção do tempo é excluída.
• das evoluções: eixo diacrônico: a língua é analisada como um
produto de uma série de transformações que ocorrem ao longo do
tempo.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 64
Significado para a língua
• sincrônica – que aborda cada momento estático da partida como um
evento; e a diacrônica – que aborda a sucessão desses mesmos
eventos encadeados cronologicamente.
• Diacronia < Grego dia ‘através de’ + chronos ‘o tempo’.
Dito de outro modo, é no âmbito metodológico que podemos separar
o eixo das simultaneidades (a sincronia) do eixo das sucessões (a
diacronia), como mostra Saussure.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 65
SINCRONIA E DIACRONIA
• estudando o português:
• Se o estudo for sincrônico:
• analisamos o português da maneira como ele é hoje,
• não nos interessa saber quais os estágios de evolução pelo
qual essa língua passou, desde o latim até os nossos dias.
• Se o estudo for diacrônico: procuramos entender o que foi
que aconteceu na língua, ao longo de sua história, para que
ela tivesse as características que tem em uma determinada
época.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 66
SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de
xadrez
• Cada posição do jogo corresponde a um estado da língua.
• O valor das peças depende de sua posição no tabuleiro.
• Da mesma maneira, na língua, cada elemento tem seu valor pela
oposição que estabelece em relação a outros elementos.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 67
SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez
• Não é necessário que se mude mais que uma
peça. Entretanto, essa mudança tem efeitos
em todo o jogo.
• Não há como prever com exatidão quais são
esses efeitos, mas o deslocamento de uma
peça acaba por ter consequências sobre as
peças que não foram movidas.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 68
• Cada estado desses, quer do jogo de xadrez, quer do sistema linguístico, é
sempre momentâneo.
• Para passar de um momento a outro, ou de um estado a outro, uma peça é
deslocada.
• Tanto no xadrez, quanto na língua, é
preciso diferenciar claramente os
deslocamentos, de um lado, dos estados
de equilíbrio que os antecedem ou que os
sucedem, de outro.
• Quando o jogador está pensando sobre o
jogo, ele analisa sucessivamente os
diversos estados pelos quais o jogo passa.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 69
SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez
• Ele não fica se preocupando em lembrar
como a configuração do tabuleiro chegou
ao estado a que chegou.
• O mesmo acontece com a língua. O
falante de uma língua conhece essa língua
da maneira como ela se apresenta durante
seu tempo de vida.
• Ele não se preocupa com sua evolução ao
longo dos séculos.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 70
SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez
Ressalva
• Saussure faz apenas uma ressalva:
• no jogo, o jogador tem a intenção de mover uma peça e, assim,
alterar o estado do jogo. Na língua, isso não acontece.
• As mudanças na língua não são intencionais.
• A língua muda naturalmente.
• Em alguns poucos casos, existem algumas pressões externas que
provocam uma mudança linguística. Essas pressões podem ser
consequência de contato com outras línguas, ou podem ser devidas a
algumas mudanças sociais.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 71
!!!
Ressalva
• Mas, muitas vezes, as línguas mudam por razões internas à própria
língua.
• Como dos fonemas fonemas /¥/ (-lh-)e /¯/ (-nh-). Elas parecem ter
sido mudanças espontâneas e fortuitas.
• Tais questões serão aprofundadas na disciplina de Sociolinguística.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 72
!!!
Etimologia de “Diacronia”, e etimologia de “História”
• Diacronia < Grego dia ‘através de’ + chronos ‘o tempo’.
• O termo diacronia remete a chronos, pela junção de dia ‘através de’ – chronos,
ou seja, ‘através do tempo’.
• Na cosmologia grega, Chronos é fruto da união entre o Céu (Urano) e a Terra
(Gaia) – mas também fruto da cisão fundamental entre ambos, uma vez que é ao
conseguir separar-se violentamente do abraço de Urano que Gaia consegue dar à
luz a Chronos, e assim originar o próprio cosmo.
• O ‘nascimento’ de Chronos (ou seja, a separação entre o céu e a terra) é que
possibilita a abertura do espaço, o correr do tempo, a sucessão das gerações. Mas
Chronos não ‘é’ o ‘tempo’, e sim possibilita nossa percepção do desenrolar dos
acontecimentos em uma dimensão sucessiva, fora da união original que foge à
nossa percepção.
• O próprio Chronos, por sua vez, tem uma história violenta; devora seus filhos ao
nascerem (o que tem sido interpretado como uma alegoria da passagem linear
do tempo – os séculos engolem os anos que engolem os dias que engolem as
horas...). A ideia de cronologia, de cronológico, remete assim, pela etimologia
grega, fundamentalmente à noção de sucessão e linearidade.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 73
1. O que e quais são as Dicotomias Saussurianas?
2. Diferencie língua de linguagem.
3. Explique um sistema de valores de acordo com Saussure:
4. O cálculo do valor dos elementos linguísticos deve ser feito levando em conta
dois eixos, quais são e como se dá?
5. Qual a diferença entre língua e fala?
6. O que é um signo linguístico?
7. Explique significante e significado:
8. Explique massa amorfa fônica/gestual:
9. Explique a frase: “A constituição do signo pode ser motivada, mas é sempre
convencional”.
10. De acordo com a dicotomia: SINCRONIA E DIACRONIA, como a língua pode ser
estudada em sua dimensão estática, e em sua dimensão evolutiva ou histórica?
11. Pesquise, analise e escreva sobre a metáfora do jogo de xadrez e sobre a
metáfora da rede.12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 74
Responda:
• Outras considerações de Saussure...
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 75
Elementos internos e elementos externos da
língua
• Linguística externa: “Se ocupa, todavia, de coisas importantes, e é
sobretudo nelas que se ´pensa quando se aborda o estudo da
linguagem
• Incluem nela, primeiramente, todos os pontos em que a Linguística
confina com a Etnologia, todas relações que podem existir entre:
• história de uma língua
• história de uma raça ou civilização”.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 76
Essas duas histórias
mantem reciprocidade
Os costumes duma nação têm repercussão
na língua e, por outro lado, é a língua que
constitui a Nação
1
Elementos internos e elementos externos da
língua
• Língua e História política: acordos, colonização, conquistas.
• Ex: Nheengatu, inserção do inglês na rede nacional de ensino.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 77
As relações da língua com instituições de toda
espécie
• A língua literária ultrapassa, em todas as partes, os limites
que parecem lhe traçar a literatura
• Provoca e estabelece conflito com ela e os dialetos locais.
2
3
Ligadas ao
desenvolvimento
literário da língua
Se um dia nois se gostasse
Se um dia nois se queresse
Se nois dois se empareasse
Se juntim nois dois vivesse
Se juntim nois dois morasse
Se juntim nois dois drumisse
Se juntim nois dois morresse
Se pro céu nois lá subisse
Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse a porta do céu efosse te dizer qualquer tolice
E se eu ariminasse
E tu cum eu insistisse pra que eu me aresolvesse
E a minha faca puxasse
E o bucho do céu furasse
Tavés que nois dois ficasse
Tavés que nois dois caisse
E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 78
http://www.youtube.com/watch?v=ReVVuq0SnlY
AI SE SÊSSE
Zé da Luz – Cordel do fogo encantado
Elementos internos e elementos externos da
língua
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 79
• Extensões geográficas
• Fracionamento Dialetal
O linguista deve examinar tais relações: língua literária (produto da
cultura) x língua corrente (esfera natural – língua falada)
Está associado à existência
de qualquer língua, mas é
fenômeno externo :
NÃO AFETA O ORGANISMO
INTERNO DO IDIOMA
4
• Semelhante à constituição orgânica de
uma árvore, não se altera
Prestígio da escrita: causas de seu
predomínio sobre a forma falada
Não é nunca dispensável conhecer as circunstâncias em meio as quais se
desenvolveu uma língua (p. 31, cap. V)
O linguista está obrigado a conhecer o maior número possível delas para
tirar , por observação comparação, o que nelas exista de universal.
É interno:“TUDO QUANTO PROVOCA MUDANÇAS DO SISTEMA EM
QUALQUER GRAU”
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 80
Prestígio da escrita: causas de seu
predomínio sobre a forma falada
Língua e escrita: SISTEMAS DISTINTOS DE SÍGNOS
O SEGUNDO EXISTE PARA REPRESENTAR O PRIMEIRO.
DOIS SISTEMAS DE ESCRITA: Sistema ideográfico, sistema fonético
O linguista está obrigado a conhecer o maior número possível delas para tirar , por
observação comparação, o que nelas exista de universal.
É interno: “TUDO QUANTO PROVOCA MUDANÇAS DO SISTEMA EM QUALQUER
GRAU”
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 81
Algumas pessoas se opuseram a Saussure:
• afirmando que as onomatopeias são motivadas. Por exemplo, ao falarmos
do tic-tac de um relógio, estaríamos capturando a semelhança que existe
entre o signo tic-tac e o barulho feito pelo relógio.
• A defesa de Saussure a essa crítica se fundamenta em dois argumentos:
• 1- que as onomatopeias são raras nas línguas;
• 2- que sua escolha já é arbitrária, na medida em que elas apenas se aproximam dos
sons que ouvimos.
• 3- a arbitrariedade desses signos também se revelaria no fato de que as
onomatopeias se conformam a todo o sistema fonético-fonológico da língua.
• Isso significa que, por mais que tentemos criar signos por imitação aos sons
e ruídos que ouvimos, vamos fazer essas imitações valendo-nos do sistema
do português, e não realizando sons que não são próprios dessa língua.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 82
Arbitrariedade
• Saussure já fazia uma diferença entre arbitrariedade absoluta e
arbitrariedade relativa do signo linguístico:
• um signo como vinte é totalmente arbitrário ou imotivado.
• Mas um signo como dezenove é apenas parcialmente arbitrário:
• faz lembrar os signos que entram em sua composição (dez e nove).
• O mesmo acontece com o signo pereira, que lembra o signo pêra, e
cujo sufixo remete a outras árvores como cerejeira, macieira,
jaqueira, etc.
• Se compararmos esses nomes de árvores a eucalipto, ou carvalho,
vemos que os primeiros são mais motivados do que os últimos.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 83
o que isso tem a ver com a dicotomia sintagma e paradigma?
• A motivação parcial de um signo linguístico se explica por dois princípios:
• pela análise de um signo em signos menores, o que evidencia uma relação
sintagmática;
• pela associação desses signos a outros signos, o que evidencia uma relação
paradigmática.
• Vejam que, em um signo como cerejeira, não só a divisão
• sintagmática em dois morfemas - cereja- e -eira –
• e o sentido dessas unidades é facilmente percebido, na medida em que
elas participam de relações paradigmáticas bastante claras: pêra se associa
a cereja, a maçã, a laranja, a banana;
• e -eira recebe seu valor a partir de sua associação com outros morfemas
como -al, em bananal, jaboticabal, laranjal, etc.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 84
Arbitrariedade
• Saussure chega mesmo a afirmar que não existe língua em que nada
seja motivado.
• As línguas se colocam entre dois polos:
• mínimo de arbitrariedade e
• máximo de arbitrariedade,
• algumas tendendo mais para um pólo, outras tendendo mais para
outro.
• Saussure não está, nem de longe, pensando na forte iconicidade que
as línguas de sinais apresentam.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 85
Arbitrariedade
• Dentro da noção de arbitrariedade que Saussure desenvolve, está a
noção de convencionalidade:
• Característica forte de todas as línguas humanas.
• Os signos linguísticos sempre são convencionais, mesmo quando são
icônicos.
• Ser convencional significa que eles não são previsíveis, ou seja, nós
não podemos adivinhar, antecipadamente, como vai ser em uma
língua, ou em outra, o signo que se refere a uma determinada
entidade.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 86
Textos complementares
• Conversa com Linguistas: Virtudes e controvérsias da Linguística: Rodolfo
Ilari, pg. 97 – 112.
• A Linguística Computacional
• A Semiótica
• As novas Tendências da Linguística: uma orientação à linguística moderna.
Bertil Malmberg, tradução Francisco da Silva Borba. 2. ed.
• O formal e o funcional na teoria variacionista. Roberto Gomes Camacho.
XLIX Seminário do GEL, Marília, de 24 a 26 de maio de 2001.
• A linguística antes d Saussure -
• Prólogo: Mídia, preconceito e revolução. Marcos Bagno. 2003.
12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 87

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Ferdinand de saussure
Ferdinand de saussureFerdinand de saussure
Ferdinand de saussureDiana Barbosa
 
Dicotomias de saussure gabarito comentado
Dicotomias de saussure   gabarito comentadoDicotomias de saussure   gabarito comentado
Dicotomias de saussure gabarito comentadoVilmar Vilaça
 
Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz '
Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz 'Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz '
Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz 'Danielle Galvão
 
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguísticaIntrodução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguísticaMaria Glalcy Fequetia Dalcim
 
Parte 2 linguística geral saussure - apresentação 2012
Parte 2   linguística geral saussure - apresentação 2012Parte 2   linguística geral saussure - apresentação 2012
Parte 2 linguística geral saussure - apresentação 2012Mariana Correia
 
Concepções de linguagem, língua, gramática e
Concepções de linguagem, língua, gramática eConcepções de linguagem, língua, gramática e
Concepções de linguagem, língua, gramática eThiago Soares
 
Parte 1 linguística geral apresentação
Parte 1   linguística geral apresentaçãoParte 1   linguística geral apresentação
Parte 1 linguística geral apresentaçãoMariana Correia
 
Concordancia verbal e nominal
Concordancia verbal e nominalConcordancia verbal e nominal
Concordancia verbal e nominalRebeca Kaus
 
Panorama dos estudos linguísticos
Panorama dos estudos linguísticosPanorama dos estudos linguísticos
Panorama dos estudos linguísticosMauro Toniolo Silva
 
Formalismo x funcionalismo
Formalismo x funcionalismoFormalismo x funcionalismo
Formalismo x funcionalismoDaniele Silva
 
LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia
LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia
LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia profamiriamnavarro
 

La actualidad más candente (20)

Introdução à Linguística
Introdução à LinguísticaIntrodução à Linguística
Introdução à Linguística
 
LÍNGUA & LINGUAGEM
LÍNGUA & LINGUAGEMLÍNGUA & LINGUAGEM
LÍNGUA & LINGUAGEM
 
Ferdinand de saussure
Ferdinand de saussureFerdinand de saussure
Ferdinand de saussure
 
Dicotomias de saussure gabarito comentado
Dicotomias de saussure   gabarito comentadoDicotomias de saussure   gabarito comentado
Dicotomias de saussure gabarito comentado
 
Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz '
Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz 'Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz '
Slides 'Preconceito Linguístico o que é, como se faz '
 
Semântica
SemânticaSemântica
Semântica
 
Gerativismo
GerativismoGerativismo
Gerativismo
 
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguísticaIntrodução à linguística - linguagem, língua e linguística
Introdução à linguística - linguagem, língua e linguística
 
Análise de (do) discurso
Análise de (do) discursoAnálise de (do) discurso
Análise de (do) discurso
 
Funcionalismo
FuncionalismoFuncionalismo
Funcionalismo
 
Parte 2 linguística geral saussure - apresentação 2012
Parte 2   linguística geral saussure - apresentação 2012Parte 2   linguística geral saussure - apresentação 2012
Parte 2 linguística geral saussure - apresentação 2012
 
Concepções de linguagem, língua, gramática e
Concepções de linguagem, língua, gramática eConcepções de linguagem, língua, gramática e
Concepções de linguagem, língua, gramática e
 
Parte 1 linguística geral apresentação
Parte 1   linguística geral apresentaçãoParte 1   linguística geral apresentação
Parte 1 linguística geral apresentação
 
Fonética & fonologia
Fonética & fonologiaFonética & fonologia
Fonética & fonologia
 
Concordancia verbal e nominal
Concordancia verbal e nominalConcordancia verbal e nominal
Concordancia verbal e nominal
 
Concepões de língua, linguagem, norma e fala
Concepões de língua, linguagem, norma e falaConcepões de língua, linguagem, norma e fala
Concepões de língua, linguagem, norma e fala
 
Panorama dos estudos linguísticos
Panorama dos estudos linguísticosPanorama dos estudos linguísticos
Panorama dos estudos linguísticos
 
Formalismo x funcionalismo
Formalismo x funcionalismoFormalismo x funcionalismo
Formalismo x funcionalismo
 
Sociolinguística
SociolinguísticaSociolinguística
Sociolinguística
 
LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia
LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia
LIBRAS AULA 12: Aspectos Linguísticos da língua de sinais – Morfologia
 

Similar a Linguística i saussure

Parte 2- A lingua_para_Saussure Ivani Viotti
Parte 2- A lingua_para_Saussure Ivani ViottiParte 2- A lingua_para_Saussure Ivani Viotti
Parte 2- A lingua_para_Saussure Ivani ViottiMariana Correia
 
Slide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptx
Slide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptxSlide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptx
Slide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptxPaola Barbosa Dias
 
Parte1 - O que é linguística? Ivani Viotti
Parte1 - O que é linguística? Ivani ViottiParte1 - O que é linguística? Ivani Viotti
Parte1 - O que é linguística? Ivani ViottiMariana Correia
 
Comunicação oral e escrita 1
Comunicação oral e escrita 1Comunicação oral e escrita 1
Comunicação oral e escrita 1Míriam Klippel
 
Parte 4 linguística geral apresentação 2012
Parte 4   linguística geral apresentação 2012Parte 4   linguística geral apresentação 2012
Parte 4 linguística geral apresentação 2012Mariana Correia
 
22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito
22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito
22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-britoBruno Motta
 
Variacao linguistica
Variacao linguisticaVariacao linguistica
Variacao linguisticacaurysilva
 
Variação linguística
Variação linguísticaVariação linguística
Variação linguísticacaurysilva
 
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdfTEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdflucasicm
 
Aula 1 linguagem para profissionais
Aula 1   linguagem para profissionaisAula 1   linguagem para profissionais
Aula 1 linguagem para profissionaisprofNICODEMOS
 
Parte 1 linguística geral apresentação 2012
Parte 1   linguística geral  apresentação 2012Parte 1   linguística geral  apresentação 2012
Parte 1 linguística geral apresentação 2012Mariana Correia
 
Parte 2 linguística geral chomsky - apresentação 2012
Parte 2   linguística geral chomsky - apresentação 2012Parte 2   linguística geral chomsky - apresentação 2012
Parte 2 linguística geral chomsky - apresentação 2012Mariana Correia
 
6º ano E. F. II - Variação Linguística
6º ano E. F. II - Variação Linguística6º ano E. F. II - Variação Linguística
6º ano E. F. II - Variação LinguísticaAngélica Manenti
 
A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito
A língua de sinais constituindo o surdo como sujeitoA língua de sinais constituindo o surdo como sujeito
A língua de sinais constituindo o surdo como sujeitoElvira Horácio
 

Similar a Linguística i saussure (20)

2 a lingua_para_saussure
2 a lingua_para_saussure2 a lingua_para_saussure
2 a lingua_para_saussure
 
Parte 2- A lingua_para_Saussure Ivani Viotti
Parte 2- A lingua_para_Saussure Ivani ViottiParte 2- A lingua_para_Saussure Ivani Viotti
Parte 2- A lingua_para_Saussure Ivani Viotti
 
Slide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptx
Slide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptxSlide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptx
Slide 2 - Estudos Linguísticos Scheme.pptx
 
Parte1 - O que é linguística? Ivani Viotti
Parte1 - O que é linguística? Ivani ViottiParte1 - O que é linguística? Ivani Viotti
Parte1 - O que é linguística? Ivani Viotti
 
Libras .pptx
Libras .pptxLibras .pptx
Libras .pptx
 
Comunicação oral e escrita 1
Comunicação oral e escrita 1Comunicação oral e escrita 1
Comunicação oral e escrita 1
 
Parte 4 linguística geral apresentação 2012
Parte 4   linguística geral apresentação 2012Parte 4   linguística geral apresentação 2012
Parte 4 linguística geral apresentação 2012
 
Enquanto educador, o quê
Enquanto educador, o quêEnquanto educador, o quê
Enquanto educador, o quê
 
22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito
22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito
22653284 a-gramatica-de-libras-lucinda-ferreira-brito
 
Variacao linguistica
Variacao linguisticaVariacao linguistica
Variacao linguistica
 
Variação linguística
Variação linguísticaVariação linguística
Variação linguística
 
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdfTEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
TEXTO_BASE_-_VERSAO_REVISADA (1).pdf
 
Modelo de material.luc
Modelo de material.lucModelo de material.luc
Modelo de material.luc
 
Modelo de material.luc
Modelo de material.lucModelo de material.luc
Modelo de material.luc
 
Aula 1 linguagem para profissionais
Aula 1   linguagem para profissionaisAula 1   linguagem para profissionais
Aula 1 linguagem para profissionais
 
Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Aspectos Linguísticos
Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Aspectos LinguísticosLíngua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Aspectos Linguísticos
Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS - Aspectos Linguísticos
 
Parte 1 linguística geral apresentação 2012
Parte 1   linguística geral  apresentação 2012Parte 1   linguística geral  apresentação 2012
Parte 1 linguística geral apresentação 2012
 
Parte 2 linguística geral chomsky - apresentação 2012
Parte 2   linguística geral chomsky - apresentação 2012Parte 2   linguística geral chomsky - apresentação 2012
Parte 2 linguística geral chomsky - apresentação 2012
 
6º ano E. F. II - Variação Linguística
6º ano E. F. II - Variação Linguística6º ano E. F. II - Variação Linguística
6º ano E. F. II - Variação Linguística
 
A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito
A língua de sinais constituindo o surdo como sujeitoA língua de sinais constituindo o surdo como sujeito
A língua de sinais constituindo o surdo como sujeito
 

Más de Guida Gava

Queda de cabelo
Queda de cabeloQueda de cabelo
Queda de cabeloGuida Gava
 
A literatura surda e a língua de sinais
A literatura surda e a língua de sinaisA literatura surda e a língua de sinais
A literatura surda e a língua de sinaisGuida Gava
 
Acessibilidade - 2014
Acessibilidade - 2014Acessibilidade - 2014
Acessibilidade - 2014Guida Gava
 
Plataforma Kuhi-pei
Plataforma Kuhi-peiPlataforma Kuhi-pei
Plataforma Kuhi-peiGuida Gava
 
Proporção divina
Proporção divinaProporção divina
Proporção divinaGuida Gava
 

Más de Guida Gava (7)

Queda de cabelo
Queda de cabeloQueda de cabelo
Queda de cabelo
 
A literatura surda e a língua de sinais
A literatura surda e a língua de sinaisA literatura surda e a língua de sinais
A literatura surda e a língua de sinais
 
Acessibilidade - 2014
Acessibilidade - 2014Acessibilidade - 2014
Acessibilidade - 2014
 
Plataforma Kuhi-pei
Plataforma Kuhi-peiPlataforma Kuhi-pei
Plataforma Kuhi-pei
 
Proporção divina
Proporção divinaProporção divina
Proporção divina
 
CORES5
CORES5CORES5
CORES5
 
CORES5
CORES5CORES5
CORES5
 

Linguística i saussure

  • 1. Linguística I – 2º. sem 2014 Prof. Dra. Águida Ap. Gava guidag@gmail.com
  • 2. Linguística I - Conteúdo • Saussure: • O Signo • A língua • Língua e Linguagem • Paradigmas linguísticos: Quatro dicotomias saussurianas: • língua e fala, • significante e significado, • sincronia e diacronia, • e paradigma e sintagma • Em sala: Filme: NELL – Jodie Foster (1994) x cap. I a IV, debate em sala – levantamento de questões. apoio bibliográfico • SAUSSURE, Ferdinand de (1969). Curso de lingüística geral. São Paulo: Cultrix, 2006. • FIORIN et al. Saussure: a invenção da Linguística. Ed. Contexto, 2013. • Apostila prof. Evani Viotti (USP) 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 2
  • 3. Linguística – temos dois grandes paradigmas: • Pesquisas empíricas: A LÍNGUA EXTERNALIZADA • Análise de corpus – da linguística escrita e falada (a base: corpus) • Sociolinguística • Pragmática • Linguística aplicada EXPERIÊNCIAS 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 3
  • 4. Linguística – temos dois grandes paradigmas: • Pesquisas introspectivas: A LÍNGUA INTERNALIZADA • ESTRUTURALISMO • GERATIVISMO • FUNCIONALISMO BASE: INTUIÇÃO DO PESQUISADOR SOBRE O FUNCIONAMENTO DO PROPRIO CÉREBRO Obs.: A linguística computacional utiliza resultados de pesquisas introspectivas 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 4
  • 5. O Curso de Linguística Geral: A língua para Ferdinand de Saussure • O suíço Ferdinand de Saussure- o pai da linguística moderna. • Ministrou três cursos na Universidade de Genebra, na Suíça nos anos de 1907, 1908 e 1910; • Anotações de Saussure e anotações de alunos em suas aulas, e, em 1916, dois grandes linguistas: Albert Sechehaye (1870 – 1946) e Charles Bally (1965-1947)(editores) reuniram o material e publicaram a famosa obra intitulada: Curso de Linguística Geral (CLG) retratando o pensamento de Saussure. • Obra póstuma – falecera em 1913. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 5
  • 6. O Curso de Linguística Geral: A língua para Ferdinand de Saussure • Com Saussure, os estudos linguísticos passam a se interessar pela língua como um sistema de valores estruturado e autônomo, • para toda e qualquer produção linguística, seja ela feita em português, em inglês, em francês, em libras, ou em qualquer outra língua. • A linguística é concebida como uma ciência: ela não só descreve fatos linguísticos, mas busca uma explicação coerente para sua ocorrência. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 6
  • 7. O pensamento de Saussure: SIGNO • Um signo assume seu valor em oposição aos outros valores que poderiam assumir. • É como o sol de verão queimando no peito.. • Conjunção sol e sol é fogo! • Solução de emaconhado é tapar o sol com a peneira; • Enquanto houver sol ainda haverá.. • Please don't take my sunshine away SOL 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 7
  • 8. O pensamento de Saussure: SIGNO • O signo• O signo linguístico (palavra) é composto de duas partes chamadas SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO • 1. Significante: parte física da palavra( grafia + som). • 2. Significado: conceito transmitido pelo significante. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 8
  • 9. O pensamento de Saussure: SIGNO • De forma geral, pode-se dizer que o signo linguístico é arbitrário porque é sempre uma convenção reconhecida pelos falantes de uma língua. • não existe uma relação natural entre a realidade fonética de um signo linguístico e o seu significado, • significante e significado não apresentam relação lógica entre si, principalmente em relação ao som (pense na palavra copo para várias línguas). 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 9
  • 10. O pensamento de Saussure: LINGUAGEM • Linguagem: faculdade humana, uma capacidade que os homens têm para produzir, desenvolver, compreender a língua e outras manifestações simbólicas semelhantes à língua. • A linguagem é heterogênea e multifacetada: • ela tem aspectos físicos, fisiológicos e psíquicos, e • pertence tanto ao domínio individual quanto ao domínio social. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 10
  • 11. A LÍNGUA • A língua é diferente: parte definida e essencial da faculdade da linguagem. • Ela é um produto social da faculdade da linguagem e um conjunto de convenções necessárias, estabelecidas e adotadas por um grupo social para o exercício da faculdade da linguagem. • A língua é uma unidade por si só. • Para Saussure, ela é a norma para todas as demais manifestações da linguagem. • Princípio de classificação, pelo qual é possível estabelecer uma certa ordem na faculdade da linguagem. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 11
  • 12. LÍNGUA E LINGUAGEM • A linguagem é a capacidade através da qual os homens podem produzir sistemas simbólicos, ou seja, sistemas de conceitos associados a uma determinada forma, como a língua, as artes plásticas, o cinema, o teatro, a dança. • A capacidade da linguagem não pode ser o objeto de estudo de uma única ciência como a linguística, • tem características de naturezas diversas: física, fisiológica, antropológica, etc. • O objeto da linguística deve ser a língua, que é um produto social da faculdade da linguagem. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 12
  • 13. A LÍNGUA • . 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 13 • Produto social da faculdade da linguagem • Fenômeno que está além do domínio individual de cada um de nós. • Produto de uma comunidade; parte do domínio dessa comunidade. • O português brasileiro é a língua de uma grande comunidade de pessoas ouvintes brasileiros. • A libras é a língua de uma grande comunidade de pessoas surdas nascidas no Brasil. • Elas não se limitam a uma ou outra pessoa. Elas nascem e se desenvolvem no âmbito de um grupo social, não no âmbito individual.
  • 14. A LÍNGUA • ela existe e se mantém por um acordo coletivo tácito entre os falantes. • Um falante de uma língua não pode fazer modificações nessa língua a seu bel prazer. • De todas as manifestações da faculdade da linguagem, a língua é a que mais bem se presta a uma definição autônoma. • Ocupa um lugar de destaque entre as manifestações da linguagem.12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 14
  • 15. LINGUAGEM E LÍNGUA • Resumão: A língua e linguagem são bastante diferentes: a linguagem é uma capacidade humana, da qual a língua é um produto. A língua é um fenômeno social e convencional. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 15
  • 16. Dicotomias Saussurianas • Os estudos linguísticos modernos que analisam a obra de Saussure usam o termo “dicotomia” para denominar quatro pares de conceitos centrais em sua teoria. • Dicotomia: divisão lógica de um conceito em dois outros conceitos, em geral contrários, que lhe esgotam a extensão (AURÉLIO). 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 16
  • 17. Dicotomias Saussurianas • Nas dicotomias saussurianas: • os conceitos dicotômicos se opõem, • um só pode ser entendido em relação ao outro, e, • juntos, formam um conceito maior, que é • central para o entendimento do que é a língua humana. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 17
  • 18. Dicotomias Saussurianas Dicotomias saussurianas: • língua e fala, • significante e significado, • sincronia e diacronia, • e paradigma e sintagma 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 18
  • 19. Língua x Fala (Langue x Parole) • Língua: coletiva e social Língua, nela está o que é essencial; A língua não é uma função do falante. • Cada pessoa nascida no Brasil que tem o português como língua materna pode narrar o mesmo acontecimento de maneiras muito diferentes, produzindo falas diferentes mas na mesma língua  fato que faz com que as pessoas consigam se comunicar. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 19 • Fala: a manifestação ou concretização da língua, por um indivíduo. • na fala está o que é acessório e mais ou menos acidental. • A fala, diferentemente, é um ato individual de vontade: ao falar, • o falante precisa fazer opções por uma ou outra maneira de dizer a mesma coisa (escolhe o vocabulário que vai usar, entre outras coisas).
  • 20. LÍNGUA E FALA A fala é a língua posta em uso. Ela é a prática da língua, e apresenta várias propriedades, que vão muito além do som, do gesto, ou da grafia. Para Saussure, a fala não devia ser estudada pela linguística, justamente porque ele pensava que ela era secundária e assistemática. Ele não deixa de considerar a possibilidade de fatos da fala interferirem na língua, a ponto de causar algumas mudanças no sistema. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 20
  • 21. Língua e Fala - exemplo • Um exemplo clássico do português é o do aparecimento, nessa língua, dos fonemas /¥/ e /¯/, grafados -lh e -nh, respectivamente. • Eles não existiam em latim. Sua origem é fruto da palatalização das consoantes /l/ e /n/ diante de /i/, que deu, como resultado, a pronúncia [fi¥u] para o latim filiu, e a pronúncia [vi¯a] para o latim vinia. • Enquanto essas mudanças se mantinham no nível fonético, elas estavam no domínio da fala. Com o passar dos anos, no português elas chegaram a alterar o sistema, passando a adquirir um caráter distintivo. • /¥/ e /l/ : galo - galho. • /¯/ e /n/: pena e penha. Essa distinção, agora, é parte da língua. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 21
  • 22. LÍNGUA E FALACada teoria linguística define língua de uma maneira diferente. A noção de língua de Saussure é uma entre várias noções de língua com as quais a linguística moderna opera. Para Saussure, a língua é um sistema. Um sistema é um conjunto organizado de elementos, que se define pelas características desses elementos, e no qual cada elemento se define pelas diferenças que apresenta em relação a outro elemento, e por sua relação com todo o conjunto. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 22
  • 23. LÍNGUA E FALA • Pensando em uma escola: • conjunto de elementos: os estudantes - elementos de uma escola. • Definição de sistema: o conjunto (escola) definido por sua relação com as partes (estudantes), e • as partes (estudantes) definidas por sua relação com o todo (escola). • Cada grupo de estudante pode ser definido por oposição a um outro grupo de estudante: • os da 1ª série são definidos por oposição aos da 2ª série; os do período da manhã são definidos por oposição aos do período da tarde; e assim por diante. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 23
  • 24. LÍNGUA E FALA • Metáfora da rede de pescar. • A rede é formada de nós, e cada nó se relaciona com todos os outros nós da rede. A rede, que é o conjunto, é definida como um sistema de nós; os nós, que são as partes, são definidos por sua relação com o todo. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 24
  • 25. Exemplo • Pensem na palavra /pata/. • Definindo o fonema /p/ • Eu posso dizer que ele não é /b/, pelo qual eu obtenho outra palavra: /bata/. • Eu também posso dizer que /p/ não é /m/. Porque seria: /mata/. • Eu posso ir além, e dizer que /p/ não é /l/. Se eu substituir por que seria /lata/. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 25
  • 26. • Verbo como cantar, composto de dois morfemas, cant- e -ar. • oposição com bord-, que forma o verbo bordar. • oposição com danç-, que forma o verbo dançar. • E como definir o morfema –ar? Por sua oposição com o morfema -er, (beber); oposição com o morfema -ir (partir). • Assim, /p/ tem seu valor linguístico estabelecido por sua diferença em relação a /b/, a /m/, a /l/. • O morfema cant- tem seu valor linguístico estabelecido pela oposição que faz a danç-, a bord-. E o morfema -ar tem seu valor estabelecido por sua diferença em relação a -er e -ir. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 26 EXEMPLOS
  • 27. • 1 – A partir de um verbo de ação, crie uma composição e suas oposições. • 2- Brinque com oposições em uma rede de frases. • 3 – Para a rede de Saussure, busque conexões e oposições em idiomas de línguas irmãs. • 4- Trace oposições e conexões em uma situação social. • Resenha do texto: Conversa com Linguistas: Virtudes e controvérsias da Linguística: Rodolfo Ilari, pg. 97 – 112. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 27 EXERCÍCIO em sala
  • 28. Linguística I – 2º. sem 2014 – aula 2 Prof. Dra. Águida Ap. Gava guidag@gmail.com
  • 29. • Para Saussure, o conjunto de diferenças que existe na língua está relacionado com a noção de valor. Em todos os exemplos acima, cada elemento analisado tem seu valor linguístico estabelecido por sua relação com os demais elementos da língua que sejam da mesma natureza. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 29
  • 30. Resumão: 1ª dicotomia: língua e fala • A língua é um sistema estruturado de elementos, que se define por sua relação com esses elementos; esses elementos, por sua vez, se definem por sua relação com o sistema e por sua relação com os demais elementos que compõem o sistema. (para Saussure, na língua só há diferenças). • A diferença que se estabelece entre cada elemento do sistema revela seu valor linguístico; • A língua é um produto essencial da faculdade da linguagem, com base no qual todas as outras manifestações da linguagem devem ser analisadas; • A língua é social, exterior ao indivíduo. Ela existe por uma convenção de uma comunidade. Não pode ser nem criada, nem modificada por um indivíduo. Nesse sentido, a língua difere da fala, que é individual.12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 30
  • 31. 2ª. dicotomia saussuriana: SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO • A noção de valor introduzida por Saussure trata das diferenças de que se constitui o sistema linguístico é de extrema importância na consideração dos dois elementos . • As ideias, • sons ou • gestos. • . 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 31 Entram na constituição do signo linguístico
  • 32. E o que é um signo linguístico • Signos são unidades linguísticas que significam alguma coisa. • Por exemplo, mesa é um signo do português • Arvoredo - composta de dois outros signos menores: arvor- (árvore) e -edo, que significa conjunto de alguma coisa. • Sentenças também são signos do português, porque significam alguma coisa. • Textos também são grandes signos, na medida em que possuem uma significação própria. • poemas, obras literárias. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 32
  • 33. E o que é um símbolo • A palavra símbolo é utilizada para designar o signo linguístico ou, mais exatamente, o que chamamos de significante. • O símbolo tem como característica não ser jamais completamente arbitrário; ele não está vazio, existe um rudimento de vínculo natural entre o significante e o significado. • O símbolo da justiça, a balança, não poderia ser subsídio por um objeto qualquer, um carro, por exemplo. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 33
  • 34. Teoria saussuriana: Sistema • A noção de valor é muito importante • Um signo se define pelas diferenças que ele tem quando comparado a outros signos. Cada signo tem um valor, e é esse valor que permite contrastá-lo com outros signos, e defini-lo. • Saussure (1969:131): 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 34
  • 35. signo pig signo pork Signo pig, que é o animal que nós chamamos de porco; signo pork, que é a carne do animal porco Inglês Signo Porco signo porco Significado: nosso conceito do animal [PORCO] Significante: /porku/ Português 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 35 Nas duas línguas, temos o mesmo esquema: Teoria saussuriana: Sistema
  • 36. • temos a impressão de que os signos são uma mera nomenclatura das coisas que existem no mundo. • Com a ideia de que o nosso mundo está repleto de coisas, e que a língua é criada para nomeá-las. • Então, as coisas já existiriam antes da língua?????????..... Significante e significado 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 36 Saussure se opõe frontalmente a essa visão. : Para ele, nossas ideias a respeito do que as coisas são dependem da língua. A seu ver, não existem ideias estabelecidas anteriormente à língua. Antes da língua, nosso pensamento é uma massa amorfa indistinta, como uma nebulosa.
  • 37. • Do mesmo modo, antes da língua, a substância fônica ou gestual que participa da constituição dos signos também é uma massa amorfa, constituída, de maneira desordenada, de todos os sons ou gestos que o ser humano é capaz de produzir. Significante e significado 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 37
  • 38. • A língua é uma relação que associa a massa amorfa do pensamento à massa amorfa fônica/gestual, formatando-as e delimitando-as de uma maneira particular. • Ao impor uma formatação à massa amorfa do pensamento, a língua cria o significado, que é um conceito. Significante e significado 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 38 • Ao impor uma formatação à massa amorfa fônica/gestual, a língua cria o significante, que é uma imagem acústica (no caso das línguas orais) ou ótica (no caso das línguas de sinais). • Juntos, significante e significado formam o signo linguístico.
  • 39. • A formatação das massas amorfas do pensamento e dos sons/gestos acontece ao mesmo tempo. • metáfora de Saussure da folha de papel: • o pensamento é a frente da folha, e o som/gesto é o verso. • Não podemos cortar um, sem cortar o outro. • Portanto, A LÍNGUA CRIA SIGNIFICANTE E SIGNIFICADO AO MESMO TEMPO. Pensamento Sons/gestos 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 39
  • 40. • Ao criar os signos, a língua impõe uma organização, tanto na massa amorfa do pensamento, quanto na massa amorfa fônica/gestual. Cada signo adquire um valor, que vai demarcar seus limites, e contrapô-lo a outros signos. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 40
  • 41. signo pig signo pork Signo pig, que é o animal que nós chamamos de porco; signo pork, que é a carne do animal porco Inglês Signo Porco signo porco Significado: nosso conceito do animal [PORCO] Significante: /porku/ Português 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 41 Nas duas línguas, temos o mesmo esquema: Teoria saussuriana: Sistema
  • 42. • enquanto em português o signo “porco” se opõe a outros animais e suas carnes, • em inglês, o signo pig se opõe a outros animais, mas também ao signo pork, que é a carne do porco. • Essa diferença entre os recortes feitos pelo inglês e pelo português pode também ser vista em outras categorizações. • O signo carneiro, animal e carne; o inglês tem, novamente, os signos: sheep para o animal, e mutton para sua carne. • O signo vaca, conceito do animal e de sua carne, no inglês são dois signos, cow e beef, para o animal e para a carne, respectivamente. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 42 Teoria saussuriana: Sistema
  • 43. • Para cores, alguns povos, ainda, têm apenas dois signos para todas as cores: um deles compreende o que para nós seria o preto, o azul, o verde e o cinza; o outro compreende o que para nós seria o branco, o amarelo, o laranja e o vermelho. • Os esquimós possuem mais 66 tons de neve para descrevê-la. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 43 Significante e significado
  • 44. Para Saussure, então, cada língua “cria” um mundo, diferente do mundo físico real. É com esse mundo criado pela língua que nós operamos. Vejam que, de todos os sons ou gestos que os seres humanos são capazes de produzir, cada língua escolhe um subconjunto deles 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 44 Significante e significado
  • 45. • Mas o que acontece na massa amorfa fônica ou gestual? • Como é que as línguas fazem recortes nessa massa fônica ou gestual? 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 45
  • 46. • No modelo de Saussure, podemos dizer que na formatação que o inglês faz da massa amorfa fônica, um valor foi atribuído aos sons [T] e [D], de modo que eles fazem parte do sistema linguístico do inglês. • No sistema do português, esses sons não têm valor. • Fenômenos semelhantes devem acontecer nas línguas de sinais. De todas as configurações de mão possíveis, de todos os pontos de articulação possíveis, cada língua de sinais deve escolher um subconjunto de configurações e pontos de articulação, e dar valor aos membros desse subconjunto, deixando várias configurações e pontos de articulação de fora. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 46
  • 47. • ao fazer as delimitações nas massas amorfas do pensamento e do sons/gestos, a língua produz uma forma. >FORMA >significante significado substância substância 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 47 • Ou seja, de uma substância amorfa de pensamento e de uma substância amorfa fônica/gestual, a língua cria uma forma. • Significante e significado são formas, não substâncias
  • 48. Linguística - ciência A linguística tem por objeto o estudo da forma do significante e da forma do significado, não da substância. Para Saussure, o estudo da substância do significado é objeto de estudo da psicologia, e o estudo da substância do significante é a fonética acústica e articulatória. Saussure estava tentando lançar as bases de uma ciência. Por isso, ele precisava ser radical no estabelecimento dos limites do objeto dessa ciência. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 48
  • 49. sequência linear o significante das línguas, por ser de natureza acústica, só poderia se desenvolver em uma sequência linear. Ou seja, seus elementos se apresentariam um após o outro, em uma linha no tempo. Em outras palavras, para Saussure, na língua não existe simultaneidade. Ele chega a dizer que, no caso do acento que se sobrepõe a uma sílaba, diferenciando as sílabas tônicas das sílabas átonas dentro de uma mesma palavra, não há simultaneidade de elementos significativos diferentes. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 49
  • 50. • Entretanto, tal visão é questionada por um grande número de linguistas. • Primeiro, porque ela não se aplica tão categoricamente às línguas de sinais; • Segundo, porque ela deixa de lado muitos fenômenos das línguas orais, que ocorrem simultaneamente à cadeia linear de significantes. • ( Em algumas línguas orais, como o português, por exemplo, o acento da palavra pode distinguir • Significado: signos sábia, sabia, sabiá. • O acento é algo que ocorre simultaneamente à pronúncia de sons vocálicos. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 50 sequência linear
  • 51. • A entonação também é distintiva de significado, e ela ocorre simultaneamente a uma sequência de significantes. • A sentença: Você foi ao cinema ontem e Você foi ao cinema ontem?. • Nas línguas de sinais, a simultaneidade é um fato bastante comum: • é possível se realizar um signo com uma mão, e outro com a outra, ao mesmo tempo. • Além disso, enquanto as mãos estão realizando sinais lexicais, a posição do tronco e da cabeça, a direção do olhar, as expressões faciais estão fornecendo informações discursivas e gramaticais. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 51 sequência linear
  • 52. • Mesmo assim, nas línguas de sinais, há linearidade em todos os níveis de análise: do fonológico ao discursivo. (INEGÁVEL) • apesar das propriedades de simultaneidade que ela exibe, existe muita linearidade em todas as línguas de sinais. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 52 sequência linear
  • 53. 3ª. Dicotomia: SINTAGMA E PARADIGMA • dicotomia sintagma versus paradigma • Nós podemos pensar em sintagma e paradigma como dois eixos: • o primeiro corresponde a um eixo horizontal, • o segundo a um eixo vertical. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 53
  • 54. SINTAGMA • O eixo sintagmático, ou horizontal, é o eixo da linearidade. • O exame dos elementos linguísticos nesse eixo envolve o contraste entre elementos que estão adjacentes à ele na cadeia de elementos que ocupa a linha horizontal. • Na mesma linha, completando seu sentido. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 54
  • 55. SINTAGMA Por exemplo, em português, a palavra inconstitucional é formada de quatro signos, ou morfemas: in-, • constitu- • -cion-, e • -al. Cada um desses signos adquire um valor porque se opõe ao signo que o precede, ou que o sucede, ou aos dois. No nível fonológico. Por exemplo, em uma palavra do português como bota, o fonema /b/ tem seu valor estabelecido pela relação que estabelece com o fonema /o/, que, por sua vez, tem seu valor estabelecido pelas relações que estabelece tanto com o fonema /b/, quanto com o fonema /t/, e assim por diante. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 55
  • 56. SINTAGMA O mesmo acontece com certas expressões: forçar a barra (insistir), Ou não dar bola (não dar importância). Cada termo dessas expressões complexas ganha valor pela oposição que faz aos termos precedentes ou seguintes e a toda a expressão. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 56 Denominamos relações sintagmáticas ou combinatórias;
  • 57. EIXO SINTAGMÁTICO (ou das relações combinatória) O mesmo acontece com certas expressões: forçar a barra (insistir), Ou não dar bola (não dar importância). em português, um artigo sempre vem antes do substantivo, como em o menino, um cachorro. Na fonologia, também há algum. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 57 Na fonologia, também há algumas ordens limitadas. Por exemplo, depois do fonema /b/, podemos ter uma vogal (como em bebe, bicho, boca, burro), e podemos ter as consoantes /r/ e /l/ (como em brasa, blusa), mas não podemos ter outras consoantes como /p/,/t/, /s/, etc.
  • 58. O eixo paradigmático (eixo vertical - relações associativas). 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 58 • Segundo Saussure, os signos que têm algo em comum se associam em nossa memória, formando grupos. • Dentro desses grupos, as relações que se estabelecem podem ser de vários tipos. Tomemos uma palavra do português como demonstração. Essa palavra se associa a muitas outras no que diz respeito à semelhança de significados
  • 59. O eixo paradigmático (eixo vertical - relações associativas). • formando, assim um paradigma com outras palavras como exibição, amostragem, exposição, etc. • Ela também se associa a outras palavras pela semelhança do radical: • formando um paradigma com palavras como demonstrar, demonstração, demonstrável, etc. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 59
  • 60. O eixo paradigmático semelhança de significados Semelhança de radical exibiçãoexposição demonstração amostragem demonstrar demonstração demonstrável 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 60
  • 61. O eixo paradigmático semelhança de palavras pelo sufixo constituição ração Semelhança dos significantes monstro tração educação construção demonstração 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 61
  • 62. arbitrariedade do signo linguístico • Quando tratamos de sintagma e paradigma, precisamos discutir uma outra noção que é bastante enfatizada na teoria saussuriana: • a arbitrariedade do signo linguístico: 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 62 Saussure trata do signo linguístico e da relação entre significante e significado da seguinte forma: o significante de um signo, ou seja, sua imagem acústica ou gestual, é imotivado. Saussure quer dizer que não existe nenhuma relação de semelhança entre essa imagem acústica ou gestual e o conceito associado a essa imagem.
  • 63. • Para ele, o significante /mar/ do signo mar não tem nenhuma relação com o conceito ao qual está associado. • O som não nos dá a ideia de mar. • O fato de o som [maR] nos levar ao conceito que temos de [MAR] é resultado de uma convenção aceita pelos falantes do português. • Ahhhh.. Todo sentido! 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 63 arbitrariedade do signo linguístico
  • 64. Ultima dicotomia: SINCRONIA E DIACRONIA • Para Saussure, a linguística é um tipo de ciência que deve se construir sobre dois eixos: • o do estado: eixo sincrônico: a língua é estudada como ela se apresenta em um determinado momento de sua história. Toda intervenção do tempo é excluída. • das evoluções: eixo diacrônico: a língua é analisada como um produto de uma série de transformações que ocorrem ao longo do tempo. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 64
  • 65. Significado para a língua • sincrônica – que aborda cada momento estático da partida como um evento; e a diacrônica – que aborda a sucessão desses mesmos eventos encadeados cronologicamente. • Diacronia < Grego dia ‘através de’ + chronos ‘o tempo’. Dito de outro modo, é no âmbito metodológico que podemos separar o eixo das simultaneidades (a sincronia) do eixo das sucessões (a diacronia), como mostra Saussure. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 65
  • 66. SINCRONIA E DIACRONIA • estudando o português: • Se o estudo for sincrônico: • analisamos o português da maneira como ele é hoje, • não nos interessa saber quais os estágios de evolução pelo qual essa língua passou, desde o latim até os nossos dias. • Se o estudo for diacrônico: procuramos entender o que foi que aconteceu na língua, ao longo de sua história, para que ela tivesse as características que tem em uma determinada época. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 66
  • 67. SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez • Cada posição do jogo corresponde a um estado da língua. • O valor das peças depende de sua posição no tabuleiro. • Da mesma maneira, na língua, cada elemento tem seu valor pela oposição que estabelece em relação a outros elementos. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 67
  • 68. SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez • Não é necessário que se mude mais que uma peça. Entretanto, essa mudança tem efeitos em todo o jogo. • Não há como prever com exatidão quais são esses efeitos, mas o deslocamento de uma peça acaba por ter consequências sobre as peças que não foram movidas. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 68 • Cada estado desses, quer do jogo de xadrez, quer do sistema linguístico, é sempre momentâneo. • Para passar de um momento a outro, ou de um estado a outro, uma peça é deslocada.
  • 69. • Tanto no xadrez, quanto na língua, é preciso diferenciar claramente os deslocamentos, de um lado, dos estados de equilíbrio que os antecedem ou que os sucedem, de outro. • Quando o jogador está pensando sobre o jogo, ele analisa sucessivamente os diversos estados pelos quais o jogo passa. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 69 SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez
  • 70. • Ele não fica se preocupando em lembrar como a configuração do tabuleiro chegou ao estado a que chegou. • O mesmo acontece com a língua. O falante de uma língua conhece essa língua da maneira como ela se apresenta durante seu tempo de vida. • Ele não se preocupa com sua evolução ao longo dos séculos. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 70 SINCRONIA E DIACRONIA: metáfora do jogo de xadrez
  • 71. Ressalva • Saussure faz apenas uma ressalva: • no jogo, o jogador tem a intenção de mover uma peça e, assim, alterar o estado do jogo. Na língua, isso não acontece. • As mudanças na língua não são intencionais. • A língua muda naturalmente. • Em alguns poucos casos, existem algumas pressões externas que provocam uma mudança linguística. Essas pressões podem ser consequência de contato com outras línguas, ou podem ser devidas a algumas mudanças sociais. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 71 !!!
  • 72. Ressalva • Mas, muitas vezes, as línguas mudam por razões internas à própria língua. • Como dos fonemas fonemas /¥/ (-lh-)e /¯/ (-nh-). Elas parecem ter sido mudanças espontâneas e fortuitas. • Tais questões serão aprofundadas na disciplina de Sociolinguística. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 72 !!!
  • 73. Etimologia de “Diacronia”, e etimologia de “História” • Diacronia < Grego dia ‘através de’ + chronos ‘o tempo’. • O termo diacronia remete a chronos, pela junção de dia ‘através de’ – chronos, ou seja, ‘através do tempo’. • Na cosmologia grega, Chronos é fruto da união entre o Céu (Urano) e a Terra (Gaia) – mas também fruto da cisão fundamental entre ambos, uma vez que é ao conseguir separar-se violentamente do abraço de Urano que Gaia consegue dar à luz a Chronos, e assim originar o próprio cosmo. • O ‘nascimento’ de Chronos (ou seja, a separação entre o céu e a terra) é que possibilita a abertura do espaço, o correr do tempo, a sucessão das gerações. Mas Chronos não ‘é’ o ‘tempo’, e sim possibilita nossa percepção do desenrolar dos acontecimentos em uma dimensão sucessiva, fora da união original que foge à nossa percepção. • O próprio Chronos, por sua vez, tem uma história violenta; devora seus filhos ao nascerem (o que tem sido interpretado como uma alegoria da passagem linear do tempo – os séculos engolem os anos que engolem os dias que engolem as horas...). A ideia de cronologia, de cronológico, remete assim, pela etimologia grega, fundamentalmente à noção de sucessão e linearidade. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 73
  • 74. 1. O que e quais são as Dicotomias Saussurianas? 2. Diferencie língua de linguagem. 3. Explique um sistema de valores de acordo com Saussure: 4. O cálculo do valor dos elementos linguísticos deve ser feito levando em conta dois eixos, quais são e como se dá? 5. Qual a diferença entre língua e fala? 6. O que é um signo linguístico? 7. Explique significante e significado: 8. Explique massa amorfa fônica/gestual: 9. Explique a frase: “A constituição do signo pode ser motivada, mas é sempre convencional”. 10. De acordo com a dicotomia: SINCRONIA E DIACRONIA, como a língua pode ser estudada em sua dimensão estática, e em sua dimensão evolutiva ou histórica? 11. Pesquise, analise e escreva sobre a metáfora do jogo de xadrez e sobre a metáfora da rede.12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 74 Responda:
  • 75. • Outras considerações de Saussure... 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 75
  • 76. Elementos internos e elementos externos da língua • Linguística externa: “Se ocupa, todavia, de coisas importantes, e é sobretudo nelas que se ´pensa quando se aborda o estudo da linguagem • Incluem nela, primeiramente, todos os pontos em que a Linguística confina com a Etnologia, todas relações que podem existir entre: • história de uma língua • história de uma raça ou civilização”. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 76 Essas duas histórias mantem reciprocidade Os costumes duma nação têm repercussão na língua e, por outro lado, é a língua que constitui a Nação 1
  • 77. Elementos internos e elementos externos da língua • Língua e História política: acordos, colonização, conquistas. • Ex: Nheengatu, inserção do inglês na rede nacional de ensino. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 77 As relações da língua com instituições de toda espécie • A língua literária ultrapassa, em todas as partes, os limites que parecem lhe traçar a literatura • Provoca e estabelece conflito com ela e os dialetos locais. 2 3 Ligadas ao desenvolvimento literário da língua
  • 78. Se um dia nois se gostasse Se um dia nois se queresse Se nois dois se empareasse Se juntim nois dois vivesse Se juntim nois dois morasse Se juntim nois dois drumisse Se juntim nois dois morresse Se pro céu nois lá subisse Mas porém acontecesse de São Pedro não abrisse a porta do céu efosse te dizer qualquer tolice E se eu ariminasse E tu cum eu insistisse pra que eu me aresolvesse E a minha faca puxasse E o bucho do céu furasse Tavés que nois dois ficasse Tavés que nois dois caisse E o céu furado arriasse e as virgi toda fugisse12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 78 http://www.youtube.com/watch?v=ReVVuq0SnlY AI SE SÊSSE Zé da Luz – Cordel do fogo encantado
  • 79. Elementos internos e elementos externos da língua 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 79 • Extensões geográficas • Fracionamento Dialetal O linguista deve examinar tais relações: língua literária (produto da cultura) x língua corrente (esfera natural – língua falada) Está associado à existência de qualquer língua, mas é fenômeno externo : NÃO AFETA O ORGANISMO INTERNO DO IDIOMA 4 • Semelhante à constituição orgânica de uma árvore, não se altera
  • 80. Prestígio da escrita: causas de seu predomínio sobre a forma falada Não é nunca dispensável conhecer as circunstâncias em meio as quais se desenvolveu uma língua (p. 31, cap. V) O linguista está obrigado a conhecer o maior número possível delas para tirar , por observação comparação, o que nelas exista de universal. É interno:“TUDO QUANTO PROVOCA MUDANÇAS DO SISTEMA EM QUALQUER GRAU” 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 80
  • 81. Prestígio da escrita: causas de seu predomínio sobre a forma falada Língua e escrita: SISTEMAS DISTINTOS DE SÍGNOS O SEGUNDO EXISTE PARA REPRESENTAR O PRIMEIRO. DOIS SISTEMAS DE ESCRITA: Sistema ideográfico, sistema fonético O linguista está obrigado a conhecer o maior número possível delas para tirar , por observação comparação, o que nelas exista de universal. É interno: “TUDO QUANTO PROVOCA MUDANÇAS DO SISTEMA EM QUALQUER GRAU” 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 81
  • 82. Algumas pessoas se opuseram a Saussure: • afirmando que as onomatopeias são motivadas. Por exemplo, ao falarmos do tic-tac de um relógio, estaríamos capturando a semelhança que existe entre o signo tic-tac e o barulho feito pelo relógio. • A defesa de Saussure a essa crítica se fundamenta em dois argumentos: • 1- que as onomatopeias são raras nas línguas; • 2- que sua escolha já é arbitrária, na medida em que elas apenas se aproximam dos sons que ouvimos. • 3- a arbitrariedade desses signos também se revelaria no fato de que as onomatopeias se conformam a todo o sistema fonético-fonológico da língua. • Isso significa que, por mais que tentemos criar signos por imitação aos sons e ruídos que ouvimos, vamos fazer essas imitações valendo-nos do sistema do português, e não realizando sons que não são próprios dessa língua. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 82
  • 83. Arbitrariedade • Saussure já fazia uma diferença entre arbitrariedade absoluta e arbitrariedade relativa do signo linguístico: • um signo como vinte é totalmente arbitrário ou imotivado. • Mas um signo como dezenove é apenas parcialmente arbitrário: • faz lembrar os signos que entram em sua composição (dez e nove). • O mesmo acontece com o signo pereira, que lembra o signo pêra, e cujo sufixo remete a outras árvores como cerejeira, macieira, jaqueira, etc. • Se compararmos esses nomes de árvores a eucalipto, ou carvalho, vemos que os primeiros são mais motivados do que os últimos. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 83
  • 84. o que isso tem a ver com a dicotomia sintagma e paradigma? • A motivação parcial de um signo linguístico se explica por dois princípios: • pela análise de um signo em signos menores, o que evidencia uma relação sintagmática; • pela associação desses signos a outros signos, o que evidencia uma relação paradigmática. • Vejam que, em um signo como cerejeira, não só a divisão • sintagmática em dois morfemas - cereja- e -eira – • e o sentido dessas unidades é facilmente percebido, na medida em que elas participam de relações paradigmáticas bastante claras: pêra se associa a cereja, a maçã, a laranja, a banana; • e -eira recebe seu valor a partir de sua associação com outros morfemas como -al, em bananal, jaboticabal, laranjal, etc. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 84
  • 85. Arbitrariedade • Saussure chega mesmo a afirmar que não existe língua em que nada seja motivado. • As línguas se colocam entre dois polos: • mínimo de arbitrariedade e • máximo de arbitrariedade, • algumas tendendo mais para um pólo, outras tendendo mais para outro. • Saussure não está, nem de longe, pensando na forte iconicidade que as línguas de sinais apresentam. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 85
  • 86. Arbitrariedade • Dentro da noção de arbitrariedade que Saussure desenvolve, está a noção de convencionalidade: • Característica forte de todas as línguas humanas. • Os signos linguísticos sempre são convencionais, mesmo quando são icônicos. • Ser convencional significa que eles não são previsíveis, ou seja, nós não podemos adivinhar, antecipadamente, como vai ser em uma língua, ou em outra, o signo que se refere a uma determinada entidade. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 86
  • 87. Textos complementares • Conversa com Linguistas: Virtudes e controvérsias da Linguística: Rodolfo Ilari, pg. 97 – 112. • A Linguística Computacional • A Semiótica • As novas Tendências da Linguística: uma orientação à linguística moderna. Bertil Malmberg, tradução Francisco da Silva Borba. 2. ed. • O formal e o funcional na teoria variacionista. Roberto Gomes Camacho. XLIX Seminário do GEL, Marília, de 24 a 26 de maio de 2001. • A linguística antes d Saussure - • Prólogo: Mídia, preconceito e revolução. Marcos Bagno. 2003. 12/02/2014 UFMT - Instituto de Linguagem - Cuiabá -MT 87