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INFLUÊNCIA ARGENTINA NA FORMAÇÃO SOCIAL DE FOZ DO IGUAÇU:
IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS
Denise Kloeckner Sbardelotto1
RESUMO: A formação social de Foz do Iguaçu, município “pioneiro” da mesoregião
Oeste do estado do Paraná, ocorreu sob forte miscigenação étnica, principalmente por
índios, brasileiros descendentes de europeus, paraguaios e argentinos. Antes e depois da
fundação da Colônia Militar do Iguaçu, que ocorreu em 1889, esta região representou
uma grande fonte de enriquecimento e de exploração, tanto de reservas naturais (erva-
mate e madeira) que aqui existiam em abundância quanto da mão-de-obra de uma classe
economicamente desprivilegiada. Desde os primórdios da ocupação branca da região da
tríplice fronteira, a influência de países vizinhos como a Argentina, foram fatores
decisivos no desenvolvimento de uma região que ainda hoje carrega características
bastante peculiares em relação ao restante do Brasil. A influência argentina sobre Foz
do Iguaçu se deu nos aspectos econômico (relações de comércio, companhias de
exploração de erva-mate e de madeira, utilização de mão-de-obra argentina e brasileira,
etc.), cultural (idioma, religião, etc.) e educacional. Com base numa abordagem
materialista histórico-dialética, este artigo analisa estas influências argentinas na
formação social de Foz do Iguaçu e as implicações desta influência na educação deste
município. Partimos do pressuposto de que as relações econômicas e sociais
estabelecidas entre brasileiros e argentinos foram determinantes para a construção das
características da educação disponível ou não aos habitantes da região.
Palavras-chave: História; Educação; Foz do Iguaçu; Argentina.
THE INFLUENCE OF ARGENTINA ON THE SOCIAL FORMATION OF
IGUAÇU FALLS CITY: EDUCATIONAL IMPLICATIONS
Abstract: The social formation of Iguaçu Falls, pioneer city in the midwest of Paraná
State, has occurred under strong ethnic miscegenation, mainly for indians, Brazilians
descendents of Europeans, Paraguayans and Argentines. Before and after the foundation
of the Iguaçu Falls' Military Colony, that occurred in 1889, this region represented a
great source of enrichment and exploration, as much as its natural reserves (Mate herb
and native woods) that here were native and abundant, as the labor from a class
economically low. Since the beginning of the white men occupation in the region of the
triple border, the influence of neighboring countries as Argentina, had been decisive
1
Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, linha de pesquisa em História e
Políticas Educacionais. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Estado, Educação e Trabalho – GEEPET e do
Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil - GT da Região Oeste do Paraná - HISTEDOPR.
Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Contatos: (42) 9112 1359 –
deniseklsb@yahoo.com.br .
factors in the development of a region that still today loads sufficiently peculiar
characteristics in relation to the rest of Brazil. The influence of Argentine on the Iguaçu
Falls was in the economical aspects (commerce relations, the exploration of Mate Herb
and native woods, use of Argentine and Brazilians labor, etc.), cultural (language,
religion, etc.) and educational. Based on a Materialistic and Historical-Dialectical
Approach this article analyzes these Argentine's influences on the Iguaçu Falls' social
formation and the implications of this influence in the education of this city. It was
considered the hypothesis that the economic and social relations established between
Brazilians and Argentines had been decisive for the construction of the characteristics of
available or non-available education for inhabitants of the region.
Key-Words: History; Education; Iguaçu Falls; Argentina.
1. Introdução
Assim como não é comum encontrar o ponto de vista dos vencidos na
historiografia tradicional positivista, a participação das regiões Oeste no
desenvolvimento social e político do Brasil também foi bastante omitida ou não
enfatizada. Trata-se de um processo também pouco explicitado nos livros de História do
Brasil e de História do Paraná. Geralmente, além de ser contada como dos brancos, a
história é contada como do leste ou do litoral. À medida que as terras do leste do
continente sul americano foram ocupadas por portugueses, holandeses, franceses,
africanos e mestiços brasileiros, muitos povos nativos da América pré-crabalina2
migraram para o Oeste, onde o “contato” foi muito posterior aos 1500.
Na mesoregião3
Oeste do atual estado do Paraná – terras dos povos Guarani – a
partir do século XVI aconteceram “camadas” de ocupações pelos povos não-índios:
espanhóis, jesuítas, bandeirantes portugueses, obrageiros e mensus4
e, no final do
século XIX, o processo de ocupação por brasileiros iniciou-se com os militares e, já
próximo de meados do século XX, com os migrantes sulistas chamados de “colonos”.
Portanto, durante praticamente todo o século XIX o Oeste paranaense ficou esquecido
pelos governos brasileiros. O difícil acesso por terra, os acordos internacionais de
navegabilidade e a falta de fiscalização brasileira favoreciam a ocupação estrangeira e a
exploração ilegal de toda a riqueza natural deste território.
Além do reconhecimento à população indígena do grupo cultural tupi-guarani
que aqui habitavam há muito tempo, estamos cientes de que ao longo de sua história,
toda a ocupação e desenvolvimento do Oeste do estado do Paraná foi fortemente
influenciada por pessoas de diversas nacionalidades, incluindo paraguaios, árabes,
alemães, argentinos, etc. Contudo, ainda antes da Proclamação da República no Brasil e
durante as primeiras décadas do século XX, identifica-se o predomínio da influência
econômica e cultural argentina neste território. Buscando analisar como este processo
2
Termo que denomina o período anterior à chegada de Pedro Álvares Cabral à América em 1500.
3
O termo “mesorregião” se constitui num espaço com identidade regional e “[...] uma área individualizada, em uma
unidade da Federação, que apresente formas de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o
processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicação e de lugares,
como elemento de articulação espacial.” (IBGE apud Peiruccini; Bulhões, 2002, p.72). Cada mesorregião abrange
“microrregiões” representadas por núcleos urbanos pólos. Estes conceitos passaram a ser empregados no Paraná a
partir de 1997, como resultado de uma revisão das divisões estaduais definidas em 1968. A partir desta
reorganização, a mesoregião Oeste do estado do Paraná compreende três microregiões: microregião de Cascavel,
microregião de Foz do Iguaçu e microregião de Toledo, totalizando cinqüenta municípios e com área total de
aproximadamente 22.811.242 km². (PIERUCCINI; BULHÕES, 2002).
4
Os termos obrages e mensus são originários do espanhol e significam, respectivamente, o local onde o trabalho
manual é executado a condição de mensalista. Estas obrages extraíam e exportavam erva-mate e madeira, cujos
proprietários eram denominados obrageiros e os mensus eram em sua maioria peões de origem paraguaia ou guarani.
ocorreu, o objetivo deste artigo é identificar a influência argentina na formação social
do atual Município de Foz do Iguaçu, núcleo urbano “pioneiro”5
da atual mesoregião
Oeste do estado, identificando a relação entre a influência econômica, política e cultural
e o atendimento – ou ausência dele – às demandas por educação neste território de
tríplice fronteira. Com base em um referencial teórico-metodológico alicerçado no
materialismo histórico-dialético, partimos do pressuposto de que as relações
econômicas e políticas estabelecidas nesta região, em última instância, determinaram os
aspectos culturais e educacionais em Foz do Iguaçu. O recorte histórico estabelecido
para a análise compreende o período da Primeira República, do ano de criação da
Colônia Militar do Iguaçu em 1889 até 1930, quando se instaura o Movimento de 1930
no Brasil e desenvolve-se de forma mais acentuada as iniciativas de ocupação dos
territórios “vagos” do país, como parte do novo projeto nacionalista. Para construir esta
análise utilizamos documentos bibliográficos primários (testemunho oral de habitantes
“pioneiros”) e secundários (livros, artigos, monografias, dissertações, teses, etc.).
2. Influência argentina nos primórdios de Foz do Iguaçu
A iniciativa de organizar e viabilizar uma expedição para ocupar a mesoregião
Oeste paranaense e salvaguardar a estratégica tríplice fronteira só foi efetivada no final
do século XIX, quando o ministro João Alfredo criou a “Comissão Estratégica do
Paraná”, com a missão de fundar na região da foz do rio Iguaçu uma Colônia Militar e
de construir estradas estratégicas que ligassem a região ao restante da Província.
Segundo Brito (2005) como parte da incumbência desta Comissão, a expedição rumo ao
Oeste do Paraná partiu em 13 de setembro de 1889 e chegou à foz do Iguaçu em 22 de
Novembro de 1889, fundando a Colônia Militar do Iguassú. (WACHOWICZ, 2002).
Durante o trajeto da expedição, mais precisamente na região do atual Município de Céu
Azul, a expedição surpreendeu-se quando encontrou com grupos de índios paraguaios,
contratados por ervateiros argentinos para a extração da erva-mate. Com isso podemos
perceber que a presença dos capitalistas argentinos no Oeste do Paraná data do período
Imperial e muito antes da fundação da Colônia Militar. Além disso, a costa Oeste
paranaense possuía apenas portos estrangeiros: havia o Britânea, pertencente aos
ingleses, o Santa Helena e o Sol de Maio, cuja parte pertencia ao Banco Francês-
5
O termo “pioneiro (a)” será utilizado entre aspas, mostrando que não compactuamos com a análise eurocêntrica e
indicando que nos referimos à ocupação brasileira do século XIX e XX. Não desconsideramos as ocupações ocorridas
em períodos históricos anteriores, incluindo a ocupação indígena dos povos Guarani e Caingangue no estado do
Paraná.
Italiano, e todos os demais portos pertenciam aos capitalistas argentinos. Estes portos
serviam para exportar a grande quantidade de erva-mate e de madeiras de lei, extraídas
por estrangeiros e comercializadas na Argentina, muitas vezes de forma ilegal.
Como nas primeiras décadas do século XX o acesso por terra à atual mesoregião
Oeste do Paraná ainda era muito precário, os capitalistas argentinos tinham grandes
facilidades para ocupar e explorar os ervais e a madeira, escoando essa produção através
dos rios Paraná e Paraguai. Até o final da década de 1920, só se podia chegar a esta
região de maneira segura pelo rio Paraná, via Buenos Aires e dependia-se da navegação
argentina, pois todos os vapores eram de propriedade dos capitalistas argentinos.6
Wachowicz (2002) afirma que a atual mesoregião Oeste do Paraná se encontrava tão
vulnerável, que era mais explorada por argentinos do que por brasileiros.
Desta forma, a região Oeste do Paraná ficou mais exposta à penetração
argentina, via fluvial, do que à ligação terrestre com os grandes centros
brasileiros. Por volta de 1881, os argentinos começaram a explorar erva-
mate na região de Misiones. Não demorou para que os portenhos chegassem
ao oeste paranaense, atraídos pela erva-mate da região. Esta erva-mate saía
do Paraná como contrabando. Não havia nem uma infra-estrutura instalada
na região capaz de cobrar os impostos de exportação devidos.
(WACHOWICZ, 2002, p. 225-231).
Além dos argentinos, havia também um grande número de paraguaios que
penetravam no Oeste do Paraná para trabalhar nas empresas que extraíam a erva-mate e,
posteriormente, a madeira da região. Contudo, enfatizamos a presença argentina, pois
estes eram aqueles que de fato detinham os meios de produzir e comercializar a
principal atividade produtiva da região e que, através deste controle econômico,
determinavam os costumes, a cultura e também a educação neste território.
No final do século XIX, esse tipo de exploração já era comum no Paraguai e na
Argentina (principalmente em Corrientes e Misiones) e estas propriedades
denominavam-se obrages. Os obrageiros argentinos, proprietários das obrages,
encontraram no Oeste do Paraná ótimas oportunidades de enriquecimento, além da
pouca ou nenhuma fiscalização alfandegária brasileira. Estes obrageiros chegaram ao
Oeste paranaense devido ao declínio da produção de erva-mate das obrages argentinas,
que era bastante consumida em todo o território sul americano. (COLODEL, 2002a).
Os obrageiros argentinos entravam neste território de duas formas: organizando
espécies de firmas e com a compra de terras junto ao governo paranaense ou
6
Conforme Colodel (2002b), “A única embarcação de nacionalidade brasileira presente nas águas do rio Paraná era
um vaporzinho pertencente à repartição aduaneira e que para lá foi enviado em 1907.” (COLODEL, 2002b, p. 25).
ilegalmente, o que acontecia com maior freqüência. (WACHOWICZ, 2002). “Essa
frente extrativa de erva-mate era pois de capital argentino, mão-de-obra paraguaia e
matéria-prima brasileira.” (WACHOWICZ, 2002, p. 234). O Brasil, que até então não
havia assumido efetivamente uma política para tomar posse e defender todo o Oeste de
seu território, entrava com a matéria prima de qualidade e perdia capital pela enorme
quantidade de produtos que eram exportados sem o devido recolhimento de impostos
alfandegários. O Paraguai, que fora um forte produtor e exportador de erva-mate em
período anterior à Guerra da Tríplice Aliança, economicamente empobrecido e
devastado pelo resultado da referida guerra, apenas fornecia mão-de-obra para as
empresas argentinas.
As principais obrages argentinas que legalmente se estruturaram na costa Oeste
paranaense foram: a Lopeí, desde 1905 de propriedade da empresa argentina Nuñes y
Gibaja e a expressiva obraje Porto Artaza, de propriedade do argentino Julio Thomas
Allica. Existiam outras obrages importantes e de propriedade de estrangeiros, tais como
a Braviaco, a Compañia de Maderas del Alto Paraná, a Mate Laranjeira, etc. Em 1930,
nas obrages totalizavam nada menos que 10.000 habitantes estrangeiros.
(WACHOWICZ, 2002). Das Sete Quedas até a foz do Iguaçu, vários portos foram
instalados, por onde os vapores embarcavam e desembarcavam os trabalhadores das
obrages e se abasteciam de mercadorias de exportação para a Argentina. Por deterem os
meios de produção da extração, beneficiamento e exportação da erva-mate e,
posteriormente da madeira, os capitalistas argentinos eram aqueles que de fato detinham
o controle da região Oeste do Paraná neste período.
Nas primeiras décadas do século XX, a extração e comercialização da erva-mate
para a Argentina – principal consumidor de erva-mate do continente nos anos finais do
Império e nos primeiros anos da República brasileira – era a principal fonte de lucro das
obrages. Na década de 1930, as exportações diminuíram muito, devido à política de
auto-abastecimento da Argentina, através das plantações artificiais de erva-mate nas
Misiones.7
Alguns obrageiros encontraram uma forma de manter suas obrages:
intensificação da exploração da madeira de pinho (cerrada) e de lei (em toras),
comercializada na Argentina.
7
Segundo Colodel (2002b), “[...] também governo argentino contribui para a decadência das obrages no Oeste
paranaense e mato-grossense, a partir do momento em que incentivou e até subsidiou o plantio científico de ervais no
território de Missiones. Assim o fez para diminuir sua dependência da erva-mate brasileira. A partir da década de
1930 o governo argentino dobrou a carga tributária para a importação da erva-mate. Assim, quando se inicia a
nacionalização da região pelas autoridades brasileiras, as obrages já mostravam claros sinais de inviabilidade
econômica.” (COLODEL, 2002b, p. 2-3).
O domínio econômico argentino e o abandono da região Oeste do Paraná pelo
governo brasileiro acarretaram até mesmo na circulação da moeda argentina e a
inexistência de réis8
nas relações comerciais estabelecidas nesta região. Era o efetivo
domínio estrangeiro no território legalmente brasileiro. Segundo o depoimento de
Antonio A. Aguirra (1980), na região de Foz do Iguaçu “Só circulava a moeda
estrangeira. No fim do mês que tínhamos que recolher este dinheiro da reserva nacional
para Curitiba, tínhamos que fazer o câmbio do peso argentino para o nacional, a nossa
moeda corrente e ocupamos o cônsul brasileiro em Posadas.” (AGUIRRA, 1980).
Os trabalhadores das obrages eram chamados de mensus, ou seja, os peões
recrutados pelos obrageiros para efetuarem os trabalhos nas obrages, em sua maioria
índios paraguaios (guaranis modernos). (WACHOWICZ, 2002). Conforme depoimento
do iguaçuense Carlos Engel, filho de uma família tradicional de Foz do Iguaçu e antigo
funcionário gerente da Companhia Mate Laranjeira, os mensus eram contratados por
funcionários dos obrageiros argentinos, nos povoados existentes no trajeto feito pelas
embarcações de erva-mate pelo rio Paraná, que seguiam em direção à Posadas ou
Buenos Aires. (ENGEL, 1980). Estes contratos eram chamados de conchavos e a
antecipação salarial de três meses de salário era chamada de antecipo. Após o
recebimento do antecipo, os mensus tinham de aguardar algum tempo os vapores que os
levariam até as obrages, período em que gastavam todo este dinheiro e começavam a
trabalhar já endividados com o obrageiro. Quando estavam instalados nas obrages, não
recebiam em dinheiro, mas em uma espécie de vale, que chamavam de boleto, com o
qual eram obrigados a comprar nos armazéns ou centrais de abastecimento das
empresas. Não era permitido aos mensus o cultivo de alimentos ou criação de animais,
justamente para garantir e aumentar essa dependência em relação à empresa.
(WACHOWICZ, 2002). Esta forma de contratação dos trabalhadores das obrages era de
extremo benefício para os obrageiros detentores dos meios de produção da erva-mate e
da madeira, estabelecendo-se uma relação de servidão e violenta exploração.
Em 1905 já havia aproximadamente mil habitantes na Colônia Militar do
Iguassú. Segundo o depoimento de Aguirra (1980) Foz do Iguaçu “[...] era composta
mais ou menos quarenta por cento de brasileiros e sessenta por cento de estrangeiros,
paraguaios e argentinos.” (AGUIRRA, 1980). As autoridades da Colônia podiam
conceder lotes de terra aos habitantes que quisessem ali residir, fossem estrangeiros ou
8
Réis era a unidade monetária do Brasil no plural, denominada Real, utilizada desde o período colonial até o
lançamento do Cruzeiro em 1942.
brasileiros, sob condição de cultivar em seus lotes uma agricultura de subsistência,
necessária para os habitantes da região. Entretanto, depois de feita a concessão, a grande
dificuldade da Colônia era manter estes colonos na propriedade. Depois de explorados,
os lotes concedidos eram abandonados e os colonos partiam em busca de erva-mate em
outras terras, até mesmo em terras do governo. (WACHOWICZ, 2002). Este fenômeno
se devia à predominância da atividade de extração e beneficiamento da erva-mate e da
madeira como principal fonte de renda e riqueza na região. Apesar do incentivo, a
agricultura não era uma atividade atrativa para os colonos, que visualizavam na erva-
mate oportunidades mais seguras e de retorno garantido.
Mesmo com a fundação do Município de Foz do Iguaçu em 1914, o acesso por
terra via Guarapuava até o Oeste do Paraná ainda era muito precário – existiam apenas
picadas, que ficavam intransitáveis em períodos de chuva –, por isso era comum chegar
à região ou importar mercadorias de consumo da cidade argentina de Posadas, Puerto
Aguirre ou de Buenos Aires, donde partiam os vapores trazendo produtos de
alimentação, vestuário, móveis, remédios, etc. e aportavam em Foz do Iguaçu de quatro
a cinco vezes por semana. (LIMA, 2001). Esses barcos existiam para exportar erva-mate
e madeira para a Buenos Aires, mas também eram usados para o transporte de pessoas e
de mercadorias: “Mercadoria, tudo que se utilizava em Foz do Iguaçu era vindo da
Argentina, entrava livremente. Tanto na parte de alimentação, como de vestuário e
móvel de casa, tudo, tudo era da Argentina. Nós não tínhamos contacto nenhum com o
Brasil.” (SCHIMMELPFENG, 1980).
O Golpe de 1930 – marco do rompimento do pacto oligárquico e início
de uma economia voltada à ascensão urbano industrial – e a posse de Getúlio Vargas,
efetivamente consolidou a implantação do capitalismo no Brasil, através de acordos
entre novos setores da sociedade com o grupo tradicional e destes com o capital
internacional, definindo a vitória da influência tenentista por um governo centralizado e
nacionalista. Este novo projeto nacionalista de desenvolvimento do país não poderia
compactuar com o domínio estrangeiro sobre território brasileiro. Sendo assim, políticas
nacionais de interiorização e ocupação dos espaços brasileiros ainda “vagos” foram
colocadas como prioritárias para a conquista da brasilidade.
Em 1930, o interventor paranaense nomeado por Getúlio Vargas, General Mário
Tourinho, tomou algumas medidas que tinham o intuito de nacionalizar a região da
“fronteira guarani”. Através do Decreto Estadual n.º 300 de 1930, o engenheiro Otton
Mader foi nomeado prefeito de Foz do Iguaçu, com o intuito de “[...] promover uma
administração agressiva, de ocupação brasileira do território, caracterizada pela
valorização do idioma e da moeda nacionais.” (SPERANÇA, apud Lopes, 2002, p. 49).
Através deste Decreto e da posse de Mader, a prefeitura de Foz do Iguaçu passou a ser
obrigada a despachar seus documentos, os anúncios comerciais, listas de preços ou
avisos, apenas em língua portuguesa e teve de cumprir a obrigatoriedade do uso da
moeda brasileira para o recebimento de taxas ou impostos. Todo o dinheiro estrangeiro
recebido pela prefeitura deveria ser convertido em dinheiro nacional e depositado em
um banco de Curitiba e as repartições públicas e entidades civis passariam a receber
gratuitamente jornais da capital do estado. Além disso, com o referido Decreto o
governo do Paraná retomou as amplas concessões de terras feitas às empresas Meyer
Anes e Cia. Ltda., Companhia de Colonização Espéria, Brazil Railway Company e pela
sua subsidiária, a Companhia Brasileira de Viação e Comércio – BRAVIACO e às
concessões feitas à Miguel Matte.
Segundo Colodel (2002a), a mais importante ação desencadeada a partir do
Decreto Estadual n.º 300 foi a retomada pelo estado do Paraná destas grandes extensões
de terras concedidas às companhias colonizadoras estrangeiras. Esta retomada estava
relacionada à necessidade de povoar o território e nacionalizar o Oeste do Paraná. Esta
medida acabou mais tarde possibilitando a migração para o Oeste do Paraná de grande
número de “colonos” dos estados de Santa Catarina e principalmente do Rio Grande do
Sul. (COLODEL, 2002a).
A tendência nacionalista de Vargas originou o programa de “Marcha para
o Oeste”, o qual previa a fundação de territórios federais nas regiões da fronteira
brasileira ameaçadas pela ocupação de países estrangeiros. O Oeste do estado do Paraná
fazia parte do projeto de criação do Território Federal do Iguaçu, que seria composto
pelo Oeste e Sudoeste do Paraná e Oeste catarinense, que para o governo “[...] estavam
sujeitos a riscos de ocupação por parte de estrangeiros.” (LOPES, 2002, p. 47). Este
Território teria vigência apenas de três anos, de 1943 a 1945, ano da deposição de
Getúlio Vargas. Lopes (2002) afirma que a principal preocupação do governo brasileiro
chefiado por Vargas em relação à ocupação de fronteiras, era com a influência da
Argentina nestes territórios.
Em 12 de dezembro de 1930 o governo federal firmou o Decreto n.º
19.842, que exigia a contratação de no mínimo dois terços de trabalhadores brasileiros
nas empresas estrangeiras que atuassem em território brasileiro. Tanto as mudanças na
economia mundial a partir da década de 1930, quanto a intensificação da fiscalização
brasileira e a retomada das concessões de terras pelo governo do Paraná, dificultaram a
atuação das empresas estrangeiras no Oeste do Paraná, que aos poucos deram lugar às
empresas nacionais de exploração da madeira, cuja produção e exportação se
intensificou a partir da década de 1940.
Esta contextualização e caracterização do Oeste do Paraná e de Foz do
Iguaçu, seu núcleo urbano “pioneiro”, durante o último período do século XIX e início
do século XX, fizeram-se necessárias para que possamos a seguir, analisar quais foram
as implicações da influência econômica, política e cultural nas demandas por educação
e se educar era efetivamente necessário diante da forma como a sociedade estava
organizada.
3. Influência argentina em Foz do Iguaçu: implicações educacionais
O que foi exposto acima a respeito da influência econômica e política argentina na
região de Foz do Iguaçu não está desvinculado das questões culturais e educacionais.
Ao contrário, a estrutura da sociedade iguaçuense nas primeiras décadas do século XX
determinou a busca por alternativas para educar, bem como a quem era possível ter
acesso a algum tipo de educação.
O estado do Paraná, durante as primeiras décadas da República, encontrava-se
subordinado à descentralização das questões da instrução pública imposta pelo Ato
Adicional de 1834, que adicionou e alterou elementos à Constituição de 1832 e que
transferiu às províncias e estados a responsabilidade por criar e subvencionar a instrução
pública em seus territórios. Entretanto, o difícil acesso por terra, a predominância da
influência política e econômica argentina e a presença de grande número de estrangeiros
colocava o Oeste do Paraná em situação ainda mais precária do que o restante do estado.
A influência dos capitalistas argentinos estava longe de ser apenas econômica.
Como resultado desta hegemonia, predominava também toda a cultura argentina (a
religião, os costumes argentinos, língua castelhana, etc.). Ainda conforme o depoimento
de Ottília Schimmelpfeng, filha de um chefe-político de grande poder em Foz do Iguaçu
nas primeiras décadas do século XX, a região vivia isolada do restante do Brasil e todos
os hábitos de seus habitantes eram de influência argentina.
Eu sentia aqui como se não tivesse no Brasil. Me sentia aqui isolada, parecia
que eu estava em outro país até. Porque todos os hábitos, a, a língua falada
aqui era mais, que predominava era o espanhol, o castelhano como se dizia.
Parece que as pessoas quando vinham pra cá, no Brasil, se achavam na
obrigação de aprender o castelhano pra ser entendido. Parecia! E todo
mundo se interessava em falar o castelhano, porque a convivência aqui era
muito maior com os argentinos. Paraguai não tanto, porque nós não
tínhamos Paraguai nessa região aqui, não era muito habitada. Mas tinha o
Porto Aguirre, que hoje é Porto Iguaçu, que já era um porto de grande
movimento de turismo já, já tava sendo legalizado, então já tinha mais
desenvolvimento e mais recurso também pra atender Foz do Iguaçu, então
nós tínhamos mais contacto com os argentinos. [...] Então a gente tinha aqui
um contacto mesmo constante com os argentinos. E se falava só quase o
castelhano, a moeda era só o peso argentino. (SCHIMMELPFENG, 1980).
Como o Oeste do Paraná permaneceu em completo estado de isolamento em
relação ao restante do Brasil, o maior contato da população iguaçuense era com os
argentinos. Tanto os bens de consumo quanto a prestação de serviços era buscada na
Argentina e, desta forma, os iguaçuenses se sentiam mais argentinos do que brasileiros.
Isso inclui o registro civil das crianças, a assistência religiosa e a educação, que também
era buscada em países vizinhos, sobretudo na Argentina. Segundo o depoimento do
iguaçuense Eugênio Victor Villordo, filho de argentinos que imigraram para Foz do
Iguaçu para trabalhar na extração de madeira para as obrages, não havia escola naquela
localidade e a alternativa era buscar escolarização em centros urbanos da Argentina:
“Não havia escola. Aprendi a ler e escrever na Argentina. Um tio que morava em
Posadas me levou pra lá e fiz o curso primário. Posadas era uma cidadezinha maior e
melhor que Foz do Iguaçu nesse tempo, lá por 1928/29”. (VILLORDO, 1994). Muitos
filhos de pessoas que viviam em Foz do Iguaçu eram escolarizados na Argentina. Isso
significa que, além do convívio cotidiano com a cultura argentina, muitos também eram
alfabetizados na língua castelhana e aprendiam a história, a geografia, enfim, todos os
conteúdos escolares referentes ao contexto argentino.
Lopes (2002) apresenta um trecho muito esclarecedor de Corrêa (2000), que
descreve como era a situação de desnacionalização em um município de Santa Catarina.
Em seguida, Lopes (2002) afirma que “[...] a situação do extremo-oeste catarinense não
era em nada diferente daquela constatada no extremo-oeste do Paraná [...].” (LOPES,
2002, p. 95).
Em Dionísio Cerqueira, na nascente do Rio Peperi-guaçu, fronteira com a
Argentina, instalou um destacamento policial pois não havia uma só
autoridade para impor as leis brasileiras; criou uma escola pública para
ensinar o idioma português a todas as crianças que estudavam na
Argentina por carência de qualquer instituição de ensino no lado
brasileiro e ali aprendiam a história e os símbolos daquele país, e criou
um Juizado de Paz, pois todos os nascidos em território catarinense
registravam-se na Argentina. (CORRÊA, apud Lopes, 2002, negritos
nossos).
A educação escolar institucionalizada em Foz do Iguaçu é bastante tardia, tendo
em vista o ano da fundação da Colônia Militar do Iguaçu. Para melhor esclarecer como
se organizou as primeiras iniciativas educacionais no Oeste do Paraná, buscamos a
classificação de Emer (1991), que estabelece as seguintes modalidades: 1. a instrução
sem instituição, que era de iniciativa do grupo social, mas sem nenhuma
regulamentação; 2. a casa escolar, construída e mantida pelo grupo social “pioneiro”,
também sem regulamentação oficial; 3. a casa escolar pública dos núcleos urbanos,
criada e mantida pelo Município e; 4. o grupo escolar. As primeiras iniciativas de
escolarizar as crianças em Foz do Iguaçu, podem ser incluídas na primeira modalidade:
instrução sem instituição, sendo a única forma de ensino existente na região durante
todo o período de existência da Colônia Militar. Diante da ausência de ações
governamentais que viabilizassem a educação, o próprio grupo social iniciou e manteve,
para além da metade da década de 1920, um tipo de instrução não institucionalizada.
Emer (1991) afirma que a instrução particular e domiciliar era oferecida apenas
aos filhos daqueles que ocupavam um cargo mais elevado na Colônia e que até a criação
do Município de Foz do Iguaçu, a instrução particular e domiciliar era a única
modalidade educacional que existia na região “pioneira” do Oeste do Paraná: “No
período de 1889, ano da criação da Colônia Militar, até 1912, ano de sua extinção, não
existiu escola ou casa escolar em Foz do Iguaçu”. (EMER, 1991, p. 218). Tanto os
proprietários das obrages, que eram aqueles que detinham o maior poder econômico da
região, quanto aqueles “pioneiros” que tinham melhores condições econômicas ou
alguma influência política, encontravam soluções para que a educação não faltasse aos
seus filhos. Inicialmente, contratavam professores particulares que lecionavam em suas
residências, na modalidade de instrução sem instituição, em casas escolares mantidas
pelo grupo social ou mantidas pelo Município, ou enviavam seus filhos para estudarem
em grandes centros urbanos, no Brasil, no Paraguai ou na Argentina.
O primeiro Grupo Escolar do Oeste do Paraná foi criado apenas em 1927 e, em
27 de agosto de 1928, através do Decreto n.º 1326, passou a chamar-se “Grupo Escolar
Bartholomeu Mitre”, curiosamente em nome do general argentino que, no ano de 1865,
durante a Guerra da Tríplice Aliança, impediu que as tropas paraguaias cruzassem o
território a Oeste do estado do Paraná e adentrassem o território brasileiro. O referido
Decreto considera “[...] que entre os estadistas Argentinos, o Marechal Bartholomeu
Mitre foi, na sua gloriosa Pátria, em sua época, o corypheu do pacifismo continental e,
de modo particular, do accentuado espírito de fraternidade e harmonia entre o nosso
Paíz e a Argentina [...]” (DECRETO 1326, 27/08/1928).
Segundo Emer (1991), o motivo pelo qual o grupo escolar ganhou este nome
não está totalmente esclarecido. O autor questiona: “[...] porque Bartolomeu Mitre?
Teria sido apenas uma inocente homenagem ao general argentino da Tríplice Aliança?”.
(EMER, 1991, p. 222). É contraditória a homenagem ao general argentino em nome da
paz e fraternidade entre Brasil e Argentina, exatamente em um momento histórico em
que há interesses comuns em relação a um mesmo território estratégico. Como vimos,
enquanto a Argentina inicia uma campanha de conquista de territórios de fronteira em
busca do fortalecimento do país e da hegemonia da América do Sul, o Brasil resiste
iniciando uma intensa campanha nacionalista e um programa de “Marcha para Oeste”.
Este Grupo Escolar marca a institucionalização da educação escolar no Oeste do Paraná
e o papel da educação enquanto um elemento necessário para a nacionalização da região
da tríplice fronteira.
Durante a vigência do Território Federal do Iguaçu, a Divisão de Educação
constatou que a situação das escolas isoladas ou Grupos Escolares que existiam na
região eram alarmantes e que o ensino era deficientes e deturpado pela influência de
termos estrangeiros. Segundo Lopes (2002) a Diretora da Divisão de Educação,
Laudímia Trotta, afirmava que “[...] as escolas estavam quase todas instaladas em
péssimas condições: casebres, choupanas, capelinhas.” (LOPES, 2002, 153). Ainda
conforme Trotta, “[..] sendo fraquíssimo o professor, é fácil calcular a deficiência do
ensino. [...] A nossa língua é ensinada de maneira deturpada, alunos e professores têm
um vocabulário paupérrimo, entremeado de termos estrangeiros.” (TROTTA, apud
Lopes, 2002, p. 153). Numa região em que só se falava o castelhano, só se lia no
castelhano (como vimos, todos os produtos que chegavam à Foz do Iguaçu eram
derivados da Argentina: rótulos de produtos, revistas, manuais, etc.), só se entendia o
castelhano e em que as pessoas até se esqueciam do português, como ensinar as letras,
os cálculos, a história, a geografia, lecionando em português? Durante a vigência do
Território Federal do Iguaçu, algumas medidas foram tomadas, como a distribuição aos
professores de uma cartilha modelo, contendo exercícios de português e matemática,
chamada “Ler, Escrever e Contar”, de autoria de Rita Amil de Rialva. Essa campanha
de nacionalização do ensino na região Oeste do Paraná incluía também a distribuição de
vitrolas e discos do Hino Nacional Brasileiro e do Hino da Bandeira para serem tocados
nas escolas, pois eram desconhecidos pela população ou cantados de forma equivocada.
(LOPES, 2002).
Da mesma forma ocorreu com a oferta educacional a partir da criação das
primeiras iniciativas de ensino em Foz do Iguaçu. A elite economicamente dominante,
argentina ou brasileira, tratou de garantir aos seus uma educação, fosse em Foz do
Iguaçu, através de professores a domicílio ou casas escolares, fosse nos núcleos urbanos
mais distantes, como Guarapuava, Curitiba, Posadas, Corrientes, etc. Aos filhos de
obrageiros ou de representantes políticos de Foz do Iguaçu não faltavam alternativas
para escolarizar seus filhos. Enviavam-se as crianças desde muito pequenas para
estudarem onde houvesse escolas e com isso pudessem garantir a sucessão de seus
cargos e de sua influência naquele território. Aos filhos daqueles que viviam em Foz do
Iguaçu e que trabalhavam nas obrages, nas madeireiras ou garantiam seu sustento
através do cultivo da terra, não era sequer cogitada a possibilidade de estudar em
grandes centros urbanos. Nem sequer as condições básicas de higiene, alimentação e
saúde eram disponibilizadas para os mensus. Estes viviam em condições miseráveis e
transmitiam á seus filhos a única herança que podiam transmitir: o trabalho nas obrages
e a perpetuação da situação de dependência em relação ao obrageiro.
3. Considerações Finais
Não se pode fazer uma análise determinista no sentido de culpabilizar a
exploração ilegal argentina sobre o território a Oeste do estado do Paraná. As obrages
argentinas (que somavam o maior número delas), tal qual todas as outras obrages de
proprietários de outras nacionalidades, enriqueciam à custa de duas grandes
explorações: da exploração irrestrita das reservas naturais do Oeste do Paraná e da
exploração desumana da mão-de-obra essencialmente paraguaia, em estado de miséria
após a Guerra da Tríplice Aliança. Como não objetivamos assumir uma postura
patriótica, mas sim partir em defesa da classe trabalhadora que, antes de possuir uma
única nacionalidade, possui características afins e comuns em todo mundo, concluímos
que a mesma exploração de reservas naturais e de mão-de-obra barata continuou sendo
a realidade do Oeste do Paraná mesmo após as iniciativas de nacionalização e da
formação de um poderio político e econômico de nacionalidade brasileira.
A importância dada à educação na região de Foz do Iguaçu, bem como o acesso à
ela, era privilégio desta classe social que encontrava na escolarização uma maneira de
ascensão social: primeiro os proprietários de obrages, que escolarizavam seus filhos
provavelmente nos países de origem; depois as famílias de funcionários do governo ou
de representantes políticos da região, que buscavam na educação uma forma de manter
o poder sobre os cargos e certo tipo de controle político. Essas possibilidades
demandavam recursos de que a população pobre ou o grande número de mensus não
dispunham. Apenas as famílias mais abastadas podiam pagar por aulas particulares,
ajudar a manter casas escolares ou enviar seus filhos para estudarem fora da localidade.
Embora a língua castelhana e os costumes facilitassem a permanência dos mensus
paraguaios no Oeste do Paraná, que somavam grande número nesta região, a
possibilidade de acesso a qualquer tipo de educação era bastante distante. Como o
trabalho nas obrages, tanto de extração de erva-mate quanto de madeira, era um ofício
que requisitava pouca ou nenhuma formação ou qualificação, eram realizados por
pessoas sem nenhum tipo de escolarização. Portanto, enquanto sobreviveu o sistema de
obrages no Oeste do Paraná, a educação não era uma demanda social. Por isso que as
primeiras iniciativas educacionais nesta região eram tão pontuais, isoladas e para uma
minoria abastada. Com o abandono do poder público paranaense e o domínio dos
obrageiros argentinos, a educação nesta região era desnecessária, pois não se
necessitava qualificar o grande número de trabalhadores das obrages. Quanto mais
desprovida econômica e culturalmente a mão-de-obra para o trabalho nestas empresas,
mais fácil se fazia a exploração e dependência destes trabalhadores.
Portanto, o Oeste do Paraná, por muito tempo isolado do restante do estado e do
Brasil e explorado por estrangeiros, teve seu desenvolvimento industrial, econômico e
educacional retardados. Este desenvolvimento mais lento em relação ao processo de
industrialização que começa a surgir nos grandes centros brasileiros, determinou que a
educação fosse também reivindicada tardiamente. A partir do processo de decadência
das obrages, que inicia em 1930, e a intensificação das medidas de nacionalização da
fronteira com o programa de ocupação dos territórios “vagos” do país, a necessidade de
educar para atender a um novo modelo de trabalhador, a uma nova exigência de mão-
de-obra para o trabalho, começam a sinalizar o desenvolvimento da educação escolar
em Foz do Iguaçu.
4. Referências:
Bibliográficas:
BRITO, J. M. de. A Descoberta de Foz do Iguaçu: a fundação da Colônia Militar.
Apresentação: Zé Beto Maciel e Fábio Campana. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005.
COLODEL, J. A. Obrages e Companhias Colonizadoras: Santa Helena na História do
Oeste Paranaense até 1960. Santa Helena: Assoeste, 2002a.
EMER, I. O. Desenvolvimento histórico do Oeste do Paraná e a construção da
escola. Dissertação (Dissertação de Mestrado) - Rio de Janeiro: Instituto de Estudos
Avançados em Educação, Fundação Getúlio Vargas, 1991.
FROTA, L. S. de A. Brasil-Argentina: divergências e convergências. Brasília: Centro
Gráfico do Senado Federal, 1991.
LIMA, P. Foz do Iguaçu e sua história. Foz do Iguaçu: Copyright, 2001.
LOPES, S. O Território do Iguaçu no contexto da “Marcha para Oeste”. Cascavel:
Edunioeste, 2002.
MINISTÉRIO DA GUERRA III. Livro de Ouro. 1º Batalhão de Fronteira. Foz do
Iguaçu: Ofícios Gráficos Requião, 1965.
PARANÁ. Decreto n.º 1326 de 27 de agosto de 1928. Denomina o Grupo Escolar de
Foz do Iguaçu como “Grupo Escolar Bartholomeu Mitre”, em homenagem ao general
argentino e ao 1º Centenário de Paz entre o Brasil e a Argentina.
WACHOWICZ, R. C. Obrageiros, mensus e colonos. Curitiba: Vicentina, 1982.
_________________. História do Paraná. 10ª ed. Curitiba: Imprensa Oficial (Brasil
Diferente), 2002.
Depoimentos:
SCHIMMELPFENG, O. Entrevista concedida ao historiador Ruy Cristóvão
Wachowicz, em 02/05/1980, em Foz do Iguaçu – Paraná. Gravação original. Arquivo
particular Wachowicz, sob guarda do Arquivo Público do Paraná.
AGUIRRA, A. A. Entrevista concedida ao historiador Ruy Cristóvão Wachowicz, em
08/04/1980, no estado do Paraná. Gravação original. Arquivo particular Wachowicz,
sob guarda do Arquivo Público do Paraná.
ENGEL, C. Entrevista concedida ao historiador Ruy Cristóvão Wachowicz, em
09/01/1980, em Curitiba – Paraná. Gravação original. Arquivo particular Wachowicz,
sob guarda do Arquivo Público do Paraná.
VILLORDO, E. V. Entrevista publicada pela Gazeta do Iguaçu, edição de 19/08/1994.
Sites consultados:
COLODEL, J. A. Cinco séculos de história. In: SILVA, G. H.; BULHÕES, R. &
PERIS, A. F. (org.). Meso-região do oeste do Paraná: Diagnóstico e Perspectivas.
Cascavel, UNIOESTE/ITAIPU, 2002b. Disponível em: http://www.unioeste.br/projetos
/oraculus/PMOP/sumario.htm. Acessado em: 21/10/2007.
PIERUCCINI, M. A.; BULHOES, R. Caracterização enquanto região. In: SILVA, G.
H.; BULHÕES, R. & PERIS, A. F. (org.). Meso-região do oeste do Paraná: Diagnóstico
e Perspectivas. Cascavel, UNIOESTE/ITAIPU, 2002b. Disponível em:
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  • 1. INFLUÊNCIA ARGENTINA NA FORMAÇÃO SOCIAL DE FOZ DO IGUAÇU: IMPLICAÇÕES EDUCACIONAIS Denise Kloeckner Sbardelotto1 RESUMO: A formação social de Foz do Iguaçu, município “pioneiro” da mesoregião Oeste do estado do Paraná, ocorreu sob forte miscigenação étnica, principalmente por índios, brasileiros descendentes de europeus, paraguaios e argentinos. Antes e depois da fundação da Colônia Militar do Iguaçu, que ocorreu em 1889, esta região representou uma grande fonte de enriquecimento e de exploração, tanto de reservas naturais (erva- mate e madeira) que aqui existiam em abundância quanto da mão-de-obra de uma classe economicamente desprivilegiada. Desde os primórdios da ocupação branca da região da tríplice fronteira, a influência de países vizinhos como a Argentina, foram fatores decisivos no desenvolvimento de uma região que ainda hoje carrega características bastante peculiares em relação ao restante do Brasil. A influência argentina sobre Foz do Iguaçu se deu nos aspectos econômico (relações de comércio, companhias de exploração de erva-mate e de madeira, utilização de mão-de-obra argentina e brasileira, etc.), cultural (idioma, religião, etc.) e educacional. Com base numa abordagem materialista histórico-dialética, este artigo analisa estas influências argentinas na formação social de Foz do Iguaçu e as implicações desta influência na educação deste município. Partimos do pressuposto de que as relações econômicas e sociais estabelecidas entre brasileiros e argentinos foram determinantes para a construção das características da educação disponível ou não aos habitantes da região. Palavras-chave: História; Educação; Foz do Iguaçu; Argentina. THE INFLUENCE OF ARGENTINA ON THE SOCIAL FORMATION OF IGUAÇU FALLS CITY: EDUCATIONAL IMPLICATIONS Abstract: The social formation of Iguaçu Falls, pioneer city in the midwest of Paraná State, has occurred under strong ethnic miscegenation, mainly for indians, Brazilians descendents of Europeans, Paraguayans and Argentines. Before and after the foundation of the Iguaçu Falls' Military Colony, that occurred in 1889, this region represented a great source of enrichment and exploration, as much as its natural reserves (Mate herb and native woods) that here were native and abundant, as the labor from a class economically low. Since the beginning of the white men occupation in the region of the triple border, the influence of neighboring countries as Argentina, had been decisive 1 Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa – UEPG, linha de pesquisa em História e Políticas Educacionais. Membro do Grupo de Estudos e Pesquisa Estado, Educação e Trabalho – GEEPET e do Grupo de Pesquisa em História, Sociedade e Educação no Brasil - GT da Região Oeste do Paraná - HISTEDOPR. Bolsista pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES. Contatos: (42) 9112 1359 – deniseklsb@yahoo.com.br .
  • 2. factors in the development of a region that still today loads sufficiently peculiar characteristics in relation to the rest of Brazil. The influence of Argentine on the Iguaçu Falls was in the economical aspects (commerce relations, the exploration of Mate Herb and native woods, use of Argentine and Brazilians labor, etc.), cultural (language, religion, etc.) and educational. Based on a Materialistic and Historical-Dialectical Approach this article analyzes these Argentine's influences on the Iguaçu Falls' social formation and the implications of this influence in the education of this city. It was considered the hypothesis that the economic and social relations established between Brazilians and Argentines had been decisive for the construction of the characteristics of available or non-available education for inhabitants of the region. Key-Words: History; Education; Iguaçu Falls; Argentina.
  • 3. 1. Introdução Assim como não é comum encontrar o ponto de vista dos vencidos na historiografia tradicional positivista, a participação das regiões Oeste no desenvolvimento social e político do Brasil também foi bastante omitida ou não enfatizada. Trata-se de um processo também pouco explicitado nos livros de História do Brasil e de História do Paraná. Geralmente, além de ser contada como dos brancos, a história é contada como do leste ou do litoral. À medida que as terras do leste do continente sul americano foram ocupadas por portugueses, holandeses, franceses, africanos e mestiços brasileiros, muitos povos nativos da América pré-crabalina2 migraram para o Oeste, onde o “contato” foi muito posterior aos 1500. Na mesoregião3 Oeste do atual estado do Paraná – terras dos povos Guarani – a partir do século XVI aconteceram “camadas” de ocupações pelos povos não-índios: espanhóis, jesuítas, bandeirantes portugueses, obrageiros e mensus4 e, no final do século XIX, o processo de ocupação por brasileiros iniciou-se com os militares e, já próximo de meados do século XX, com os migrantes sulistas chamados de “colonos”. Portanto, durante praticamente todo o século XIX o Oeste paranaense ficou esquecido pelos governos brasileiros. O difícil acesso por terra, os acordos internacionais de navegabilidade e a falta de fiscalização brasileira favoreciam a ocupação estrangeira e a exploração ilegal de toda a riqueza natural deste território. Além do reconhecimento à população indígena do grupo cultural tupi-guarani que aqui habitavam há muito tempo, estamos cientes de que ao longo de sua história, toda a ocupação e desenvolvimento do Oeste do estado do Paraná foi fortemente influenciada por pessoas de diversas nacionalidades, incluindo paraguaios, árabes, alemães, argentinos, etc. Contudo, ainda antes da Proclamação da República no Brasil e durante as primeiras décadas do século XX, identifica-se o predomínio da influência econômica e cultural argentina neste território. Buscando analisar como este processo 2 Termo que denomina o período anterior à chegada de Pedro Álvares Cabral à América em 1500. 3 O termo “mesorregião” se constitui num espaço com identidade regional e “[...] uma área individualizada, em uma unidade da Federação, que apresente formas de organização do espaço definidas pelas seguintes dimensões: o processo social, como determinante, o quadro natural, como condicionante e, a rede de comunicação e de lugares, como elemento de articulação espacial.” (IBGE apud Peiruccini; Bulhões, 2002, p.72). Cada mesorregião abrange “microrregiões” representadas por núcleos urbanos pólos. Estes conceitos passaram a ser empregados no Paraná a partir de 1997, como resultado de uma revisão das divisões estaduais definidas em 1968. A partir desta reorganização, a mesoregião Oeste do estado do Paraná compreende três microregiões: microregião de Cascavel, microregião de Foz do Iguaçu e microregião de Toledo, totalizando cinqüenta municípios e com área total de aproximadamente 22.811.242 km². (PIERUCCINI; BULHÕES, 2002). 4 Os termos obrages e mensus são originários do espanhol e significam, respectivamente, o local onde o trabalho manual é executado a condição de mensalista. Estas obrages extraíam e exportavam erva-mate e madeira, cujos proprietários eram denominados obrageiros e os mensus eram em sua maioria peões de origem paraguaia ou guarani.
  • 4. ocorreu, o objetivo deste artigo é identificar a influência argentina na formação social do atual Município de Foz do Iguaçu, núcleo urbano “pioneiro”5 da atual mesoregião Oeste do estado, identificando a relação entre a influência econômica, política e cultural e o atendimento – ou ausência dele – às demandas por educação neste território de tríplice fronteira. Com base em um referencial teórico-metodológico alicerçado no materialismo histórico-dialético, partimos do pressuposto de que as relações econômicas e políticas estabelecidas nesta região, em última instância, determinaram os aspectos culturais e educacionais em Foz do Iguaçu. O recorte histórico estabelecido para a análise compreende o período da Primeira República, do ano de criação da Colônia Militar do Iguaçu em 1889 até 1930, quando se instaura o Movimento de 1930 no Brasil e desenvolve-se de forma mais acentuada as iniciativas de ocupação dos territórios “vagos” do país, como parte do novo projeto nacionalista. Para construir esta análise utilizamos documentos bibliográficos primários (testemunho oral de habitantes “pioneiros”) e secundários (livros, artigos, monografias, dissertações, teses, etc.). 2. Influência argentina nos primórdios de Foz do Iguaçu A iniciativa de organizar e viabilizar uma expedição para ocupar a mesoregião Oeste paranaense e salvaguardar a estratégica tríplice fronteira só foi efetivada no final do século XIX, quando o ministro João Alfredo criou a “Comissão Estratégica do Paraná”, com a missão de fundar na região da foz do rio Iguaçu uma Colônia Militar e de construir estradas estratégicas que ligassem a região ao restante da Província. Segundo Brito (2005) como parte da incumbência desta Comissão, a expedição rumo ao Oeste do Paraná partiu em 13 de setembro de 1889 e chegou à foz do Iguaçu em 22 de Novembro de 1889, fundando a Colônia Militar do Iguassú. (WACHOWICZ, 2002). Durante o trajeto da expedição, mais precisamente na região do atual Município de Céu Azul, a expedição surpreendeu-se quando encontrou com grupos de índios paraguaios, contratados por ervateiros argentinos para a extração da erva-mate. Com isso podemos perceber que a presença dos capitalistas argentinos no Oeste do Paraná data do período Imperial e muito antes da fundação da Colônia Militar. Além disso, a costa Oeste paranaense possuía apenas portos estrangeiros: havia o Britânea, pertencente aos ingleses, o Santa Helena e o Sol de Maio, cuja parte pertencia ao Banco Francês- 5 O termo “pioneiro (a)” será utilizado entre aspas, mostrando que não compactuamos com a análise eurocêntrica e indicando que nos referimos à ocupação brasileira do século XIX e XX. Não desconsideramos as ocupações ocorridas em períodos históricos anteriores, incluindo a ocupação indígena dos povos Guarani e Caingangue no estado do Paraná.
  • 5. Italiano, e todos os demais portos pertenciam aos capitalistas argentinos. Estes portos serviam para exportar a grande quantidade de erva-mate e de madeiras de lei, extraídas por estrangeiros e comercializadas na Argentina, muitas vezes de forma ilegal. Como nas primeiras décadas do século XX o acesso por terra à atual mesoregião Oeste do Paraná ainda era muito precário, os capitalistas argentinos tinham grandes facilidades para ocupar e explorar os ervais e a madeira, escoando essa produção através dos rios Paraná e Paraguai. Até o final da década de 1920, só se podia chegar a esta região de maneira segura pelo rio Paraná, via Buenos Aires e dependia-se da navegação argentina, pois todos os vapores eram de propriedade dos capitalistas argentinos.6 Wachowicz (2002) afirma que a atual mesoregião Oeste do Paraná se encontrava tão vulnerável, que era mais explorada por argentinos do que por brasileiros. Desta forma, a região Oeste do Paraná ficou mais exposta à penetração argentina, via fluvial, do que à ligação terrestre com os grandes centros brasileiros. Por volta de 1881, os argentinos começaram a explorar erva- mate na região de Misiones. Não demorou para que os portenhos chegassem ao oeste paranaense, atraídos pela erva-mate da região. Esta erva-mate saía do Paraná como contrabando. Não havia nem uma infra-estrutura instalada na região capaz de cobrar os impostos de exportação devidos. (WACHOWICZ, 2002, p. 225-231). Além dos argentinos, havia também um grande número de paraguaios que penetravam no Oeste do Paraná para trabalhar nas empresas que extraíam a erva-mate e, posteriormente, a madeira da região. Contudo, enfatizamos a presença argentina, pois estes eram aqueles que de fato detinham os meios de produzir e comercializar a principal atividade produtiva da região e que, através deste controle econômico, determinavam os costumes, a cultura e também a educação neste território. No final do século XIX, esse tipo de exploração já era comum no Paraguai e na Argentina (principalmente em Corrientes e Misiones) e estas propriedades denominavam-se obrages. Os obrageiros argentinos, proprietários das obrages, encontraram no Oeste do Paraná ótimas oportunidades de enriquecimento, além da pouca ou nenhuma fiscalização alfandegária brasileira. Estes obrageiros chegaram ao Oeste paranaense devido ao declínio da produção de erva-mate das obrages argentinas, que era bastante consumida em todo o território sul americano. (COLODEL, 2002a). Os obrageiros argentinos entravam neste território de duas formas: organizando espécies de firmas e com a compra de terras junto ao governo paranaense ou 6 Conforme Colodel (2002b), “A única embarcação de nacionalidade brasileira presente nas águas do rio Paraná era um vaporzinho pertencente à repartição aduaneira e que para lá foi enviado em 1907.” (COLODEL, 2002b, p. 25).
  • 6. ilegalmente, o que acontecia com maior freqüência. (WACHOWICZ, 2002). “Essa frente extrativa de erva-mate era pois de capital argentino, mão-de-obra paraguaia e matéria-prima brasileira.” (WACHOWICZ, 2002, p. 234). O Brasil, que até então não havia assumido efetivamente uma política para tomar posse e defender todo o Oeste de seu território, entrava com a matéria prima de qualidade e perdia capital pela enorme quantidade de produtos que eram exportados sem o devido recolhimento de impostos alfandegários. O Paraguai, que fora um forte produtor e exportador de erva-mate em período anterior à Guerra da Tríplice Aliança, economicamente empobrecido e devastado pelo resultado da referida guerra, apenas fornecia mão-de-obra para as empresas argentinas. As principais obrages argentinas que legalmente se estruturaram na costa Oeste paranaense foram: a Lopeí, desde 1905 de propriedade da empresa argentina Nuñes y Gibaja e a expressiva obraje Porto Artaza, de propriedade do argentino Julio Thomas Allica. Existiam outras obrages importantes e de propriedade de estrangeiros, tais como a Braviaco, a Compañia de Maderas del Alto Paraná, a Mate Laranjeira, etc. Em 1930, nas obrages totalizavam nada menos que 10.000 habitantes estrangeiros. (WACHOWICZ, 2002). Das Sete Quedas até a foz do Iguaçu, vários portos foram instalados, por onde os vapores embarcavam e desembarcavam os trabalhadores das obrages e se abasteciam de mercadorias de exportação para a Argentina. Por deterem os meios de produção da extração, beneficiamento e exportação da erva-mate e, posteriormente da madeira, os capitalistas argentinos eram aqueles que de fato detinham o controle da região Oeste do Paraná neste período. Nas primeiras décadas do século XX, a extração e comercialização da erva-mate para a Argentina – principal consumidor de erva-mate do continente nos anos finais do Império e nos primeiros anos da República brasileira – era a principal fonte de lucro das obrages. Na década de 1930, as exportações diminuíram muito, devido à política de auto-abastecimento da Argentina, através das plantações artificiais de erva-mate nas Misiones.7 Alguns obrageiros encontraram uma forma de manter suas obrages: intensificação da exploração da madeira de pinho (cerrada) e de lei (em toras), comercializada na Argentina. 7 Segundo Colodel (2002b), “[...] também governo argentino contribui para a decadência das obrages no Oeste paranaense e mato-grossense, a partir do momento em que incentivou e até subsidiou o plantio científico de ervais no território de Missiones. Assim o fez para diminuir sua dependência da erva-mate brasileira. A partir da década de 1930 o governo argentino dobrou a carga tributária para a importação da erva-mate. Assim, quando se inicia a nacionalização da região pelas autoridades brasileiras, as obrages já mostravam claros sinais de inviabilidade econômica.” (COLODEL, 2002b, p. 2-3).
  • 7. O domínio econômico argentino e o abandono da região Oeste do Paraná pelo governo brasileiro acarretaram até mesmo na circulação da moeda argentina e a inexistência de réis8 nas relações comerciais estabelecidas nesta região. Era o efetivo domínio estrangeiro no território legalmente brasileiro. Segundo o depoimento de Antonio A. Aguirra (1980), na região de Foz do Iguaçu “Só circulava a moeda estrangeira. No fim do mês que tínhamos que recolher este dinheiro da reserva nacional para Curitiba, tínhamos que fazer o câmbio do peso argentino para o nacional, a nossa moeda corrente e ocupamos o cônsul brasileiro em Posadas.” (AGUIRRA, 1980). Os trabalhadores das obrages eram chamados de mensus, ou seja, os peões recrutados pelos obrageiros para efetuarem os trabalhos nas obrages, em sua maioria índios paraguaios (guaranis modernos). (WACHOWICZ, 2002). Conforme depoimento do iguaçuense Carlos Engel, filho de uma família tradicional de Foz do Iguaçu e antigo funcionário gerente da Companhia Mate Laranjeira, os mensus eram contratados por funcionários dos obrageiros argentinos, nos povoados existentes no trajeto feito pelas embarcações de erva-mate pelo rio Paraná, que seguiam em direção à Posadas ou Buenos Aires. (ENGEL, 1980). Estes contratos eram chamados de conchavos e a antecipação salarial de três meses de salário era chamada de antecipo. Após o recebimento do antecipo, os mensus tinham de aguardar algum tempo os vapores que os levariam até as obrages, período em que gastavam todo este dinheiro e começavam a trabalhar já endividados com o obrageiro. Quando estavam instalados nas obrages, não recebiam em dinheiro, mas em uma espécie de vale, que chamavam de boleto, com o qual eram obrigados a comprar nos armazéns ou centrais de abastecimento das empresas. Não era permitido aos mensus o cultivo de alimentos ou criação de animais, justamente para garantir e aumentar essa dependência em relação à empresa. (WACHOWICZ, 2002). Esta forma de contratação dos trabalhadores das obrages era de extremo benefício para os obrageiros detentores dos meios de produção da erva-mate e da madeira, estabelecendo-se uma relação de servidão e violenta exploração. Em 1905 já havia aproximadamente mil habitantes na Colônia Militar do Iguassú. Segundo o depoimento de Aguirra (1980) Foz do Iguaçu “[...] era composta mais ou menos quarenta por cento de brasileiros e sessenta por cento de estrangeiros, paraguaios e argentinos.” (AGUIRRA, 1980). As autoridades da Colônia podiam conceder lotes de terra aos habitantes que quisessem ali residir, fossem estrangeiros ou 8 Réis era a unidade monetária do Brasil no plural, denominada Real, utilizada desde o período colonial até o lançamento do Cruzeiro em 1942.
  • 8. brasileiros, sob condição de cultivar em seus lotes uma agricultura de subsistência, necessária para os habitantes da região. Entretanto, depois de feita a concessão, a grande dificuldade da Colônia era manter estes colonos na propriedade. Depois de explorados, os lotes concedidos eram abandonados e os colonos partiam em busca de erva-mate em outras terras, até mesmo em terras do governo. (WACHOWICZ, 2002). Este fenômeno se devia à predominância da atividade de extração e beneficiamento da erva-mate e da madeira como principal fonte de renda e riqueza na região. Apesar do incentivo, a agricultura não era uma atividade atrativa para os colonos, que visualizavam na erva- mate oportunidades mais seguras e de retorno garantido. Mesmo com a fundação do Município de Foz do Iguaçu em 1914, o acesso por terra via Guarapuava até o Oeste do Paraná ainda era muito precário – existiam apenas picadas, que ficavam intransitáveis em períodos de chuva –, por isso era comum chegar à região ou importar mercadorias de consumo da cidade argentina de Posadas, Puerto Aguirre ou de Buenos Aires, donde partiam os vapores trazendo produtos de alimentação, vestuário, móveis, remédios, etc. e aportavam em Foz do Iguaçu de quatro a cinco vezes por semana. (LIMA, 2001). Esses barcos existiam para exportar erva-mate e madeira para a Buenos Aires, mas também eram usados para o transporte de pessoas e de mercadorias: “Mercadoria, tudo que se utilizava em Foz do Iguaçu era vindo da Argentina, entrava livremente. Tanto na parte de alimentação, como de vestuário e móvel de casa, tudo, tudo era da Argentina. Nós não tínhamos contacto nenhum com o Brasil.” (SCHIMMELPFENG, 1980). O Golpe de 1930 – marco do rompimento do pacto oligárquico e início de uma economia voltada à ascensão urbano industrial – e a posse de Getúlio Vargas, efetivamente consolidou a implantação do capitalismo no Brasil, através de acordos entre novos setores da sociedade com o grupo tradicional e destes com o capital internacional, definindo a vitória da influência tenentista por um governo centralizado e nacionalista. Este novo projeto nacionalista de desenvolvimento do país não poderia compactuar com o domínio estrangeiro sobre território brasileiro. Sendo assim, políticas nacionais de interiorização e ocupação dos espaços brasileiros ainda “vagos” foram colocadas como prioritárias para a conquista da brasilidade. Em 1930, o interventor paranaense nomeado por Getúlio Vargas, General Mário Tourinho, tomou algumas medidas que tinham o intuito de nacionalizar a região da “fronteira guarani”. Através do Decreto Estadual n.º 300 de 1930, o engenheiro Otton Mader foi nomeado prefeito de Foz do Iguaçu, com o intuito de “[...] promover uma
  • 9. administração agressiva, de ocupação brasileira do território, caracterizada pela valorização do idioma e da moeda nacionais.” (SPERANÇA, apud Lopes, 2002, p. 49). Através deste Decreto e da posse de Mader, a prefeitura de Foz do Iguaçu passou a ser obrigada a despachar seus documentos, os anúncios comerciais, listas de preços ou avisos, apenas em língua portuguesa e teve de cumprir a obrigatoriedade do uso da moeda brasileira para o recebimento de taxas ou impostos. Todo o dinheiro estrangeiro recebido pela prefeitura deveria ser convertido em dinheiro nacional e depositado em um banco de Curitiba e as repartições públicas e entidades civis passariam a receber gratuitamente jornais da capital do estado. Além disso, com o referido Decreto o governo do Paraná retomou as amplas concessões de terras feitas às empresas Meyer Anes e Cia. Ltda., Companhia de Colonização Espéria, Brazil Railway Company e pela sua subsidiária, a Companhia Brasileira de Viação e Comércio – BRAVIACO e às concessões feitas à Miguel Matte. Segundo Colodel (2002a), a mais importante ação desencadeada a partir do Decreto Estadual n.º 300 foi a retomada pelo estado do Paraná destas grandes extensões de terras concedidas às companhias colonizadoras estrangeiras. Esta retomada estava relacionada à necessidade de povoar o território e nacionalizar o Oeste do Paraná. Esta medida acabou mais tarde possibilitando a migração para o Oeste do Paraná de grande número de “colonos” dos estados de Santa Catarina e principalmente do Rio Grande do Sul. (COLODEL, 2002a). A tendência nacionalista de Vargas originou o programa de “Marcha para o Oeste”, o qual previa a fundação de territórios federais nas regiões da fronteira brasileira ameaçadas pela ocupação de países estrangeiros. O Oeste do estado do Paraná fazia parte do projeto de criação do Território Federal do Iguaçu, que seria composto pelo Oeste e Sudoeste do Paraná e Oeste catarinense, que para o governo “[...] estavam sujeitos a riscos de ocupação por parte de estrangeiros.” (LOPES, 2002, p. 47). Este Território teria vigência apenas de três anos, de 1943 a 1945, ano da deposição de Getúlio Vargas. Lopes (2002) afirma que a principal preocupação do governo brasileiro chefiado por Vargas em relação à ocupação de fronteiras, era com a influência da Argentina nestes territórios. Em 12 de dezembro de 1930 o governo federal firmou o Decreto n.º 19.842, que exigia a contratação de no mínimo dois terços de trabalhadores brasileiros nas empresas estrangeiras que atuassem em território brasileiro. Tanto as mudanças na economia mundial a partir da década de 1930, quanto a intensificação da fiscalização
  • 10. brasileira e a retomada das concessões de terras pelo governo do Paraná, dificultaram a atuação das empresas estrangeiras no Oeste do Paraná, que aos poucos deram lugar às empresas nacionais de exploração da madeira, cuja produção e exportação se intensificou a partir da década de 1940. Esta contextualização e caracterização do Oeste do Paraná e de Foz do Iguaçu, seu núcleo urbano “pioneiro”, durante o último período do século XIX e início do século XX, fizeram-se necessárias para que possamos a seguir, analisar quais foram as implicações da influência econômica, política e cultural nas demandas por educação e se educar era efetivamente necessário diante da forma como a sociedade estava organizada. 3. Influência argentina em Foz do Iguaçu: implicações educacionais O que foi exposto acima a respeito da influência econômica e política argentina na região de Foz do Iguaçu não está desvinculado das questões culturais e educacionais. Ao contrário, a estrutura da sociedade iguaçuense nas primeiras décadas do século XX determinou a busca por alternativas para educar, bem como a quem era possível ter acesso a algum tipo de educação. O estado do Paraná, durante as primeiras décadas da República, encontrava-se subordinado à descentralização das questões da instrução pública imposta pelo Ato Adicional de 1834, que adicionou e alterou elementos à Constituição de 1832 e que transferiu às províncias e estados a responsabilidade por criar e subvencionar a instrução pública em seus territórios. Entretanto, o difícil acesso por terra, a predominância da influência política e econômica argentina e a presença de grande número de estrangeiros colocava o Oeste do Paraná em situação ainda mais precária do que o restante do estado. A influência dos capitalistas argentinos estava longe de ser apenas econômica. Como resultado desta hegemonia, predominava também toda a cultura argentina (a religião, os costumes argentinos, língua castelhana, etc.). Ainda conforme o depoimento de Ottília Schimmelpfeng, filha de um chefe-político de grande poder em Foz do Iguaçu nas primeiras décadas do século XX, a região vivia isolada do restante do Brasil e todos os hábitos de seus habitantes eram de influência argentina. Eu sentia aqui como se não tivesse no Brasil. Me sentia aqui isolada, parecia que eu estava em outro país até. Porque todos os hábitos, a, a língua falada aqui era mais, que predominava era o espanhol, o castelhano como se dizia. Parece que as pessoas quando vinham pra cá, no Brasil, se achavam na obrigação de aprender o castelhano pra ser entendido. Parecia! E todo mundo se interessava em falar o castelhano, porque a convivência aqui era
  • 11. muito maior com os argentinos. Paraguai não tanto, porque nós não tínhamos Paraguai nessa região aqui, não era muito habitada. Mas tinha o Porto Aguirre, que hoje é Porto Iguaçu, que já era um porto de grande movimento de turismo já, já tava sendo legalizado, então já tinha mais desenvolvimento e mais recurso também pra atender Foz do Iguaçu, então nós tínhamos mais contacto com os argentinos. [...] Então a gente tinha aqui um contacto mesmo constante com os argentinos. E se falava só quase o castelhano, a moeda era só o peso argentino. (SCHIMMELPFENG, 1980). Como o Oeste do Paraná permaneceu em completo estado de isolamento em relação ao restante do Brasil, o maior contato da população iguaçuense era com os argentinos. Tanto os bens de consumo quanto a prestação de serviços era buscada na Argentina e, desta forma, os iguaçuenses se sentiam mais argentinos do que brasileiros. Isso inclui o registro civil das crianças, a assistência religiosa e a educação, que também era buscada em países vizinhos, sobretudo na Argentina. Segundo o depoimento do iguaçuense Eugênio Victor Villordo, filho de argentinos que imigraram para Foz do Iguaçu para trabalhar na extração de madeira para as obrages, não havia escola naquela localidade e a alternativa era buscar escolarização em centros urbanos da Argentina: “Não havia escola. Aprendi a ler e escrever na Argentina. Um tio que morava em Posadas me levou pra lá e fiz o curso primário. Posadas era uma cidadezinha maior e melhor que Foz do Iguaçu nesse tempo, lá por 1928/29”. (VILLORDO, 1994). Muitos filhos de pessoas que viviam em Foz do Iguaçu eram escolarizados na Argentina. Isso significa que, além do convívio cotidiano com a cultura argentina, muitos também eram alfabetizados na língua castelhana e aprendiam a história, a geografia, enfim, todos os conteúdos escolares referentes ao contexto argentino. Lopes (2002) apresenta um trecho muito esclarecedor de Corrêa (2000), que descreve como era a situação de desnacionalização em um município de Santa Catarina. Em seguida, Lopes (2002) afirma que “[...] a situação do extremo-oeste catarinense não era em nada diferente daquela constatada no extremo-oeste do Paraná [...].” (LOPES, 2002, p. 95). Em Dionísio Cerqueira, na nascente do Rio Peperi-guaçu, fronteira com a Argentina, instalou um destacamento policial pois não havia uma só autoridade para impor as leis brasileiras; criou uma escola pública para ensinar o idioma português a todas as crianças que estudavam na Argentina por carência de qualquer instituição de ensino no lado brasileiro e ali aprendiam a história e os símbolos daquele país, e criou um Juizado de Paz, pois todos os nascidos em território catarinense registravam-se na Argentina. (CORRÊA, apud Lopes, 2002, negritos nossos). A educação escolar institucionalizada em Foz do Iguaçu é bastante tardia, tendo
  • 12. em vista o ano da fundação da Colônia Militar do Iguaçu. Para melhor esclarecer como se organizou as primeiras iniciativas educacionais no Oeste do Paraná, buscamos a classificação de Emer (1991), que estabelece as seguintes modalidades: 1. a instrução sem instituição, que era de iniciativa do grupo social, mas sem nenhuma regulamentação; 2. a casa escolar, construída e mantida pelo grupo social “pioneiro”, também sem regulamentação oficial; 3. a casa escolar pública dos núcleos urbanos, criada e mantida pelo Município e; 4. o grupo escolar. As primeiras iniciativas de escolarizar as crianças em Foz do Iguaçu, podem ser incluídas na primeira modalidade: instrução sem instituição, sendo a única forma de ensino existente na região durante todo o período de existência da Colônia Militar. Diante da ausência de ações governamentais que viabilizassem a educação, o próprio grupo social iniciou e manteve, para além da metade da década de 1920, um tipo de instrução não institucionalizada. Emer (1991) afirma que a instrução particular e domiciliar era oferecida apenas aos filhos daqueles que ocupavam um cargo mais elevado na Colônia e que até a criação do Município de Foz do Iguaçu, a instrução particular e domiciliar era a única modalidade educacional que existia na região “pioneira” do Oeste do Paraná: “No período de 1889, ano da criação da Colônia Militar, até 1912, ano de sua extinção, não existiu escola ou casa escolar em Foz do Iguaçu”. (EMER, 1991, p. 218). Tanto os proprietários das obrages, que eram aqueles que detinham o maior poder econômico da região, quanto aqueles “pioneiros” que tinham melhores condições econômicas ou alguma influência política, encontravam soluções para que a educação não faltasse aos seus filhos. Inicialmente, contratavam professores particulares que lecionavam em suas residências, na modalidade de instrução sem instituição, em casas escolares mantidas pelo grupo social ou mantidas pelo Município, ou enviavam seus filhos para estudarem em grandes centros urbanos, no Brasil, no Paraguai ou na Argentina. O primeiro Grupo Escolar do Oeste do Paraná foi criado apenas em 1927 e, em 27 de agosto de 1928, através do Decreto n.º 1326, passou a chamar-se “Grupo Escolar Bartholomeu Mitre”, curiosamente em nome do general argentino que, no ano de 1865, durante a Guerra da Tríplice Aliança, impediu que as tropas paraguaias cruzassem o território a Oeste do estado do Paraná e adentrassem o território brasileiro. O referido Decreto considera “[...] que entre os estadistas Argentinos, o Marechal Bartholomeu Mitre foi, na sua gloriosa Pátria, em sua época, o corypheu do pacifismo continental e, de modo particular, do accentuado espírito de fraternidade e harmonia entre o nosso Paíz e a Argentina [...]” (DECRETO 1326, 27/08/1928).
  • 13. Segundo Emer (1991), o motivo pelo qual o grupo escolar ganhou este nome não está totalmente esclarecido. O autor questiona: “[...] porque Bartolomeu Mitre? Teria sido apenas uma inocente homenagem ao general argentino da Tríplice Aliança?”. (EMER, 1991, p. 222). É contraditória a homenagem ao general argentino em nome da paz e fraternidade entre Brasil e Argentina, exatamente em um momento histórico em que há interesses comuns em relação a um mesmo território estratégico. Como vimos, enquanto a Argentina inicia uma campanha de conquista de territórios de fronteira em busca do fortalecimento do país e da hegemonia da América do Sul, o Brasil resiste iniciando uma intensa campanha nacionalista e um programa de “Marcha para Oeste”. Este Grupo Escolar marca a institucionalização da educação escolar no Oeste do Paraná e o papel da educação enquanto um elemento necessário para a nacionalização da região da tríplice fronteira. Durante a vigência do Território Federal do Iguaçu, a Divisão de Educação constatou que a situação das escolas isoladas ou Grupos Escolares que existiam na região eram alarmantes e que o ensino era deficientes e deturpado pela influência de termos estrangeiros. Segundo Lopes (2002) a Diretora da Divisão de Educação, Laudímia Trotta, afirmava que “[...] as escolas estavam quase todas instaladas em péssimas condições: casebres, choupanas, capelinhas.” (LOPES, 2002, 153). Ainda conforme Trotta, “[..] sendo fraquíssimo o professor, é fácil calcular a deficiência do ensino. [...] A nossa língua é ensinada de maneira deturpada, alunos e professores têm um vocabulário paupérrimo, entremeado de termos estrangeiros.” (TROTTA, apud Lopes, 2002, p. 153). Numa região em que só se falava o castelhano, só se lia no castelhano (como vimos, todos os produtos que chegavam à Foz do Iguaçu eram derivados da Argentina: rótulos de produtos, revistas, manuais, etc.), só se entendia o castelhano e em que as pessoas até se esqueciam do português, como ensinar as letras, os cálculos, a história, a geografia, lecionando em português? Durante a vigência do Território Federal do Iguaçu, algumas medidas foram tomadas, como a distribuição aos professores de uma cartilha modelo, contendo exercícios de português e matemática, chamada “Ler, Escrever e Contar”, de autoria de Rita Amil de Rialva. Essa campanha de nacionalização do ensino na região Oeste do Paraná incluía também a distribuição de vitrolas e discos do Hino Nacional Brasileiro e do Hino da Bandeira para serem tocados nas escolas, pois eram desconhecidos pela população ou cantados de forma equivocada. (LOPES, 2002).
  • 14. Da mesma forma ocorreu com a oferta educacional a partir da criação das primeiras iniciativas de ensino em Foz do Iguaçu. A elite economicamente dominante, argentina ou brasileira, tratou de garantir aos seus uma educação, fosse em Foz do Iguaçu, através de professores a domicílio ou casas escolares, fosse nos núcleos urbanos mais distantes, como Guarapuava, Curitiba, Posadas, Corrientes, etc. Aos filhos de obrageiros ou de representantes políticos de Foz do Iguaçu não faltavam alternativas para escolarizar seus filhos. Enviavam-se as crianças desde muito pequenas para estudarem onde houvesse escolas e com isso pudessem garantir a sucessão de seus cargos e de sua influência naquele território. Aos filhos daqueles que viviam em Foz do Iguaçu e que trabalhavam nas obrages, nas madeireiras ou garantiam seu sustento através do cultivo da terra, não era sequer cogitada a possibilidade de estudar em grandes centros urbanos. Nem sequer as condições básicas de higiene, alimentação e saúde eram disponibilizadas para os mensus. Estes viviam em condições miseráveis e transmitiam á seus filhos a única herança que podiam transmitir: o trabalho nas obrages e a perpetuação da situação de dependência em relação ao obrageiro. 3. Considerações Finais Não se pode fazer uma análise determinista no sentido de culpabilizar a exploração ilegal argentina sobre o território a Oeste do estado do Paraná. As obrages argentinas (que somavam o maior número delas), tal qual todas as outras obrages de proprietários de outras nacionalidades, enriqueciam à custa de duas grandes explorações: da exploração irrestrita das reservas naturais do Oeste do Paraná e da exploração desumana da mão-de-obra essencialmente paraguaia, em estado de miséria após a Guerra da Tríplice Aliança. Como não objetivamos assumir uma postura patriótica, mas sim partir em defesa da classe trabalhadora que, antes de possuir uma única nacionalidade, possui características afins e comuns em todo mundo, concluímos que a mesma exploração de reservas naturais e de mão-de-obra barata continuou sendo a realidade do Oeste do Paraná mesmo após as iniciativas de nacionalização e da formação de um poderio político e econômico de nacionalidade brasileira. A importância dada à educação na região de Foz do Iguaçu, bem como o acesso à ela, era privilégio desta classe social que encontrava na escolarização uma maneira de ascensão social: primeiro os proprietários de obrages, que escolarizavam seus filhos provavelmente nos países de origem; depois as famílias de funcionários do governo ou de representantes políticos da região, que buscavam na educação uma forma de manter
  • 15. o poder sobre os cargos e certo tipo de controle político. Essas possibilidades demandavam recursos de que a população pobre ou o grande número de mensus não dispunham. Apenas as famílias mais abastadas podiam pagar por aulas particulares, ajudar a manter casas escolares ou enviar seus filhos para estudarem fora da localidade. Embora a língua castelhana e os costumes facilitassem a permanência dos mensus paraguaios no Oeste do Paraná, que somavam grande número nesta região, a possibilidade de acesso a qualquer tipo de educação era bastante distante. Como o trabalho nas obrages, tanto de extração de erva-mate quanto de madeira, era um ofício que requisitava pouca ou nenhuma formação ou qualificação, eram realizados por pessoas sem nenhum tipo de escolarização. Portanto, enquanto sobreviveu o sistema de obrages no Oeste do Paraná, a educação não era uma demanda social. Por isso que as primeiras iniciativas educacionais nesta região eram tão pontuais, isoladas e para uma minoria abastada. Com o abandono do poder público paranaense e o domínio dos obrageiros argentinos, a educação nesta região era desnecessária, pois não se necessitava qualificar o grande número de trabalhadores das obrages. Quanto mais desprovida econômica e culturalmente a mão-de-obra para o trabalho nestas empresas, mais fácil se fazia a exploração e dependência destes trabalhadores. Portanto, o Oeste do Paraná, por muito tempo isolado do restante do estado e do Brasil e explorado por estrangeiros, teve seu desenvolvimento industrial, econômico e educacional retardados. Este desenvolvimento mais lento em relação ao processo de industrialização que começa a surgir nos grandes centros brasileiros, determinou que a educação fosse também reivindicada tardiamente. A partir do processo de decadência das obrages, que inicia em 1930, e a intensificação das medidas de nacionalização da fronteira com o programa de ocupação dos territórios “vagos” do país, a necessidade de educar para atender a um novo modelo de trabalhador, a uma nova exigência de mão- de-obra para o trabalho, começam a sinalizar o desenvolvimento da educação escolar em Foz do Iguaçu. 4. Referências: Bibliográficas: BRITO, J. M. de. A Descoberta de Foz do Iguaçu: a fundação da Colônia Militar. Apresentação: Zé Beto Maciel e Fábio Campana. Curitiba: Travessa dos Editores, 2005. COLODEL, J. A. Obrages e Companhias Colonizadoras: Santa Helena na História do Oeste Paranaense até 1960. Santa Helena: Assoeste, 2002a.
  • 16. EMER, I. O. Desenvolvimento histórico do Oeste do Paraná e a construção da escola. Dissertação (Dissertação de Mestrado) - Rio de Janeiro: Instituto de Estudos Avançados em Educação, Fundação Getúlio Vargas, 1991. FROTA, L. S. de A. Brasil-Argentina: divergências e convergências. Brasília: Centro Gráfico do Senado Federal, 1991. LIMA, P. Foz do Iguaçu e sua história. Foz do Iguaçu: Copyright, 2001. LOPES, S. O Território do Iguaçu no contexto da “Marcha para Oeste”. Cascavel: Edunioeste, 2002. MINISTÉRIO DA GUERRA III. Livro de Ouro. 1º Batalhão de Fronteira. Foz do Iguaçu: Ofícios Gráficos Requião, 1965. PARANÁ. Decreto n.º 1326 de 27 de agosto de 1928. Denomina o Grupo Escolar de Foz do Iguaçu como “Grupo Escolar Bartholomeu Mitre”, em homenagem ao general argentino e ao 1º Centenário de Paz entre o Brasil e a Argentina. WACHOWICZ, R. C. Obrageiros, mensus e colonos. Curitiba: Vicentina, 1982. _________________. História do Paraná. 10ª ed. Curitiba: Imprensa Oficial (Brasil Diferente), 2002. Depoimentos: SCHIMMELPFENG, O. Entrevista concedida ao historiador Ruy Cristóvão Wachowicz, em 02/05/1980, em Foz do Iguaçu – Paraná. Gravação original. Arquivo particular Wachowicz, sob guarda do Arquivo Público do Paraná. AGUIRRA, A. A. Entrevista concedida ao historiador Ruy Cristóvão Wachowicz, em 08/04/1980, no estado do Paraná. Gravação original. Arquivo particular Wachowicz, sob guarda do Arquivo Público do Paraná. ENGEL, C. Entrevista concedida ao historiador Ruy Cristóvão Wachowicz, em 09/01/1980, em Curitiba – Paraná. Gravação original. Arquivo particular Wachowicz, sob guarda do Arquivo Público do Paraná. VILLORDO, E. V. Entrevista publicada pela Gazeta do Iguaçu, edição de 19/08/1994. Sites consultados: COLODEL, J. A. Cinco séculos de história. In: SILVA, G. H.; BULHÕES, R. & PERIS, A. F. (org.). Meso-região do oeste do Paraná: Diagnóstico e Perspectivas. Cascavel, UNIOESTE/ITAIPU, 2002b. Disponível em: http://www.unioeste.br/projetos /oraculus/PMOP/sumario.htm. Acessado em: 21/10/2007. PIERUCCINI, M. A.; BULHOES, R. Caracterização enquanto região. In: SILVA, G. H.; BULHÕES, R. & PERIS, A. F. (org.). Meso-região do oeste do Paraná: Diagnóstico e Perspectivas. Cascavel, UNIOESTE/ITAIPU, 2002b. Disponível em: http://www.unioeste.br/projetos /oraculus/PMOP/sumario.htm. Acessado em: 21/10/2007.