O documento discute os desafios de pesquisar a mídia e cultura na Amazônia, especialmente a dificuldade de mensurar o impacto da mídia usando abordagens macrossociológicas que não capturam as relações sociais pessoais. Ele argumenta que os domínios da arte e cultura são espaços de insurgência contra valores economicistas e que a pesquisa em comunicação tende a obscurecer o sujeito individual.
1. Mídia e Cultura na Amazônia
Aula 1
Prof. Dr. Fábio Fonseca de Castro
Programa de Pós-graduação Comunicação, Cultura e
Amazônia – UFPA
Belém, 7 de março de 2012
2. Um problema de natureza metodológica:
Como mensurar o impacto da mídia na
construção da realidade social?
Como fazer pesquisa sobre cultura,
comunicação, arte, subjetividade, etc?
3. A dificuldade:
Os instrumentos habitualmente utilizados para
descrever esse impacto partem de um referencial
macrossociológico, ou macroeconômico
os quais comportam
categorizações da realidade que,
em geral, não observam os espaços de contato e
de contágio que se dão no plano mais estreito
das relações sociais pessoais, interpessoais e
grupais.
4. Teorizando essa dificuldade:
Os tradicionais vetores da análise
macrossociológica, em geral vinculados a uma
dimensão sistêmica e a uma perspectiva
hierárquica e verticalizada sobre a posição
ocupada pelos sujeitos sociais, não abarcam a
variedade dos fenômenos de poder presentes
nas relações sociais cotidianas.
5. Enquanto a sociologia fala em fluxo, sistema,
campo, coletividade, exterioridade, coerência,
habitus, tecido e mecanismo social, esses
espaços da prática social que são a
identidade, a arte, a cultura e a comunicação
falam em sintomas de individualidade,
personalidade, intencionalidade, resistência,
re-significação e, até mesmo, incoerência.
6. A questão é que os domínios da arte e da
cultura – bem como, suponho, também os
domínios da comunicação – são espaços de
insurgência contra os valores de uma
determinada sociologia que poderíamos
descrever como uma sociologia economicista,
analítica e atomizante.
9. A análise sociológica – e comunicativa – não
ignoram, por certo, o papel dos indivíduos.
Porém, nelas, eles aparecem transfigurados por
uma peculiar impessoalidade, estranha à
antropologia e à psicologia e, talvez,
excessiva, rebuscada, que parece contribuir
mais para obscurecer o ser, o sujeito social,
na sua condição de pessoa, do que para
elucidar sua participação no jogo social.
10. Esse sujeito obscurecido ganha todo um
vocabulário próprio: agente, ator, persona,
indivíduo.
E o mesmo ocorre em relação à percepção que
sociologia e comunicação têm em relação ao
processo social. As categorias criadas para
explicar o processo social des-individualizam a
ação social: estratégia, habitus, identidade,
competência, disposição, interesse.
11. O debate entre individualismo e holismo
metodológico e a terceira via: o
relacionalismo metodológico.
Síntese da proposta: compreender as relações
sociais como realidades primeiras do fato
social.
12. Fontes:
Marcel Mauss e Georg Simmel.
Desenvolvimentos:
Schutz, Goffman, Berger, Luckmann,
Garfinkel, Morin, Maffesoli, Tacussel,
Watier.
13. Retornando à caracterização do problema:
Por que a dimensão do sujeito (real, pragmático,
e não do sujeito metafísico tematizado por
sociologias comunicativas não “sensíveis”) é
obscurecida na pesquisa em comunicação?
14. Ensaio de resposta:
Em função dos ecos de uma episteme que pensa
a comunicação, exclusivamente, como
processo massivo e como fenômeno de
desindividualização.
Uma episteme que se encontra tanto no
funcionalismo da pesquisa norte-americana
como na teoria crítica e em parte dos
paradigmas linguísticos que influenciam a
disciplina.
15. Ampliando o problema:
Essa tendência se efetiva ainda mais em função
do esforço, contemporâneo, presente em
muitos pesquisadores da área, de firmar a
comunicação enquanto disciplina científica
individualizada.