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FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER
Curso de Comunicação Social – Publicidade, Propaganda e Marketing
            HUMBERTO DA CUNHA ALVES DE SOUZA




HOSTILIDADES EM REDE: FIREWALLS REAIS PARA O CIBERESPAÇO




                           CURITIBA
                              2011
HUMBERTO DA CUNHA ALVES DE SOUZA




HOSTILIDADES EM REDE: FIREWALLS REAIS PARA O CIBERESPAÇO


                            Monografia apresentada como requisito para a
                            obtenção do título de Bacharel em Comunicação
                            Social    com     Habilitação   em    Publicidade,
                            Propaganda      e     Marketing    à   Faculdade
                            Internacional de Curitiba - FACINTER.


                            Orientadora: Profª Ms. Diana Macedo.




                        CURITIBA
                          2011
Aos meus pais e minha irmã,
por todo o respeito e dedicação,
   e por todo o carinho e amor.
AGRADECIMENTOS


        Este é um momento único e especial para mim. São muitas as pessoas a
agradecer, e gostaria de fazê-lo a todos aqueles que contribuíram para a realização
deste trabalho. É por isso que, não posso deixar de registrar nestas linhas, em forma
de agradecimentos, as pessoas que sinto que fizeram parte da construção desse
belo caminho que desejo continuar trilhando.
        Começo agradecendo, de maneira única, ao meu pai Benedito e à minha
mãe Benedita, por todo o amor, carinho, dedicação e paz que trouxeram à minha
criação e formação acadêmica. Por estarem sempre presentes, ensinando-me, pelo
exemplo, a ser honrado e construtivo.
        À minha irmã Evelin, pelo amor, carinho e respeito. Por entender meus
momentos de nervosismo, me ensinando a ser um irmão melhor a cada dia. Pelas
contribuições com livros e artigos que enriqueceram este trabalho.
        Desejo agradecer, de maneira especial, à minha orientadora, Profa. Ms.
Diana Gualberto de Macedo, pelo acompanhamento e orientação. Inspiro-me nas
palavras de Dominique Wolton, para dizer, como ele, que sem a figura do mestre
não é possível saber que informação procurar e que uso fazer dela. Um aluno não é
nada distante do conhecimento que nasce com a participação de mestres como
esta, que se dedicam constantemente na construção e divisão do saber.
        Aos autores, por compartilharem e deixarem registrado o conhecimento e,
principalmente, por dialogaram entre si muito antes que eu encontrasse um diálogo
entre eles nas linhas deste trabalho.
        Ao colegiado do Curso de Graduação em Comunicação Social, pelos
esforços, dedicação e pelos ensinamentos durante as aulas e até mesmo fora delas.
À Mariana, colaboradora da coordenação do curso por ser sempre prestativa. Aos
colegas de graduação, pelas trocas positivas de ideias e pelos momentos divertidos.
Também gostaria de agradecer a banca avaliadora, que fará parte da concretização
deste trabalho.
        Aos meus parentes, familiares e amigos, que souberam compreender minha
ausência do convívio social, que tiveram paciência e agora irão desfrutar deste
momento junto comigo.
Em um setor em que tudo acontece muito rápido,
e de maneira tão padronizada, preservar um lugar
para uma reflexão teórica e um pouco mais de
distância crítica é fundamental. Esta é a função da
pesquisa que, por definição, consiste em ir além
do que é evidente e visível, para pensar de outra
maneira e produzir conhecimento.

                                Dominique Wolton
RESUMO


É notória, inegável e irreversível a dimensão que estão ganhando as novas
tecnologias. Estas tem se tornado, cada vez mais, não apenas extensões do homem
no processo de comunicação, como também, muitas vezes, o impulso decisivo para
que o homem “comum” ganhe dimensões públicas. Redes sociais na Internet se
tornam populares por isso, e o Twitter é um exemplo vigorante dessa realidade.
Contudo, apesar dessa grande revolução, pouco se explora o comportamento dos
usuários nas redes sociais. É isto que pretende o presente trabalho, propor uma
reflexão a respeito do homem e da sociedade contemporânea, e como se dá a
comunicação neste meio tecnológico. Em princípio foram reunidos os conceitos
sobre o tema e em seguida, analisados e identificados através das inserções de
alguns usuários no Twitter. Com isso, foi possível perceber que essa sociedade
contemporânea impacta diretamente no modo como alguns usuários se comportam,
sentindo-se livres, ou praticamente livres, para inserções de hostilidade na rede.

Palavras-chave: ciberespaço; comunicação; identidade; rede social; Twitter.
ABSTRACT


It is notorious, undeniable and irreversible the extent that new technologies are
gaining. These have become, more and more, not just extensions of man in the
communication process, as also, often, the decisive impetus for the “common” man
gain public dimensions. Social networking sites have become very popular, and
Twitter is an invigorating example of this reality. However, despite this great
revolution, little is explored from the user’s behavior on social networking sites. This
is what this paper intends, to propose a reflection about man and the contemporary
society, and how communication is in this technological environment. In principle the
concepts were gathered on the subject and then analyzed and identified through
some insertions of Twitter users. Thus, it was revealed that contemporary society has
a direct impact on how some users behave, feeling free, or almost free, for insertions
of hostility on the network.

Keywords: cyberspace; communication; identity; social networking; Twitter.
LISTA DE FIGURAS


FIGURA 1 - PRIMEIRO ESBOÇO DO TWTTR ......................................................... 39
FIGURA 2 - SITE TWTTR ......................................................................................... 40
FIGURA 3 - PRIMEIRO TWEET DA HISTÓRIA........................................................ 41
FIGURA 4 - PRIMEIROS TWEETS GERADOS AUTOMATICAMENTE ................... 41
FIGURA 5 - VERSÃO ATUAL DO TWITTER ............................................................ 42
FIGURA 6 - PRIMEIRO TWEET DE OPRAH WINFREY .......................................... 43
FIGURA 7 - TWEETS VARIADOS ............................................................................ 46
FIGURA 8 - DIFERENTES TIPOS DE CONTEÚDO, MESMO USUÁRIO ................ 47
FIGURA 9 - TWEET APAGADO DO PERFIL DO STF ............................................. 48
FIGURA 10 - USO DE HASHTAG COMO SENTIDO................................................ 50
FIGURA 11 - APLICAÇÕES DA HASHTAG.............................................................. 50
FIGURA 12 - HASHTAG #CANTADACOMSERIADO ............................................... 52
FIGURA 13 - TRENDS TOPICS BRASIL .................................................................. 52
FIGURA 14 - TIMELINE COM RETWEET ................................................................ 53
FIGURA 15 - RT USANDO REPLY COM COMENTÁRIOS ...................................... 54
FIGURA 16 - RT USANDO REPLY SEM COMENTÁRIOS....................................... 54
FIGURA 17 - TWEET MARCADO COMO FAVORITO ............................................. 55
FIGURA 18 - TWEET DE MAYARA PETRUSO ........................................................ 61
FIGURA 19 - REPERCUSSÃO INTERNACIONAL DO CASO MAYARA .................. 61
FIGURA 20 - TWEET DE AMANDA REGIS .............................................................. 62
FIGURA 21 - PERFIL @HOMOFOBIASIM, TWEET SOBRE GAYS ........................ 63
FIGURA 22 - PERFIL @HOMOFOBIASIM, TWEET SOBRE MULHERES .............. 64
FIGURA 23 - PEDIDO DE DESCULPAS DE AMANDA REGIS ................................ 65
SUMÁRIO


1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9
2 A SOCIEDADE DE MCLUHAN ............................................................................. 12
2.1 A IDEIA DE ALDEIA GLOBAL............................................................................. 12
2.2 O MEIO É A MENSAGEM ................................................................................... 13
2.3 O CORPO, O ESPAÇO E O TEMPO .................................................................. 16
2.4 A SOCIEDADE INDIVIDUALIZADA .................................................................... 20
2.4.1 A Condição Pós-Moderna ................................................................................ 21
3 O CIBERESPAÇO ................................................................................................. 28
3.1 O QUE É O CIBERESPAÇO ............................................................................... 28
3.2 REDES SOCIAIS NA INTERNET ........................................................................ 30
3.2.1 Atores Sociais .................................................................................................. 30
3.2.1.1 Identidades líquidas....................................................................................... 31
3.2.2 Conexões ......................................................................................................... 34
4 METODOLOGIA .................................................................................................... 36
5 O TWITTER............................................................................................................ 38
5.1 DO TWTTR AO TWITTER .................................................................................. 38
5.2 O QUE É O TWITTER? ....................................................................................... 42
5.3 O TWEET: UMA PÍLULA SOCIAL DE 140 CARACTERES ................................ 45
5.3.1 As Hashtags (#) e os Trending Topics (TTs) .................................................... 49
5.3.2 O Retweet (RT) e o Reply ................................................................................ 53
5.4 RELAÇÕES REATIVAS E LIMITADAS NO TWITTER ........................................ 55
5.5 RELAÇÕES MÚTUAS E CONSTRUÍDAS NO TWITTER ................................... 56
5.5.1 O capital social no Twitter ................................................................................ 56
5.5.2 Hostilidades em rede ........................................................................................ 59
6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 66
REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 69
9



1 INTRODUÇÃO


       A Internet está cada vez mais presente no cotidiano do indivíduo
contemporâneo. Segundo reportagem da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico,
a Câmara-e.net, o Brasil já é a sétima maior audiência de Internet do mundo com 44
milhões de usuários. (BRASIL, 2011a). O computador é um objeto cada vez mais
desejável pela maioria das pessoas. A venda de computadores no 1º trimestre deste
ano apontou um crescimento de 22% em comparação com o 1º trimestre de 2010, é
o que diz o estudo da IDC. (CRESCE, 2011). Até mesmo aqueles que não possuem
computador, utilizam regularmente a Internet, segundo pesquisa feita pela Ipsos
Brasil. (ACESSO, 2011).
       A conectividade também está nos celulares, cujo crescimento se dá a cada
ano. De acordo com as estatísticas divulgadas no site da Teleco – Inteligência em
Telecomunicações, o total de celulares no Brasil, ao final de Setembro de 2011,
ultrapassou o total da população do país. O número apurado indica um total de 227
milhões de celulares, o que corresponde a 116,51 celulares para cada 100
habitantes. (ESTATÍSTICAS, 2011).
       Neste contexto, de conexão e mobilidade, surgem as redes sociais na
Internet que se tornaram relevantes para o processo de comunicação. Segundo
pesquisa feita pela empresa GfK, o uso de redes sociais representam 39% do uso
de Internet que é feito pelos Brasileiros (BRASILEIRO, 2011). As redes sociais na
Internet têm atingido cada vez mais pessoas e tornado a comunicação mais
instantânea e mais móvel. Através delas, o homem contemporâneo ganhou
dimensões antes não vistas, tendo a possibilidade de ser visto e ouvido além das
fronteiras do tempo e do espaço físico. Assim, as redes sociais na Internet podem
ser consideradas extensões do homem.
       De maneira semelhante ao ocorrido com outras tecnologias, emerge uma
nova linguagem e, como consequência, uma nova forma do ser humano se
comportar e se comunicar. Entretanto, alguns destes novos comportamentos podem
ultrapassar regras sociais de convívio como, por exemplo, a postagem de conteúdo
hostil ou preconceituoso na rede. De toda sorte, vale ressaltar que esses
comportamentos também ocorrem fora da Internet, ou seja, a Internet também é
mais uma vitrine de comportamentos sociais.
10



        Deste modo, a proposta do presente trabalho é buscar um diálogo entre
autores que estudam o tema como: Zygmunt Bauman, Paula Sibilia, Marshall
McLuhan, Marilena Chauí, Lucia Santaella, Pierre Lévy, Dominique Wolton, Raquel
Recuero, entre outros, com o intuito de criar um rico espaço de debate nas linhas
deste trabalho.
        A questão que motiva a realização deste trabalho e, portanto, o problema de
pesquisa é: por que ocorrem inserções de conteúdo hostil ou preconceituoso no
Twitter? Como refletir acerca dessas inserções, a partir de uma sociedade líquida e
contemporânea? Que características da sociedade contemporânea ajudam para que
esse tipo de conteúdo seja inserido na rede?
        Uma das hipóteses é que estes comportamentos de hostilidade se dão em
razão da percepção do usuário com relação à liberdade que lhe é dada no
ciberespaço. Outra hipótese é a característica evanescente dessas relações, e,
ainda, características de uma sociedade globalizada e líquida.
        Diante desse novo tempo de constantes evoluções tecnológicas, e desse
novo homem contemporâneo, conectado, o presente trabalho mostra-se importante
e relevante ao campo da comunicação, especialmente sobre o crescimento dessas
hostilidades e sobre a linguagem que está circulando na Internet. O objetivo geral
deste trabalho, portanto, é convidar o leitor a refletir a respeito do tema. Para tanto,
como desdobramento desse objetivo geral, faz-se necessária uma contextualização
da sociedade contemporânea e líquida e, do ciberespaço e das redes sociais na
Internet para então chegar ao objeto do trabalho: o Twitter e as inserções de
hostilidade.
        O trabalho está dividido em cinco capítulos além da introdução. O segundo
discorre sobre a ideia de sociedade contemporânea. Há uma introdução a respeito
dos conceitos de McLuhan sobre “aldeia global” e “o meio é a mensagem”,
passando pela Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty, até chegar sobre a
sociedade individualizada e fluida.
        A partir das ideias do corpo, do espaço e do tempo, e a relação entre a
acronia e a atopia do segundo capítulo, é que se discute no terceiro capítulo a
questão do ciberespaço e das redes sociais na Internet.
        O capítulo quatro aborda a metodologia utilizada neste trabalho. O trabalho
se concentra na revisão bibliográfica das obras de Bauman (2005, 2008, 2011),
McLuhan (2005), Wolton (2007), Santos (2006), Chauí (2010), Sibilia (2002, 2008),
11



Recuero (2009) e Santaella e Lemos (2010) e, na pesquisa exploratória com a
análise de discursos através do Twitter.
        O capítulo cinco é destinado ao estudo do objeto propriamente dito, ou seja,
do Twitter. Neste capítulo são identificadas as características de origem, as
ferramentas disponíveis no Twitter e é feita uma revisão da teoria encontrada,
mostrando na prática como ocorrem as inserções de conteúdo hostil e
preconceituoso na rede social da Internet. É neste capítulo também, que é abordado
o conceito de capital social no Twitter e sobre a necessidade do indivíduo de tornar-
se relevante. No sexto e último capítulo, por fim, constam as conclusões a respeito
do que se procurou estudar com esta pesquisa.
12



2 A SOCIEDADE DE MCLUHAN


2.1 A IDEIA DE ALDEIA GLOBAL


          Marshall McLuhan (2005) previu uma sociedade global, onde as tecnologias
permitiriam aos indivíduos transpor o espaço e o tempo e se comunicar globalmente
com as mesmas facilidades de uma aldeia. Para ele o mundo estaria interligado por
completo, aproximando tribos, sociedades, proporcionando trocas culturais de
maneira intensa, fazendo circular informação de um ponto a outro e, ampliando a
capacidade de alcance destas de tal modo que transcendessem as barreiras do
espaço e do tempo. Além dessas possibilidades, para McLuhan os meios de
comunicação podem ser considerados como “extensões do homem”. Assim, o rádio
pode ser considerado como uma extensão da fala, a televisão como uma extensão
dos olhos e, o computador como uma extensão do cérebro.
          Muito embora McLuhan tivesse elegido a televisão como paradigma da
aldeia global, estes conceitos ganharam ainda mais legitimidade a partir do advento
da Internet, que deu à sociedade contemporânea o retrato exato conceituado por
ele. Raquel Recuero diz que:

                      O advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. [...] A
                      mais significativa [...] é a possibilidade de expressão e sociabilização
                      através das ferramentas de comunicação mediada por computador (CMC).
                      (RECUERO, 2009, p. 24).


          E, embora se possa imaginar que essas possibilidades de expressão e
sociabilização já eram possíveis desde a comunicação mais primitiva, e não apenas
via Internet, o que pode tornar-se mais significativo ainda para este advento é a
capacidade de dar ao indivíduo uma dimensão pública. Uma capacidade de transpor
as limitações de espaço e tempo de que fala Dominique Wolton (2007) e Marilena
Chauí (2010), e, no processo de comunicação fortalecer as redes sociais, as
conexões e as atuações nelas.
          Para que se entenda melhor o porquê esta é uma sociedade de McLuhan,
uma aldeia global, que cede aos encantos dos meios, é fundamental entender mais
sobre a célebre do autor: “o meio é a mensagem”. É o que será apresentado a
seguir.
13



2.2 O MEIO É A MENSAGEM


         Na sociedade primitiva partia-se do diálogo face a face, por meio das
linguagens verbais ou não verbais, ainda que primitivas, para que ocorresse um
evento de comunicação. Com o surgimento da imprensa, dos livros e do jornal, o
indivíduo foi adquirindo uma capacidade imersiva de ler informações, sem que
necessitasse da intervenção em diálogo do outro. Isto quer dizer sem a
comunicação face a face como o outro, pois, pode-se entender que por meio da
leitura o autor também dialoga com o leitor. A sociedade passou, desde então, a
adquirir padrões de comunicação cada vez mais “individuais”. A informação que era
falada, e encontrava legitimidade neste meio, passa então a ser encontrada também
nos novos meios. Primeiro a imprensa, depois o rádio, em seguida a televisão e,
hoje, a Internet.
         Assim, faz-se necessário reforçar a frase em que Marshall McLuhan diz que,
cada meio influencia na comunicação humana, a tal ponto que, o meio seja, ele
próprio, uma informação, uma mensagem. Nenhum exemplo mostra-se mais
vigorante dessa realidade do que o advento da Televisão. A cada nova edição do
Jornal Nacional1, por exemplo, tem-se das informações que são transmitidas pelo
programa uma verdade absoluta, em razão da legitimidade atribuída pelo indivíduo,
ou pelos indivíduos, ao meio. É comum observar que alguns indivíduos atribuem
total legitimidade ao meio quando compartilham uma informação vista no Jornal
Nacional. É comum, portanto, ouvirmos alguém dizer: “eu ouvi isso no Jornal
Nacional!”.
         Há assim uma categórica atribuição de valor, de verdade absoluta e
inquestionável. A mesma informação transmitida oralmente, de maneira impressa,
via televisão ou Internet, teriam caráteres diferentes e seriam justificadas e
compartilhadas diferentemente também, em razão do meio em que cada qual fora
veiculada.
         Sobre isto, ainda, McLuhan atribui essa força do meio em razão de o
conteúdo ser, muito antes do que uma mensagem, outro meio, como ele mesmo
revela: “O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente porque o
‘conteúdo’ é um outro meio. O conteúdo de um filme é um romance, uma peça de

1
 Jornal Nacional é um programa jornalístico, produzido e apresentado na Rede Globo de televisão há
42 anos. Atualmente é apresentado pelos jornalistas Fátima Bernardes e William Bonner.
14



teatro ou uma ópera.” (MCLUHAN, 2005, p. 33). Para o autor os efeitos dos meios
são inquestionáveis e não se constituem sobre opiniões ou conceitos. O indivíduo
está exposto a eles e, sujeito à natureza persuasiva destes. Diz ele, assim, que:

                     Os efeitos da tecnologia não ocorrem aos níveis das opiniões e dos
                     conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e nas
                     estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer resistência. O
                     artista sério é a única pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia,
                     justamente porque ele é um perito nas mudanças da percepção.
                     (MCLUHAN, 2005, p. 34).


        Como se vê, para McLuhan, os meios exercem influência sobre os
indivíduos e, com isto, se envolvem sem qualquer possibilidade de resistência. Os
sentidos em que se manifestam as tecnologias, de que fala McLuhan, se tornam
visíveis, pois “Cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em
todos e por todos os sentidos”. (MCLUHAN, 2005, p. 37). Com esta afirmação
McLuhan compara a observação que fez à de Jung que alegava que os romanos
haviam interiorizado costumes escravos, inconscientemente, em razão da constante
convivência, e que isso era impossível de evitar.
        Para justificar isso, McLuhan conta sobre o mito de Narciso, que, ao ver o
reflexo na água apaixonou-se pela própria imagem. No entanto, indica ele, Narciso
havia se apaixonado por “alguém” que viu no reflexo das águas e que, a reação
seria diferente se tivesse notado que era ele mesmo ali representado. Narciso,
portanto, não havia se apaixonado por si mesmo, mas por outra pessoa. Em seguida
McLuhan esclarece que: “O que importa nesse mito é o fato de que os homens logo
se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material
que não seja o deles próprios.” (MCLUHAN, 2005, p. 59).
        E, como uma possível solução, observou que

                     é somente assim, permanecendo à margem de qualquer estrutura ou meio,
                     que os seus princípios e linhas de força podem ser percebidos. Pois os
                     meios têm o poder de impor seus pressupostos e sua própria adoção aos
                     incautos. A predição e o controle consistem em evitar este estado
                     subliminar de transe narcísico. (MCLUHAN, 2005, p. 30).


        Para McLuhan, os meios causam um transe no indivíduo, pois ficam
fascinados com qualquer extensão de si mesmos, e somente olhando à margem
para que se perceba essa força. E, este “transe narcísico” também pode ocorrer em
razão da “temperatura” dos meios. O autor faz uma classificação dos meios
15



enquanto quentes ou frios. Diz ele que “um meio quente permite menos participação
do que um frio” (MCLUHAN, 2005, p. 38). Para McLuhan, aos meios frios muita
coisa precisa ser preenchida e completada, muito do meio necessita da participação
dos indivíduos, pois fornecem pouca informação, assim como “ao ler uma estória
policial, o leitor participa como co-autor, simplesmente por que muita coisa é deixada
fora da narrativa.” (MCLUHAN, 2005, p. 46).2
         Longe de entrar nessa discussão a respeito da classificação dos meios, e
para retomar o objeto desse trabalho, o que basta para refletir aqui, com base
nessas colocações de McLuhan, é: diante da possibilidade que dá ao indivíduo, de
atuar como co-autor, como produtor de conteúdo, seria a Internet, também um meio
frio? E, sendo um meio frio, a Internet aquece os sentidos por intermédio desse
convite à participação?
         É o que parece ser para McLuhan. Pois “o aquecimento de um dos sentidos
tende a produzir hipnose, o esfriamento de todos os sentidos redunda em
alucinação.” (MCLUHAN, 2005, p. 50). Ou seja, o aquecimento dos sentidos,
provocado pela “frieza” do meio, cria certo entusiasmo quando convida à
participação, produzindo um efeito anestésico no indivíduo, em que este abre
espaço para ser influenciado pelo meio.
         Assim, traçado um paralelo entre essas afirmações e a sociedade
contemporânea, cabe questionar se: o que se vive hoje é uma hipnose, com os
sentidos aquecidos principalmente em razão do advento da Internet, e, cada vez
mais, como indivíduos apaixonando pelas extensões assim como Narciso pelo
reflexo nas águas? Assim como Narciso, o indivíduo é induzido pelo meio antes
mesmo do que pela mensagem, pois “o meio é a mensagem”? Como está
constituído este indivíduo contemporâneo e, que indivíduo é este? Que papel ele
ocupa?
         Faz-se necessário, portanto, pensar sobre este indivíduo contemporâneo,
sobre a relação entre o corpo, o espaço e o tempo e, posteriormente sobre a
individualização na sociedade.



2
  McLuhan (2005) classifica como meios frios: o telefone e a televisão e; como meios quentes: o rádio
e o cinema. Entretanto, essa classificação de McLuhan mostra-se um pouco falha. Ao tomar, por
exemplo, o cinema como um meio quente comparando-o à estória policial que citou McLuhan, como é
possível dizer que no cinema não há por parte do “leitor” um preenchimento das informações que
foram editadas, cortadas ou esquecidas da narrativa do filme?
16



2.3 O CORPO, O ESPAÇO E O TEMPO


       A questão do corpo, do espaço e do tempo deve ser introduzida para que, a
partir da compreensão desse corpo que é sensível, como será visto, seja possível
compreender melhor o sujeito da sociedade contemporânea e virtual. Como
colocado por Ana Elisa Antunes Viviani,

                     as concepções de corpo em Merleau-Ponty e em Serres oferecem um
                     arcabouço conceitual que pode contribuir enormente [sic] para os estudos
                     atuais voltados para a relação entre comunicação e tecnologias digitais,
                     pois não dizem respeito apenas ao corpo, mas à questão da imagem, da
                     visibilidade, da carne. (VIVIANI, 2007, p. 20).


       Como se vê, a questão do corpo é de suma importância para identificar as
relações entre comunicação e este novo homem que emerge numa sociedade onde
predominam as tecnologias digitais. Para tanto, será adotado aqui a concepção de
corpo fundamentada na Fenomenologia da Percepção de Maurice Merleau-Ponty, a
partir de interpretações atuais como as de Marilena Chauí, Terezinha Petrúcia da
Nóbrega e, de forma a complementar, Paula Sibilia.
       Marilena Chauí (2010) traça uma discussão a respeito da mudança da
percepção do espaço e do tempo a partir das mudanças tecnológicas e, para isso,
toma como referência a Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty. Para ela, o
corpo é “um sensível que é sensível para si mesmo. O meu corpo é o meu modo
fundamental de ser no mundo. [...] O meu corpo é uma reflexão reversível nele
mesmo”. Essas ideias retratam o corpo não apenas como um objeto no mundo, mas
sim, como um sensível e sensorial, associado principalmente à percepção e a uma
primeira reflexão, além da criação, da linguagem e dos sentidos.
       Para a tradição filosófica, apenas a alma possuía a dádiva da reflexão, da
sensação e, Merleau-Ponty não aceitava essa perspectiva. Terezinha Petrúcia da
Nóbrega esclarece que:

                     No pensamento de Merleau-Ponty, o corpo, o movimento, o conhecimento
                     sensível e os processos perceptivos são trazidos para o primeiro plano da
                     reflexão; ao invés de privilegiar a análise da consciência, enfatiza a
                     corporeidade. (NÓBREGA, 2000, p. 100).


       E completa ainda dizendo que, o corpo “não é coisa, nem idéia, o corpo é
movimento, sensibilidade e expressão criadora.” (NÓBREGA, 2000, p. 100). Assim,
17



o corpo é, para Merleau-Ponty, e não apenas a alma ou a consciência, capaz de
sentir, de se fazer sentir, de sentir a si mesmo e, ainda, de sentir-se sentindo.

                      O enigma consiste em que o meu corpo é ao mesmo tempo vidente e
                      visível. Ele, que mira todas as coisas, pode também olhar-se, e reconhecer
                      naquilo que vê o “outro lado” do seu poder vidente. Ele vendo-se, toca-se
                      tocando, é visível e sensível para si mesmo. (MERLEAU-PONTY, 1997, p.
                      20,21 apud NÓBREGA, 2000, p. 102).


        A Fenomenologia da Percepção utiliza como exemplo a questão da obra de
arte, que para Nóbrega (2000, p. 105) atua como campo de possibilidades para o
entendimento do corpo sensível e sensorial. Para Chauí (2010) a experiência
criadora de um artista, é o momento em que o corpo se faz sensível sem deixar a
sensibilidade. Ele, o corpo artístico, pode ver e continua sendo visto, pode tocar e
continua sendo tocado, pode ouvir e continua sendo audível.

                      O corpo é, e é isso que a experiência artística mostra, essa capacidade de
                      produzir uma diferenciação, no interior de um mundo indiviso, onde eu não
                      preciso me separar do mundo para me relacionar com ele através da obra
                      de arte. (CHAUÍ, 2010).


        O pensamento de Merleau-Ponty mostra que a primeira reflexão é realizada
pelo próprio corpo e que, portanto, a consciência aprende com o corpo a refletir.
(CHAUÍ, 2010). E assim também, Viviani (2007, p. 6) complementa a questão
observando que: “para Merleau-Ponty, a consciência é transferida para o corpo,
instalando-se nas coisas; [...] O sentir está ligado ao corpo e traz à tona a espessura
entre o objeto percebido e o sujeito que percebe.” Para tanto, a alma não é aquilo
que sente o mundo e sim o corpo, já numa primeira reflexão.
        Este corpo sensível e sensorial é temporal. Hoje, amanhã, depois, agora,
ontem, noite, dia. O homem é um ser temporal. Ainda segundo Chauí (2010) “O
tempo existe porque nós existimos”. Este corpo é, também, espacial. Aqui, lá, perto,
longe, em casa, na rua, na escola, no trabalho. Este espaço tem tamanhos,
qualidades, cores, tessituras, sabores, cheiros. Essa relação espaço-temporal
também é problematizada por Paula Sibilia (2002) que toca na questão relacionando
imortalidade e tempo, virtualidade e espaço. Para ela as novas tecnologias almejam,
em razão da ambição dos homens, ultrapassar as limitações desse corpo material
chegando a serem empregadas na luta contra a morte (tempo) e contra a distância
(espaço). Diz ela:
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                      A sociedade atual assiste, portanto, ao surgimento de um tipo de saber
                      radicalmente novo, com um anseio inédito de totalidade. Fáustico, ele
                      pretende exercer um controle total sobre a vida, superando as suas
                      limitações biológicas; inclusive, a mais fatal de todas elas: a mortalidade.
                      (SIBILIA, 2002, p. 50).


        Não apenas exercendo total controle sobre a vida, mas também
reconfigurando tudo o que é vivo e alterando até o sentido da morte. É o que
acontece, desde os anos 90, com as constantes descobertas e conquistas da
medicina e o surgimento do conceito de “reversibilidade”. Estas descobertas
apresentaram-se como capazes de reverter o que, até então, era conhecido como o
ponto irreversível do fim da vida: a morte. Hoje se sabe que, em alguns casos a
morte não é declarada por ser considerada irreversível, mas sim, porque se decide
não revertê-la. “O ato de falecer perdeu sentido absoluto e caráter sacro,
submetendo-se à ‘capacidade de restauração’ provida pela tecnociência de
inspiração fáustica.” (SIBILIA, 2002).
        Essa “imortalidade” advinda da evolução tecnocientífica é retratada na
recente produção cinematográfica do estúdio 20th Century Fox, com Amanda
Seyfried e Justin Timberlake, lançada em 04 de novembro de 2011: “In Time” ou “O
Preço do Amanhã”. A ficção se passa no ano de 2161, onde as pessoas param de
envelhecer aos vinte e cinco anos, e morrem em até um ano após, se não
conseguirem mais tempo, através de trabalho ou ganhando. Tempo vira moeda na
ficção e as pessoas também o usam para comprar necessidades diárias. Há uma
espécie de relógio digital inserido no braço das pessoas que informa a quantidade
de tempo de vida restante. Com mais tempo, pode-se viver eternamente, tornar-se
imortal. Na ficção alguns se tornam imortais, comprando décadas de uma única vez,
tudo isso possibilitado por evoluções tecnológicas. Neste contexto, diz Sibilia que:

                      A promessa mais fabulosa da tecnociência contemporânea assim se
                      enuncia: no processo de hibridização com a tecnologia, o corpo humano
                      poderia se livrar de sua finitude natural. Com poderes que antes só
                      concerniam aos deuses, os engenheiros da vida se propõem a reformular o
                      mapa de cada homem, alterar o código genético e ajustar sua programação.
                      (SIBILIA, 2002, p. 54).


        Longe da ficção, no mundo real, essa “promessa” não parece estar tão longe
de tornar-se real. O Projeto Genoma, como diz Sibilia (2002, p. 55), é um exemplo
disso, pois almeja decifrar o código genético humano e prevenir a espécie humana
contra qualquer tipo de doença. Outro exemplo é a disciplina de inteligência artificial
19



que deseja transferir toda a mente humana para o computador, onde,
“consequentemente se poderia continuar a existir como uma mente sem o cérebro
que antes suportava a vida mental.” (SIBILIA, 2002, p. 56).
        Enquanto que, do lado das “tecnologias da imortalidade”, como chama
Sibilia, onde a “promessa” ainda parece ser iminente, do lado das “tecnologias da
virtualidade” as coisas já são bem reais. Ao contrário daquelas, estas são menos
polemizadas e mais apreciadas pelos homens, pois permitem “potencializar e
multiplicar as possibilidades humanas”, permitindo que os homens ultrapassem os
limites espaciais que se impõem como outra das restrições da materialidade do
corpo, “inaugurando fenômenos tipicamente contemporâneos como a [...] ‘presença
virtual’.” (SIBILIA, 2002, p. 56).

                       Entregues ao controle total sem fora, tais aparelhos [de conexão]
                       dispensam os velhos muros das instituições de confinamento e a torre
                       panóptica de vigilância, que se tornaram definitivamente obsoletos no novo
                       contexto. Além “virtualizar” os corpos, espalhando pelo espaço global a sua
                       capacidade de ação, a convergência digital de todos os dados e de todas as
                       tecnologias amplia ao infinito as possibilidades de rastreamento e de
                       colonização das micropráticas de todas as vidas. (SIBILIA, 2002, p. 59).


        Deste modo, como dito por Sibilia, além de ampliar as possibilidades de
ação do homem além das fronteiras espaciais, permite ainda uma constante
vigilância e rastreamento destes mesmos indivíduos. Estas mesmas tecnologias
reduzem, cada vez mais, as possibilidades de permanecer ocultos ou alheios à
sociedade e ao controle. E aqui, pode-se citar novamente o filme “In Time” onde
“comportamentos suspeitos” são identificados por computadores de última geração e
permitem ao “controle” agir e bloquear qualquer problema em meio à sociedade.
Veja, muito embora isso pareça coisa do futuro ou da ficção, Naomi Klein (2008) traz
a visão de que isso já vem acontecendo há algum tempo e já faz parte de uma
realidade. Diz ela:

                       Nos últimos dois anos, 200 mil câmeras de vigilância foram instaladas por
                       toda a cidade [de Shenzhen, na China]. Muitas delas estão em lugares
                       públicos, disfarçadas de postes de luz. O circuito fechado de câmeras de TV
                       em breve será conectado a uma única rede nacional, um sistema de
                       vigilância total capaz de rastrear e identificar qualquer um que esteja dentro
                       de seu alcance [...]. Nos próximos três anos, executivos de segurança da
                       China prevêem [sic] que 2 milhões de CCTVs serão instaladas em
                       Shenzhen, tornando-a a cidade mais vigiada do mundo (maníaca por
                       segurança, Londres tem apenas meio milhão de câmeras de segurança).
                       (KLEIN, 2008).
20



        Esse ponto foi bem denominado por Walter Benjamim com a expressão
“triunfo sobre o anonimato”. Essa obsessão contemporânea por “segurança”
também parece ser problematizada em outra obra de ficção, diz Sibilia (2008, p. 59),
O “Inimigo do Estado”, que exibe “uma infinidade de aparelhos de rastreamento e
espionagem digitais: todo um catálogo de câmeras diminutas, microfones e
dispositivos de localização via satélite”. Voltando à Klein (2008), percebe-se que a
China exibe as mesmas capacidades.

                     O objetivo é usar o que há de mais moderno em tecnologia de rastreamento
                     pessoal [...] a fim de criar uma espécie de casulo consumidor
                     cuidadosamente selado: um lugar onde cartões Visa, tênis Adidas, celulares
                     da China Mobile, Mc Lanches Feliz, cerveja Tsingtao possam ser
                     aproveitados sob o sempre vigilante olho do Estado, sem a ameaça da
                     democracia. O governo espera usar o escudo para identificar e contra-
                     atacar dissidências antes que estas explodam em movimentos de massa
                     como o que chamou a atenção do mundo na Praça da Paz Celestial.
                     (KLEIN, 2008).


       Por fim, percebe-se que o emprego dessas tecnologias da virtualidade e da
imortalidade afetam e modificam as relações espaço-temporais. De um lado, está o
indivíduo, sentindo-se livre e entusiasmado com a tecnologia e as possibilidades e,
exibindo-se sem preocupações, como será visto, atravessando a fronteira do privado
e chegando à esfera do público. Do outro lado, está o Estado, equipando-se para
exercer, cada vez mais, o controle, e por sua vez, atravessando a esfera do público
e adentrando a do privado. Reduz-se, cada vez mais, a dicotomia entre o “público e
o privado”. Com isso, o corpo também é modificado pela maneira como estas
tecnologias consagram um novo tempo e um novo espaço. Mais do que isso, o
próprio tempo e espaço são também modificados, redefinindo a sociedade
contemporânea. É sobre esta sociedade que será visto na sequência.


2.4 A SOCIEDADE INDIVIDUALIZADA


       Assim que entendidas, ainda que iniciais, as exposições sobre aldeia global,
sobre “o meio ‘ser’ a mensagem” e, sobre o corpo, o espaço e o tempo, faz-se
necessário conhecer a sociedade onde tudo isso acontece. Onde tudo se junta, se
mistura e emerge na rede virtual tornando-se uma rica vitrine do comportamento
contemporâneo. Onde tudo isso recebe o nome, pelas mãos de diversos autores,
como a condição pós-moderna.
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       Entretanto, cumpre-se ressaltar que, pouco interessa para este trabalho o
termo empregado: “pós-moderno” ou “moderno”. Não pretende este trabalho,
adentrar essa discussão, nem tampouco adotar um destes termos e defendê-lo.
Existem ainda outros termos que também poderiam ser escolhidos. É o caso de
“pós-orgânico” por Sibilia (2002) ou “modernidade líquida” por Zygmunt Bauman
(2001). Neste trabalho, optou-se por reproduzir o termo “pós-moderno” de Jair
Ferreira dos Santos (2006), longe de qualquer discussão a respeito do emprego
deste, pois, o único o objetivo deste próximo tópico é conhecer mais sobre essa
sociedade contemporânea.


2.4.1 A Condição Pós-Moderna


       Zygmunt Bauman (2011) comenta que houve, no século XX, uma mudança
da sociedade de produção para a sociedade de consumo. Marilena Chauí (2010)
também traça essa mesma interpretação demonstrando a evolução do fordismo para
a globalização. Segundo ela, o fordismo detinha toda a linha de produção, que ia da
coleta da matéria-prima até a entrega final ao cliente, e tinha como base uma
produção linear, de qualidade, durabilidade, e preocupada com estoques; por outro
lado, a globalização trouxe uma fragmentação da sociedade com a produção
segmentada, baseada na produção descartável. O que ambos mostram, é que a
sociedade que antes tinha no trabalho fordista a base para a construção das
identidades sociais, hoje, com a globalização e com a segmentação do trabalho,
também ocorre a segmentação da sociedade e, de certa forma, a individualização.
“As sociedades foram individualizadas.” diz Bauman (2011). Ao invés de se pensar
na felicidade da comunidade, passou-se a pensar na felicidade de cada pessoa.
       Para Jair Ferreira dos Santos a sociedade pós-moderna ameaça encarnar o
niilismo, o vazio, “a ausência de valores e de sentido para a vida”. Para ele, em
comparação ao homem moderno, o homem pós-moderno não dá sentido à vida, não
se interessa pela arte, pela história, pelo desenvolvimento e nem tem consciência
social. Esse homem pós-moderno “se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo
e ao individualismo.” (SANTOS, 2006, p. 10).
22


                     A massa pós-moderna, [...] é consumista, classe média, flexível nas idéias e
                     nos costumes. Vive no conformismo em nações sem ideais e acha-se
                     seduzida e atomizada (fragmentada) pelo mass media, querendo o
                     espetáculo com bens e serviços no lugar do poder. Participa, sem
                     envolvimento profundo, de pequenas causas inseridas no cotidiano -
                     associações de bairro, defesa do consumidor, minorias raciais e sexuais,
                     ecologia. (SANTOS, 2006, p. 90).


       A Internet e junto com ela, a globalização, trazem a sociedade
contemporânea para este cenário de relações individuais.

                     Porque, repentinamente, na Ágora, as pessoas começaram a confessar
                     coisas que eram a personificação da privacidade, a personificação da
                     intimidade, que você somente contaria, se você fosse católico, ao padre, no
                     confessionário, ou aos seus amigos realmente chegados ou realmente
                     muito íntimos. (BAUMAN, 2011).


       Ou seja, o confessionário, no exemplo trazido por Bauman, é a
representação da modernidade de que fala Santos (2006), em que o privado não
estava em evidência. Ele era escondido, oculto e misterioso. Ele era privado. De
repente, ele interessa mais do que o bem comum, do que o conjunto. Diz Bauman
(2011) que o que a sociedade contemporânea fez foi colocar “microfones nos
confessionários”.
       É essa mudança no comportamento da sociedade, quando ela deixa de ter
participações mais imersivas e está mais interessada na superficialidade do
cotidiano, no “eu”, a que Santos se refere, e diz estar sendo chamada pelos
sociólogos de “deserção do social” e que, por sua vez, “não é orientada nem surge
conscientemente, como também não visa à tomada do poder, mas pode abalar uma
sociedade, ao afrouxar os laços sociais”. Segundo o autor, existem os seguintes
tipos de deserção: a) Deserção da História: onde a massa pós-moderna não está
interessada em assuntos comuns, e nem no futuro. O que vale é o agora, o
presente, pouco importa a continuidade histórica; b) Deserção do político e do
ideológico: onde o desempenho dos mass media influencia muito mais as eleições
que a ideologia política dos candidatos. Ainda, essa falta de interesse caracteriza a
sociedade menos envolvida nas grandes causas e mais envolvida nas subculturas e
lutas menos prolongadas; c) Deserção do trabalho: pois por não estar interessada
em continuidade histórica, sem ideais políticos e ideologia essa massa pós-moderna
também não vê no trabalho um valor moral e um caminho para a auto realização.
Por isso, há mais espaço para o lazer. As empresas reclamam, cada vez mais, da
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dificuldade de mão de obra qualificada e de desinteresse pelo trabalho; d) Deserção
na família: onde a família também perde o valor moral e de instituição social. Há
mais espaço para o individualismo, mais pessoas moram sozinhas e há mais
liberdade sexual e; e) Deserção da religião: em que as grandes religiões, também
instituições sociais, perdem grande parte do valor. Abre espaço para religiões onde
o centro seja o sujeito, a meditação, o budismo, a individualidade. (SANTOS, 2006,
p. 90).
          Essa condição da deserção do social, como se vê, põe o homem
contemporâneo longe dos papéis sociais da modernidade. Parece estar havendo, se
já não há, uma ressignificação de papéis sociais e da própria sociedade. O
indivíduo, nessa condição, está sendo alvo de uma avalanche de informações, com
efeitos culturais e sociais. Essa nova condição faz da vida um show, um espetáculo,
pois,

                      desde a perspectiva renascentista até a televisão, que pega o fato ao vivo, a
                      cultura ocidental foi uma corrida em busca do simulacro perfeito da
                      realidade. Simular por imagens como na TV, que dá o mundo acontecendo,
                      significa apagar a diferença entre real e imaginário, ser e aparência. Fica
                      apenas o simulacro passando por real. Mas o simulacro, tal qual a fotografia
                      a cores, embeleza, intensifica o real. Ele fabrica um hiper-real, espetacular,
                      um real mais real e mais interessante que a própria realidade. (SANTOS,
                      2006, p.12).


          Talvez assim também decorresse o pensamento de McLuhan de que o
homem tem uma relação narcísica com essas extensões. Seria porque, então, as
extensões do homem são nada menos que um simulacro do próprio homem, que
intensifica e deixa mais espetacular e interessante o real?
          Santos (2006, p. 13) usa o exemplo da abertura do programa Fantástico,
que reproduzia homens e mulheres vestidos de maneira futurística, dançando em
cubos e cilindros fatiados e suspensos no ar, levitando. Isso não é possível no real,
mas através da computação gráfica e da TV era isso o que estava acontecendo. Diz
ele:

                      Aliada ao computador, a televisão simulou um espaço hiper-real,
                      espetacular, que excita e alegra como um acrobata. [...] Daí que a levitação,
                      em si desejável mas inviável na gravidade, parece ser possível na TV. O
                      hiper-real simulado nos fascina porque é o real intensificado na cor, na
                      forma, no tamanho, nas suas propriedades. É um quase sonho. (SANTOS,
                      2006, p. 13).
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        Essa possibilidade, essa hiper-realização seduz o homem pós-moderno, que
cede aos encantos do mass media, apaixona-se, como Narciso, não por si mesmo,
mas pelo outro eu, transformado no espetáculo do real. Complementa Santos que:

                     O ambiente pós-moderno significa basicamente isso: entre nós e o mundo
                     estão os meios tecnológicos de comunicação, ou seja, de simulação. Eles
                     não nos informam sobre o mundo; eles o refazem à sua maneira, hiper-
                     realizam o mundo, transformando-o num espetáculo [!]. Uma reportagem a
                     cores sobre os retirantes do Nordeste deve primeiro nos seduzir e fascinar
                     para depois nos indignar [!]. (SANTOS, 2006, p. 13).


        Ainda para Santos (2006, p.86), esse encantamento com as tecnologias,
essa possibilidade de hiper-realização do mundo real e do próprio homem dão à
contemporaneidade um novo estilo de vida. O indivíduo se define entre três
diferentes papéis na sociedade: a) o consumista que consome de tudo, bens e
serviços, dos mais necessários aos mais desejáveis; b) o hedonista que não possui
valores e busca satisfação e prazer instantâneos e; c) o narcisista que preza pela
auto-imagem, a glamourização e paixão de si. Percebe-se que estas três definições
de papéis emergem pela constante busca da satisfação do “eu” reforçando a
questão do individualismo. E, a respeito desse individualismo, alerta Santos:

                     O individualismo exacerbado está conduzindo à desmobilização e à
                     despolitização das sociedades avançadas. Saturada de informação e
                     serviços, a massa começa a dar uma banana para as coisas públicas.
                     Nascem aqui a famosa indiferença, o discutido desencanto das massas
                     ante a sociedade tecnificada e informatizada. É a sua colorida apatia frente
                     aos grandes problemas sociais e humanos. (SANTOS, 2006, p. 88).


        Para o autor a condição pós-moderna pode estar exibindo, como numa
vitrine, essa ressignificação do papel social do homem. Do homem moderno, outrora
preocupado com a construção da história, dos ideais políticos, da comunidade, da
sociedade como um todo, emerge um ser egoísta, preocupado apenas com si
próprio, sem ideais e sem projetos para o todo. Um homem preocupado com a
satisfação do individual e do presente, um homem de “um ego sem fronteiras”.
(SANTOS, 2006, p. 30, 94).
        Bauman atribui a esse novo momento, também, o que ele chama por “A
ambivalência da vida”. O homem divide a vida, constantemente, entre segurança e
liberdade. Todas as vezes que o indivíduo caminha em direção a mais liberdade
perde parte da segurança e, todas as vezes que caminha na direção oposta, para ter
mais segurança, perde parte da liberdade. De modo que o homem não vive sem
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estas duas esferas e, é preciso encontrar um equilíbrio entre elas. “Segurança sem
liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos.” (BAUMAN,
2011).
         Então, mais próxima de qual lado estaria a sociedade contemporânea? Para
ambos os autores, mais próxima da liberdade. O homem deixou de lado tanta
segurança, quis mais liberdade e se tornou individualista. (SANTOS, 2006). Mas,
para Bauman (2011) isto não é desesperador. Ele comenta que sente o “pêndulo” se
movendo levemente para mais próximo da segurança novamente. O que Bauman
faz questão de alertar é que, essas relações, essas conexões, são irreversíveis. Na
rede e, portanto, na sociedade contemporânea, pós-moderna, fluida, é fácil conectar
e desconectar e é isso que mantém a rede viva. Relações em comunidade são
dramáticas. É difícil romper laços. Na rede é mais fácil desconectar. Comenta
Bauman que, um usuário do Facebook contou a ele que tinha feito 500 amigos em
um dia. Ele conta que respondeu: “eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos.
[...] Então, provavelmente, quando ele diz ‘amigo’ e eu digo ‘amigo’, não queremos
dizer a mesma coisa. São coisas diferentes.” Assim, novamente, figura-se essa
fluidez da sociedade contemporânea, onde é fácil conectar e fazer amigos e tão fácil
quanto, é desconectar e romper essas “amizades de Facebook”. (BAUMAN, 2011).
         Entretanto, cumpre-se ainda trazer para cá a visão de Dominique Wolton
(2007, p. 11) sobre essa relação entre tecnologias e comunicação que, sem dúvida,
enriquecerão este capítulo. Wolton parece manter um distanciamento maior com
relação à empolgação diante das tecnologias. Para ele, seria dissimulado dizer que
a sociedade deveria se adequar ao tempo das tecnologias. Ao contrário é mais
frequente que a história social e cultural dê sentido à história técnica. Sendo assim,
na visão de Wolton, pode-se dizer que a tecnologia atual é resultante do papel social
e cultural desenvolvido ao longo dos tempos. Para ele:

                     Atualmente, um número surpreendente de autores considera, por exemplo,
                     a Internet uma verdadeira revolução que fará surgir uma “nova sociedade”,
                     simplesmente porque supõe que a tecnologia vai mudar diretamente a
                     sociedade e os indivíduos. [...] Passa-se assim de uma concepção
                     materialista da comunicação a uma verdadeira ideologia – a ideologia
                     tecnológica – da comunicação. Todavia, a história prova os limites das teses
                     deterministas. As tecnologias de comunicação não escapam ao dever
                     epistemológico que consiste em não confundir técnica, cultura e sociedade.
                     Constatar que as técnicas evoluem mais rápido do que os modelos culturais
                     e a organização social da comunicação não é o suficiente, na realidade,
                     para definir um sentido ao “progresso” da comunicação, que iria da
                     evolução técnica em direção à mudança de práticas culturais e depois aos
                     projetos de sociedade. (WOLTON, 2007, p. 16).
26



       Na visão de Wolton, o desafio da pesquisa que ele faz é “justamente de não
reduzir a comunicação a um acontecimento técnico”. O sentido do desenvolvimento
do trabalho de Wolton “é tentar explicar por que o essencial, em um sistema de
comunicação, não é a tecnologia.” (WOLTON, 2007, p. 16). E, como conclui:

                     Em poucas palavras, para a comunicação, as teorias são sempre mais
                     importantes que as tecnologias. De nada serve se comunicar de um
                     extremo a outro do mundo se uma visão do homem e da sociedade não
                     orienta as proezas tecnológicas. (WOLTON, 2007, p. 22).


       O que interessa a este trabalho, diante desses argumentos de Wolton é
desmistificar a sociedade pós-moderna como resultado, apenas, das evoluções
tecnológicas. Essa sociedade contemporânea, individual, emancipada, é resultado
de uma longa caminhada iniciada há tempos. Assim:

                     Desde o século XVI, ela [a comunicação] é o complemento e a condição de
                     todas as emancipações do indivíduo. A reinvindicação da liberdade de
                     comunicar é evidentemente fruto da longa batalha iniciada na Renascença
                     pelas liberdades de consciência, de pensamento, de expressão, depois a
                     partir dos séculos XVII e XVIII pela liberdade editorial e de imprensa. No
                     século XIX, a reencontramos na luta pelas liberdades de associação, de
                     manifestação e de participação política. No século XX ela está diretamente
                     ligada ao surgimento da democracia de massa, com o sufrágio universal e a
                     informação para todos. (WOLTON, 2007, p. 38).


       Percebe-se que, Wolton não deixa de aferir as modificações sociais
causadas em razão da evolução da tecnologia, mas também, orienta o leitor para
apartar-se dela, olhar por outro viés e não tomar a tecnologia como ponto culminante
desse processo de pós-modernização, assim como, também orienta que as
tecnologias estão longe de melhorar a comunicação humana. A princípio, e neste
ponto Wolton volta a dialogar com os outros autores, “o dogma atual, pois se trata
realmente de um dogma, identifica a felicidade individual e coletiva à capacidade de
estar ‘plugado’ e multiconectado.” (WOLTON, 2007, p. 32). E então:

                     Por que as tecnologias de comunicação agradam tanto? Eu já abordei este
                     problema em Pensar a Comunicação, salientando a importância para os
                     jovens da idéia de abertura, mas também a recusa das mídias de massa, o
                     desejo de responder à inegável angústia antropológica, à atração pelo
                     moderno, à procura de novas formas de solidariedade com os países mais
                     pobres. A variedade de motivações ilustra, aliás, o fato de que estas novas
                     tecnologias sejam investidas de muitas outras coisas que puramente a
                     função técnica. Trata-se, do conjunto, de modificar as relações humanas e
                     sociais, o que prova o quanto, na área de comunicação, se gera símbolos e
                     utopias, sem grande relação com as performances dos instrumentos. O
                     termo que convém aqui é o de transferência. (WOLTON, 2007, p. 86).
27



        E com isso, autonomia, domínio e velocidade fazem compreender o sucesso
das novas tecnologias. “Cada um pode agir, sem intermediário, quando bem quiser,
sem filtro nem hierarquia e, ainda mais, em tempo real.” É justamente em razão
disso, como observaram também os outros autores, “Isto gera um sentimento de
liberdade absoluta, até mesmo de poder, de onde se justifica muito bem a expressão
‘surfar na Internet’.” (WOLTON, 2007, p. 86).
        Assim, por fim, Wolton lança as seguintes questões:

                     O ideal, para não dizer ideologia, do progresso toma o lugar da reflexão
                     evitando que se coloque uma questão simples: todas estas tecnologias de
                     comunicação, para fazer o quê? Qual a relação entre as necessidades de
                     comunicação dos homens e das sociedades e esta explosão de técnicas?
                     Até onde os homens necessitam deste grau de comunicação? Comunicar o
                     que, a quem? Qual a relação entre comunicação técnica e comunicação
                     humana? Qual o interesse em ter cem canais pagos ou poder consultar a
                     biblioteca de Alexandria, ou a do Congresso Americano? Quais as
                     desigualdades e relações de força que dela resultam? Que problemas as
                     tecnologias de comunicação resolvem e que outros são criados?
                     (WOLTON, 2007, p. 32).


        Percebe-se que há muito mais a discutir em relação ao tema sobre
sociedade pós-moderna, líquida e contemporânea. Entretanto, para não adentrar em
todas as questões, saindo, portanto, do conjunto ao qual se propôs o presente
trabalho, é que no próximo capítulo será abordado o ciberespaço, para então, na
sequência, refletir sobre parte dessa última questão lançada por Wolton: que
problemas, na comunicação, as tecnologias criam?
28



3 O CIBERESPAÇO


            Depois de apresentadas as características da aldeia global, aquela
interligada em todas as direções; os conceitos de espaço e tempo imprescindíveis
para o entendimento da percepção do corpo e; a condição pós-moderna e o
individualismo que ajudam a compreender a satisfação do indivíduo com o “eu” no
presente, discutir-se-á sobre o ciberespaço.
            Entretanto, não se pretende aqui qualificá-lo tecnicamente, compreender as
características da rede, os protocolos ou a série de evoluções que aconteceram
desde 1940 e que o tornou possível, no molde em que é conhecido nos dias
presentes. Pretende-se entender o ciberespaço enquanto campo de relações, parte
do campo da comunicação capaz de influenciar ou propiciar as relações dos
indivíduos mediadas por computador.


3.1 O QUE É O CIBERESPAÇO


            Existem diversas formulações sobre o que é o ciberespaço. Muito embora o
que interesse para este trabalho seja o conceito de ciberespaço a partir do advento
da Internet, é importante alertar, sobretudo, para o fato de que o ciberespaço vai
muito além da Internet. John Barlow, vice-presidente da Electronic Frontier
Foundation3, por exemplo, identifica o ciberespaço como sendo, também, o
ambiente onde se encontram os indivíduos ao falarem ao telefone.
            Pierre Lévy (1999, p. 92) conta que o termo “ciberespaço” foi utilizado pela
primeira vez por William Gibson, no livro Neuromancer, para descrever um espaço
de redes digitais. Neste espaço as tecnologias estariam enraizadas na sociedade
moldando a estrutura e as relações entre os indivíduos. Lévy, porém, tem uma
definição própria. Para ele o ciberespaço é “o espaço de comunicação aberto pela
interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores”, e, a
marca distintiva é a capacidade de virtualização do espaço e do tempo.
            Ora, novamente surgem as questões do espaço e do tempo. Chauí (2010)
diz que o ciberespaço é “um mundo novo” marcado pela acronia (ausência de
referência do tempo) e pela atopia (ausência de referência do espaço). A autora


3
    Cf. <https://www.eff.org/>.
29



entende ainda que, com a Internet se pode ir mais longe, em menos tempo, “até a
completa extinção do espaço e do tempo”. Esses apontamentos de Chauí, assim
como os de Lévy, dialogam para um mesmo entendimento sobre uma virtualização
do corpo, do espaço e do tempo, características que, para ambos, é a marca
principal do ciberespaço.
        E, para que se possa entender mais sobre o ciberespaço, Chauí (2010) diz
que é importante entender também as diferenças entre dois conceitos que
indevidamente são apresentados como iguais: o do possível e o do virtual. A autora
explica que na tradição filosófica o virtual tendia a ser o possível, uma potência
daquilo que, com a intervenção de um agente ou de uma circunstância pudesse vir a
existir. Para a tradição filosófica “a semente é a árvore virtual, ou a árvore possível”.
Entretanto, com a informática, a perspectiva filosófica mostrou-se falha. “O virtual já
é real, e já existe. Ele não se opõe ao real, ele se opõe ao atual” assim diz Chauí
(2010). Lévy (1996, p. 15), também neste sentido, ensina que a tradição filosófica
entendia que o “real seria da ordem do ‘tenho’, enquanto o virtual seria da ordem do
‘terás’, ou da ilusão”. O autor traz a distinção feita por Gilles Deleuze entre o
possível e o virtual. O possível é um real latente, já construído, mas lhe falta a
existência material. Já virtual é um acontecimento complexo que chama à uma
resolução: uma atualização. “O problema da semente, por exemplo, é fazer brotar
uma árvore. A semente ‘é’ esse problema, mesmo que não seja somente isso.” O
autor complementa ainda que “o real assemelha-se ao possível; em troca, o atual
em nada se assemelha ao virtual: responde-lhe”. (LÉVY, 1996, p. 17).
        Com a distinção apontada por Chauí, pode-se dizer que o ciberespaço é um
mundo real e que, como apontado por Lévy, aguarda uma atualização. Real que é, e
atual que aguarda por ser a todo o momento, o ciberespaço é dotado da
interferência do homem que se reproduz nas relações e interações. Com isso, surge
então outra das características do ciberespaço que é importante para este trabalho:
a capacidade de interação aos indivíduos. André Lemos, ao defini-lo se baseia nesta
característica dizendo que o ciberespaço é

                      um hipertexto mundial interativo onde cada um pode adicionar, retirar e
                      modificar partes dessa estrutura telemática, como um texto vivo, um
                      organismo auto-organizante, um cybionte em curso de concretização.
                      (LEMOS, 2004, p. 123).
30



        O conceito de Lemos mostra um lado mais interativo e mais vivo do
ciberespaço. A partir dessas observações de Chauí, Lévy e Lemos, tem-se que o
ciberespaço é, por fim, um outro mundo, um mundo novo, sem espaço e sem tempo,
ou com espaço e tempo novos, onde tudo é virtualizado e onde os indivíduos podem
atuar moldando as estruturas através da adição, subtração ou modificação de
interações. Essa é a maneira de ser e de existir do ciberespaço. Retomando o que
foi visto no capítulo anterior sobre a relação do corpo, do espaço e do tempo e,
sobre as tecnologias da imortalidade e da virtualidade, de acordo com Chauí (2010)
tem-se que, “do lado do ciberespaço nós nos tornamos puras almas angélicas, sem
corpo, enquanto do lado da ciência, nós nos tornamos puros corpos sem alma”.
        E, ao tomar o ciberespaço também como um espaço de interação (como a
primeira lei da cibercultura: o ciberespaço é um local de livre circulação da
informação), vê-se que as redes sociais na Internet são o principal fenômeno dessa
característica. É o que será apresentado a seguir.


3.2 REDES SOCIAIS NA INTERNET


        É importante ressaltar que, redes e redes sociais são conceitos muito
antigos e que não surgiram com a Internet, muito menos se limitam a ela. Contudo,
neste trabalho este conceito será associado com a Internet, pois ela e os discursos
que nela circulam, fazem parte do objetivo de estudo deste trabalho.
        As redes sociais na Internet, assim como as redes sociais, são descritas
como sendo o conjunto dos atores sociais e as conexões feitas por eles. Os atores
sociais podem ser pessoas, grupos ou instituições e as conexões os laços ou
interações entre estes atores sociais. (Wasserman e Faust, 1994; Deggene e Forse,
1999 apud Recuero, 2009, p. 24). “A abordagem de rede tem, assim, seu foco na
estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões”.
(RECUERO, 2009, p. 24). A seguir, será apresentado um pouco mais sobre os
atores sociais e sobre as conexões.


3.2.1 Atores Sociais


        Segundo Recuero (2009, p. 25) os atores sociais são o primeiro elemento
das redes sociais e podem ser as pessoas, as instituições ou até os grupos
31



envolvidos na rede. São os indivíduos sociais que interagem dentro das redes,
moldando ou sendo moldados por elas. Alerta a autora para o fato de que os atores
sociais no ciberespaço não são facilmente reconhecíveis, pois, são representações
destes. Aqui, novamente, é possível dialogar com a questão da virtualização do
corpo, do espaço e do tempo. Sendo o ciberespaço um ambiente virtual,
caracterizado pela atopia e pela acronia, os atores sociais, portanto, também não
estão fisicamente presentes neste ambiente. São representações de um “eu” que
vão de fotos, vídeos e nicknames, que podem se assemelhar mais às características
dos atores sociais como, por exemplo, uma foto que representa exatamente o ator
social, até as diversas imagens e links, nem sempre semelhantes, pois, por exemplo,
é possível colocar na foto do perfil na Internet uma imagem de um lugar preferido, ou
de um cantor, de um ídolo, não se assemelhando ao ator social.
        Conclui Recuero (2009, p. 28) que “os atores no ciberespaço podem ser
compreendidos como os indivíduos que agem através de seus fotologs, weblogs, e
páginas pessoais, bem como através de seus nicknames”. Sobre estas
representações, tem-se que são identidades de um “eu”. É pertinente questionar se
estas identidades não seriam mutáveis, tornando-se vários “eus”. Ora, na troca de
uma foto do perfil, do nickname, das cores, da linguagem ou até mesmo do link que
correspondem ao usuário, não estaria ocorrendo uma ressignificação de identidade?
É importante então, uma pausa para a reflexão sobre identidades, que sem dúvida
tem grande influência no modo como as conexões (laços, relações ou interações)
são realizadas entre os atores sociais na Internet.


3.2.1.1 Identidades líquidas


        Para Bauman a identidade é “o horizonte em direção ao qual eu me
empenho e pelo qual eu avalio, censuro e corrijo os meus movimentos”. (BAUMAN,
apud MACEDO, 2010, p. 52). Pode-se, portanto, a partir de Bauman, entender que o
exercício da identidade começa sendo uma escolha.
        Roberto DaMatta (2009), identifica as identidades como papéis sociais,
fazendo inclusive uma distinção entre como as identidades são exercidas a partir
dos espaços da casa e da rua. Sobre isto ainda, e segundo Stuart Hall, “todas as
identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólicos”. (HALL apud
MACEDO, 2010, p. 51).
32



        Esses autores reforçam a ideia de que as identidades são escolhas mutáveis
dos indivíduos. Seja em Bauman sobre a “direção ao qual eu me empenho”, seja
para DaMatta com os espaços da casa e da rua, ou seja para Hall com os espaços
simbólicos. Se as identidades são desempenhadas basicamente de acordo com o
espaço em que se insere o indivíduo, o que acontece quando este indivíduo está
inserido no ciberespaço? O que acontece quando a identidade está sendo
construída ou exercida em um mundo virtualizado e sem os referenciais do espaço e
do tempo?
        Hall diz que “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o
mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o
indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.” (HALL, 2006, p. 7).
Veja, é possível dialogar com outro capítulo do trabalho, sobre a Condição Pós-
Moderna, que traz o conceito de sociedade e identidade fragmentadas que, por sua
vez estão fragmentando o indivíduo moderno. Completa Macedo, dizendo que

                     daí, decorre a necessidade dos sujeitos de assumir modelos identitários
                     diversos. Para tanto, se utilizam da cultura da mídia, que é responsável por
                     grande parte da disseminação desses modelos, além de mercadorias que
                     consigam sustentar as identidades escolhidas. Ora, essa relação é possível
                     porque tanto a cultura da mídia, quanto as mercadorias presentes na
                     sociedade do consumo estão em constante movimento, assim como as
                     identidades. Poderíamos dizer, nos apropriando de um termo cunhado por
                     Bauman, que as identidades são líquidas ou fluidas. (MACEDO, 2010, p.
                     50).


        Este parece ser o retrato das identidades na pós-modernidade e nas
relações que ocorrem no ciberespaço. É por isso que Bauman as chama de líquidas
ou fluidas. “Os ‘fluídos’ são assim chamados porque não conseguem manter a forma
por muito tempo e, a menos que sejam derramados num recipiente apertado,
continuam mudando de forma sob a influência até mesmo das menores forças.”
(BAUMAN, 2005, p. 57).
        Ainda neste sentido, DaMatta (2009) sugere que os papéis sociais não são
bem definidos e assim também parece entender Recuero (2009, p. 30, sem grifo no
original), dizendo que “perfis do Orkut, weblogs, fotologs, etc. são pistas de um ‘eu’
que poderá ser percebido pelos demais. São construções plurais de um sujeito,
representando múltiplas facetas de sua identidade.” Pode-se tomar que, o sujeito
pode ser único, mas as identidades podem ser múltiplas tanto na existência como na
forma de representação.
33



       Sobre essa mutação de identidade, Bauman diz que

                     nós, habitantes do líquido mundo moderno, somos diferentes. Buscamos,
                     construímos e mantemos as referências comunais de nossas identidades
                     em movimento – lutando para nos juntarmos aos grupos igualmente móveis
                     e velozes que procuramos, construímos e tentamos manter vivos por um
                     momento, mas não por muito tempo. (BAUMAN, 2005, p. 32).


       Assim, este novo tempo em que se encontra essa sociedade contemporânea
é propício aos novos estilos de identidades frágeis, líquidas e evanescentes. As
outras caíram por terra. “No admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das
seguranças frágeis, as identidades ao estilo antigo, rígidas e inegociáveis,
simplesmente não funcionam.” (BAUMAN, 2005, p.33).
       Cabe aqui, para finalizar a questão das identidades, um interessante
questionamento de DaMatta (2009): “Como os papéis [papéis sociais, identidades]
colam nos atores sociais?”. Para ele, essa é a grande motivação das discussões
sobre identidades. As várias identidades de que fala Recuero ou a liquidez de que
fala Bauman pouco tem a ver com o certo ou errado, com o caráter do indivíduo.
Não são boas, nem más, mas apenas uma constante dualidade de papéis sociais.
DaMatta (2009) usa como exemplo a questão do nepotismo. Diz ele que essa é uma
sociedade familiar e que, portanto, não deveria considerar o nepotismo uma
irregularidade. Nesse contexto, de acordo com o pensamento de DaMatta, para o
homem público há uma constante dualidade de papéis sociais. Ele deve optar por
indicar alguém de confiança para um cargo público que não seja da família. Todavia,
há alguém cujos laços e confiança sejam mais fortes do que um parente nessa
sociedade de bases familiares? Não seria o correto indicar para um cargo de
confiança da administração pública então um parente? “Por que isso é errado?”,
questiona ele. Que papel social e, portanto, que identidade irá assumir esse ator
social entre nomear ou não um parente? O papel de administrador público limitado à
questão do nepotismo ou o papel de membro familiar que vê no parente alguém de
confiança para assumir o cargo?
       Como se vê, as identidades tem papel fundamental na identificação das
relações entre os atores sociais. É dizer que, sem essas três noções: a) o indivíduo
no ciberespaço não é físico é apenas uma representação (para Recuero); b) esta
representação é mutável, é líquida e pode tomar várias facetas sem limite de tempo
ou espaço (para Bauman); e ainda c) essa mutação e liquidez não são boas nem
34



más, podem ser apenas uma dualidade entre os papéis sociais que o indivíduo tem
que desempenhar (para DaMatta), não será possível olhar o ciberespaço e as redes
sociais na Internet com olhares mais científicos do que comerciais, ou seja,
procurando adotar uma postura de pesquisador e não somente se envolver na rede.
Assim como, é preciso entender que essa dualidade de papéis sociais existe e que
este pode ser, também, motivo que leve à liquidez das identidades.


3.2.2 Conexões


       Recuero (2009, p. 30) argumenta que as conexões podem ser interações,
relações ou laços sociais entre os atores sociais na Internet. Para ela são as
conexões que motivam aos pesquisadores, pois, é possível avaliá-las muito depois
de realmente terem acontecido. Na rede, ficam os “rastros” dessas interações, como
diz a autora. Ou seja, uma atualização no Twitter pode ser posteriormente
visualizada pelos usuários, em qualquer lugar, até que alguém a exclua. São estes
rastros que permitem ao pesquisador analisar mesmo não estando presente no
tempo e no espaço em que ocorreu a interação.
       Neste mesmo sentido,        Recuero (2009, p. 31) traz os seguintes
questionamentos: “[...] como compreender a interação social no ciberespaço? [...]
Como pensar a interação distante do ator social que a origina?” Diz ela que essas
interações possuem diversas características. A primeira delas é que não há outra
relação imediata além da linguagem mediada por computador, ou seja, não há, por
exemplo, a interação face a face. Tudo é mediado por computador. Desde o espaço,
o tempo, as representações dos atores sociais, os códigos da mensagem, as
próprias mensagens, o feedback. Todo o processo da interação está mediado pelo
computador. A outra característica é que são permitidas interações mesmo quando
os atores não estão conectados no ciberespaço. É o caso dos e-mails, onde nem
sempre são enviados para quem está conectado à rede no momento, e por isso, não
se espera uma resposta imediata. Assim também ocorrem com as mensagens
deixadas entre os usuários utilizando o Facebook, o MSN ou o Orkut.
       Recuero (2009, p. 36) alerta para o fato de que “a interação mediada por
computador é a geradora de relações sociais, que, por sua vez, vão gerar laços
sociais.” Assim, tem-se que as interações são a menor parte de todo o processo de
conexão que ocorre nas redes sociais na Internet; as relações sociais são processos
35



causados por várias interações sociais e, por sua vez, os laços sociais são
envolvimentos mais complexos resultantes das relações sociais. A partir de Alex
Primo (2003), Recuero (2009, p. 33) descreve que as interações podem ser reativas
e limitadas, mútuas e construídas, fortes ou fracas e multiplexas. E para que se
entenda melhor estes tipos de relações, faz-se necessário explorá-las rapidamente.
       As interações são reativas e limitadas quando, por exemplo, um usuário clica
em um link sendo levado para algum lugar. Já as interações mútuas e construídas,
que interessam mais para este trabalho, são aquelas onde o usuário do Twitter, por
exemplo, insere alguma atualização na página pessoal. Ao contrário da outra, esta
última permite que outro usuário interaja com a atualização, respondendo,
comentando ou replicando aos demais usuários da rede. E as interações, relações
ou laços sociais podem ocorrer dentro ou fora do ciberespaço e podem, ainda, se
combinarem. Os laços sociais fora da Internet podem ser resultantes de uma relação
social mediada e iniciada por computador ou ainda o inverso. É o caso, por exemplo,
de irmãos que convivem juntos e que mantem relações sociais na Internet. São os
chamados laços “multiplexos”. Esses laços podem ainda, serem fracos ou fortes, e
isto depende da quantidade de interações que os usuários mantem. Quanto mais
interação mais forte o laço social. (DEGENNE E FORSÉ, 1999; SCOTT, 2000 apud
RECUERO, 2009, p.42).
       Por fim, a autora alerta que: “As relações não precisam ser compostas
apenas de interações capazes de construir, ou acrescentar algo. Elas também
podem ser conflituosas ou compreender ações que diminuam a força do laço social”.
Neste sentido, as relações e laços sociais não se confundem com o conteúdo, mas
também não podem existir sem este, pois é ele, o conteúdo, o que determina o tipo
de relação ou laço social, que podem ser de amizade, de carinho, de amor, de
conflito, de hostilidade e, ainda assim serem de laços fortes. É importante que isto
fique claro para que não se tome as relações ou laços sociais sempre como algo
positivo. (RECUERO, 2009, p.37).
36



4 METODOLOGIA


        Como visto anteriormente, o objetivo do presente trabalho é saber e refletir
sobre as inserções de hostilidade e preconceito no Twitter, diante deste contexto de
sociedade contemporânea, globalizada e liquida.
        O objetivo, portanto, dar-se-á cumprido somente através da construção de
conhecimento. De acordo com Antônio Joaquim Severino (2007, p. 25) a produção
de conhecimento como construção de um objeto ocorre “mediante nossa capacidade
de   reconstituição   simbólica    dos    dados de        nossa     experiência”.     Ou    seja,
“apreendemos os nexos pelos quais os objetos manifestam sentido para nós,
sujeitos cognoscentes”. Dessa maneira o conhecimento torna-se um “complexo
processo de constituição e reconstituição do sentido do objeto que foi dado à nossa
experiência externa e interna”. O autor ainda alerta para o fato de que a construção
do conhecimento no ambiente acadêmico tem um diferencial e deve ser construído
“pela experiência ativa do estudante e não mais ser assimilado passivamente”. E,
ainda sob este aspecto a “pesquisa torna-se elemento fundamental e imprescindível
no processo de ensino/aprendizagem. [...] o aluno precisa dela para aprender eficaz
e significativamente”. (SEVERINO, 2007, p. 25).
        Assim, o presente trabalho tem como base a pesquisa bibliográfica. Como
ensinam Jorge Duarte e Antônio Barros (2009, p. 52) “A pesquisa bibliográfica, num
sentido amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa”.
Para Severino,

                      é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de
                      pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses
                      etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros
                      pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos
                      temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das
                      contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos.
                      (SEVERINO, 2007, p. 122).


        É necessário ressaltar que hoje a pesquisa bibliográfica parte não apenas
dos impressos, mas também do levantamento de documentos encontrados na
Internet, filmes, programas de televisão ou rádio, aulas, palestras e conferências. Ou
seja, “tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto”. (LAKATOS,
2005, p. 185). Entretanto, como previne Severino:
37


                     Não traz resultados positivos para o estudo ouvir aulas, por mais brilhantes
                     que sejam, nem adianta ler livros clássicos e célebres. Isso só tem algum
                     valor à medida que se traduzir em documentação pessoal, ou seja, à
                     medida que esses elementos puderem estar à disposição do estudante, a
                     qualquer momento de sua vida intelectual. (SEVERINO, 2007, p. 67).


       Por isso, além da pesquisa bibliográfica, também foi realizada a
documentação bibliográfica das obras através do método de fichamento, para que,
como fim, se cumprisse o que garante Severino sobre esse processo:
“Sistematicamente feito, proporciona ao estudante rica informação para seus
estudos.” (SEVERINO, 2007, p. 70).
       Buscou-se a partir da pesquisa e da documentação bibliográfica apresentar
um rico diálogo entre os autores das obras. E entre elas, destacam-se como
principais Bauman (2005, 2008, 2011), McLuhan (2005), Wolton (2007), Santos
(2006), Chauí (2010), Sibilia (2002, 2008), Recuero (2009) e Santaella e Lemos
(2010) que, de modo geral, discorrem sobre sociedade, homem e comunicação. A
fim de complementar esses diálogos, as ideias e interpretações de alguns outros
autores também foram trazidas para as linhas deste trabalho. São eles: DaMatta
(2009), Lévy (1996, 1999), Nóbrega (2000), Primo (2003, 2011), Viviani (2007) e
Zago (2008).
       O presente trabalho utilizou-se também de uma pesquisa exploratória que,
para Severino (2007, p. 123), “busca apenas levantar informações sobre um
determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as
condições de manifestação desse objeto.” Assim, buscando a relação com as teorias
vistas ao longo do trabalho, foram analisados alguns discursos das postagens no
Twitter, os chamados “tweets”, encontrados através do uso da ferramenta de busca
do próprio site e palavras-chave, como: “gays”, “mulheres”, “homofobia” e
“nordestino”. Escolheu-se esse “tipo de hostilidades” em razão de sua intensidade.
       Cumpre-se ressaltar, ainda, que nas linhas deste trabalho ou diante das
conclusões poder-se-á parecer que houve o emprego de uma pesquisa explicativa,
cuja adoção poderia ocorrer, pois “além de registrar e analisar os fenômenos
estudados, busca identificar suas causas”. Entretanto, o presente trabalho não tem
essa pretensão. Os possíveis posicionamentos que possam aparecer, são
resultados dessa “corrida ao conhecimento” e que se expressaram por meio de um
ato de filosofar, pois este, “reclama um pensar por conta própria que é atingido
mediante o pensamento de outras pessoas”. (SEVERINO, 2007, p. 123, 67).
38



5 O TWITTER


         Desde a notoriedade que atingiu o Twitter, por volta de 2008 quando foi
utilizado na campanha do atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a
ferramenta passou a ser alvo de pesquisadores e de constantes discussões. A
proposta desse trabalho concentra-se no estudo dessa plataforma, pois, como
afirmam diversos autores Recuero (2009) e Santaella e Lemos (2010), o Twitter
serve como uma importante e relevante ferramenta no estudo de redes sociais na
Internet.
         Neste último capítulo, portanto, além de conhecer mais sobre essa
plataforma, será feita uma análise de “tweets” a partir das teorias vistas durante este
trabalho. Assim será possível compreender melhor o comportamento do usuário na
rede, e a importância daquilo que já foi abordado neste trabalho, como a condição
pós-moderna e o individualismo.


5.1 DO TWTTR AO TWITTER


         Conta Jack Dorsey (2006), um dos fundadores do Twitter, que o serviço teve
os primeiros conceitos pensados no ano 2000. No perfil de Dorsey no site Flickr4, um
site onde os usuários mantém hospedadas fotos, ele comenta que ingressou em um
serviço chamado LiveJournal5, que é uma comunidade virtual onde os usuários
podem hospedar na rede um jornal ou um diário. A partir daí Dorsey pensou em criar
algo semelhante ao LiveJournal, porém, com atualizações mais instantâneas. Algo
que permitisse ao usuário atualizar o status6 e, de onde estivesse, compartilhá-lo.
Algo para ser usado em tempo real.
         Dorsey conta que chamou a ideia inicialmente de “TWTTR” e, no perfil no
Flickr ele mantém uma foto do primeiro esboço que fez do layout do Twitter (FIGURA
1), comentando sobre a ideia e sobre o recente sucesso após seis anos de espera.




4
  Cf. <http://www.flickr.com/photos/jackdorsey/182613360/>.
5
  Cf. <http://www.livejournal.com/>.
6
  Status é uma palavra latina que significa estado, posição, condição. No mesmo estado “ou situação
de uma pessoa ou entidade”. (STATUS, 2011).
39




FIGURA 1 - PRIMEIRO ESBOÇO DO TWTTR
FONTE: DORSEY (2006)


       Entretanto, o esboço pouco se parece à primeira versão do Twitter, lançada
efetivamente no ano de 2006. O site tinha uma versão de layout bem simples
(FIGURA 2), e os botões amplamente conhecidos e utilizados nos dias de hoje,
como “Favorite”, “Retweet” e “Reply” ainda não estavam presentes.
40




FIGURA 2 - SITE TWTTR
FONTE: SAGOLLA (2006)


         Nota-se que o antigo layout do Twitter (FIGURA 2) era mais funcional, ou
seja, parecia estar mais preocupado com a usabilidade7 do serviço do que com a

7
   Usabilidade é um termo usado para definir o quanto uma interface é facilmente utilizada por
diferentes usuários alcançando simplicidade, facilidade e eficiência no uso. (USABILIDADE, 2011).
41



experiência simbólica dos usuários. Era possível postar o conteúdo e ver o que foi
postado pelos outros, mas ainda não era possível compartilhar o conteúdo de outro
usuário como nos dias de hoje. É possível notar ainda que, a primeira versão já fazia
o uso da pergunta utilizada até pouco tempo e que lembra uma das principais
características do Twitter, a mobilidade: “what are you doing?” ou “o que você está
fazendo?”. E, parece que respondendo à pergunta, Jack Dorsey, segundo
reportagem de O Globo (2011), escreveu a primeira mensagem da rede (FIGURA 3),
datada de vinte e um de março do ano de dois mil e seis: “invite coworkers” ou
“convidando colaboradores”.




FIGURA 3 - PRIMEIRO TWEET DA HISTÓRIA
FONTE: PRINT SCREEN FEITO PELO AUTOR, DO PERFIL “@JACK” NO TWITTER (2011)


       Antes disso, o próprio sistema enviava uma mensagem automática padrão,
“just setting up my twttr” ou “apenas criando meu twttr”, que também pode ser
encontrada nos perfis dos fundadores Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams
(FIGURA 4).




FIGURA 4 - PRIMEIROS TWEETS GERADOS AUTOMATICAMENTE
FONTE: MONTAGEM FEITA PELO AUTOR, DOS PERFIS “@EV”, “@BIZ” E “@JACK” NO TWITTER
(2011)


       Desse ponto de partida até os dias atuais, é possível perceber que muita
coisa mudou no Twitter, desde o layout até o sucesso que a rede social conseguiu.
Antes, porém, cumpre-se mostrar, ainda que de maneira rápida, a estrutura atual do
42



Twitter afim de que, na sequência, a falta dessas características não atrapalhe no
entendimento dos próximos tópicos. A versão atual do Twitter (FIGURA 5), o layout e
as funcionalidades estão, sem dúvida, mais desenvolvidas e mais interativas do que
na versão inicial e continuam mantendo a usabilidade do serviço.




FIGURA 5 - VERSÃO ATUAL DO TWITTER
FONTE: PRINT SCREEN FEITO PELO AUTOR, DA PÁGINA PRINCIPAL DO TWITTER (2011)


       É possível agora marcar o conteúdo que mais gostou de outro usuário,
compartilhar a postagem, ou ainda, responder alguma postagem com algum
comentário e enviar mensagens particulares.


5.2 O QUE É O TWITTER?


       Lúcia Santaella e Renata Lemos (2010, p. 64) argumentam que o Twitter é
“uma plataforma de microblogging que explodiu nos últimos anos, afiliando milhões
de usuários por todo o mundo.” Esse sucesso deve-se ao fato de que rapidamente
43



celebridades passaram a se juntar ao Twitter, e isso ganhou maior atenção por parte
dos meios de comunicação de massa fazendo com que públicos distintos da
sociedade também se interessassem pelo Twitter. Esse fato é bem lembrado por
Juliano Spyer no guia intitulado: “Tudo o que você precisa saber sobre Twitter” 8.
Neste guia ele comenta que a entrada de Oprah Winfrey9 foi considerada um marco
na história do Twitter e da popularização dessa plataforma (FIGURA 6).




FIGURA 6 - PRIMEIRO TWEET DE OPRAH WINFREY
FONTE: PRINT SCREEN FEITO PELO AUTOR, DO PERFIL “@OPRAH” NO TWITTER (2011)


        Assim, desde que criado, o Twitter não parou de crescer. Estudos como os
da agência Sysomos apontam que em 2009 o Twitter atingiu 11 milhões de usuários.
O Brasil ocupava o segundo lugar com representatividade de 8,8% dos usuários da
base total do Twitter. (LARDINOIS, 2010 apud SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 64).
        As autoras concluem que o Twitter é “Uma verdadeira ágora digital global:
universidade, clube de entretenimento, ‘termômetro’ social e político, instrumento de
resistência civil, palco cultural, arena de conversações contínuas” e que serve

                      como um meio multidirecional, de captação de informações personalizadas;
                      um veículo de difusão contínua de ideias; um espaço colaborativo no qual
                      questões, que surgem a partir de interesses dos mais microscópicos aos
                      mais macroscópicos, podem ser livremente debatidas e respondidas; uma
                      zona livre – pelo menos até agora – da invasão de privacidade que domina
                      a lógica do capitalismo corporativo neoliberal que tudo invade, até mesmo o
                      ciberespaço. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 66).


        E, muito embora o Twitter faça parte do quadro das Redes 3.0, que são
aquelas que permitem interação, são dotadas de aplicativos e estão focadas na
mobilidade (HORNIK, 2005 apud SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 58), as autoras
alertam para o fato de que




8
   O guia está disponível para download na página da agência Talk Interactive:
<http://guiadotwitter.talk2.com.br/arquivos/Manual_Twitter_6_MB.pdf>.
9
  Oprah Winfrey é uma empresária e apresentadora de TV americana, e, uma das personalidades
mais influentes dos Estados Unidos.
44


                     nas outras redes sociais como Facebook, Orkut etc., o foco da interação
                     social está nos contatos pessoais entre usuários, no Twitter o foco encontra-
                     se na qualidade e no tipo de conteúdo veiculado por um usuário específico.
                     O foco da rede social Facebook, por exemplo, é disponibilizar informações e
                     meios de interação direta para redes de relacionamentos que, em sua
                     grande maioria, já existiam off-line, antes da entrada do usuário na
                     plataforma. Novos contatos surgem através da rede, é claro, mas quase
                     sempre em virtude de um contato pessoal ou de um amigo comum. Essas
                     redes se caracterizam por uma atuação predominante focada em redes de
                     relacionamentos pessoais familiares, de amizade e/ou profissionais.
                     (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 67).


        Assim, o foco do Twitter está naquilo em que um único usuário insere na
rede, o conteúdo do que é postado, as “pílulas de 140 carácteres”. Outro fator que
diferencia o Twitter das demais redes sociais também foi lembrado no guia de
Juliano Spyer que diz que em mídias como o Orkut e o Facebook os usuários
precisam se aceitar como contatos para que os perfis e atualizações possam
aparecer um para o outro. Entretanto, no Twitter não ocorre desta forma, afinal,
segundo o autor,

                     nossa sociedade não funciona assim, nem todo mundo se conhece e alguns
                     que se destacam, ganham o rótulo de “famosas” [sic] – a principal condição
                     para alguém se tornar uma celebridade é justamente ser mais conhecido do
                     que conhecer. O Twitter funciona dessa maneira ao permitir que existam
                     vínculos unilaterais entre os partipantes. Você pode se ligar [ou seguir,
                     como se diz no Twitter] a cantora Maria Rita (@MROFICIAL), ao Roger do
                     Ultraje (@Roxmo), passando pelo bruxo Paulo Coelho (@paulocoelho) e o
                     cartunista Maurício de Sousa (@mauriciodesousa), sem que eles
                     necessariamente te conheçam. (SPYER, 2009, p.14).


        Esta afirmação dialoga com o que Santaella e Lemos querem dizer a
respeito do foco da rede. O Twitter é bastante diferenciado, pois se foca na
informação que o usuário insere na rede e, como diz Spyer, por ter essa
possibilidade de a informação ser unilateral.
        Raquel Recuero observou algo parecido. Necessariamente os usuários das
redes não precisam manter laços unilaterais (caso do Twitter). Dessa forma, observa
a autora que os laços necessariamente não são recíprocos. “É possível que um ator
A considere B como um melhor amigo (laço forte) e que B, em retorno, não
considere A como uma pessoa tão próxima (laço mais fraco).” Entretanto, essa
reciprocidade não deve ser confundida “como uma troca de forma igualitária, mas
apenas como uma troca de interações e informações.” (RECUERO, 2009, p. 41).
        Para esclarecer bem essa questão, a noção de unilateralidade de que fala
Spyer em nada tem a ver com a força dos laços, pois, no caso no Twitter também é
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HOSTILIDADES EM REDE: FIREWALLS REAIS PARA O CIBERESPAÇO

  • 1. FACULDADE INTERNACIONAL DE CURITIBA – FACINTER Curso de Comunicação Social – Publicidade, Propaganda e Marketing HUMBERTO DA CUNHA ALVES DE SOUZA HOSTILIDADES EM REDE: FIREWALLS REAIS PARA O CIBERESPAÇO CURITIBA 2011
  • 2. HUMBERTO DA CUNHA ALVES DE SOUZA HOSTILIDADES EM REDE: FIREWALLS REAIS PARA O CIBERESPAÇO Monografia apresentada como requisito para a obtenção do título de Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Publicidade, Propaganda e Marketing à Faculdade Internacional de Curitiba - FACINTER. Orientadora: Profª Ms. Diana Macedo. CURITIBA 2011
  • 3. Aos meus pais e minha irmã, por todo o respeito e dedicação, e por todo o carinho e amor.
  • 4. AGRADECIMENTOS Este é um momento único e especial para mim. São muitas as pessoas a agradecer, e gostaria de fazê-lo a todos aqueles que contribuíram para a realização deste trabalho. É por isso que, não posso deixar de registrar nestas linhas, em forma de agradecimentos, as pessoas que sinto que fizeram parte da construção desse belo caminho que desejo continuar trilhando. Começo agradecendo, de maneira única, ao meu pai Benedito e à minha mãe Benedita, por todo o amor, carinho, dedicação e paz que trouxeram à minha criação e formação acadêmica. Por estarem sempre presentes, ensinando-me, pelo exemplo, a ser honrado e construtivo. À minha irmã Evelin, pelo amor, carinho e respeito. Por entender meus momentos de nervosismo, me ensinando a ser um irmão melhor a cada dia. Pelas contribuições com livros e artigos que enriqueceram este trabalho. Desejo agradecer, de maneira especial, à minha orientadora, Profa. Ms. Diana Gualberto de Macedo, pelo acompanhamento e orientação. Inspiro-me nas palavras de Dominique Wolton, para dizer, como ele, que sem a figura do mestre não é possível saber que informação procurar e que uso fazer dela. Um aluno não é nada distante do conhecimento que nasce com a participação de mestres como esta, que se dedicam constantemente na construção e divisão do saber. Aos autores, por compartilharem e deixarem registrado o conhecimento e, principalmente, por dialogaram entre si muito antes que eu encontrasse um diálogo entre eles nas linhas deste trabalho. Ao colegiado do Curso de Graduação em Comunicação Social, pelos esforços, dedicação e pelos ensinamentos durante as aulas e até mesmo fora delas. À Mariana, colaboradora da coordenação do curso por ser sempre prestativa. Aos colegas de graduação, pelas trocas positivas de ideias e pelos momentos divertidos. Também gostaria de agradecer a banca avaliadora, que fará parte da concretização deste trabalho. Aos meus parentes, familiares e amigos, que souberam compreender minha ausência do convívio social, que tiveram paciência e agora irão desfrutar deste momento junto comigo.
  • 5. Em um setor em que tudo acontece muito rápido, e de maneira tão padronizada, preservar um lugar para uma reflexão teórica e um pouco mais de distância crítica é fundamental. Esta é a função da pesquisa que, por definição, consiste em ir além do que é evidente e visível, para pensar de outra maneira e produzir conhecimento. Dominique Wolton
  • 6. RESUMO É notória, inegável e irreversível a dimensão que estão ganhando as novas tecnologias. Estas tem se tornado, cada vez mais, não apenas extensões do homem no processo de comunicação, como também, muitas vezes, o impulso decisivo para que o homem “comum” ganhe dimensões públicas. Redes sociais na Internet se tornam populares por isso, e o Twitter é um exemplo vigorante dessa realidade. Contudo, apesar dessa grande revolução, pouco se explora o comportamento dos usuários nas redes sociais. É isto que pretende o presente trabalho, propor uma reflexão a respeito do homem e da sociedade contemporânea, e como se dá a comunicação neste meio tecnológico. Em princípio foram reunidos os conceitos sobre o tema e em seguida, analisados e identificados através das inserções de alguns usuários no Twitter. Com isso, foi possível perceber que essa sociedade contemporânea impacta diretamente no modo como alguns usuários se comportam, sentindo-se livres, ou praticamente livres, para inserções de hostilidade na rede. Palavras-chave: ciberespaço; comunicação; identidade; rede social; Twitter.
  • 7. ABSTRACT It is notorious, undeniable and irreversible the extent that new technologies are gaining. These have become, more and more, not just extensions of man in the communication process, as also, often, the decisive impetus for the “common” man gain public dimensions. Social networking sites have become very popular, and Twitter is an invigorating example of this reality. However, despite this great revolution, little is explored from the user’s behavior on social networking sites. This is what this paper intends, to propose a reflection about man and the contemporary society, and how communication is in this technological environment. In principle the concepts were gathered on the subject and then analyzed and identified through some insertions of Twitter users. Thus, it was revealed that contemporary society has a direct impact on how some users behave, feeling free, or almost free, for insertions of hostility on the network. Keywords: cyberspace; communication; identity; social networking; Twitter.
  • 8. LISTA DE FIGURAS FIGURA 1 - PRIMEIRO ESBOÇO DO TWTTR ......................................................... 39 FIGURA 2 - SITE TWTTR ......................................................................................... 40 FIGURA 3 - PRIMEIRO TWEET DA HISTÓRIA........................................................ 41 FIGURA 4 - PRIMEIROS TWEETS GERADOS AUTOMATICAMENTE ................... 41 FIGURA 5 - VERSÃO ATUAL DO TWITTER ............................................................ 42 FIGURA 6 - PRIMEIRO TWEET DE OPRAH WINFREY .......................................... 43 FIGURA 7 - TWEETS VARIADOS ............................................................................ 46 FIGURA 8 - DIFERENTES TIPOS DE CONTEÚDO, MESMO USUÁRIO ................ 47 FIGURA 9 - TWEET APAGADO DO PERFIL DO STF ............................................. 48 FIGURA 10 - USO DE HASHTAG COMO SENTIDO................................................ 50 FIGURA 11 - APLICAÇÕES DA HASHTAG.............................................................. 50 FIGURA 12 - HASHTAG #CANTADACOMSERIADO ............................................... 52 FIGURA 13 - TRENDS TOPICS BRASIL .................................................................. 52 FIGURA 14 - TIMELINE COM RETWEET ................................................................ 53 FIGURA 15 - RT USANDO REPLY COM COMENTÁRIOS ...................................... 54 FIGURA 16 - RT USANDO REPLY SEM COMENTÁRIOS....................................... 54 FIGURA 17 - TWEET MARCADO COMO FAVORITO ............................................. 55 FIGURA 18 - TWEET DE MAYARA PETRUSO ........................................................ 61 FIGURA 19 - REPERCUSSÃO INTERNACIONAL DO CASO MAYARA .................. 61 FIGURA 20 - TWEET DE AMANDA REGIS .............................................................. 62 FIGURA 21 - PERFIL @HOMOFOBIASIM, TWEET SOBRE GAYS ........................ 63 FIGURA 22 - PERFIL @HOMOFOBIASIM, TWEET SOBRE MULHERES .............. 64 FIGURA 23 - PEDIDO DE DESCULPAS DE AMANDA REGIS ................................ 65
  • 9. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 9 2 A SOCIEDADE DE MCLUHAN ............................................................................. 12 2.1 A IDEIA DE ALDEIA GLOBAL............................................................................. 12 2.2 O MEIO É A MENSAGEM ................................................................................... 13 2.3 O CORPO, O ESPAÇO E O TEMPO .................................................................. 16 2.4 A SOCIEDADE INDIVIDUALIZADA .................................................................... 20 2.4.1 A Condição Pós-Moderna ................................................................................ 21 3 O CIBERESPAÇO ................................................................................................. 28 3.1 O QUE É O CIBERESPAÇO ............................................................................... 28 3.2 REDES SOCIAIS NA INTERNET ........................................................................ 30 3.2.1 Atores Sociais .................................................................................................. 30 3.2.1.1 Identidades líquidas....................................................................................... 31 3.2.2 Conexões ......................................................................................................... 34 4 METODOLOGIA .................................................................................................... 36 5 O TWITTER............................................................................................................ 38 5.1 DO TWTTR AO TWITTER .................................................................................. 38 5.2 O QUE É O TWITTER? ....................................................................................... 42 5.3 O TWEET: UMA PÍLULA SOCIAL DE 140 CARACTERES ................................ 45 5.3.1 As Hashtags (#) e os Trending Topics (TTs) .................................................... 49 5.3.2 O Retweet (RT) e o Reply ................................................................................ 53 5.4 RELAÇÕES REATIVAS E LIMITADAS NO TWITTER ........................................ 55 5.5 RELAÇÕES MÚTUAS E CONSTRUÍDAS NO TWITTER ................................... 56 5.5.1 O capital social no Twitter ................................................................................ 56 5.5.2 Hostilidades em rede ........................................................................................ 59 6 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 69
  • 10. 9 1 INTRODUÇÃO A Internet está cada vez mais presente no cotidiano do indivíduo contemporâneo. Segundo reportagem da Câmara Brasileira de Comércio Eletrônico, a Câmara-e.net, o Brasil já é a sétima maior audiência de Internet do mundo com 44 milhões de usuários. (BRASIL, 2011a). O computador é um objeto cada vez mais desejável pela maioria das pessoas. A venda de computadores no 1º trimestre deste ano apontou um crescimento de 22% em comparação com o 1º trimestre de 2010, é o que diz o estudo da IDC. (CRESCE, 2011). Até mesmo aqueles que não possuem computador, utilizam regularmente a Internet, segundo pesquisa feita pela Ipsos Brasil. (ACESSO, 2011). A conectividade também está nos celulares, cujo crescimento se dá a cada ano. De acordo com as estatísticas divulgadas no site da Teleco – Inteligência em Telecomunicações, o total de celulares no Brasil, ao final de Setembro de 2011, ultrapassou o total da população do país. O número apurado indica um total de 227 milhões de celulares, o que corresponde a 116,51 celulares para cada 100 habitantes. (ESTATÍSTICAS, 2011). Neste contexto, de conexão e mobilidade, surgem as redes sociais na Internet que se tornaram relevantes para o processo de comunicação. Segundo pesquisa feita pela empresa GfK, o uso de redes sociais representam 39% do uso de Internet que é feito pelos Brasileiros (BRASILEIRO, 2011). As redes sociais na Internet têm atingido cada vez mais pessoas e tornado a comunicação mais instantânea e mais móvel. Através delas, o homem contemporâneo ganhou dimensões antes não vistas, tendo a possibilidade de ser visto e ouvido além das fronteiras do tempo e do espaço físico. Assim, as redes sociais na Internet podem ser consideradas extensões do homem. De maneira semelhante ao ocorrido com outras tecnologias, emerge uma nova linguagem e, como consequência, uma nova forma do ser humano se comportar e se comunicar. Entretanto, alguns destes novos comportamentos podem ultrapassar regras sociais de convívio como, por exemplo, a postagem de conteúdo hostil ou preconceituoso na rede. De toda sorte, vale ressaltar que esses comportamentos também ocorrem fora da Internet, ou seja, a Internet também é mais uma vitrine de comportamentos sociais.
  • 11. 10 Deste modo, a proposta do presente trabalho é buscar um diálogo entre autores que estudam o tema como: Zygmunt Bauman, Paula Sibilia, Marshall McLuhan, Marilena Chauí, Lucia Santaella, Pierre Lévy, Dominique Wolton, Raquel Recuero, entre outros, com o intuito de criar um rico espaço de debate nas linhas deste trabalho. A questão que motiva a realização deste trabalho e, portanto, o problema de pesquisa é: por que ocorrem inserções de conteúdo hostil ou preconceituoso no Twitter? Como refletir acerca dessas inserções, a partir de uma sociedade líquida e contemporânea? Que características da sociedade contemporânea ajudam para que esse tipo de conteúdo seja inserido na rede? Uma das hipóteses é que estes comportamentos de hostilidade se dão em razão da percepção do usuário com relação à liberdade que lhe é dada no ciberespaço. Outra hipótese é a característica evanescente dessas relações, e, ainda, características de uma sociedade globalizada e líquida. Diante desse novo tempo de constantes evoluções tecnológicas, e desse novo homem contemporâneo, conectado, o presente trabalho mostra-se importante e relevante ao campo da comunicação, especialmente sobre o crescimento dessas hostilidades e sobre a linguagem que está circulando na Internet. O objetivo geral deste trabalho, portanto, é convidar o leitor a refletir a respeito do tema. Para tanto, como desdobramento desse objetivo geral, faz-se necessária uma contextualização da sociedade contemporânea e líquida e, do ciberespaço e das redes sociais na Internet para então chegar ao objeto do trabalho: o Twitter e as inserções de hostilidade. O trabalho está dividido em cinco capítulos além da introdução. O segundo discorre sobre a ideia de sociedade contemporânea. Há uma introdução a respeito dos conceitos de McLuhan sobre “aldeia global” e “o meio é a mensagem”, passando pela Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty, até chegar sobre a sociedade individualizada e fluida. A partir das ideias do corpo, do espaço e do tempo, e a relação entre a acronia e a atopia do segundo capítulo, é que se discute no terceiro capítulo a questão do ciberespaço e das redes sociais na Internet. O capítulo quatro aborda a metodologia utilizada neste trabalho. O trabalho se concentra na revisão bibliográfica das obras de Bauman (2005, 2008, 2011), McLuhan (2005), Wolton (2007), Santos (2006), Chauí (2010), Sibilia (2002, 2008),
  • 12. 11 Recuero (2009) e Santaella e Lemos (2010) e, na pesquisa exploratória com a análise de discursos através do Twitter. O capítulo cinco é destinado ao estudo do objeto propriamente dito, ou seja, do Twitter. Neste capítulo são identificadas as características de origem, as ferramentas disponíveis no Twitter e é feita uma revisão da teoria encontrada, mostrando na prática como ocorrem as inserções de conteúdo hostil e preconceituoso na rede social da Internet. É neste capítulo também, que é abordado o conceito de capital social no Twitter e sobre a necessidade do indivíduo de tornar- se relevante. No sexto e último capítulo, por fim, constam as conclusões a respeito do que se procurou estudar com esta pesquisa.
  • 13. 12 2 A SOCIEDADE DE MCLUHAN 2.1 A IDEIA DE ALDEIA GLOBAL Marshall McLuhan (2005) previu uma sociedade global, onde as tecnologias permitiriam aos indivíduos transpor o espaço e o tempo e se comunicar globalmente com as mesmas facilidades de uma aldeia. Para ele o mundo estaria interligado por completo, aproximando tribos, sociedades, proporcionando trocas culturais de maneira intensa, fazendo circular informação de um ponto a outro e, ampliando a capacidade de alcance destas de tal modo que transcendessem as barreiras do espaço e do tempo. Além dessas possibilidades, para McLuhan os meios de comunicação podem ser considerados como “extensões do homem”. Assim, o rádio pode ser considerado como uma extensão da fala, a televisão como uma extensão dos olhos e, o computador como uma extensão do cérebro. Muito embora McLuhan tivesse elegido a televisão como paradigma da aldeia global, estes conceitos ganharam ainda mais legitimidade a partir do advento da Internet, que deu à sociedade contemporânea o retrato exato conceituado por ele. Raquel Recuero diz que: O advento da Internet trouxe diversas mudanças para a sociedade. [...] A mais significativa [...] é a possibilidade de expressão e sociabilização através das ferramentas de comunicação mediada por computador (CMC). (RECUERO, 2009, p. 24). E, embora se possa imaginar que essas possibilidades de expressão e sociabilização já eram possíveis desde a comunicação mais primitiva, e não apenas via Internet, o que pode tornar-se mais significativo ainda para este advento é a capacidade de dar ao indivíduo uma dimensão pública. Uma capacidade de transpor as limitações de espaço e tempo de que fala Dominique Wolton (2007) e Marilena Chauí (2010), e, no processo de comunicação fortalecer as redes sociais, as conexões e as atuações nelas. Para que se entenda melhor o porquê esta é uma sociedade de McLuhan, uma aldeia global, que cede aos encantos dos meios, é fundamental entender mais sobre a célebre do autor: “o meio é a mensagem”. É o que será apresentado a seguir.
  • 14. 13 2.2 O MEIO É A MENSAGEM Na sociedade primitiva partia-se do diálogo face a face, por meio das linguagens verbais ou não verbais, ainda que primitivas, para que ocorresse um evento de comunicação. Com o surgimento da imprensa, dos livros e do jornal, o indivíduo foi adquirindo uma capacidade imersiva de ler informações, sem que necessitasse da intervenção em diálogo do outro. Isto quer dizer sem a comunicação face a face como o outro, pois, pode-se entender que por meio da leitura o autor também dialoga com o leitor. A sociedade passou, desde então, a adquirir padrões de comunicação cada vez mais “individuais”. A informação que era falada, e encontrava legitimidade neste meio, passa então a ser encontrada também nos novos meios. Primeiro a imprensa, depois o rádio, em seguida a televisão e, hoje, a Internet. Assim, faz-se necessário reforçar a frase em que Marshall McLuhan diz que, cada meio influencia na comunicação humana, a tal ponto que, o meio seja, ele próprio, uma informação, uma mensagem. Nenhum exemplo mostra-se mais vigorante dessa realidade do que o advento da Televisão. A cada nova edição do Jornal Nacional1, por exemplo, tem-se das informações que são transmitidas pelo programa uma verdade absoluta, em razão da legitimidade atribuída pelo indivíduo, ou pelos indivíduos, ao meio. É comum observar que alguns indivíduos atribuem total legitimidade ao meio quando compartilham uma informação vista no Jornal Nacional. É comum, portanto, ouvirmos alguém dizer: “eu ouvi isso no Jornal Nacional!”. Há assim uma categórica atribuição de valor, de verdade absoluta e inquestionável. A mesma informação transmitida oralmente, de maneira impressa, via televisão ou Internet, teriam caráteres diferentes e seriam justificadas e compartilhadas diferentemente também, em razão do meio em que cada qual fora veiculada. Sobre isto, ainda, McLuhan atribui essa força do meio em razão de o conteúdo ser, muito antes do que uma mensagem, outro meio, como ele mesmo revela: “O efeito de um meio se torna mais forte e intenso justamente porque o ‘conteúdo’ é um outro meio. O conteúdo de um filme é um romance, uma peça de 1 Jornal Nacional é um programa jornalístico, produzido e apresentado na Rede Globo de televisão há 42 anos. Atualmente é apresentado pelos jornalistas Fátima Bernardes e William Bonner.
  • 15. 14 teatro ou uma ópera.” (MCLUHAN, 2005, p. 33). Para o autor os efeitos dos meios são inquestionáveis e não se constituem sobre opiniões ou conceitos. O indivíduo está exposto a eles e, sujeito à natureza persuasiva destes. Diz ele, assim, que: Os efeitos da tecnologia não ocorrem aos níveis das opiniões e dos conceitos: eles se manifestam nas relações entre os sentidos e nas estruturas da percepção, num passo firme e sem qualquer resistência. O artista sério é a única pessoa capaz de enfrentar, impune, a tecnologia, justamente porque ele é um perito nas mudanças da percepção. (MCLUHAN, 2005, p. 34). Como se vê, para McLuhan, os meios exercem influência sobre os indivíduos e, com isto, se envolvem sem qualquer possibilidade de resistência. Os sentidos em que se manifestam as tecnologias, de que fala McLuhan, se tornam visíveis, pois “Cada produto que molda uma sociedade acaba por transpirar em todos e por todos os sentidos”. (MCLUHAN, 2005, p. 37). Com esta afirmação McLuhan compara a observação que fez à de Jung que alegava que os romanos haviam interiorizado costumes escravos, inconscientemente, em razão da constante convivência, e que isso era impossível de evitar. Para justificar isso, McLuhan conta sobre o mito de Narciso, que, ao ver o reflexo na água apaixonou-se pela própria imagem. No entanto, indica ele, Narciso havia se apaixonado por “alguém” que viu no reflexo das águas e que, a reação seria diferente se tivesse notado que era ele mesmo ali representado. Narciso, portanto, não havia se apaixonado por si mesmo, mas por outra pessoa. Em seguida McLuhan esclarece que: “O que importa nesse mito é o fato de que os homens logo se tornam fascinados por qualquer extensão de si mesmos em qualquer material que não seja o deles próprios.” (MCLUHAN, 2005, p. 59). E, como uma possível solução, observou que é somente assim, permanecendo à margem de qualquer estrutura ou meio, que os seus princípios e linhas de força podem ser percebidos. Pois os meios têm o poder de impor seus pressupostos e sua própria adoção aos incautos. A predição e o controle consistem em evitar este estado subliminar de transe narcísico. (MCLUHAN, 2005, p. 30). Para McLuhan, os meios causam um transe no indivíduo, pois ficam fascinados com qualquer extensão de si mesmos, e somente olhando à margem para que se perceba essa força. E, este “transe narcísico” também pode ocorrer em razão da “temperatura” dos meios. O autor faz uma classificação dos meios
  • 16. 15 enquanto quentes ou frios. Diz ele que “um meio quente permite menos participação do que um frio” (MCLUHAN, 2005, p. 38). Para McLuhan, aos meios frios muita coisa precisa ser preenchida e completada, muito do meio necessita da participação dos indivíduos, pois fornecem pouca informação, assim como “ao ler uma estória policial, o leitor participa como co-autor, simplesmente por que muita coisa é deixada fora da narrativa.” (MCLUHAN, 2005, p. 46).2 Longe de entrar nessa discussão a respeito da classificação dos meios, e para retomar o objeto desse trabalho, o que basta para refletir aqui, com base nessas colocações de McLuhan, é: diante da possibilidade que dá ao indivíduo, de atuar como co-autor, como produtor de conteúdo, seria a Internet, também um meio frio? E, sendo um meio frio, a Internet aquece os sentidos por intermédio desse convite à participação? É o que parece ser para McLuhan. Pois “o aquecimento de um dos sentidos tende a produzir hipnose, o esfriamento de todos os sentidos redunda em alucinação.” (MCLUHAN, 2005, p. 50). Ou seja, o aquecimento dos sentidos, provocado pela “frieza” do meio, cria certo entusiasmo quando convida à participação, produzindo um efeito anestésico no indivíduo, em que este abre espaço para ser influenciado pelo meio. Assim, traçado um paralelo entre essas afirmações e a sociedade contemporânea, cabe questionar se: o que se vive hoje é uma hipnose, com os sentidos aquecidos principalmente em razão do advento da Internet, e, cada vez mais, como indivíduos apaixonando pelas extensões assim como Narciso pelo reflexo nas águas? Assim como Narciso, o indivíduo é induzido pelo meio antes mesmo do que pela mensagem, pois “o meio é a mensagem”? Como está constituído este indivíduo contemporâneo e, que indivíduo é este? Que papel ele ocupa? Faz-se necessário, portanto, pensar sobre este indivíduo contemporâneo, sobre a relação entre o corpo, o espaço e o tempo e, posteriormente sobre a individualização na sociedade. 2 McLuhan (2005) classifica como meios frios: o telefone e a televisão e; como meios quentes: o rádio e o cinema. Entretanto, essa classificação de McLuhan mostra-se um pouco falha. Ao tomar, por exemplo, o cinema como um meio quente comparando-o à estória policial que citou McLuhan, como é possível dizer que no cinema não há por parte do “leitor” um preenchimento das informações que foram editadas, cortadas ou esquecidas da narrativa do filme?
  • 17. 16 2.3 O CORPO, O ESPAÇO E O TEMPO A questão do corpo, do espaço e do tempo deve ser introduzida para que, a partir da compreensão desse corpo que é sensível, como será visto, seja possível compreender melhor o sujeito da sociedade contemporânea e virtual. Como colocado por Ana Elisa Antunes Viviani, as concepções de corpo em Merleau-Ponty e em Serres oferecem um arcabouço conceitual que pode contribuir enormente [sic] para os estudos atuais voltados para a relação entre comunicação e tecnologias digitais, pois não dizem respeito apenas ao corpo, mas à questão da imagem, da visibilidade, da carne. (VIVIANI, 2007, p. 20). Como se vê, a questão do corpo é de suma importância para identificar as relações entre comunicação e este novo homem que emerge numa sociedade onde predominam as tecnologias digitais. Para tanto, será adotado aqui a concepção de corpo fundamentada na Fenomenologia da Percepção de Maurice Merleau-Ponty, a partir de interpretações atuais como as de Marilena Chauí, Terezinha Petrúcia da Nóbrega e, de forma a complementar, Paula Sibilia. Marilena Chauí (2010) traça uma discussão a respeito da mudança da percepção do espaço e do tempo a partir das mudanças tecnológicas e, para isso, toma como referência a Fenomenologia da Percepção de Merleau-Ponty. Para ela, o corpo é “um sensível que é sensível para si mesmo. O meu corpo é o meu modo fundamental de ser no mundo. [...] O meu corpo é uma reflexão reversível nele mesmo”. Essas ideias retratam o corpo não apenas como um objeto no mundo, mas sim, como um sensível e sensorial, associado principalmente à percepção e a uma primeira reflexão, além da criação, da linguagem e dos sentidos. Para a tradição filosófica, apenas a alma possuía a dádiva da reflexão, da sensação e, Merleau-Ponty não aceitava essa perspectiva. Terezinha Petrúcia da Nóbrega esclarece que: No pensamento de Merleau-Ponty, o corpo, o movimento, o conhecimento sensível e os processos perceptivos são trazidos para o primeiro plano da reflexão; ao invés de privilegiar a análise da consciência, enfatiza a corporeidade. (NÓBREGA, 2000, p. 100). E completa ainda dizendo que, o corpo “não é coisa, nem idéia, o corpo é movimento, sensibilidade e expressão criadora.” (NÓBREGA, 2000, p. 100). Assim,
  • 18. 17 o corpo é, para Merleau-Ponty, e não apenas a alma ou a consciência, capaz de sentir, de se fazer sentir, de sentir a si mesmo e, ainda, de sentir-se sentindo. O enigma consiste em que o meu corpo é ao mesmo tempo vidente e visível. Ele, que mira todas as coisas, pode também olhar-se, e reconhecer naquilo que vê o “outro lado” do seu poder vidente. Ele vendo-se, toca-se tocando, é visível e sensível para si mesmo. (MERLEAU-PONTY, 1997, p. 20,21 apud NÓBREGA, 2000, p. 102). A Fenomenologia da Percepção utiliza como exemplo a questão da obra de arte, que para Nóbrega (2000, p. 105) atua como campo de possibilidades para o entendimento do corpo sensível e sensorial. Para Chauí (2010) a experiência criadora de um artista, é o momento em que o corpo se faz sensível sem deixar a sensibilidade. Ele, o corpo artístico, pode ver e continua sendo visto, pode tocar e continua sendo tocado, pode ouvir e continua sendo audível. O corpo é, e é isso que a experiência artística mostra, essa capacidade de produzir uma diferenciação, no interior de um mundo indiviso, onde eu não preciso me separar do mundo para me relacionar com ele através da obra de arte. (CHAUÍ, 2010). O pensamento de Merleau-Ponty mostra que a primeira reflexão é realizada pelo próprio corpo e que, portanto, a consciência aprende com o corpo a refletir. (CHAUÍ, 2010). E assim também, Viviani (2007, p. 6) complementa a questão observando que: “para Merleau-Ponty, a consciência é transferida para o corpo, instalando-se nas coisas; [...] O sentir está ligado ao corpo e traz à tona a espessura entre o objeto percebido e o sujeito que percebe.” Para tanto, a alma não é aquilo que sente o mundo e sim o corpo, já numa primeira reflexão. Este corpo sensível e sensorial é temporal. Hoje, amanhã, depois, agora, ontem, noite, dia. O homem é um ser temporal. Ainda segundo Chauí (2010) “O tempo existe porque nós existimos”. Este corpo é, também, espacial. Aqui, lá, perto, longe, em casa, na rua, na escola, no trabalho. Este espaço tem tamanhos, qualidades, cores, tessituras, sabores, cheiros. Essa relação espaço-temporal também é problematizada por Paula Sibilia (2002) que toca na questão relacionando imortalidade e tempo, virtualidade e espaço. Para ela as novas tecnologias almejam, em razão da ambição dos homens, ultrapassar as limitações desse corpo material chegando a serem empregadas na luta contra a morte (tempo) e contra a distância (espaço). Diz ela:
  • 19. 18 A sociedade atual assiste, portanto, ao surgimento de um tipo de saber radicalmente novo, com um anseio inédito de totalidade. Fáustico, ele pretende exercer um controle total sobre a vida, superando as suas limitações biológicas; inclusive, a mais fatal de todas elas: a mortalidade. (SIBILIA, 2002, p. 50). Não apenas exercendo total controle sobre a vida, mas também reconfigurando tudo o que é vivo e alterando até o sentido da morte. É o que acontece, desde os anos 90, com as constantes descobertas e conquistas da medicina e o surgimento do conceito de “reversibilidade”. Estas descobertas apresentaram-se como capazes de reverter o que, até então, era conhecido como o ponto irreversível do fim da vida: a morte. Hoje se sabe que, em alguns casos a morte não é declarada por ser considerada irreversível, mas sim, porque se decide não revertê-la. “O ato de falecer perdeu sentido absoluto e caráter sacro, submetendo-se à ‘capacidade de restauração’ provida pela tecnociência de inspiração fáustica.” (SIBILIA, 2002). Essa “imortalidade” advinda da evolução tecnocientífica é retratada na recente produção cinematográfica do estúdio 20th Century Fox, com Amanda Seyfried e Justin Timberlake, lançada em 04 de novembro de 2011: “In Time” ou “O Preço do Amanhã”. A ficção se passa no ano de 2161, onde as pessoas param de envelhecer aos vinte e cinco anos, e morrem em até um ano após, se não conseguirem mais tempo, através de trabalho ou ganhando. Tempo vira moeda na ficção e as pessoas também o usam para comprar necessidades diárias. Há uma espécie de relógio digital inserido no braço das pessoas que informa a quantidade de tempo de vida restante. Com mais tempo, pode-se viver eternamente, tornar-se imortal. Na ficção alguns se tornam imortais, comprando décadas de uma única vez, tudo isso possibilitado por evoluções tecnológicas. Neste contexto, diz Sibilia que: A promessa mais fabulosa da tecnociência contemporânea assim se enuncia: no processo de hibridização com a tecnologia, o corpo humano poderia se livrar de sua finitude natural. Com poderes que antes só concerniam aos deuses, os engenheiros da vida se propõem a reformular o mapa de cada homem, alterar o código genético e ajustar sua programação. (SIBILIA, 2002, p. 54). Longe da ficção, no mundo real, essa “promessa” não parece estar tão longe de tornar-se real. O Projeto Genoma, como diz Sibilia (2002, p. 55), é um exemplo disso, pois almeja decifrar o código genético humano e prevenir a espécie humana contra qualquer tipo de doença. Outro exemplo é a disciplina de inteligência artificial
  • 20. 19 que deseja transferir toda a mente humana para o computador, onde, “consequentemente se poderia continuar a existir como uma mente sem o cérebro que antes suportava a vida mental.” (SIBILIA, 2002, p. 56). Enquanto que, do lado das “tecnologias da imortalidade”, como chama Sibilia, onde a “promessa” ainda parece ser iminente, do lado das “tecnologias da virtualidade” as coisas já são bem reais. Ao contrário daquelas, estas são menos polemizadas e mais apreciadas pelos homens, pois permitem “potencializar e multiplicar as possibilidades humanas”, permitindo que os homens ultrapassem os limites espaciais que se impõem como outra das restrições da materialidade do corpo, “inaugurando fenômenos tipicamente contemporâneos como a [...] ‘presença virtual’.” (SIBILIA, 2002, p. 56). Entregues ao controle total sem fora, tais aparelhos [de conexão] dispensam os velhos muros das instituições de confinamento e a torre panóptica de vigilância, que se tornaram definitivamente obsoletos no novo contexto. Além “virtualizar” os corpos, espalhando pelo espaço global a sua capacidade de ação, a convergência digital de todos os dados e de todas as tecnologias amplia ao infinito as possibilidades de rastreamento e de colonização das micropráticas de todas as vidas. (SIBILIA, 2002, p. 59). Deste modo, como dito por Sibilia, além de ampliar as possibilidades de ação do homem além das fronteiras espaciais, permite ainda uma constante vigilância e rastreamento destes mesmos indivíduos. Estas mesmas tecnologias reduzem, cada vez mais, as possibilidades de permanecer ocultos ou alheios à sociedade e ao controle. E aqui, pode-se citar novamente o filme “In Time” onde “comportamentos suspeitos” são identificados por computadores de última geração e permitem ao “controle” agir e bloquear qualquer problema em meio à sociedade. Veja, muito embora isso pareça coisa do futuro ou da ficção, Naomi Klein (2008) traz a visão de que isso já vem acontecendo há algum tempo e já faz parte de uma realidade. Diz ela: Nos últimos dois anos, 200 mil câmeras de vigilância foram instaladas por toda a cidade [de Shenzhen, na China]. Muitas delas estão em lugares públicos, disfarçadas de postes de luz. O circuito fechado de câmeras de TV em breve será conectado a uma única rede nacional, um sistema de vigilância total capaz de rastrear e identificar qualquer um que esteja dentro de seu alcance [...]. Nos próximos três anos, executivos de segurança da China prevêem [sic] que 2 milhões de CCTVs serão instaladas em Shenzhen, tornando-a a cidade mais vigiada do mundo (maníaca por segurança, Londres tem apenas meio milhão de câmeras de segurança). (KLEIN, 2008).
  • 21. 20 Esse ponto foi bem denominado por Walter Benjamim com a expressão “triunfo sobre o anonimato”. Essa obsessão contemporânea por “segurança” também parece ser problematizada em outra obra de ficção, diz Sibilia (2008, p. 59), O “Inimigo do Estado”, que exibe “uma infinidade de aparelhos de rastreamento e espionagem digitais: todo um catálogo de câmeras diminutas, microfones e dispositivos de localização via satélite”. Voltando à Klein (2008), percebe-se que a China exibe as mesmas capacidades. O objetivo é usar o que há de mais moderno em tecnologia de rastreamento pessoal [...] a fim de criar uma espécie de casulo consumidor cuidadosamente selado: um lugar onde cartões Visa, tênis Adidas, celulares da China Mobile, Mc Lanches Feliz, cerveja Tsingtao possam ser aproveitados sob o sempre vigilante olho do Estado, sem a ameaça da democracia. O governo espera usar o escudo para identificar e contra- atacar dissidências antes que estas explodam em movimentos de massa como o que chamou a atenção do mundo na Praça da Paz Celestial. (KLEIN, 2008). Por fim, percebe-se que o emprego dessas tecnologias da virtualidade e da imortalidade afetam e modificam as relações espaço-temporais. De um lado, está o indivíduo, sentindo-se livre e entusiasmado com a tecnologia e as possibilidades e, exibindo-se sem preocupações, como será visto, atravessando a fronteira do privado e chegando à esfera do público. Do outro lado, está o Estado, equipando-se para exercer, cada vez mais, o controle, e por sua vez, atravessando a esfera do público e adentrando a do privado. Reduz-se, cada vez mais, a dicotomia entre o “público e o privado”. Com isso, o corpo também é modificado pela maneira como estas tecnologias consagram um novo tempo e um novo espaço. Mais do que isso, o próprio tempo e espaço são também modificados, redefinindo a sociedade contemporânea. É sobre esta sociedade que será visto na sequência. 2.4 A SOCIEDADE INDIVIDUALIZADA Assim que entendidas, ainda que iniciais, as exposições sobre aldeia global, sobre “o meio ‘ser’ a mensagem” e, sobre o corpo, o espaço e o tempo, faz-se necessário conhecer a sociedade onde tudo isso acontece. Onde tudo se junta, se mistura e emerge na rede virtual tornando-se uma rica vitrine do comportamento contemporâneo. Onde tudo isso recebe o nome, pelas mãos de diversos autores, como a condição pós-moderna.
  • 22. 21 Entretanto, cumpre-se ressaltar que, pouco interessa para este trabalho o termo empregado: “pós-moderno” ou “moderno”. Não pretende este trabalho, adentrar essa discussão, nem tampouco adotar um destes termos e defendê-lo. Existem ainda outros termos que também poderiam ser escolhidos. É o caso de “pós-orgânico” por Sibilia (2002) ou “modernidade líquida” por Zygmunt Bauman (2001). Neste trabalho, optou-se por reproduzir o termo “pós-moderno” de Jair Ferreira dos Santos (2006), longe de qualquer discussão a respeito do emprego deste, pois, o único o objetivo deste próximo tópico é conhecer mais sobre essa sociedade contemporânea. 2.4.1 A Condição Pós-Moderna Zygmunt Bauman (2011) comenta que houve, no século XX, uma mudança da sociedade de produção para a sociedade de consumo. Marilena Chauí (2010) também traça essa mesma interpretação demonstrando a evolução do fordismo para a globalização. Segundo ela, o fordismo detinha toda a linha de produção, que ia da coleta da matéria-prima até a entrega final ao cliente, e tinha como base uma produção linear, de qualidade, durabilidade, e preocupada com estoques; por outro lado, a globalização trouxe uma fragmentação da sociedade com a produção segmentada, baseada na produção descartável. O que ambos mostram, é que a sociedade que antes tinha no trabalho fordista a base para a construção das identidades sociais, hoje, com a globalização e com a segmentação do trabalho, também ocorre a segmentação da sociedade e, de certa forma, a individualização. “As sociedades foram individualizadas.” diz Bauman (2011). Ao invés de se pensar na felicidade da comunidade, passou-se a pensar na felicidade de cada pessoa. Para Jair Ferreira dos Santos a sociedade pós-moderna ameaça encarnar o niilismo, o vazio, “a ausência de valores e de sentido para a vida”. Para ele, em comparação ao homem moderno, o homem pós-moderno não dá sentido à vida, não se interessa pela arte, pela história, pelo desenvolvimento e nem tem consciência social. Esse homem pós-moderno “se entrega ao presente e ao prazer, ao consumo e ao individualismo.” (SANTOS, 2006, p. 10).
  • 23. 22 A massa pós-moderna, [...] é consumista, classe média, flexível nas idéias e nos costumes. Vive no conformismo em nações sem ideais e acha-se seduzida e atomizada (fragmentada) pelo mass media, querendo o espetáculo com bens e serviços no lugar do poder. Participa, sem envolvimento profundo, de pequenas causas inseridas no cotidiano - associações de bairro, defesa do consumidor, minorias raciais e sexuais, ecologia. (SANTOS, 2006, p. 90). A Internet e junto com ela, a globalização, trazem a sociedade contemporânea para este cenário de relações individuais. Porque, repentinamente, na Ágora, as pessoas começaram a confessar coisas que eram a personificação da privacidade, a personificação da intimidade, que você somente contaria, se você fosse católico, ao padre, no confessionário, ou aos seus amigos realmente chegados ou realmente muito íntimos. (BAUMAN, 2011). Ou seja, o confessionário, no exemplo trazido por Bauman, é a representação da modernidade de que fala Santos (2006), em que o privado não estava em evidência. Ele era escondido, oculto e misterioso. Ele era privado. De repente, ele interessa mais do que o bem comum, do que o conjunto. Diz Bauman (2011) que o que a sociedade contemporânea fez foi colocar “microfones nos confessionários”. É essa mudança no comportamento da sociedade, quando ela deixa de ter participações mais imersivas e está mais interessada na superficialidade do cotidiano, no “eu”, a que Santos se refere, e diz estar sendo chamada pelos sociólogos de “deserção do social” e que, por sua vez, “não é orientada nem surge conscientemente, como também não visa à tomada do poder, mas pode abalar uma sociedade, ao afrouxar os laços sociais”. Segundo o autor, existem os seguintes tipos de deserção: a) Deserção da História: onde a massa pós-moderna não está interessada em assuntos comuns, e nem no futuro. O que vale é o agora, o presente, pouco importa a continuidade histórica; b) Deserção do político e do ideológico: onde o desempenho dos mass media influencia muito mais as eleições que a ideologia política dos candidatos. Ainda, essa falta de interesse caracteriza a sociedade menos envolvida nas grandes causas e mais envolvida nas subculturas e lutas menos prolongadas; c) Deserção do trabalho: pois por não estar interessada em continuidade histórica, sem ideais políticos e ideologia essa massa pós-moderna também não vê no trabalho um valor moral e um caminho para a auto realização. Por isso, há mais espaço para o lazer. As empresas reclamam, cada vez mais, da
  • 24. 23 dificuldade de mão de obra qualificada e de desinteresse pelo trabalho; d) Deserção na família: onde a família também perde o valor moral e de instituição social. Há mais espaço para o individualismo, mais pessoas moram sozinhas e há mais liberdade sexual e; e) Deserção da religião: em que as grandes religiões, também instituições sociais, perdem grande parte do valor. Abre espaço para religiões onde o centro seja o sujeito, a meditação, o budismo, a individualidade. (SANTOS, 2006, p. 90). Essa condição da deserção do social, como se vê, põe o homem contemporâneo longe dos papéis sociais da modernidade. Parece estar havendo, se já não há, uma ressignificação de papéis sociais e da própria sociedade. O indivíduo, nessa condição, está sendo alvo de uma avalanche de informações, com efeitos culturais e sociais. Essa nova condição faz da vida um show, um espetáculo, pois, desde a perspectiva renascentista até a televisão, que pega o fato ao vivo, a cultura ocidental foi uma corrida em busca do simulacro perfeito da realidade. Simular por imagens como na TV, que dá o mundo acontecendo, significa apagar a diferença entre real e imaginário, ser e aparência. Fica apenas o simulacro passando por real. Mas o simulacro, tal qual a fotografia a cores, embeleza, intensifica o real. Ele fabrica um hiper-real, espetacular, um real mais real e mais interessante que a própria realidade. (SANTOS, 2006, p.12). Talvez assim também decorresse o pensamento de McLuhan de que o homem tem uma relação narcísica com essas extensões. Seria porque, então, as extensões do homem são nada menos que um simulacro do próprio homem, que intensifica e deixa mais espetacular e interessante o real? Santos (2006, p. 13) usa o exemplo da abertura do programa Fantástico, que reproduzia homens e mulheres vestidos de maneira futurística, dançando em cubos e cilindros fatiados e suspensos no ar, levitando. Isso não é possível no real, mas através da computação gráfica e da TV era isso o que estava acontecendo. Diz ele: Aliada ao computador, a televisão simulou um espaço hiper-real, espetacular, que excita e alegra como um acrobata. [...] Daí que a levitação, em si desejável mas inviável na gravidade, parece ser possível na TV. O hiper-real simulado nos fascina porque é o real intensificado na cor, na forma, no tamanho, nas suas propriedades. É um quase sonho. (SANTOS, 2006, p. 13).
  • 25. 24 Essa possibilidade, essa hiper-realização seduz o homem pós-moderno, que cede aos encantos do mass media, apaixona-se, como Narciso, não por si mesmo, mas pelo outro eu, transformado no espetáculo do real. Complementa Santos que: O ambiente pós-moderno significa basicamente isso: entre nós e o mundo estão os meios tecnológicos de comunicação, ou seja, de simulação. Eles não nos informam sobre o mundo; eles o refazem à sua maneira, hiper- realizam o mundo, transformando-o num espetáculo [!]. Uma reportagem a cores sobre os retirantes do Nordeste deve primeiro nos seduzir e fascinar para depois nos indignar [!]. (SANTOS, 2006, p. 13). Ainda para Santos (2006, p.86), esse encantamento com as tecnologias, essa possibilidade de hiper-realização do mundo real e do próprio homem dão à contemporaneidade um novo estilo de vida. O indivíduo se define entre três diferentes papéis na sociedade: a) o consumista que consome de tudo, bens e serviços, dos mais necessários aos mais desejáveis; b) o hedonista que não possui valores e busca satisfação e prazer instantâneos e; c) o narcisista que preza pela auto-imagem, a glamourização e paixão de si. Percebe-se que estas três definições de papéis emergem pela constante busca da satisfação do “eu” reforçando a questão do individualismo. E, a respeito desse individualismo, alerta Santos: O individualismo exacerbado está conduzindo à desmobilização e à despolitização das sociedades avançadas. Saturada de informação e serviços, a massa começa a dar uma banana para as coisas públicas. Nascem aqui a famosa indiferença, o discutido desencanto das massas ante a sociedade tecnificada e informatizada. É a sua colorida apatia frente aos grandes problemas sociais e humanos. (SANTOS, 2006, p. 88). Para o autor a condição pós-moderna pode estar exibindo, como numa vitrine, essa ressignificação do papel social do homem. Do homem moderno, outrora preocupado com a construção da história, dos ideais políticos, da comunidade, da sociedade como um todo, emerge um ser egoísta, preocupado apenas com si próprio, sem ideais e sem projetos para o todo. Um homem preocupado com a satisfação do individual e do presente, um homem de “um ego sem fronteiras”. (SANTOS, 2006, p. 30, 94). Bauman atribui a esse novo momento, também, o que ele chama por “A ambivalência da vida”. O homem divide a vida, constantemente, entre segurança e liberdade. Todas as vezes que o indivíduo caminha em direção a mais liberdade perde parte da segurança e, todas as vezes que caminha na direção oposta, para ter mais segurança, perde parte da liberdade. De modo que o homem não vive sem
  • 26. 25 estas duas esferas e, é preciso encontrar um equilíbrio entre elas. “Segurança sem liberdade é escravidão. Liberdade sem segurança é um completo caos.” (BAUMAN, 2011). Então, mais próxima de qual lado estaria a sociedade contemporânea? Para ambos os autores, mais próxima da liberdade. O homem deixou de lado tanta segurança, quis mais liberdade e se tornou individualista. (SANTOS, 2006). Mas, para Bauman (2011) isto não é desesperador. Ele comenta que sente o “pêndulo” se movendo levemente para mais próximo da segurança novamente. O que Bauman faz questão de alertar é que, essas relações, essas conexões, são irreversíveis. Na rede e, portanto, na sociedade contemporânea, pós-moderna, fluida, é fácil conectar e desconectar e é isso que mantém a rede viva. Relações em comunidade são dramáticas. É difícil romper laços. Na rede é mais fácil desconectar. Comenta Bauman que, um usuário do Facebook contou a ele que tinha feito 500 amigos em um dia. Ele conta que respondeu: “eu tenho 86 anos, mas não tenho 500 amigos. [...] Então, provavelmente, quando ele diz ‘amigo’ e eu digo ‘amigo’, não queremos dizer a mesma coisa. São coisas diferentes.” Assim, novamente, figura-se essa fluidez da sociedade contemporânea, onde é fácil conectar e fazer amigos e tão fácil quanto, é desconectar e romper essas “amizades de Facebook”. (BAUMAN, 2011). Entretanto, cumpre-se ainda trazer para cá a visão de Dominique Wolton (2007, p. 11) sobre essa relação entre tecnologias e comunicação que, sem dúvida, enriquecerão este capítulo. Wolton parece manter um distanciamento maior com relação à empolgação diante das tecnologias. Para ele, seria dissimulado dizer que a sociedade deveria se adequar ao tempo das tecnologias. Ao contrário é mais frequente que a história social e cultural dê sentido à história técnica. Sendo assim, na visão de Wolton, pode-se dizer que a tecnologia atual é resultante do papel social e cultural desenvolvido ao longo dos tempos. Para ele: Atualmente, um número surpreendente de autores considera, por exemplo, a Internet uma verdadeira revolução que fará surgir uma “nova sociedade”, simplesmente porque supõe que a tecnologia vai mudar diretamente a sociedade e os indivíduos. [...] Passa-se assim de uma concepção materialista da comunicação a uma verdadeira ideologia – a ideologia tecnológica – da comunicação. Todavia, a história prova os limites das teses deterministas. As tecnologias de comunicação não escapam ao dever epistemológico que consiste em não confundir técnica, cultura e sociedade. Constatar que as técnicas evoluem mais rápido do que os modelos culturais e a organização social da comunicação não é o suficiente, na realidade, para definir um sentido ao “progresso” da comunicação, que iria da evolução técnica em direção à mudança de práticas culturais e depois aos projetos de sociedade. (WOLTON, 2007, p. 16).
  • 27. 26 Na visão de Wolton, o desafio da pesquisa que ele faz é “justamente de não reduzir a comunicação a um acontecimento técnico”. O sentido do desenvolvimento do trabalho de Wolton “é tentar explicar por que o essencial, em um sistema de comunicação, não é a tecnologia.” (WOLTON, 2007, p. 16). E, como conclui: Em poucas palavras, para a comunicação, as teorias são sempre mais importantes que as tecnologias. De nada serve se comunicar de um extremo a outro do mundo se uma visão do homem e da sociedade não orienta as proezas tecnológicas. (WOLTON, 2007, p. 22). O que interessa a este trabalho, diante desses argumentos de Wolton é desmistificar a sociedade pós-moderna como resultado, apenas, das evoluções tecnológicas. Essa sociedade contemporânea, individual, emancipada, é resultado de uma longa caminhada iniciada há tempos. Assim: Desde o século XVI, ela [a comunicação] é o complemento e a condição de todas as emancipações do indivíduo. A reinvindicação da liberdade de comunicar é evidentemente fruto da longa batalha iniciada na Renascença pelas liberdades de consciência, de pensamento, de expressão, depois a partir dos séculos XVII e XVIII pela liberdade editorial e de imprensa. No século XIX, a reencontramos na luta pelas liberdades de associação, de manifestação e de participação política. No século XX ela está diretamente ligada ao surgimento da democracia de massa, com o sufrágio universal e a informação para todos. (WOLTON, 2007, p. 38). Percebe-se que, Wolton não deixa de aferir as modificações sociais causadas em razão da evolução da tecnologia, mas também, orienta o leitor para apartar-se dela, olhar por outro viés e não tomar a tecnologia como ponto culminante desse processo de pós-modernização, assim como, também orienta que as tecnologias estão longe de melhorar a comunicação humana. A princípio, e neste ponto Wolton volta a dialogar com os outros autores, “o dogma atual, pois se trata realmente de um dogma, identifica a felicidade individual e coletiva à capacidade de estar ‘plugado’ e multiconectado.” (WOLTON, 2007, p. 32). E então: Por que as tecnologias de comunicação agradam tanto? Eu já abordei este problema em Pensar a Comunicação, salientando a importância para os jovens da idéia de abertura, mas também a recusa das mídias de massa, o desejo de responder à inegável angústia antropológica, à atração pelo moderno, à procura de novas formas de solidariedade com os países mais pobres. A variedade de motivações ilustra, aliás, o fato de que estas novas tecnologias sejam investidas de muitas outras coisas que puramente a função técnica. Trata-se, do conjunto, de modificar as relações humanas e sociais, o que prova o quanto, na área de comunicação, se gera símbolos e utopias, sem grande relação com as performances dos instrumentos. O termo que convém aqui é o de transferência. (WOLTON, 2007, p. 86).
  • 28. 27 E com isso, autonomia, domínio e velocidade fazem compreender o sucesso das novas tecnologias. “Cada um pode agir, sem intermediário, quando bem quiser, sem filtro nem hierarquia e, ainda mais, em tempo real.” É justamente em razão disso, como observaram também os outros autores, “Isto gera um sentimento de liberdade absoluta, até mesmo de poder, de onde se justifica muito bem a expressão ‘surfar na Internet’.” (WOLTON, 2007, p. 86). Assim, por fim, Wolton lança as seguintes questões: O ideal, para não dizer ideologia, do progresso toma o lugar da reflexão evitando que se coloque uma questão simples: todas estas tecnologias de comunicação, para fazer o quê? Qual a relação entre as necessidades de comunicação dos homens e das sociedades e esta explosão de técnicas? Até onde os homens necessitam deste grau de comunicação? Comunicar o que, a quem? Qual a relação entre comunicação técnica e comunicação humana? Qual o interesse em ter cem canais pagos ou poder consultar a biblioteca de Alexandria, ou a do Congresso Americano? Quais as desigualdades e relações de força que dela resultam? Que problemas as tecnologias de comunicação resolvem e que outros são criados? (WOLTON, 2007, p. 32). Percebe-se que há muito mais a discutir em relação ao tema sobre sociedade pós-moderna, líquida e contemporânea. Entretanto, para não adentrar em todas as questões, saindo, portanto, do conjunto ao qual se propôs o presente trabalho, é que no próximo capítulo será abordado o ciberespaço, para então, na sequência, refletir sobre parte dessa última questão lançada por Wolton: que problemas, na comunicação, as tecnologias criam?
  • 29. 28 3 O CIBERESPAÇO Depois de apresentadas as características da aldeia global, aquela interligada em todas as direções; os conceitos de espaço e tempo imprescindíveis para o entendimento da percepção do corpo e; a condição pós-moderna e o individualismo que ajudam a compreender a satisfação do indivíduo com o “eu” no presente, discutir-se-á sobre o ciberespaço. Entretanto, não se pretende aqui qualificá-lo tecnicamente, compreender as características da rede, os protocolos ou a série de evoluções que aconteceram desde 1940 e que o tornou possível, no molde em que é conhecido nos dias presentes. Pretende-se entender o ciberespaço enquanto campo de relações, parte do campo da comunicação capaz de influenciar ou propiciar as relações dos indivíduos mediadas por computador. 3.1 O QUE É O CIBERESPAÇO Existem diversas formulações sobre o que é o ciberespaço. Muito embora o que interesse para este trabalho seja o conceito de ciberespaço a partir do advento da Internet, é importante alertar, sobretudo, para o fato de que o ciberespaço vai muito além da Internet. John Barlow, vice-presidente da Electronic Frontier Foundation3, por exemplo, identifica o ciberespaço como sendo, também, o ambiente onde se encontram os indivíduos ao falarem ao telefone. Pierre Lévy (1999, p. 92) conta que o termo “ciberespaço” foi utilizado pela primeira vez por William Gibson, no livro Neuromancer, para descrever um espaço de redes digitais. Neste espaço as tecnologias estariam enraizadas na sociedade moldando a estrutura e as relações entre os indivíduos. Lévy, porém, tem uma definição própria. Para ele o ciberespaço é “o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial de computadores e das memórias dos computadores”, e, a marca distintiva é a capacidade de virtualização do espaço e do tempo. Ora, novamente surgem as questões do espaço e do tempo. Chauí (2010) diz que o ciberespaço é “um mundo novo” marcado pela acronia (ausência de referência do tempo) e pela atopia (ausência de referência do espaço). A autora 3 Cf. <https://www.eff.org/>.
  • 30. 29 entende ainda que, com a Internet se pode ir mais longe, em menos tempo, “até a completa extinção do espaço e do tempo”. Esses apontamentos de Chauí, assim como os de Lévy, dialogam para um mesmo entendimento sobre uma virtualização do corpo, do espaço e do tempo, características que, para ambos, é a marca principal do ciberespaço. E, para que se possa entender mais sobre o ciberespaço, Chauí (2010) diz que é importante entender também as diferenças entre dois conceitos que indevidamente são apresentados como iguais: o do possível e o do virtual. A autora explica que na tradição filosófica o virtual tendia a ser o possível, uma potência daquilo que, com a intervenção de um agente ou de uma circunstância pudesse vir a existir. Para a tradição filosófica “a semente é a árvore virtual, ou a árvore possível”. Entretanto, com a informática, a perspectiva filosófica mostrou-se falha. “O virtual já é real, e já existe. Ele não se opõe ao real, ele se opõe ao atual” assim diz Chauí (2010). Lévy (1996, p. 15), também neste sentido, ensina que a tradição filosófica entendia que o “real seria da ordem do ‘tenho’, enquanto o virtual seria da ordem do ‘terás’, ou da ilusão”. O autor traz a distinção feita por Gilles Deleuze entre o possível e o virtual. O possível é um real latente, já construído, mas lhe falta a existência material. Já virtual é um acontecimento complexo que chama à uma resolução: uma atualização. “O problema da semente, por exemplo, é fazer brotar uma árvore. A semente ‘é’ esse problema, mesmo que não seja somente isso.” O autor complementa ainda que “o real assemelha-se ao possível; em troca, o atual em nada se assemelha ao virtual: responde-lhe”. (LÉVY, 1996, p. 17). Com a distinção apontada por Chauí, pode-se dizer que o ciberespaço é um mundo real e que, como apontado por Lévy, aguarda uma atualização. Real que é, e atual que aguarda por ser a todo o momento, o ciberespaço é dotado da interferência do homem que se reproduz nas relações e interações. Com isso, surge então outra das características do ciberespaço que é importante para este trabalho: a capacidade de interação aos indivíduos. André Lemos, ao defini-lo se baseia nesta característica dizendo que o ciberespaço é um hipertexto mundial interativo onde cada um pode adicionar, retirar e modificar partes dessa estrutura telemática, como um texto vivo, um organismo auto-organizante, um cybionte em curso de concretização. (LEMOS, 2004, p. 123).
  • 31. 30 O conceito de Lemos mostra um lado mais interativo e mais vivo do ciberespaço. A partir dessas observações de Chauí, Lévy e Lemos, tem-se que o ciberespaço é, por fim, um outro mundo, um mundo novo, sem espaço e sem tempo, ou com espaço e tempo novos, onde tudo é virtualizado e onde os indivíduos podem atuar moldando as estruturas através da adição, subtração ou modificação de interações. Essa é a maneira de ser e de existir do ciberespaço. Retomando o que foi visto no capítulo anterior sobre a relação do corpo, do espaço e do tempo e, sobre as tecnologias da imortalidade e da virtualidade, de acordo com Chauí (2010) tem-se que, “do lado do ciberespaço nós nos tornamos puras almas angélicas, sem corpo, enquanto do lado da ciência, nós nos tornamos puros corpos sem alma”. E, ao tomar o ciberespaço também como um espaço de interação (como a primeira lei da cibercultura: o ciberespaço é um local de livre circulação da informação), vê-se que as redes sociais na Internet são o principal fenômeno dessa característica. É o que será apresentado a seguir. 3.2 REDES SOCIAIS NA INTERNET É importante ressaltar que, redes e redes sociais são conceitos muito antigos e que não surgiram com a Internet, muito menos se limitam a ela. Contudo, neste trabalho este conceito será associado com a Internet, pois ela e os discursos que nela circulam, fazem parte do objetivo de estudo deste trabalho. As redes sociais na Internet, assim como as redes sociais, são descritas como sendo o conjunto dos atores sociais e as conexões feitas por eles. Os atores sociais podem ser pessoas, grupos ou instituições e as conexões os laços ou interações entre estes atores sociais. (Wasserman e Faust, 1994; Deggene e Forse, 1999 apud Recuero, 2009, p. 24). “A abordagem de rede tem, assim, seu foco na estrutura social, onde não é possível isolar os atores sociais e nem suas conexões”. (RECUERO, 2009, p. 24). A seguir, será apresentado um pouco mais sobre os atores sociais e sobre as conexões. 3.2.1 Atores Sociais Segundo Recuero (2009, p. 25) os atores sociais são o primeiro elemento das redes sociais e podem ser as pessoas, as instituições ou até os grupos
  • 32. 31 envolvidos na rede. São os indivíduos sociais que interagem dentro das redes, moldando ou sendo moldados por elas. Alerta a autora para o fato de que os atores sociais no ciberespaço não são facilmente reconhecíveis, pois, são representações destes. Aqui, novamente, é possível dialogar com a questão da virtualização do corpo, do espaço e do tempo. Sendo o ciberespaço um ambiente virtual, caracterizado pela atopia e pela acronia, os atores sociais, portanto, também não estão fisicamente presentes neste ambiente. São representações de um “eu” que vão de fotos, vídeos e nicknames, que podem se assemelhar mais às características dos atores sociais como, por exemplo, uma foto que representa exatamente o ator social, até as diversas imagens e links, nem sempre semelhantes, pois, por exemplo, é possível colocar na foto do perfil na Internet uma imagem de um lugar preferido, ou de um cantor, de um ídolo, não se assemelhando ao ator social. Conclui Recuero (2009, p. 28) que “os atores no ciberespaço podem ser compreendidos como os indivíduos que agem através de seus fotologs, weblogs, e páginas pessoais, bem como através de seus nicknames”. Sobre estas representações, tem-se que são identidades de um “eu”. É pertinente questionar se estas identidades não seriam mutáveis, tornando-se vários “eus”. Ora, na troca de uma foto do perfil, do nickname, das cores, da linguagem ou até mesmo do link que correspondem ao usuário, não estaria ocorrendo uma ressignificação de identidade? É importante então, uma pausa para a reflexão sobre identidades, que sem dúvida tem grande influência no modo como as conexões (laços, relações ou interações) são realizadas entre os atores sociais na Internet. 3.2.1.1 Identidades líquidas Para Bauman a identidade é “o horizonte em direção ao qual eu me empenho e pelo qual eu avalio, censuro e corrijo os meus movimentos”. (BAUMAN, apud MACEDO, 2010, p. 52). Pode-se, portanto, a partir de Bauman, entender que o exercício da identidade começa sendo uma escolha. Roberto DaMatta (2009), identifica as identidades como papéis sociais, fazendo inclusive uma distinção entre como as identidades são exercidas a partir dos espaços da casa e da rua. Sobre isto ainda, e segundo Stuart Hall, “todas as identidades estão localizadas no espaço e no tempo simbólicos”. (HALL apud MACEDO, 2010, p. 51).
  • 33. 32 Esses autores reforçam a ideia de que as identidades são escolhas mutáveis dos indivíduos. Seja em Bauman sobre a “direção ao qual eu me empenho”, seja para DaMatta com os espaços da casa e da rua, ou seja para Hall com os espaços simbólicos. Se as identidades são desempenhadas basicamente de acordo com o espaço em que se insere o indivíduo, o que acontece quando este indivíduo está inserido no ciberespaço? O que acontece quando a identidade está sendo construída ou exercida em um mundo virtualizado e sem os referenciais do espaço e do tempo? Hall diz que “as velhas identidades, que por tanto tempo estabilizaram o mundo social, estão em declínio, fazendo surgir novas identidades e fragmentando o indivíduo moderno, até aqui visto como um sujeito unificado.” (HALL, 2006, p. 7). Veja, é possível dialogar com outro capítulo do trabalho, sobre a Condição Pós- Moderna, que traz o conceito de sociedade e identidade fragmentadas que, por sua vez estão fragmentando o indivíduo moderno. Completa Macedo, dizendo que daí, decorre a necessidade dos sujeitos de assumir modelos identitários diversos. Para tanto, se utilizam da cultura da mídia, que é responsável por grande parte da disseminação desses modelos, além de mercadorias que consigam sustentar as identidades escolhidas. Ora, essa relação é possível porque tanto a cultura da mídia, quanto as mercadorias presentes na sociedade do consumo estão em constante movimento, assim como as identidades. Poderíamos dizer, nos apropriando de um termo cunhado por Bauman, que as identidades são líquidas ou fluidas. (MACEDO, 2010, p. 50). Este parece ser o retrato das identidades na pós-modernidade e nas relações que ocorrem no ciberespaço. É por isso que Bauman as chama de líquidas ou fluidas. “Os ‘fluídos’ são assim chamados porque não conseguem manter a forma por muito tempo e, a menos que sejam derramados num recipiente apertado, continuam mudando de forma sob a influência até mesmo das menores forças.” (BAUMAN, 2005, p. 57). Ainda neste sentido, DaMatta (2009) sugere que os papéis sociais não são bem definidos e assim também parece entender Recuero (2009, p. 30, sem grifo no original), dizendo que “perfis do Orkut, weblogs, fotologs, etc. são pistas de um ‘eu’ que poderá ser percebido pelos demais. São construções plurais de um sujeito, representando múltiplas facetas de sua identidade.” Pode-se tomar que, o sujeito pode ser único, mas as identidades podem ser múltiplas tanto na existência como na forma de representação.
  • 34. 33 Sobre essa mutação de identidade, Bauman diz que nós, habitantes do líquido mundo moderno, somos diferentes. Buscamos, construímos e mantemos as referências comunais de nossas identidades em movimento – lutando para nos juntarmos aos grupos igualmente móveis e velozes que procuramos, construímos e tentamos manter vivos por um momento, mas não por muito tempo. (BAUMAN, 2005, p. 32). Assim, este novo tempo em que se encontra essa sociedade contemporânea é propício aos novos estilos de identidades frágeis, líquidas e evanescentes. As outras caíram por terra. “No admirável mundo novo das oportunidades fugazes e das seguranças frágeis, as identidades ao estilo antigo, rígidas e inegociáveis, simplesmente não funcionam.” (BAUMAN, 2005, p.33). Cabe aqui, para finalizar a questão das identidades, um interessante questionamento de DaMatta (2009): “Como os papéis [papéis sociais, identidades] colam nos atores sociais?”. Para ele, essa é a grande motivação das discussões sobre identidades. As várias identidades de que fala Recuero ou a liquidez de que fala Bauman pouco tem a ver com o certo ou errado, com o caráter do indivíduo. Não são boas, nem más, mas apenas uma constante dualidade de papéis sociais. DaMatta (2009) usa como exemplo a questão do nepotismo. Diz ele que essa é uma sociedade familiar e que, portanto, não deveria considerar o nepotismo uma irregularidade. Nesse contexto, de acordo com o pensamento de DaMatta, para o homem público há uma constante dualidade de papéis sociais. Ele deve optar por indicar alguém de confiança para um cargo público que não seja da família. Todavia, há alguém cujos laços e confiança sejam mais fortes do que um parente nessa sociedade de bases familiares? Não seria o correto indicar para um cargo de confiança da administração pública então um parente? “Por que isso é errado?”, questiona ele. Que papel social e, portanto, que identidade irá assumir esse ator social entre nomear ou não um parente? O papel de administrador público limitado à questão do nepotismo ou o papel de membro familiar que vê no parente alguém de confiança para assumir o cargo? Como se vê, as identidades tem papel fundamental na identificação das relações entre os atores sociais. É dizer que, sem essas três noções: a) o indivíduo no ciberespaço não é físico é apenas uma representação (para Recuero); b) esta representação é mutável, é líquida e pode tomar várias facetas sem limite de tempo ou espaço (para Bauman); e ainda c) essa mutação e liquidez não são boas nem
  • 35. 34 más, podem ser apenas uma dualidade entre os papéis sociais que o indivíduo tem que desempenhar (para DaMatta), não será possível olhar o ciberespaço e as redes sociais na Internet com olhares mais científicos do que comerciais, ou seja, procurando adotar uma postura de pesquisador e não somente se envolver na rede. Assim como, é preciso entender que essa dualidade de papéis sociais existe e que este pode ser, também, motivo que leve à liquidez das identidades. 3.2.2 Conexões Recuero (2009, p. 30) argumenta que as conexões podem ser interações, relações ou laços sociais entre os atores sociais na Internet. Para ela são as conexões que motivam aos pesquisadores, pois, é possível avaliá-las muito depois de realmente terem acontecido. Na rede, ficam os “rastros” dessas interações, como diz a autora. Ou seja, uma atualização no Twitter pode ser posteriormente visualizada pelos usuários, em qualquer lugar, até que alguém a exclua. São estes rastros que permitem ao pesquisador analisar mesmo não estando presente no tempo e no espaço em que ocorreu a interação. Neste mesmo sentido, Recuero (2009, p. 31) traz os seguintes questionamentos: “[...] como compreender a interação social no ciberespaço? [...] Como pensar a interação distante do ator social que a origina?” Diz ela que essas interações possuem diversas características. A primeira delas é que não há outra relação imediata além da linguagem mediada por computador, ou seja, não há, por exemplo, a interação face a face. Tudo é mediado por computador. Desde o espaço, o tempo, as representações dos atores sociais, os códigos da mensagem, as próprias mensagens, o feedback. Todo o processo da interação está mediado pelo computador. A outra característica é que são permitidas interações mesmo quando os atores não estão conectados no ciberespaço. É o caso dos e-mails, onde nem sempre são enviados para quem está conectado à rede no momento, e por isso, não se espera uma resposta imediata. Assim também ocorrem com as mensagens deixadas entre os usuários utilizando o Facebook, o MSN ou o Orkut. Recuero (2009, p. 36) alerta para o fato de que “a interação mediada por computador é a geradora de relações sociais, que, por sua vez, vão gerar laços sociais.” Assim, tem-se que as interações são a menor parte de todo o processo de conexão que ocorre nas redes sociais na Internet; as relações sociais são processos
  • 36. 35 causados por várias interações sociais e, por sua vez, os laços sociais são envolvimentos mais complexos resultantes das relações sociais. A partir de Alex Primo (2003), Recuero (2009, p. 33) descreve que as interações podem ser reativas e limitadas, mútuas e construídas, fortes ou fracas e multiplexas. E para que se entenda melhor estes tipos de relações, faz-se necessário explorá-las rapidamente. As interações são reativas e limitadas quando, por exemplo, um usuário clica em um link sendo levado para algum lugar. Já as interações mútuas e construídas, que interessam mais para este trabalho, são aquelas onde o usuário do Twitter, por exemplo, insere alguma atualização na página pessoal. Ao contrário da outra, esta última permite que outro usuário interaja com a atualização, respondendo, comentando ou replicando aos demais usuários da rede. E as interações, relações ou laços sociais podem ocorrer dentro ou fora do ciberespaço e podem, ainda, se combinarem. Os laços sociais fora da Internet podem ser resultantes de uma relação social mediada e iniciada por computador ou ainda o inverso. É o caso, por exemplo, de irmãos que convivem juntos e que mantem relações sociais na Internet. São os chamados laços “multiplexos”. Esses laços podem ainda, serem fracos ou fortes, e isto depende da quantidade de interações que os usuários mantem. Quanto mais interação mais forte o laço social. (DEGENNE E FORSÉ, 1999; SCOTT, 2000 apud RECUERO, 2009, p.42). Por fim, a autora alerta que: “As relações não precisam ser compostas apenas de interações capazes de construir, ou acrescentar algo. Elas também podem ser conflituosas ou compreender ações que diminuam a força do laço social”. Neste sentido, as relações e laços sociais não se confundem com o conteúdo, mas também não podem existir sem este, pois é ele, o conteúdo, o que determina o tipo de relação ou laço social, que podem ser de amizade, de carinho, de amor, de conflito, de hostilidade e, ainda assim serem de laços fortes. É importante que isto fique claro para que não se tome as relações ou laços sociais sempre como algo positivo. (RECUERO, 2009, p.37).
  • 37. 36 4 METODOLOGIA Como visto anteriormente, o objetivo do presente trabalho é saber e refletir sobre as inserções de hostilidade e preconceito no Twitter, diante deste contexto de sociedade contemporânea, globalizada e liquida. O objetivo, portanto, dar-se-á cumprido somente através da construção de conhecimento. De acordo com Antônio Joaquim Severino (2007, p. 25) a produção de conhecimento como construção de um objeto ocorre “mediante nossa capacidade de reconstituição simbólica dos dados de nossa experiência”. Ou seja, “apreendemos os nexos pelos quais os objetos manifestam sentido para nós, sujeitos cognoscentes”. Dessa maneira o conhecimento torna-se um “complexo processo de constituição e reconstituição do sentido do objeto que foi dado à nossa experiência externa e interna”. O autor ainda alerta para o fato de que a construção do conhecimento no ambiente acadêmico tem um diferencial e deve ser construído “pela experiência ativa do estudante e não mais ser assimilado passivamente”. E, ainda sob este aspecto a “pesquisa torna-se elemento fundamental e imprescindível no processo de ensino/aprendizagem. [...] o aluno precisa dela para aprender eficaz e significativamente”. (SEVERINO, 2007, p. 25). Assim, o presente trabalho tem como base a pesquisa bibliográfica. Como ensinam Jorge Duarte e Antônio Barros (2009, p. 52) “A pesquisa bibliográfica, num sentido amplo, é o planejamento global inicial de qualquer trabalho de pesquisa”. Para Severino, é aquela que se realiza a partir do registro disponível, decorrente de pesquisas anteriores, em documentos impressos, como livros, artigos, teses etc. Utiliza-se de dados ou de categorias teóricas já trabalhados por outros pesquisadores e devidamente registrados. Os textos tornam-se fontes dos temas a serem pesquisados. O pesquisador trabalha a partir das contribuições dos autores dos estudos analíticos constantes dos textos. (SEVERINO, 2007, p. 122). É necessário ressaltar que hoje a pesquisa bibliográfica parte não apenas dos impressos, mas também do levantamento de documentos encontrados na Internet, filmes, programas de televisão ou rádio, aulas, palestras e conferências. Ou seja, “tudo o que foi escrito, dito ou filmado sobre determinado assunto”. (LAKATOS, 2005, p. 185). Entretanto, como previne Severino:
  • 38. 37 Não traz resultados positivos para o estudo ouvir aulas, por mais brilhantes que sejam, nem adianta ler livros clássicos e célebres. Isso só tem algum valor à medida que se traduzir em documentação pessoal, ou seja, à medida que esses elementos puderem estar à disposição do estudante, a qualquer momento de sua vida intelectual. (SEVERINO, 2007, p. 67). Por isso, além da pesquisa bibliográfica, também foi realizada a documentação bibliográfica das obras através do método de fichamento, para que, como fim, se cumprisse o que garante Severino sobre esse processo: “Sistematicamente feito, proporciona ao estudante rica informação para seus estudos.” (SEVERINO, 2007, p. 70). Buscou-se a partir da pesquisa e da documentação bibliográfica apresentar um rico diálogo entre os autores das obras. E entre elas, destacam-se como principais Bauman (2005, 2008, 2011), McLuhan (2005), Wolton (2007), Santos (2006), Chauí (2010), Sibilia (2002, 2008), Recuero (2009) e Santaella e Lemos (2010) que, de modo geral, discorrem sobre sociedade, homem e comunicação. A fim de complementar esses diálogos, as ideias e interpretações de alguns outros autores também foram trazidas para as linhas deste trabalho. São eles: DaMatta (2009), Lévy (1996, 1999), Nóbrega (2000), Primo (2003, 2011), Viviani (2007) e Zago (2008). O presente trabalho utilizou-se também de uma pesquisa exploratória que, para Severino (2007, p. 123), “busca apenas levantar informações sobre um determinado objeto, delimitando assim um campo de trabalho, mapeando as condições de manifestação desse objeto.” Assim, buscando a relação com as teorias vistas ao longo do trabalho, foram analisados alguns discursos das postagens no Twitter, os chamados “tweets”, encontrados através do uso da ferramenta de busca do próprio site e palavras-chave, como: “gays”, “mulheres”, “homofobia” e “nordestino”. Escolheu-se esse “tipo de hostilidades” em razão de sua intensidade. Cumpre-se ressaltar, ainda, que nas linhas deste trabalho ou diante das conclusões poder-se-á parecer que houve o emprego de uma pesquisa explicativa, cuja adoção poderia ocorrer, pois “além de registrar e analisar os fenômenos estudados, busca identificar suas causas”. Entretanto, o presente trabalho não tem essa pretensão. Os possíveis posicionamentos que possam aparecer, são resultados dessa “corrida ao conhecimento” e que se expressaram por meio de um ato de filosofar, pois este, “reclama um pensar por conta própria que é atingido mediante o pensamento de outras pessoas”. (SEVERINO, 2007, p. 123, 67).
  • 39. 38 5 O TWITTER Desde a notoriedade que atingiu o Twitter, por volta de 2008 quando foi utilizado na campanha do atual presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, a ferramenta passou a ser alvo de pesquisadores e de constantes discussões. A proposta desse trabalho concentra-se no estudo dessa plataforma, pois, como afirmam diversos autores Recuero (2009) e Santaella e Lemos (2010), o Twitter serve como uma importante e relevante ferramenta no estudo de redes sociais na Internet. Neste último capítulo, portanto, além de conhecer mais sobre essa plataforma, será feita uma análise de “tweets” a partir das teorias vistas durante este trabalho. Assim será possível compreender melhor o comportamento do usuário na rede, e a importância daquilo que já foi abordado neste trabalho, como a condição pós-moderna e o individualismo. 5.1 DO TWTTR AO TWITTER Conta Jack Dorsey (2006), um dos fundadores do Twitter, que o serviço teve os primeiros conceitos pensados no ano 2000. No perfil de Dorsey no site Flickr4, um site onde os usuários mantém hospedadas fotos, ele comenta que ingressou em um serviço chamado LiveJournal5, que é uma comunidade virtual onde os usuários podem hospedar na rede um jornal ou um diário. A partir daí Dorsey pensou em criar algo semelhante ao LiveJournal, porém, com atualizações mais instantâneas. Algo que permitisse ao usuário atualizar o status6 e, de onde estivesse, compartilhá-lo. Algo para ser usado em tempo real. Dorsey conta que chamou a ideia inicialmente de “TWTTR” e, no perfil no Flickr ele mantém uma foto do primeiro esboço que fez do layout do Twitter (FIGURA 1), comentando sobre a ideia e sobre o recente sucesso após seis anos de espera. 4 Cf. <http://www.flickr.com/photos/jackdorsey/182613360/>. 5 Cf. <http://www.livejournal.com/>. 6 Status é uma palavra latina que significa estado, posição, condição. No mesmo estado “ou situação de uma pessoa ou entidade”. (STATUS, 2011).
  • 40. 39 FIGURA 1 - PRIMEIRO ESBOÇO DO TWTTR FONTE: DORSEY (2006) Entretanto, o esboço pouco se parece à primeira versão do Twitter, lançada efetivamente no ano de 2006. O site tinha uma versão de layout bem simples (FIGURA 2), e os botões amplamente conhecidos e utilizados nos dias de hoje, como “Favorite”, “Retweet” e “Reply” ainda não estavam presentes.
  • 41. 40 FIGURA 2 - SITE TWTTR FONTE: SAGOLLA (2006) Nota-se que o antigo layout do Twitter (FIGURA 2) era mais funcional, ou seja, parecia estar mais preocupado com a usabilidade7 do serviço do que com a 7 Usabilidade é um termo usado para definir o quanto uma interface é facilmente utilizada por diferentes usuários alcançando simplicidade, facilidade e eficiência no uso. (USABILIDADE, 2011).
  • 42. 41 experiência simbólica dos usuários. Era possível postar o conteúdo e ver o que foi postado pelos outros, mas ainda não era possível compartilhar o conteúdo de outro usuário como nos dias de hoje. É possível notar ainda que, a primeira versão já fazia o uso da pergunta utilizada até pouco tempo e que lembra uma das principais características do Twitter, a mobilidade: “what are you doing?” ou “o que você está fazendo?”. E, parece que respondendo à pergunta, Jack Dorsey, segundo reportagem de O Globo (2011), escreveu a primeira mensagem da rede (FIGURA 3), datada de vinte e um de março do ano de dois mil e seis: “invite coworkers” ou “convidando colaboradores”. FIGURA 3 - PRIMEIRO TWEET DA HISTÓRIA FONTE: PRINT SCREEN FEITO PELO AUTOR, DO PERFIL “@JACK” NO TWITTER (2011) Antes disso, o próprio sistema enviava uma mensagem automática padrão, “just setting up my twttr” ou “apenas criando meu twttr”, que também pode ser encontrada nos perfis dos fundadores Jack Dorsey, Biz Stone e Evan Williams (FIGURA 4). FIGURA 4 - PRIMEIROS TWEETS GERADOS AUTOMATICAMENTE FONTE: MONTAGEM FEITA PELO AUTOR, DOS PERFIS “@EV”, “@BIZ” E “@JACK” NO TWITTER (2011) Desse ponto de partida até os dias atuais, é possível perceber que muita coisa mudou no Twitter, desde o layout até o sucesso que a rede social conseguiu. Antes, porém, cumpre-se mostrar, ainda que de maneira rápida, a estrutura atual do
  • 43. 42 Twitter afim de que, na sequência, a falta dessas características não atrapalhe no entendimento dos próximos tópicos. A versão atual do Twitter (FIGURA 5), o layout e as funcionalidades estão, sem dúvida, mais desenvolvidas e mais interativas do que na versão inicial e continuam mantendo a usabilidade do serviço. FIGURA 5 - VERSÃO ATUAL DO TWITTER FONTE: PRINT SCREEN FEITO PELO AUTOR, DA PÁGINA PRINCIPAL DO TWITTER (2011) É possível agora marcar o conteúdo que mais gostou de outro usuário, compartilhar a postagem, ou ainda, responder alguma postagem com algum comentário e enviar mensagens particulares. 5.2 O QUE É O TWITTER? Lúcia Santaella e Renata Lemos (2010, p. 64) argumentam que o Twitter é “uma plataforma de microblogging que explodiu nos últimos anos, afiliando milhões de usuários por todo o mundo.” Esse sucesso deve-se ao fato de que rapidamente
  • 44. 43 celebridades passaram a se juntar ao Twitter, e isso ganhou maior atenção por parte dos meios de comunicação de massa fazendo com que públicos distintos da sociedade também se interessassem pelo Twitter. Esse fato é bem lembrado por Juliano Spyer no guia intitulado: “Tudo o que você precisa saber sobre Twitter” 8. Neste guia ele comenta que a entrada de Oprah Winfrey9 foi considerada um marco na história do Twitter e da popularização dessa plataforma (FIGURA 6). FIGURA 6 - PRIMEIRO TWEET DE OPRAH WINFREY FONTE: PRINT SCREEN FEITO PELO AUTOR, DO PERFIL “@OPRAH” NO TWITTER (2011) Assim, desde que criado, o Twitter não parou de crescer. Estudos como os da agência Sysomos apontam que em 2009 o Twitter atingiu 11 milhões de usuários. O Brasil ocupava o segundo lugar com representatividade de 8,8% dos usuários da base total do Twitter. (LARDINOIS, 2010 apud SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 64). As autoras concluem que o Twitter é “Uma verdadeira ágora digital global: universidade, clube de entretenimento, ‘termômetro’ social e político, instrumento de resistência civil, palco cultural, arena de conversações contínuas” e que serve como um meio multidirecional, de captação de informações personalizadas; um veículo de difusão contínua de ideias; um espaço colaborativo no qual questões, que surgem a partir de interesses dos mais microscópicos aos mais macroscópicos, podem ser livremente debatidas e respondidas; uma zona livre – pelo menos até agora – da invasão de privacidade que domina a lógica do capitalismo corporativo neoliberal que tudo invade, até mesmo o ciberespaço. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 66). E, muito embora o Twitter faça parte do quadro das Redes 3.0, que são aquelas que permitem interação, são dotadas de aplicativos e estão focadas na mobilidade (HORNIK, 2005 apud SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 58), as autoras alertam para o fato de que 8 O guia está disponível para download na página da agência Talk Interactive: <http://guiadotwitter.talk2.com.br/arquivos/Manual_Twitter_6_MB.pdf>. 9 Oprah Winfrey é uma empresária e apresentadora de TV americana, e, uma das personalidades mais influentes dos Estados Unidos.
  • 45. 44 nas outras redes sociais como Facebook, Orkut etc., o foco da interação social está nos contatos pessoais entre usuários, no Twitter o foco encontra- se na qualidade e no tipo de conteúdo veiculado por um usuário específico. O foco da rede social Facebook, por exemplo, é disponibilizar informações e meios de interação direta para redes de relacionamentos que, em sua grande maioria, já existiam off-line, antes da entrada do usuário na plataforma. Novos contatos surgem através da rede, é claro, mas quase sempre em virtude de um contato pessoal ou de um amigo comum. Essas redes se caracterizam por uma atuação predominante focada em redes de relacionamentos pessoais familiares, de amizade e/ou profissionais. (SANTAELLA; LEMOS, 2010, p. 67). Assim, o foco do Twitter está naquilo em que um único usuário insere na rede, o conteúdo do que é postado, as “pílulas de 140 carácteres”. Outro fator que diferencia o Twitter das demais redes sociais também foi lembrado no guia de Juliano Spyer que diz que em mídias como o Orkut e o Facebook os usuários precisam se aceitar como contatos para que os perfis e atualizações possam aparecer um para o outro. Entretanto, no Twitter não ocorre desta forma, afinal, segundo o autor, nossa sociedade não funciona assim, nem todo mundo se conhece e alguns que se destacam, ganham o rótulo de “famosas” [sic] – a principal condição para alguém se tornar uma celebridade é justamente ser mais conhecido do que conhecer. O Twitter funciona dessa maneira ao permitir que existam vínculos unilaterais entre os partipantes. Você pode se ligar [ou seguir, como se diz no Twitter] a cantora Maria Rita (@MROFICIAL), ao Roger do Ultraje (@Roxmo), passando pelo bruxo Paulo Coelho (@paulocoelho) e o cartunista Maurício de Sousa (@mauriciodesousa), sem que eles necessariamente te conheçam. (SPYER, 2009, p.14). Esta afirmação dialoga com o que Santaella e Lemos querem dizer a respeito do foco da rede. O Twitter é bastante diferenciado, pois se foca na informação que o usuário insere na rede e, como diz Spyer, por ter essa possibilidade de a informação ser unilateral. Raquel Recuero observou algo parecido. Necessariamente os usuários das redes não precisam manter laços unilaterais (caso do Twitter). Dessa forma, observa a autora que os laços necessariamente não são recíprocos. “É possível que um ator A considere B como um melhor amigo (laço forte) e que B, em retorno, não considere A como uma pessoa tão próxima (laço mais fraco).” Entretanto, essa reciprocidade não deve ser confundida “como uma troca de forma igualitária, mas apenas como uma troca de interações e informações.” (RECUERO, 2009, p. 41). Para esclarecer bem essa questão, a noção de unilateralidade de que fala Spyer em nada tem a ver com a força dos laços, pois, no caso no Twitter também é