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artigo de revisão




Saúde do idoso: orientações ao
cuidador do idoso acamado
Elderly health: guidance to bedridden elderly caregivers
Luiz Fabiano Soriano da Conceição1




resUMo

Trata-se de uma revisão sobre a necessidade de capacitação de recursos humanos para               1
                                                                                                    Médico-socorrista do Hospital das Clínicas da UFMG,
                                                                                                  Belo Horizonte, MG - Brasil.
o cuidado a idosos fragilizados. O aumento da longevidade da população brasileira
traz desafios especiais para a atenção à saúde do idoso, principalmente quando este
é semidependente ou dependente. O treinamento de pessoas para cuidar do idoso
é necessário, para facilitar o atendimento imediato às suas necessidades básicas,
regatando-se o papel do “cuidador” em âmbitos informal e formal. Constam de suas
atividades: 1. higiene pessoal; 2. higiene do ambiente; 3. alimentação; 4. medicações; 5.
atividades físicas; 6. compras; 7. lazer, trabalho e atividades fora de casa; 8. estimulação
ao convívio, recreação e lazer. São descritos os princípios orientadores da formação de
cuidadores e os recursos institucionais e comunitários.
Palavras-chave: Idoso Fragilizado; Saúde do Idoso; Assistência a Idosos.


aBstraCt

This is a review on the need of the human resources training in the care of frail elderly. The
increased longevity in Brazil brings special challenges for elderly health care, mainly when
the elderly is semi dependent or dependent. The caregivers training are necessary to facili-
tate their immediate assistance to the elderly basic needs, regarding the formal or informal
ambit. Their activities include: 1. personal hygiene; 2. environmental hygiene; 3. meals; 4.
medication; 5. physical activities; 6.shopping; 7. leisure, work and outside home activities;
8. stimulus to living, recreation, leisure. The guiding principles to the caregivers formation
and the institutional and communitarian resources are described.
Key words: Frail Elderly; Health of the Elderly; Old Age Assistance.



introdUção

    A transição demográfica no Brasil apresenta acelerada evolução, com taxa de
natalidade decrescente e aumento da população de idosos (Figura 1).                               Recebido em: 13/05/2008
    O aumento da longevidade da população brasileira traz desafios especiais para                 Aprovado em: 14/10/2009

a atenção à saúde, uma vez que os idosos necessitam de vigilância da equipe multi-                Instituição:
                                                                                                  Hospital das Clínicas da UFMG,
profissional de saúde e, em alguns casos, de cuidadores domiciliares.                             Belo Horizonte – MG, Brasil
    Em Belo Horizonte, o Programa Saúde da Família (PSF) veio deslindar essa par-                 Endereço para correspondência:
cela da população que antes vivia no esquecimento, permitindo a identificação de                  Rua: Cel. Jairo Pereira, nº 344/301
                                                                                                  Bairro: Palmares
idosos acamados, que requerem atenção especializada e que merecem estudo enfo-                    CEP: 31160-560
                                                                                                  Belo Horizonte - MG, Brasil
cando orientações aos seus cuidadores.                                                            Email: soriano_esp@yahoo.com.br




                                                                                   Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91                  81
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



         80 anos e mais
                                                                                                               2000
           75 a 79 anos
           70 a 74 anos
                                                                                                               1991
           65 a 69 anos
           60 a 64 anos
                                                                                                               1980
           55 a 59 anos
           50 a 54 anos
           45 a 49 anos
           40 a 44 anos
           35 a 39 anos               Homens                                            Mulheres

           30 a 34 anos
           25 a 29 anos
           20 a 24 anos
           15 a 19 anos
           10 a 14 anos
             5 a 9 anos
             0 a 4 anos

                             15          10           5           0           5          10             15
                                                              Milhões
       Fonte: Censo demográfico 1980. Dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade.
       Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, v. 1, t. 4, n. 1, 1983;
       Censo demográfico 1991. Características gerais da população e instrução.
       Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, n. 1, 1996;
       Censo demográfico 2000. Características da população e dos domicílios: resultados do universo.
       Rio de Janeiro: IBGE, p. 89, 2001. 1 CD-Rom ebcartado.

      Figura 1 - População residente total, por sexo e grupos de idade - 1980/2000.


         A realidade com que se depara um familiar quando             gressiva redução na população em ambos os sexos no
      tem um idoso semidependente ou dependente no seu                censo de 1991 em relação a 1980 e de 1996 em relação
      domicílio é preocupante devido à demanda de cuida-              a 1991, principalmente na faixa etária de 10-14 anos.
      dos especiais, com acentuada variação de tarefas.                   O envelhecimento da população acarreta novas
                                                                      demandas. Os problemas de saúde dos idosos frequen-
      deMograFia BrasiLeira                                           temente são crônicos e podem requerer intervenções
      eM reLação aos idosos                                           onerosas e com tecnologias complexas. A estimativa
                                                                      é de que o custo de cuidado a um idoso equivale ou
                                                                      é mais alto que o de três pessoas de outros grupos
          O envelhecimento populacional é realidade mun-              etários. Em muitos países já “envelhecidos” espera-se
      dial. No Brasil, representa processo em ascensão. A             para as próximas duas a três décadas que a popula-
      população idosa no Brasil evoluiu de 2,1 para 4,9, 14,6         ção economicamente ativa não seja capaz de gerar
      e com estimativa de atingir 32 milhões de habitantes            recursos suficientes para sustentar os idosos.4
      em 1960, 1980, 2000 e 2025, respectivamente. O Brasil               O que se espera é que as famílias e a comuni-
      tornar-se-á o sexto pais com maior população idosa              dade assumam mais responsabilidades pelos seus
      do mundo.1-3                                                    membros mais velhos, principalmente quando eles
          As taxas de fertilidade diminuíram nitidamente              venham a apresentar algum problema que resulte na
      durante os anos 80 (Figuras 2, 3, 4). Observa-se pro-           limitação de sua autonomia e independência.


82     Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



  Pode-se inferir que o Brasil ainda não dispõe de       80 + anos
número suficiente de profissionais capacitados.        75 a 79 anos
                                                       70 a 74 anos   Homens                       Mulheres
                                                       65 a 69 anos
  80 + anos                                            60 a 64 anos
75 a 79 anos                                           55 a 59 anos
70 a 74 anos    Homens                     Mulheres    50 a 54 anos
65 a 69 anos                                           45 a 49 anos
60 a 64 anos                                           40 a 44 anos
55 a 59 anos                                           35 a 39 anos
50 a 54 anos                                           30 a 34 anos
45 a 49 anos                                           25 a 29 anos
40 a 44 anos                                           20 a 24 anos
35 a 39 anos
                                                       15 a 19 anos
30 a 34 anos
                                                       10 a 14 anos
25 a 29 anos
                                                         5 a 9 anos
20 a 24 anos
                                                         0 a 4 anos
15 a 19 anos
                                                      Figura 4 - Composição etária por idade individual -
10 a 14 anos
                                                                 População total - 1996.
  5 a 9 anos                                          Fonte: IBGE, Contagem da População de 1996.
  0 a 4 anos

Figura 2 - Composição etária por idade individual -
           População total - 1980.                    ConCeito de saÚde da organiZação
Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1980.
                                                      MUndiaL de saÚde


                                                           O termo saúde, ao longo dos tempos, passou por
                                                      diferentes interpretações. Em 1948, a Organização
  80 + anos
                                                      Mundial de Saúde (OMS) formulou o conceito de que
75 a 79 anos
                                                      saúde seria o mais completo estado de bem-estar
70 a 74 anos   Homens                      Mulheres   físico, mental e social e não apenas ausência de do-
65 a 69 anos                                          ença5, que prevalece ainda hoje nos estudos sobre
60 a 64 anos                                          o processo saúde e doença. Esse conceito é muito
55 a 59 anos                                          abrangente. “O mais completo estado de bem-estar”
50 a 54 anos                                          sugere a existência de diferentes graus de bem-estar,
45 a 49 anos                                          considerando-se, evidentemente, o aspecto subjeti-
40 a 44 anos                                          vo, relacionado às diferentes épocas da vida de cada
35 a 39 anos                                          pessoa, ao humor do momento, assim como à cultura
30 a 34 anos                                          dos povos, de acordo com seus valores espirituais. A
25 a 29 anos                                          capacidade de cada povo em ser atendida em suas as-
20 a 24 anos                                          pirações tem conotação socioeconômica relacionada
15 a 19 anos                                          ao seu “desenvolvimento”. Em termos de causa-efeito,
10 a 14 anos                                          o bem-estar subjetivo mantém condicionamentos re-
  5 a 9 anos                                          ligiosos importantes, como acontece quando o “fata-
  0 a 4 anos                                          lismo” e o “empirismo” não tenham sido substituídos
Figura 3 - Composição etária por idade individual -   pelo conhecimento científico5. Além disto, o conceito
           População total – 1991.                    de bem-estar tem a ver com a percepção de cada pes-
Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1991.               soa sobre o funcionamento do seu corpo.




                                                                      Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91   83
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



          A definição, portanto, poderia ser “o mais com-         A promoção e a prevenção de doenças e de in-
      pleto” reflexo do conjunto harmônico e silencioso de     capacidades e a reabilitação são, portanto, impres-
      todas as funções fisiológicas, mantendo-se a capaci-     cindíveis para o propósito de ampliar o período de
      dade de ajustar-se homeostaticamente (autorregula-       vida humana independente e autônoma, isto é, com
      ção do meio interno) aos estímulos e agressões do        qualidade, restringindo-se ao máximo o período de
      ambiente animado e inanimado. O bem-estar, por ser       doença e dependência.
      subjetivo, permitiria conviver com situações de per-
      das de saúde como, por exemplo, doenças crônicas
      compensadas tipo diabetes mellitus, hipo ou hiperti-     PrinCÍPios orientadores
      reoidismo e catarata.5                                   da ForMação de CUidadores


      aUtonoMia e indePendÊnCia                                    O treinamento de pessoas para cuidar do idoso
                                                               é necessário, em face da situação de desamparo em
          O comprometimento funcional representa um            que eles se encontram, no sentido de facilitar o aten-
      dos principais aspectos a serem avaliados no planeja-    dimento imediato das suas necessidades básicas,
      mento da assistência ao idoso, por isto, é necessário    quando estão doentes e/ou fragilizados. O aumento
      monitorizar a sua capacidade de executar tarefas sim-    expressivo e progressivo da população idosa impõe
      ples como tomar banho, vestir-se e alimentar-se. O       o resgate do papel do “cuidador”. A complexidade
      idoso passará a depender de terceiros, isto é, de um     cada vez maior da organização das sociedades refor-
      cuidador, em caso de comprometimento de alguma           ça a necessidade de preparo e aprendizado específi-
      dessas atividades. É aconselhável, então, promover       cos para exercer esse papel. Espera-se que o cuida-
      o estímulo para que ele execute outras tarefas que       dor possua atividade profissional condizente com a
      seja capaz. Em situações de dependência total, essas     capacidade de desenvolver ações de ajuda naquilo
      tarefas ficam sob a responsabilidade do cuidador e       que o outro não pode mais fazer por si só. Esse cuida-
      de seus familiares. A autonomia e a independência        dor assume a responsabilidade de dar apoio e ajuda
      são conceitos também interdependentes e referem-se       para satisfazer às necessidades, visando à melhoria
      à forma como cada pessoa consegue conduzir sua           da condição de vida de quem necessita de cuidado
      vida, seja ela adulta ou idosa. A autonomia é a capa-    diferenciado, temporário ou até definitivo. O cuida-
      cidade de tomar decisão e sua execução, enquanto         dor nem sempre é membro da família e a sua presen-
      independência relaciona-se com conformação física,       ça no ambiente familiar implica reconhecer valores
      mental e social para realizar as atividades diárias. A   de respeito e discrição, para não interferir na dinâ-
      independência pode ser parcial ou total e possui re-     mica familiar.
      lação inversamente proporcional com a incapacida-            O preparo de cuidadores exige a definição de
      de, comprometimento e deficiência.5 A incapacidade       uma base conceitual norteadora dos valores e prin-
      representa a restrição ou perda, transitória ou defi-    cípios filosóficos, que podem ser reconhecidos pelos
      nitiva, da habilidade para realizar ao menos as ativi-   seguintes pressupostos7: 1. o cuidado humano ou o
      dades de vida diária. O comprometimento significa        “autocuidado” representa a essência da condição
      qualquer distúrbio físico, fisiológico ou psicológico.   humana. O “cuidar do outro” sempre representa con-
      A deficiência constitui qualquer desvantagem que         dição temporária e circunstancial, à medida que o
      impede a pessoa de executar, parcial ou totalmente,      “outro” está impossibilitado de se cuidar; 2. o “cuida-
      uma função normal, como consequência de com-             dor” é uma pessoa envolvida no processo de “cuidar
      prometimento de uma incapacidade. As sequelas re-        do outro”, especialmente em relação ao idoso, com
      manescentes demandam ações de reabilitação, que          quem vivencia uma experiência contínua de apren-
      representam instrumentos poderosos de intervenção        dizagem e que resulta na descoberta de potenciali-
      para limitar ou superar a incapacidade, contribuin-      dades mútuas. É nessa relação íntima e humana que
      do sobremaneira para a melhoria da qualidade de          se revelam potenciais, muitas vezes encobertos, do
      vida dos idosos, principalmente nesse momento da         idoso e do cuidador. O idoso se sentirá capaz do au-
      transição demográfica brasileira, em que se observa      tocuidado e reconhecerá suas reais capacidades; 3. o
      expressivo aumento da longevidade.6                      cuidador é um ser humano de qualidades especiais,


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Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



expressas pelo forte traço de amor à humanidade,         que apresentam limitações para as atividades bási-
de solidariedade e de doação. Costuma doar-se ou         cas e instrumentais da vida diária, para estimular a
voluntariar-se para as áreas de sua vocação ou incli-    independência e respeito à sua autonomia. Constam
nação. Seus préstimos possuem sempre um cunho            dessas atividades:
de ajuda e apoio humanos, com relações afetivas e        ■■ Higiene pessoal: limpeza do corpo e da boca, do

compromissos positivos.                                     vestuário e dos objetos que o idoso usa no dia-dia;
                                                         ■■ Higiene do ambiente: cuidado ao espaço reserva-

                                                            do ao idoso, geralmente o seu quarto de dormir;
Cuidador informal                                        ■■ Alimentos: seguir as dietas e recomendações in-

                                                            dicadas, estimular e auxiliar a alimentação e, se
    É aquele que presta cuidados à pessoa idosa no          necessário, preparar os alimentos;
domicílio, com ou sem vínculo familiar, e que não é      ■■ Medicações: administrar os medicamentos por

remunerado.                                                 via oral e os que devem ser aplicados na pele, nos
    Podem ser de gêneros diversos, pertencentes ou          horários indicados pelo médico e de acordo com
não à família que possui idoso em casa e se identi-         as suas instruções;
ficam com as atividades pertinentes do cuidado ao        ■■ Atividades físicas: apoiar o idoso em caminha-

idoso. Deve ser alfabetizado, gozar de estado físico e      das, ajudando-o também em outros exercícios
mental saudável, possuir noções básicas do cuidado          recomendados por profissionais especializados;
ao idoso e compreensão mínima do processo de en-         ■■ Compras: adquirir alimentos, medicamentos e

velhecimento humano. Os cuidados básicos com os             objetos de uso diário, quando esta tarefa tiver
idosos são constituídos pela: prevenção de quedas;          sido combinada com a família;
limpeza do ambiente; mudança de posição; estímulo        ■■ Lazer, trabalho e atividades fora de casa:

à movimentação e condução, quando necessária, da            acompanhar o idoso, conversar sobre assuntos de
sua movimentação; controle de uso de medicamen-             seu interesse, assistir à televisão, ajudar em traba-
tos; e a higiene pessoal. Vários estudos demonstram         lhos manuais, acompanhá-lo a festas, cerimônias
que um dos principais fatores que contribuem para           religiosas, consultas médicas, exames, idas ao
garantir a manutenção da saúde é a compreensão              banco, entre outros;
dos mecanismos de equilíbrio das funções corpo-          ■■ Estimulação: incentivar o idoso a descobrir tudo o

rais.8 O idoso e seu cuidador devem compreender o           que gosta de fazer, a tomar decisões, a cooperar com
funcionamento do corpo humano; conhecer o meca-             algum trabalho, a manter a prática de autocuidado,
nismo das principais doenças, a capacidade adapta-          além de apoiar e estimular a vida social de modo a
tiva diante de situações de incapacidade e a manu-          permanecer ativo e participativo para sentir-se valo-
tenção da autonomia; procurar reduzir o custo para          rizado, preservando a autoestima. O convívio deve
obtenção de melhores condições de saúde e da qua-           ser incentivado pela comunicação, socialização por
lidade de vida; e promover mudança dos valores de           meio de convívio, recreação e lazer.
bem-estar biopsicossocial-cultural-espiritual de seus
familiares.8 Todos os cuidadores, independentemen-
te do nível funcional do idoso, deverão passar por       Cuidador formal
algum tipo de treinamento. O sentimento de eficácia
é fundamental para a garantia do bem-estar. Esse             É a pessoa capacitada para auxiliar o idoso que
sentimento provém da possibilidade de realização         apresenta limitações para realizar as atividades e ta-
de atividades que tenham valor individualizado. É        refas da vida cotidiana, unindo-o idoso à sua família
comum que idosos com comprometimento funcional           e aos serviços de saúde ou da comunidade. Esse tra-
devido à vigência de doenças crônicas, tais como de-     balhador geralmente é remunerado pela função que
mência, sequelas de acidente vásculo-encefálico ou       exerce.
pneumopatias graves que requeiram uso de oxigênio            São requisitos a serem respeitados por esse cui-
domiciliar, percam esse sentimento de eficácia que,      dador: 1. ter completado o ensino fundamental; 2. ter
no decorrer da vida, está fortemente associado às ati-   mais de 21 anos de idade; 3. submeter-se a treinamen-
vidades profissionais. A função do cuidador informal,    to específico ministrado por instituição reconhecida,
portanto, é auxiliar e/ou realizar atenção aos idosos    em observância a conteúdo oficialmente aprovado

                                                                         Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91    85
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



      para atuar junto às pessoas idosas; 4. gozar de condi-    ■■   Divulgar, por meio da mídia e da rede de apoio, a
      ções físicas e psíquicas saudáveis e possuir qualida-          existência de maus-tratos ao idoso.
      des éticas e morais, além da necessária identificação
      com as atividades a serem desenvolvidas.8
          O cuidador formal, portanto, representa instru-            Condutas básicas na atenção integral à
      mento de ajuda para que os idosos possam realizar
      as suas atividades diárias, receber os medicamentos       saúde
      prescritos por via oral, ser auxiliados na sua deam-
      bulação e mobilidade, ter a organização de seu am-            Os cuidados mínimos necessários para que o
      biente protetor e seguro organizado e acesso a dis-       idoso tenha vida digna e de qualidade depende da
      positivos de ajuda (equipamentos), ter conforto físico    instituição de ações preventivas caracterizadas, em
      e psíquico, receber estímulo para o relacionamento        especial, pela imunização contra gripe, difteria-téta-
      e contato com outras pessoas e participar de ativi-       no, pneumococo, febre amarela e o cuidado com as
      dades recreativas e sociais. O cuidador, além disso,      quedas. As quedas relacionam-se, em geral, ao dese-
      confere sinais vitais, reconhece sinais de alterações     quilíbrio provocado por algumas doenças, efeitos de
      (alerta) e presta socorro em situação de urgência.        certos medicamentos e às condições ambientais de
                                                                sua habitação. A casa do idoso constitui-se em pre-
                                                                ocupação especial, é necessário que tenha lumino-
          Maus-tratos na velhice                                sidade adequada; mobiliário baixo, sem almofadas
                                                                ou quinas pontiagudas; tapetes pequenos e colados
          Cuidar de idosos, em especial dos semidependen-       ao chão; escadas e rampas com antiderrapantes nos
      tes ou dependentes, é tarefa difícil, exaustiva, que      degraus, com barras condutoras de apoio facilmente
      exige dedicação e paciência, sendo, entretanto, fonte     disponíveis às mãos. Deve ser avaliado o uso de ca-
      de satisfação e autorrealização. É comum, portanto,       deira de banho e de bengalas ou andadores.
      que na ausência de tolerância ocorram abusos ou ne-
      gligência que resultam em riscos de maus-tratos.
          A atitude diante de riscos de maus-tratos requer:          Cuidados gerais
      ■■ Aceitar que existem e que possuem efeito destruti-

          vo na qualidade de vida dos idosos e do cuidador;         Os aposentos devem ser arejados e iluminados,
      ■■ Reconhecer o direito dos idosos à sua autonomia;       limpos e, caso aprecie, a música ambiente pode ser
      ■■ Procurar dividir esta tarefa com outras pessoas da     uma ótima opção. O idoso acamado precisa ser mu-
          família, da comunidade ou de grupos de autoaju-       dado de posição de 2/2 horas; e, quando em decúbi-
          da. A possibilidade de algum tempo livre para o       to dorsal, deve ser acomodado com travesseiros ou
          cuidador permitirá que ele possa se dedicar ao        rolos de espuma embaixo dos joelhos e calcanhares.
          seu autocuidado;                                      O posicionamento em decúbito lateral requer a insta-
      ■■ Infundir ânimo no idoso para a vida e o viver;         lação de um travesseiro sob a perna que estiver por
          ajudá-lo a ser ativo, a buscar ocupação e a reali-    cima. A cama do paciente deve, preferencialmente,
          zar algum ideal. O ânimo devolve ao cuidador os       ter o colchão atingindo a altura da parte inferior das
          aspectos positivos dos cuidados, diminui o estres-    nádegas, facilitando o deitar sem muito esforço. Os
          se e possibilita relação adequada cuidador/idoso;     tapetes devem ser bem fixados ou então removidos.
      ■■ Facilitar a criação de grupos de autoajuda;            O banheiro precisa ter portas largas que permitam a
      ■■ Refletir diariamente se, mesmo sem querer, houve       passagem de cadeira de rodas, ter barras de apoio e
          algum ato que possa ter sido de maus-tratos, pro-     piso antiderrapante. Escadas devem ser substituídas,
          curando, neste caso, desculpar-se junto a seu fa-     sempre que possível, por rampas.
          miliar, identificar as razões e buscar as soluções;
      ■■ Procurar ajuda caso receba alguma forma de

          maus-tratos nas redes de apoio existentes;                 Cuidados com os medicamentos
      ■■ Denunciar a quem de direito o fato, caso assis-

          ta ou tenha conhecimento de alguma forma de               Devem ser armazenados em local limpo e de fá-
          maus-tratos;                                          cil acesso, fora do alcance de crianças e de animais,


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Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



protegidos da luz solar, do calor e da umidade e sepa-       alimentação
rados de produtos de limpeza, perfumaria e alimen-
tos. Não devem ser mantidos em locais como cozinha            A alimentação deve ser oferecida pelo cuidador
e banheiro. Não guardar medicamentos que não es-          com o especial cuidado de verificar a sua tempera-
tejam sendo mais usados pelo paciente e não manter        tura e o prazo de validade dos alimentos oferecidos.
conjuntamente remédios pertencentes a outrem.             A alimentação saudável pode ser resumida em: va-
                                                          riedade, moderação e equilíbrio. Deve ser composta
                                                          diariamente por:
   Higiene pessoal                                        ■■ alimentos energéticos, como: arroz, aveia, trigo,

                                                              milho, centeio, cevada e farinhas derivadas des-
    O banho, sempre que possível, deve ser dado no            ses cereais, massas em geral, bolo, pães, batatas,
chuveiro. O banho no leito, se necessário, requer o uso       inhame, cará, mandioca, polvilho, óleos vegetais,
de sabonete neutro; sem bucha para esfregar a pele,           azeites, gordura vegetal hidrogenada, margarinas,
que já é bem afilada; com preferência para o uso de           cremes vegetais, manteiga, bacon, toucinho, cre-
água morna. A pele deve ser logo secada após o banho,         me de leite, sendo que os produtos citados a par-
seguida de hidratação com creme ou vaselina líquida;          tir dos óleos devem ser consumidos em pequenas
com vestimentas adequadas à temperatura ambiente.             quantidades;
    A higiene oral deve ser feita com a cabeceira do      ■■ vitaminas, minerais e fibras, compostas de todas

leito elevada, após cada refeição, observando-se se           as frutas, verduras, legumes e cereais integrais;
há sangramentos. As próteses devem ser escovadas          ■■ proteínas: carnes, ovos, leite, queijos, iogurtes,

com cerdas duras, seguindo-se de limpeza da gen-              coalhadas, além de leguminosas como feijão,
giva e língua com gaze umedecida em água filtrada             soja, lentilha, grão de bico e ervilha.8
e solução antisséptica, envolvida em uma espátula,
três vezes ao dia. A prótese, quando não estiver em           O idoso deve comer devagar e em local tranquilo; fa-
uso, deve ser guardada em recipiente fechado com          zer cinco a seis refeições ao dia, mantendo intervalo de
tampa. As pessoas com perda de peso devem ter sua         três horas entre elas; ingerir líquidos (seis a oito copos
prótese reavaliada, uma vez que a adaptação inade-        ao dia) pelo menos uma hora antes ou após as refeições.
quada pode comprometer a alimentação. Ao termi-               Todas as refeições devem conter alimentos ener-
nar a higiene oral, hidratar os lábios com batom ou       géticos, vitaminados e proteinados. Devem ser preferi-
manteiga de cacau.                                        das as preparações assadas, grelhadas ou preparadas
    Os cuidados com a pele são necessários porque         no vapor; e evitadas as frituras e alimentos industria-
esta representa a barreira principal de proteção do       lizados. É preferível a administração de frutas frescas
organismo. O envelhecimento promove diversas              e com casca; sem adição de sal às refeições (retirar
modificações dérmicas, o que torna idosos e pa-           o saleiro da mesa); e redução de consumo de doces,
cientes acamados mais vulneráveis ao risco de for-        bolos, biscoitos e outros alimentos ricos em açúcar e
mação de feridas. A formação de feridas pode ser          gorduras. O peso deve ser monitorizado para avaliar
predisposta pela: desidratação, desnutrição, umi-         a sua estabilidade (perda ou ganho).8
dade, atrito da pele com outras superfícies, imobili-
dade, alteração da circulação local, doenças como
diabetes e neuropatias, traumas, transferência do         Distúrbios do sono
paciente. Para a prevenção do desenvolvimento de
úlceras de pressão (escaras), é necessária a mudan-           O envelhecimento pode provocar algumas modi-
ça frequente de decúbito; hidratação da pele ínte-        ficações fisiológicas no padrão do sono, em especial
gra; uso de colchão piramidal (caixa de ovo), coxins      tornando-o superficial, percebido como sono leve,
e travesseiros para alívio da pressão sobre a pele;       e menos satisfatório; com propensão a dormidelas
estímulo à movimentação; avaliação diária da pele;        diurnas e sonolência vespertina; e dificuldade em ini-
manutenção adequada da higiene corporal; troca            ciá-lo e mantê-lo à noite (despertar precoce).8 A quali-
de fraldas sempre que necessário; oferta de dieta         dade do sono pode ser afetada também por algumas
especial rica em proteínas e minerais para ajudar         doenças, pelo uso de medicamentos, bem como pela
na cicatrização.                                          mudança do ambiente de dormir.

                                                                           Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91     87
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



           As doenças mais comuns que comprometem esse            intestinais. Estabelecer um horário para a evacuação,
      padrão são: depressão, quadros demenciais e aciden-         de preferência pela manhã ou após a refeição. Deve
      tes vasculo-encefálicos (AVE).8                             ser estimulada a ingestão adequada de líquidos (1,5
           A “higiene do sono” representa a aplicação de me-      a 2,0 L/dia). O paciente deverá ser avaliado (médico,
      didas capazes de minimizar essas alterações, carac-         nutricionista), quando não há resolução com as medi-
      terizadas por: criação de ambiente favorável ao sono,       das anteriores, para orientação de tratamento especí-
      constituído por hábitos que “sinalizem” a aproxima-         fico. A formação de fecaloma constitui complicação
      ção do horário de dormir, como preparo da cama,             temida, promovendo, muitas vezes, a internação do
      roupa apropriada, conforto no leito, banho morno,           paciente; 3. pneumonia aspirativa: manter a cabecei-
      ingestão de leite morno ou de chás relaxantes e apli-       ra do leito sempre em elevação de 30 a 45º durante
      cação de massagens; delimitação de contraste entre          e após a alimentação; 4. infecção do trato urinário
      dia e noite (diminuição da luminosidade e barulhos          (ITU): os principais sinais de alerta sugestivos de ITU
      no fim da tarde, estimulação do idoso com atividades        são ardência/dor ao urinar (disúria); alteração de cor
      e exercícios durante o dia e banho de sol). O cochilo,      e cheiro da urina; diminuição da diurese; resíduos e
      quando presente, deve ser inserido em horário regu-         grumos (depósitos) em pacientes com sonda vesical
      lar; com o estabelecimento de rotina diária bem esta-       de demora; incontinência urinária. Os idosos podem
      belecida; evitar o uso de estimulantes a partir do al-      responder à infecção apenas com prostração, hiporre-
      moço (bebidas que contenham cafeína – chás mate             xia ou piora funcional. A prevenção da ITU relaciona-
      e preto, café, achocolatados e refrigerantes, cigarros      se com a higiene adequada da região genital e com as
      e bebidas alcoólicas) e de exercícios físicos antes de      trocas frequentes de fraldas. Deve ser feita com muita
      dormir. Os exercícios devem ser feitos, preferencial-       frequência a oferta de líquido para ingestão ao idoso,
      mente, pela manhã ou à tarde. Os pacientes com re-          para evitar que a urina fique muito concentrada, o que
      fluxo ou azia não devem ingerir alimentos próximo           a torna meio próprio para reprodução de microrga-
      do horário de dormir. A administração de diuréticos         nismos. A retenção urinária deve ser evitada, quando
      deve ser preferencialmente matutina.                        houver indicação, por intermédio do uso de sondas.
                                                                  A higiene diária em pacientes com coletor urinário re-
                                                                  quer o uso de sabão neutro, para evitar traumatismos
          intercorrências                                         e infecções nos órgãos genitais. O coletor não deve es-
                                                                  tar apertado para não estrangular o corpo peniano, no
          Alguns procedimentos devem ser feitos para pre-         caso do homem, devendo ser esvaziado sempre que
      venir intercorrências9, como no caso de 1. diarreia:        necessário. Os pacientes que usam cateter vesical de
      seguir as orientações de higiene do próprio cuidador,       demora devem ter a bolsa esvaziada diariamente e o
      de utensílios e de alimentos. Desde o início da diar-       aspecto da urina deve observado quanto à cor, odor,
      reia, promover a reposição hídrica, de preferência          quantidade e presença de grumos e coágulos. O cir-
      oral, em doses fracionadas e/ou após cada episódio          cuito de drenagem vesical deve ser clampado quando
      de evacuação. Oferecer em tomo de 150 mL após cada          o paciente for movimentado e sempre adequadamente
      evacuação diarreica. A dieta não deve ser suspensa,         posicionado; 5. desidratação: a oferta de líquidos deve
      pois o paciente já está em processo de mais consu-          ser feita com frequência. Os pacientes com disfagia
      mo de energia. Substituir o leite de vaca pelo de soja,     geralmente apresentam tosse e/ou engasgos ao rece-
      desde que não haja alergia aos seus componentes; e          berem líquidos e, nesses casos, deve ser usado pó es-
      excluir as frutas laxativas (laranja, mamão, manga,         pessante para garantir o fornecimento adequado. Nos
      ameixa) da dieta. Acrescentar frutas constipantes           casos de perda por vômitos, diarreia, febre e sudorese
      (caju, limão, banana, goiaba e maçã coada com a cas-        aumentada, oferecer soro caseiro e entrar em contato
      ca); 2. constipação intestinal: suspender ou substituir,    com o nutricionista ou o médico-assistente.10-13
      se possível, medicamentos obstipantes após orienta-
      ção médica. Acrescentar à dieta os sucos laxativos.
      Estimular exercícios físicos (respeitando os limites de        sinais de alerta
      cada idoso) para fortalecer a prensa abdominal. Nos
      pacientes restritos ao leito, fazer exercícios passivos e      É fundamental que a família e cuidadores fiquem
      massagear o abdômen para estimular os movimentos            atentos às modificações apresentadas em qualquer


88     Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



momento pelo paciente e observem alguns parâ-            to. A transmissão da experiência de vida a outros
metros, que podem estar associados a doenças ou          grupos etários, ou mesmo para outros idosos, pode
infecções. A temperatura axilar média normal é em        ser exercida em associações de aposentados e de ex-
tomo de 36,8°C. No adulto considera-se febre a iden-     alunos/professores em escolas. Deve ser ressaltada a
tificação de temperatura axilar igual ou acima de        importante colaboração do idoso para o resgate da
37,2°C. O aumento da temperatura corpórea pode           memória cultural, pelas experiências vividas e co-
ser revertido com o uso de paracetamol e dipirona.       nhecimentos acumulados.
O aumento da oferta de líquidos previne a desidra-
tação. A hipotermia (temperatura axilar abaixo de
34°C) também constitui sinal de alerta e o paciente         Papel desses recursos
deve ser aquecido com cobertores, além de ser ne-
cessária avaliação médica. A frequência respiratória         Para atender à finalidade exposta e, em última
pode ficar alterada em doenças, principalmente nas       análise, para promoção da saúde, vão aos poucos
pneumopatias, além de ser influenciada pela dor e        surgindo os programas e serviços. Os primeiros são
ansiedade. É importante observar o padrão ventilató-     destinados a toda a comunidade e os últimos à pes-
rio do paciente para surpreender alguma dificuldade      soa e à família. Assim, têm origem os grupos de con-
para ventilar e a cianose de extremidades (coloração     vivência, recurso que proporciona ressocialização
azulada ou arroxeada). O nível de consciência dos        e o exercício da indispensável mobilidade, com op-
portadores de quadros demenciais pode apresentar,        ções para os idosos se sentirem independentes e to-
com frequência, oscilação e alterações de comporta-      marem iniciativas. Podem colaborar para a expansão
mento, tornando-se, por exemplo, confusos ou agita-      desses programas os sindicatos, as escolas, as igrejas
dos, entre outras manifestações. Alterações bruscas      e os clubes sociais que dispõem de áreas parcialmen-
do nível de consciência (confusão mental, prostra-       te ociosas.
ção) devem ser relatadas aos profissionais de saúde,         Evidencia-se a necessidade de as comunidades
pois podem estar associadas a doenças.                   se equiparem com recursos que garantam aos idosos
                                                         a possibilidade de continuarem vivendo no seu am-
                                                         biente social, da mesma forma que as comunidades
reCUrsos institUCionais e CoMUnitÁrios                   reconhecem e defendem a necessidade de creches e
                                                         reivindicam a sua instalação.
Importância para a integração social do idoso                Programas para os idosos proliferam nas cida-
                                                         des brasileiras e são exemplos privilegiados para
    Durante muitos anos o recurso mais comum para        demonstrar que a experiência de envelhecimento
o atendimento ao idoso foi o asilo, reconhecida a ne-    pode ser vivida de maneira distinta. As universidades
cessidade de abrigo e proteção por abandono ou ine-      abrem-se aos idosos, o turismo é direcionado para
xistência do grupo familiar. A partir da década de 70,   eles e outras iniciativas vão sendo implementadas.
quando o processo de envelhecimento brasileiro se            Na área da saúde também os recursos vão sur-
acelerou, novos recursos foram necessários e criados     gindo para atender a esta crescente demanda. Sur-
para atender às necessidades e anseios manifestados      gem ambulatórios geriátricos e unidades geriátricas
pelo número crescente de idosos.                         em hospitais. Cresce a necessidade de outros mo-
    Reconhecendo que a dimensão social do ser hu-        delos de assistência, como o hospital-dia e centros
mano não se esgota no lar, os recursos institucionais    diurnos. Esses centros constituem alternativa pouco
e comunitários se voltam para a integração social do     experimentada, embora seja um importante recurso
idoso. Não ter aonde ir prejudica a capacidade de fa-    de apoio à família, para garantir que ao idoso sejam
zer novas relações, dialogar sem medo, movimentar-       proporcionados os cuidados necessários, sem afastá-
se sem as limitações que tornam o idoso circunscrito     lo do grupo familiar. O hospital-dia tem a finalidade
em seu domicílio, fazendo desaparecer a iniciativa, a    de proporcionar tratamento médico, de reabilitação
criatividade e o desejo de se atualizar.                 e de manutenção do estado físico, além de cuidados
    O compromisso cívico e político dos idosos com       de enfermagem e assistência social.
a comunidade e a sociedade é cada vez mais intenso           Os recursos institucionais e comunitários, gover-
e relaciona-se com a sua autonomia e discernimen-        namentais ou não, devem atender às necessidades

                                                                         Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91   89
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



      dos idosos, como também oferecer apoio e suporte          sua autonomia e independência para melhorar a sua
      à família. Assim, na rede de apoio à ação da família      qualidade de vida. O conhecimento das garantias dis-
      nos cuidados a serem dispensados aos idosos, consti-      postas no Estatuto do Idoso é uma forma de fazer com
      tuem-se recursos fundamentais as palestras e cursos       que ele ocupe seu merecido espaço na sociedade. Ou-
      que elucidem as características da velhice.               tra forma de estimulá-lo é intervindo nas suas ativida-
          Integram a rede de apoio as associações de por-       des da vida diária, considerando sua capacidade na
      tadores da doença de Alzheimer, de deficiências vi-       execução de tarefas simples como tomar banho, vestir
      suais, auditivas e físicas, Programa de Saúde da Fa-      e alimentar-se. Nas situações de dependência (parcial
      mília, agentes de saúde, serviços especializados de       ou total), cabe aos especialistas identificar e instruir os
      enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional em do-      cuidadores no desempenho de suas (difíceis) atribui-
      micílio, como exemplos das tantas alternativas para       ções da maneira mais eficiente possível. Quem cuida
      atendimento ao idoso na comunidade.                       ou já cuidou de algum paciente totalmente dependen-
                                                                te para as atividades da vida diária sabe que muitas
                                                                vezes as situações são difíceis e estressantes.
          o paciente terminal                                       Para cuidar bem de alguém, é necessário minimi-
                                                                zar o estresse do dia-a-dia e investir em conhecimen-
          O desenvolvimento tecnológico proporcionou o          to, lazer, além do autocuidado. Devem ser definidas
      envelhecimento significativo da população huma-           prioridades como o equilíbrio entre trabalho e des-
      na. Existe um determinado momento na evolução             canso e investimento em conhecimentos e experiên-
      de uma doença em que, mesmo que se disponha de            cias, lazer, arte e criatividade. O angustiante despre-
      todos os recursos tecnológicos, a morte torna-se pro-     paro dos familiares diante do cuidado com o idoso
      cesso irreversível.                                       acamado revela a necessidade urgente de criação de
          O paciente terminal é o que se encontra além da       formas de orientação aos cuidadores e de condutas
      possibilidade de terapêutica curativa e necessita de      fundamentais para o paciente. Isto pode ser feito por
      tratamento paliativo, visando ao alívio de inúmeros       intermédio de equipes multiprofissionais, de especia-
      sintomas que o atormentam, sempre levando em con-         listas ligados a hospitais, Unidades de Pronto Atendi-
      sideração a possível melhoria da qualidade de vida,       mento (UPA), clínicas ou Centros de Saúde, da pro-
      de maneira global. Cabe estar ao lado do paciente,        moção de palestras e/ou capacitação do responsável
      para que ele se sinta amparado no processo de viver       pelo cuidado, durante a visitação domiciliar.
      e morrer com dignidade.

                                                                reFerÊnCias
      ConsideraçÕes Finais
                                                                1.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Anuário es-
                                                                     tatístico do Brasil: 1993. Rio de Janeiro: IBGE; 1993. v. 53.
          A população brasileira está em processo de en-
      velhecimento, embora isso venha acontecendo em            2.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo De-
                                                                     mográfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. [Citado em: 2009 jan.
      ritmos diferentes de região para região. Esse proces-
                                                                     20].Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/.
      so deve ser considerado ao se decidir pelo planeja-
                                                                3.   Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Na-
      mento de estratégias em relação às políticas próprias          cional por Amostra de Domicílios - PNAD. Censos Demográfico,
      envolvendo saúde/previdência. Essa transformação               1991, 2000 e Contagem populacional 1996. Rio de Janeiro: IBGE;
      demográfica causa impacto significativo sobre os               2000;
      custos do estado à medida que os problemas crôni-         4.   Chaimowicz F Health of the Brazilian elderly population on the
                                                                                   .
      cos dos idosos relacionam-se à sua saúde e ao seu              eve of 21st century: current problems, forecasts and alternatives.
      papel social. Isto requer o uso de mais infraestrutura,        Rev Saúde Pública. 1997 Abr; 31(2)184-200.

      de tecnologias mais complexas e de profissionais ca-      5.   Organização Mundial de Saúde-OMS. Constituição da Organiza-
      pacitados, o que torna as intervenções mais onerosas           ção Mundial da Saúde . Nova Iorque: OMS/WHO; 1946.

      a partir da permanência em lares para idosos ou in-       6.   Organização Mundial de Saúde. Promovendo qualidade de
                                                                     vida após acidente vascular cerebral: um guia para fisioterapeu-
      ternações hospitalares.
                                                                     tas e profissionais de atenção primária à saúde. Porto Alegre:
          Cabe aos profissionais de saúde atuação preventi-          Artmed, 2003.
      va, caracterizada pelo estímulo ao idoso, preservando


90     Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado



7.   Pinto JLG, Oliveira ACG, Mangini SCB, Carvalhaes MABL. Carac-        10. Leal A, Rangel B, Moro LBEF Schuwinski PR, Osborne SA. AVC:
                                                                                                          ,
     terísticas do apoio social oferecido a idosos de área rural as-          Guia Prático de prevenção & cuidados. Belo Horizonte: Clínica
     sistida pelo PFS. Ciên Saúde Coletiva. 2006 jul-set; 11(3):753-64.       Neurológica Unicentro; [20--].
8.   Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte. Secretaria Mu-         11. Mello MMAF Perracini MR. Avaliando e adaptando o ambiente
                                                                                          ,
     nicipal de Saúde. Gerência de Assistência. Coordenação de                doméstico. In: Duarte YAO, Diogo MJ. Atendimento domiciliar:
     Atenção à Saúde do Idoso. Protocolo de avaliação admissional             um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu; 2000. cap. 14, p.
     multidimensional do idoso institucionalizado. Belo Horizonte:            187-99.
     PBH/SMS; jan. 2004.                                                  12. Neistadt ME, Crepeau EB. Willard & Spackman: terapia Ocupa-
9.   Unimed. A importância do uso de atividade com idosos. Adap-              cional. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. cap. 1,
     tando o Ambiente. Capacitação de Cuidadores, Terapia Ocupa-              p.3-9.
     cional. Belo Horizonte: Unimed; [20--]. Apostila.                    13. Veras RP Envelhecimento populacional do Brasil: mudanças
                                                                                      .
                                                                              demográficas e desafios epidemiológicos. Rev Saúde Pública.
                                                                              1991 dez; 25(6):476-88.




                                                                                              Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91           91

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  • 1. artigo de revisão Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado Elderly health: guidance to bedridden elderly caregivers Luiz Fabiano Soriano da Conceição1 resUMo Trata-se de uma revisão sobre a necessidade de capacitação de recursos humanos para 1 Médico-socorrista do Hospital das Clínicas da UFMG, Belo Horizonte, MG - Brasil. o cuidado a idosos fragilizados. O aumento da longevidade da população brasileira traz desafios especiais para a atenção à saúde do idoso, principalmente quando este é semidependente ou dependente. O treinamento de pessoas para cuidar do idoso é necessário, para facilitar o atendimento imediato às suas necessidades básicas, regatando-se o papel do “cuidador” em âmbitos informal e formal. Constam de suas atividades: 1. higiene pessoal; 2. higiene do ambiente; 3. alimentação; 4. medicações; 5. atividades físicas; 6. compras; 7. lazer, trabalho e atividades fora de casa; 8. estimulação ao convívio, recreação e lazer. São descritos os princípios orientadores da formação de cuidadores e os recursos institucionais e comunitários. Palavras-chave: Idoso Fragilizado; Saúde do Idoso; Assistência a Idosos. aBstraCt This is a review on the need of the human resources training in the care of frail elderly. The increased longevity in Brazil brings special challenges for elderly health care, mainly when the elderly is semi dependent or dependent. The caregivers training are necessary to facili- tate their immediate assistance to the elderly basic needs, regarding the formal or informal ambit. Their activities include: 1. personal hygiene; 2. environmental hygiene; 3. meals; 4. medication; 5. physical activities; 6.shopping; 7. leisure, work and outside home activities; 8. stimulus to living, recreation, leisure. The guiding principles to the caregivers formation and the institutional and communitarian resources are described. Key words: Frail Elderly; Health of the Elderly; Old Age Assistance. introdUção A transição demográfica no Brasil apresenta acelerada evolução, com taxa de natalidade decrescente e aumento da população de idosos (Figura 1). Recebido em: 13/05/2008 O aumento da longevidade da população brasileira traz desafios especiais para Aprovado em: 14/10/2009 a atenção à saúde, uma vez que os idosos necessitam de vigilância da equipe multi- Instituição: Hospital das Clínicas da UFMG, profissional de saúde e, em alguns casos, de cuidadores domiciliares. Belo Horizonte – MG, Brasil Em Belo Horizonte, o Programa Saúde da Família (PSF) veio deslindar essa par- Endereço para correspondência: cela da população que antes vivia no esquecimento, permitindo a identificação de Rua: Cel. Jairo Pereira, nº 344/301 Bairro: Palmares idosos acamados, que requerem atenção especializada e que merecem estudo enfo- CEP: 31160-560 Belo Horizonte - MG, Brasil cando orientações aos seus cuidadores. Email: soriano_esp@yahoo.com.br Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91 81
  • 2. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado 80 anos e mais 2000 75 a 79 anos 70 a 74 anos 1991 65 a 69 anos 60 a 64 anos 1980 55 a 59 anos 50 a 54 anos 45 a 49 anos 40 a 44 anos 35 a 39 anos Homens Mulheres 30 a 34 anos 25 a 29 anos 20 a 24 anos 15 a 19 anos 10 a 14 anos 5 a 9 anos 0 a 4 anos 15 10 5 0 5 10 15 Milhões Fonte: Censo demográfico 1980. Dados gerais, migração, instrução, fecundidade, mortalidade. Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, v. 1, t. 4, n. 1, 1983; Censo demográfico 1991. Características gerais da população e instrução. Brasil. Rio de Janeiro: IBGE, n. 1, 1996; Censo demográfico 2000. Características da população e dos domicílios: resultados do universo. Rio de Janeiro: IBGE, p. 89, 2001. 1 CD-Rom ebcartado. Figura 1 - População residente total, por sexo e grupos de idade - 1980/2000. A realidade com que se depara um familiar quando gressiva redução na população em ambos os sexos no tem um idoso semidependente ou dependente no seu censo de 1991 em relação a 1980 e de 1996 em relação domicílio é preocupante devido à demanda de cuida- a 1991, principalmente na faixa etária de 10-14 anos. dos especiais, com acentuada variação de tarefas. O envelhecimento da população acarreta novas demandas. Os problemas de saúde dos idosos frequen- deMograFia BrasiLeira temente são crônicos e podem requerer intervenções eM reLação aos idosos onerosas e com tecnologias complexas. A estimativa é de que o custo de cuidado a um idoso equivale ou é mais alto que o de três pessoas de outros grupos O envelhecimento populacional é realidade mun- etários. Em muitos países já “envelhecidos” espera-se dial. No Brasil, representa processo em ascensão. A para as próximas duas a três décadas que a popula- população idosa no Brasil evoluiu de 2,1 para 4,9, 14,6 ção economicamente ativa não seja capaz de gerar e com estimativa de atingir 32 milhões de habitantes recursos suficientes para sustentar os idosos.4 em 1960, 1980, 2000 e 2025, respectivamente. O Brasil O que se espera é que as famílias e a comuni- tornar-se-á o sexto pais com maior população idosa dade assumam mais responsabilidades pelos seus do mundo.1-3 membros mais velhos, principalmente quando eles As taxas de fertilidade diminuíram nitidamente venham a apresentar algum problema que resulte na durante os anos 80 (Figuras 2, 3, 4). Observa-se pro- limitação de sua autonomia e independência. 82 Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
  • 3. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado Pode-se inferir que o Brasil ainda não dispõe de 80 + anos número suficiente de profissionais capacitados. 75 a 79 anos 70 a 74 anos Homens Mulheres 65 a 69 anos 80 + anos 60 a 64 anos 75 a 79 anos 55 a 59 anos 70 a 74 anos Homens Mulheres 50 a 54 anos 65 a 69 anos 45 a 49 anos 60 a 64 anos 40 a 44 anos 55 a 59 anos 35 a 39 anos 50 a 54 anos 30 a 34 anos 45 a 49 anos 25 a 29 anos 40 a 44 anos 20 a 24 anos 35 a 39 anos 15 a 19 anos 30 a 34 anos 10 a 14 anos 25 a 29 anos 5 a 9 anos 20 a 24 anos 0 a 4 anos 15 a 19 anos Figura 4 - Composição etária por idade individual - 10 a 14 anos População total - 1996. 5 a 9 anos Fonte: IBGE, Contagem da População de 1996. 0 a 4 anos Figura 2 - Composição etária por idade individual - População total - 1980. ConCeito de saÚde da organiZação Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1980. MUndiaL de saÚde O termo saúde, ao longo dos tempos, passou por diferentes interpretações. Em 1948, a Organização 80 + anos Mundial de Saúde (OMS) formulou o conceito de que 75 a 79 anos saúde seria o mais completo estado de bem-estar 70 a 74 anos Homens Mulheres físico, mental e social e não apenas ausência de do- 65 a 69 anos ença5, que prevalece ainda hoje nos estudos sobre 60 a 64 anos o processo saúde e doença. Esse conceito é muito 55 a 59 anos abrangente. “O mais completo estado de bem-estar” 50 a 54 anos sugere a existência de diferentes graus de bem-estar, 45 a 49 anos considerando-se, evidentemente, o aspecto subjeti- 40 a 44 anos vo, relacionado às diferentes épocas da vida de cada 35 a 39 anos pessoa, ao humor do momento, assim como à cultura 30 a 34 anos dos povos, de acordo com seus valores espirituais. A 25 a 29 anos capacidade de cada povo em ser atendida em suas as- 20 a 24 anos pirações tem conotação socioeconômica relacionada 15 a 19 anos ao seu “desenvolvimento”. Em termos de causa-efeito, 10 a 14 anos o bem-estar subjetivo mantém condicionamentos re- 5 a 9 anos ligiosos importantes, como acontece quando o “fata- 0 a 4 anos lismo” e o “empirismo” não tenham sido substituídos Figura 3 - Composição etária por idade individual - pelo conhecimento científico5. Além disto, o conceito População total – 1991. de bem-estar tem a ver com a percepção de cada pes- Fonte: IBGE, Censo demográfico de 1991. soa sobre o funcionamento do seu corpo. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91 83
  • 4. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado A definição, portanto, poderia ser “o mais com- A promoção e a prevenção de doenças e de in- pleto” reflexo do conjunto harmônico e silencioso de capacidades e a reabilitação são, portanto, impres- todas as funções fisiológicas, mantendo-se a capaci- cindíveis para o propósito de ampliar o período de dade de ajustar-se homeostaticamente (autorregula- vida humana independente e autônoma, isto é, com ção do meio interno) aos estímulos e agressões do qualidade, restringindo-se ao máximo o período de ambiente animado e inanimado. O bem-estar, por ser doença e dependência. subjetivo, permitiria conviver com situações de per- das de saúde como, por exemplo, doenças crônicas compensadas tipo diabetes mellitus, hipo ou hiperti- PrinCÍPios orientadores reoidismo e catarata.5 da ForMação de CUidadores aUtonoMia e indePendÊnCia O treinamento de pessoas para cuidar do idoso é necessário, em face da situação de desamparo em O comprometimento funcional representa um que eles se encontram, no sentido de facilitar o aten- dos principais aspectos a serem avaliados no planeja- dimento imediato das suas necessidades básicas, mento da assistência ao idoso, por isto, é necessário quando estão doentes e/ou fragilizados. O aumento monitorizar a sua capacidade de executar tarefas sim- expressivo e progressivo da população idosa impõe ples como tomar banho, vestir-se e alimentar-se. O o resgate do papel do “cuidador”. A complexidade idoso passará a depender de terceiros, isto é, de um cada vez maior da organização das sociedades refor- cuidador, em caso de comprometimento de alguma ça a necessidade de preparo e aprendizado específi- dessas atividades. É aconselhável, então, promover cos para exercer esse papel. Espera-se que o cuida- o estímulo para que ele execute outras tarefas que dor possua atividade profissional condizente com a seja capaz. Em situações de dependência total, essas capacidade de desenvolver ações de ajuda naquilo tarefas ficam sob a responsabilidade do cuidador e que o outro não pode mais fazer por si só. Esse cuida- de seus familiares. A autonomia e a independência dor assume a responsabilidade de dar apoio e ajuda são conceitos também interdependentes e referem-se para satisfazer às necessidades, visando à melhoria à forma como cada pessoa consegue conduzir sua da condição de vida de quem necessita de cuidado vida, seja ela adulta ou idosa. A autonomia é a capa- diferenciado, temporário ou até definitivo. O cuida- cidade de tomar decisão e sua execução, enquanto dor nem sempre é membro da família e a sua presen- independência relaciona-se com conformação física, ça no ambiente familiar implica reconhecer valores mental e social para realizar as atividades diárias. A de respeito e discrição, para não interferir na dinâ- independência pode ser parcial ou total e possui re- mica familiar. lação inversamente proporcional com a incapacida- O preparo de cuidadores exige a definição de de, comprometimento e deficiência.5 A incapacidade uma base conceitual norteadora dos valores e prin- representa a restrição ou perda, transitória ou defi- cípios filosóficos, que podem ser reconhecidos pelos nitiva, da habilidade para realizar ao menos as ativi- seguintes pressupostos7: 1. o cuidado humano ou o dades de vida diária. O comprometimento significa “autocuidado” representa a essência da condição qualquer distúrbio físico, fisiológico ou psicológico. humana. O “cuidar do outro” sempre representa con- A deficiência constitui qualquer desvantagem que dição temporária e circunstancial, à medida que o impede a pessoa de executar, parcial ou totalmente, “outro” está impossibilitado de se cuidar; 2. o “cuida- uma função normal, como consequência de com- dor” é uma pessoa envolvida no processo de “cuidar prometimento de uma incapacidade. As sequelas re- do outro”, especialmente em relação ao idoso, com manescentes demandam ações de reabilitação, que quem vivencia uma experiência contínua de apren- representam instrumentos poderosos de intervenção dizagem e que resulta na descoberta de potenciali- para limitar ou superar a incapacidade, contribuin- dades mútuas. É nessa relação íntima e humana que do sobremaneira para a melhoria da qualidade de se revelam potenciais, muitas vezes encobertos, do vida dos idosos, principalmente nesse momento da idoso e do cuidador. O idoso se sentirá capaz do au- transição demográfica brasileira, em que se observa tocuidado e reconhecerá suas reais capacidades; 3. o expressivo aumento da longevidade.6 cuidador é um ser humano de qualidades especiais, 84 Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
  • 5. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado expressas pelo forte traço de amor à humanidade, que apresentam limitações para as atividades bási- de solidariedade e de doação. Costuma doar-se ou cas e instrumentais da vida diária, para estimular a voluntariar-se para as áreas de sua vocação ou incli- independência e respeito à sua autonomia. Constam nação. Seus préstimos possuem sempre um cunho dessas atividades: de ajuda e apoio humanos, com relações afetivas e ■■ Higiene pessoal: limpeza do corpo e da boca, do compromissos positivos. vestuário e dos objetos que o idoso usa no dia-dia; ■■ Higiene do ambiente: cuidado ao espaço reserva- do ao idoso, geralmente o seu quarto de dormir; Cuidador informal ■■ Alimentos: seguir as dietas e recomendações in- dicadas, estimular e auxiliar a alimentação e, se É aquele que presta cuidados à pessoa idosa no necessário, preparar os alimentos; domicílio, com ou sem vínculo familiar, e que não é ■■ Medicações: administrar os medicamentos por remunerado. via oral e os que devem ser aplicados na pele, nos Podem ser de gêneros diversos, pertencentes ou horários indicados pelo médico e de acordo com não à família que possui idoso em casa e se identi- as suas instruções; ficam com as atividades pertinentes do cuidado ao ■■ Atividades físicas: apoiar o idoso em caminha- idoso. Deve ser alfabetizado, gozar de estado físico e das, ajudando-o também em outros exercícios mental saudável, possuir noções básicas do cuidado recomendados por profissionais especializados; ao idoso e compreensão mínima do processo de en- ■■ Compras: adquirir alimentos, medicamentos e velhecimento humano. Os cuidados básicos com os objetos de uso diário, quando esta tarefa tiver idosos são constituídos pela: prevenção de quedas; sido combinada com a família; limpeza do ambiente; mudança de posição; estímulo ■■ Lazer, trabalho e atividades fora de casa: à movimentação e condução, quando necessária, da acompanhar o idoso, conversar sobre assuntos de sua movimentação; controle de uso de medicamen- seu interesse, assistir à televisão, ajudar em traba- tos; e a higiene pessoal. Vários estudos demonstram lhos manuais, acompanhá-lo a festas, cerimônias que um dos principais fatores que contribuem para religiosas, consultas médicas, exames, idas ao garantir a manutenção da saúde é a compreensão banco, entre outros; dos mecanismos de equilíbrio das funções corpo- ■■ Estimulação: incentivar o idoso a descobrir tudo o rais.8 O idoso e seu cuidador devem compreender o que gosta de fazer, a tomar decisões, a cooperar com funcionamento do corpo humano; conhecer o meca- algum trabalho, a manter a prática de autocuidado, nismo das principais doenças, a capacidade adapta- além de apoiar e estimular a vida social de modo a tiva diante de situações de incapacidade e a manu- permanecer ativo e participativo para sentir-se valo- tenção da autonomia; procurar reduzir o custo para rizado, preservando a autoestima. O convívio deve obtenção de melhores condições de saúde e da qua- ser incentivado pela comunicação, socialização por lidade de vida; e promover mudança dos valores de meio de convívio, recreação e lazer. bem-estar biopsicossocial-cultural-espiritual de seus familiares.8 Todos os cuidadores, independentemen- te do nível funcional do idoso, deverão passar por Cuidador formal algum tipo de treinamento. O sentimento de eficácia é fundamental para a garantia do bem-estar. Esse É a pessoa capacitada para auxiliar o idoso que sentimento provém da possibilidade de realização apresenta limitações para realizar as atividades e ta- de atividades que tenham valor individualizado. É refas da vida cotidiana, unindo-o idoso à sua família comum que idosos com comprometimento funcional e aos serviços de saúde ou da comunidade. Esse tra- devido à vigência de doenças crônicas, tais como de- balhador geralmente é remunerado pela função que mência, sequelas de acidente vásculo-encefálico ou exerce. pneumopatias graves que requeiram uso de oxigênio São requisitos a serem respeitados por esse cui- domiciliar, percam esse sentimento de eficácia que, dador: 1. ter completado o ensino fundamental; 2. ter no decorrer da vida, está fortemente associado às ati- mais de 21 anos de idade; 3. submeter-se a treinamen- vidades profissionais. A função do cuidador informal, to específico ministrado por instituição reconhecida, portanto, é auxiliar e/ou realizar atenção aos idosos em observância a conteúdo oficialmente aprovado Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91 85
  • 6. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado para atuar junto às pessoas idosas; 4. gozar de condi- ■■ Divulgar, por meio da mídia e da rede de apoio, a ções físicas e psíquicas saudáveis e possuir qualida- existência de maus-tratos ao idoso. des éticas e morais, além da necessária identificação com as atividades a serem desenvolvidas.8 O cuidador formal, portanto, representa instru- Condutas básicas na atenção integral à mento de ajuda para que os idosos possam realizar as suas atividades diárias, receber os medicamentos saúde prescritos por via oral, ser auxiliados na sua deam- bulação e mobilidade, ter a organização de seu am- Os cuidados mínimos necessários para que o biente protetor e seguro organizado e acesso a dis- idoso tenha vida digna e de qualidade depende da positivos de ajuda (equipamentos), ter conforto físico instituição de ações preventivas caracterizadas, em e psíquico, receber estímulo para o relacionamento especial, pela imunização contra gripe, difteria-téta- e contato com outras pessoas e participar de ativi- no, pneumococo, febre amarela e o cuidado com as dades recreativas e sociais. O cuidador, além disso, quedas. As quedas relacionam-se, em geral, ao dese- confere sinais vitais, reconhece sinais de alterações quilíbrio provocado por algumas doenças, efeitos de (alerta) e presta socorro em situação de urgência. certos medicamentos e às condições ambientais de sua habitação. A casa do idoso constitui-se em pre- ocupação especial, é necessário que tenha lumino- Maus-tratos na velhice sidade adequada; mobiliário baixo, sem almofadas ou quinas pontiagudas; tapetes pequenos e colados Cuidar de idosos, em especial dos semidependen- ao chão; escadas e rampas com antiderrapantes nos tes ou dependentes, é tarefa difícil, exaustiva, que degraus, com barras condutoras de apoio facilmente exige dedicação e paciência, sendo, entretanto, fonte disponíveis às mãos. Deve ser avaliado o uso de ca- de satisfação e autorrealização. É comum, portanto, deira de banho e de bengalas ou andadores. que na ausência de tolerância ocorram abusos ou ne- gligência que resultam em riscos de maus-tratos. A atitude diante de riscos de maus-tratos requer: Cuidados gerais ■■ Aceitar que existem e que possuem efeito destruti- vo na qualidade de vida dos idosos e do cuidador; Os aposentos devem ser arejados e iluminados, ■■ Reconhecer o direito dos idosos à sua autonomia; limpos e, caso aprecie, a música ambiente pode ser ■■ Procurar dividir esta tarefa com outras pessoas da uma ótima opção. O idoso acamado precisa ser mu- família, da comunidade ou de grupos de autoaju- dado de posição de 2/2 horas; e, quando em decúbi- da. A possibilidade de algum tempo livre para o to dorsal, deve ser acomodado com travesseiros ou cuidador permitirá que ele possa se dedicar ao rolos de espuma embaixo dos joelhos e calcanhares. seu autocuidado; O posicionamento em decúbito lateral requer a insta- ■■ Infundir ânimo no idoso para a vida e o viver; lação de um travesseiro sob a perna que estiver por ajudá-lo a ser ativo, a buscar ocupação e a reali- cima. A cama do paciente deve, preferencialmente, zar algum ideal. O ânimo devolve ao cuidador os ter o colchão atingindo a altura da parte inferior das aspectos positivos dos cuidados, diminui o estres- nádegas, facilitando o deitar sem muito esforço. Os se e possibilita relação adequada cuidador/idoso; tapetes devem ser bem fixados ou então removidos. ■■ Facilitar a criação de grupos de autoajuda; O banheiro precisa ter portas largas que permitam a ■■ Refletir diariamente se, mesmo sem querer, houve passagem de cadeira de rodas, ter barras de apoio e algum ato que possa ter sido de maus-tratos, pro- piso antiderrapante. Escadas devem ser substituídas, curando, neste caso, desculpar-se junto a seu fa- sempre que possível, por rampas. miliar, identificar as razões e buscar as soluções; ■■ Procurar ajuda caso receba alguma forma de maus-tratos nas redes de apoio existentes; Cuidados com os medicamentos ■■ Denunciar a quem de direito o fato, caso assis- ta ou tenha conhecimento de alguma forma de Devem ser armazenados em local limpo e de fá- maus-tratos; cil acesso, fora do alcance de crianças e de animais, 86 Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
  • 7. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado protegidos da luz solar, do calor e da umidade e sepa- alimentação rados de produtos de limpeza, perfumaria e alimen- tos. Não devem ser mantidos em locais como cozinha A alimentação deve ser oferecida pelo cuidador e banheiro. Não guardar medicamentos que não es- com o especial cuidado de verificar a sua tempera- tejam sendo mais usados pelo paciente e não manter tura e o prazo de validade dos alimentos oferecidos. conjuntamente remédios pertencentes a outrem. A alimentação saudável pode ser resumida em: va- riedade, moderação e equilíbrio. Deve ser composta diariamente por: Higiene pessoal ■■ alimentos energéticos, como: arroz, aveia, trigo, milho, centeio, cevada e farinhas derivadas des- O banho, sempre que possível, deve ser dado no ses cereais, massas em geral, bolo, pães, batatas, chuveiro. O banho no leito, se necessário, requer o uso inhame, cará, mandioca, polvilho, óleos vegetais, de sabonete neutro; sem bucha para esfregar a pele, azeites, gordura vegetal hidrogenada, margarinas, que já é bem afilada; com preferência para o uso de cremes vegetais, manteiga, bacon, toucinho, cre- água morna. A pele deve ser logo secada após o banho, me de leite, sendo que os produtos citados a par- seguida de hidratação com creme ou vaselina líquida; tir dos óleos devem ser consumidos em pequenas com vestimentas adequadas à temperatura ambiente. quantidades; A higiene oral deve ser feita com a cabeceira do ■■ vitaminas, minerais e fibras, compostas de todas leito elevada, após cada refeição, observando-se se as frutas, verduras, legumes e cereais integrais; há sangramentos. As próteses devem ser escovadas ■■ proteínas: carnes, ovos, leite, queijos, iogurtes, com cerdas duras, seguindo-se de limpeza da gen- coalhadas, além de leguminosas como feijão, giva e língua com gaze umedecida em água filtrada soja, lentilha, grão de bico e ervilha.8 e solução antisséptica, envolvida em uma espátula, três vezes ao dia. A prótese, quando não estiver em O idoso deve comer devagar e em local tranquilo; fa- uso, deve ser guardada em recipiente fechado com zer cinco a seis refeições ao dia, mantendo intervalo de tampa. As pessoas com perda de peso devem ter sua três horas entre elas; ingerir líquidos (seis a oito copos prótese reavaliada, uma vez que a adaptação inade- ao dia) pelo menos uma hora antes ou após as refeições. quada pode comprometer a alimentação. Ao termi- Todas as refeições devem conter alimentos ener- nar a higiene oral, hidratar os lábios com batom ou géticos, vitaminados e proteinados. Devem ser preferi- manteiga de cacau. das as preparações assadas, grelhadas ou preparadas Os cuidados com a pele são necessários porque no vapor; e evitadas as frituras e alimentos industria- esta representa a barreira principal de proteção do lizados. É preferível a administração de frutas frescas organismo. O envelhecimento promove diversas e com casca; sem adição de sal às refeições (retirar modificações dérmicas, o que torna idosos e pa- o saleiro da mesa); e redução de consumo de doces, cientes acamados mais vulneráveis ao risco de for- bolos, biscoitos e outros alimentos ricos em açúcar e mação de feridas. A formação de feridas pode ser gorduras. O peso deve ser monitorizado para avaliar predisposta pela: desidratação, desnutrição, umi- a sua estabilidade (perda ou ganho).8 dade, atrito da pele com outras superfícies, imobili- dade, alteração da circulação local, doenças como diabetes e neuropatias, traumas, transferência do Distúrbios do sono paciente. Para a prevenção do desenvolvimento de úlceras de pressão (escaras), é necessária a mudan- O envelhecimento pode provocar algumas modi- ça frequente de decúbito; hidratação da pele ínte- ficações fisiológicas no padrão do sono, em especial gra; uso de colchão piramidal (caixa de ovo), coxins tornando-o superficial, percebido como sono leve, e travesseiros para alívio da pressão sobre a pele; e menos satisfatório; com propensão a dormidelas estímulo à movimentação; avaliação diária da pele; diurnas e sonolência vespertina; e dificuldade em ini- manutenção adequada da higiene corporal; troca ciá-lo e mantê-lo à noite (despertar precoce).8 A quali- de fraldas sempre que necessário; oferta de dieta dade do sono pode ser afetada também por algumas especial rica em proteínas e minerais para ajudar doenças, pelo uso de medicamentos, bem como pela na cicatrização. mudança do ambiente de dormir. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91 87
  • 8. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado As doenças mais comuns que comprometem esse intestinais. Estabelecer um horário para a evacuação, padrão são: depressão, quadros demenciais e aciden- de preferência pela manhã ou após a refeição. Deve tes vasculo-encefálicos (AVE).8 ser estimulada a ingestão adequada de líquidos (1,5 A “higiene do sono” representa a aplicação de me- a 2,0 L/dia). O paciente deverá ser avaliado (médico, didas capazes de minimizar essas alterações, carac- nutricionista), quando não há resolução com as medi- terizadas por: criação de ambiente favorável ao sono, das anteriores, para orientação de tratamento especí- constituído por hábitos que “sinalizem” a aproxima- fico. A formação de fecaloma constitui complicação ção do horário de dormir, como preparo da cama, temida, promovendo, muitas vezes, a internação do roupa apropriada, conforto no leito, banho morno, paciente; 3. pneumonia aspirativa: manter a cabecei- ingestão de leite morno ou de chás relaxantes e apli- ra do leito sempre em elevação de 30 a 45º durante cação de massagens; delimitação de contraste entre e após a alimentação; 4. infecção do trato urinário dia e noite (diminuição da luminosidade e barulhos (ITU): os principais sinais de alerta sugestivos de ITU no fim da tarde, estimulação do idoso com atividades são ardência/dor ao urinar (disúria); alteração de cor e exercícios durante o dia e banho de sol). O cochilo, e cheiro da urina; diminuição da diurese; resíduos e quando presente, deve ser inserido em horário regu- grumos (depósitos) em pacientes com sonda vesical lar; com o estabelecimento de rotina diária bem esta- de demora; incontinência urinária. Os idosos podem belecida; evitar o uso de estimulantes a partir do al- responder à infecção apenas com prostração, hiporre- moço (bebidas que contenham cafeína – chás mate xia ou piora funcional. A prevenção da ITU relaciona- e preto, café, achocolatados e refrigerantes, cigarros se com a higiene adequada da região genital e com as e bebidas alcoólicas) e de exercícios físicos antes de trocas frequentes de fraldas. Deve ser feita com muita dormir. Os exercícios devem ser feitos, preferencial- frequência a oferta de líquido para ingestão ao idoso, mente, pela manhã ou à tarde. Os pacientes com re- para evitar que a urina fique muito concentrada, o que fluxo ou azia não devem ingerir alimentos próximo a torna meio próprio para reprodução de microrga- do horário de dormir. A administração de diuréticos nismos. A retenção urinária deve ser evitada, quando deve ser preferencialmente matutina. houver indicação, por intermédio do uso de sondas. A higiene diária em pacientes com coletor urinário re- quer o uso de sabão neutro, para evitar traumatismos intercorrências e infecções nos órgãos genitais. O coletor não deve es- tar apertado para não estrangular o corpo peniano, no Alguns procedimentos devem ser feitos para pre- caso do homem, devendo ser esvaziado sempre que venir intercorrências9, como no caso de 1. diarreia: necessário. Os pacientes que usam cateter vesical de seguir as orientações de higiene do próprio cuidador, demora devem ter a bolsa esvaziada diariamente e o de utensílios e de alimentos. Desde o início da diar- aspecto da urina deve observado quanto à cor, odor, reia, promover a reposição hídrica, de preferência quantidade e presença de grumos e coágulos. O cir- oral, em doses fracionadas e/ou após cada episódio cuito de drenagem vesical deve ser clampado quando de evacuação. Oferecer em tomo de 150 mL após cada o paciente for movimentado e sempre adequadamente evacuação diarreica. A dieta não deve ser suspensa, posicionado; 5. desidratação: a oferta de líquidos deve pois o paciente já está em processo de mais consu- ser feita com frequência. Os pacientes com disfagia mo de energia. Substituir o leite de vaca pelo de soja, geralmente apresentam tosse e/ou engasgos ao rece- desde que não haja alergia aos seus componentes; e berem líquidos e, nesses casos, deve ser usado pó es- excluir as frutas laxativas (laranja, mamão, manga, pessante para garantir o fornecimento adequado. Nos ameixa) da dieta. Acrescentar frutas constipantes casos de perda por vômitos, diarreia, febre e sudorese (caju, limão, banana, goiaba e maçã coada com a cas- aumentada, oferecer soro caseiro e entrar em contato ca); 2. constipação intestinal: suspender ou substituir, com o nutricionista ou o médico-assistente.10-13 se possível, medicamentos obstipantes após orienta- ção médica. Acrescentar à dieta os sucos laxativos. Estimular exercícios físicos (respeitando os limites de sinais de alerta cada idoso) para fortalecer a prensa abdominal. Nos pacientes restritos ao leito, fazer exercícios passivos e É fundamental que a família e cuidadores fiquem massagear o abdômen para estimular os movimentos atentos às modificações apresentadas em qualquer 88 Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
  • 9. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado momento pelo paciente e observem alguns parâ- to. A transmissão da experiência de vida a outros metros, que podem estar associados a doenças ou grupos etários, ou mesmo para outros idosos, pode infecções. A temperatura axilar média normal é em ser exercida em associações de aposentados e de ex- tomo de 36,8°C. No adulto considera-se febre a iden- alunos/professores em escolas. Deve ser ressaltada a tificação de temperatura axilar igual ou acima de importante colaboração do idoso para o resgate da 37,2°C. O aumento da temperatura corpórea pode memória cultural, pelas experiências vividas e co- ser revertido com o uso de paracetamol e dipirona. nhecimentos acumulados. O aumento da oferta de líquidos previne a desidra- tação. A hipotermia (temperatura axilar abaixo de 34°C) também constitui sinal de alerta e o paciente Papel desses recursos deve ser aquecido com cobertores, além de ser ne- cessária avaliação médica. A frequência respiratória Para atender à finalidade exposta e, em última pode ficar alterada em doenças, principalmente nas análise, para promoção da saúde, vão aos poucos pneumopatias, além de ser influenciada pela dor e surgindo os programas e serviços. Os primeiros são ansiedade. É importante observar o padrão ventilató- destinados a toda a comunidade e os últimos à pes- rio do paciente para surpreender alguma dificuldade soa e à família. Assim, têm origem os grupos de con- para ventilar e a cianose de extremidades (coloração vivência, recurso que proporciona ressocialização azulada ou arroxeada). O nível de consciência dos e o exercício da indispensável mobilidade, com op- portadores de quadros demenciais pode apresentar, ções para os idosos se sentirem independentes e to- com frequência, oscilação e alterações de comporta- marem iniciativas. Podem colaborar para a expansão mento, tornando-se, por exemplo, confusos ou agita- desses programas os sindicatos, as escolas, as igrejas dos, entre outras manifestações. Alterações bruscas e os clubes sociais que dispõem de áreas parcialmen- do nível de consciência (confusão mental, prostra- te ociosas. ção) devem ser relatadas aos profissionais de saúde, Evidencia-se a necessidade de as comunidades pois podem estar associadas a doenças. se equiparem com recursos que garantam aos idosos a possibilidade de continuarem vivendo no seu am- biente social, da mesma forma que as comunidades reCUrsos institUCionais e CoMUnitÁrios reconhecem e defendem a necessidade de creches e reivindicam a sua instalação. Importância para a integração social do idoso Programas para os idosos proliferam nas cida- des brasileiras e são exemplos privilegiados para Durante muitos anos o recurso mais comum para demonstrar que a experiência de envelhecimento o atendimento ao idoso foi o asilo, reconhecida a ne- pode ser vivida de maneira distinta. As universidades cessidade de abrigo e proteção por abandono ou ine- abrem-se aos idosos, o turismo é direcionado para xistência do grupo familiar. A partir da década de 70, eles e outras iniciativas vão sendo implementadas. quando o processo de envelhecimento brasileiro se Na área da saúde também os recursos vão sur- acelerou, novos recursos foram necessários e criados gindo para atender a esta crescente demanda. Sur- para atender às necessidades e anseios manifestados gem ambulatórios geriátricos e unidades geriátricas pelo número crescente de idosos. em hospitais. Cresce a necessidade de outros mo- Reconhecendo que a dimensão social do ser hu- delos de assistência, como o hospital-dia e centros mano não se esgota no lar, os recursos institucionais diurnos. Esses centros constituem alternativa pouco e comunitários se voltam para a integração social do experimentada, embora seja um importante recurso idoso. Não ter aonde ir prejudica a capacidade de fa- de apoio à família, para garantir que ao idoso sejam zer novas relações, dialogar sem medo, movimentar- proporcionados os cuidados necessários, sem afastá- se sem as limitações que tornam o idoso circunscrito lo do grupo familiar. O hospital-dia tem a finalidade em seu domicílio, fazendo desaparecer a iniciativa, a de proporcionar tratamento médico, de reabilitação criatividade e o desejo de se atualizar. e de manutenção do estado físico, além de cuidados O compromisso cívico e político dos idosos com de enfermagem e assistência social. a comunidade e a sociedade é cada vez mais intenso Os recursos institucionais e comunitários, gover- e relaciona-se com a sua autonomia e discernimen- namentais ou não, devem atender às necessidades Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91 89
  • 10. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado dos idosos, como também oferecer apoio e suporte sua autonomia e independência para melhorar a sua à família. Assim, na rede de apoio à ação da família qualidade de vida. O conhecimento das garantias dis- nos cuidados a serem dispensados aos idosos, consti- postas no Estatuto do Idoso é uma forma de fazer com tuem-se recursos fundamentais as palestras e cursos que ele ocupe seu merecido espaço na sociedade. Ou- que elucidem as características da velhice. tra forma de estimulá-lo é intervindo nas suas ativida- Integram a rede de apoio as associações de por- des da vida diária, considerando sua capacidade na tadores da doença de Alzheimer, de deficiências vi- execução de tarefas simples como tomar banho, vestir suais, auditivas e físicas, Programa de Saúde da Fa- e alimentar-se. Nas situações de dependência (parcial mília, agentes de saúde, serviços especializados de ou total), cabe aos especialistas identificar e instruir os enfermagem, fisioterapia, terapia ocupacional em do- cuidadores no desempenho de suas (difíceis) atribui- micílio, como exemplos das tantas alternativas para ções da maneira mais eficiente possível. Quem cuida atendimento ao idoso na comunidade. ou já cuidou de algum paciente totalmente dependen- te para as atividades da vida diária sabe que muitas vezes as situações são difíceis e estressantes. o paciente terminal Para cuidar bem de alguém, é necessário minimi- zar o estresse do dia-a-dia e investir em conhecimen- O desenvolvimento tecnológico proporcionou o to, lazer, além do autocuidado. Devem ser definidas envelhecimento significativo da população huma- prioridades como o equilíbrio entre trabalho e des- na. Existe um determinado momento na evolução canso e investimento em conhecimentos e experiên- de uma doença em que, mesmo que se disponha de cias, lazer, arte e criatividade. O angustiante despre- todos os recursos tecnológicos, a morte torna-se pro- paro dos familiares diante do cuidado com o idoso cesso irreversível. acamado revela a necessidade urgente de criação de O paciente terminal é o que se encontra além da formas de orientação aos cuidadores e de condutas possibilidade de terapêutica curativa e necessita de fundamentais para o paciente. Isto pode ser feito por tratamento paliativo, visando ao alívio de inúmeros intermédio de equipes multiprofissionais, de especia- sintomas que o atormentam, sempre levando em con- listas ligados a hospitais, Unidades de Pronto Atendi- sideração a possível melhoria da qualidade de vida, mento (UPA), clínicas ou Centros de Saúde, da pro- de maneira global. Cabe estar ao lado do paciente, moção de palestras e/ou capacitação do responsável para que ele se sinta amparado no processo de viver pelo cuidado, durante a visitação domiciliar. e morrer com dignidade. reFerÊnCias ConsideraçÕes Finais 1. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Anuário es- tatístico do Brasil: 1993. Rio de Janeiro: IBGE; 1993. v. 53. A população brasileira está em processo de en- velhecimento, embora isso venha acontecendo em 2. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Censo De- mográfico 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2000. [Citado em: 2009 jan. ritmos diferentes de região para região. Esse proces- 20].Disponível em: http://www.sidra.ibge.gov.br/. so deve ser considerado ao se decidir pelo planeja- 3. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE. Pesquisa Na- mento de estratégias em relação às políticas próprias cional por Amostra de Domicílios - PNAD. Censos Demográfico, envolvendo saúde/previdência. Essa transformação 1991, 2000 e Contagem populacional 1996. Rio de Janeiro: IBGE; demográfica causa impacto significativo sobre os 2000; custos do estado à medida que os problemas crôni- 4. Chaimowicz F Health of the Brazilian elderly population on the . cos dos idosos relacionam-se à sua saúde e ao seu eve of 21st century: current problems, forecasts and alternatives. papel social. Isto requer o uso de mais infraestrutura, Rev Saúde Pública. 1997 Abr; 31(2)184-200. de tecnologias mais complexas e de profissionais ca- 5. Organização Mundial de Saúde-OMS. Constituição da Organiza- pacitados, o que torna as intervenções mais onerosas ção Mundial da Saúde . Nova Iorque: OMS/WHO; 1946. a partir da permanência em lares para idosos ou in- 6. Organização Mundial de Saúde. Promovendo qualidade de vida após acidente vascular cerebral: um guia para fisioterapeu- ternações hospitalares. tas e profissionais de atenção primária à saúde. Porto Alegre: Cabe aos profissionais de saúde atuação preventi- Artmed, 2003. va, caracterizada pelo estímulo ao idoso, preservando 90 Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91
  • 11. Saúde do idoso: orientações ao cuidador do idoso acamado 7. Pinto JLG, Oliveira ACG, Mangini SCB, Carvalhaes MABL. Carac- 10. Leal A, Rangel B, Moro LBEF Schuwinski PR, Osborne SA. AVC: , terísticas do apoio social oferecido a idosos de área rural as- Guia Prático de prevenção & cuidados. Belo Horizonte: Clínica sistida pelo PFS. Ciên Saúde Coletiva. 2006 jul-set; 11(3):753-64. Neurológica Unicentro; [20--]. 8. Belo Horizonte. Prefeitura de Belo Horizonte. Secretaria Mu- 11. Mello MMAF Perracini MR. Avaliando e adaptando o ambiente , nicipal de Saúde. Gerência de Assistência. Coordenação de doméstico. In: Duarte YAO, Diogo MJ. Atendimento domiciliar: Atenção à Saúde do Idoso. Protocolo de avaliação admissional um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu; 2000. cap. 14, p. multidimensional do idoso institucionalizado. Belo Horizonte: 187-99. PBH/SMS; jan. 2004. 12. Neistadt ME, Crepeau EB. Willard & Spackman: terapia Ocupa- 9. Unimed. A importância do uso de atividade com idosos. Adap- cional. 9. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2002. cap. 1, tando o Ambiente. Capacitação de Cuidadores, Terapia Ocupa- p.3-9. cional. Belo Horizonte: Unimed; [20--]. Apostila. 13. Veras RP Envelhecimento populacional do Brasil: mudanças . demográficas e desafios epidemiológicos. Rev Saúde Pública. 1991 dez; 25(6):476-88. Rev Med Minas Gerais 2010; 20(1): 81-91 91