SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 8
Descargar para leer sin conexión
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




                                                              Infecção do Trato Urinário no Idoso




                                                                 Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia
                                            Elaboração Final: 28 de maio de 2004
                                                  Participantes: Pompeo ACL, Pompeo AMSF, Rocha LCA, Carrerette
                                                                      FB, Araújo JFC, Carneiro KS




                                             O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal
                                                   de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar
                                            condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas
                                            neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta
                                                                       a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente.

                                                                                                                                            1
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




DESCRIÇÃO DO MÉTODO DA COLETA DE EVIDÊNCIA:
Levantamento bibliográfico de artigos que apresentam níveis de evidências
de A a D, de acordo com o Projeto de Diretrizes da AMB/CFM. Esta revisão
buscou a padronização dos procedimentos diagnósticos, terapêuticos e profiláticos
sobre o tema, apontando informações científicas que permitem recomendações
e contra-indicações.

GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA:
A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência.
B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência.
C: Relatos de casos (estudos não controlados).
D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos
   fisiológicos ou modelos animais.

OBJETIVO:
Oferecer um guia prático, adequado à realidade brasileira, destacando as
melhores evidências disponíveis relacionadas ao diagnóstico, tratamento e
profilaxia das infecções não complicadas no idoso.

CONFLITO DE INTERESSE:
Nenhum conflito de interesse declarado.




2                                                                          Infecção do Trato Urinário no Idoso
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




                                                              INTRODUÇÃO

                                                         A proporção de pacientes idosos, com mais de 65 anos, é
                                                     crescente e doenças relacionadas a esta faixa etária passaram a ter
                                                     grande interesse médico-social1,2(D). Os processos infecciosos,
                                                     particularizando as infecções do trato urinário (ITU), têm
                                                     incidência progressiva porque os idosos apresentam mais fatores
                                                     de risco 1,2(D). Reconhecidamente, a ITU, sintomática ou
                                                     assintomática (bacteriana), é a infecção mais freqüente, indepen-
                                                     dentemente do sexo, estimando-se que acometa aproximadamente
                                                     20% das mulheres e 10% dos homens idosos. Esta prevalência
                                                     praticamente se duplica após os 80 anos, quando as diferenças
                                                     entre mulheres e homens são menores3(D).

                                                         Favorece este aumento de ITU a imunodeficiência relacionada
                                                     à idade, as alterações funcionais e orgânicas do trato geniturinário,
                                                     imobilidade e a presença de doenças sistêmicas4-6(D).

                                                         Nos homens, merece destaque o aumento prostático que dificulta
                                                     o esvaziamento vesical, favorecendo a estase e a aderência bacteriana.
                                                     Na mulher, o enfraquecimento do assoalho pélvico, a redução da
                                                     capacidade vesical, a secreção vaginal, a contaminação fecal e as alte-
                                                     rações tróficas do epitélio pela queda dos níveis hormonais facilitam
                                                     sobremaneira a ITU e devem receber atenção dos médicos. Desta-
                                                     que-se, ainda, que o uso prévio de antibióticos possa favorecer o
                                                     aparecimento de infecções causadas por germes mais resistentes4,5(D)

                                                        As ITUs podem ser sintomáticas, assintomáticas, complicadas
                                                     ou não complicadas.

                                                         Caracterizam-se como ITUs não complicadas aquelas que não
                                                     se acompanham de alterações anatômicas, doenças locais (ex:
                                                     calculose) ou sistêmicas que favoreçam ou potencializem a colo-
                                                     nização ou a invasão infecciosa tecidual. Em contrapartida, as
                                                     ITUs complicadas são acompanhadas daqueles fatores2,3(D).

                                                              DIAGNÓSTICO

                                                       O achado de bacteriúria assintomática é muito freqüente e,
                                                     em geral, não tem significado clínico importante. Resulta da



Infecção do Trato Urinário no Idoso                                                                                       3
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




avaliação preventiva ou de portadores de outras               c) Que medidas clínicas, além de antibióticos,
doenças orgânicas1,7(D).                                         podem ter utilidade?
                                                              d) Quais as orientações higieno-dietéticas?
    A avaliação de pacientes que apresentam
sintomas/sinais geniturinários é indispensável.                   Como norma geral, pacientes idosos com
Aqui, além de rigoroso exame físico, exames                   bacteriúria assintomática não devem ser tratados
de urina com cultura e antibiograma, depen-                   com antibióticos, pois existe o risco desneces-
dendo do quadro clínico, devem ser realizados                 sário de seleção de bactérias mais resistentes, da
exames de imagem (US, urografia, TC)2,8(D).                   interação e reação alérgica às drogas, além dos
                                                              custos do tratamento. Aumento de hidratação
    Destaque que pacientes idosos podem apre-                 e deambulação dos enfermos é recomendável.
sentar sintomas pouco característicos de infec-               Essa regra não deve ser seguida em algumas si-
ção urinária. Assim, não raramente quadros de                 tuações, como nos casos de obstruções do trato
                                                              urinário, quando houver necessidade de proce-
pielonefrite aguda se exteriorizam com sintomas
                                                              dimento invasivo e em doenças com potencial
gastrintestinais, com dores abdominais
                                                              de interferir com a resposta orgânica, como o
incaracterísticas, náuseas e vômitos. A febre pode
                                                              diabete não compensado11(D)12(A).
estar ausente, assim como a leucocitose, devido
à resposta orgânica anormal no idoso2,6,8(D).
                                                                  Segundo a Organização Mundial da Saúde
                                                              (1995), as infecções, em geral, constituem
    Etiologia
                                                              a maior causa de morte e destaca, ainda, a
    O agente bacteriano mais comum nas ITUs                   crescente resistência bacteriana, o que determina
é a E. coli (90%). Outras bactérias representadas             cuidados com o uso de antibióticos, quando
com maior freqüência nos idosos que nos                       necessário.
jovens são: Proteus, Klebisiella, Enterobacter
cloacal, Citrobacter fecundii, Providenciae stuantii              Reconhece-se que clones de E. coli, respon-
e Pseudomonas aeruginosa. Entre os organismos                 sáveis por aproximadamente 50% das infecções,
gram-positivos, os estafilococos, enterococos e               são resistentes às associações trimetoprin-
o estreptococo grupo B são os mais                            sulfametoxazol. Deve-se sempre basear a tera-
freqüentemente isolados1(D)9(C)10(B).                         pêutica no teste de sensibilidade bacteriana aos
                                                              antibióticos, após o que se faz a escolha baseada
     TRATAMENTO                                               na concentração local do fármaco, via de admi-
                                                              nistração, tolerabilidade e custos. Embora não
    Nas infecções urinárias não complicadas,                  seja o ideal em pacientes com sintomas muito
algumas questões devem ser definidas:                         intensos, a antibioticoterapia é iniciada imedi-
                                                              atamente após a colheita da urina para exames
a) Quem necessita de tratamento com antibi-                   que podem alterar, após conhecimento dos
   óticos?                                                    resultados, a medicação escolhida previamente4(D).
b) Naqueles com indicação terapêutica – quais
   agentes antimicrobianos devem ser empre-                      As bactérias que causam ITUs no idoso são,
   gados e qual a duração do tratamento?                      em geral, mais resistentes do que na popula-



4                                                                                  Infecção do Trato Urinário no Idoso
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




ção mais jovem, porque a maior freqüência                         A recidiva de ITU sintomática deve ser tra-
desses processos, habitualmente, requereu re-                 tada por período mais longo (duas semanas).
petidos ciclos de antibióticos que originaram a               Nos homens, o tratamento das cistites não com-
seleção de agentes.                                           plicadas difere, pois não são candidatos a regi-
                                                              mes curtos e devem receber tratamento por sete
    A pielonefrite aguda ou quadro febril sus-                a 14 dias14(D)15(A).
peito de origem urinária deve receber trata-
mento imediato pelos riscos de sepse. Em                         PREVENÇÃO
geral, o início da terapêutica é empírico. Como
o agente infectante, normalmente, é gram-                          Existem várias maneiras de fazer prevenção
negativo, devem-se escolher agentes efetivos                  da ITU recorrente, entre as quais se incluem a
como as fluoroquinolonas, trimetoprin-                        profilaxia com baixas doses de agentes
sulfametoxazol, aminoglicosídeos e as                         antimicrobianos por longo tempo, estrógeno
cefalosporinas de 3 a geração11,13,14(D). A du-               tópico intravaginal, hidratação, micções
ração do tratamento não deve ser inferior a                   freqüentes e vacinas antiadesivas 14,16 (D)
duas semanas. Uma opção mais curta é o uso
                                                              15,17,18
                                                                      (A)19,20(B).
de dose inicial de aminoglicosídeo, seguida de
uma semana de fluoroquinolona. Recidivas de                       É conhecido que o estrogênio restaura o epitélio
                                                              vaginal, uretral e trigonal, favorecendo o
infecção com a mesma bactéria podem signi-
                                                              reaparecimento da flora vaginal pré-
ficar anormalidade do trato urinário, o que
                                                              menopausa16(D)17(A). Um estudo prospectivo re-
requer avaliação mais intensa.
                                                              porta a redução de ITUs de 5,9 episódios por ano,
                                                              no grupo placebo para 0,5 episódio, no grupo que
    Nas cistites não complicadas da mulher,                   recebeu estrógeno vaginal. Além disso, nessas pa-
três dias de antibioticoterapia, em geral, é                  cientes, o lactobacilo apareceu em 60% dos casos,
adequado11(D). A associação sulfametoxazol-                   ao contrário do primeiro grupo, em que houve
trimetoprin é, neste particular, muito em-                    desenvolvimento apenas de enterobactérias. Des-
pregada pela relação custo-benefício. Estu-                   taque-se, ainda, que o pH vaginal caiu de 5,5± 0,7,
dos clínicos mostram também uma eficácia                      antes do tratamento para 3,6± 1,0, ou seja, tor-
muito significativa das fluoroquinolonas. Os                  nou-se mais ácido e, portanto, menos favorável ao
beta-lactâmicos têm índices de recorrência                    desenvolvimento das enterobactérias21(A).
mais altos e, quando empregados, o trata-
mento deve ter duração de pelo menos uma                         O uso de estrógenos por via oral (3 mg/dia),
semana. Mulheres idosas têm índices de                        por outro lado, não mostrou benefícios na
recorrência de ITUs maiores que as jovens,                    profilaxia das ITUs nas mulheres idosas, não
o que significa tratamentos por períodos de                   havendo, portanto, indicação do seu emprego
sete a 10 dias 14(D)15(A).                                    com este objetivo14(D)18(A).




Infecção do Trato Urinário no Idoso                                                                             5
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




                                                              DIRETRIZES

     •     Bacteriúria assintomática não deve ser tratada com antibióticos, salvo situação urológica, como
           obstrução do trato urinário ou portadores de doenças que interfiram com a resposta orgânica
           (ex.: diabete)11(D)12(A).

     •     Infecção urinária sintomática deve ser tratada com antibióticos baseados nos testes de sensibilidade,
           tolerabilidade, concentração local, interação medicamentosa, função renal e custos4(D).

     •     As cistites bacterianas, em mulheres, podem ser tratadas por curto período - 3 dias; nos homens,
           a duração do tratamento deverá ser de sete a 10 dias11(D) 12(A).

     •     As fluoroquinolonas, associações de sulfametoxazol trimetoprina, aminoglicosídeos
           e cefalosporinas de 3a geração constituem os antibióticos mais empregados14(D).

     •     As pielonefrites devem ser tratadas por períodos de duas a quatro semanas14(D).

     •     O tratamento com estrógeno vaginal em mulheres menopausadas é um meio eficaz de prevenir
           recorrência das infecções16(D)17(A).

     •     A hidratação e o estímulo às micções freqüentes contribuem para o tratamento e prevenção
           das ITUs.

     •     Antibioticoterapia em baixas doses por longo período (três a seis meses) pode ser eficaz na profilaxia
           de ITUs recorrentes19(B).

     •     Infecções sintomáticas recorrentes ou febris devem ser exploradas com métodos propedêuticos
           por imagem2(D).

     •     A resolução ou controle das causas orgânicas constitui a principal medida para evitar recorrência
           das ITUs.




6                                                                                     Infecção do Trato Urinário no Idoso
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




     REFERÊNCIAS                                              11. Warren JW, Abrutyn E, Hebel JR, Johnson
                                                                  JR, Schaeffer AJ, Stamm WE. Guidelines
 1. Matsumoto T. Urinary tract infections in                      for antimicrobial treatment of
    the elderly. Curr Urol Rep 2001;2:330-3.                      uncomplicated acute bacterial cystitis and
                                                                  acute pyelonephritis in women. Clin Infect
 2. Crossley KB, Peterson PK. Infections in the                   Dis 1999;29:745-58.
    elderly. Clin Infect Dis 1996;22:209-15.
                                                              12. Nicolle LE, Mayhew WJ, Bryan L.
 3. Merrien D. Characteristics of infectious                      Prospective randomized comparison of
    diseases in the elderly. Presse Med                           therapy and no therapy for asymptomatic
    2002;31:1517-20.                                              bacteriuria in institutionalized elderly
                                                                  women. Am J Med 1987;83:27-33.
 4. Raz P. Urinary tract infection in elderly
    women. Int J Antimicrob Agents                            13. Nicolle LE, Straussbaugh LJ, Garibaldi
    1998;10:177-9.                                                RA. Infections and antibiotic resistance in
                                                                  nursing homes. Clin Microbiol Rev
 5. Mulholland SG. Urinary tract infection.                       1996;9:1-17.
    Clin Geriatr Med 1990;6:43-53.
                                                              14. Naber KG, Bergman B, Bishop MC,
 6. Nicolle LE. Urinary tract infection in the
                                                                  Bjerklund-Johansen TE, Botto H, Lobel
    elderly. J Antimicrob Chemother
                                                                  B, et al. EAU guidelines for the
    1994;33(Suppl A):99-109.
                                                                  management of urinary and male genital
                                                                  tract infections. Urinary Tract Infection
 7. Stamm WE, Hooton TM. Management
    of urinary tract infections in adults. N Engl                 (UTI) Working Group of the Health Care
    J Med 1993;329:1328-34.                                       Office (HCO) of the European Association
                                                                  of Urology (EAU). Eur Urol
 8. Yoshikawa TT, Nicolle LE, Norman DC.                          2001;40:576-88.
    Management of complicated urinary tract
    infection in older patients. J Am Geriatr                 15. Vogel T, Verreault R, Gourdeau M, Morin
    Soc 1996;44:1235-41.                                          M, Grenier-Gosselin L, Rochette L.
                                                                  Optimal duration of antibiotic therapy for
 9. Trivalle C, Martin E, Martel P, Jacque B,                     uncomplicated urinary tract infection in
    Menard JF, Lemeland JF. Group B                               older women: a double-blind randomized
    streptococcal bacteraemia in the elderly. J                   controlled trial. CMAJ 2004;170:469-73.
    Med Microbiol 1998;47:649-52.
                                                              16. Brandberg A, Mellstrom D, Samsioe G.
10. Rahav G, Pinco E, Bachrach G, Bercovier                       Low dose oral estriol treatment in elderly
    H. Molecular epidemiology of                                  women with urogenital infections. Acta
    asymptomatic bacteriuria in the elderly. Age                  Obstet    Gynecol        Scand     Suppl
    Ageing 2003;32:670-3.                                         1987;140:33-8.



Infecção do Trato Urinário no Idoso                                                                        7
Projeto Diretrizes
Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina




17. Raz R, Stamm WE. A controlled trial of                        eradicating bacteriuria in the elderly. J
    intravaginal estriol in postmenopausal women                  Chemother 1992;4:14-8.
    with recurrent urinary tract infectious. N Engl
    J Med 1993;329:753-6.                                     20. Flanagan PG, Rooney PJ, Davies EA,
                                                                  Stout RW. A comparison of single-dose
18. Cardoso L, Benness C, Abbott D. Low dose                      versus conventional-dose antibiotic
    oestrogen prophylaxis for recurrent urinary                   treatment of bacteriuria in elderly women.
    tract infections in elderly women. Br J                       Age Ageing 1991;20:206-11.
    Obstet Gynaecol 1998;105:403-7.
                                                              21. Raz P, Stamm WE. A controlled trial of
19. Dontas AS, Giamarellou H, Staszewska-                         intravaginal estriol in postmenopausal women
    Pistoni M, Petrikkos G, Iakovou M, Tzias                      with recurrent urinary tract infections. N Engl
    V. Short vs. long cotrimoxazole courses in                    J Med 1993;329:753-6.




8                                                                                   Infecção do Trato Urinário no Idoso

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Saúde Coletiva - Aula 6 epidemiologia das doenças transmitidas por via aérea
Saúde Coletiva - Aula 6   epidemiologia das doenças transmitidas por via aéreaSaúde Coletiva - Aula 6   epidemiologia das doenças transmitidas por via aérea
Saúde Coletiva - Aula 6 epidemiologia das doenças transmitidas por via aéreaMario Gandra
 
Patologia geral material completo
Patologia geral   material completoPatologia geral   material completo
Patologia geral material completoGislei Brasil
 
Patologia aula2 conceitos gerais
Patologia   aula2 conceitos geraisPatologia   aula2 conceitos gerais
Patologia aula2 conceitos geraisGislei Brasil
 
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetoresSaúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetoresMario Gandra
 
Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239
Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239
Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239Daniberg Rimenis
 
Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010
Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010
Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010Priscila Torres
 
Introdução e divisões da patologia
Introdução e divisões da patologiaIntrodução e divisões da patologia
Introdução e divisões da patologiaEduardo Crisóstomo
 
Questões saúde pública
Questões saúde públicaQuestões saúde pública
Questões saúde públicaIsmael Costa
 
Vigilância epidemiológico aluno
Vigilância epidemiológico alunoVigilância epidemiológico aluno
Vigilância epidemiológico alunoInapex
 
Vírus hep b avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...
Vírus hep b   avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...Vírus hep b   avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...
Vírus hep b avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...Nádia Elizabeth Barbosa Villas Bôas
 
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007Alexandre Naime Barbosa
 
Nefrologia infeccao trato urinario sbp
Nefrologia infeccao trato urinario sbpNefrologia infeccao trato urinario sbp
Nefrologia infeccao trato urinario sbpMarieana Medeiros
 

La actualidad más candente (19)

Saúde Coletiva - Aula 6 epidemiologia das doenças transmitidas por via aérea
Saúde Coletiva - Aula 6   epidemiologia das doenças transmitidas por via aéreaSaúde Coletiva - Aula 6   epidemiologia das doenças transmitidas por via aérea
Saúde Coletiva - Aula 6 epidemiologia das doenças transmitidas por via aérea
 
Patologia geral material completo
Patologia geral   material completoPatologia geral   material completo
Patologia geral material completo
 
Patologia aula2 conceitos gerais
Patologia   aula2 conceitos geraisPatologia   aula2 conceitos gerais
Patologia aula2 conceitos gerais
 
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetoresSaúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
 
Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239
Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239
Newslab especial protocolos de microbiologia parte3 200872411239
 
Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010
Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010
Pcdt artrite reativa_dca_reiter_livro_2010
 
6 infeccao trato urinario
6   infeccao trato urinario6   infeccao trato urinario
6 infeccao trato urinario
 
Introdução e divisões da patologia
Introdução e divisões da patologiaIntrodução e divisões da patologia
Introdução e divisões da patologia
 
Questões saúde pública
Questões saúde públicaQuestões saúde pública
Questões saúde pública
 
Vigilância epidemiológico aluno
Vigilância epidemiológico alunoVigilância epidemiológico aluno
Vigilância epidemiológico aluno
 
Mais vida para soropositivos
Mais vida para soropositivosMais vida para soropositivos
Mais vida para soropositivos
 
Vírus hep b avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...
Vírus hep b   avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...Vírus hep b   avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...
Vírus hep b avaliação da resposta sorológica à vacina em funcionários de li...
 
Varicela 1
Varicela 1Varicela 1
Varicela 1
 
Ambiente biológico e a saúde
Ambiente biológico e a saúdeAmbiente biológico e a saúde
Ambiente biológico e a saúde
 
Aula 1 de epidemiologia
Aula 1 de epidemiologiaAula 1 de epidemiologia
Aula 1 de epidemiologia
 
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007
Infecção pelo HIV/aids: uma doença crônica e tratável - 2007
 
Epidemiologia básica 1
Epidemiologia básica 1Epidemiologia básica 1
Epidemiologia básica 1
 
Endemias e epidemias brasileiras: hanseníase.
Endemias e epidemias brasileiras: hanseníase.Endemias e epidemias brasileiras: hanseníase.
Endemias e epidemias brasileiras: hanseníase.
 
Nefrologia infeccao trato urinario sbp
Nefrologia infeccao trato urinario sbpNefrologia infeccao trato urinario sbp
Nefrologia infeccao trato urinario sbp
 

Similar a ITU Idoso Guia Prático

PCDT M.S Artrite Reativa
PCDT M.S Artrite ReativaPCDT M.S Artrite Reativa
PCDT M.S Artrite ReativaANAPAR
 
Comprometimentos sistêmicos agravantes da doença periodontal - liga da ciru...
Comprometimentos sistêmicos   agravantes da doença periodontal - liga da ciru...Comprometimentos sistêmicos   agravantes da doença periodontal - liga da ciru...
Comprometimentos sistêmicos agravantes da doença periodontal - liga da ciru...Marlio Carlos
 
Apostila2 itu sim
Apostila2 itu simApostila2 itu sim
Apostila2 itu simEdelma Vaz
 
Care Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhs
Care Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhsCare Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhs
Care Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhsChaneldemandalenaZin
 
As doenças reumáticas e seu impacto na saúde
As doenças reumáticas e seu impacto na saúdeAs doenças reumáticas e seu impacto na saúde
As doenças reumáticas e seu impacto na saúdepauloalambert
 
Doença de Crohn
Doença de CrohnDoença de Crohn
Doença de Crohnrmamendes
 
Vasculites raras sistêmicas da infância
Vasculites raras sistêmicas da infânciaVasculites raras sistêmicas da infância
Vasculites raras sistêmicas da infânciagisa_legal
 
Aula 7 endemias brasileiras e controle de vetores
Aula 7   endemias brasileiras e controle de vetoresAula 7   endemias brasileiras e controle de vetores
Aula 7 endemias brasileiras e controle de vetoresMario Gandra
 
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetoresSaúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetoresMario Gandra
 

Similar a ITU Idoso Guia Prático (20)

Uso Racional Antibioticos Idosos
Uso Racional Antibioticos IdososUso Racional Antibioticos Idosos
Uso Racional Antibioticos Idosos
 
INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO
INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIOINFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO
INFECÇÕES DO TRATO URINÁRIO
 
Artigo abmba v1_n2_2013_06
Artigo abmba v1_n2_2013_06Artigo abmba v1_n2_2013_06
Artigo abmba v1_n2_2013_06
 
PCDT M.S Artrite Reativa
PCDT M.S Artrite ReativaPCDT M.S Artrite Reativa
PCDT M.S Artrite Reativa
 
Comprometimentos sistêmicos agravantes da doença periodontal - liga da ciru...
Comprometimentos sistêmicos   agravantes da doença periodontal - liga da ciru...Comprometimentos sistêmicos   agravantes da doença periodontal - liga da ciru...
Comprometimentos sistêmicos agravantes da doença periodontal - liga da ciru...
 
Apostila2 itu sim
Apostila2 itu simApostila2 itu sim
Apostila2 itu sim
 
Care Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhs
Care Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhsCare Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhs
Care Retitificado.pptxgzhshzhhzhhshgshshhzhzhs
 
As doenças reumáticas e seu impacto na saúde
As doenças reumáticas e seu impacto na saúdeAs doenças reumáticas e seu impacto na saúde
As doenças reumáticas e seu impacto na saúde
 
Txt 690106550
Txt 690106550Txt 690106550
Txt 690106550
 
Guia de vacinas
Guia de vacinasGuia de vacinas
Guia de vacinas
 
79 338-1-pb (3)
79 338-1-pb (3)79 338-1-pb (3)
79 338-1-pb (3)
 
Doença de Crohn
Doença de CrohnDoença de Crohn
Doença de Crohn
 
Cuidador de idoso_38
Cuidador de idoso_38Cuidador de idoso_38
Cuidador de idoso_38
 
Capacitação dos ACS sobre Tb em Santa Maria - RS
Capacitação dos ACS sobre Tb em Santa Maria - RSCapacitação dos ACS sobre Tb em Santa Maria - RS
Capacitação dos ACS sobre Tb em Santa Maria - RS
 
doenças enem 2017
doenças enem 2017doenças enem 2017
doenças enem 2017
 
Pesquisa hepatite
Pesquisa hepatitePesquisa hepatite
Pesquisa hepatite
 
Vasculites raras sistêmicas da infância
Vasculites raras sistêmicas da infânciaVasculites raras sistêmicas da infância
Vasculites raras sistêmicas da infância
 
Hepatites virais o brasil está atento - 2008
Hepatites virais   o brasil está atento - 2008Hepatites virais   o brasil está atento - 2008
Hepatites virais o brasil está atento - 2008
 
Aula 7 endemias brasileiras e controle de vetores
Aula 7   endemias brasileiras e controle de vetoresAula 7   endemias brasileiras e controle de vetores
Aula 7 endemias brasileiras e controle de vetores
 
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetoresSaúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
Saúde Coletiva - 7. endemias brasileiras e controle de vetores
 

Más de idaval_1

Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdfAlimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdfidaval_1
 
Alimentação e hipocoagulação.pdf
Alimentação e hipocoagulação.pdfAlimentação e hipocoagulação.pdf
Alimentação e hipocoagulação.pdfidaval_1
 
7605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-17605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-1idaval_1
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-ituidaval_1
 
632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 port632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 portidaval_1
 
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idosoidaval_1
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-ituidaval_1
 

Más de idaval_1 (10)

Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdfAlimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
Alimentacao e nutricao na gravidez DGS.pdf
 
Alimentação e hipocoagulação.pdf
Alimentação e hipocoagulação.pdfAlimentação e hipocoagulação.pdf
Alimentação e hipocoagulação.pdf
 
7605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-17605959 infeccao-urinaria-parte-1
7605959 infeccao-urinaria-parte-1
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu
 
00000893
0000089300000893
00000893
 
632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 port632 einstein%20v7n3p372-5 port
632 einstein%20v7n3p372-5 port
 
543 550
543 550543 550
543 550
 
199
199199
199
 
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
56987304 alteracoes-fisiologicas-e-anatomic-as-do-idoso
 
7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu7145859 tratamento-racional-da-itu
7145859 tratamento-racional-da-itu
 

ITU Idoso Guia Prático

  • 1. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina Infecção do Trato Urinário no Idoso Autoria: Sociedade Brasileira de Urologia Elaboração Final: 28 de maio de 2004 Participantes: Pompeo ACL, Pompeo AMSF, Rocha LCA, Carrerette FB, Araújo JFC, Carneiro KS O Projeto Diretrizes, iniciativa conjunta da Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina, tem por objetivo conciliar informações da área médica a fim de padronizar condutas que auxiliem o raciocínio e a tomada de decisão do médico. As informações contidas neste projeto devem ser submetidas à avaliação e à crítica do médico, responsável pela conduta a ser seguida, frente à realidade e ao estado clínico de cada paciente. 1
  • 2. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina DESCRIÇÃO DO MÉTODO DA COLETA DE EVIDÊNCIA: Levantamento bibliográfico de artigos que apresentam níveis de evidências de A a D, de acordo com o Projeto de Diretrizes da AMB/CFM. Esta revisão buscou a padronização dos procedimentos diagnósticos, terapêuticos e profiláticos sobre o tema, apontando informações científicas que permitem recomendações e contra-indicações. GRAU DE RECOMENDAÇÃO E FORÇA DE EVIDÊNCIA: A: Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência. B: Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência. C: Relatos de casos (estudos não controlados). D: Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais. OBJETIVO: Oferecer um guia prático, adequado à realidade brasileira, destacando as melhores evidências disponíveis relacionadas ao diagnóstico, tratamento e profilaxia das infecções não complicadas no idoso. CONFLITO DE INTERESSE: Nenhum conflito de interesse declarado. 2 Infecção do Trato Urinário no Idoso
  • 3. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina INTRODUÇÃO A proporção de pacientes idosos, com mais de 65 anos, é crescente e doenças relacionadas a esta faixa etária passaram a ter grande interesse médico-social1,2(D). Os processos infecciosos, particularizando as infecções do trato urinário (ITU), têm incidência progressiva porque os idosos apresentam mais fatores de risco 1,2(D). Reconhecidamente, a ITU, sintomática ou assintomática (bacteriana), é a infecção mais freqüente, indepen- dentemente do sexo, estimando-se que acometa aproximadamente 20% das mulheres e 10% dos homens idosos. Esta prevalência praticamente se duplica após os 80 anos, quando as diferenças entre mulheres e homens são menores3(D). Favorece este aumento de ITU a imunodeficiência relacionada à idade, as alterações funcionais e orgânicas do trato geniturinário, imobilidade e a presença de doenças sistêmicas4-6(D). Nos homens, merece destaque o aumento prostático que dificulta o esvaziamento vesical, favorecendo a estase e a aderência bacteriana. Na mulher, o enfraquecimento do assoalho pélvico, a redução da capacidade vesical, a secreção vaginal, a contaminação fecal e as alte- rações tróficas do epitélio pela queda dos níveis hormonais facilitam sobremaneira a ITU e devem receber atenção dos médicos. Desta- que-se, ainda, que o uso prévio de antibióticos possa favorecer o aparecimento de infecções causadas por germes mais resistentes4,5(D) As ITUs podem ser sintomáticas, assintomáticas, complicadas ou não complicadas. Caracterizam-se como ITUs não complicadas aquelas que não se acompanham de alterações anatômicas, doenças locais (ex: calculose) ou sistêmicas que favoreçam ou potencializem a colo- nização ou a invasão infecciosa tecidual. Em contrapartida, as ITUs complicadas são acompanhadas daqueles fatores2,3(D). DIAGNÓSTICO O achado de bacteriúria assintomática é muito freqüente e, em geral, não tem significado clínico importante. Resulta da Infecção do Trato Urinário no Idoso 3
  • 4. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina avaliação preventiva ou de portadores de outras c) Que medidas clínicas, além de antibióticos, doenças orgânicas1,7(D). podem ter utilidade? d) Quais as orientações higieno-dietéticas? A avaliação de pacientes que apresentam sintomas/sinais geniturinários é indispensável. Como norma geral, pacientes idosos com Aqui, além de rigoroso exame físico, exames bacteriúria assintomática não devem ser tratados de urina com cultura e antibiograma, depen- com antibióticos, pois existe o risco desneces- dendo do quadro clínico, devem ser realizados sário de seleção de bactérias mais resistentes, da exames de imagem (US, urografia, TC)2,8(D). interação e reação alérgica às drogas, além dos custos do tratamento. Aumento de hidratação Destaque que pacientes idosos podem apre- e deambulação dos enfermos é recomendável. sentar sintomas pouco característicos de infec- Essa regra não deve ser seguida em algumas si- ção urinária. Assim, não raramente quadros de tuações, como nos casos de obstruções do trato urinário, quando houver necessidade de proce- pielonefrite aguda se exteriorizam com sintomas dimento invasivo e em doenças com potencial gastrintestinais, com dores abdominais de interferir com a resposta orgânica, como o incaracterísticas, náuseas e vômitos. A febre pode diabete não compensado11(D)12(A). estar ausente, assim como a leucocitose, devido à resposta orgânica anormal no idoso2,6,8(D). Segundo a Organização Mundial da Saúde (1995), as infecções, em geral, constituem Etiologia a maior causa de morte e destaca, ainda, a O agente bacteriano mais comum nas ITUs crescente resistência bacteriana, o que determina é a E. coli (90%). Outras bactérias representadas cuidados com o uso de antibióticos, quando com maior freqüência nos idosos que nos necessário. jovens são: Proteus, Klebisiella, Enterobacter cloacal, Citrobacter fecundii, Providenciae stuantii Reconhece-se que clones de E. coli, respon- e Pseudomonas aeruginosa. Entre os organismos sáveis por aproximadamente 50% das infecções, gram-positivos, os estafilococos, enterococos e são resistentes às associações trimetoprin- o estreptococo grupo B são os mais sulfametoxazol. Deve-se sempre basear a tera- freqüentemente isolados1(D)9(C)10(B). pêutica no teste de sensibilidade bacteriana aos antibióticos, após o que se faz a escolha baseada TRATAMENTO na concentração local do fármaco, via de admi- nistração, tolerabilidade e custos. Embora não Nas infecções urinárias não complicadas, seja o ideal em pacientes com sintomas muito algumas questões devem ser definidas: intensos, a antibioticoterapia é iniciada imedi- atamente após a colheita da urina para exames a) Quem necessita de tratamento com antibi- que podem alterar, após conhecimento dos óticos? resultados, a medicação escolhida previamente4(D). b) Naqueles com indicação terapêutica – quais agentes antimicrobianos devem ser empre- As bactérias que causam ITUs no idoso são, gados e qual a duração do tratamento? em geral, mais resistentes do que na popula- 4 Infecção do Trato Urinário no Idoso
  • 5. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina ção mais jovem, porque a maior freqüência A recidiva de ITU sintomática deve ser tra- desses processos, habitualmente, requereu re- tada por período mais longo (duas semanas). petidos ciclos de antibióticos que originaram a Nos homens, o tratamento das cistites não com- seleção de agentes. plicadas difere, pois não são candidatos a regi- mes curtos e devem receber tratamento por sete A pielonefrite aguda ou quadro febril sus- a 14 dias14(D)15(A). peito de origem urinária deve receber trata- mento imediato pelos riscos de sepse. Em PREVENÇÃO geral, o início da terapêutica é empírico. Como o agente infectante, normalmente, é gram- Existem várias maneiras de fazer prevenção negativo, devem-se escolher agentes efetivos da ITU recorrente, entre as quais se incluem a como as fluoroquinolonas, trimetoprin- profilaxia com baixas doses de agentes sulfametoxazol, aminoglicosídeos e as antimicrobianos por longo tempo, estrógeno cefalosporinas de 3 a geração11,13,14(D). A du- tópico intravaginal, hidratação, micções ração do tratamento não deve ser inferior a freqüentes e vacinas antiadesivas 14,16 (D) duas semanas. Uma opção mais curta é o uso 15,17,18 (A)19,20(B). de dose inicial de aminoglicosídeo, seguida de uma semana de fluoroquinolona. Recidivas de É conhecido que o estrogênio restaura o epitélio vaginal, uretral e trigonal, favorecendo o infecção com a mesma bactéria podem signi- reaparecimento da flora vaginal pré- ficar anormalidade do trato urinário, o que menopausa16(D)17(A). Um estudo prospectivo re- requer avaliação mais intensa. porta a redução de ITUs de 5,9 episódios por ano, no grupo placebo para 0,5 episódio, no grupo que Nas cistites não complicadas da mulher, recebeu estrógeno vaginal. Além disso, nessas pa- três dias de antibioticoterapia, em geral, é cientes, o lactobacilo apareceu em 60% dos casos, adequado11(D). A associação sulfametoxazol- ao contrário do primeiro grupo, em que houve trimetoprin é, neste particular, muito em- desenvolvimento apenas de enterobactérias. Des- pregada pela relação custo-benefício. Estu- taque-se, ainda, que o pH vaginal caiu de 5,5± 0,7, dos clínicos mostram também uma eficácia antes do tratamento para 3,6± 1,0, ou seja, tor- muito significativa das fluoroquinolonas. Os nou-se mais ácido e, portanto, menos favorável ao beta-lactâmicos têm índices de recorrência desenvolvimento das enterobactérias21(A). mais altos e, quando empregados, o trata- mento deve ter duração de pelo menos uma O uso de estrógenos por via oral (3 mg/dia), semana. Mulheres idosas têm índices de por outro lado, não mostrou benefícios na recorrência de ITUs maiores que as jovens, profilaxia das ITUs nas mulheres idosas, não o que significa tratamentos por períodos de havendo, portanto, indicação do seu emprego sete a 10 dias 14(D)15(A). com este objetivo14(D)18(A). Infecção do Trato Urinário no Idoso 5
  • 6. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina DIRETRIZES • Bacteriúria assintomática não deve ser tratada com antibióticos, salvo situação urológica, como obstrução do trato urinário ou portadores de doenças que interfiram com a resposta orgânica (ex.: diabete)11(D)12(A). • Infecção urinária sintomática deve ser tratada com antibióticos baseados nos testes de sensibilidade, tolerabilidade, concentração local, interação medicamentosa, função renal e custos4(D). • As cistites bacterianas, em mulheres, podem ser tratadas por curto período - 3 dias; nos homens, a duração do tratamento deverá ser de sete a 10 dias11(D) 12(A). • As fluoroquinolonas, associações de sulfametoxazol trimetoprina, aminoglicosídeos e cefalosporinas de 3a geração constituem os antibióticos mais empregados14(D). • As pielonefrites devem ser tratadas por períodos de duas a quatro semanas14(D). • O tratamento com estrógeno vaginal em mulheres menopausadas é um meio eficaz de prevenir recorrência das infecções16(D)17(A). • A hidratação e o estímulo às micções freqüentes contribuem para o tratamento e prevenção das ITUs. • Antibioticoterapia em baixas doses por longo período (três a seis meses) pode ser eficaz na profilaxia de ITUs recorrentes19(B). • Infecções sintomáticas recorrentes ou febris devem ser exploradas com métodos propedêuticos por imagem2(D). • A resolução ou controle das causas orgânicas constitui a principal medida para evitar recorrência das ITUs. 6 Infecção do Trato Urinário no Idoso
  • 7. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina REFERÊNCIAS 11. Warren JW, Abrutyn E, Hebel JR, Johnson JR, Schaeffer AJ, Stamm WE. Guidelines 1. Matsumoto T. Urinary tract infections in for antimicrobial treatment of the elderly. Curr Urol Rep 2001;2:330-3. uncomplicated acute bacterial cystitis and acute pyelonephritis in women. Clin Infect 2. Crossley KB, Peterson PK. Infections in the Dis 1999;29:745-58. elderly. Clin Infect Dis 1996;22:209-15. 12. Nicolle LE, Mayhew WJ, Bryan L. 3. Merrien D. Characteristics of infectious Prospective randomized comparison of diseases in the elderly. Presse Med therapy and no therapy for asymptomatic 2002;31:1517-20. bacteriuria in institutionalized elderly women. Am J Med 1987;83:27-33. 4. Raz P. Urinary tract infection in elderly women. Int J Antimicrob Agents 13. Nicolle LE, Straussbaugh LJ, Garibaldi 1998;10:177-9. RA. Infections and antibiotic resistance in nursing homes. Clin Microbiol Rev 5. Mulholland SG. Urinary tract infection. 1996;9:1-17. Clin Geriatr Med 1990;6:43-53. 14. Naber KG, Bergman B, Bishop MC, 6. Nicolle LE. Urinary tract infection in the Bjerklund-Johansen TE, Botto H, Lobel elderly. J Antimicrob Chemother B, et al. EAU guidelines for the 1994;33(Suppl A):99-109. management of urinary and male genital tract infections. Urinary Tract Infection 7. Stamm WE, Hooton TM. Management of urinary tract infections in adults. N Engl (UTI) Working Group of the Health Care J Med 1993;329:1328-34. Office (HCO) of the European Association of Urology (EAU). Eur Urol 8. Yoshikawa TT, Nicolle LE, Norman DC. 2001;40:576-88. Management of complicated urinary tract infection in older patients. J Am Geriatr 15. Vogel T, Verreault R, Gourdeau M, Morin Soc 1996;44:1235-41. M, Grenier-Gosselin L, Rochette L. Optimal duration of antibiotic therapy for 9. Trivalle C, Martin E, Martel P, Jacque B, uncomplicated urinary tract infection in Menard JF, Lemeland JF. Group B older women: a double-blind randomized streptococcal bacteraemia in the elderly. J controlled trial. CMAJ 2004;170:469-73. Med Microbiol 1998;47:649-52. 16. Brandberg A, Mellstrom D, Samsioe G. 10. Rahav G, Pinco E, Bachrach G, Bercovier Low dose oral estriol treatment in elderly H. Molecular epidemiology of women with urogenital infections. Acta asymptomatic bacteriuria in the elderly. Age Obstet Gynecol Scand Suppl Ageing 2003;32:670-3. 1987;140:33-8. Infecção do Trato Urinário no Idoso 7
  • 8. Projeto Diretrizes Associação Médica Brasileira e Conselho Federal de Medicina 17. Raz R, Stamm WE. A controlled trial of eradicating bacteriuria in the elderly. J intravaginal estriol in postmenopausal women Chemother 1992;4:14-8. with recurrent urinary tract infectious. N Engl J Med 1993;329:753-6. 20. Flanagan PG, Rooney PJ, Davies EA, Stout RW. A comparison of single-dose 18. Cardoso L, Benness C, Abbott D. Low dose versus conventional-dose antibiotic oestrogen prophylaxis for recurrent urinary treatment of bacteriuria in elderly women. tract infections in elderly women. Br J Age Ageing 1991;20:206-11. Obstet Gynaecol 1998;105:403-7. 21. Raz P, Stamm WE. A controlled trial of 19. Dontas AS, Giamarellou H, Staszewska- intravaginal estriol in postmenopausal women Pistoni M, Petrikkos G, Iakovou M, Tzias with recurrent urinary tract infections. N Engl V. Short vs. long cotrimoxazole courses in J Med 1993;329:753-6. 8 Infecção do Trato Urinário no Idoso