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TRABALHO01-
TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. A interdisciplinaridade comoconstruçãodo
conhecimento...A INTERDISCIPLINARIDADECOMOCONSTRUÇÃODOCONHECIMENTOEM
SAÚDE E ENFERMAGEM1 INTERDISCIPLINARITYASKNOWLEDGE CONSTRUCTION IN HEALTH
CARE ANDNURSINGLA INTERDISCIPLINARIEDADCOMOLA CONSTRUCCIÓN DEL
CONOCIMIENTOEN LA SALUD Y EN ENFERMERÍA BetinaHörnerSchlindweinMeirelles2,
Alacoque LorenziniErdmann31 Textoelaboradoapartir da tese de doutorado“ViverSaudável
emTemposde Aids:a complexidade e ainterdisciplinaridade nocontextodaprevençãoda
infecçãopeloHIV”,defendidanoProgramade Pós-GraduaçãoemEnfermagemda
Universidade Federal de SantaCatarina(UFSC) em2003. 2 Enfermeira.Doutoraem
Enfermagem.ProfessoradoCursode Graduação emEnfermagemdaUFSC. 3 Enfermeira.
Doutora emFilosofiadaEnfermagem.ProfessoraTitulardoDepartamentode Enfermagemda
UFSC. Pesquisadorae Representante de ÁreaCNPq.OrientadoradaTese.Endereço:Betina
HörnerSchlindweinMeirellesAv.Gov.IrineuBornhausen,3188, Apto801 88025-200 –
Florianópolis,SC.E-mail:betinahsm@ig.com.brRESUMO:Este artigoresultade uma síntese
sobre a interdisciplinaridade naconstruçãodoconhecimentoe práticasem
saúde/enfermagem, considerandoasmúltiplasdimensõesque envolvemoprocesso
saúdedoençae apromoção da saúde dascomunidades.Oobjetivoé propiciarreflexãoe
melhorcompreensãodarealidadedinâmicae complexa,que impõe que se estabeleça
múltiplasinterconexõesparaque asações se efetivemnapromoçãoda saúde.Opensamento
emsaúde aindaé fragmentado,levandoaaçõesde prevençãoe controle de doençaspontuais
e enfoque mutiladodarealidade vividapelossujeitos.Oestabelecimentodasinter-relaçõese
integraçõesdisciplinarespropiciaráumaconsciênciacapazde enfrentarascomplexidadese a
integralidadedoprocessode viversaudável.A partirdessacompreensão,sugere-sea
construçãode umconhecimentocontextualizadoemsaúde/enfermagem, que respondaàs
necessidadesdossujeitose facilite a criaçãode parceriasentre múltiplosatores/sistemas
sociaisna abordagempormelhorescondiçõesde saúde e vida.ABSTRACT:Thisarticle isthe
resultof a synthesisaboutinterdisciplinarityinconstructingknowledge andpracticesinhealth
care and Nursing,consideringthe multiple dimensionswhichinvolvethe healthandillness
processesandhealthpromotionincommunities.The objectiveof thisstudyistopropitiate
bettercomprehensionaboutthe complexityanddynamismof the realitythatdemands
professionalstoestablishinterrelationshipsamongtheiractions,aimingforeffective health
promotion.The conceptsof healthare still fragmented,resultinginreducingprofessionals’
actionstowardpreventiontocontrollingillnesswithoutconsideringthe individuals’dailylife
context.Whereas,the professional thatestablishesthe interrelationshipsbetweendisciplines
will be able toface the complexitiesandwholenessof healthylivingprocess.Fromthis
comprehension,the authorsuggestsknowledge constructionbasedonahealthcare/Nursing
contextthatmeetsindividuals’necessitiesandfacilitatesthe developmentof anetpartnership
betweensocial actors,seekingbetterhealthandlifeconditionsforindividuals.RESUMEN:Este
artículo resultade unasíntesissobre lainterdisciplinariedadenlaconstruccióndel
conocimientoyprácticasensalud/enfermería,considerandolasmúltiplesdimensionesque
envuelvenel procesosalud-enfermedadylapromociónde lasaludde lascomunidades.El
objetivoes propiciarlareflexiónymejorarlacomprensiónde larealidaddinámicaycompleja,
que impone que se establezcanmúltiplesinterconexionesparahacerefectivolasaccionesen
la promociónde lasalud.El pensamientoenlasalud,todavía,continuafragmentado,llevando
lasa accionesde prevenciónyel control de enfermedadespuntualesya um enfoque mutilado
de la realidadvividaporlaspersonas.El establecimientode lasinterrelacionese integraciones
disciplinarespropiciaráunaconcienciacapazde enfrentarlascomplejidadesylaintegridaddel
procesode vivirsaludable.A partirde estacomprensión,se sugiere laconstrucciónde un
conocimientocontextualizadoensalud-enfermería,que respondaalasnecesidadesde las
personasyfacilite lacreación de parcerías entre múltiplesactores/sistemassocialesenel
abordaje pormejorescondicionesde saludyde vida.PALAVRAS-CHAVE:Açãointersetorial.
Promoçãoda saú- de.Enfermagem.Conhecimento.KEYWORDS:Intersectorial action.Health
promotion.Nursing. Knowledge.PALABRASCLAVE:Acciónintersectorial.Promociónde la
salud.Enfermería.Conocimiento.Artigooriginal:ReflexãoRecebidoem:15 de fevereirode
2005 Aprovaçãofinal:13 de abril de 2005 - 412 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;
14(3):411-8. MeirellesBHS,ErdmannALINTRODUÇÃOA dinâmicae as transformaçõesque
vêmocorrendona sociedade refletemde maneirasignificativanocampoda saúde,trazendo
novosdesafiosaospesquisadorese profissionaisdasaúde tantonoscampos epistemológicos
como metodológicos.Osetorsaúde é chamadoa responderauma pluralidade de
necessidadese especificidades,àsmudançasdemográficas,àscondiçõessociais,àsmudanças
epidemiológicas,centrando-se noserhumano,individual oucoletivo.A saúde coletivae
pública,comopropostacentradana promoção da qualidade de saúde e vidadoshomens,tem
nas práticasinterdisciplinaresumespaçoprivilegiadopararepensarteorias,inovarseus
conhecimentose asformasde pensara saúde,a doençae a prestaçãode serviços,e se
concretizarcomo ummovimentoque aglutine osabere os sujeitosdessesaber.Envolve
pensara respeitodarealidade.Necessitadoencontro,de trocaentre osdiversossetoresda
sociedade,entre investigadoresnabuscadasrespostasàs questõesem aberto.Convivemos
com a necessidade de diferentesabordagensparaentenderarealidade e enfrentaros
problemasque se apresentam, buscandomúltiplasteoriasparaexplicá-los.Assim,asaúde
torna-se umprocessodinâmicoe complexo,cujacompreensãoapontaareflexões
interdisciplinaresparaumanova prática emsaúde e Enfermagem, comonospropomosa
discutirneste texto.UMA BREVE REFLEXÃOA RESPEITODO CONCEITODE
INTERDISCIPLINAIDADEEMSAÚDE E ENFERMAGEM A abordageminterdisciplinarnosleva
como ponto de partida,a uma discussãoa respeitodotermointerdisciplinaridade,tão
comumente usadoemnossomeio.Podemosaté dizerque otermoestána “moda” e é
facilmente confundidocomotrabalhoemequipe ouemgrupo,tanto na pesquisacomona
resoluçãode umproblemaprático.Nocaso da saúde,coloca-se que “abusca de ações
integradasnaprestaçãode serviços,ounaassociaçãode docênciae serviço,oua questãoda
interface entre obiológicoe osocial passapelocampogenericamentedenominadode
relações interdisciplinares”,1:98comorespostaà compartimentalizaçãoque procura
responderaosproblemasde saúde,que geralmentenãosãodisciplinares.Assim, uma
abordageminterdisciplinar,comoolharda complexidade emsaú- de,se caracterizapela
necessidadede aporte de outrosconhecimentos,principalmente dasCiênciasHumanase
Sociaisà saúde,numasuperaçãodoenfoque muitasvezesbiomédico,curativistae
fragmentadoque se temadotadona abordagemdaproblemática.Porém, aquestãonãoé a
simplificaçãode interligarosconhecimentos,masdeve-selevaremconsideraçãoa
intervençãoefetivanocampoda realidade social.“Oproblemaassume maiorcomplexidade
na medidaemque a disciplinaridade e ainterdisciplinaridade necessitamservistasemseus
condicionanteshistórico-sociaisnocontextode umasociedadeemque aespecializaçãoe a
proliferaçãoe fragmentaçãodoconhecimentopassamafazerparte de umasociedade
competitivae corporativista”.1:98A novavisãode saúde coletivae pública,emconstruçãona
AméricaLatina,traz a necessidade de umasistematizaçãodoconceitode saúde,situandosuas
potencialidadesde constituiçãode umconhecimentointerdisciplinar.Enfim,nosentidode que
este movimentoideológicose articule anovosparadigmascientíficos capazesde abordaro
objetocomplexosaú- de-doençarespeitandosuahistoricidade e integralidade,reconhecendo
as váriasfacetasdos fenômenosdavidacotidianaenvolvidosneste processo.Neste sentido,
consideramosimportanteadiscussãoarespeitodestesnovosparadigmas,comotambéma
pertinênciadodebate entre profissionaise instituiçõesde saúde embuscadestanovaprática
sanitá- ria,tal comotambémpropõe a OrganizaçãoMundial da Saúde atravésde suas
Conferênciasparaapromo- ção da saúde dos povos.Novosparadigmastrazemnovasformas
de pensamentoe de visãode mundo.Opensamentosimplificadorvigentenasaúde
desenvolveu-se,noquadrosoberanodostrêsaxiomasdalógicaidentitáriaclássica.2Foi
justamente issoque produziuumpensamentoredutorocultandoasolidariedade,
interretroações,sistemas,organizações,emergências,totalidadese suscitouconceitos
unidimensionais,fragmentadose mutiladosdoreal.Foi oque levouaciênciaclássicaà visão
determinista/atomistade umuniverso-máquinaconstituídode basesisoláveis.A idéiade
interdisciplinaridade jávemdesdeosfilósofosgregoscomapossibilidadede formarum
homemintegral,voltandoàdiscussãonostemposatuais,nadécadade 60, com os trabalhos
de Gusdorf,Piaget,Bastide,Jantsch,dentreoutros,coma possibilidade de uniros
conhecimentosque vãose fragmentandonosespaçosespecializados.Porém, somentena -
413 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. A interdisciplinaridade como
construçãodo conhecimento...décadade 70, principalmente comasconclusõesde um
encontrosobre interdisciplinaridadeorganizadopelaOrganizaçãodaComunidade Européia
para o DesenvolvimentoEconômico(OCDE),é que recebe seumaiorimpulso.3Nadécadade
90, a interdisciplinaridade tomaoutraformadiante domundode informaçãoe de crisesque
vivemos.Passaaservistade umaforma maiscomplexa,nabuscade umanova epistemologia.
Vivemosahiperespecializaçãoemtodasasáreas doconhecimento,osproblemas
fundamentaise osproblemas globaissãodespejadosdasciênciasdisciplinares.Asmentes
formadaspelasdisciplinasperdemsuasaptidõesnaturaistantoparacontextualizarossaberes,
tanto comopara integrá-losemseusconjuntosnaturais.2Oenfraquecimentodapercepçãodo
global conduzao enfraquecimentodaresponsabilidade(cadaumtende aresponsabilizar-se
somente pelasuatarefaespecializada) e dasolidariedade.A divisãodasdisciplinas
impossibilitaentenderoque estátecidojunto,ouo complexo,oque precisasermudadopara
que sejamoscapazesde construirconcepçõese modelosmaisaproximadosdarealidade.
Aponta-se que ajustificativade umprojetode pesquisainterdisciplinar,que ultrapasse os
quadrosdas diferentesdisciplinascientíficas,deve serprocurada“nacomplexidade dos
problemasaosquaissomoshoje emdiaconfrontados,parachegara umconhecimento
humano,se não emsua integridade,pelomenosnumaperspectivade convergênciade nossos
conhecimentosparcelares”.3:62Pois,de certa forma,osespecialistasdecompõemohomem
embusca de um conhecimentopositivo,umsaberverificável,atravésde métodoscientíficos
determinados.Éenfatizadoainda,que se necessitade umanovaformade conhecimentodo
real e que estaconsciênciacoletivaseriasaturadade complexidade,de complexus,ouseja,de
agirese fazeresque rejuntariamtudoaquiloque adisjunçãocartesianafeznoplanofísico,
metafísicoe metapolítico.Qualquersistemavivopassaria,então,aserentendidocomoum
sistemaincompleto,indeterminado,irreversível,sempre marcadopelaautoorganizaçãoque
combina,descombinae recombinaaordem, a desordeme a desorganização.2Aodiscutirmos
os conceitosde interdisciplinaridade,é comumavisãode uma respostaà fragmentaçãodo
saberpara a construçãode um saberque dê conta da totalidade darealidade,osaberunitá-
rio.Esta unidade estápresente naconstruçãode um sistemaconceitual resultante da
integraçãodossistemasdisciplinares,que pode conduziràintroduçãode umanova noção,a
transdisciplinaridade.Ora,aqui temosumpontobastante significativoparaadiscussão.Oque
é estaunidade?Temosque estaratentos,poisaunidade é metafísica,é redutora,levada
mesmaformaao fechamentoemsi mesmoou“emmesmesamento”.A realidadeé dinâmicae
não se fechaem si,nãosendoredutível àmensuração.Oreal está emconstante movimento,
emconstante rela- ção entre o geral e o específico,ouniversal e oparticular,entre ounoe o
diverso.Apesarde consideraraunidade comonão acabada,por conseguinte aceitandoasua
dinamicidade,3concordamosque existe anecessidade de delimitarmosumobjetopara
investigação,massemverdadesprévias,considerandoasmúltiplasdeterminaçõesque o
constitui e a dinamicidadee complexidade darealidadeemque se insere.Tambémnãoexiste
uma metodologiainterdisciplinar,poisnãopodemosteressapretensãode prevero
imprevisível diantedadinamicidade darealidade.Enfatiza-seque,aocontráriode Descartes
que partia de um princípiosimplesde verdade e porissopropunhaumdiscursodométodoem
poucaspáginas,Morin fazum discursomuitolongo“à procura de um métodoque nãose
revelapornenhumaevidênciainicial,masque deve elaborar-se comesfor- çoe risco.A missão
desse métodonãoé fornecerfórmulasprogramáticasde umpensamento‘são’,masconvidara
pensara si mesmonacomplexidade”.4:55Asconstruçõescientíficasnãopodemserpensadas
como tendoa vercom a verdade,segundooconceitotradicional,metafísico.“Nãosãocópias
do mundodado.São reorganizaçõesdomundocongruentescomosujeitoprodutor”.5:56Não
há simplesmenteaunidade,masháunidade nadiversidade,universal e particular.Assim,
quandofalamosemunidade temosque estaratentosaosentidoque estásendoatribuído.
Não se pode conceberunidade semmultiplicidade;sóháunidade quandoháum referente,
que no caso é a multiplicidade.A unidadeé dialética,poisé multiplicidade emmovimento.Ea
dialéticaúnicanegariasuaprópriaidentidade,ouseja,aunidade doscontrários.A dialética,
maisque outras metodologias,sabe apontarparao caráter contraditórioe ambíguoda
realidade e de si mesma.“Comotodasé lógica,ouseja,tambémrepresentaaintençãode
catar padrõesnacomplexidade,masdentrodaperspectivaessencialmente dinâmica”.6 É
múltiplacomotodososprodutostambémculturais,é essencialmenteabertae evolui sem
direçãodeterminada. - 414 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. MeirellesBHS,
ErdmannAL Devemosconceberumaunidade que garantae favoreçaa diversidade,uma
diversidadeinscritanaunidade.A unidadecomplexa:unidade nadiversidade,diversidadena
unidade,unidadeprodutorade diversidade,diversidade produtorade unidade;é aunidade de
um complexogerador“[...] que geradiversidade ilimitada”.7:66 A discussãosobre a
interdisciplinaridade entre asciênciasarticulandoossaberesde outrasáreas,demonstraque
“pelalógicada produção/construçãodosabere por sua autonomia,asciênciasnãosão
fragmentosde umsaberunitárioe absoluto.Suagênese nãoprovémdaí”.5:63 A existênciade
um fragmentopressupõeaexistênciade umtodoque se perdeunotempo,comose as
ciênciastivessemsurgidode maneiralineare dependente de saberesanteriores –assima
autonomiae a produção científicasãovistascomofragmentação.Neste sentido,afirmaque o
que se perdeunodecorrerdo tempofoi aquela“unidade natural”dohomemprimitivoe sem
históriaimersonanaturezae delainteiramente dependente.Mas,afinal,oque pretendemos
com a interdisciplinaridade?Oabandonodaconcepçãofragmentáriaporoutraunitáriado
sabere do conhecimento?Umanovaverdade científica?Consideramosoportunodiscutira
respeito,começandocomoque definimoscomoverdade.A verdade que acreditamosnãose
trata de umaverdade definitivamente adquirida,masde umareflexãoque cadaumde nós
deve realizararespeitodasquestõesque se colocamemnossasociedade,compontosde vista
diversos.Considera-se averdade nãocomoalgoque se impõe comodogma,mas sim, daquela
que é alcançadaatravésdo diálogoe da polêmica,poistal verdade trazemsi a força da
dialética.Diante dadiversidadedarealidade vivida,cabe àinterdisciplinaridade possibilitaro
conhecimentoclarodainterdependênciadasverdades.A retiradadaverdade e dacertezadá
lugarao imprevisível,aoincerto,deixandoaspessoassemsaberoque pensar.Faz-se
necessárioresgataralgumaverdade semrecairnummundoverdadeiro.Compreendemosque
a realidade dinâmicae complexanoscolocaque a verdade é flexível aesta dinamicidadedo
real,na expectativade que ordensmenosrígidasnospossibilitemconvivercomas incertezas
destarealidade.Assim,averdade se constrói poraproximaçõessucessivas,abertas,que são
constantemente questionadasparapoderapreenderatotalidade destarealidade.Mas,
retomandonossadiscussãoanterior,oque seriaentãoestaunidade que buscamos?Como
vimos,nãoé a verdade dogmática.Oque pretendemoscoma interdisciplinaridadeé abusca
de integração,de instaurarformasde totalidade em umcampo de sabermúltiplo,pluralista,
heterogêneo;reconhecendoacomplexidade dosfenômenos,dialeticamente,comolhares
diferenciados,resgatandoumaunidade que perdemosnodecorrerdahistória.Estatotalidade
só é apreensível atravésdaspartese das relaçõesentre elas.A categoriadatotalidade
justifica-se“enquantoohomemnãobusca apenasumacompreensãoparticulardoreal,mas
pretende umavisãoque sejacapazde conectar dialeticamenteumprocessoparticularcom
outrosprocessose,enfim,coordená-locomumasíntese explicativacadavezmaisampla”.8:16
Implicaumacomplexidade emque cadafenômenosópode viraser compreendidocomoum
momentodefinidoemrelaçãoasi e emrelaçãoaos outrosfenômenos.A totalidade nãoé um
todojá feito,determinadoe determinante daspartes,nãoé uma harmoniasimples,poisnão
existe umatotalidadeacabada,masum processode totalizaçãoapartir das relaçõesde
produçãoe de suas contradições.Umacompreensãodialéticadatotalidade exigearelação
entre as partese o todoe as partesentre si.O todo,na verdade,sóse cria a si mesmona
dialéticadaspartes,sópode existirconcretamente naspartese é na relatividade daspartes
que o todo se estruturae caminha.8 Assim, atotalidade é aberta,ligadaaomovimentodoreal
e emconstante processonoseudesenvolver.Existemcontradiçõesnoseiodatotalidade que
levamaoreconhecimentodoreal comohistórico.A realidadeestáemmovimentocomsuas
contradições,oque a conduzà superaçãode si mesma.A totalidade concreta“nãoé algo que
tenhauma existênciaemsi.Elaé o processode criação de suaestruturaporque é vistacomo
uma produçãosocial do homem”.8:37O homem, comosujeitohistórico-social,pelasuapráxis
objetivaproduzarealidade e tambémpor elaé produzido.A totalidade “nãoé totalidade lisa,
com partestranqüilamentejustapostas,estática,masincompleta,aproximada,imprecisa:
formaum todo porque existedinâmicacomum, masmostrarachaduras constantes,poronde
sempre pode entrara antidinâmicadamudança.Nãopossui apenasa dinâmicacircular,que é
sempre a mesmae lhe permitiriarecuperar-seeternamente.Aocontrário,adinâmicaé feita
de dinâmicascontrárias,feitasde convergênciase divergências”.6:108Esta apreensãoda
totalidade nosexigeumpen- - 415 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. A
interdisciplinaridade comoconstruçãodoconhecimento...samentocomplexo,capazde
concebero que nosune,contextualizandoopensamentonosentidode que todo
acontecimento,informaçãoouconhecimentosejaconsideradonarelaçãodainseparabilidade
com seumeioambiente,sejacultural,social,econômico,políticoounatural.“Trata-se de
procurar sempre asrelaçõese inter-retroaçõesentre cadafenômenoe seucontexto,as
relações de reciprocidade todo/partes;comoumamodificaçãolocal repercute sobre otodoe
como umamodificaçãodotodo repercute sobre aspartes.Tratase,ao mesmotempo,de
reconheceraunidade dentrodadiversidade,odiversodentrodaunidade;de reconhecer,por
exemplo,aunidade humanaemmeioàsdiversidadesindividuaise culturais,asdiversidades
individuaise culturaisemmeioàunidade humana”.9:25Concluímosentãoque,quando
pensamosemunidade nainterdisciplinaridade,estamosadotandoestavisãode totalidade,
considerandootempo,oespaçoe o contexto(social,ético,político,econômicoe outros) que
constituemoreal,nummovimentodialético,complexo,considerandoassuasmúltiplas
determinações.Estamosabandonandoopensamentoque separaoque estáligado,que
unificaoque é múltiplo,que simplificaoque é complexo,percebendoasinteraçõese ligações
entre osfenômenose,considerandoairredutibilidade e complexidadedosere viverhumano.
Ao considerarmosestasdefinições,admitimosavisão de que a realidade é complexae que
estacomplexidadesópode serabordadanumavisãointerdisciplinar.Oenfoqueparticulardo
real e comoum sistemaespecíficode relaçõesdoserhumanotraz uma visãoparcial da
realidade,seminter-relaçãodotodocomas partese das partescom o todo,como se o mundo
fosse estáticoe o viverprevisível.Aoabordarmoseste aspecto,torna-serelevantediscutirmos
a construção do conhecimentodiante destaincertezae imprevisibilidade doreal,que nos
mostra que saberesdiversossãonecessáriosparaconcebereste conhecimento.Nãose trata
de uma integraçãodosconhecimentosde formasintéticae harmoniosa.Éumatarefadifícil.O
problemadacomplexidade noscoloca“dadificuldadede permanecermosnointeriorde
conceitos claros,distintos,fáceis,paraconcebermosaciência,paraconcebermoso
conhecimento,paraconcebermosomundoemque estamos,paranosconcebermosanósna
relaçãocom este mundo,paraconcebermosa nósna nossarelação comos outros e para nos
concebermosanós na nossarelaçãocom nós mesmosque é,afinal,amaisdifícil de
todas”.2:35 O problemanãoestáemque cada um perca a sua competência,masem
compreenderde que modoestãoestruturadosoutrostiposde pensamentodiferentesdo
nosso.“Está emque a desenvolvaosuficiente paraaarticularcom outras competênciasque,
ligadasemcadeia,formariamoanel completoe dinâ- mico,oanel do conhecimentodo
conhecimento”,2:33poishá necessidadede saberesdiversosparaque se concebao
conhecimento.Pensamosque é necessárioultrapassar,relativizare englobarnummétodode
pensamentocomplexo,dialógico.A dialógicaque propomosconstitui nãoumanovalógica,
mas um modode utilizaralógicaem virtude de umparadigmada complexidade.Cada
operaçãofragmentáriadopensamentodialógicoobedece àlógicaclássica,masnãoo seu
movimentoemconjunto.Cadaumadascontradiçõesque surgemnacaminhadado
conhecimentodeveserencaradanasua singularidadee problemáticaprópria.Énecessário
“agir com”. A contradiçãoincitao pensamentocomplexo;nosservimosdelaparareativare
complexificaropensamento.Énecessárioumpensamentoque saibatratar,interrogar,
eliminare salvaguardarascontradições.Éa tarefa dopensamentocomplexo.Necessitamosde
“uma cabeça bem-feita”,que significaumaaptidãogeral para colocare tratar os problemas,
bemcomo princípiosorganizadoresque permitamligarossaberese lhesdarsentido,evitando
a acumulaçãoestéril doconhecimento.A organizaçãodoconhecimentocomporta operações
de ligação(conjunção,inclusãoe implicação) e de separação(diferenciação,oposição,seleção
e exclusão).9Oprocessoé circular,comportandoao mesmotemposepara- çãoe ligação,
como análise e síntese.Morinressaltaque emnossacivilização ligaçãoe síntese continuam
subdesenvolvidas.A formade organizaçãodopensamentoé que geraas fronteirasentre as
disciplinas,porissooproblemaé transformarestesprincípios.Odesenvolvimentodaaptidão
para contextualizare globalizarossaberes torna-se imperativo.O“conhecimentotorna-se
pertinente quandoé capazde situartoda a informaçãoemseucontexto,e,se possível,no
conjuntoglobal aoqual se insere”.4:18Comojá citamosanteriormente,trata-se de
reconheceraunidade dentrododiverso,odiversodentrodaunidade.Neste sentido,podemos
considerara complexidade comoformade pensamento,comoumexercíciocognitivo.Um
pensamentoque contextualiza,que adotavisõescomplementares,numprocessodinâmicode
construçãodo conhecimento,produtodadialógicaentre ocertoe o incerto,entre aordeme a
416 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. MeirellesBHS,ErdmannAL desordem,
entre o simplese ocomplexopresentesemnossasociedade.Aodirigirmosanossadiscussãoà
saúde, salienta-se que nosetorsaúde temosgeralmenteumavisãodisciplinar,corporativa,
unidimensional,numalógicalinear,mecanicistae redutora,que de certaforma nãopode
explicaracomplexidade dofenômenosaúde/doençae darealidade.Assim, muitasvezes
assume-se teoriasque buscamexplicarasocorrênciase os riscosde maneiraunicausal,de
maneiralinearcausa/efeito.Éprecisoaprenderaultrapassara causalidade linear.
“Compreenderacausalidade mútuainter-relacionada,acausalidade circular(retroativa,
recursiva),asincertezasdacausalidade (porqueasmesmascausasnãoproduzemsempre os
mesmosefeitos,quandoossistemasque elasafetamtêmreaçõesdiferentes,e porque causas
diferentespodemprovocarosmesmosefeitos)”.9:77Osindivíduose as sociedadesnão
podemproduzirconseqüênciassenãoatravésde causas,e comoestasnão ocorremna mesma
escaladosseusefeitos,nãoé possível partirdopressupostode que ocontrole dascausas
acarreta o controle dasconseqüências.Pelocontrário,afaltade controle sobre as
conseqüênciassignificaque asaçõesempreendidascomocausastêm, nãoapenasas causas
intencionais(lineares) daação,masuma multiplicidadeimprevisível(potencialmenteinfinita)
de conseqüências.10O controle dascausas sendoabsoluto,é absolutamenteprecário.Este
pensamentocomumemsaúde,levaaprá- ticas voltadasaações de prevençãoe controle de
doençaspontuaise com enfoque mutiladodarealidade vividapelossujeitos.Destaforma,
chegamosà discrepânciaentre acapacidade de ação (controle dascausas) e a capacidade de
previsão(controle dasconseqüências),oque nosconvidaa um novoconhecimentomais
próximodoreal.Aoestabelecermosasinter-relaçõese osfenômenosmultidimensionais,
contextua-lizandooconhecimento,teremosumaconsciênciacapazde enfrentaras
complexidades,comoemnossaspráticas,oprocessode viversaudável nasuaintegralidade.
Hoje adotamoso conceitode vulnerabilidade e determinaçãosocial noprocesso
saúde/doença,considerandoumamultiplicidadede acontecimentose de fenômenos,de riscos
e de incertezas,noqual asestratégiascognitivasvisamde modocomplementar(e antagônico)
simplificare a complexificaroconhecimento,religandoossaberes.2Nossosacontecimentos
da vidacotidianadevemsercontextualizadose pensadosnumprocessode simplificaçãoe de
complexificação,considerandooprovável e oimprovável,ohistórico,ocertoe o incerto,o
singulare o diverso,oacidental,ovariável.Destaca-se que é “naprocura da simplicidade
elementarque se chegaàcomplexidadefundamental”.11:28A simplificaçãoselecionaoque é
de interesse docognoscente,eliminandooque é alheioasuafinalidade,e computaoestável,
o determinadoe ocerto.A complexificaçãoconsideraomáximode dadose informações
concretas,procurandoreconhecere computaro variado,o variável,oambíguo,o aleatórioe o
incerto.Assim,dasimplificaçãoàcomplexificaçãochegamosaoconhecimento.Tantoa
complexidade emsi comoosimplesemsi balançamentre oobjetivode compreendera
complexidade maiorpossível e areduzirestacomplexidade aomenoscomplexopossí- vel,
com a tendênciailusóriade considerarosimplesemsi mesmoouocomplexoemsi mesmo.11
A INTERDISCIPLINARIDADEESUA APLICABILIDADENASAÇÕESEMSAÚ- DE E ENFERMAGEM
Para fazerface aos pressupostosde promoçãodasaúde e às ameaçasemergentesàsaúde,há
necessidadede novasaçõese de construção contínuado conhecimento.Odesafioparaos
próximosanosseráativaro potencial paraa promoçãoda saúde inerente emmuitossetores
da sociedade,nascomunidadese nasfamílias.A visãohabitual disciplinar,corporativae
unidimensional,que temosadotadoemsaúde,“tende adeformarnossavisãode mundo,o
que nos levaa isolarosproblemasde saúde doseucontexto,simplificando-osparatentar
resolvê-los.Comisso,obtémseumasoluçãoparcial e inadequada,dandoaimpressãoque os
problemasse repetem,quandonaverdade,nãoforamresolvidos”.12:535Assim, aotratarmos
maisespecificamentedapromoçãoda saúde comenfoque nasaçõesde Enfermagem, não
podemosnosafastarda noção de interdisciplinaridade e complexidade,jáque asações
envolvemmudanças,comoamudançanas comunidades,naspolíticaspúblicasouem
comportamentose hábitosde vida.Umaintervençãoque abordamuitasdimensõesdavida
social pode nosapresentarmuitosresultadospossíveis.Asintervençõesde promoçãoda
saúde visama melhoriadaqualidade de vidae residematravésdoprocessocontínuode
complexidade,diante dassuascaracterísticasde diversidadee heterogeneidade.Necessitamos
de uma amplavisãoda base científicaque - 417 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;
14(3):411-8. A interdisciplinaridade comoconstruçãodoconhecimento...considere a
complexidade inerente àpromoção da saúde numenfoque multisetorial,compartilhandocom
outrossaberes,outrasdisciplinas,outrossetorese coma população,com a consciênciade que
não há respostafácil aoscomplexosfenômenoshumanos.Porém, esta“abordagem
totalizadorae respeitosadacomplexidade dosfenômenosdavida,saúde,doença,sofrimento
e morte”,que convivemosemnossapráticacotidianaemsaúde,necessita“de umtratamento
teórico-metodológicoefetivamente transdisciplinar,tomandocomobase aperspectivada
complexidade”.13:109 Asintervençõesde saúde incluemumamesclacomplexade muitas
disciplinase camposde açãovariados,com o enfoque de melhorarasaúde,reorientaros
serviçosde assistênciae fazercomque as pessoassejamprotagonistasdasuaprópriasaúde,
exigemacompreensãoque muitasdisciplinasoubasescientíficaspodemtrazer.Aodiscutira
epidemiade Aidscomoumproblemainternacional,oMinistériodaSaúde enfatizaque as
práticassociaisnão pertencemmaisauma comunidade nacional exclusivamente,nem os
indivíduosque asrealizamreconhecemapenasumaidentidadedistintivae homogênea,como
antesera pensado.“A diversidade operatantonasformasdiferentesde se percebera
realidade e,emúltimainstância,de se viver,quantonasformasdesiguaisemque aspessoase
os grupossociaisincorporamnovosvalores,atitudese práticasatravésdosfluxos
interculturais”.14:136 Neste sentido,anoçãode territórioé porosae susceptível de mediar
com múltiploscenários,transcendendosuaoriginal visãoespacial,hojeinsuficiente paraa
compreensãodosfenômenosque envolvemfronteiras,oranosseustermosgeopolíticos,ora
na sua dimensãosimbólica,ou,ainda,comonotema que nosinteressa,naperspectivadas
fronteirasdoprocessosaúde-doençae napromoção da saúde.Talveztenhamosque
considerara saúde comoproduçãosocial,como processodinâmicoe empermanente
transformação,rompendocoma setorializaçãodarealidade.Mendesreforçaque este estado
de saúde permite aruptura com a idéiade umsetorsaúde,erigindo-acomoprodutosocial
resultante de fatoseconômicos,políticos,ideológicose cognitivos.Istosignifica“inscrevê-la,
como campodo conhecimento,naordemdainterdisciplinaridadee,comopráticasocial,na
ordemda intersetorialidade”,15:241o que está coerente coma novavisãode saúde como
qualidade de vidae a novavisãodossujeitoscomoprotagonistasdasuasaúde.REFLEXÕES
FINAISA interdisciplinaridadee avisãocomplexasãotemaspoucodiscutidosnaárea da
saúde,e maisespecificamentenaEnfermagem, e estareflexãopoderánostrazersubsídios
para a suaefetivaçãocoma conseqüente melhoriadaqualidade dasnossasaçõesvisandoà
promoçãoda saúde das comunidades.Interdisciplinaridade emsaúde aindaé confundidacom
trabalhoemequipe,porém,temosclarezaque semconstruçãode conhecimentonãohá
interdisciplinaridade,apenasjustaposiçãode açõesparcelares,que nãodãoconta de atender
às ameaçasemergentesasaúde,de compreenderasnovidadesdasbiociências,asprofundas
transformaçõesdavidacotidianae das relaçõesde trabalho,que desvelamocenário
complexode umnovoparadigmadoconhecimento.A atuaçãointerdisciplinarnasequipesde
saúde e Enfermagemimplicaemconstruçãodeste conhecimento,comoaquisiçãode
competências,umapráticade inter-relaçãoe interaçãoentre asdiversasdisciplinas,
articulaçãodos conhecimentos,numconstante ire virpara resoluçãodosproblemasou
alcance dos objetivos,e conseqüentemente aampliaçãodasfronteirasdisciplinares.Implica
emreflexão-ação-reflexão.Esse constante construir,desconstruire reconstruirpode contribuir
para a evoluçãoe inovaçãodaEnfermagemcomoconhecimentoe profissão.Oesforçoé
essencial nosentidode que se estabeleçaumanovavisãofrente aosproblemasque afetama
saúde,comenfoque dapromoçãoda saúde emnossa sociedade,apontandoparaa construção
de novossaberesatravésda interaçãoentre oscamposdisciplinares,comsujeitosconstruindo
com sua experi- ênciade vidanovossaberescientíficos.Mesmo diantedastransformações
que temosobservadoemnossasociedade,emtemposde mudançasparadigmáticase
estruturais,osserviçosde saúde continuamequivocadamente assumindoaresponsabilidade
pelaconduçãodo viversaudável emsociedade.Aosuperaresta noçãode saúde como
atribuiçãoexclusivadosetorsaúde,partimosparauma ação intersetorial que destacaasaúde
no contextodaspolí- ticassociaise de participaçãoda populaçãonoprocessodasdecisõese
controle dascondiçõesde saúde doindivíduoe dacoletividade.Vivemosnumasociedade
plural.A diversidade,ouseja,umajustaposiçãode pessoas,culturas,tradi- ções,diferenças
políticas,históricas,religiosase de estilosde vidacaracterizamasociedade atual.Asdistân- -
418 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. MeirellesBHS,ErdmannAL ciasforam
encurtadascom o intensomovimentomigratórioe surgemmaioresdiferençasentre pessoas
que vivemladoa lado.Esta sociedade é produzidae produtorade sujeitos,profissionaisde
saúde ou clientes,que interageme objetivammelhorescondiçõesde saúde e vida.Assim,
temoso desafiodapluralidadeemnossavidae práticaprofissional.A sociedade é umtodoe
devemospensareste desafiocomoesforçode ampliaronossoentendimentoarespeitoda
interaçãodas partesrumoà unidade e totalidadenestadiversidade,de formaque osdiversos
setoresdasociedade percebam-se interdependentese responsáveisnaconstru- çãode uma
sociedade maissolidáriae saudável.Estanovavisãoainterdisciplinaridade e acomplexidade
nos trazem.REFERÊNCIAS1 NunesED.A questãoda interdisciplinaridadenoestudodasaúde
coletivae o papel dasciênciassociais.In:Canesqui AM,organizadora.Dilemase desafiosdas
ciênciassociaisnasaúde coletiva.SãoPaulo-Riode Janeiro:HucitecAbrasco;1995. p.95-115. 2
Morin E. A religaçãodossaberes:odesafiodoséculoXXI.Riode Janeiro:BertrandBrasil;2001.
3 JapiassuH.Interdisciplinaridade e patologiadosaber.Riode Janeiro:Imago;1976. 4 Morin E.
Educação e complexidade:ossete saberese outrosensaios.SãoPaulo:Cortez;2002. 5. Etges
NJ.Ciência,Interdisciplinaridade e Educação.In:JantschAP,Bianchetti L.Interdisciplinaridade:
para alémda filosofiadosujeito.Petrópolis:Vozes,1995. p. 51-84. 6 DemoP. Metodologiado
conhecimentocientífico.SãoPaulo:Atlas;2000. 7 Morin E. O Método 5: a humanidade da
humanidade.Trad.JuremirMachadoda Silva.PortoAlegre:Sulina,2002. 8 Cury CRJ. Educação
e contradição:elementosmetodológicosparauma teoriacrítica do fenômenoeducativo.6a.
ed.São Paulo:Cortez;1995. 9 Morin E. A cabeça bem-feita:repensare reforma,reformaro
pensamento.Riode Janeiro:Bertrand;2000. 10 SantosBS. A crítica da razão indolente:contra
o desperdíciodaexperiência.3a.ed.São Paulo:Cortez;2001. 11 Erdmann AL. Sistemade
cuidadosde enfermagem.Pelotas:Universitária/UFPEl;1996. 12 KoerichMS,Erdmann AL.
Enfermageme patologiageral:resgate e reconstruçãode conhecimentosparauma prática
interdisciplinar.Texto e Contexto.2003 Out.-Dez;12 (4): 528-37. 13 AlmeidaFilhoN,Andrade
RFS.Holopatogênese:esboçode umateoriageral de saúde-doençacomobase paraa
promoçãoda saúde.In: CzeresniaD,FreitasCM.Promoçãoda saúde:conceitos,reflexões,
tendencias.Rio de Janeiro:Fiocruz;2003; p.97-116. 14 MinistériodaSaúde (BR).Secretariade
Políticasde Saúde.A respostabrasileiraaoHIV/Aids:experiênciasexemplares.Brasília:
CoordenaçãoNacional de DST/Aids;1999. 15 MendesEV.Uma agendapara a saúde.São
Paulo:Hucitec;
TRABALHO02
Competênciadosprofissionaisdasaúde parao trabalhointerdisciplinar*SAUPE,R.etal.
Competence of healthprofessionalsforinterdisciplinarywork.Interface - Comunic.,Saúde,
Educ.,v.9, n.18, p.521-36, set/dez2005. Interdisciplinarity,asone of the keyconceptsfor the
consolidationof publicpoliciesinthe areaof health,wasfocusedbasedonthe perspective of
the professionalswhoare facedwiththe challenge of puttingitintopractice.Understanding
interdisciplinarityasa competence resultingfromarange of knowledge,skillsandattitudes,it
was organizedinthe formof a tree diagram.This diagramwasinitiallysubmittedfor
evaluationbyagroup of twenty-one judges,andsubsequently,byasample of one hundred
and forty-fivehealthprofessionals.The resultsshow aconsistencybetweenthe researcher’s
proposal andthe evaluationof the participatingsubjects,sinceona scale of zeroto ten,the
final level of performance wasovernine.The space providedfor statementsbythe subjects
resultedinthe additionof importantcategories,enrichingthe studyasa whole.KEYWORDS:
interdisciplinarity.competence-basededucation.humanresourcesinhealth.A
interdisciplinaridade,comoumdosconceitosnuclearesparaconsolidaçãodaspolíticas
publicasnaárea da saúde,foi focalizadanaperspectivadosprofissionaisque estãocomo
desafiode concretizá-lanaprática.Entendidacomoumacompetênciaque resultade um
conjuntode conhecimentos,habilidadese atitudes, foi organizadanaformade diagrama
hierárquico.Este foi inicialmentesubmetidoàavaliaçãoporumgrupo de vinte e um juizese
posteriormente aumaamostra de centoe quarentae cinco profissionaisdasaúde.Os
resultadosevidenciaramaderênciaentre a propostadospesquisadorese aavaliaçãodos
sujeitosparticipantes,poisnumaescalade zeroa dez,o índice de desempenhofinalficou
acima de nove.Oespaçoaberto para depoimentosdossujeitosresultouemimportantes
categoriasa seremagregadas,enriquecendoatotalidade estudada.PALAVRAS-CHAVE:
interdisciplinaridade.educaçãobaseadaemcompetências.recursoshumanosemsaúde. *
Resultadode pesquisa,conforme projetosubmetidoàFAPESC(antigaFUNCITEC),Edital
003/2003, aprovadoe financiadopelaFUNCITEC/MINISTÉRIODA SAÚDE/UNESCOFCTPNO
2186/039. AprovadopelaComissãode Éticada UNIVALI(no381/2003); VinculadaaoPrograma
de Mestrado ProfissionalizanteemSaúde e GestãodoTrabalho;ao grupo de pesquisaem
Educação na Saúde e Gestãodo Trabalho;à linhade pesquisaFormaçãode RecursosHumanos
na Saúde.Agradecemosàspessoasque colaboraram:sujeitosdapesquisa;bolsistas;apoio
logístico;colegase alunosdoCurso de MestradoProfissionalizante emSaúde e Gestãodo
Trabalho.Asinstituições: FAPESC(antigaFUNCITEC);MinistériodaSaúde;17a Regional de
Saúde de Santa Catarina;UNIVALI.1 Enfermeira,CoordenadoradoProjeto;docente,Cursode
MestradoProfissionalizante emSaúde e GestãodoTrabalho.2 Médico,pesquisadordo
projeto;docente, Cursode MestradoProfissionalizante emSaúde e GestãodoTrabalho.3
Enfermeira,pesquisadoradoprojeto;coordenadora,Cursode MestradoProfissionalizanteem
Saúde e Gestão doTrabalho.4 Enfermeira,pesquisadoradoprojeto;docente,Cursode
MestradoProfissionalizante emSaúde e GestãodoTrabalho.1 Rua Mediterrâneo,172, apto
401 CórregoGrande - Florianópolis,SC88.037-610 RositaSaupe 1 Luiz RobertoAgeaCutolo2
ÁguedaLenitaPereiraWendhausen3GladysAméliaVélezBenito4Competênciados
profissionaisdasaúde parao trabalhointerdisciplinar*SAUPE,R.et al.Competence of health
professionalsforinterdisciplinarywork.Interface - Comunic.,Saúde,Educ.,v.9,n.18, p.521-36,
set/dez2005. Interdisciplinarity,asone of the keyconceptsforthe consolidationof public
policiesinthe areaof health,wasfocusedbasedonthe perspectiveof the professionalswho
are facedwiththe challenge of puttingitintopractice.Understandinginterdisciplinarityasa
competence resultingfromarange of knowledge,skillsandattitudes,itwasorganizedinthe
formof a tree diagram.Thisdiagram wasinitiallysubmittedforevaluationbyagroupof
twenty-one judges,andsubsequently,byasample of one hundredandforty-five health
professionals.The results showaconsistencybetweenthe researcher’sproposal andthe
evaluationof the participatingsubjects,since onascale of zeroto ten,the final level of
performance wasovernine.The space providedforstatementsbythe subjectsresultedinthe
additionof importantcategories,enrichingthe studyasa whole.KEYWORDS:
interdisciplinarity.competence-basededucation.humanresourcesinhealth.A
interdisciplinaridade,comoumdosconceitosnuclearesparaconsolidaçãodaspolíticas
publicasnaárea da saúde,foi focalizadanaperspectivadosprofissionaisque estãocomo
desafiode concretizá-lanaprática.Entendidacomoumacompetênciaque resultade um
conjuntode conhecimentos,habilidadese atitudes,foi organizadanaformade diagrama
hierárquico. Este foi inicialmentesubmetidoàavaliaçãoporumgrupo de vinte e um juizese
posteriormente aumaamostra de centoe quarentae cinco profissionaisdasaúde.Os
resultadosevidenciaramaderênciaentre apropostadospesquisadorese aavaliaçãodos
sujeitosparticipantes,poisnumaescalade zeroa dez,o índice de desempenhofinalficou
acima de nove.Oespaçoaberto para depoimentosdossujeitosresultouemimportantes
categoriasa seremagregadas,enriquecendoatotalidade estudada.PALAVRAS-CHAVE:
interdisciplinaridade.educaçãobaseadaemcompetências.recursoshumanosemsaúde.
Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 521 SAUPE,R. ET AL. 522
Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 IntroduçãoA pauta
convergente naáreada saúde,na atualidade,mobilizadorade esforçosintegradosentre
MinistériodaSaúde (MS) e MinistériodaEducação (ME), dizrespeitoàspolíticaspúblicasque
focalizamareorientaçãodomodeloassistencial,conforme preconizado pelaReforma
Sanitária.A consolidaçãodoSistemaÚnicode Saúde (SUS) depende tantodosucessode
estratégiascomooPrograma de Saúde da Família(PSF) e da implementaçãode processosde
Educação Permanente (EP),de competênciadoMS, quantoda revitalizaçãodosProjetos
Pedagógicos(PP) doscursosde graduação,incorporandoaspremissasdaLei de Diretrizese
Basesda Educação Nacional (LDB),conforme estabelecemasDiretrizesCurriculares(DC),
atribuiçõesdaalçadado ME. Para tanto,é urgente que se estabeleçaumanovarelaçãoentre
os profissionaisde saúde [...] diferentemente domodelobiomédicotradicional,permitindo
maiordiversidade dasaçõese buscapermanente doconsenso.Tal relação,baseadana
interdisciplinaridade e nãomaisnamultidisciplinaridade[...] requerumaabordagemque
questione ascertezasprofissionaise estimuleapermanente comunicaçãohorizontalentre os
componentesde umaequipe.(CostaNeto,2000,p.9) Assim, ainterdisciplinaridade constitui
um entre osváriostemasque necessitamseremdesenvolvidosparageraremcontribuição
para a pautada área da saúde,poisentendemosque ocontextohistóricovividonessavirada
de milênio,caracterizadopeladivisãodotrabalhointelectual,fragmentaçãodoconhecimento
e pelaexcessivapredominânciadasespecializações,demandaaretomadadoantigoconceito
de interdisciplinaridade que,nolongopercursodoséculopassado,foi sufocadopela
racionalidade darevoluçãoindustrial.Naperspectivacontemporâneanaqual este estudose
insere,ainterdisciplinaridadecontempla:oreconhecimentodacomplexidade crescente do
objetodasciênciasdasaúde e a conseqüente exigênciainternade umolharplural;a
possibilidadede trabalhoconjunto,que respeitaasbasesdisciplinaresespecíficas,mas busca
soluçõescompartilhadasparaos problemasdaspessoase dasinstituições;oinvestimento
como estratégiaparaa concretizaçãoda integralidade dasaçõesde saúde.A partirdestas
constataçõesdecidimosincluirainterdisciplinaridade comoumdostemasque foram
estudadosnumprojetosobre competênciasparaaconsolidaçãodoSUS/PSF.O objetivofoi
mapear,a partir de documentosoficiais,literaturae opiniãode peritos,umconjuntode
saberesteóricos,práticos,pessoaise interpessoais,necessários aotrabalhointerdisciplinarem
saúde e submetê-losaapreciaçãode profissionaisdaárea,incorporandotambémsuas
contribuições,sobaformade depoimentos,àcompreensãodoconceitoemsuasvárias
dimensões.Referencial teóricoA base de sustentaçãoteóricadeste estudopartiudos
elementoscomunsque devemserdesenvolvidosemtodososcursosde graduação,
destacandoa competênciapara“trabalharemconjuntocom outrosprofissionaisdaárea
COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAISDA SAÚDE...Interface - Comunic, Saúde,Educ,v.9,n.18,
p.521-36, set/dez2005 523 de saúde”,ouseja,de modointerdisciplinar(Almeida&
Maranhão, 2003). Interdisciplinaridade temsidoobjetoconstante de discussãoquandose
aborda as ciênciasdasaúde.Emboraa palavratenharecebido tratamentosistemático,pouco
se tem categorizadooque se pretende dizersobre ela.Japiassú(1976) levantoua
possibilidadedesseneologismotomarsentidosamplose diversificados,comconseqüentes
entendimentose usos.Acreditamosque apolissemiaque a interdisciplinaridadedesperta
pode serentendida,pelomenosparcialmente,namedidaemque seusignificadose recortaao
interiordoobjetoespecíficoque se pretendeinvestigarouenfrentar.Porexemplo,num
sentidoamplopoderíamosqualificaraBioquímicacomoum produtode uma relação
interdisciplinarentre aBiologiae aQuímica,originandoumanovadisciplina.Outropoderia
indicarque Educação emSaúde é uma áreado conhecimentoarticuladainterdisciplinarmente
entre ospressupostosdaSaúde Coletivae aEducação Construtivista.Estesexemplosjá
tendemadimensionaroproblemadasmultifacesdacategoria.Emborareconheçamoscomo
legítimos,apartirde seusplanosde incisão,osdoisexemplosapresentadoscomo
possibilidadesinterdisciplinares,ocupar-nosemoscomumacategorizaçãoumpouco mais
pragmáticano âmbitode práticas que envolvamosdiferentesprofissionaisdaáreada saúde e
suas conseqüênciasparao cotidianodasUnidadesBásicasde Saúde;portantochamaremosde
interdisciplinaridade arelaçãoarticuladaentre asdiferentesprofissõesdasaúde.Usandodas
categoriasepistemológicasde Fleck(1986) pretendemosqualificarasprofissõescomosendo
diferentesColetivosde Pensamentofundamentadas,cadaqual,emseuEstilode Pensamento,
ou seja,numolharestilizadoque permeiaumconjuntode regraspara a abordageme
resoluçãode umproblema,baseadosnumaformaçãoespecíficae diferenciadacommarco
conceitual identificado.Oque queremosdizeré que omédico,oenfermeiro,oodontólogo,o
psicólogoouqualqueroutroprofissional dasaúde compõemdistintosColetivosde
Pensamentoe,conseqüentemente,constróemfatosnovosdiante de problemascomuns.Mas,
o que é interdisciplinaridade?Qual adiferençaentre asterminologias,muitasvezes
confundidas,comointerdisciplinaridade,transdisciplinaridade,multidisciplinaridade,
pluridisciplinaridade?Achamosimportante umaaproximaçãocomestesconceitos,jáque são
usadosmuitasvezescomosinônimosoucomsentidosplurais.Longe de encerrarosignificado
com uma definiçãofechada,optamospelasaproximaçõesde Japiassú(1976) modificadas.A
multidisciplinaridadeindicaumaexecuçãode disciplinasdesprovidasde objetivoscomunssem
que ocorra qualqueraproximaçãooucooperação.Napluridisciplinaridadehaveriaumnúcleo
comum,já aparecendoumarelação,com certograu de colaboração,massemuma ordenação;
haveriaumtoque,umtangenciamentoentre asdisciplinas.Estasduasterminologiassão
freqüentemente colocadascomosinônimos,oque necessariamentenãose constituiriaum
erro.RosenfieldapudPerini etal.(2001) chama de multidisciplinaroque Japiassú(1976)
chama de pluridisciplinar,ouseja,quandoumproblemacomumé tratadode forma seqüencial
ou paralelapordisciplinasespecíficas.AindaRosenfieldapudPerini etal.(2001) caracterizaa
interdisciplinaridade comoapossibilidade dotrabalhoconjuntonabuscaSAUPE,R. ET AL.524
Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 de soluções,respeitando-
se as basesdisciplinaresespecíficas.Concluindo,referese àtransdisciplinaridade como
trabalhocoletivoque compartilha“estruturasconceituais,construindojuntos,teorias,
conceitose abordagensparatratar problemascomuns”(RosenfieldapudPerini etal.,2001,
p.103). Neste casoa disciplinaemsi perde seusentidoe nãohálimitesprecisosnas
identidadesdisciplinares.Numarelaçãopluridisciplinarumpaciente comrespiradorbucal
poderáprimariamente seratendidopelomédicode família.Umavezdiagnosticadopoderáser
encaminhadoaootorrinolaringologistaque,umavezverificadasascondiçõesdopalatodo
paciente,oencaminhaaoordodontistae aofonoaudiólogo.Comovemos,cadaqual realiza
seutrabalhoseparadamente,semcooperaçãodireta.Numaperspectivainterdisciplinara
abordagemdoproblemaseriavistaconjuntamente,bemcomoabuscade soluçõescriativas
para resolvê-lo.Mas,oque é necessárioparaque a interdisciplinaridade se torne umaforma
natural e solidáriade trabalho,que ultrapasse asarrogânciaspessoais,anecessidade de
exercerpodersobre osoutrose a tradiçãode centralizarosprofissionais,deslocandoparaa
periferiadoprocessoosujeitoque sofre poradoecimento,porfaltade conhecimentoou
energiaparase cuidar,logonecessitandode atenção,assistência,informação?Estafoi a
questãooriginal deste estudoe pararespondê-la,encontramosnoRelatórioUnesco,da
ComissãoInternacionalsobre Educaçãopara o SéculoXXI(Delors,1998),a base para propor
um conjuntode saberes,conforme propõeoreferidodocumento.MetodologiaA metodologia
selecionadaparaconduzira coletae análise dosdadostemsuaorigemna Universityof North
Carolina,propostanoinícioda décadade setenta,introduzidanoBrasil emmeadosdamesma
década(Spínola& Pereira,1976) e utilizadanaavaliaçãode algunsprogramas(Saupe,1979;
Spínola& Pereira,1977). Inclui as seguintesetapas:elaboraçãodo“Diagramade Árvore”;
consultaa “experts”,denominado“MétododoJúri”;verificaçãodaconcordânciaentre os
juizes;construçãoe aplicaçãode instrumento(s) aumapopulação/amostraque teminteresse
emrelaçãoao tema;avaliaçãododesempenho.Este processoresultaemumaavaliação
quantitativaque validaumapropostateóricaporum grupode juizes,sendosubmetida
tambéma uma populaçãomaisamplade interessadosnatemática,incorporandosuas
contribuiçõesconceituaisexpressasemdepoimentos.Naapresentaçãodosresultados
seguiremosestamesmaseqüência,detalhandoosaspectosmetodológicos,favorecendosua
compreensão.Osdadosqualitativosforamanalisadosseguindo-seoseguinte percurso:
inicialmente osdepoimentos,sobaforma de comentários,explicações,sugestões,foram
transcritose organizadosporcategoriaprofissional;emseguida,paraumaprimeira
aproximaçãocomeste conteúdosistematizado,foi realizadaaleituraexaustivae flutuantedas
respostastranscritas,nosentidode apurarmosumapossível classificação.Apesarde
entendermosque adecupagemdascompetênciasemhabilidades,atitudese conhecimentos
têm-se tornadodifícil emfunçãode suasintrínsecasracionalidades,optamos,paramantera
COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAISDA SAÚDE...Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18,
p.521-36, set/dez2005 525 lógicada descriçãodaprimeirafase dapesquisa,peladivisãoem
trêsgrandesblocosde categorias.Numsegundomomento,passamosàfase de categorização,
propriamente dita,assinalandopalavrase expressõesque poderiamdarsignificadosno
desdobramentodascompetências.Oterceiromomentofoi caracterizadopelaanálise
inferencialdascategoriasclassificadas.Comopoderáserobservadoalgumascategorias
poderiamserconsideradashíbridas,podendotransitar,de acordocomseupotencial,como
atitude,habilidade e conhecimento,oque vai aoencontrode nossa percepçãode que estes
elementosse engendram(Bodgan&Biklen,1994; Minayo,1992; Triniños,1987; Lüdke &
André,1986). Registramosaindaque oprojetoseguiutodasastramitaçõesnecessáriasasua
aprovação ética,resultandonoParecer381/2003, da Comissãode Ética da UNIVALI.A
dimensãoéticacumpriutodososcuidados,incluindoaassinaturade termode consentimento
pós-informado.ResultadosParticiparamdestapesquisa,comoavaliadores,umgrupode
peritose uma amostrade profissionaisde saúde,conforme apresentadonatabela1. O
númerode juizesconsultadofoi definidopelospesquisadores.Quantoaosdemais
profissionais,trabalhamoscoma perspectivade atingiratotalidade dapopulaçãoque,
localizadosnoperíododestinadoàcoletade dados,informadossobre oprojeto,livremente
consentissememparticipar.A populaçãoestimadaincluía133 docentes,sendo:21
enfermeiros;67médicos;e 45 dentistas.QuantoaostrabalhadoresdoPSF,verificamosque
estavamatuandono territóriode abrangênciadapesquisa(17aRegional de Saúde de Santa
Catarina):66 médicos,igual númerode enfermeirose 12 dentistas,totalizando144
profissionais.Opercentual daamostrade docentesque aceitouparticipardoestudofoi de
42% e de profissionaisdoPSFfoi de 62%, resultandonumtotal de 52% de representatividade
do universoemestudo.Conforme atabela1,o grupo maisrepresentativoentre osdocentes
foi dosodontólogose nasequipesde PSFosenfermeirosmerecemdestaque.Tabela1 -
Distribuiçãodosprofissionaisque participaramdoestudoEnfermeirasDentistasMédicos
FarmacêuticoFonoaudiólogoFisioterapeutaPsicólogoTOTALProfissãoJuízesDocentesPSF
TOTAL 07 06 04 01 01 01 01 21 12 29 15 - - - - 56 51 11 27 - - - - 89 70 46 46 01 01 01 01 166 O
Diagrama de Árvore (DIAGRAMA 1) segue omodelooriginal dametodologiae representaa
decomposiçãodacompetênciaparainterdisciplinaridade,emsuasdimensõesde
conhecimentos,habilidadese atitudes.Asfontesparadefiniçãodestamatrizincluírama
experiênciadospesquisadoresenvolvidos,documentoslegaisque normalizamocampode
conhecimentoe aliteratura.Estaetapapode ser consideradacomoa contextualizaçãodo
fenômeno,capturandoasváriasperspectivasde perceberarealidade,nocasoda
interdisciplinaridade comocompetêncianecessáriaaotrabalhoemsaúde da família.Esta
matrizfoi submetidaàavaliaçãopor umgrupo de 21 (vinte e um) juizesconvidados,que
atribuírampesosa cada componente (usaremoscomosinônimo:variável ouatributo)
conforme importânciarelativa,emcomparaçãocomas demaisemseunível.A importância
traduziu-se porumpesona escalade 1 – importânciamuitobaixa,a5 – importânciamuito
alta.Na seqüênciafoi verificadaaconcordânciaentre osjuizes.Estaconcordânciaé
consideradanatural quandoocomponente receberomesmopesode todosos juizes.Nocaso
deste estudo,estaconcordâncianãoaconteceucomnenhumadasvariáveis.Assim,conforme
orientaa metodologia,foi definidaamedianaentre ospesos.Todavia,noprocessode análise
e para refinarasdiferençasde avaliaçãoentre oscomponentes,calculamostambémamédia.
Estesdadosestãoinseridosnodiagrama1 e mostrama avaliaçãoaltamente positivarecebida
pelaproposta,jáque nenhumavariável ficoucommediana inferiora4 ou médiamenorque
3,66. A distribuiçãode todosospesosatribuídospelosjuizes,conforme osatributosde cada
dimensãodacompetênciaparainterdisciplinaridade,estáapresentadanatabela2.
CompletadooDiagramade Árvore (Diagrama1) com todosos seuscomponentes
discriminadose pesosatribuídos,passamosàconstruçãodo(s) instrumento(s),focalizandoos
componentesde últimonívelapresentadosnodiagrama.A escalaparaavaliaçãofoi ajustadaa
valoresentre 0 – avaliaçãototalmente negativae 10 – avaliaçãototalmente positiva.Foram
incluídasaindaquestõesabertas,possibilitandoexpressõesindividuaisdosinformantes,
evidenciandoaspectoscomunsousingularesde suaspercepções.Este instrumentofoi
aplicadoindividualmente aos145 participantes(enfermeiras,médicose dentistas),sendo56
docentese 89 profissionaisdoPSF.Paraavaliaçãododesempenhode cadacomponente,
foramaplicadasas seguintesequações:a) paramedidadasatividadesde últimonível:(VeL0x
Nr0)+(VeL1xNr1)+..........Até incluirtodososvaloresdaescala Nr0+Nr1+Nr2+......(que deve
corresponderaonúmeroTOTAL de respondentesSendo:VeL0= Valor0 da escalaLIKERT na
questão1, e assimsucessivamente;e Nr0= Númerode respostas0na questão1, e assim
sucessivamente.Oresultadoé umÍndice de Desempenhodaquestão,correspondente aum
valorente 0 e 10 b) para medidadoscomponentesdosdemaisníveis:D= ∑Da Wa ∑ Wa Ou
seja,o desempenhode cadacomponente é igual àsomatóriadosíndicesresultantesda
avaliaçãodas atividadesde últimonível e multiplicadospeloseupeso;esteresultadoé
divididopelasomatóriadospesos.Natabela2apresentamosadistribuiçãodosvaloresde 0-
10 em númerosabsolutos,antesdaaplicaçãodasequações,oque jáfornece visibilidade
positivarecebidapelaproposta.Ouseja,das1740 ocorrênciasregistradaspelosentrevistados,
encontramostendênciade aumentodafreqüênciadonumerode respostasconformeovalor
vai ficandomaispositivo,atingindoopercentual de 88,70 quando somamosas respostas
concentradasnosnúmeros8, 9 e 10. Tabela2 – Distribuiçãodosvaloresde 0a 10 atribuídos
pelos145 entrevistadosNaseqüênciadoestudoforamaplicadasasequações.Osvalores
obtidosemcada componente foramconvertidosparauma Escala de Medidado Desempenho
(figura2),sendoconsiderada‘regiãode fracasso’asituadaentre 0 (zero) e 4 (quatro),
indicandoaextremafragilidade doscomponentesque ficaramneste patamar;entre 4,1
(quatroe um) e 7 (sete) encontra-sea‘regiãode indefinição’que atribui àvariável um
desempenhointermediário;osucessoé alcançadoquandoa variável atingirumpatamar
acima de 7,1 (sete e um),evidenciandooplenoalcance doobjetivorelativoàmesma.Estes
resultadostambémforaminseridosnoDiagramade Árvore (Diagrama1) completandoociclo
quantitativodaavaliação.Ouseja,cadacomponente ouvariável avaliadatevesua
representaçãoincluindosuadescrição,opesocorrespondenteàmedianae a médiaconforme
avaliaçãodos21 juizese uma medida de seudesempenho,resultadodaaplicaçãodas
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http://www.scielosp.org/pdf/icse/v9n18/a05v9n18.pdf

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  • 1. TRABALHO01- TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. A interdisciplinaridade comoconstruçãodo conhecimento...A INTERDISCIPLINARIDADECOMOCONSTRUÇÃODOCONHECIMENTOEM SAÚDE E ENFERMAGEM1 INTERDISCIPLINARITYASKNOWLEDGE CONSTRUCTION IN HEALTH CARE ANDNURSINGLA INTERDISCIPLINARIEDADCOMOLA CONSTRUCCIÓN DEL CONOCIMIENTOEN LA SALUD Y EN ENFERMERÍA BetinaHörnerSchlindweinMeirelles2, Alacoque LorenziniErdmann31 Textoelaboradoapartir da tese de doutorado“ViverSaudável emTemposde Aids:a complexidade e ainterdisciplinaridade nocontextodaprevençãoda infecçãopeloHIV”,defendidanoProgramade Pós-GraduaçãoemEnfermagemda Universidade Federal de SantaCatarina(UFSC) em2003. 2 Enfermeira.Doutoraem Enfermagem.ProfessoradoCursode Graduação emEnfermagemdaUFSC. 3 Enfermeira. Doutora emFilosofiadaEnfermagem.ProfessoraTitulardoDepartamentode Enfermagemda UFSC. Pesquisadorae Representante de ÁreaCNPq.OrientadoradaTese.Endereço:Betina HörnerSchlindweinMeirellesAv.Gov.IrineuBornhausen,3188, Apto801 88025-200 – Florianópolis,SC.E-mail:betinahsm@ig.com.brRESUMO:Este artigoresultade uma síntese sobre a interdisciplinaridade naconstruçãodoconhecimentoe práticasem saúde/enfermagem, considerandoasmúltiplasdimensõesque envolvemoprocesso saúdedoençae apromoção da saúde dascomunidades.Oobjetivoé propiciarreflexãoe melhorcompreensãodarealidadedinâmicae complexa,que impõe que se estabeleça múltiplasinterconexõesparaque asações se efetivemnapromoçãoda saúde.Opensamento emsaúde aindaé fragmentado,levandoaaçõesde prevençãoe controle de doençaspontuais e enfoque mutiladodarealidade vividapelossujeitos.Oestabelecimentodasinter-relaçõese integraçõesdisciplinarespropiciaráumaconsciênciacapazde enfrentarascomplexidadese a integralidadedoprocessode viversaudável.A partirdessacompreensão,sugere-sea
  • 2. construçãode umconhecimentocontextualizadoemsaúde/enfermagem, que respondaàs necessidadesdossujeitose facilite a criaçãode parceriasentre múltiplosatores/sistemas sociaisna abordagempormelhorescondiçõesde saúde e vida.ABSTRACT:Thisarticle isthe resultof a synthesisaboutinterdisciplinarityinconstructingknowledge andpracticesinhealth care and Nursing,consideringthe multiple dimensionswhichinvolvethe healthandillness processesandhealthpromotionincommunities.The objectiveof thisstudyistopropitiate bettercomprehensionaboutthe complexityanddynamismof the realitythatdemands professionalstoestablishinterrelationshipsamongtheiractions,aimingforeffective health promotion.The conceptsof healthare still fragmented,resultinginreducingprofessionals’ actionstowardpreventiontocontrollingillnesswithoutconsideringthe individuals’dailylife context.Whereas,the professional thatestablishesthe interrelationshipsbetweendisciplines will be able toface the complexitiesandwholenessof healthylivingprocess.Fromthis comprehension,the authorsuggestsknowledge constructionbasedonahealthcare/Nursing contextthatmeetsindividuals’necessitiesandfacilitatesthe developmentof anetpartnership betweensocial actors,seekingbetterhealthandlifeconditionsforindividuals.RESUMEN:Este artículo resultade unasíntesissobre lainterdisciplinariedadenlaconstruccióndel conocimientoyprácticasensalud/enfermería,considerandolasmúltiplesdimensionesque envuelvenel procesosalud-enfermedadylapromociónde lasaludde lascomunidades.El objetivoes propiciarlareflexiónymejorarlacomprensiónde larealidaddinámicaycompleja, que impone que se establezcanmúltiplesinterconexionesparahacerefectivolasaccionesen la promociónde lasalud.El pensamientoenlasalud,todavía,continuafragmentado,llevando lasa accionesde prevenciónyel control de enfermedadespuntualesya um enfoque mutilado de la realidadvividaporlaspersonas.El establecimientode lasinterrelacionese integraciones disciplinarespropiciaráunaconcienciacapazde enfrentarlascomplejidadesylaintegridaddel
  • 3. procesode vivirsaludable.A partirde estacomprensión,se sugiere laconstrucciónde un conocimientocontextualizadoensalud-enfermería,que respondaalasnecesidadesde las personasyfacilite lacreación de parcerías entre múltiplesactores/sistemassocialesenel abordaje pormejorescondicionesde saludyde vida.PALAVRAS-CHAVE:Açãointersetorial. Promoçãoda saú- de.Enfermagem.Conhecimento.KEYWORDS:Intersectorial action.Health promotion.Nursing. Knowledge.PALABRASCLAVE:Acciónintersectorial.Promociónde la salud.Enfermería.Conocimiento.Artigooriginal:ReflexãoRecebidoem:15 de fevereirode 2005 Aprovaçãofinal:13 de abril de 2005 - 412 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set; 14(3):411-8. MeirellesBHS,ErdmannALINTRODUÇÃOA dinâmicae as transformaçõesque vêmocorrendona sociedade refletemde maneirasignificativanocampoda saúde,trazendo novosdesafiosaospesquisadorese profissionaisdasaúde tantonoscampos epistemológicos como metodológicos.Osetorsaúde é chamadoa responderauma pluralidade de necessidadese especificidades,àsmudançasdemográficas,àscondiçõessociais,àsmudanças epidemiológicas,centrando-se noserhumano,individual oucoletivo.A saúde coletivae pública,comopropostacentradana promoção da qualidade de saúde e vidadoshomens,tem nas práticasinterdisciplinaresumespaçoprivilegiadopararepensarteorias,inovarseus conhecimentose asformasde pensara saúde,a doençae a prestaçãode serviços,e se concretizarcomo ummovimentoque aglutine osabere os sujeitosdessesaber.Envolve pensara respeitodarealidade.Necessitadoencontro,de trocaentre osdiversossetoresda sociedade,entre investigadoresnabuscadasrespostasàs questõesem aberto.Convivemos com a necessidade de diferentesabordagensparaentenderarealidade e enfrentaros problemasque se apresentam, buscandomúltiplasteoriasparaexplicá-los.Assim,asaúde torna-se umprocessodinâmicoe complexo,cujacompreensãoapontaareflexões interdisciplinaresparaumanova prática emsaúde e Enfermagem, comonospropomosa
  • 4. discutirneste texto.UMA BREVE REFLEXÃOA RESPEITODO CONCEITODE INTERDISCIPLINAIDADEEMSAÚDE E ENFERMAGEM A abordageminterdisciplinarnosleva como ponto de partida,a uma discussãoa respeitodotermointerdisciplinaridade,tão comumente usadoemnossomeio.Podemosaté dizerque otermoestána “moda” e é facilmente confundidocomotrabalhoemequipe ouemgrupo,tanto na pesquisacomona resoluçãode umproblemaprático.Nocaso da saúde,coloca-se que “abusca de ações integradasnaprestaçãode serviços,ounaassociaçãode docênciae serviço,oua questãoda interface entre obiológicoe osocial passapelocampogenericamentedenominadode relações interdisciplinares”,1:98comorespostaà compartimentalizaçãoque procura responderaosproblemasde saúde,que geralmentenãosãodisciplinares.Assim, uma abordageminterdisciplinar,comoolharda complexidade emsaú- de,se caracterizapela necessidadede aporte de outrosconhecimentos,principalmente dasCiênciasHumanase Sociaisà saúde,numasuperaçãodoenfoque muitasvezesbiomédico,curativistae fragmentadoque se temadotadona abordagemdaproblemática.Porém, aquestãonãoé a simplificaçãode interligarosconhecimentos,masdeve-selevaremconsideraçãoa intervençãoefetivanocampoda realidade social.“Oproblemaassume maiorcomplexidade na medidaemque a disciplinaridade e ainterdisciplinaridade necessitamservistasemseus condicionanteshistórico-sociaisnocontextode umasociedadeemque aespecializaçãoe a proliferaçãoe fragmentaçãodoconhecimentopassamafazerparte de umasociedade competitivae corporativista”.1:98A novavisãode saúde coletivae pública,emconstruçãona AméricaLatina,traz a necessidade de umasistematizaçãodoconceitode saúde,situandosuas potencialidadesde constituiçãode umconhecimentointerdisciplinar.Enfim,nosentidode que este movimentoideológicose articule anovosparadigmascientíficos capazesde abordaro objetocomplexosaú- de-doençarespeitandosuahistoricidade e integralidade,reconhecendo
  • 5. as váriasfacetasdos fenômenosdavidacotidianaenvolvidosneste processo.Neste sentido, consideramosimportanteadiscussãoarespeitodestesnovosparadigmas,comotambéma pertinênciadodebate entre profissionaise instituiçõesde saúde embuscadestanovaprática sanitá- ria,tal comotambémpropõe a OrganizaçãoMundial da Saúde atravésde suas Conferênciasparaapromo- ção da saúde dos povos.Novosparadigmastrazemnovasformas de pensamentoe de visãode mundo.Opensamentosimplificadorvigentenasaúde desenvolveu-se,noquadrosoberanodostrêsaxiomasdalógicaidentitáriaclássica.2Foi justamente issoque produziuumpensamentoredutorocultandoasolidariedade, interretroações,sistemas,organizações,emergências,totalidadese suscitouconceitos unidimensionais,fragmentadose mutiladosdoreal.Foi oque levouaciênciaclássicaà visão determinista/atomistade umuniverso-máquinaconstituídode basesisoláveis.A idéiade interdisciplinaridade jávemdesdeosfilósofosgregoscomapossibilidadede formarum homemintegral,voltandoàdiscussãonostemposatuais,nadécadade 60, com os trabalhos de Gusdorf,Piaget,Bastide,Jantsch,dentreoutros,coma possibilidade de uniros conhecimentosque vãose fragmentandonosespaçosespecializados.Porém, somentena - 413 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. A interdisciplinaridade como construçãodo conhecimento...décadade 70, principalmente comasconclusõesde um encontrosobre interdisciplinaridadeorganizadopelaOrganizaçãodaComunidade Européia para o DesenvolvimentoEconômico(OCDE),é que recebe seumaiorimpulso.3Nadécadade 90, a interdisciplinaridade tomaoutraformadiante domundode informaçãoe de crisesque vivemos.Passaaservistade umaforma maiscomplexa,nabuscade umanova epistemologia. Vivemosahiperespecializaçãoemtodasasáreas doconhecimento,osproblemas fundamentaise osproblemas globaissãodespejadosdasciênciasdisciplinares.Asmentes formadaspelasdisciplinasperdemsuasaptidõesnaturaistantoparacontextualizarossaberes,
  • 6. tanto comopara integrá-losemseusconjuntosnaturais.2Oenfraquecimentodapercepçãodo global conduzao enfraquecimentodaresponsabilidade(cadaumtende aresponsabilizar-se somente pelasuatarefaespecializada) e dasolidariedade.A divisãodasdisciplinas impossibilitaentenderoque estátecidojunto,ouo complexo,oque precisasermudadopara que sejamoscapazesde construirconcepçõese modelosmaisaproximadosdarealidade. Aponta-se que ajustificativade umprojetode pesquisainterdisciplinar,que ultrapasse os quadrosdas diferentesdisciplinascientíficas,deve serprocurada“nacomplexidade dos problemasaosquaissomoshoje emdiaconfrontados,parachegara umconhecimento humano,se não emsua integridade,pelomenosnumaperspectivade convergênciade nossos conhecimentosparcelares”.3:62Pois,de certa forma,osespecialistasdecompõemohomem embusca de um conhecimentopositivo,umsaberverificável,atravésde métodoscientíficos determinados.Éenfatizadoainda,que se necessitade umanovaformade conhecimentodo real e que estaconsciênciacoletivaseriasaturadade complexidade,de complexus,ouseja,de agirese fazeresque rejuntariamtudoaquiloque adisjunçãocartesianafeznoplanofísico, metafísicoe metapolítico.Qualquersistemavivopassaria,então,aserentendidocomoum sistemaincompleto,indeterminado,irreversível,sempre marcadopelaautoorganizaçãoque combina,descombinae recombinaaordem, a desordeme a desorganização.2Aodiscutirmos os conceitosde interdisciplinaridade,é comumavisãode uma respostaà fragmentaçãodo saberpara a construçãode um saberque dê conta da totalidade darealidade,osaberunitá- rio.Esta unidade estápresente naconstruçãode um sistemaconceitual resultante da integraçãodossistemasdisciplinares,que pode conduziràintroduçãode umanova noção,a transdisciplinaridade.Ora,aqui temosumpontobastante significativoparaadiscussão.Oque é estaunidade?Temosque estaratentos,poisaunidade é metafísica,é redutora,levada mesmaformaao fechamentoemsi mesmoou“emmesmesamento”.A realidadeé dinâmicae
  • 7. não se fechaem si,nãosendoredutível àmensuração.Oreal está emconstante movimento, emconstante rela- ção entre o geral e o específico,ouniversal e oparticular,entre ounoe o diverso.Apesarde consideraraunidade comonão acabada,por conseguinte aceitandoasua dinamicidade,3concordamosque existe anecessidade de delimitarmosumobjetopara investigação,massemverdadesprévias,considerandoasmúltiplasdeterminaçõesque o constitui e a dinamicidadee complexidade darealidadeemque se insere.Tambémnãoexiste uma metodologiainterdisciplinar,poisnãopodemosteressapretensãode prevero imprevisível diantedadinamicidade darealidade.Enfatiza-seque,aocontráriode Descartes que partia de um princípiosimplesde verdade e porissopropunhaumdiscursodométodoem poucaspáginas,Morin fazum discursomuitolongo“à procura de um métodoque nãose revelapornenhumaevidênciainicial,masque deve elaborar-se comesfor- çoe risco.A missão desse métodonãoé fornecerfórmulasprogramáticasde umpensamento‘são’,masconvidara pensara si mesmonacomplexidade”.4:55Asconstruçõescientíficasnãopodemserpensadas como tendoa vercom a verdade,segundooconceitotradicional,metafísico.“Nãosãocópias do mundodado.São reorganizaçõesdomundocongruentescomosujeitoprodutor”.5:56Não há simplesmenteaunidade,masháunidade nadiversidade,universal e particular.Assim, quandofalamosemunidade temosque estaratentosaosentidoque estásendoatribuído. Não se pode conceberunidade semmultiplicidade;sóháunidade quandoháum referente, que no caso é a multiplicidade.A unidadeé dialética,poisé multiplicidade emmovimento.Ea dialéticaúnicanegariasuaprópriaidentidade,ouseja,aunidade doscontrários.A dialética, maisque outras metodologias,sabe apontarparao caráter contraditórioe ambíguoda realidade e de si mesma.“Comotodasé lógica,ouseja,tambémrepresentaaintençãode catar padrõesnacomplexidade,masdentrodaperspectivaessencialmente dinâmica”.6 É múltiplacomotodososprodutostambémculturais,é essencialmenteabertae evolui sem
  • 8. direçãodeterminada. - 414 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. MeirellesBHS, ErdmannAL Devemosconceberumaunidade que garantae favoreçaa diversidade,uma diversidadeinscritanaunidade.A unidadecomplexa:unidade nadiversidade,diversidadena unidade,unidadeprodutorade diversidade,diversidade produtorade unidade;é aunidade de um complexogerador“[...] que geradiversidade ilimitada”.7:66 A discussãosobre a interdisciplinaridade entre asciênciasarticulandoossaberesde outrasáreas,demonstraque “pelalógicada produção/construçãodosabere por sua autonomia,asciênciasnãosão fragmentosde umsaberunitárioe absoluto.Suagênese nãoprovémdaí”.5:63 A existênciade um fragmentopressupõeaexistênciade umtodoque se perdeunotempo,comose as ciênciastivessemsurgidode maneiralineare dependente de saberesanteriores –assima autonomiae a produção científicasãovistascomofragmentação.Neste sentido,afirmaque o que se perdeunodecorrerdo tempofoi aquela“unidade natural”dohomemprimitivoe sem históriaimersonanaturezae delainteiramente dependente.Mas,afinal,oque pretendemos com a interdisciplinaridade?Oabandonodaconcepçãofragmentáriaporoutraunitáriado sabere do conhecimento?Umanovaverdade científica?Consideramosoportunodiscutira respeito,começandocomoque definimoscomoverdade.A verdade que acreditamosnãose trata de umaverdade definitivamente adquirida,masde umareflexãoque cadaumde nós deve realizararespeitodasquestõesque se colocamemnossasociedade,compontosde vista diversos.Considera-se averdade nãocomoalgoque se impõe comodogma,mas sim, daquela que é alcançadaatravésdo diálogoe da polêmica,poistal verdade trazemsi a força da dialética.Diante dadiversidadedarealidade vivida,cabe àinterdisciplinaridade possibilitaro conhecimentoclarodainterdependênciadasverdades.A retiradadaverdade e dacertezadá lugarao imprevisível,aoincerto,deixandoaspessoassemsaberoque pensar.Faz-se necessárioresgataralgumaverdade semrecairnummundoverdadeiro.Compreendemosque
  • 9. a realidade dinâmicae complexanoscolocaque a verdade é flexível aesta dinamicidadedo real,na expectativade que ordensmenosrígidasnospossibilitemconvivercomas incertezas destarealidade.Assim,averdade se constrói poraproximaçõessucessivas,abertas,que são constantemente questionadasparapoderapreenderatotalidade destarealidade.Mas, retomandonossadiscussãoanterior,oque seriaentãoestaunidade que buscamos?Como vimos,nãoé a verdade dogmática.Oque pretendemoscoma interdisciplinaridadeé abusca de integração,de instaurarformasde totalidade em umcampo de sabermúltiplo,pluralista, heterogêneo;reconhecendoacomplexidade dosfenômenos,dialeticamente,comolhares diferenciados,resgatandoumaunidade que perdemosnodecorrerdahistória.Estatotalidade só é apreensível atravésdaspartese das relaçõesentre elas.A categoriadatotalidade justifica-se“enquantoohomemnãobusca apenasumacompreensãoparticulardoreal,mas pretende umavisãoque sejacapazde conectar dialeticamenteumprocessoparticularcom outrosprocessose,enfim,coordená-locomumasíntese explicativacadavezmaisampla”.8:16 Implicaumacomplexidade emque cadafenômenosópode viraser compreendidocomoum momentodefinidoemrelaçãoasi e emrelaçãoaos outrosfenômenos.A totalidade nãoé um todojá feito,determinadoe determinante daspartes,nãoé uma harmoniasimples,poisnão existe umatotalidadeacabada,masum processode totalizaçãoapartir das relaçõesde produçãoe de suas contradições.Umacompreensãodialéticadatotalidade exigearelação entre as partese o todoe as partesentre si.O todo,na verdade,sóse cria a si mesmona dialéticadaspartes,sópode existirconcretamente naspartese é na relatividade daspartes que o todo se estruturae caminha.8 Assim, atotalidade é aberta,ligadaaomovimentodoreal e emconstante processonoseudesenvolver.Existemcontradiçõesnoseiodatotalidade que levamaoreconhecimentodoreal comohistórico.A realidadeestáemmovimentocomsuas contradições,oque a conduzà superaçãode si mesma.A totalidade concreta“nãoé algo que
  • 10. tenhauma existênciaemsi.Elaé o processode criação de suaestruturaporque é vistacomo uma produçãosocial do homem”.8:37O homem, comosujeitohistórico-social,pelasuapráxis objetivaproduzarealidade e tambémpor elaé produzido.A totalidade “nãoé totalidade lisa, com partestranqüilamentejustapostas,estática,masincompleta,aproximada,imprecisa: formaum todo porque existedinâmicacomum, masmostrarachaduras constantes,poronde sempre pode entrara antidinâmicadamudança.Nãopossui apenasa dinâmicacircular,que é sempre a mesmae lhe permitiriarecuperar-seeternamente.Aocontrário,adinâmicaé feita de dinâmicascontrárias,feitasde convergênciase divergências”.6:108Esta apreensãoda totalidade nosexigeumpen- - 415 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. A interdisciplinaridade comoconstruçãodoconhecimento...samentocomplexo,capazde concebero que nosune,contextualizandoopensamentonosentidode que todo acontecimento,informaçãoouconhecimentosejaconsideradonarelaçãodainseparabilidade com seumeioambiente,sejacultural,social,econômico,políticoounatural.“Trata-se de procurar sempre asrelaçõese inter-retroaçõesentre cadafenômenoe seucontexto,as relações de reciprocidade todo/partes;comoumamodificaçãolocal repercute sobre otodoe como umamodificaçãodotodo repercute sobre aspartes.Tratase,ao mesmotempo,de reconheceraunidade dentrodadiversidade,odiversodentrodaunidade;de reconhecer,por exemplo,aunidade humanaemmeioàsdiversidadesindividuaise culturais,asdiversidades individuaise culturaisemmeioàunidade humana”.9:25Concluímosentãoque,quando pensamosemunidade nainterdisciplinaridade,estamosadotandoestavisãode totalidade, considerandootempo,oespaçoe o contexto(social,ético,político,econômicoe outros) que constituemoreal,nummovimentodialético,complexo,considerandoassuasmúltiplas determinações.Estamosabandonandoopensamentoque separaoque estáligado,que unificaoque é múltiplo,que simplificaoque é complexo,percebendoasinteraçõese ligações
  • 11. entre osfenômenose,considerandoairredutibilidade e complexidadedosere viverhumano. Ao considerarmosestasdefinições,admitimosavisão de que a realidade é complexae que estacomplexidadesópode serabordadanumavisãointerdisciplinar.Oenfoqueparticulardo real e comoum sistemaespecíficode relaçõesdoserhumanotraz uma visãoparcial da realidade,seminter-relaçãodotodocomas partese das partescom o todo,como se o mundo fosse estáticoe o viverprevisível.Aoabordarmoseste aspecto,torna-serelevantediscutirmos a construção do conhecimentodiante destaincertezae imprevisibilidade doreal,que nos mostra que saberesdiversossãonecessáriosparaconcebereste conhecimento.Nãose trata de uma integraçãodosconhecimentosde formasintéticae harmoniosa.Éumatarefadifícil.O problemadacomplexidade noscoloca“dadificuldadede permanecermosnointeriorde conceitos claros,distintos,fáceis,paraconcebermosaciência,paraconcebermoso conhecimento,paraconcebermosomundoemque estamos,paranosconcebermosanósna relaçãocom este mundo,paraconcebermosa nósna nossarelação comos outros e para nos concebermosanós na nossarelaçãocom nós mesmosque é,afinal,amaisdifícil de todas”.2:35 O problemanãoestáemque cada um perca a sua competência,masem compreenderde que modoestãoestruturadosoutrostiposde pensamentodiferentesdo nosso.“Está emque a desenvolvaosuficiente paraaarticularcom outras competênciasque, ligadasemcadeia,formariamoanel completoe dinâ- mico,oanel do conhecimentodo conhecimento”,2:33poishá necessidadede saberesdiversosparaque se concebao conhecimento.Pensamosque é necessárioultrapassar,relativizare englobarnummétodode pensamentocomplexo,dialógico.A dialógicaque propomosconstitui nãoumanovalógica, mas um modode utilizaralógicaem virtude de umparadigmada complexidade.Cada operaçãofragmentáriadopensamentodialógicoobedece àlógicaclássica,masnãoo seu movimentoemconjunto.Cadaumadascontradiçõesque surgemnacaminhadado
  • 12. conhecimentodeveserencaradanasua singularidadee problemáticaprópria.Énecessário “agir com”. A contradiçãoincitao pensamentocomplexo;nosservimosdelaparareativare complexificaropensamento.Énecessárioumpensamentoque saibatratar,interrogar, eliminare salvaguardarascontradições.Éa tarefa dopensamentocomplexo.Necessitamosde “uma cabeça bem-feita”,que significaumaaptidãogeral para colocare tratar os problemas, bemcomo princípiosorganizadoresque permitamligarossaberese lhesdarsentido,evitando a acumulaçãoestéril doconhecimento.A organizaçãodoconhecimentocomporta operações de ligação(conjunção,inclusãoe implicação) e de separação(diferenciação,oposição,seleção e exclusão).9Oprocessoé circular,comportandoao mesmotemposepara- çãoe ligação, como análise e síntese.Morinressaltaque emnossacivilização ligaçãoe síntese continuam subdesenvolvidas.A formade organizaçãodopensamentoé que geraas fronteirasentre as disciplinas,porissooproblemaé transformarestesprincípios.Odesenvolvimentodaaptidão para contextualizare globalizarossaberes torna-se imperativo.O“conhecimentotorna-se pertinente quandoé capazde situartoda a informaçãoemseucontexto,e,se possível,no conjuntoglobal aoqual se insere”.4:18Comojá citamosanteriormente,trata-se de reconheceraunidade dentrododiverso,odiversodentrodaunidade.Neste sentido,podemos considerara complexidade comoformade pensamento,comoumexercíciocognitivo.Um pensamentoque contextualiza,que adotavisõescomplementares,numprocessodinâmicode construçãodo conhecimento,produtodadialógicaentre ocertoe o incerto,entre aordeme a 416 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. MeirellesBHS,ErdmannAL desordem, entre o simplese ocomplexopresentesemnossasociedade.Aodirigirmosanossadiscussãoà saúde, salienta-se que nosetorsaúde temosgeralmenteumavisãodisciplinar,corporativa, unidimensional,numalógicalinear,mecanicistae redutora,que de certaforma nãopode explicaracomplexidade dofenômenosaúde/doençae darealidade.Assim, muitasvezes
  • 13. assume-se teoriasque buscamexplicarasocorrênciase os riscosde maneiraunicausal,de maneiralinearcausa/efeito.Éprecisoaprenderaultrapassara causalidade linear. “Compreenderacausalidade mútuainter-relacionada,acausalidade circular(retroativa, recursiva),asincertezasdacausalidade (porqueasmesmascausasnãoproduzemsempre os mesmosefeitos,quandoossistemasque elasafetamtêmreaçõesdiferentes,e porque causas diferentespodemprovocarosmesmosefeitos)”.9:77Osindivíduose as sociedadesnão podemproduzirconseqüênciassenãoatravésde causas,e comoestasnão ocorremna mesma escaladosseusefeitos,nãoé possível partirdopressupostode que ocontrole dascausas acarreta o controle dasconseqüências.Pelocontrário,afaltade controle sobre as conseqüênciassignificaque asaçõesempreendidascomocausastêm, nãoapenasas causas intencionais(lineares) daação,masuma multiplicidadeimprevisível(potencialmenteinfinita) de conseqüências.10O controle dascausas sendoabsoluto,é absolutamenteprecário.Este pensamentocomumemsaúde,levaaprá- ticas voltadasaações de prevençãoe controle de doençaspontuaise com enfoque mutiladodarealidade vividapelossujeitos.Destaforma, chegamosà discrepânciaentre acapacidade de ação (controle dascausas) e a capacidade de previsão(controle dasconseqüências),oque nosconvidaa um novoconhecimentomais próximodoreal.Aoestabelecermosasinter-relaçõese osfenômenosmultidimensionais, contextua-lizandooconhecimento,teremosumaconsciênciacapazde enfrentaras complexidades,comoemnossaspráticas,oprocessode viversaudável nasuaintegralidade. Hoje adotamoso conceitode vulnerabilidade e determinaçãosocial noprocesso saúde/doença,considerandoumamultiplicidadede acontecimentose de fenômenos,de riscos e de incertezas,noqual asestratégiascognitivasvisamde modocomplementar(e antagônico) simplificare a complexificaroconhecimento,religandoossaberes.2Nossosacontecimentos da vidacotidianadevemsercontextualizadose pensadosnumprocessode simplificaçãoe de
  • 14. complexificação,considerandooprovável e oimprovável,ohistórico,ocertoe o incerto,o singulare o diverso,oacidental,ovariável.Destaca-se que é “naprocura da simplicidade elementarque se chegaàcomplexidadefundamental”.11:28A simplificaçãoselecionaoque é de interesse docognoscente,eliminandooque é alheioasuafinalidade,e computaoestável, o determinadoe ocerto.A complexificaçãoconsideraomáximode dadose informações concretas,procurandoreconhecere computaro variado,o variável,oambíguo,o aleatórioe o incerto.Assim,dasimplificaçãoàcomplexificaçãochegamosaoconhecimento.Tantoa complexidade emsi comoosimplesemsi balançamentre oobjetivode compreendera complexidade maiorpossível e areduzirestacomplexidade aomenoscomplexopossí- vel, com a tendênciailusóriade considerarosimplesemsi mesmoouocomplexoemsi mesmo.11 A INTERDISCIPLINARIDADEESUA APLICABILIDADENASAÇÕESEMSAÚ- DE E ENFERMAGEM Para fazerface aos pressupostosde promoçãodasaúde e às ameaçasemergentesàsaúde,há necessidadede novasaçõese de construção contínuado conhecimento.Odesafioparaos próximosanosseráativaro potencial paraa promoçãoda saúde inerente emmuitossetores da sociedade,nascomunidadese nasfamílias.A visãohabitual disciplinar,corporativae unidimensional,que temosadotadoemsaúde,“tende adeformarnossavisãode mundo,o que nos levaa isolarosproblemasde saúde doseucontexto,simplificando-osparatentar resolvê-los.Comisso,obtémseumasoluçãoparcial e inadequada,dandoaimpressãoque os problemasse repetem,quandonaverdade,nãoforamresolvidos”.12:535Assim, aotratarmos maisespecificamentedapromoçãoda saúde comenfoque nasaçõesde Enfermagem, não podemosnosafastarda noção de interdisciplinaridade e complexidade,jáque asações envolvemmudanças,comoamudançanas comunidades,naspolíticaspúblicasouem comportamentose hábitosde vida.Umaintervençãoque abordamuitasdimensõesdavida social pode nosapresentarmuitosresultadospossíveis.Asintervençõesde promoçãoda
  • 15. saúde visama melhoriadaqualidade de vidae residematravésdoprocessocontínuode complexidade,diante dassuascaracterísticasde diversidadee heterogeneidade.Necessitamos de uma amplavisãoda base científicaque - 417 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set; 14(3):411-8. A interdisciplinaridade comoconstruçãodoconhecimento...considere a complexidade inerente àpromoção da saúde numenfoque multisetorial,compartilhandocom outrossaberes,outrasdisciplinas,outrossetorese coma população,com a consciênciade que não há respostafácil aoscomplexosfenômenoshumanos.Porém, esta“abordagem totalizadorae respeitosadacomplexidade dosfenômenosdavida,saúde,doença,sofrimento e morte”,que convivemosemnossapráticacotidianaemsaúde,necessita“de umtratamento teórico-metodológicoefetivamente transdisciplinar,tomandocomobase aperspectivada complexidade”.13:109 Asintervençõesde saúde incluemumamesclacomplexade muitas disciplinase camposde açãovariados,com o enfoque de melhorarasaúde,reorientaros serviçosde assistênciae fazercomque as pessoassejamprotagonistasdasuaprópriasaúde, exigemacompreensãoque muitasdisciplinasoubasescientíficaspodemtrazer.Aodiscutira epidemiade Aidscomoumproblemainternacional,oMinistériodaSaúde enfatizaque as práticassociaisnão pertencemmaisauma comunidade nacional exclusivamente,nem os indivíduosque asrealizamreconhecemapenasumaidentidadedistintivae homogênea,como antesera pensado.“A diversidade operatantonasformasdiferentesde se percebera realidade e,emúltimainstância,de se viver,quantonasformasdesiguaisemque aspessoase os grupossociaisincorporamnovosvalores,atitudese práticasatravésdosfluxos interculturais”.14:136 Neste sentido,anoçãode territórioé porosae susceptível de mediar com múltiploscenários,transcendendosuaoriginal visãoespacial,hojeinsuficiente paraa compreensãodosfenômenosque envolvemfronteiras,oranosseustermosgeopolíticos,ora na sua dimensãosimbólica,ou,ainda,comonotema que nosinteressa,naperspectivadas
  • 16. fronteirasdoprocessosaúde-doençae napromoção da saúde.Talveztenhamosque considerara saúde comoproduçãosocial,como processodinâmicoe empermanente transformação,rompendocoma setorializaçãodarealidade.Mendesreforçaque este estado de saúde permite aruptura com a idéiade umsetorsaúde,erigindo-acomoprodutosocial resultante de fatoseconômicos,políticos,ideológicose cognitivos.Istosignifica“inscrevê-la, como campodo conhecimento,naordemdainterdisciplinaridadee,comopráticasocial,na ordemda intersetorialidade”,15:241o que está coerente coma novavisãode saúde como qualidade de vidae a novavisãodossujeitoscomoprotagonistasdasuasaúde.REFLEXÕES FINAISA interdisciplinaridadee avisãocomplexasãotemaspoucodiscutidosnaárea da saúde,e maisespecificamentenaEnfermagem, e estareflexãopoderánostrazersubsídios para a suaefetivaçãocoma conseqüente melhoriadaqualidade dasnossasaçõesvisandoà promoçãoda saúde das comunidades.Interdisciplinaridade emsaúde aindaé confundidacom trabalhoemequipe,porém,temosclarezaque semconstruçãode conhecimentonãohá interdisciplinaridade,apenasjustaposiçãode açõesparcelares,que nãodãoconta de atender às ameaçasemergentesasaúde,de compreenderasnovidadesdasbiociências,asprofundas transformaçõesdavidacotidianae das relaçõesde trabalho,que desvelamocenário complexode umnovoparadigmadoconhecimento.A atuaçãointerdisciplinarnasequipesde saúde e Enfermagemimplicaemconstruçãodeste conhecimento,comoaquisiçãode competências,umapráticade inter-relaçãoe interaçãoentre asdiversasdisciplinas, articulaçãodos conhecimentos,numconstante ire virpara resoluçãodosproblemasou alcance dos objetivos,e conseqüentemente aampliaçãodasfronteirasdisciplinares.Implica emreflexão-ação-reflexão.Esse constante construir,desconstruire reconstruirpode contribuir para a evoluçãoe inovaçãodaEnfermagemcomoconhecimentoe profissão.Oesforçoé essencial nosentidode que se estabeleçaumanovavisãofrente aosproblemasque afetama
  • 17. saúde,comenfoque dapromoçãoda saúde emnossa sociedade,apontandoparaa construção de novossaberesatravésda interaçãoentre oscamposdisciplinares,comsujeitosconstruindo com sua experi- ênciade vidanovossaberescientíficos.Mesmo diantedastransformações que temosobservadoemnossasociedade,emtemposde mudançasparadigmáticase estruturais,osserviçosde saúde continuamequivocadamente assumindoaresponsabilidade pelaconduçãodo viversaudável emsociedade.Aosuperaresta noçãode saúde como atribuiçãoexclusivadosetorsaúde,partimosparauma ação intersetorial que destacaasaúde no contextodaspolí- ticassociaise de participaçãoda populaçãonoprocessodasdecisõese controle dascondiçõesde saúde doindivíduoe dacoletividade.Vivemosnumasociedade plural.A diversidade,ouseja,umajustaposiçãode pessoas,culturas,tradi- ções,diferenças políticas,históricas,religiosase de estilosde vidacaracterizamasociedade atual.Asdistân- - 418 - TextoContextoEnferm2005 Jul-Set;14(3):411-8. MeirellesBHS,ErdmannAL ciasforam encurtadascom o intensomovimentomigratórioe surgemmaioresdiferençasentre pessoas que vivemladoa lado.Esta sociedade é produzidae produtorade sujeitos,profissionaisde saúde ou clientes,que interageme objetivammelhorescondiçõesde saúde e vida.Assim, temoso desafiodapluralidadeemnossavidae práticaprofissional.A sociedade é umtodoe devemospensareste desafiocomoesforçode ampliaronossoentendimentoarespeitoda interaçãodas partesrumoà unidade e totalidadenestadiversidade,de formaque osdiversos setoresdasociedade percebam-se interdependentese responsáveisnaconstru- çãode uma sociedade maissolidáriae saudável.Estanovavisãoainterdisciplinaridade e acomplexidade nos trazem.REFERÊNCIAS1 NunesED.A questãoda interdisciplinaridadenoestudodasaúde coletivae o papel dasciênciassociais.In:Canesqui AM,organizadora.Dilemase desafiosdas ciênciassociaisnasaúde coletiva.SãoPaulo-Riode Janeiro:HucitecAbrasco;1995. p.95-115. 2 Morin E. A religaçãodossaberes:odesafiodoséculoXXI.Riode Janeiro:BertrandBrasil;2001.
  • 18. 3 JapiassuH.Interdisciplinaridade e patologiadosaber.Riode Janeiro:Imago;1976. 4 Morin E. Educação e complexidade:ossete saberese outrosensaios.SãoPaulo:Cortez;2002. 5. Etges NJ.Ciência,Interdisciplinaridade e Educação.In:JantschAP,Bianchetti L.Interdisciplinaridade: para alémda filosofiadosujeito.Petrópolis:Vozes,1995. p. 51-84. 6 DemoP. Metodologiado conhecimentocientífico.SãoPaulo:Atlas;2000. 7 Morin E. O Método 5: a humanidade da humanidade.Trad.JuremirMachadoda Silva.PortoAlegre:Sulina,2002. 8 Cury CRJ. Educação e contradição:elementosmetodológicosparauma teoriacrítica do fenômenoeducativo.6a. ed.São Paulo:Cortez;1995. 9 Morin E. A cabeça bem-feita:repensare reforma,reformaro pensamento.Riode Janeiro:Bertrand;2000. 10 SantosBS. A crítica da razão indolente:contra o desperdíciodaexperiência.3a.ed.São Paulo:Cortez;2001. 11 Erdmann AL. Sistemade cuidadosde enfermagem.Pelotas:Universitária/UFPEl;1996. 12 KoerichMS,Erdmann AL. Enfermageme patologiageral:resgate e reconstruçãode conhecimentosparauma prática interdisciplinar.Texto e Contexto.2003 Out.-Dez;12 (4): 528-37. 13 AlmeidaFilhoN,Andrade RFS.Holopatogênese:esboçode umateoriageral de saúde-doençacomobase paraa promoçãoda saúde.In: CzeresniaD,FreitasCM.Promoçãoda saúde:conceitos,reflexões, tendencias.Rio de Janeiro:Fiocruz;2003; p.97-116. 14 MinistériodaSaúde (BR).Secretariade Políticasde Saúde.A respostabrasileiraaoHIV/Aids:experiênciasexemplares.Brasília: CoordenaçãoNacional de DST/Aids;1999. 15 MendesEV.Uma agendapara a saúde.São Paulo:Hucitec; TRABALHO02 Competênciadosprofissionaisdasaúde parao trabalhointerdisciplinar*SAUPE,R.etal. Competence of healthprofessionalsforinterdisciplinarywork.Interface - Comunic.,Saúde,
  • 19. Educ.,v.9, n.18, p.521-36, set/dez2005. Interdisciplinarity,asone of the keyconceptsfor the consolidationof publicpoliciesinthe areaof health,wasfocusedbasedonthe perspective of the professionalswhoare facedwiththe challenge of puttingitintopractice.Understanding interdisciplinarityasa competence resultingfromarange of knowledge,skillsandattitudes,it was organizedinthe formof a tree diagram.This diagramwasinitiallysubmittedfor evaluationbyagroup of twenty-one judges,andsubsequently,byasample of one hundred and forty-fivehealthprofessionals.The resultsshow aconsistencybetweenthe researcher’s proposal andthe evaluationof the participatingsubjects,sinceona scale of zeroto ten,the final level of performance wasovernine.The space providedfor statementsbythe subjects resultedinthe additionof importantcategories,enrichingthe studyasa whole.KEYWORDS: interdisciplinarity.competence-basededucation.humanresourcesinhealth.A interdisciplinaridade,comoumdosconceitosnuclearesparaconsolidaçãodaspolíticas publicasnaárea da saúde,foi focalizadanaperspectivadosprofissionaisque estãocomo desafiode concretizá-lanaprática.Entendidacomoumacompetênciaque resultade um conjuntode conhecimentos,habilidadese atitudes, foi organizadanaformade diagrama hierárquico.Este foi inicialmentesubmetidoàavaliaçãoporumgrupo de vinte e um juizese posteriormente aumaamostra de centoe quarentae cinco profissionaisdasaúde.Os resultadosevidenciaramaderênciaentre a propostadospesquisadorese aavaliaçãodos sujeitosparticipantes,poisnumaescalade zeroa dez,o índice de desempenhofinalficou acima de nove.Oespaçoaberto para depoimentosdossujeitosresultouemimportantes categoriasa seremagregadas,enriquecendoatotalidade estudada.PALAVRAS-CHAVE: interdisciplinaridade.educaçãobaseadaemcompetências.recursoshumanosemsaúde. * Resultadode pesquisa,conforme projetosubmetidoàFAPESC(antigaFUNCITEC),Edital 003/2003, aprovadoe financiadopelaFUNCITEC/MINISTÉRIODA SAÚDE/UNESCOFCTPNO
  • 20. 2186/039. AprovadopelaComissãode Éticada UNIVALI(no381/2003); VinculadaaoPrograma de Mestrado ProfissionalizanteemSaúde e GestãodoTrabalho;ao grupo de pesquisaem Educação na Saúde e Gestãodo Trabalho;à linhade pesquisaFormaçãode RecursosHumanos na Saúde.Agradecemosàspessoasque colaboraram:sujeitosdapesquisa;bolsistas;apoio logístico;colegase alunosdoCurso de MestradoProfissionalizante emSaúde e Gestãodo Trabalho.Asinstituições: FAPESC(antigaFUNCITEC);MinistériodaSaúde;17a Regional de Saúde de Santa Catarina;UNIVALI.1 Enfermeira,CoordenadoradoProjeto;docente,Cursode MestradoProfissionalizante emSaúde e GestãodoTrabalho.2 Médico,pesquisadordo projeto;docente, Cursode MestradoProfissionalizante emSaúde e GestãodoTrabalho.3 Enfermeira,pesquisadoradoprojeto;coordenadora,Cursode MestradoProfissionalizanteem Saúde e Gestão doTrabalho.4 Enfermeira,pesquisadoradoprojeto;docente,Cursode MestradoProfissionalizante emSaúde e GestãodoTrabalho.1 Rua Mediterrâneo,172, apto 401 CórregoGrande - Florianópolis,SC88.037-610 RositaSaupe 1 Luiz RobertoAgeaCutolo2 ÁguedaLenitaPereiraWendhausen3GladysAméliaVélezBenito4Competênciados profissionaisdasaúde parao trabalhointerdisciplinar*SAUPE,R.et al.Competence of health professionalsforinterdisciplinarywork.Interface - Comunic.,Saúde,Educ.,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005. Interdisciplinarity,asone of the keyconceptsforthe consolidationof public policiesinthe areaof health,wasfocusedbasedonthe perspectiveof the professionalswho are facedwiththe challenge of puttingitintopractice.Understandinginterdisciplinarityasa competence resultingfromarange of knowledge,skillsandattitudes,itwasorganizedinthe formof a tree diagram.Thisdiagram wasinitiallysubmittedforevaluationbyagroupof twenty-one judges,andsubsequently,byasample of one hundredandforty-five health professionals.The results showaconsistencybetweenthe researcher’sproposal andthe evaluationof the participatingsubjects,since onascale of zeroto ten,the final level of
  • 21. performance wasovernine.The space providedforstatementsbythe subjectsresultedinthe additionof importantcategories,enrichingthe studyasa whole.KEYWORDS: interdisciplinarity.competence-basededucation.humanresourcesinhealth.A interdisciplinaridade,comoumdosconceitosnuclearesparaconsolidaçãodaspolíticas publicasnaárea da saúde,foi focalizadanaperspectivadosprofissionaisque estãocomo desafiode concretizá-lanaprática.Entendidacomoumacompetênciaque resultade um conjuntode conhecimentos,habilidadese atitudes,foi organizadanaformade diagrama hierárquico. Este foi inicialmentesubmetidoàavaliaçãoporumgrupo de vinte e um juizese posteriormente aumaamostra de centoe quarentae cinco profissionaisdasaúde.Os resultadosevidenciaramaderênciaentre apropostadospesquisadorese aavaliaçãodos sujeitosparticipantes,poisnumaescalade zeroa dez,o índice de desempenhofinalficou acima de nove.Oespaçoaberto para depoimentosdossujeitosresultouemimportantes categoriasa seremagregadas,enriquecendoatotalidade estudada.PALAVRAS-CHAVE: interdisciplinaridade.educaçãobaseadaemcompetências.recursoshumanosemsaúde. Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 521 SAUPE,R. ET AL. 522 Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 IntroduçãoA pauta convergente naáreada saúde,na atualidade,mobilizadorade esforçosintegradosentre MinistériodaSaúde (MS) e MinistériodaEducação (ME), dizrespeitoàspolíticaspúblicasque focalizamareorientaçãodomodeloassistencial,conforme preconizado pelaReforma Sanitária.A consolidaçãodoSistemaÚnicode Saúde (SUS) depende tantodosucessode estratégiascomooPrograma de Saúde da Família(PSF) e da implementaçãode processosde Educação Permanente (EP),de competênciadoMS, quantoda revitalizaçãodosProjetos Pedagógicos(PP) doscursosde graduação,incorporandoaspremissasdaLei de Diretrizese Basesda Educação Nacional (LDB),conforme estabelecemasDiretrizesCurriculares(DC),
  • 22. atribuiçõesdaalçadado ME. Para tanto,é urgente que se estabeleçaumanovarelaçãoentre os profissionaisde saúde [...] diferentemente domodelobiomédicotradicional,permitindo maiordiversidade dasaçõese buscapermanente doconsenso.Tal relação,baseadana interdisciplinaridade e nãomaisnamultidisciplinaridade[...] requerumaabordagemque questione ascertezasprofissionaise estimuleapermanente comunicaçãohorizontalentre os componentesde umaequipe.(CostaNeto,2000,p.9) Assim, ainterdisciplinaridade constitui um entre osváriostemasque necessitamseremdesenvolvidosparageraremcontribuição para a pautada área da saúde,poisentendemosque ocontextohistóricovividonessavirada de milênio,caracterizadopeladivisãodotrabalhointelectual,fragmentaçãodoconhecimento e pelaexcessivapredominânciadasespecializações,demandaaretomadadoantigoconceito de interdisciplinaridade que,nolongopercursodoséculopassado,foi sufocadopela racionalidade darevoluçãoindustrial.Naperspectivacontemporâneanaqual este estudose insere,ainterdisciplinaridadecontempla:oreconhecimentodacomplexidade crescente do objetodasciênciasdasaúde e a conseqüente exigênciainternade umolharplural;a possibilidadede trabalhoconjunto,que respeitaasbasesdisciplinaresespecíficas,mas busca soluçõescompartilhadasparaos problemasdaspessoase dasinstituições;oinvestimento como estratégiaparaa concretizaçãoda integralidade dasaçõesde saúde.A partirdestas constataçõesdecidimosincluirainterdisciplinaridade comoumdostemasque foram estudadosnumprojetosobre competênciasparaaconsolidaçãodoSUS/PSF.O objetivofoi mapear,a partir de documentosoficiais,literaturae opiniãode peritos,umconjuntode saberesteóricos,práticos,pessoaise interpessoais,necessários aotrabalhointerdisciplinarem saúde e submetê-losaapreciaçãode profissionaisdaárea,incorporandotambémsuas contribuições,sobaformade depoimentos,àcompreensãodoconceitoemsuasvárias dimensões.Referencial teóricoA base de sustentaçãoteóricadeste estudopartiudos
  • 23. elementoscomunsque devemserdesenvolvidosemtodososcursosde graduação, destacandoa competênciapara“trabalharemconjuntocom outrosprofissionaisdaárea COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAISDA SAÚDE...Interface - Comunic, Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 523 de saúde”,ouseja,de modointerdisciplinar(Almeida& Maranhão, 2003). Interdisciplinaridade temsidoobjetoconstante de discussãoquandose aborda as ciênciasdasaúde.Emboraa palavratenharecebido tratamentosistemático,pouco se tem categorizadooque se pretende dizersobre ela.Japiassú(1976) levantoua possibilidadedesseneologismotomarsentidosamplose diversificados,comconseqüentes entendimentose usos.Acreditamosque apolissemiaque a interdisciplinaridadedesperta pode serentendida,pelomenosparcialmente,namedidaemque seusignificadose recortaao interiordoobjetoespecíficoque se pretendeinvestigarouenfrentar.Porexemplo,num sentidoamplopoderíamosqualificaraBioquímicacomoum produtode uma relação interdisciplinarentre aBiologiae aQuímica,originandoumanovadisciplina.Outropoderia indicarque Educação emSaúde é uma áreado conhecimentoarticuladainterdisciplinarmente entre ospressupostosdaSaúde Coletivae aEducação Construtivista.Estesexemplosjá tendemadimensionaroproblemadasmultifacesdacategoria.Emborareconheçamoscomo legítimos,apartirde seusplanosde incisão,osdoisexemplosapresentadoscomo possibilidadesinterdisciplinares,ocupar-nosemoscomumacategorizaçãoumpouco mais pragmáticano âmbitode práticas que envolvamosdiferentesprofissionaisdaáreada saúde e suas conseqüênciasparao cotidianodasUnidadesBásicasde Saúde;portantochamaremosde interdisciplinaridade arelaçãoarticuladaentre asdiferentesprofissõesdasaúde.Usandodas categoriasepistemológicasde Fleck(1986) pretendemosqualificarasprofissõescomosendo diferentesColetivosde Pensamentofundamentadas,cadaqual,emseuEstilode Pensamento, ou seja,numolharestilizadoque permeiaumconjuntode regraspara a abordageme
  • 24. resoluçãode umproblema,baseadosnumaformaçãoespecíficae diferenciadacommarco conceitual identificado.Oque queremosdizeré que omédico,oenfermeiro,oodontólogo,o psicólogoouqualqueroutroprofissional dasaúde compõemdistintosColetivosde Pensamentoe,conseqüentemente,constróemfatosnovosdiante de problemascomuns.Mas, o que é interdisciplinaridade?Qual adiferençaentre asterminologias,muitasvezes confundidas,comointerdisciplinaridade,transdisciplinaridade,multidisciplinaridade, pluridisciplinaridade?Achamosimportante umaaproximaçãocomestesconceitos,jáque são usadosmuitasvezescomosinônimosoucomsentidosplurais.Longe de encerrarosignificado com uma definiçãofechada,optamospelasaproximaçõesde Japiassú(1976) modificadas.A multidisciplinaridadeindicaumaexecuçãode disciplinasdesprovidasde objetivoscomunssem que ocorra qualqueraproximaçãooucooperação.Napluridisciplinaridadehaveriaumnúcleo comum,já aparecendoumarelação,com certograu de colaboração,massemuma ordenação; haveriaumtoque,umtangenciamentoentre asdisciplinas.Estasduasterminologiassão freqüentemente colocadascomosinônimos,oque necessariamentenãose constituiriaum erro.RosenfieldapudPerini etal.(2001) chama de multidisciplinaroque Japiassú(1976) chama de pluridisciplinar,ouseja,quandoumproblemacomumé tratadode forma seqüencial ou paralelapordisciplinasespecíficas.AindaRosenfieldapudPerini etal.(2001) caracterizaa interdisciplinaridade comoapossibilidade dotrabalhoconjuntonabuscaSAUPE,R. ET AL.524 Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 de soluções,respeitando- se as basesdisciplinaresespecíficas.Concluindo,referese àtransdisciplinaridade como trabalhocoletivoque compartilha“estruturasconceituais,construindojuntos,teorias, conceitose abordagensparatratar problemascomuns”(RosenfieldapudPerini etal.,2001, p.103). Neste casoa disciplinaemsi perde seusentidoe nãohálimitesprecisosnas identidadesdisciplinares.Numarelaçãopluridisciplinarumpaciente comrespiradorbucal
  • 25. poderáprimariamente seratendidopelomédicode família.Umavezdiagnosticadopoderáser encaminhadoaootorrinolaringologistaque,umavezverificadasascondiçõesdopalatodo paciente,oencaminhaaoordodontistae aofonoaudiólogo.Comovemos,cadaqual realiza seutrabalhoseparadamente,semcooperaçãodireta.Numaperspectivainterdisciplinara abordagemdoproblemaseriavistaconjuntamente,bemcomoabuscade soluçõescriativas para resolvê-lo.Mas,oque é necessárioparaque a interdisciplinaridade se torne umaforma natural e solidáriade trabalho,que ultrapasse asarrogânciaspessoais,anecessidade de exercerpodersobre osoutrose a tradiçãode centralizarosprofissionais,deslocandoparaa periferiadoprocessoosujeitoque sofre poradoecimento,porfaltade conhecimentoou energiaparase cuidar,logonecessitandode atenção,assistência,informação?Estafoi a questãooriginal deste estudoe pararespondê-la,encontramosnoRelatórioUnesco,da ComissãoInternacionalsobre Educaçãopara o SéculoXXI(Delors,1998),a base para propor um conjuntode saberes,conforme propõeoreferidodocumento.MetodologiaA metodologia selecionadaparaconduzira coletae análise dosdadostemsuaorigemna Universityof North Carolina,propostanoinícioda décadade setenta,introduzidanoBrasil emmeadosdamesma década(Spínola& Pereira,1976) e utilizadanaavaliaçãode algunsprogramas(Saupe,1979; Spínola& Pereira,1977). Inclui as seguintesetapas:elaboraçãodo“Diagramade Árvore”; consultaa “experts”,denominado“MétododoJúri”;verificaçãodaconcordânciaentre os juizes;construçãoe aplicaçãode instrumento(s) aumapopulação/amostraque teminteresse emrelaçãoao tema;avaliaçãododesempenho.Este processoresultaemumaavaliação quantitativaque validaumapropostateóricaporum grupode juizes,sendosubmetida tambéma uma populaçãomaisamplade interessadosnatemática,incorporandosuas contribuiçõesconceituaisexpressasemdepoimentos.Naapresentaçãodosresultados seguiremosestamesmaseqüência,detalhandoosaspectosmetodológicos,favorecendosua
  • 26. compreensão.Osdadosqualitativosforamanalisadosseguindo-seoseguinte percurso: inicialmente osdepoimentos,sobaforma de comentários,explicações,sugestões,foram transcritose organizadosporcategoriaprofissional;emseguida,paraumaprimeira aproximaçãocomeste conteúdosistematizado,foi realizadaaleituraexaustivae flutuantedas respostastranscritas,nosentidode apurarmosumapossível classificação.Apesarde entendermosque adecupagemdascompetênciasemhabilidades,atitudese conhecimentos têm-se tornadodifícil emfunçãode suasintrínsecasracionalidades,optamos,paramantera COMPETÊNCIA DOS PROFISSIONAISDA SAÚDE...Interface - Comunic,Saúde,Educ,v.9,n.18, p.521-36, set/dez2005 525 lógicada descriçãodaprimeirafase dapesquisa,peladivisãoem trêsgrandesblocosde categorias.Numsegundomomento,passamosàfase de categorização, propriamente dita,assinalandopalavrase expressõesque poderiamdarsignificadosno desdobramentodascompetências.Oterceiromomentofoi caracterizadopelaanálise inferencialdascategoriasclassificadas.Comopoderáserobservadoalgumascategorias poderiamserconsideradashíbridas,podendotransitar,de acordocomseupotencial,como atitude,habilidade e conhecimento,oque vai aoencontrode nossa percepçãode que estes elementosse engendram(Bodgan&Biklen,1994; Minayo,1992; Triniños,1987; Lüdke & André,1986). Registramosaindaque oprojetoseguiutodasastramitaçõesnecessáriasasua aprovação ética,resultandonoParecer381/2003, da Comissãode Ética da UNIVALI.A dimensãoéticacumpriutodososcuidados,incluindoaassinaturade termode consentimento pós-informado.ResultadosParticiparamdestapesquisa,comoavaliadores,umgrupode peritose uma amostrade profissionaisde saúde,conforme apresentadonatabela1. O númerode juizesconsultadofoi definidopelospesquisadores.Quantoaosdemais profissionais,trabalhamoscoma perspectivade atingiratotalidade dapopulaçãoque, localizadosnoperíododestinadoàcoletade dados,informadossobre oprojeto,livremente
  • 27. consentissememparticipar.A populaçãoestimadaincluía133 docentes,sendo:21 enfermeiros;67médicos;e 45 dentistas.QuantoaostrabalhadoresdoPSF,verificamosque estavamatuandono territóriode abrangênciadapesquisa(17aRegional de Saúde de Santa Catarina):66 médicos,igual númerode enfermeirose 12 dentistas,totalizando144 profissionais.Opercentual daamostrade docentesque aceitouparticipardoestudofoi de 42% e de profissionaisdoPSFfoi de 62%, resultandonumtotal de 52% de representatividade do universoemestudo.Conforme atabela1,o grupo maisrepresentativoentre osdocentes foi dosodontólogose nasequipesde PSFosenfermeirosmerecemdestaque.Tabela1 - Distribuiçãodosprofissionaisque participaramdoestudoEnfermeirasDentistasMédicos FarmacêuticoFonoaudiólogoFisioterapeutaPsicólogoTOTALProfissãoJuízesDocentesPSF TOTAL 07 06 04 01 01 01 01 21 12 29 15 - - - - 56 51 11 27 - - - - 89 70 46 46 01 01 01 01 166 O Diagrama de Árvore (DIAGRAMA 1) segue omodelooriginal dametodologiae representaa decomposiçãodacompetênciaparainterdisciplinaridade,emsuasdimensõesde conhecimentos,habilidadese atitudes.Asfontesparadefiniçãodestamatrizincluírama experiênciadospesquisadoresenvolvidos,documentoslegaisque normalizamocampode conhecimentoe aliteratura.Estaetapapode ser consideradacomoa contextualizaçãodo fenômeno,capturandoasváriasperspectivasde perceberarealidade,nocasoda interdisciplinaridade comocompetêncianecessáriaaotrabalhoemsaúde da família.Esta matrizfoi submetidaàavaliaçãopor umgrupo de 21 (vinte e um) juizesconvidados,que atribuírampesosa cada componente (usaremoscomosinônimo:variável ouatributo) conforme importânciarelativa,emcomparaçãocomas demaisemseunível.A importância traduziu-se porumpesona escalade 1 – importânciamuitobaixa,a5 – importânciamuito alta.Na seqüênciafoi verificadaaconcordânciaentre osjuizes.Estaconcordânciaé consideradanatural quandoocomponente receberomesmopesode todosos juizes.Nocaso
  • 28. deste estudo,estaconcordâncianãoaconteceucomnenhumadasvariáveis.Assim,conforme orientaa metodologia,foi definidaamedianaentre ospesos.Todavia,noprocessode análise e para refinarasdiferençasde avaliaçãoentre oscomponentes,calculamostambémamédia. Estesdadosestãoinseridosnodiagrama1 e mostrama avaliaçãoaltamente positivarecebida pelaproposta,jáque nenhumavariável ficoucommediana inferiora4 ou médiamenorque 3,66. A distribuiçãode todosospesosatribuídospelosjuizes,conforme osatributosde cada dimensãodacompetênciaparainterdisciplinaridade,estáapresentadanatabela2. CompletadooDiagramade Árvore (Diagrama1) com todosos seuscomponentes discriminadose pesosatribuídos,passamosàconstruçãodo(s) instrumento(s),focalizandoos componentesde últimonívelapresentadosnodiagrama.A escalaparaavaliaçãofoi ajustadaa valoresentre 0 – avaliaçãototalmente negativae 10 – avaliaçãototalmente positiva.Foram incluídasaindaquestõesabertas,possibilitandoexpressõesindividuaisdosinformantes, evidenciandoaspectoscomunsousingularesde suaspercepções.Este instrumentofoi aplicadoindividualmente aos145 participantes(enfermeiras,médicose dentistas),sendo56 docentese 89 profissionaisdoPSF.Paraavaliaçãododesempenhode cadacomponente, foramaplicadasas seguintesequações:a) paramedidadasatividadesde últimonível:(VeL0x Nr0)+(VeL1xNr1)+..........Até incluirtodososvaloresdaescala Nr0+Nr1+Nr2+......(que deve corresponderaonúmeroTOTAL de respondentesSendo:VeL0= Valor0 da escalaLIKERT na questão1, e assimsucessivamente;e Nr0= Númerode respostas0na questão1, e assim sucessivamente.Oresultadoé umÍndice de Desempenhodaquestão,correspondente aum valorente 0 e 10 b) para medidadoscomponentesdosdemaisníveis:D= ∑Da Wa ∑ Wa Ou seja,o desempenhode cadacomponente é igual àsomatóriadosíndicesresultantesda avaliaçãodas atividadesde últimonível e multiplicadospeloseupeso;esteresultadoé divididopelasomatóriadospesos.Natabela2apresentamosadistribuiçãodosvaloresde 0-
  • 29. 10 em númerosabsolutos,antesdaaplicaçãodasequações,oque jáfornece visibilidade positivarecebidapelaproposta.Ouseja,das1740 ocorrênciasregistradaspelosentrevistados, encontramostendênciade aumentodafreqüênciadonumerode respostasconformeovalor vai ficandomaispositivo,atingindoopercentual de 88,70 quando somamosas respostas concentradasnosnúmeros8, 9 e 10. Tabela2 – Distribuiçãodosvaloresde 0a 10 atribuídos pelos145 entrevistadosNaseqüênciadoestudoforamaplicadasasequações.Osvalores obtidosemcada componente foramconvertidosparauma Escala de Medidado Desempenho (figura2),sendoconsiderada‘regiãode fracasso’asituadaentre 0 (zero) e 4 (quatro), indicandoaextremafragilidade doscomponentesque ficaramneste patamar;entre 4,1 (quatroe um) e 7 (sete) encontra-sea‘regiãode indefinição’que atribui àvariável um desempenhointermediário;osucessoé alcançadoquandoa variável atingirumpatamar acima de 7,1 (sete e um),evidenciandooplenoalcance doobjetivorelativoàmesma.Estes resultadostambémforaminseridosnoDiagramade Árvore (Diagrama1) completandoociclo quantitativodaavaliação.Ouseja,cadacomponente ouvariável avaliadatevesua representaçãoincluindosuadescrição,opesocorrespondenteàmedianae a médiaconforme avaliaçãodos21 juizese uma medida de seudesempenho,resultadodaaplicaçãodas link http://www.scielosp.org/pdf/icse/v9n18/a05v9n18.pdf