1. Paisagens, Regiões e Organização do Espaço
Orlando Ribeiro
(Finisterra, XXXVI, 72, 2001, pp. 27-35)
Orlando Ribeiro (1911-1997), licenciado em Geografia e História em 1932 e
doutorado em Geografia em 1935, foi professor académico e reconhecido
investigador. Considerado o renovador desta ciência no século XX, é também o
geógrafo português com mais ampla projecção a nível internacional.
O interesse por diversas áreas, tanto cientificas como humanísticas, espelha-se na
sua vasta obra. Devido à sua vertente humanista renovou a geografia, pela introdução
do factor humano. Por outro lado, sempre considerou a formação naturalista
indispensável a um geógrafo. Das suas obras destaca-se “Portugal. O Mediterrâneo e
o Atlântico “ e a criação, em 1996, da revista Finisterra.
(adaptado de www.orlando-ribeiro.info)
I. Nota Introdutória (Prof. Carlos Alberto Medeiros)
Hoje em dia discute-se a Paisagem sob vários aspectos, mas “esta renovada
curiosidade pela Paisagem não nos pode levar a esquecer que o seu estudo é
tão antigo como a própria geografia”.
Uma das mais simples definições de geografia é a de “descrição e
interpretação das paisagens da superfície terrestre”
A Paisagem como tema de estudo eminentemente geográfico
A paisagem como facto concreto, real (é o que “está lá”) e independente do
seu significado.
II. Questões abordadas por Orlando Ribeiro (1982)
As expressões Paisagem, Região e Organização do espaço foram retiradas do
vocabulário corrente pelos geógrafos, que as complicaram e tornaram difíceis de
distinguir. Por isso, muitas vezes se acrescenta o qualitativo de geográficas.
Em cinco pontos Orlando Ribeiro precisa o sentido destas expressões:
1) A Paisagem
“ Uma paisagem é um espaço acessível à observação.”
Considera os factos visíveis da paisagem e os invisíveis, que explicam os
factos visíveis
A importância da vegetação na identificação de uma paisagem: Humboldt diz
que esta “é o elemento da paisagem que melhor permite situar um lugar na
superfície do globo” e Vidal de La Blache afirma que “é ela que emerge
primeiro na evocação de uma paisagem escondida na memória”
2. “Abordar o estudo da paisagem pelo dos seus elementos que resulta das
interferências mais complexas, ideia que alguns geógrafos fizeram
recentemente ressurgir, remonta, em suma, aos grandes iniciadores da
Geografia”
Geografia Humana (J. Brunhes, 1991)
– a geografia humana estuda “ a marca que as obras humanas – construtivas e
destrutivas – imprimem no solo”
- “uma região definia-se antes de mais nada pelo tipo de paisagem que
apresenta para observação, com os seus factos visíveis de formas bem
distintas e uma ambiência, que vai do clima até aos regimes de exploração
económica, ambiência nem sempre directamente observável, mas que se
traduz pela cobertura vegetal e as culturas, o parcelamento da área agrícola,
os caminhos...e muitos outros factos susceptíveis de observação; a dominante
pode ser natural ou humana”.
2) Paisagem Geográfica
“Região geográfica como a extensão de determinado tipo de paisagem”, Max
Sorre
A expressão paisagem foi durante algum tempo utilizada no sentido de região.
Do alemão Landschaft – landerkunde (geografia regional)
No Congresso Internacional de Geografia de Amesterdão (1938) examinou-se
a noção de “paisagem geográfica”.
Neste congresso debateram-se 3 questões relacionadas com o elemento
humano da Paisagem:
a) “O conceito de Paisagem na geografia humana”; pode-se distinguir claramente
paisagem natural de paisagem humana? (...);
b) O estudo da estrutura da paisagem para a utilização do solo – Ordenamento do
Território; a intervenção dos geógrafos - geografia “aplicada”;
c) Quais são os princípios para a conservação das belezas da paisagem?
3) A Harmonia da Natureza
Humboldt, Cosmos
“A natureza é a unidade na diversidade dos fenómenos” (ecologia); harmonia; a
Natureza é o Todo
Humboldt critica “a simples acumulação de observações sem relação entre si”
(ciência analítica) que esfriou o sentimento e impede a contemplação (estética)
“O que só tem vida por uma mudança contínua de forma e movimento interior”
(fenómenos invisíveis = fenómenos ecológicos)
“A noção das ‘harmonias naturais’ e a concordância dos factos humanos com
elas (...) dominará não só a eclosão da Geografia Moderna mas um século dos
seus progressos”
3. 4) A Organização do Espaço e a Geografia
“Há hoje tendência para limitar a expressão organização do espaço unicamente
à geografia humana. Mas os espaços naturais têm a sua fisionomia própria, ou
por outras palavras, a sua organização.”
Orlando Ribeiro tem uma visão global: vê na paisagem a articulação da
geografia humana com a geografia física; “a visão orbital repõe a geografia
geral”; imagem global (de globo)
Conclusão: “qualquer paisagem está organizada e é a trama das regiões,
concebidas como área de extensão de determinada paisagem”
Defende como desejável a aplicação deste método nos projectos de divisão
regional, mas tendo em conta as profundas transformações do domínio da
política e da economia, que o geógrafo não deve negligenciar;
Considera o “Planeamento” uma opção perigosa para os geógrafos, por esta
razão defende uma geografia “não comprometida”.
5) A Natureza como principal guia
“A expressão organização do espaço sobrepôs-se no uso e tende a substituir a
de paisagem. A poderosa civilização industrial parece dominar cada vez mais a
Natureza, transformar, arredar ou aniquilar o espaço físico.”
Vidal de La Blache, no começo do século XX, dizia que “ o estudo atento de
tudo o que é fixo e permanente deve ser ou tornar-se mais do que nunca o
nosso guia”
Muitos geógrafos dedicam-se de preferência ao estudo dos princípios da
organização humana, ao estudo das cidades e das suas redes. Mas “é a
natureza, mais ou menos carregada de trabalho humano, que forma o quadro
das paisagens”
III. Conclusões
Orlando Ribeiro procura assim explicar que a resposta aos nossos problemas actuais
de organização do espaço e da sua sustentabilidade, se encontra na própria harmonia
da natureza (“o estudo de tudo o que é fixo e permanente”), e não somente no reflexo
das acções humanas no espaço, da geografia humana.
Assim, segundo esta visão global da paisagem, o papel do geógrafo passa por realizar
uma investigação que analise em conjunto os factores naturais e humanos, na
perspectiva de uma geografia “não-comprometida”.
Instituto Superior de Agronomia, Outubro de 2010
Estética e Ética da Paisagem
Maria Luísa Monteiro Franco