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11
22 
MMiigguueell TToorrggaa 
OO HHoommeemm,, oo EEssccrriittoorr,, oo TTeemmppoo,, 
aa TTeerrrraa ee aa DDeemmooccrraacciiaa 
DDiiaappoorraammaa ddee LLuuííss AAgguuiillaarr ee VViittáálliiaa RRooddrriigguueess 
Concebido a partir do livro Fotobiografias de Clara Rocha. 
Consulado-Geral de Portugal 
em Montreal
33 
MMiigguueell TToorrggaa 
OO HHoommeemm
44 
Ter um destino 
é não caber no berço 
onde o corpo nasceu, 
é transpor as fronteiras 
uma a uma 
e morrer sem nenhuma. 
Miguel Torga 
In Fernão de Magalhães, 
Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, 1999.
55 
Miguel Torga 
(pseudónimo de Adolfo Correia Rocha) 
nasceu em S. Martinho de Anta há cem anos, 
a 12.08.1907 e morreu em Coimbra a 17.01.1995. 
Nasci como um cabrito ou como um pé de milho
66
77 
O destino plantou-me aqui 
e arrancou-me daqui. 
E nunca mais as raízes 
me seguraram bem em nenhuma terra.
88 
Os pais, Francisco Correia Rocha e Maria da 
Conceição Barros, e a irmã Maria
99 
Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa 
apalaçada do Porto, habitada por parentes da 
família. 
O pequeno criado ganhava quinze tostões por mês 
e dormia num cubículo de campainha à cabeceira. 
Fardado de branco servia de porteiro, “moço de 
recados”, regava o jardim, “limpava o pó e polia 
os metais da escadaria nobre”, “atendia 
campainhas”. 
Foi despedido um ano depois, devido à constante 
insubmissão.
1100 
Em 1918 vai para o Seminário de 
Lamego, onde viveu “um dos anos 
cruciais”da sua vida, tendo melhorado 
os conhecimentos de português, da 
geografia, da história, aprendido o 
latim e ganhado familiaridade com os 
textos sagrados . 
No fim das férias comunicou ao pai 
que não seria padre.
1111 
A grande aventura juvenil 
1919 
Foi então enviado, aos doze 
anos, para o Brasil (Minas 
Gerais), a fim de trabalhar 
numa fazenda que pertencia 
a um tio.
1122 
Fazenda de Santa Cruz (Minas Gerais)
1133 
Simples máquina de trabalho era o último a deitar- 
-me e o primeiro a erguer-me, sem domingos nem 
dias santos para que a engrenagem funcionasse com 
perfeição. 
Carregar o moinho, mungir as vacas, tratar dos porcos, ir 
buscar os cavalos da cocheira ao pasto, limpá-los e arreá-los, 
rachar lenha, varrer o pátio e atender a freguesia que 
vinha comprar fumo, cachaça, carne seca, feijão, ou trocar 
grão por fubá; ir buscar o correio à povoação; fazer a 
escrita da fazenda, verificar à noite se as portas e as janelas 
estavam bem fechadas.
1144 
Quatro anos decorridos o tio matriculou-o 
no Ginásio de Leopoldina.
1155 
Em 1925, na convicção de que ele havia de 
vir a ser “doutor em Coimbra”, o tio 
propôs-se pagar-lhe os estudos como 
recompensa dos cinco anos de serviço.
1166 
Crescera por fora e por dentro. Aprendera a 
objectivar a vida, embora sempre tivesse 
sentido aquele chão como fabuloso e mágico 
e aonde pudera ser selvagem e natural.
1177 
Um dos seus títulos de glória é ter passado a 
adolescência no Brasil” , 
…o Brasil amei-o eu sempre, foi o 
meu segundo berço, sinto-o na 
memória, trago-o no pensamento.
1188 
De regresso a Portugal, fez em dois anos, os 
cinco do primeiro e segundo ciclo do curso 
liceal de sete. 
No Liceu José Falcão completou o terceiro 
ciclo num só ano, ficando apto a cursar uma 
Universidade.
1199 
. 
1928 - Adolfo Rocha estudante 
universitário da Faculdade de 
Medicina da Universidade de 
Coimbra 
A caneta que escreve e a que prescreve 
revezam-se harmoniosamente na mesma mão.
2200 
Uma pobre colectânea de 
sonetos e canções que 
mereceu apenas críticas 
reprovativas e Torga nunca 
reimprimiu.
2211 
. 
Grupo da República Estrela do Norte
Foi com 
Balada da Morgue 
que, verdadeiramente 
assinei pacto com 
Orfeu . 
2222 
Presença, 24, Janeiro 1930
Em 1929, com 22 anos, deu 
início à colaboração na revista 
Presença, folha de arte e 
crítica, com o poema 
“Altitudes…”. 
A revista, fundada em 1927 
pelo “grupo literário avançado” 
de José Régio, Gaspar Simões 
e Branquinho da Fonseca, era 
bandeira “literária do grupo 
modernista” e era também, 
“bandeira libertária”da 
Revolução Modernista. 
2233
2244 
Golpe Militar de 1926 
A intervenção literária, já então a 
entendia Adolfo Rocha, como o 
único modo de combate 
numa pátria que é o cemitério da 
própria língua.
2255 
Em 1930 rompe definitivamente com a revista 
Presença, por razões de discordância estética e 
razões de liberdade humana.
2266 
Adolfo Rocha e 
Branquinho da Fonseca 
fundam a revista Sinal, 
que saiu em Julho de 
1930.
2277 
Publica o seu segundo livro em Junho de 1930.
2288 
Em 1931, contista em Pão Ázimo e poeta em 
Tributo, Adolfo Rocha já aparecia a público em 
edição de autor, como aconteceu com Abismo, 
no ano seguinte, e como aconteceria pela vida fora.
2299 
Conclui o curso universitário de medicina em 1933. 
Na hora em que esperava merecer da vida a alegria 
íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o 
terror fundo que não diz donde vem nem para onde 
vai, anotou no dia da formatura. .
3300 
Regressa a S. Martinho de Anta com fama de 
revolucionário. 
Perdera definitivamente o lugar 
privilegiado no seio da tribo. 
Estava sem estar. 
Mudou-se, para Vila Nova, a meio do ano de 1934, 
concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra.
3311 
MMiigguueell TToorrggaa 
AA VViiddaa FFaammiilliiaarr
3322 
Miguel Torga com a mãe 
que falece em 1948.
A vida afectiva. A única que vale a pena. 
Casa com Andrée Crabbé em 1940, estudante de 
nacionalidade belga - aluna de Estudos Portugueses, 
ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas - que viera a 
Portugal para frequentar um curso de férias na Universidade 
de Coimbra. 
3333
3344 
Vou tentar ser bom marido, 
cumpridor. Mas quero que 
saibas, enquanto é tempo, que 
em todas as circunstâncias te 
troco por um verso. 
(A Criação do Mundo, V)
3355 
Miguel Torga e a filha Clara Rocha, 
nascida em 3 de Outubro de 1955.
Diário VII 3366
3377 
Apresentação da neta ao avô, 
que falece algumas semanas depois em 1955.
3388 
Em 27 de Julho de 1990 celebra os 
cinquenta anos de casado. Os sins de que 
eu fui capaz contra os nãos da vida.
3399 
MMiigguueell TToorrggaa 
AA OObbrraa
4400 
Adolfo Correia Rocha 
aos 27 anos em 1934, 
auto-define-se pelo pseudónimo que criou 
Miguel e Torga
4411 
Miguel 
Homenagem a dois 
grandes vultos da 
cultura ibérica: 
Miguel de Cervantes 
e Miguel de Unamuno 
João Abel Manta
4422 
Torga (Erica lusitanica) 
Designação nortenha da urze, 
planta brava da montanha, 
que deita raízes fortes sob a 
aridez da rocha, de flor branca, 
arroxeada ou cor de vinho.
A Terceira Voz, em 1934 é 
publicado por Miguel Torga, 
com prefácio de Adolfo 
Rocha: 
Somos irmãos e temos a 
mesma riqueza: despeço-me 
de cena e dou a minha 
palavra de honra que não 
reapareço; …a minha voz 
mudou – porque o horizonte é 
maior… 
4433
4444 
Em Janeiro de 1936 funda, 
com Albano Nogueira, 
Manifesto, Revista de Arte e 
Crítica: 
Procurávamos um caminho 
de liberdade assumida onde 
nem o homem fosse traído, 
nem o artista negado, uma 
arte rebelde enraizada no 
circunstancial.
4455 
Afonso Duarte, Alvaro Salema, Bento de 
Jesus Caraça, Branquinho da Fonseca, 
Joaquim Namorado, Lopes Graça, Paulo 
Quintela, Vitorino Nemésio acompanha-vam- 
no nessa intervenção contrária ao 
individualismo presencista, alienado do real 
(que Eduardo Lourenço identificou, em 
1957, no Comércio do Porto, com o artigo 
Presença, ou a Contra-Revolução do 
Modernismo Português ). 
Fernando Pessoa tinha lugar, naquele 
primeiro número, com o poema Nevoeiro.
Pode considerar-se Miguel Torga 
pioneiro e representante por 
antonomásia da escrita diarística 
portuguesa, por ser, juntamente com 
Virgílio Ferreira, com Conta Corrente, 
dos que lhe conferiram maior 
significância. O Diário torguiano, que o 
autor publicou ininterruptamente entre 
1941 e 1993, retrata o pulsar do autor 
sobre o homem, o mundo e a vida, entre 
3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro 
de 1993. 
4466
4477 
Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de 
ler a notícia no jornal, fechei a porta do 
consultório e meti-me pelos montes a cabo. 
Fui chorar com os pinheiros e com as 
fragas a morte do nosso maior poeta de 
hoje, que Portugal viu passar num caixão 
para a eternidade, sem ao menos perguntar 
quem era. 
In Diário I (3 de Dezembro de 1935)
4488 
No Dia de Camões de 1948, a propósito do artifício da 
figura de “escritor oficial” alheio à alma colectiva, havia de 
sugerir que Pessoa substituísse Camões, vastíssimo poeta, 
mas “cristalizado numa época”:
4499 
Fernando Pessoa, culturalmente 
considerado, não será muito mais poeta 
nacional deste século do que Camões? 
Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido 
emblematicamente a glória do poeta. Glória pura 
que, como poucas, merecia a graça desse póstumo 
calor materno. Ninguém antes tinha realizado o 
milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.
5500 
Camões fez versos a martelo.
5511 
Em 1937 começou a imprimir 
A Criação do Mundo, génese 
progressiva, numa 
consciência, da imagem da 
realidade circunstancial, visão 
de um mundo criado à nossa 
medida, original e único, 
povoado de seres reais que o 
tempo foi transformando em 
fantasmas.
5522 
Em 1937, colabora na Revista 
de Portugal , de Vitorino 
Nemésio
Bichos surge em 1940, reeditado pouco 
depois, traduções sucessivas para 
variadíssimas línguas. Animais com sentir 
humano ou seres humanos vestidos de 
animais. Ou uma irmandade de animais e 
homens. Tudo numa argamassa de vida. O 
cão Nero, o galo Tenório, o jerico Morgado, 
o Ladino, o Ramiro. E a Madalena, 
caminhando na contra mão da contradição 
entre cultura e vida. 
5533
5544 
Ficção 
1931 - Pão Ázimo. 
1931 - Criação do Mundo. 
1934 - A Terceira Voz. 
1937 - Os Dois Primeiros Dias. 
1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo. 
1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo. 
1940 - Bichos. 
1941 - Contos da Montanha. 
1942 - Rua. 
1943 - O Senhor Ventura. 
1944 - Novos Contos da Montanha. 
1945 - Vindima. 
1951 - Pedras Lavradas 
1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo. 
1976 - Fogo Preso. 
1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo. 
1982 - Fábula de Fábulas.
5555 
Poesia 
1928 - Ansiedade. 
1930 - Rampa. 
1931 - Tributo. 
1932 - Abismo. 
1936 - O Outro Livro de Job. 
1943 - Lamentação. 
1944 - Libertação. 
1946 - Odes. 
1948 - Nihil Sibi. 
1950 - Cântico do Homem. 
1952 - Alguns Poemas Ibéricos. 
1954 - Penas do Purgatório. 
1958 - Orfeu Rebelde. 
1962 - Câmara Ardente. 
1965 - Poemas Ibéricos.
5566 
Peças de Teatro 
1941 - "Terra Firme" e "Mar". 
1947 - Sinfonia. 
1949 - O Paraíso. 
1950 - Portugal. 
1955 - Traço de União.
5577 
Traduções 
Livros seus estão traduzidos para diversas línguas, 
algumas vezes publicados com um prefácio seu: 
espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, 
croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, 
búlgaro.
5588 
Prémios 
1969 - Prémio do Diário de Notícias. 
1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist. 
1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos 
Drummond de Andrade. 
1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. 
1989 - É-lhe imposta a condecoração de Oficial na Ordem 
das Artes e Letras da República Francesa. 
1989 - Prémio Camões. 
Os meus leitores mereciam-no . (Miguel Torga) 
1991 - Prémio Personalidade do Ano. 
1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de 
Escritores. 
1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.
5599 
Prémio Vida Literária da Associação Portugesa de Escritores 
1992
6600 
Se existe alguém que escreve em português e 
merece o Nobel é Miguel Torga, não eu. 
Jorge Amado 
Foi proposto para o Prémio Nobel em 1960. 
Sem êxito, possivelmente por interferências do Poder 
de então. 
Voltará a ser considerado uns anos mais tarde, não lhe 
tendo sido atribuído.
6611 
1º Congresso Internacional de Miguel Torga 
É organizado pela Universidade Fernando Pessoa 
em 1994
6622 
Uma literatura que produz, no mesmo século, 
dois vultos do calibre de Pessoa e Torga, 
pode considerar-se 
uma literatura de excelente saúde. 
Torrente Ballester 
In Entrevista a Miguel Viqueira em 1986
6633 
Hoje 
sei apenas gostar 
duma nesga de terra 
debruada de mar.
6644 
MMiigguueell TToorrggaa 
OO PPoollííttiiccoo
6655 
A política é para eles (os políticos) 
uma promoção e, 
para mim, 
uma aflição.
6666 
Foi preso várias vezes devido aos seus escritos, 
sendo a primeira em 1939, em Aljube. 
A PIDE negar-lhe-ia , várias vezes o pedido de visto 
para sair do país. 
Andrée Rocha é suspensa do seu lugar académico, 
passou a fazer traduções e a ajudar o marido na sua 
actividade profissional.
6677 
Na Candidatura do General Humberto Delgado 
1958
6688 
Em 1967, assina um manifesto no qual é pedida a aprovação 
de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a 
interposição de recurso no caso de apreensão de livros.
6699 
Revolução de 25 de Abril 
Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares.
Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem 
sempre ardentemente a desejou. 
Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da 
História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá 
decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma 
probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa 
roleta de loucos, que tanto anda como desanda. 
O espectáculo que damos neste momento é o de um 
manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e 
atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um 
electrochoque aberrante e desumano. 
20 de Junho de 1975 
7700
7711 
Sobre a descolonização escreveria: 
Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos 
dele em traineiras. 
Afanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a 
irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim 
sem a grandeza de uma grande aventura. 
Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.
7722 
Primeiras eleições livres em democracia
7733 
Ramalho Eanes torna-se seu amigo 
e Torga dá-lhe um conselho. 
Seja sério, mas não se leve a sério.
7744 
Conheceram-se depois do 25 de Abril, 
quando Torga se afirmou como um dos 
sustentáculos do Partido Socialista na 
zona de Coimbra.
7755 
Nunca se filiou em partido algum: 
É ESCUSADO. 
NÃO POSSO TER OUTRO PARTIDO 
SENÃO O DA LIBERDADE. 
O meu partido é o mapa de Portugal
7766 
Em Outubro de 1983, Samora Machel, 
Presidente de Moçambique, visita 
oficialmente Portugal. 
Apresentados em Coimbra, Miguel 
Torga fez questão de mostrar-lhe a 
região duriense percorrida de 
helicóptero na companhia do Presidente 
português, em conversa fraterna acerca 
das duas pátrias e da indissolubilidade 
dos seus destinos. 
No diário de 20 de Outubro de 1986 
lamentaria o fim trágico e prematuro 
daquela vida agitada e carismática.
7777 
Entrada de Portugal em 12 de Junho de 1985 
no Mercado Comum 
Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. 
Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria. 
Insurge-se contra a ideia da subserviência às ordens de uma 
Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela 
sempre os teve... É o repúdio de um poeta português pela 
irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe 
alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa 
indelével na memória da Europa.
7788 
É também contra a regionalização: 
O mundo a braços com o drama das diversidades 
e nós, que há oitocentos anos temos a unidade 
nacional no território, na língua, nos costumes e 
na religião, vamos desmioladamente destruí-la?
7799 
MMiigguueell TToorrggaa 
AAss VViiaaggeennss
8800 
Viajar, num sentido profundo, é morrer. 
Em 1937, Dezembro pardo viaja por 
Espanha, França e Itália. 
O fascismo em Espanha 
completava o cerco à liberdade
8811 
Em Istambul em 1953
8822 
Em 1954, No Centro Transmontano de S. Paulo (Brasil)
Em 1973, no intuito de sentir pulsar o coração austral, de 
contemplar os cenários das nossas grandezas passadas e das nossas 
misérias presentes, empreende uma extensa viagem pela África 
lusófona no pressentimento de que chegara o fim da epopeia” lusa.. 
8833
Lá, como cá, um quadro não muda um homem. Mas um verso sim. 
8844 
No México em 1983.
8855 
Em Abril de 1987, no processo de 
“assinatura da transmissão a curto 
prazo da soberania de Macau”, 
Miguel Torga aceita falar na 
celebração do 
Dia de Camões naquele 
recanto da pátria, últimos confins de 
Portugal. 
Macau, Gruta de Camões
8866 
Em Hong-Kong
8877 
Em busca da presença portuguesa da qual só restam 
igrejas e baluartes 
Em Goa
8888 
EEmm 1199 ddee NNoovveemmbbrroo ddee 11998866,, ddeeccllaammaa ooiitteennttaa ppooeemmaass ppaarraa 
oo ddiissccoo ccoommeemmoorraattiivvoo ddooss sseeuuss ooiitteennttaa aannooss ddee vviiddaa qquuee 
ssaaííuu aa ppúúbblliiccoo eemm 3300 ddee JJuunnhhoo ddoo aannoo sseegguuiinnttee..
8899 
MMiigguueell TToorrggaa 
PPaarraa ooss OOuuttrrooss
9900 
Miguel Torga 
é um poeta em que um país se diz. 
Sophia de Mello Breyner Andresen 
Torga podia escrever e publicar sem parar, 
mas ia construindo, ao mesmo tempo, 
um dos monólogos mais radicais 
de toda a poesia portuguesa 
Eduardo Lourenço 
Reencarnação de um poeta mítico por excelência 
- daqueles que vive na intimidade das forças elementares 
(a terra, o sol, o vento, a água) 
para celebrá-las com o seu canto. 
David Mourão Ferreira
Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco 
comunicativo, falando com mais convicção do que 
razão. 
Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é 
a sua forretice. Chega a comprar livros com 
exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava 
sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas 
vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando 
sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros 
a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca 
confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo 
sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no 
papel mais barato possível. 
Antônio Freire, in Lendo M.T.. 
9911
9922 
Nem sempre escrevi que sou 
intransigente, duro, capaz de uma 
lógica que toca a desumanidade. 
[...] Nem sempre admiti que estava 
irritado com este camarada e 
aquele amigo. [...] A desgraça é que 
não me deixam estar só, pensar só, 
sentir só.
9933 
O HOMEM é, 
por desgraça, uma solidão: 
Nascemos sós, vivemos sós e 
morremos sós.
9944 
REQUIEM POR MIM 
Aproxima-se o fim. 
E tenho pena de acabar assim, 
Em vez de natureza consumada, 
Ruína humana. 
Inválido de corpo 
E tolhido da alma… 
In Diário XVI, Coimbra, 10 de Dezembro de 1993
9955 
A Morte 
E o Poeta morreu. 
A sombra do cipreste pôde enfim 
Abraçar o cipreste. 
O torrão 
Caiu desfeito ao chão 
Da aventura celeste. 
Nenhum tormento mais, nenhuma imagem 
(No caixão, ninguém pode 
Fantasiar). 
Pronto para a viagem 
De acabar. 
Só no ouvido dos versos, 
Onde a seiva não corre, 
Uma rima perdura 
A dizer com brandura 
Que um Poeta não morre. 
Em 17 de Janeiro de 1995 
morrem o médico Adolfo Rocha 
e o poeta Miguel Torga. Ambos 
repousam, sob uma única lage, 
em campa rasa no cemitério de 
S. Martinho de Anta.
9966
9977 
Grande parte deste diaporama foi construído a partir do livro Fotobiografias 
publicado pela sua filha, Clara Rocha.
9988 
http://purl.pt/13860/1/ 
© 2007 Biblioteca Nacional de Portugal , todos os direitos reservados
9999 
AAllgguunnss SSííttiiooss nnaa RReeddee ssoobbrree MMiigguueell TToorrggaa 
Casa-Museu 
Miguel Torga 
Vidas Lusófonas
110000 
Diaporama 
Concepção e pesquisa 
de 
Vitália Rodrigues 
e Luís Aguilar 
Dezembro de 2007

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  • 1. 11
  • 2. 22 MMiigguueell TToorrggaa OO HHoommeemm,, oo EEssccrriittoorr,, oo TTeemmppoo,, aa TTeerrrraa ee aa DDeemmooccrraacciiaa DDiiaappoorraammaa ddee LLuuííss AAgguuiillaarr ee VViittáálliiaa RRooddrriigguueess Concebido a partir do livro Fotobiografias de Clara Rocha. Consulado-Geral de Portugal em Montreal
  • 4. 44 Ter um destino é não caber no berço onde o corpo nasceu, é transpor as fronteiras uma a uma e morrer sem nenhuma. Miguel Torga In Fernão de Magalhães, Antologia Poética. Lisboa: Dom Quixote, 1999.
  • 5. 55 Miguel Torga (pseudónimo de Adolfo Correia Rocha) nasceu em S. Martinho de Anta há cem anos, a 12.08.1907 e morreu em Coimbra a 17.01.1995. Nasci como um cabrito ou como um pé de milho
  • 6. 66
  • 7. 77 O destino plantou-me aqui e arrancou-me daqui. E nunca mais as raízes me seguraram bem em nenhuma terra.
  • 8. 88 Os pais, Francisco Correia Rocha e Maria da Conceição Barros, e a irmã Maria
  • 9. 99 Em 1917, aos dez anos, vai para uma casa apalaçada do Porto, habitada por parentes da família. O pequeno criado ganhava quinze tostões por mês e dormia num cubículo de campainha à cabeceira. Fardado de branco servia de porteiro, “moço de recados”, regava o jardim, “limpava o pó e polia os metais da escadaria nobre”, “atendia campainhas”. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão.
  • 10. 1100 Em 1918 vai para o Seminário de Lamego, onde viveu “um dos anos cruciais”da sua vida, tendo melhorado os conhecimentos de português, da geografia, da história, aprendido o latim e ganhado familiaridade com os textos sagrados . No fim das férias comunicou ao pai que não seria padre.
  • 11. 1111 A grande aventura juvenil 1919 Foi então enviado, aos doze anos, para o Brasil (Minas Gerais), a fim de trabalhar numa fazenda que pertencia a um tio.
  • 12. 1122 Fazenda de Santa Cruz (Minas Gerais)
  • 13. 1133 Simples máquina de trabalho era o último a deitar- -me e o primeiro a erguer-me, sem domingos nem dias santos para que a engrenagem funcionasse com perfeição. Carregar o moinho, mungir as vacas, tratar dos porcos, ir buscar os cavalos da cocheira ao pasto, limpá-los e arreá-los, rachar lenha, varrer o pátio e atender a freguesia que vinha comprar fumo, cachaça, carne seca, feijão, ou trocar grão por fubá; ir buscar o correio à povoação; fazer a escrita da fazenda, verificar à noite se as portas e as janelas estavam bem fechadas.
  • 14. 1144 Quatro anos decorridos o tio matriculou-o no Ginásio de Leopoldina.
  • 15. 1155 Em 1925, na convicção de que ele havia de vir a ser “doutor em Coimbra”, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço.
  • 16. 1166 Crescera por fora e por dentro. Aprendera a objectivar a vida, embora sempre tivesse sentido aquele chão como fabuloso e mágico e aonde pudera ser selvagem e natural.
  • 17. 1177 Um dos seus títulos de glória é ter passado a adolescência no Brasil” , …o Brasil amei-o eu sempre, foi o meu segundo berço, sinto-o na memória, trago-o no pensamento.
  • 18. 1188 De regresso a Portugal, fez em dois anos, os cinco do primeiro e segundo ciclo do curso liceal de sete. No Liceu José Falcão completou o terceiro ciclo num só ano, ficando apto a cursar uma Universidade.
  • 19. 1199 . 1928 - Adolfo Rocha estudante universitário da Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra A caneta que escreve e a que prescreve revezam-se harmoniosamente na mesma mão.
  • 20. 2200 Uma pobre colectânea de sonetos e canções que mereceu apenas críticas reprovativas e Torga nunca reimprimiu.
  • 21. 2211 . Grupo da República Estrela do Norte
  • 22. Foi com Balada da Morgue que, verdadeiramente assinei pacto com Orfeu . 2222 Presença, 24, Janeiro 1930
  • 23. Em 1929, com 22 anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema “Altitudes…”. A revista, fundada em 1927 pelo “grupo literário avançado” de José Régio, Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, era bandeira “literária do grupo modernista” e era também, “bandeira libertária”da Revolução Modernista. 2233
  • 24. 2244 Golpe Militar de 1926 A intervenção literária, já então a entendia Adolfo Rocha, como o único modo de combate numa pátria que é o cemitério da própria língua.
  • 25. 2255 Em 1930 rompe definitivamente com a revista Presença, por razões de discordância estética e razões de liberdade humana.
  • 26. 2266 Adolfo Rocha e Branquinho da Fonseca fundam a revista Sinal, que saiu em Julho de 1930.
  • 27. 2277 Publica o seu segundo livro em Junho de 1930.
  • 28. 2288 Em 1931, contista em Pão Ázimo e poeta em Tributo, Adolfo Rocha já aparecia a público em edição de autor, como aconteceu com Abismo, no ano seguinte, e como aconteceria pela vida fora.
  • 29. 2299 Conclui o curso universitário de medicina em 1933. Na hora em que esperava merecer da vida a alegria íntima do triunfo, sinto o medo do avesso quiçá o terror fundo que não diz donde vem nem para onde vai, anotou no dia da formatura. .
  • 30. 3300 Regressa a S. Martinho de Anta com fama de revolucionário. Perdera definitivamente o lugar privilegiado no seio da tribo. Estava sem estar. Mudou-se, para Vila Nova, a meio do ano de 1934, concelho de Miranda do Corvo, distrito de Coimbra.
  • 31. 3311 MMiigguueell TToorrggaa AA VViiddaa FFaammiilliiaarr
  • 32. 3322 Miguel Torga com a mãe que falece em 1948.
  • 33. A vida afectiva. A única que vale a pena. Casa com Andrée Crabbé em 1940, estudante de nacionalidade belga - aluna de Estudos Portugueses, ministrados por Vitorino Nemésio em Bruxelas - que viera a Portugal para frequentar um curso de férias na Universidade de Coimbra. 3333
  • 34. 3344 Vou tentar ser bom marido, cumpridor. Mas quero que saibas, enquanto é tempo, que em todas as circunstâncias te troco por um verso. (A Criação do Mundo, V)
  • 35. 3355 Miguel Torga e a filha Clara Rocha, nascida em 3 de Outubro de 1955.
  • 37. 3377 Apresentação da neta ao avô, que falece algumas semanas depois em 1955.
  • 38. 3388 Em 27 de Julho de 1990 celebra os cinquenta anos de casado. Os sins de que eu fui capaz contra os nãos da vida.
  • 40. 4400 Adolfo Correia Rocha aos 27 anos em 1934, auto-define-se pelo pseudónimo que criou Miguel e Torga
  • 41. 4411 Miguel Homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno João Abel Manta
  • 42. 4422 Torga (Erica lusitanica) Designação nortenha da urze, planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho.
  • 43. A Terceira Voz, em 1934 é publicado por Miguel Torga, com prefácio de Adolfo Rocha: Somos irmãos e temos a mesma riqueza: despeço-me de cena e dou a minha palavra de honra que não reapareço; …a minha voz mudou – porque o horizonte é maior… 4433
  • 44. 4444 Em Janeiro de 1936 funda, com Albano Nogueira, Manifesto, Revista de Arte e Crítica: Procurávamos um caminho de liberdade assumida onde nem o homem fosse traído, nem o artista negado, uma arte rebelde enraizada no circunstancial.
  • 45. 4455 Afonso Duarte, Alvaro Salema, Bento de Jesus Caraça, Branquinho da Fonseca, Joaquim Namorado, Lopes Graça, Paulo Quintela, Vitorino Nemésio acompanha-vam- no nessa intervenção contrária ao individualismo presencista, alienado do real (que Eduardo Lourenço identificou, em 1957, no Comércio do Porto, com o artigo Presença, ou a Contra-Revolução do Modernismo Português ). Fernando Pessoa tinha lugar, naquele primeiro número, com o poema Nevoeiro.
  • 46. Pode considerar-se Miguel Torga pioneiro e representante por antonomásia da escrita diarística portuguesa, por ser, juntamente com Virgílio Ferreira, com Conta Corrente, dos que lhe conferiram maior significância. O Diário torguiano, que o autor publicou ininterruptamente entre 1941 e 1993, retrata o pulsar do autor sobre o homem, o mundo e a vida, entre 3 de Janeiro de 1932 e 10 de Dezembro de 1993. 4466
  • 47. 4477 Morreu Fernando Pessoa. Mal acabei de ler a notícia no jornal, fechei a porta do consultório e meti-me pelos montes a cabo. Fui chorar com os pinheiros e com as fragas a morte do nosso maior poeta de hoje, que Portugal viu passar num caixão para a eternidade, sem ao menos perguntar quem era. In Diário I (3 de Dezembro de 1935)
  • 48. 4488 No Dia de Camões de 1948, a propósito do artifício da figura de “escritor oficial” alheio à alma colectiva, havia de sugerir que Pessoa substituísse Camões, vastíssimo poeta, mas “cristalizado numa época”:
  • 49. 4499 Fernando Pessoa, culturalmente considerado, não será muito mais poeta nacional deste século do que Camões? Por ser o símbolo da Pátria e por ter envolvido emblematicamente a glória do poeta. Glória pura que, como poucas, merecia a graça desse póstumo calor materno. Ninguém antes tinha realizado o milagre de criar de raiz um Portugal feito de versos.
  • 50. 5500 Camões fez versos a martelo.
  • 51. 5511 Em 1937 começou a imprimir A Criação do Mundo, génese progressiva, numa consciência, da imagem da realidade circunstancial, visão de um mundo criado à nossa medida, original e único, povoado de seres reais que o tempo foi transformando em fantasmas.
  • 52. 5522 Em 1937, colabora na Revista de Portugal , de Vitorino Nemésio
  • 53. Bichos surge em 1940, reeditado pouco depois, traduções sucessivas para variadíssimas línguas. Animais com sentir humano ou seres humanos vestidos de animais. Ou uma irmandade de animais e homens. Tudo numa argamassa de vida. O cão Nero, o galo Tenório, o jerico Morgado, o Ladino, o Ramiro. E a Madalena, caminhando na contra mão da contradição entre cultura e vida. 5533
  • 54. 5544 Ficção 1931 - Pão Ázimo. 1931 - Criação do Mundo. 1934 - A Terceira Voz. 1937 - Os Dois Primeiros Dias. 1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo. 1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo. 1940 - Bichos. 1941 - Contos da Montanha. 1942 - Rua. 1943 - O Senhor Ventura. 1944 - Novos Contos da Montanha. 1945 - Vindima. 1951 - Pedras Lavradas 1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo. 1976 - Fogo Preso. 1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo. 1982 - Fábula de Fábulas.
  • 55. 5555 Poesia 1928 - Ansiedade. 1930 - Rampa. 1931 - Tributo. 1932 - Abismo. 1936 - O Outro Livro de Job. 1943 - Lamentação. 1944 - Libertação. 1946 - Odes. 1948 - Nihil Sibi. 1950 - Cântico do Homem. 1952 - Alguns Poemas Ibéricos. 1954 - Penas do Purgatório. 1958 - Orfeu Rebelde. 1962 - Câmara Ardente. 1965 - Poemas Ibéricos.
  • 56. 5566 Peças de Teatro 1941 - "Terra Firme" e "Mar". 1947 - Sinfonia. 1949 - O Paraíso. 1950 - Portugal. 1955 - Traço de União.
  • 57. 5577 Traduções Livros seus estão traduzidos para diversas línguas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.
  • 58. 5588 Prémios 1969 - Prémio do Diário de Notícias. 1976 - Prémio Internacional de Poesia de Knokke-Heist. 1980 - Prémio Morgado de Mateus, ex-aecquo com Carlos Drummond de Andrade. 1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S. 1989 - É-lhe imposta a condecoração de Oficial na Ordem das Artes e Letras da República Francesa. 1989 - Prémio Camões. Os meus leitores mereciam-no . (Miguel Torga) 1991 - Prémio Personalidade do Ano. 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores. 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra.
  • 59. 5599 Prémio Vida Literária da Associação Portugesa de Escritores 1992
  • 60. 6600 Se existe alguém que escreve em português e merece o Nobel é Miguel Torga, não eu. Jorge Amado Foi proposto para o Prémio Nobel em 1960. Sem êxito, possivelmente por interferências do Poder de então. Voltará a ser considerado uns anos mais tarde, não lhe tendo sido atribuído.
  • 61. 6611 1º Congresso Internacional de Miguel Torga É organizado pela Universidade Fernando Pessoa em 1994
  • 62. 6622 Uma literatura que produz, no mesmo século, dois vultos do calibre de Pessoa e Torga, pode considerar-se uma literatura de excelente saúde. Torrente Ballester In Entrevista a Miguel Viqueira em 1986
  • 63. 6633 Hoje sei apenas gostar duma nesga de terra debruada de mar.
  • 64. 6644 MMiigguueell TToorrggaa OO PPoollííttiiccoo
  • 65. 6655 A política é para eles (os políticos) uma promoção e, para mim, uma aflição.
  • 66. 6666 Foi preso várias vezes devido aos seus escritos, sendo a primeira em 1939, em Aljube. A PIDE negar-lhe-ia , várias vezes o pedido de visto para sair do país. Andrée Rocha é suspensa do seu lugar académico, passou a fazer traduções e a ajudar o marido na sua actividade profissional.
  • 67. 6677 Na Candidatura do General Humberto Delgado 1958
  • 68. 6688 Em 1967, assina um manifesto no qual é pedida a aprovação de uma lei da Imprensa, a abolição da censura prévia e a interposição de recurso no caso de apreensão de livros.
  • 69. 6699 Revolução de 25 de Abril Golpe militar. Assim eu acreditasse nos militares.
  • 70. Estranha revolução esta, que desilude e humilha quem sempre ardentemente a desejou. Estamos a viver em pleno absurdo, a escrever no livro da História gatafunhos que nenhuma inteligência poderá decifrar no futuro. Todas as conjecturas têm a mesma probabilidade de acerto ou desacerto. Jogamos numa roleta de loucos, que tanto anda como desanda. O espectáculo que damos neste momento é o de um manicómio territorial onde enfermeiros improvisados e atrevidos submetem nove milhões de concidadãos a um electrochoque aberrante e desumano. 20 de Junho de 1975 7700
  • 71. 7711 Sobre a descolonização escreveria: Fomos descobrir o mundo em caravelas e regressámos dele em traineiras. Afanfarronice de uns, a incapacidade de outros e a irresponsabilidade de todos deu este resultado: o fim sem a grandeza de uma grande aventura. Metade de Portugal a ser o remorso da outra metade.
  • 72. 7722 Primeiras eleições livres em democracia
  • 73. 7733 Ramalho Eanes torna-se seu amigo e Torga dá-lhe um conselho. Seja sério, mas não se leve a sério.
  • 74. 7744 Conheceram-se depois do 25 de Abril, quando Torga se afirmou como um dos sustentáculos do Partido Socialista na zona de Coimbra.
  • 75. 7755 Nunca se filiou em partido algum: É ESCUSADO. NÃO POSSO TER OUTRO PARTIDO SENÃO O DA LIBERDADE. O meu partido é o mapa de Portugal
  • 76. 7766 Em Outubro de 1983, Samora Machel, Presidente de Moçambique, visita oficialmente Portugal. Apresentados em Coimbra, Miguel Torga fez questão de mostrar-lhe a região duriense percorrida de helicóptero na companhia do Presidente português, em conversa fraterna acerca das duas pátrias e da indissolubilidade dos seus destinos. No diário de 20 de Outubro de 1986 lamentaria o fim trágico e prematuro daquela vida agitada e carismática.
  • 77. 7777 Entrada de Portugal em 12 de Junho de 1985 no Mercado Comum Não apoia nem tem a mínima simpatia pela União Europeia. Ela ofende o seu espírito patriótico e o seu ideal de Pátria. Insurge-se contra a ideia da subserviência às ordens de uma Europa sem valores, incapaz de entender um povo que nela sempre os teve... É o repúdio de um poeta português pela irresponsabilidade com que meia dúzia de contabilistas lhe alienaram a soberania (...) e Maastricht há-de ser uma nódoa indelével na memória da Europa.
  • 78. 7788 É também contra a regionalização: O mundo a braços com o drama das diversidades e nós, que há oitocentos anos temos a unidade nacional no território, na língua, nos costumes e na religião, vamos desmioladamente destruí-la?
  • 79. 7799 MMiigguueell TToorrggaa AAss VViiaaggeennss
  • 80. 8800 Viajar, num sentido profundo, é morrer. Em 1937, Dezembro pardo viaja por Espanha, França e Itália. O fascismo em Espanha completava o cerco à liberdade
  • 81. 8811 Em Istambul em 1953
  • 82. 8822 Em 1954, No Centro Transmontano de S. Paulo (Brasil)
  • 83. Em 1973, no intuito de sentir pulsar o coração austral, de contemplar os cenários das nossas grandezas passadas e das nossas misérias presentes, empreende uma extensa viagem pela África lusófona no pressentimento de que chegara o fim da epopeia” lusa.. 8833
  • 84. Lá, como cá, um quadro não muda um homem. Mas um verso sim. 8844 No México em 1983.
  • 85. 8855 Em Abril de 1987, no processo de “assinatura da transmissão a curto prazo da soberania de Macau”, Miguel Torga aceita falar na celebração do Dia de Camões naquele recanto da pátria, últimos confins de Portugal. Macau, Gruta de Camões
  • 87. 8877 Em busca da presença portuguesa da qual só restam igrejas e baluartes Em Goa
  • 88. 8888 EEmm 1199 ddee NNoovveemmbbrroo ddee 11998866,, ddeeccllaammaa ooiitteennttaa ppooeemmaass ppaarraa oo ddiissccoo ccoommeemmoorraattiivvoo ddooss sseeuuss ooiitteennttaa aannooss ddee vviiddaa qquuee ssaaííuu aa ppúúbblliiccoo eemm 3300 ddee JJuunnhhoo ddoo aannoo sseegguuiinnttee..
  • 89. 8899 MMiigguueell TToorrggaa PPaarraa ooss OOuuttrrooss
  • 90. 9900 Miguel Torga é um poeta em que um país se diz. Sophia de Mello Breyner Andresen Torga podia escrever e publicar sem parar, mas ia construindo, ao mesmo tempo, um dos monólogos mais radicais de toda a poesia portuguesa Eduardo Lourenço Reencarnação de um poeta mítico por excelência - daqueles que vive na intimidade das forças elementares (a terra, o sol, o vento, a água) para celebrá-las com o seu canto. David Mourão Ferreira
  • 91. Foi sempre um homem, socialmente difícil. Pouco comunicativo, falando com mais convicção do que razão. Uma das facetas menos atraentes do carácter de M.T. é a sua forretice. Chega a comprar livros com exemplares dos seus. De Leiria a Coimbra viajava sempre em 3ª classe. Foi ao estrangeiro, por diversas vezes, percorrendo boa parte da Europa, aproveitando sempre boleia de dois amigos. Quase não oferece livros a ninguém, recusa dedicatórias e autógrafos, nunca confiou o seus livros a nenhuma editora, preferindo sempre "edições do autor", com pequena tiragem e no papel mais barato possível. Antônio Freire, in Lendo M.T.. 9911
  • 92. 9922 Nem sempre escrevi que sou intransigente, duro, capaz de uma lógica que toca a desumanidade. [...] Nem sempre admiti que estava irritado com este camarada e aquele amigo. [...] A desgraça é que não me deixam estar só, pensar só, sentir só.
  • 93. 9933 O HOMEM é, por desgraça, uma solidão: Nascemos sós, vivemos sós e morremos sós.
  • 94. 9944 REQUIEM POR MIM Aproxima-se o fim. E tenho pena de acabar assim, Em vez de natureza consumada, Ruína humana. Inválido de corpo E tolhido da alma… In Diário XVI, Coimbra, 10 de Dezembro de 1993
  • 95. 9955 A Morte E o Poeta morreu. A sombra do cipreste pôde enfim Abraçar o cipreste. O torrão Caiu desfeito ao chão Da aventura celeste. Nenhum tormento mais, nenhuma imagem (No caixão, ninguém pode Fantasiar). Pronto para a viagem De acabar. Só no ouvido dos versos, Onde a seiva não corre, Uma rima perdura A dizer com brandura Que um Poeta não morre. Em 17 de Janeiro de 1995 morrem o médico Adolfo Rocha e o poeta Miguel Torga. Ambos repousam, sob uma única lage, em campa rasa no cemitério de S. Martinho de Anta.
  • 96. 9966
  • 97. 9977 Grande parte deste diaporama foi construído a partir do livro Fotobiografias publicado pela sua filha, Clara Rocha.
  • 98. 9988 http://purl.pt/13860/1/ © 2007 Biblioteca Nacional de Portugal , todos os direitos reservados
  • 99. 9999 AAllgguunnss SSííttiiooss nnaa RReeddee ssoobbrree MMiigguueell TToorrggaa Casa-Museu Miguel Torga Vidas Lusófonas
  • 100. 110000 Diaporama Concepção e pesquisa de Vitália Rodrigues e Luís Aguilar Dezembro de 2007