SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 43
DESAFIOS DA BIOÉTICA NO 
SÉCULO XXI 
Serviço de Neurologia e Neurocirurgia 
Dr. Frederico Rodrigues 
¹Prof. Carlos Frederico Rodrigues 
²Isadora Cavenago Fillus 
¹Neurologia – HU Pedro Ernesto – UERJ 
Neurocirurgia – HM Souza Aguiar – RJ 
Neurocirurgia pediátrica – Inst. Fernandes Figueira – FioCruz – RJ 
Interne serivce de neurochirurgie pédiatric- Hôpital Latimone – Marseille- France. 
Mestre em Filosofia Política e Ética – PUCRS. 
Professor – Unochapecó – SC 
Professor Bioética – Unioeste – Francisco Beltrão. 
Coordenador do Núcleo de Bioética do Sudoeste – NuBioS 
²Acadêmica da faculdade de medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão.
• Surtos de novas epidemias; 
• Campos de concentração para esses pacientes; 
• Aquecimento global; 
• Desafio do gelo x morte por falta de água; 
• Violência; 
• Imigração; 
• Racismo. 
UMA BIOÉTICA?
• “as vezes nos parece que tudo que 
COMO PROCEDER? 
fazemos não é mais do que uma gota 
de água no oceano, mas o oceano 
seria menor se lhe faltasse essa 
gota.” 
Madre Teresa de Calcutá. 
• A arte perdida de cuidar.
I - INTRODUÇÃO 
Bernard Lown – Cardiologista – inventor 
do desfibralador. 
“ os médicos desaprenderam 
a arte de cuidar.” 
Nunca a medicina avançou tanto no 
diagnóstico e tratamento das mais 
variadas doenças como no passado 
século, e nunca o ser humano enfermo 
foi tão mal cuidado.
I - INTRODUÇÃO 
Livro: a perdida arte de cuidar. 
“os médicos transformaram-se 
em oficiais-maiores da ciência 
e gerentes de biotecnologias 
complexas“ 
Isso é a medicina? 
"sabedoria médica" é compreender um 
problema clínico não em um órgão, mas 
em um ser humano.
I - INTRODUÇÃO 
Todo mal que aflige o paciente 
pode ser identificado pela 
tecnologia? 
Os jovens estudantes são 
educados a operar equipamentos e 
proceder a leituras de variáveis 
biológicas, mas não são orientados 
a reconhecer o ser humano como 
unidade biopsicossocial e 
espiritual.
I - INTRODUÇÃO 
“ Não se trata de acelerar o trem 
do progresso, mas de encontrar o 
freio de emergência.”
MEDICINA BASEADA 
EM EVIDÊNCIAS 
• a uma medicina baseada em evidência, uma 
prática antiga, mas que foi estabelecida como 
um movimento mesmo no século XX, e já no 
nosso século XXI começa a ser questionada se 
é uma prática inteiramente aceitável. 
• Uma característica da ciência, incluindo a 
médica, é de que tudo o que você replica, tem 
qualidade. Já na arte, a replicação é sinônimo 
de desvalorização e perda da essência, sendo o 
primordial a preservação da singularidade: 
medicina como arte. 
• E pensando nessa oposição de prioridade entre 
a ciência e a arte, quando falamos em cuidado 
de seres humanos que são únicos entre si, mas 
em sua totalidade de ser, que outra forma 
temos de o receber e abriga-los sob nossas 
mãos e olhares que não na arte de cuidar? 
"Eu tive uma namorada que via 
errado. O que ela via não era uma 
garça na beira do rio. O que ela via 
era um rio na beira de uma garça. 
Ela despraticava as normas. Dizia 
que seu avesso era mais visível do 
que um poste [...] .Chegou de ir no 
oculista. Não era um defeito físico 
falou o diagnóstico. Induziu que 
poderia ser uma disfunção da alma. 
Mas ela falou que a ciência não tem 
lógica. Porque viver não tem lógica – 
como diria nossa Lispector[...].” 
O olhar, MANUEL DE BARROS
MEDICINA BASEADA 
EM EVIDÊNCIAS 
• O setor da saúde é um dos que mais tem 
crescido na economia mundial. Números 
apontam “evoluções”, “desenvolvimento” 
e inovações. Mas o que está por trás de 
números frios que nos são 
apresentados? A arte de cuidar de outra 
pessoa realmente cabe em dados e 
estatísticas sem desumanizar-se? 
• A medicina é algo que não possui preço, 
pois não pode ser substituída por um 
equivalente, logo, possui dignidade 
• O atendimento médico se diferencia de 
qualquer serviço prestado em indústrias, 
pois não se baseia em padronizações. 
O médico “não é o médico dos seres 
vivos em geral, nem mesmo o médico 
do gênero humano, mas o médico do 
indivíduo humano”. Claude Bernard.
II - AS REGRAS DO 
CHICOTE 
Aplicação de regras cartesianas 
como norteadoras da formação 
médica. – Séc XX. 
Privilegia-se o conhecimento 
fragmentado de acordo com 
percepções específicas de 
diferentes áreas do saber médico, 
desconsiderando a óbvia 
inseparabilidade entre as partes e a 
totalidade do ser humano. ABRAHAM FLEXNER
• No dizer de Morin, passaram a ser "como 
lobos que urinam para marcar seu 
território e mordem os que nele 
penetram". 
II - AS REGRAS DO 
CHICOTE 
Assim nasceram as disciplinas do 
curso de medicina que passaram a 
gozar de total autonomia para 
construir suas árvores temáticas. 
Quaisquer pequenas propostas de 
mudanças na grade curricular 
encontram enormes resistências 
por parte dos donos dos lotes.
II - AS REGRAS DO 
CHICOTE 
Grade, Disciplina...falamos de 
educação ou de prisão? 
A escola como ´disciplinadora´ e 
formadora de corpos humanos 
dóceis e incapazes de reflexão.
II - AS REGRAS DO 
CHICOTE 
• “um meio de flagelar aquele que se 
aventura no domínio das idéias que o 
especialista considera de sua 
propriedade“ Morin. 
Em conseqüência desse modelo 
pedagógico obsoleto, impõem-se 
aos estudantes cada vez mais 
conhecimentos técnicos oriundos 
das disciplinas acadêmicas, onde 
as informações são expostas sem 
qualquer preocupação de oferecer-lhes 
a necessária síntese que lhes 
permita melhor compreender o ser 
humano biográfico.
II – AS REGRAS DO CHICOTE 
Cartesiano 
• Objeto; 
• Corpo; 
• Quantidade; 
• Causalidade; 
• Razão; 
Alteridade 
• Sujeito; 
• Espírito; 
• Qualidade; 
• Finalidade; 
• Sentimento;
ESTADO DE EXCEÇÃO COMO 
REGRA: trotes universitários 
• E as regras do chicote estão presentes 
desde a admissão dos estudantes nas 
faculdades de medicina. Infelizmente 
ainda é uma realidade na maioria das 
faculdades a promoção dos trotes aos 
calouros recém chegados na 
universidade. 
• Despersonalização do indivíduo. 
• Judeus em campos de concentração 
nazista. 
• “ é só uma brincadeira”, “ não faz mal 
nenhum”, “ também passamos por isso”. 
Hannah Arendt
ESTADO DE EXCEÇÃO COMO 
REGRA: trotes universitários 
• estado de exceção como regra 
• porque isso está sendo feito? Qual a 
finalidade? Tirar o máximo de proveito 
do outro, mesmo que para isso precise 
ofender, machucar ou humilhar? Quem 
disse que temos esse direito? 
• ciclo que se repete todos os anos nas 
universidade 
• consequências irreversíveis 
• a resistência só pode existir enquanto 
propriedade imanente ao poder 
(Foucault). 
“A qualidade humana da sociedade 
deveria ser medida pela qualidade 
de vida de seus membros mais 
fracos”. Zigmunt Bauman
• “ Domine todas as técnicas, conheça 
todas as teorias, mas ao tocar uma alma 
humana, seja apenas outra alma 
humana.” Jung. 
• “Nós, não é plural de eu”. E. Levinas. 
III - Ética
“Aquele que só sabe medicina 
(técnica), nem medicina sabe.” 
Abel de Lima Salazar
• Como apreender o global, o 
multidimensional, o complexo e organizar 
o conhecimento para melhor cuidar do ser 
humano, protagonista central de qualquer 
iniciativa da ciência? 
• “Ética, é o local onde cabem todos.” 
H.Jonas. 
III - Ética
III - Ética 
"Sendo todas as coisas causadas e 
causadoras, ajudadas ou ajudantes, 
mediatas e imediatas e 
sustentando-se todas por um elo 
natural que une as mais distantes 
e as mais diferentes, considero 
ser impossível conhecer as partes 
sem conhecer o todo, tampouco 
conhecer o todo sem conhecer as 
partes“ Blaise Pascal.
III - Ética 
A comunidade acadêmica da 
atualidade é formada por um 
conjunto de especialistas. As 
linguagens dos diferentes núcleos 
de saber são tão herméticas que 
sequer o exercício interdisciplinar 
é factível, pois perderam-se os 
elementos essenciais para o 
diálogo.
• Muller, citado por Troncon, avalia 
que "as escolas médicas estão 
submergindo os estudantes em 
pormenores opressores sobre 
conhecimentos especializados e 
aplicação sofisticada de 
tecnologias, restringindo a 
aprendizagem de habilidades 
médicas fundamentais, podendo 
isto levar a uma fascinação pela 
tecnologia, tornando o artefato 
mais importante que o paciente." 
III - Ética 
RODRIGUES CFA. O fetiche da 
tecnologia. Revista Bioética – CFM 
– vol 3. 2012.
QUEM SERÃO OS MÉDICOS EGRESSORES 
DESSE MODELO? 
Cartesiano 
Flexineriano 
Modelo de aprendizado 
baseado em problemas (PBL)
METODOLOGIA ATUAL O QUE PRECISAMOS 
Eu isolado Eu integrado 
Realização pessoal Alteridade 
Técnico (coorporação) Cidadão (comunidade) 
Fragmentado, para oferecer 
serviços e ter o homem 
como objeto de estudo 
Interdisciplinar para acolher 
o outro 
Conhecimento técnico Conhecimento humanista
IV - Como livrar-se ao 
jugo do chicote? 
Reconhecer o perverso legado do 
séc. XX, caracterizado pela 
extrema racionalização da ciência 
que apenas considera o 
quantitativo e ignora o qualitativo, 
menosprezando o ser humano em 
seus sentimentos, sofrimentos, 
alma. 
Sociedade do Inmetro.
IV - Como livrar-se ao 
jugo do chicote? 
Há que libertar-se, sobretudo, da 
escravidão da máquina, fazendo-a 
complementar ao raciocínio clínico 
e não instrumento soberano para 
determinar tomadas de decisões. 
“ Ciência e caridade” P. Picasso.
IV - Como livrar-se ao 
jugo do chicote? 
O modelo vigente das 
subespecialidades, no qual 
profissionais sabem quase tudo do 
quase nada. 
Se o conhecimento é armazenado 
nas máquinas, não bastarão 
simplesmente técnicos bem 
treinados para operá-las? 
Os médicos são dispensáveis?
IV - Como livrar-se ao 
jugo do chicote? 
A busca da "Grande Saúde" 
apontada por Sfez na utopia 
globalizada do séc. XXI parece 
apontar para uma sociedade imune 
às "questões do passado" e 
pautada em regras da mais 
extrema objetividade científica. 
Quais as consequências para uma 
sociedade que não aceita sua 
finitude? A culpabilidade da equipe 
médica?
• “ Meu pai não paga ...mil 
reais por mês para eu 
atender pacientes do SUS.” 
• “ Vou fazer radiologia para 
não ter que colocar minha 
mão no lixo.” 
• “Esse aí é só um PIMBA, 
não se preocupe.” 
IV - Como livrar-se ao 
jugo do chicote? 
Como indignar-se com o “interno” 
que ao apresentar um caso não 
mencione o nome ou sequer a 
história clínica do paciente, 
detendo-se em relatar exames 
subsidiários e a conduta proposta 
pelo oncohematologista?
IV - Como livrar-se ao 
jugo do chicote? 
• A 2ª Conferência Mundial de Educação 
Médica realizada em Edimburgo, em 1993, 
acolheu a proposta "Changing medical 
education and practice: an agenda for action", 
da Organização Mundial da Saúde, que 
aponta para novas práticas educativas que 
substituam as tradicionais centradas no 
modelo disciplinar através da incorporação de 
estratégias que alcancem fornecer 
conhecimentos mais adequados do processo 
saúde-doença, sempre privilegiando o 
enfoque interdisciplinar.
QUEM TEM O CHICOTE EM 
MÃOS? 
• Universidade de Toronto: 47% dos 108 estudantes de 
medicina no último ano da faculdade declararam ter 
presenciado ao menos um comportamento antiético por 
parte de seus professores. 
• "Eu fazia plantão na maternidade do X e via as pacientes 
que chegavam após tentativa de aborto serem tratadas com 
grosseria, ironias e deboche. E quando tinham que 
permanecer internadas, ficavam em macas no corredor, 
mesmo tendo vagas nas enfermarias". (feminino, 6º ano, 24 
anos). 
• "Já foram várias situações difíceis. [Tive] muitos 
desapontamentos e vontade de largar o curso por 
isso."(feminino, 6º ano, 24 anos). 
“Há um tempo em que é 
preciso abandonar as 
roupas usadas, que já tem a 
forma do nosso corpo, e 
esquecer os nossos 
caminhos, que nos levam 
sempre aos mesmos 
lugares. É o tempo da 
travessia: e, se não 
ousarmos fazê-la, teremos 
ficado, para sempre, à 
margem de nós mesmos”. 
FERNANDO PESSOA
V –FORMAÇÃO ÉTICA 
“...com quem nos sentimos à 
vontade quando descrevemos 
nossas queixas (...) o médico 
para quem o paciente nunca é 
uma estatística (...)". Lown. 
Tudo isto parece tão simples e 
óbvio que, às vezes, nos 
espantamos por não conseguir 
atingir esse singelo objetivo.
V – FORMAÇÃO ÉTICA 
• O profissional sabe que toda 
doença é orgânica e psíquica, 
social e familiar. Todos os 
sintomas formam um 
complexo conjunto de 
diferentes instâncias, quer 
seja orgânica, psicológica, 
social ou familiar. 
• Invariavelmente está 
buscando por cuidados que 
não se limitam simplesmente a 
livrar-se de um mal-estar 
circunstancial.
V - FORMAÇÃO ÉTICA 
• "Onde há amor ao 
enfermo (philanthrôpíê) 
há também amor à arte 
(philotekhniê).” 
Nosso objetivo é o paciente. 
Nosso inimigo é o sofrimento, não 
a morte. 
Formação humana do acadêmico 
de medicina.
V - FORMAÇÃO ÉTICA 
• Considero que os problemas 
emergentes na relação 
profissional-paciente devido ao 
uso acrítico das conquistas da 
ciência e tecnologia podem ser 
sobrepujados mediante uma 
formação consistente, que 
privilegie os aspectos 
humanísticos da profissão sem, 
de nenhuma maneira, descurar 
do melhor modo de cuidar. 
RODRIGUES CFA. Considerações éticas sobre a medicina 
contemporânea. Vol. 18, No 2 (2010): Revista Bioética 
Responsabilidade sem escapatória. 
Alteridade.
A FORMAÇÃO MÉDICA ALÉM 
DOS LIVROS 
• Depois de todos os anos de estudos, 
quando aprendemos a dar uma má 
notícia? Quando aprendemos a lidar 
com a morte? Quando aprendemos a 
lidar com o outro? 
• Se soubermos ouvir, o paciente conta 
seu diagnóstico e como será seu 
tratamento. 
• “No rosto, apresenta-se o ente por 
excelência” E. Levinas. 
• “O rosto do Outro recorda as 
obrigações do ‘eu’” .Márcio Luiz 
Costa. 
Robert Pope, Self 
Portrait with Dr. 
Langley
ÉTICA
ÉTICA 
• “o ético é o humano” 
• “a Ética deve ser 
construída no face-a-face, 
por todo tempo que 
nos resta.” 
E. Levinas.
A ÉTICA NA RELAÇÃO COM 
TODAS AS FORMAS DE VIDA 
• “São só animais” “os animais morrem para 
podermos salvar as pessoas, é algo que compensa” 
• Se colocarmos em uma balança uma vida e outra, 
tem como dizer que algum dos lados pesa mais? 
• uma ideia fascinante de progresso que se constrói 
na dor e exterminação de uma vida, fica até difícil 
acreditar que isso seja tão melhor do que a dita 
"não evolução" da ciência. 
• Sempre tem como diminuir o sofrimento de uma 
vida. E não é nossa responsabilidade como 
médicos diminuir o sofrimento? Nossa 
responsabilidade é com pessoas ou com a vida 
como um todo? 
• Existem alternativas para o uso de animais em 
universidades? 
“O que me preocupa não é o 
grito dos violentos. É o silêncio 
dos bons”. Martin Luther King
DEVEMOS ABRIR MÃO DA 
TÉCNICA? 
“Conheça todas as teorias, domine todas as 
técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja 
apenas outra alma humana.” 
Carl Jung
NÚCLEO DE BIOÉTICA DO 
SUDOESTE - PR 
www.cefasfrederico.ning.com
OBRIGADO 
“ Nós somos responsáveis por tudo e por 
todos e eu mais do que os outros.” 
Dostoiévski

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

La actualidad más candente (20)

Divulgação científica e cidadania
Divulgação científica e cidadaniaDivulgação científica e cidadania
Divulgação científica e cidadania
 
Poderes e riscos da ciencia
Poderes e riscos da cienciaPoderes e riscos da ciencia
Poderes e riscos da ciencia
 
Ciência com consciência
 Ciência com consciência Ciência com consciência
Ciência com consciência
 
J. herculano pires mediunidade
J. herculano pires   mediunidadeJ. herculano pires   mediunidade
J. herculano pires mediunidade
 
Ciência com consciência
Ciência com consciênciaCiência com consciência
Ciência com consciência
 
Etica e ciencia
Etica e cienciaEtica e ciencia
Etica e ciencia
 
Odontologia - Bioética e genética
Odontologia - Bioética e genéticaOdontologia - Bioética e genética
Odontologia - Bioética e genética
 
A construção da Espiritualidade na Medicina
A construção da Espiritualidade na MedicinaA construção da Espiritualidade na Medicina
A construção da Espiritualidade na Medicina
 
Em torno de um novo paradigma
Em torno de um novo paradigmaEm torno de um novo paradigma
Em torno de um novo paradigma
 
Bioética e pesquisa em seres humanos - Luiz Antonio Bento
Bioética e pesquisa em seres humanos - Luiz Antonio BentoBioética e pesquisa em seres humanos - Luiz Antonio Bento
Bioética e pesquisa em seres humanos - Luiz Antonio Bento
 
O que é a ciência
O que é a ciênciaO que é a ciência
O que é a ciência
 
Pesquisa com seres humanos
Pesquisa com seres humanosPesquisa com seres humanos
Pesquisa com seres humanos
 
A ciência e os seus limites
A ciência e os seus limitesA ciência e os seus limites
A ciência e os seus limites
 
Livro bioetica
Livro   bioeticaLivro   bioetica
Livro bioetica
 
Poderes e limites da ciência - Ciclo de Conferências - Marta Agostinho
Poderes e limites da ciência - Ciclo de Conferências - Marta AgostinhoPoderes e limites da ciência - Ciclo de Conferências - Marta Agostinho
Poderes e limites da ciência - Ciclo de Conferências - Marta Agostinho
 
A bioetica em psicologia
A bioetica em psicologiaA bioetica em psicologia
A bioetica em psicologia
 
Bioética
BioéticaBioética
Bioética
 
Ciencia
CienciaCiencia
Ciencia
 
Wanda aguiar horta.
Wanda aguiar horta.Wanda aguiar horta.
Wanda aguiar horta.
 
bioetica
 bioetica bioetica
bioetica
 

Similar a Desafios da bioética no século XXI

Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSSebástian Freire
 
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...Sérgio Henrique da Silva Pereira
 
Refletindo filosoficamente sobre a ciência
Refletindo filosoficamente sobre a ciênciaRefletindo filosoficamente sobre a ciência
Refletindo filosoficamente sobre a ciênciaarrowds7
 
PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01
PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01
PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01alcindoneto
 
Ciência, tecnologia e bioética.pdf
Ciência, tecnologia e bioética.pdfCiência, tecnologia e bioética.pdf
Ciência, tecnologia e bioética.pdfPatrciaDeOliveirados
 
Biotecnologias relatorio final
Biotecnologias relatorio finalBiotecnologias relatorio final
Biotecnologias relatorio finalEnio Rodrigo
 
A história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalarA história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalarAnderson Souza
 
Ensinando a nao fazer nada
Ensinando a nao fazer nadaEnsinando a nao fazer nada
Ensinando a nao fazer nadaElisa Brietzke
 
trabalhodebioetica-
trabalhodebioetica-trabalhodebioetica-
trabalhodebioetica-TobiasFim3
 

Similar a Desafios da bioética no século XXI (20)

Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUSEspecialização em Saúde da Família UNA - SUS
Especialização em Saúde da Família UNA - SUS
 
Revista Ser Médico CREMESP - Acupuntura
Revista Ser Médico CREMESP - AcupunturaRevista Ser Médico CREMESP - Acupuntura
Revista Ser Médico CREMESP - Acupuntura
 
A relação médico paciente na era da informatização (1)
A relação médico paciente na era da informatização (1)A relação médico paciente na era da informatização (1)
A relação médico paciente na era da informatização (1)
 
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
Profissionais da área de saúde e as entidades de atendimento médico hospitala...
 
Ciencia saber leigo saber médico
Ciencia saber leigo saber médicoCiencia saber leigo saber médico
Ciencia saber leigo saber médico
 
Aula medicina, ciencia e cultura
Aula medicina, ciencia e culturaAula medicina, ciencia e cultura
Aula medicina, ciencia e cultura
 
Refletindo filosoficamente sobre a ciência
Refletindo filosoficamente sobre a ciênciaRefletindo filosoficamente sobre a ciência
Refletindo filosoficamente sobre a ciência
 
106 347-1-pb
106 347-1-pb106 347-1-pb
106 347-1-pb
 
O que somos e o que poderemos ser
O que somos e o que poderemos serO que somos e o que poderemos ser
O que somos e o que poderemos ser
 
Ciência com consciencia
Ciência com conscienciaCiência com consciencia
Ciência com consciencia
 
A cura pela natureza
A cura pela naturezaA cura pela natureza
A cura pela natureza
 
PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01
PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01
PUCPR-Londrina- Aspectos Legais - aula 01
 
8 morrendo bem_equipado
8 morrendo bem_equipado8 morrendo bem_equipado
8 morrendo bem_equipado
 
Ciência, tecnologia e bioética.pdf
Ciência, tecnologia e bioética.pdfCiência, tecnologia e bioética.pdf
Ciência, tecnologia e bioética.pdf
 
O que somos e o que poderemos ser
O que somos e o que poderemos serO que somos e o que poderemos ser
O que somos e o que poderemos ser
 
Biotecnologias relatorio final
Biotecnologias relatorio finalBiotecnologias relatorio final
Biotecnologias relatorio final
 
Filosofia
FilosofiaFilosofia
Filosofia
 
A história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalarA história da psicologia hospitalar
A história da psicologia hospitalar
 
Ensinando a nao fazer nada
Ensinando a nao fazer nadaEnsinando a nao fazer nada
Ensinando a nao fazer nada
 
trabalhodebioetica-
trabalhodebioetica-trabalhodebioetica-
trabalhodebioetica-
 

Último

aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptaula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptDaiana Moreira
 
Integração em segurança do trabalho 2024
Integração em segurança do trabalho 2024Integração em segurança do trabalho 2024
Integração em segurança do trabalho 2024RicardoTST2
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaFrente da Saúde
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannRegiane Spielmann
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesFrente da Saúde
 
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelVernica931312
 
APRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptx
APRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptxAPRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptx
APRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptxSESMTPLDF
 
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...DL assessoria 31
 
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxMarcosRicardoLeite
 
88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptx88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptxLEANDROSPANHOL1
 

Último (10)

aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.pptaula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
aula entrevista avaliação exame do paciente.ppt
 
Integração em segurança do trabalho 2024
Integração em segurança do trabalho 2024Integração em segurança do trabalho 2024
Integração em segurança do trabalho 2024
 
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia HiperbáricaUso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
Uso de Células-Tronco Mesenquimais e Oxigenoterapia Hiperbárica
 
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane SpielmannAvanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
Avanços da Telemedicina em dados | Regiane Spielmann
 
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e AplicabilidadesTerapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
Terapia Celular: Legislação, Evidências e Aplicabilidades
 
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudávelSaúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
Saúde Intestinal - 5 práticas possíveis para manter-se saudável
 
APRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptx
APRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptxAPRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptx
APRESENTAÇÃO PRIMEIROS SOCORROS 2023.pptx
 
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
Em um local de crime com óbito muitas perguntas devem ser respondidas. Quem é...
 
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptxcuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
cuidados ao recem nascido ENFERMAGEM .pptx
 
88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptx88888888888888888888888888888663342.pptx
88888888888888888888888888888663342.pptx
 

Desafios da bioética no século XXI

  • 1. DESAFIOS DA BIOÉTICA NO SÉCULO XXI Serviço de Neurologia e Neurocirurgia Dr. Frederico Rodrigues ¹Prof. Carlos Frederico Rodrigues ²Isadora Cavenago Fillus ¹Neurologia – HU Pedro Ernesto – UERJ Neurocirurgia – HM Souza Aguiar – RJ Neurocirurgia pediátrica – Inst. Fernandes Figueira – FioCruz – RJ Interne serivce de neurochirurgie pédiatric- Hôpital Latimone – Marseille- France. Mestre em Filosofia Política e Ética – PUCRS. Professor – Unochapecó – SC Professor Bioética – Unioeste – Francisco Beltrão. Coordenador do Núcleo de Bioética do Sudoeste – NuBioS ²Acadêmica da faculdade de medicina da Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE – Campus Francisco Beltrão.
  • 2. • Surtos de novas epidemias; • Campos de concentração para esses pacientes; • Aquecimento global; • Desafio do gelo x morte por falta de água; • Violência; • Imigração; • Racismo. UMA BIOÉTICA?
  • 3. • “as vezes nos parece que tudo que COMO PROCEDER? fazemos não é mais do que uma gota de água no oceano, mas o oceano seria menor se lhe faltasse essa gota.” Madre Teresa de Calcutá. • A arte perdida de cuidar.
  • 4. I - INTRODUÇÃO Bernard Lown – Cardiologista – inventor do desfibralador. “ os médicos desaprenderam a arte de cuidar.” Nunca a medicina avançou tanto no diagnóstico e tratamento das mais variadas doenças como no passado século, e nunca o ser humano enfermo foi tão mal cuidado.
  • 5. I - INTRODUÇÃO Livro: a perdida arte de cuidar. “os médicos transformaram-se em oficiais-maiores da ciência e gerentes de biotecnologias complexas“ Isso é a medicina? "sabedoria médica" é compreender um problema clínico não em um órgão, mas em um ser humano.
  • 6. I - INTRODUÇÃO Todo mal que aflige o paciente pode ser identificado pela tecnologia? Os jovens estudantes são educados a operar equipamentos e proceder a leituras de variáveis biológicas, mas não são orientados a reconhecer o ser humano como unidade biopsicossocial e espiritual.
  • 7. I - INTRODUÇÃO “ Não se trata de acelerar o trem do progresso, mas de encontrar o freio de emergência.”
  • 8. MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS • a uma medicina baseada em evidência, uma prática antiga, mas que foi estabelecida como um movimento mesmo no século XX, e já no nosso século XXI começa a ser questionada se é uma prática inteiramente aceitável. • Uma característica da ciência, incluindo a médica, é de que tudo o que você replica, tem qualidade. Já na arte, a replicação é sinônimo de desvalorização e perda da essência, sendo o primordial a preservação da singularidade: medicina como arte. • E pensando nessa oposição de prioridade entre a ciência e a arte, quando falamos em cuidado de seres humanos que são únicos entre si, mas em sua totalidade de ser, que outra forma temos de o receber e abriga-los sob nossas mãos e olhares que não na arte de cuidar? "Eu tive uma namorada que via errado. O que ela via não era uma garça na beira do rio. O que ela via era um rio na beira de uma garça. Ela despraticava as normas. Dizia que seu avesso era mais visível do que um poste [...] .Chegou de ir no oculista. Não era um defeito físico falou o diagnóstico. Induziu que poderia ser uma disfunção da alma. Mas ela falou que a ciência não tem lógica. Porque viver não tem lógica – como diria nossa Lispector[...].” O olhar, MANUEL DE BARROS
  • 9. MEDICINA BASEADA EM EVIDÊNCIAS • O setor da saúde é um dos que mais tem crescido na economia mundial. Números apontam “evoluções”, “desenvolvimento” e inovações. Mas o que está por trás de números frios que nos são apresentados? A arte de cuidar de outra pessoa realmente cabe em dados e estatísticas sem desumanizar-se? • A medicina é algo que não possui preço, pois não pode ser substituída por um equivalente, logo, possui dignidade • O atendimento médico se diferencia de qualquer serviço prestado em indústrias, pois não se baseia em padronizações. O médico “não é o médico dos seres vivos em geral, nem mesmo o médico do gênero humano, mas o médico do indivíduo humano”. Claude Bernard.
  • 10. II - AS REGRAS DO CHICOTE Aplicação de regras cartesianas como norteadoras da formação médica. – Séc XX. Privilegia-se o conhecimento fragmentado de acordo com percepções específicas de diferentes áreas do saber médico, desconsiderando a óbvia inseparabilidade entre as partes e a totalidade do ser humano. ABRAHAM FLEXNER
  • 11. • No dizer de Morin, passaram a ser "como lobos que urinam para marcar seu território e mordem os que nele penetram". II - AS REGRAS DO CHICOTE Assim nasceram as disciplinas do curso de medicina que passaram a gozar de total autonomia para construir suas árvores temáticas. Quaisquer pequenas propostas de mudanças na grade curricular encontram enormes resistências por parte dos donos dos lotes.
  • 12. II - AS REGRAS DO CHICOTE Grade, Disciplina...falamos de educação ou de prisão? A escola como ´disciplinadora´ e formadora de corpos humanos dóceis e incapazes de reflexão.
  • 13. II - AS REGRAS DO CHICOTE • “um meio de flagelar aquele que se aventura no domínio das idéias que o especialista considera de sua propriedade“ Morin. Em conseqüência desse modelo pedagógico obsoleto, impõem-se aos estudantes cada vez mais conhecimentos técnicos oriundos das disciplinas acadêmicas, onde as informações são expostas sem qualquer preocupação de oferecer-lhes a necessária síntese que lhes permita melhor compreender o ser humano biográfico.
  • 14. II – AS REGRAS DO CHICOTE Cartesiano • Objeto; • Corpo; • Quantidade; • Causalidade; • Razão; Alteridade • Sujeito; • Espírito; • Qualidade; • Finalidade; • Sentimento;
  • 15. ESTADO DE EXCEÇÃO COMO REGRA: trotes universitários • E as regras do chicote estão presentes desde a admissão dos estudantes nas faculdades de medicina. Infelizmente ainda é uma realidade na maioria das faculdades a promoção dos trotes aos calouros recém chegados na universidade. • Despersonalização do indivíduo. • Judeus em campos de concentração nazista. • “ é só uma brincadeira”, “ não faz mal nenhum”, “ também passamos por isso”. Hannah Arendt
  • 16. ESTADO DE EXCEÇÃO COMO REGRA: trotes universitários • estado de exceção como regra • porque isso está sendo feito? Qual a finalidade? Tirar o máximo de proveito do outro, mesmo que para isso precise ofender, machucar ou humilhar? Quem disse que temos esse direito? • ciclo que se repete todos os anos nas universidade • consequências irreversíveis • a resistência só pode existir enquanto propriedade imanente ao poder (Foucault). “A qualidade humana da sociedade deveria ser medida pela qualidade de vida de seus membros mais fracos”. Zigmunt Bauman
  • 17. • “ Domine todas as técnicas, conheça todas as teorias, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Jung. • “Nós, não é plural de eu”. E. Levinas. III - Ética
  • 18. “Aquele que só sabe medicina (técnica), nem medicina sabe.” Abel de Lima Salazar
  • 19. • Como apreender o global, o multidimensional, o complexo e organizar o conhecimento para melhor cuidar do ser humano, protagonista central de qualquer iniciativa da ciência? • “Ética, é o local onde cabem todos.” H.Jonas. III - Ética
  • 20. III - Ética "Sendo todas as coisas causadas e causadoras, ajudadas ou ajudantes, mediatas e imediatas e sustentando-se todas por um elo natural que une as mais distantes e as mais diferentes, considero ser impossível conhecer as partes sem conhecer o todo, tampouco conhecer o todo sem conhecer as partes“ Blaise Pascal.
  • 21. III - Ética A comunidade acadêmica da atualidade é formada por um conjunto de especialistas. As linguagens dos diferentes núcleos de saber são tão herméticas que sequer o exercício interdisciplinar é factível, pois perderam-se os elementos essenciais para o diálogo.
  • 22. • Muller, citado por Troncon, avalia que "as escolas médicas estão submergindo os estudantes em pormenores opressores sobre conhecimentos especializados e aplicação sofisticada de tecnologias, restringindo a aprendizagem de habilidades médicas fundamentais, podendo isto levar a uma fascinação pela tecnologia, tornando o artefato mais importante que o paciente." III - Ética RODRIGUES CFA. O fetiche da tecnologia. Revista Bioética – CFM – vol 3. 2012.
  • 23. QUEM SERÃO OS MÉDICOS EGRESSORES DESSE MODELO? Cartesiano Flexineriano Modelo de aprendizado baseado em problemas (PBL)
  • 24. METODOLOGIA ATUAL O QUE PRECISAMOS Eu isolado Eu integrado Realização pessoal Alteridade Técnico (coorporação) Cidadão (comunidade) Fragmentado, para oferecer serviços e ter o homem como objeto de estudo Interdisciplinar para acolher o outro Conhecimento técnico Conhecimento humanista
  • 25. IV - Como livrar-se ao jugo do chicote? Reconhecer o perverso legado do séc. XX, caracterizado pela extrema racionalização da ciência que apenas considera o quantitativo e ignora o qualitativo, menosprezando o ser humano em seus sentimentos, sofrimentos, alma. Sociedade do Inmetro.
  • 26. IV - Como livrar-se ao jugo do chicote? Há que libertar-se, sobretudo, da escravidão da máquina, fazendo-a complementar ao raciocínio clínico e não instrumento soberano para determinar tomadas de decisões. “ Ciência e caridade” P. Picasso.
  • 27. IV - Como livrar-se ao jugo do chicote? O modelo vigente das subespecialidades, no qual profissionais sabem quase tudo do quase nada. Se o conhecimento é armazenado nas máquinas, não bastarão simplesmente técnicos bem treinados para operá-las? Os médicos são dispensáveis?
  • 28. IV - Como livrar-se ao jugo do chicote? A busca da "Grande Saúde" apontada por Sfez na utopia globalizada do séc. XXI parece apontar para uma sociedade imune às "questões do passado" e pautada em regras da mais extrema objetividade científica. Quais as consequências para uma sociedade que não aceita sua finitude? A culpabilidade da equipe médica?
  • 29. • “ Meu pai não paga ...mil reais por mês para eu atender pacientes do SUS.” • “ Vou fazer radiologia para não ter que colocar minha mão no lixo.” • “Esse aí é só um PIMBA, não se preocupe.” IV - Como livrar-se ao jugo do chicote? Como indignar-se com o “interno” que ao apresentar um caso não mencione o nome ou sequer a história clínica do paciente, detendo-se em relatar exames subsidiários e a conduta proposta pelo oncohematologista?
  • 30. IV - Como livrar-se ao jugo do chicote? • A 2ª Conferência Mundial de Educação Médica realizada em Edimburgo, em 1993, acolheu a proposta "Changing medical education and practice: an agenda for action", da Organização Mundial da Saúde, que aponta para novas práticas educativas que substituam as tradicionais centradas no modelo disciplinar através da incorporação de estratégias que alcancem fornecer conhecimentos mais adequados do processo saúde-doença, sempre privilegiando o enfoque interdisciplinar.
  • 31. QUEM TEM O CHICOTE EM MÃOS? • Universidade de Toronto: 47% dos 108 estudantes de medicina no último ano da faculdade declararam ter presenciado ao menos um comportamento antiético por parte de seus professores. • "Eu fazia plantão na maternidade do X e via as pacientes que chegavam após tentativa de aborto serem tratadas com grosseria, ironias e deboche. E quando tinham que permanecer internadas, ficavam em macas no corredor, mesmo tendo vagas nas enfermarias". (feminino, 6º ano, 24 anos). • "Já foram várias situações difíceis. [Tive] muitos desapontamentos e vontade de largar o curso por isso."(feminino, 6º ano, 24 anos). “Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas, que já tem a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e, se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos”. FERNANDO PESSOA
  • 32. V –FORMAÇÃO ÉTICA “...com quem nos sentimos à vontade quando descrevemos nossas queixas (...) o médico para quem o paciente nunca é uma estatística (...)". Lown. Tudo isto parece tão simples e óbvio que, às vezes, nos espantamos por não conseguir atingir esse singelo objetivo.
  • 33. V – FORMAÇÃO ÉTICA • O profissional sabe que toda doença é orgânica e psíquica, social e familiar. Todos os sintomas formam um complexo conjunto de diferentes instâncias, quer seja orgânica, psicológica, social ou familiar. • Invariavelmente está buscando por cuidados que não se limitam simplesmente a livrar-se de um mal-estar circunstancial.
  • 34. V - FORMAÇÃO ÉTICA • "Onde há amor ao enfermo (philanthrôpíê) há também amor à arte (philotekhniê).” Nosso objetivo é o paciente. Nosso inimigo é o sofrimento, não a morte. Formação humana do acadêmico de medicina.
  • 35. V - FORMAÇÃO ÉTICA • Considero que os problemas emergentes na relação profissional-paciente devido ao uso acrítico das conquistas da ciência e tecnologia podem ser sobrepujados mediante uma formação consistente, que privilegie os aspectos humanísticos da profissão sem, de nenhuma maneira, descurar do melhor modo de cuidar. RODRIGUES CFA. Considerações éticas sobre a medicina contemporânea. Vol. 18, No 2 (2010): Revista Bioética Responsabilidade sem escapatória. Alteridade.
  • 36. A FORMAÇÃO MÉDICA ALÉM DOS LIVROS • Depois de todos os anos de estudos, quando aprendemos a dar uma má notícia? Quando aprendemos a lidar com a morte? Quando aprendemos a lidar com o outro? • Se soubermos ouvir, o paciente conta seu diagnóstico e como será seu tratamento. • “No rosto, apresenta-se o ente por excelência” E. Levinas. • “O rosto do Outro recorda as obrigações do ‘eu’” .Márcio Luiz Costa. Robert Pope, Self Portrait with Dr. Langley
  • 38. ÉTICA • “o ético é o humano” • “a Ética deve ser construída no face-a-face, por todo tempo que nos resta.” E. Levinas.
  • 39. A ÉTICA NA RELAÇÃO COM TODAS AS FORMAS DE VIDA • “São só animais” “os animais morrem para podermos salvar as pessoas, é algo que compensa” • Se colocarmos em uma balança uma vida e outra, tem como dizer que algum dos lados pesa mais? • uma ideia fascinante de progresso que se constrói na dor e exterminação de uma vida, fica até difícil acreditar que isso seja tão melhor do que a dita "não evolução" da ciência. • Sempre tem como diminuir o sofrimento de uma vida. E não é nossa responsabilidade como médicos diminuir o sofrimento? Nossa responsabilidade é com pessoas ou com a vida como um todo? • Existem alternativas para o uso de animais em universidades? “O que me preocupa não é o grito dos violentos. É o silêncio dos bons”. Martin Luther King
  • 40. DEVEMOS ABRIR MÃO DA TÉCNICA? “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana seja apenas outra alma humana.” Carl Jung
  • 41. NÚCLEO DE BIOÉTICA DO SUDOESTE - PR www.cefasfrederico.ning.com
  • 42.
  • 43. OBRIGADO “ Nós somos responsáveis por tudo e por todos e eu mais do que os outros.” Dostoiévski

Notas del editor

  1. NA DEFINIÇÃO DE POTTER, UMA PONTE DAS CIÊNCIAS MÉDICAS PARA AS CIÊNCIAS HUMANAS, ORA TUDO QUE É HUMANO ME IMPORTA. Sendo assim, os desafios que a bioética enfrenta no século XXI são inúmeros, mas vamos nos ater aquele, que para nossa profissão talvez seja o mais intenso: como mudar o paradigma da formaçao médica e privilegiar a formação de médicos mais humanos?
  2. Sendo assim, essa reflexão sobre a bioética no século xxi, ao meu ver, precisa passar pela reflexão sobre o que estamos fazendo conosco, com a classe médica, com nossa formação humana. Por isso, poderíamos ter outro tema aqui: a arte perdida do cuidar. Sendo Aristotélico e pensando que virtude se aprende no colo da mãe, podemos ensinar essa arte aos profissionais adultos que chegam até a universidade? Isso é possível? Acredito que sim, mas não com o modelo vigente.
  3. Um grande cientista, pesquisador nato e que no fim da vida se questiona se esse é o caminho que a medicina deveria seguir.
  4. Essa submissão a ciência, perversa por si só, já que a ciência é um braço da humanidade e o fim último da humanidade é ela mesma e não o lucro, ciência, mercado etc. Tem sua perversão maior na submissão aos interesses de indústrias farmacêuticas, nas pesquisas pelo bem da ciência e nao do homem. Lembram do incêndio da base brasileira na antardida? Houve uma morte e no mesmo instante uma cientista dizia que a perda para aciência era irreparável…a vida humana nao o era.
  5. Odeio o house, é o tipo de médico que nao quero ser. Preocupado em usar todas as teconologias, burlando todos os comportamentos éticos para conseguir apenas o seu próprio interesse. Precisamos de mais teconologia? Precisamos de médicos narcisistas que acreditam que sao o centro da relação médicoxpaciente? Que zombam dos pacientes com queixas psíquicas, sem identificar que isso é um sintomas de uma patologia maior, uma patologia da alma? Que aparelhos, que tecnologias nos afastaram do humano?
  6. A grande pergunta não está em podemos fazer? Mas em: devemos fazer? Um avanço acrítico é o caminho correto? Walter Benjamin já se questionava isso antes da segunda guerra mundial que culminou na energia atômica e na bomba atômica, jogada sobre civis em uma cidade (com crianças, idosos, mulheres grávidas, enfermos), quem é o Estado Terrorista aqui?
  7. Uma característica da ciência, incluindo a médica, é de que tudo o que você replica, tem qualidade. Uma vez que se encontra a mesma resposta a um tratamento em 1 milhão de pessoas, o mesmo sintoma em uma doença ou a mesma expectativa de vida após um evento, isso se torna cientifico, inquestionável, uma medicina baseada em evidencias e certezas. Já na arte, a replicação é a desvalorização e perda da essência, sendo o primordial a preservação da singularidade. No cuidado de seres humanos únicos entre si, mas em sua totalidade de ser, que outra forma temos de o receber e abriga-los sob nossas mãe e olhares que não na arte de cuidar? Sempre considerando sim todo o conhecimento baseado em evidencias para a possibilidade terapêutica como se fossem as mais diversas tonalidade de cores que compõe uma paleta, mas olhar para aquela obra de arte na sua frente, o paciente em sua individualidade, que precisa ser restaurada com a cor e quantidade certa para ela, escolha essa que para mais nenhuma outra obra serviria. O setor da saúde é um dos que mais tem crescido na economia mundial. Números apontam “evoluções”, “desenvolvimento” e inovações. Mas o que está por trás de números frios que nos são apresentados? A arte de cuidar de outra pessoa realmente cabe em dados e estatísticas sem desumanizar-se? A assistência médica tem uma singularidade que não permite ser comparada com uma categoria econômica. A medicina é algo que não possui preço, pois não pode ser substituída por um equivalente, logo, possui dignidade. O atendimento médico se diferencia de qualquer serviço prestado em indústrias, pois não se baseia em padronizações. O médico “não é o médico dos seres vivos em geral, nem mesmo o médico do gênero humano, mas o médico do indivíduo humano". Logo, nenhuma ação médica pode ser baseada no bem de uma maioria, ou pensando em um suposto progresso científico, mas sim no ser humano individual que procura o serviço do profissional.
  8. Após um período de abertura indiscriminada e sem escrúpulos de faculdades de medicina, esse senhor organizou o sistema educcional médico, talvez fosse necessário naquele momento, mas ainda o é?
  9. Essa necessidade de mudança de paradigma, náo é uma necessidade só da medicina, é uma necessidade da sociedade como umtodo. O caminho que escolhemos está nos matando e ao planeta. Nível de consumo insustentável, seca da cantareira, desastres climáticos etc. Embora vivamos, como indivíduos, cada vez mais – 70, 80, 90 anos…..de uma vida sempre voltada ao útil e náo ao que faz sentido.
  10. O que pensamos não é em um novo código de ética e sim em uma nova ética, onde possamos entender a importância da alteridade, nossa responsabilidade para com o outro e com as futuras gerações.
  11. TCLE apresentado aos médicos foi considerado de linguagem difícil pelos mesmos História do berne
  12. A partir do relatório flexner, 1910, até o século 21, tiemos diersas alterações nas universidades e conseguimos ver que iniciamos o século 21 com tantas lacunas na formação dos nossos médicos, que novas reformas precisavam acontecer, estavamos no século da ciência que crescia não só em inovações e descobertas, mas em novos desafios, mas os alunos que é quem a colocaria em prática não estavam acompanhando esse avanço em sua formação que ainda estava fragmentada, desatualizada e com currículos estáticos, além de falta de liderança e saber trabalhar em equipe. 1 milhão de médicos, enfermeiras, parteiras, profissionais de saúde pública no mundo por ano. Quatro paises, china, brasil, índia e EUA tem mais de 150 escolas médicas em cada um deles, enquanto em 36 países não há nenhuma. A saúde é ter a superfície de todos os equipamentos modermos, mas nele o encontro de uma pessoa única que precisa de um atendimento, com outra a quem foi confiado oferecer esses cuidados, tanto por ser eficiênte em técnica, ética e responsabilidade social. Mas todas as melhoras que aconteceram ficaram pequenas dentro das grandes necessidades com as quais entramos no século 21, principalmente em termos de desigualdades, pois se a cura para o alzheimer ou a esclero lateral aminiotrófica está quase nas mãos de países europeus, os rostos da áfrica sub-saariana ainda sofrem e morram por diarréias, fome, sede ou complicações nos partos. Se o ebola tem cura para um norte americano, na áfrica ainda é controlado com as pessoas doentes sendo cercadas com arames e deixadas para morrer. Corpors encineirados ou enterrados apressadamente, morrendo com eles parte da cultura como a cerimônia e o beijo ao morto que é feito na região. Mas é unâne a desqualificação. Por isso em janeiro de 2010 foi lançada a comissão a educação dos profissionais de saúde para o século 21 com 20 representantes de todo o mundo A primeira geração, lançada no início de do século 20, incutiu um currículo baseado na ciência. Por volta de meados do século, a segunda geração introduziu inovações de instrução baseada em problemas. Uma terceira geração agora é necessário que deve ser baseada sistemas. A maioria dos países e instituições profissionais misturaram padrões destas reformas. Em alguns países, a maioria escolas estão totalmente confinados à primeira geração, com currículos e métodos de ensino tradicionais e estagnadas e com uma incapacidade, ou mesmo a resistência, a change.18,19 Muitos países estão incorporando segunda geração reformas, e alguns estão se movendo para o terceiro generation.52-55 Nenhum país parece ter todas as escolas do terceiro geração.
  13. Quem sente a dor sou eu? É aqui que dói em mim? Quem diz o que é mais doloroso ? Perder a mãe ou perder o gato? Como medir a dor de alguém?
  14. Livro de moliére.
  15. A morte nunca é tranquila se a vida náo foi consumada. Nietzsche. Podemos viver 100 anos, se não fizerem sentido, a morte nunca será tranquila.
  16. PIMBA: pé inchado, mulambo, bêbedo e atropelado.
  17. Retorno do filho pródigo Rembrandt
  18. Com quem é nossa responsabilidade? Com as empresas de material médico, com a indústria farmacêutica? Com o nosso salário? Ou com a alteridade e a humanidade?
  19. Incluindo nossa responsabilidade para com os seres não humanos, temos o direito de utilizá-los em pesquisas e aulas?
  20. Não há regra ou pré-conceitos, nos despimos (epoché) e nos sentamos frente ao outro para responder ao seu grito.
  21. O médico deve cuidar de todas as suas faculdades, estudar muito, conhecer muito e ser muito humano. Nao se trata de endeusar ou demonizar a tecnologia, mas de colocá-la em seu devido lugar, um apêndice da humanidade.