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           Coisas da Arquitetura
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           A metáfora na arquitetura
           Posted on 29/10/2010 | 1 Comentário



           Charles Jencks


           Do livro “The language of Post -modern Archit ect ure”. Londres: Academy , 197 7 .
           Tradução, edição e coment ários Silvio Colin




                                                 Torre Chicago Tribune. Adolf Loos. 1 922


           As pessoas sempre v eem um prédio em termos de outro, ou em termos de um objeto similar, ou seja
           como uma metáfora. Quanto mais estranho é um edifício moderno, mais ele v ai ser compartilhado

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           metaforicamente. Esta correspondência de uma ex periência para com outra é uma propriedade
           do pensamento, particularmente daquele que é criativ o. Assim, quando grelhas de concreto pré-
           moldadas foram utilizados pela primeira v ez em edifícios, no final dos anos cinqüenta, eles eram
           v istos como “ralador de queijo”, “colmeias”, “correntes”, “elos”, enquanto que dez anos depois,
           quando se tornou a norma em um tipo determinado de edifício, eles foram v istos em termos
           funcionais: “Isto parece uma garagem.”




               Transamerica Py ramid. 1 97 2. Arquiteto William Pereira. Edifício evocativo da cidade de São
            Francisco. Encontrou muita o posição, tendo sido apelidado pelos detratores de “Pereira’s prick”
                                                                            [1 ]


           De metáfora ao clichê, do neologismo, atrav és do uso constante, para o signo
           arquitetônico, este é o caminho contínuo percorrido por formas e técnicas nov as e bem sucedidas.
           Metáforas tipicamente negativ as utilizadas pelo público e pelos críticos, como Lewis Mumford, para
           condenar a arquitetura moderna foram “caix a de papelão”, “caix a de sapatos”, “caix a de ov os”,
           “armário de arquiv o »,«papel milimetrado”. Estas comparações foram procuradas, não só por seu
           tom pejorativ o e mecanicista, mas também porque eram fortemente codificado em uma cultura que
           se tornou sensív el ao espectro de 1 984.




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                                   Grelhas de concreto. Hoje não mais percebida como metáfora


           Este ponto tem algumas implicações óbv ias curiosas, como nós v eremos. Uma destas implicações
           tornou-se aparente quando eu estav a v isitando o Japão com o arquiteto Kisho Kurokawa. Fomos v er
           sua nov a torre de apartamentos em Tóquio, feita com containers tipo nav ais, a qual ostentav a forma
           total das mais incomuns. Eles pareciam cubos de açúcar empilhados, ou até mesmo máquinas de
           lav ar sobrepostas, porque os cubos brancos tinham janelas redondas no centro. Quando eu disse que
           essa metáfora tinha conotação inadequada paraa habitação, Kurokawa ev idenciou surpresa. “Não
           são máquinas de lavar, são gaiolas. Aqui no Japão, nós construímos caixas de concreto com furos
           redondos para ninhos de pássaro e colocamo-los nas árvores. Eu construí estes ninhos de aves para
           os empresários itinerantes que visitam Tóquio, para os solteiros que viajam muitas vezes com as
           suas aves.” A resposta espirituosa, talv ez construída na hora, mas que ressaltou que muito bem a
           diferença em nossos códigos v isuais.




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                                       Torre cápsula Nakagin. Arquiteto Kisho Kurokawa, 1 97 2


           A conhecida ilusão v isual apresenta isto ainda mais claramente: a famosa “figura do coelho-pato”,
           que será v isto em primeiro lugar como uma forma, e depois com a outra. Uma v ez que todos têm
           presentes os códigos v isuais para os animais, e até mesmo prov av elmente um código para o monstro
           híbrido, com duas cabeças, podemos v ê-lo três maneiras. Um ponto de v ista pode predominar, de
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           acordo ou pela força do código ou de acordo com a direção a partir da qual v emos a figura em
           primeiro lugar. Mas note-se que so se pode v er a figura de uma forma de cada v ez.




                                                             A ilusão “pato-coelho”


           A regra geral, é que as restrições do código baseadas no aprendizado e na cultura orientam a leitura,
           e que há muitos códigos, alguns dos quais podem estar em conflito entre subculturas. Em termos
           gerais, ex istem duas subculturas de grande porte: uma com o código moderno, baseado na formação
           e ideologia dos arquitetos modernos, e outro com o código tradicional, com base na ex periência de
           cada um de elementos normalizados da arquitetura. Há razões muito simples porque estes códigos
           possam estar em desacordo e a arquitetura pode ser radicalmente esquizofrênica, tanto em sua
           criação e quanto na interpretação. Uma v ez que alguns edifícios frequentemente incorporam v ários
           códigos, eles podem ser v istos como um misto de metáforas, e com significados opostos: por
           ex emplo, o “harmonioso, bem proporcionado v olume puro ” do arquiteto moderno passa a ser a
           “caix a de sapatos” ou “gav eta” para o público.




                              Ópera de Sidney . Arquiteto Jørn Utson, 1 957 -64. Como a Torre Eiffel,
           signos ambíguos transcenderam todas as possíveis considerações funcionais e o edifício tornou-se
             um símbolo nacional. Esta classe rara de signo, como o teste de Rorschach, provoca respostas
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                              derivadas dos interesses da pessoa questionada, não do objeto em si.


           Um edifício moderno, o Sy dney Opera House, tem prov ocado uma superabundância de respostas
           metafóricas, tanto na imprensa popular quanto profissional. Os motiv os são, nov amente, que as
           formas são desconhecidos para a arquitetura e lembram de outros objetos v isuais. A maioria das
           metáforas são orgânicas: assim, o arquiteto, Jorn Utzon, mostrou como as conchas do prédio
           relacionam-se com a superfície de um esfera (como pedaços de uma laranja, e as asa de um pássaro
           em v ôo. Eles também dizem respeito, obv iamente, de a conchas brancas, e essa metáfora, além da
           comparação com as v elas brancas balançando em torno de Sy dney Harbour, se tornaram clichés
           jornalísticos. Isto lev anta uma outra questão óbv ia com implicações inesperadas: a interpretação da
           metáfora arquitetônica é mais elástica e dependente de códigos locais códigos que a interpretação da
           metáfora na linguagem falada ou escrita. Alguns críticos têm apontado que a sobreposição de
           conchas lembram o crescimento de uma flor ao longo do tempo – o desdobramento das pétalas,
           enquanto estudantes de Arquitetura da Austrália caricaturaram este mesmo aspecto como
           “tartarugas fazendo amor”.




               Desenho apresentado por estudantes de arquitetura quando a Raínha Elizabethh inaugurou
                                                             oficialmente o edifício.


           De v ários pontos de v ista, o aspecto v iolento de formas partidas e despedaçadas é ev idente – “um
           acidente de trânsito sem sobrev iv entes “, ao passo que muitas v ezes esses mesmos pontos de v ista
           trazem a tona outras possív eis metáforas orgânicas como “peix e engolindo outro” Reforçando esta
           interpretação são os brilhantes, escamados elementos da superfície cerâmica que são v isív eis de
           perto. Mas a metáfora mais ex traordinário, e aquele que os australianos aplicam com certa afeição
           estupefação, é “confusão de freiras”. Todos esses conchas, confrontando umas às outros em duas
           direções principais, lembram os v estidos da cabeça e capuzes de duas ordens monásticas opostas e a
           idéia descontroladamente improv áv el de que esta poderia ser uma escaramuça de madres
           superioras domina as possibilidades. ’Wit’ tem foi definido como “a cópula improv áv el de idéias em
           conjunto”, e mais improv áv el, mas o sucesso da união, mais atacará o espectador e permanecerá em
           sua mente. Um edifício inteligente é aquele que nos permite fazer ex traordinário, mas conv incentes
           associações.




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                      A inspiração declarada pelo arquiteto foi absolutamente geométrica e abstrata.


           A pergunta surge, obv iamente, de quão apropriadas são essas metáforas para as funções do edifício e
           seu papel simbólico. Concentrando sobre este aspecto e momentaneamente descartando outros,
           como o custo (os australianos gastaram algo como v inte v ezes a estimativ a original para a sua
           metáfora múltipla) podemos chegar à conclusão que se segue. Por um lado as metáforas orgânicas
           são muito adequadas para um centro cultural: as imagens que sugerem crescimento são
           particularmente adequadas para significados de criativ idade. O edifício v oa, nav ega, ex pande-se,
           curv a-se para cima se desdobra como um v egetal animado. Bom. Talv ez se o edifício fosse
           renomeado The Australian Cultural Centre (não Sy dney Opera House) fosse justificado como um
           símbolo da libertação da Austrália da dependência anglo-sax ónica, (a imperiosa influência da Grã-
           Bretanha e América), então a sua interpretação poderia ser mais clara. Poderíamos, então, v er essas
           metáforas ex traordinárias em sua luz mais positiv a, como símbolos da quebra na Austrália da
           conformidade colonial e prov incianismo.


           Mas as dúv idas surgem. Sabemos que o edifício foi projetado por um europeu (e não um australiano),
           como uma casa de ópera – e que não funciona nem economicamente nem funcionalmente da forma
           que foi concebido. Uma v ez que esse conhecimento é um parte integrante do código com o qual nós
           interpretamos o edifício, nosso julgamento não pode ev itar ser contaminado por este
           conhecimento. É um pouco como olhar para a figura do pato-coelho: a nossa percepção é dobrada e
           moldada por códigos com base na                  ex periência anterior. É praticamente impossív el perceber o
           edifício sem saber sobre o famoso “Sy dney Opera House Case”, a demissão do arquiteto, o custo, e
           assim por diante. Assim, estes locais, significados específicos, também são simbolizados nas
           ex trav agantes conchas.


           V ários modernistas criticaram a Opera House de outras razões: como uma peça de comunicação
           literal, o edifício informa pouco e dissimula muito. V ocê não consegue v er os v ários teatros,
           restaurantes e salões de ex posição sob a casca, por isso desagradou a certos arquitetos criados na
           tradição do funcionalismo ex pressiv o. Eles esperav am v er cada função receber um v olume claro e
           distinto, que idealmente falando, é apenas uma silhueta da função – como a auditório. Eles teriam
           desenhado o edifício como série de torres e caix as em forma de cunha (a forma conv encionada para
           o auditório da arquitetura moderna).




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            Clube Russakov . Moscou, 1 928. Arquiteto Konstantin Melnikov . A forma de cunha com uma torre
           em anexo estabeleceu-se como a “palavra” para auditório, na linguagem da moderna arquitetura,
                            por causa deste edifício. As formas seguem as necessidades funcionais.


           O edifício v iola esse código, como a arquitetura clássica, muitas v ezes fez, obscurecendo funções
           reais por trás padrões globais. O debate torna-se então se o obscurantismo justifica-se pelo humor e
           adequação de a metáfora orgânica. Eu penso que sim, mas outros negam isso. Talv ez um deles seria
           Robert V enturi, que também começa a partir da posição que a arquitetura dev e ser olhada como
           comunicação, mas chega a conclusões diferentes da minha. Ele alega que os edifícios dev eriam olhar
           como “Galpões decorados, não os patos”.




           O galpão decorado é uma caix a simples com signos aplicados, como um outdoor, ou o aplicação do
           ornamento conv encionais, tais como um frontão simbolizando a entrada e que um pato, para ele, é
           um edifício que com sua forma representa a sua função, (um edifício em forma de pássaro v ende
           produtos relacionados com a caça do pato) ou um edifício moderno, onde o construção, estrutura e
           v olume se a decoração.


           Claramente, a Ópera de Sy dney é um pato de V enturi, e ele pretende subestimar esta forma de
           ex pressão porque ele acha que foi ex agerado pelo moderno mov imento. Eu discordaria desse
           julgamento histórico e mais ainda para com as atitudes implícitas nele. V enturi, como o modernista
           típico que ele deseja suplantar está adotando a tática de inv ersão ex clusiv a. Ele está cortando toda
           uma área de comunicação na arquitetura, os edifícios pato (tecnicamente falando signos icônicos), a
           fim de fazer a sua modalidade preferida, o galpão decorado (signo simbólico), que muito mais
           potente. Assim, está sendo pedido, uma v ez mais por um modernista. em nome de racionalidade,
           seguir um caminho ex clusiv o simplista.




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           Security Marine Bank. Wisconsin, 1 97 1 . A concha simbólica, em parte comunicação de estatus e
           segurança, em parte função. Pressões comerciais naturalmente dissociam significante e
           significado, desta maneira, embora nem sempre tão claramente.


           É ev idente que precisamos de todos os modos de comunicação a nossa disposição, não um ou dois, e
           é o compromisso modernista com a arquitectura na luta do dia-a-dia que lev a a tais simplificações,
           não uma teoria equilibrada da significação. Em qualquer caso, a Sy dney Opera House coloca alguns
           problemas difíceis como um pato, por causa de sua falta de simbolismo compartilhado com o público
           – um ponto que a posição ex trema de V enturi traz para fora. Enquanto as metáforas orgânicas são
           adequadas análogias para um centro de cultura, eles não são reforçadas por meio de sinais
           conv encionais adv indos do v ernáculo                     da Austrália e, portanto, elas têm uma errático
           significação. Pelo contrário, elas emanam do generalizado mov imento formalista dos arquitetos
           modernos, um mov imento que poderia ser mais apropriadamente denominado surrealista.




                                                                  Magritte. Maça.


           Como uma pintura de Magritte – a maçã que se ex pande para preencher uma sala inteira, o
           significado é impressionante, mas enigmático e ev asiv o. O que ex atamente Utzon está tentando
           dizer, além do primitiv o e emocionante? Porque todas as v elas, conchas, flores, peix es e freiras? É
           ev idente que nossas emoções estão sendo ex ploradas como um fim em si mesmas, e não há
           ex atamente objetiv o para onde todos esses significados conv ergem. Eles flutuam em nossa mente
           para pegar conex ões onde v ão, como um sonho lux uriante perseguindo a super indulgência.


           Eles, no entanto rev elam um ponto de ordem geral sobre a comunicação: quanto mais metáforas,
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           maior o drama, e quanto mais elas são ligeiramente sugestiv as, maior o mistério. Uma metáfora
           mista é forte, como todos os estudantes de Shakespeare sabem, mas uma metáfora sugestiv a é
           poderosa. Na arquitetura, nomear uma metáfora é frequentemente matá-la, algo como analisar
           piadas. Quando estandes de cachorro quente têm forma de cachorro-quente, pouco trabalho é
           deix ado à imaginação, e todas as outras metáforas são suprimidas: eles não podem mesmo sugerir
           hambúrgueres. No entanto, mesmo este tipo de metáfora univ alentes, a arquitetura Pop de Los
           Angeles, tem o seu lado criativ o e comunicativ o. Por um lado, a escala habitual e o contex to são
           v iolentamente distorcidos, de modo que o objeto comum, por ex emplo, as roscas, assume uma série
           de possív eis significados que normalmente não estão associados esse item da alimentação.




                                                  Big Donut Driv e-in. Los Angeles, 1 954.


           Quando ele é ampliado até trinta metros e construído de madeira e senta-se em um pequeno edifício,
           torna-se o objeto de Magritte que tomou a casa dos ocupantes. Parcialmente hostil e ameaçador, é
           todav ia um símbolo de pequeno-almoço açucarado e reconfortante.


           Em segundo lugar, uma arquitetura feita a partir de tais signos
           inequiv ocamente comunica àqueles que se mov imenta a cinqüenta quilômetros por hora atrav és da
           cidade. Em contraste com muito edifícios modernos , estes signos icônicos falam com ex atidão
           e humor sobre sua função. Sua literalidade, embora infantil, articula v erdades factuais , que o
           trabalho de Mies obscurece, e há um certo prazer em geral (que não escapa crianças) em perceber
           uma seqüência deles. Ao contrário do V enturi, precisamos de mais patos, moderna arquitetos não os
           propagaram o suficiente.




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               Terminal da TWA, aeroporto John F. Kennedy , Nov a Y ork. 1 962. Projetado depois que Eero
           Saarinen foi membro do Júri da Ópera de Sidney. Aqui as metáforas são claramente reconhecíveis.
              O vôo de longa distância, adequado a um aeroporto, e a águia, símbolo dos Estados Unidos.


           Um arquiteto modernista que tentou foi Eero Saarinen. Imediatamente depois que ele selecionou a
           Opera House de Utzon como o v encedora da competição, ele v oltou para a América, e projetou sua
           própria v ersão do prédio concha curv ilíneo. O terminal da TWA em Nov a Y ork é um ícone de um
           pássaro e, por ex tensão, de v ôo do av ião. Nos detalhes e na concentração de circulação linhas, das
           saídas cruzamentos de passageiros, é uma metáfora particularmente inteligente. Os suportes são
           identificados com a perna de um pássaro, a gárgula torna-se um bico sinistro, uma ponte interior
           coberta em tapete v ermelho-sangue torna-se, suponho, uma artéria pulmonar. Aqui o significado
           imaginativ o somam-se de forma adequada e de maneira calculada, apontando para uma metáfora do
           v ôo – a interação mútua desses significados produz uma obra de arquitectura poliv alente.




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           Edifício da TWA. O tapete vermelho se desenvolve no espaço de entrada. As curvas e contra-curvas
                                            reforçam o sentimento de movimento contínuo.




               Capela de Notre-dame du Haut. Ronchamp. Arquiteto Le Corbusier. 1 955. O edifício é super-
           codificado com metáforas v isuais, nenhuma delas muito ex plícita. Desta maneira, o edifício parece
            querer dizer alguma coisa, mas que não se sabe ex atamente o quê. O efeito pode ser comparado a
                  termos uma palav ra na ponta da língua, mas não se consegue lembrar. A ambiguidade é
                                                        dramática mas não frustrante.

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           O uso mais eficaz de metáfora sugerida que eu posso pensar na arquitetura moderna é a capela de Le
           Corbusier em Ronchamp, que tem sido comparada a todos os tipos de coisas, v ariando entre o
           casario branco de My konos e o queijo suíço. Parte do seu poder é essa sugestiv idade – de significar
           muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Por ex emplo, uma de pato (mais uma v ez este famoso
           personagem da arquitetura moderna) é v agamente sugerido na elev ação do sul, mas ainda assim é
           um nav io e, oportunamente, as mãos rezando. Os códigos v isuais, que aqui v ão em ambos os
           sentidos, elitista e popular, trabalhamos principalmente em um nív el inconsciente, ao contrário do
           carrinho de cachorro quente. Nós lemos as metáforas imediatamente sem nos preocuparmos em
           nomeá-las ou desenhá-las (como é feito aqui), e claramente a habilidade do artista é dependente de
           sua capacidade de chamar o nosso rico depósito de imagens v isuais, sem que tenhamos consciência
           da sua intenção.




           Talv ez seja também um processo um pouco inconsciente para ele. Le Corbusier somente admitiu a
           duas metáforas, as quais são esotéricas: a “acústica v isual” das paredes curv as que formam os quatro
           horizontes, como se fossem “sons”, (respondendo em antiphony ). E a forma “casca de caranguejo”
           do telhado. Mas o edifício tem muitas metáforas a mais do que isso, tantas que é saturado com as
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           interpretações possív eis. Isso ex plica por críticos como Pev sner e Stirling pensarem no edifício
           como desconcertante, e outros o v erem tão enigmático. Parecem sugerir precisos significados
           ritualísticos, tal como um templo de alguma seita muito complicada que atingiu um elev ado grau de
           sofisticação metafísica. Mas sabemos que é simplesmente um capela da peregrinação criado por
           alguém que acreditav a em um religião natural, um panteísmo.


           Dito de outra forma, Ronchamp cria o fascínio da descoberta de uma nov a linguagem arcaica, que
           tropeçam sobre esta pedra de Rosetta, fragmento de uma civ ilização perdida, e todas as v ezes que
           decodificamos sua superfície, apresentamos significados coerentes que sabemos não se referir a
           qualquer
           prática social precisa . Le Corbusier, assim, supercodificou seu prédio com                 metáforas, e tão
           precisamente relacionou parte com parte, que os sentidos parecem ter-se fix ado por incontáv eis
           gerações env olv idas em um ritual: algo tão rico quanto os padrões delicados do Islã, ou a iconologia
           ex ata do x intoísmo. Quão agradáv el é a ex periência deste jogo de significação, que sabemos que
           repousa principalmente sobre o brilho imaginativ o.




                                  Pacific Design Center. Los Angeles, 1 97 6. Arquiteto Cezar Pelli.


           Outro edifício moderno, que cristaliza uma série de metáforas, dev ido à sua forma incomum, é o
           Pacific Design Center, de Cesar Pelli, em Los Angeles – conhecidas localmente como “A baleia azul”.
           Ao contrário de Ronchamp e TWA, faz uso de formas retilíneas e uma parede de cortina de três
           diferentes tipos de v idro, mas não obstante estes elementos familiares apontam para associações
           desconhecidos, por causa de seu tratamento peculiar: “iceberg”, “caix a registradora”, ‘”hangar de
           av ião”, e mais apropriadamente “moldura arquitetonica ex trudada”, (é um centro de decoradores de
           interiores e designers).




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           Essas metáforas podem ser mapeados, literalmente, em termos de contorno de secção e, não tanto
           “Baleia Azul”, imagem que se relaciona apenas em termos de cor e massa. E, no entanto este é o
           apelido preferido. Por quê? Porque há um restaurante local, cuja entrada é boca de uma grande
           baleia azul, e o prédio é reconhecido como um lev iatã na sua v izinhança de pequena escala, que
           engole os outros edifícios peix es pequenos, (neste caso, as pequenas lojas de decoradores. Em
           outras palav ras, dois códigos locais pertinentes, a grande escala e conex ão com o restaurante local,
           prev alecem sobre as metáforas mais plausív el do edifício, o hangar de aeronav es ou de moldagem –
           um bom ex emplo do modo como a arquitetura está mais a mercê do observ ador do que, digamos,
           da poesia.


           Arquitetura como linguagem é muito mais maleáv el do que a língua falada, e sujeitas a
           transformações de códigos de curta duração. Apesar de um edifício poder ficar por 300 anos, a
           forma como as pessoas o têm em conta e o usam pode mudar a cada dez anos. Seria perv erso para
           reescrev er sonetos de Shakespeare, transformar poemas de amor em cartas de ódio, ler comédia
           como tragédia, mas é perfeitamente aceitáv el para pendurar roupa lav ada em balaustradas
           decorativ as, conv erter uma igreja em uma sala de concertos, e usar um prédio todos os dias sem
           nunca ter olhado para ele, (na v erdade, a norma). A arquitetura é frequentemente ex perimentada
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           distraidamente, ex atamente o oposto do que se                       supõe ex perimentar uma sinfonia ou obra de
           arte. Um implicações disto para a arquitetura é que, entre outras coisas, o arquiteto dev e super
           codificar seus edifícios, utilizando uma redundância de signos e metáforas populares, se o seu
           trabalho pretende comunicar e sobrev iv er à transformação de códigos de rápida mudança.


           Surpreendentemente, muitos arquitetos modernos negam este potente nív el metafórico de
           significado. Eles acham não funcional e pessoal, literário e v ago, certamente algo que não podemos
           controlar conscientemente e usar adequadamente. Ao inv és disso, eles se concentram nos supostos
           aspectos racionais do projeto – o custo e função, como estreitamente o definem. O resultado é que
           suas inadv ertidas metáforas v ingam-se metafóricamente e chutam-lhes o trazeiro: seus edifícios
           acabam parecendo metáforas da função e economia, e são condenados como tal.


           A situação pode mudar, porém, uma v ez que a pesquisa social e semiótica arquitetônica partilham a
           resposta interpessoal comum da metáfora. Isto é muito mais prev isív el e controláv el do que os
           arquitetos pesav am, e desde que a metáfora desempenha um papel preponderante na a aceitação do
           público ou rejeição dos edifícios, pode-se apostar que os arquitetos v oltar-se para este ponto,
           mesmo que seja apenas para sua própria prosperidade. Metáfora, v ista atrav és dos códigos v isuais
           conv encionais, difere de grupo para grupo, mas pode ser coerentemente, se não precisamente,
           delineada para todos esses grupos em uma sociedade.




           Notas


           [1 ] V ulgar. “Pênis do Pereira”


           [2] O teste de Rorschach é um teste psicológico desenv olv ido pelo psiquiatra suíço Hermann
           Rorschach. O teste consiste em dar possív eis interpretações a dez pranchas com manchas de tinta
           simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do
           indiv íduo.


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           arquitetura e marcada com a tag Arquitetura Século XX, Pós modernismo, Semiótica na arquitetura,
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           UMA RESPOSTA PARA A METÁFORA NA ARQUITETURA

           Bianca | 09/12/2010 às 02:43 | Responder
           Silv io, cada v ez que passo por aqui me apaix ono mais por esse mistério da arquitetura.
           Saudade de ouv ir tudo isso que li durante as suas aulas.
           Adorei o tex to! Um dia minha intimidade com a Arquitetura v ai ser desse jeito? =)
           Parabéns!!!


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  • 1. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Coisas da Arquitetura Just another WordPress.com weblog A metáfora na arquitetura Posted on 29/10/2010 | 1 Comentário Charles Jencks Do livro “The language of Post -modern Archit ect ure”. Londres: Academy , 197 7 . Tradução, edição e coment ários Silvio Colin Torre Chicago Tribune. Adolf Loos. 1 922 As pessoas sempre v eem um prédio em termos de outro, ou em termos de um objeto similar, ou seja como uma metáfora. Quanto mais estranho é um edifício moderno, mais ele v ai ser compartilhado coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 1/17
  • 2. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura metaforicamente. Esta correspondência de uma ex periência para com outra é uma propriedade do pensamento, particularmente daquele que é criativ o. Assim, quando grelhas de concreto pré- moldadas foram utilizados pela primeira v ez em edifícios, no final dos anos cinqüenta, eles eram v istos como “ralador de queijo”, “colmeias”, “correntes”, “elos”, enquanto que dez anos depois, quando se tornou a norma em um tipo determinado de edifício, eles foram v istos em termos funcionais: “Isto parece uma garagem.” Transamerica Py ramid. 1 97 2. Arquiteto William Pereira. Edifício evocativo da cidade de São Francisco. Encontrou muita o posição, tendo sido apelidado pelos detratores de “Pereira’s prick” [1 ] De metáfora ao clichê, do neologismo, atrav és do uso constante, para o signo arquitetônico, este é o caminho contínuo percorrido por formas e técnicas nov as e bem sucedidas. Metáforas tipicamente negativ as utilizadas pelo público e pelos críticos, como Lewis Mumford, para condenar a arquitetura moderna foram “caix a de papelão”, “caix a de sapatos”, “caix a de ov os”, “armário de arquiv o »,«papel milimetrado”. Estas comparações foram procuradas, não só por seu tom pejorativ o e mecanicista, mas também porque eram fortemente codificado em uma cultura que se tornou sensív el ao espectro de 1 984. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 2/17
  • 3. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Grelhas de concreto. Hoje não mais percebida como metáfora Este ponto tem algumas implicações óbv ias curiosas, como nós v eremos. Uma destas implicações tornou-se aparente quando eu estav a v isitando o Japão com o arquiteto Kisho Kurokawa. Fomos v er sua nov a torre de apartamentos em Tóquio, feita com containers tipo nav ais, a qual ostentav a forma total das mais incomuns. Eles pareciam cubos de açúcar empilhados, ou até mesmo máquinas de lav ar sobrepostas, porque os cubos brancos tinham janelas redondas no centro. Quando eu disse que essa metáfora tinha conotação inadequada paraa habitação, Kurokawa ev idenciou surpresa. “Não são máquinas de lavar, são gaiolas. Aqui no Japão, nós construímos caixas de concreto com furos redondos para ninhos de pássaro e colocamo-los nas árvores. Eu construí estes ninhos de aves para os empresários itinerantes que visitam Tóquio, para os solteiros que viajam muitas vezes com as suas aves.” A resposta espirituosa, talv ez construída na hora, mas que ressaltou que muito bem a diferença em nossos códigos v isuais. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 3/17
  • 4. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Torre cápsula Nakagin. Arquiteto Kisho Kurokawa, 1 97 2 A conhecida ilusão v isual apresenta isto ainda mais claramente: a famosa “figura do coelho-pato”, que será v isto em primeiro lugar como uma forma, e depois com a outra. Uma v ez que todos têm presentes os códigos v isuais para os animais, e até mesmo prov av elmente um código para o monstro híbrido, com duas cabeças, podemos v ê-lo três maneiras. Um ponto de v ista pode predominar, de coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 4/17
  • 5. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura acordo ou pela força do código ou de acordo com a direção a partir da qual v emos a figura em primeiro lugar. Mas note-se que so se pode v er a figura de uma forma de cada v ez. A ilusão “pato-coelho” A regra geral, é que as restrições do código baseadas no aprendizado e na cultura orientam a leitura, e que há muitos códigos, alguns dos quais podem estar em conflito entre subculturas. Em termos gerais, ex istem duas subculturas de grande porte: uma com o código moderno, baseado na formação e ideologia dos arquitetos modernos, e outro com o código tradicional, com base na ex periência de cada um de elementos normalizados da arquitetura. Há razões muito simples porque estes códigos possam estar em desacordo e a arquitetura pode ser radicalmente esquizofrênica, tanto em sua criação e quanto na interpretação. Uma v ez que alguns edifícios frequentemente incorporam v ários códigos, eles podem ser v istos como um misto de metáforas, e com significados opostos: por ex emplo, o “harmonioso, bem proporcionado v olume puro ” do arquiteto moderno passa a ser a “caix a de sapatos” ou “gav eta” para o público. Ópera de Sidney . Arquiteto Jørn Utson, 1 957 -64. Como a Torre Eiffel, signos ambíguos transcenderam todas as possíveis considerações funcionais e o edifício tornou-se um símbolo nacional. Esta classe rara de signo, como o teste de Rorschach, provoca respostas coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 5/17
  • 6. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura derivadas dos interesses da pessoa questionada, não do objeto em si. Um edifício moderno, o Sy dney Opera House, tem prov ocado uma superabundância de respostas metafóricas, tanto na imprensa popular quanto profissional. Os motiv os são, nov amente, que as formas são desconhecidos para a arquitetura e lembram de outros objetos v isuais. A maioria das metáforas são orgânicas: assim, o arquiteto, Jorn Utzon, mostrou como as conchas do prédio relacionam-se com a superfície de um esfera (como pedaços de uma laranja, e as asa de um pássaro em v ôo. Eles também dizem respeito, obv iamente, de a conchas brancas, e essa metáfora, além da comparação com as v elas brancas balançando em torno de Sy dney Harbour, se tornaram clichés jornalísticos. Isto lev anta uma outra questão óbv ia com implicações inesperadas: a interpretação da metáfora arquitetônica é mais elástica e dependente de códigos locais códigos que a interpretação da metáfora na linguagem falada ou escrita. Alguns críticos têm apontado que a sobreposição de conchas lembram o crescimento de uma flor ao longo do tempo – o desdobramento das pétalas, enquanto estudantes de Arquitetura da Austrália caricaturaram este mesmo aspecto como “tartarugas fazendo amor”. Desenho apresentado por estudantes de arquitetura quando a Raínha Elizabethh inaugurou oficialmente o edifício. De v ários pontos de v ista, o aspecto v iolento de formas partidas e despedaçadas é ev idente – “um acidente de trânsito sem sobrev iv entes “, ao passo que muitas v ezes esses mesmos pontos de v ista trazem a tona outras possív eis metáforas orgânicas como “peix e engolindo outro” Reforçando esta interpretação são os brilhantes, escamados elementos da superfície cerâmica que são v isív eis de perto. Mas a metáfora mais ex traordinário, e aquele que os australianos aplicam com certa afeição estupefação, é “confusão de freiras”. Todos esses conchas, confrontando umas às outros em duas direções principais, lembram os v estidos da cabeça e capuzes de duas ordens monásticas opostas e a idéia descontroladamente improv áv el de que esta poderia ser uma escaramuça de madres superioras domina as possibilidades. ’Wit’ tem foi definido como “a cópula improv áv el de idéias em conjunto”, e mais improv áv el, mas o sucesso da união, mais atacará o espectador e permanecerá em sua mente. Um edifício inteligente é aquele que nos permite fazer ex traordinário, mas conv incentes associações. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 6/17
  • 7. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura A inspiração declarada pelo arquiteto foi absolutamente geométrica e abstrata. A pergunta surge, obv iamente, de quão apropriadas são essas metáforas para as funções do edifício e seu papel simbólico. Concentrando sobre este aspecto e momentaneamente descartando outros, como o custo (os australianos gastaram algo como v inte v ezes a estimativ a original para a sua metáfora múltipla) podemos chegar à conclusão que se segue. Por um lado as metáforas orgânicas são muito adequadas para um centro cultural: as imagens que sugerem crescimento são particularmente adequadas para significados de criativ idade. O edifício v oa, nav ega, ex pande-se, curv a-se para cima se desdobra como um v egetal animado. Bom. Talv ez se o edifício fosse renomeado The Australian Cultural Centre (não Sy dney Opera House) fosse justificado como um símbolo da libertação da Austrália da dependência anglo-sax ónica, (a imperiosa influência da Grã- Bretanha e América), então a sua interpretação poderia ser mais clara. Poderíamos, então, v er essas metáforas ex traordinárias em sua luz mais positiv a, como símbolos da quebra na Austrália da conformidade colonial e prov incianismo. Mas as dúv idas surgem. Sabemos que o edifício foi projetado por um europeu (e não um australiano), como uma casa de ópera – e que não funciona nem economicamente nem funcionalmente da forma que foi concebido. Uma v ez que esse conhecimento é um parte integrante do código com o qual nós interpretamos o edifício, nosso julgamento não pode ev itar ser contaminado por este conhecimento. É um pouco como olhar para a figura do pato-coelho: a nossa percepção é dobrada e moldada por códigos com base na ex periência anterior. É praticamente impossív el perceber o edifício sem saber sobre o famoso “Sy dney Opera House Case”, a demissão do arquiteto, o custo, e assim por diante. Assim, estes locais, significados específicos, também são simbolizados nas ex trav agantes conchas. V ários modernistas criticaram a Opera House de outras razões: como uma peça de comunicação literal, o edifício informa pouco e dissimula muito. V ocê não consegue v er os v ários teatros, restaurantes e salões de ex posição sob a casca, por isso desagradou a certos arquitetos criados na tradição do funcionalismo ex pressiv o. Eles esperav am v er cada função receber um v olume claro e distinto, que idealmente falando, é apenas uma silhueta da função – como a auditório. Eles teriam desenhado o edifício como série de torres e caix as em forma de cunha (a forma conv encionada para o auditório da arquitetura moderna). coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 7/17
  • 8. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Clube Russakov . Moscou, 1 928. Arquiteto Konstantin Melnikov . A forma de cunha com uma torre em anexo estabeleceu-se como a “palavra” para auditório, na linguagem da moderna arquitetura, por causa deste edifício. As formas seguem as necessidades funcionais. O edifício v iola esse código, como a arquitetura clássica, muitas v ezes fez, obscurecendo funções reais por trás padrões globais. O debate torna-se então se o obscurantismo justifica-se pelo humor e adequação de a metáfora orgânica. Eu penso que sim, mas outros negam isso. Talv ez um deles seria Robert V enturi, que também começa a partir da posição que a arquitetura dev e ser olhada como comunicação, mas chega a conclusões diferentes da minha. Ele alega que os edifícios dev eriam olhar como “Galpões decorados, não os patos”. O galpão decorado é uma caix a simples com signos aplicados, como um outdoor, ou o aplicação do ornamento conv encionais, tais como um frontão simbolizando a entrada e que um pato, para ele, é um edifício que com sua forma representa a sua função, (um edifício em forma de pássaro v ende produtos relacionados com a caça do pato) ou um edifício moderno, onde o construção, estrutura e v olume se a decoração. Claramente, a Ópera de Sy dney é um pato de V enturi, e ele pretende subestimar esta forma de ex pressão porque ele acha que foi ex agerado pelo moderno mov imento. Eu discordaria desse julgamento histórico e mais ainda para com as atitudes implícitas nele. V enturi, como o modernista típico que ele deseja suplantar está adotando a tática de inv ersão ex clusiv a. Ele está cortando toda uma área de comunicação na arquitetura, os edifícios pato (tecnicamente falando signos icônicos), a fim de fazer a sua modalidade preferida, o galpão decorado (signo simbólico), que muito mais potente. Assim, está sendo pedido, uma v ez mais por um modernista. em nome de racionalidade, seguir um caminho ex clusiv o simplista. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 8/17
  • 9. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Security Marine Bank. Wisconsin, 1 97 1 . A concha simbólica, em parte comunicação de estatus e segurança, em parte função. Pressões comerciais naturalmente dissociam significante e significado, desta maneira, embora nem sempre tão claramente. É ev idente que precisamos de todos os modos de comunicação a nossa disposição, não um ou dois, e é o compromisso modernista com a arquitectura na luta do dia-a-dia que lev a a tais simplificações, não uma teoria equilibrada da significação. Em qualquer caso, a Sy dney Opera House coloca alguns problemas difíceis como um pato, por causa de sua falta de simbolismo compartilhado com o público – um ponto que a posição ex trema de V enturi traz para fora. Enquanto as metáforas orgânicas são adequadas análogias para um centro de cultura, eles não são reforçadas por meio de sinais conv encionais adv indos do v ernáculo da Austrália e, portanto, elas têm uma errático significação. Pelo contrário, elas emanam do generalizado mov imento formalista dos arquitetos modernos, um mov imento que poderia ser mais apropriadamente denominado surrealista. Magritte. Maça. Como uma pintura de Magritte – a maçã que se ex pande para preencher uma sala inteira, o significado é impressionante, mas enigmático e ev asiv o. O que ex atamente Utzon está tentando dizer, além do primitiv o e emocionante? Porque todas as v elas, conchas, flores, peix es e freiras? É ev idente que nossas emoções estão sendo ex ploradas como um fim em si mesmas, e não há ex atamente objetiv o para onde todos esses significados conv ergem. Eles flutuam em nossa mente para pegar conex ões onde v ão, como um sonho lux uriante perseguindo a super indulgência. Eles, no entanto rev elam um ponto de ordem geral sobre a comunicação: quanto mais metáforas, coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 9/17
  • 10. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura maior o drama, e quanto mais elas são ligeiramente sugestiv as, maior o mistério. Uma metáfora mista é forte, como todos os estudantes de Shakespeare sabem, mas uma metáfora sugestiv a é poderosa. Na arquitetura, nomear uma metáfora é frequentemente matá-la, algo como analisar piadas. Quando estandes de cachorro quente têm forma de cachorro-quente, pouco trabalho é deix ado à imaginação, e todas as outras metáforas são suprimidas: eles não podem mesmo sugerir hambúrgueres. No entanto, mesmo este tipo de metáfora univ alentes, a arquitetura Pop de Los Angeles, tem o seu lado criativ o e comunicativ o. Por um lado, a escala habitual e o contex to são v iolentamente distorcidos, de modo que o objeto comum, por ex emplo, as roscas, assume uma série de possív eis significados que normalmente não estão associados esse item da alimentação. Big Donut Driv e-in. Los Angeles, 1 954. Quando ele é ampliado até trinta metros e construído de madeira e senta-se em um pequeno edifício, torna-se o objeto de Magritte que tomou a casa dos ocupantes. Parcialmente hostil e ameaçador, é todav ia um símbolo de pequeno-almoço açucarado e reconfortante. Em segundo lugar, uma arquitetura feita a partir de tais signos inequiv ocamente comunica àqueles que se mov imenta a cinqüenta quilômetros por hora atrav és da cidade. Em contraste com muito edifícios modernos , estes signos icônicos falam com ex atidão e humor sobre sua função. Sua literalidade, embora infantil, articula v erdades factuais , que o trabalho de Mies obscurece, e há um certo prazer em geral (que não escapa crianças) em perceber uma seqüência deles. Ao contrário do V enturi, precisamos de mais patos, moderna arquitetos não os propagaram o suficiente. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 10/17
  • 11. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Terminal da TWA, aeroporto John F. Kennedy , Nov a Y ork. 1 962. Projetado depois que Eero Saarinen foi membro do Júri da Ópera de Sidney. Aqui as metáforas são claramente reconhecíveis. O vôo de longa distância, adequado a um aeroporto, e a águia, símbolo dos Estados Unidos. Um arquiteto modernista que tentou foi Eero Saarinen. Imediatamente depois que ele selecionou a Opera House de Utzon como o v encedora da competição, ele v oltou para a América, e projetou sua própria v ersão do prédio concha curv ilíneo. O terminal da TWA em Nov a Y ork é um ícone de um pássaro e, por ex tensão, de v ôo do av ião. Nos detalhes e na concentração de circulação linhas, das saídas cruzamentos de passageiros, é uma metáfora particularmente inteligente. Os suportes são identificados com a perna de um pássaro, a gárgula torna-se um bico sinistro, uma ponte interior coberta em tapete v ermelho-sangue torna-se, suponho, uma artéria pulmonar. Aqui o significado imaginativ o somam-se de forma adequada e de maneira calculada, apontando para uma metáfora do v ôo – a interação mútua desses significados produz uma obra de arquitectura poliv alente. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 11/17
  • 12. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Edifício da TWA. O tapete vermelho se desenvolve no espaço de entrada. As curvas e contra-curvas reforçam o sentimento de movimento contínuo. Capela de Notre-dame du Haut. Ronchamp. Arquiteto Le Corbusier. 1 955. O edifício é super- codificado com metáforas v isuais, nenhuma delas muito ex plícita. Desta maneira, o edifício parece querer dizer alguma coisa, mas que não se sabe ex atamente o quê. O efeito pode ser comparado a termos uma palav ra na ponta da língua, mas não se consegue lembrar. A ambiguidade é dramática mas não frustrante. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 12/17
  • 13. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura O uso mais eficaz de metáfora sugerida que eu posso pensar na arquitetura moderna é a capela de Le Corbusier em Ronchamp, que tem sido comparada a todos os tipos de coisas, v ariando entre o casario branco de My konos e o queijo suíço. Parte do seu poder é essa sugestiv idade – de significar muitas coisas diferentes ao mesmo tempo. Por ex emplo, uma de pato (mais uma v ez este famoso personagem da arquitetura moderna) é v agamente sugerido na elev ação do sul, mas ainda assim é um nav io e, oportunamente, as mãos rezando. Os códigos v isuais, que aqui v ão em ambos os sentidos, elitista e popular, trabalhamos principalmente em um nív el inconsciente, ao contrário do carrinho de cachorro quente. Nós lemos as metáforas imediatamente sem nos preocuparmos em nomeá-las ou desenhá-las (como é feito aqui), e claramente a habilidade do artista é dependente de sua capacidade de chamar o nosso rico depósito de imagens v isuais, sem que tenhamos consciência da sua intenção. Talv ez seja também um processo um pouco inconsciente para ele. Le Corbusier somente admitiu a duas metáforas, as quais são esotéricas: a “acústica v isual” das paredes curv as que formam os quatro horizontes, como se fossem “sons”, (respondendo em antiphony ). E a forma “casca de caranguejo” do telhado. Mas o edifício tem muitas metáforas a mais do que isso, tantas que é saturado com as coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 13/17
  • 14. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura interpretações possív eis. Isso ex plica por críticos como Pev sner e Stirling pensarem no edifício como desconcertante, e outros o v erem tão enigmático. Parecem sugerir precisos significados ritualísticos, tal como um templo de alguma seita muito complicada que atingiu um elev ado grau de sofisticação metafísica. Mas sabemos que é simplesmente um capela da peregrinação criado por alguém que acreditav a em um religião natural, um panteísmo. Dito de outra forma, Ronchamp cria o fascínio da descoberta de uma nov a linguagem arcaica, que tropeçam sobre esta pedra de Rosetta, fragmento de uma civ ilização perdida, e todas as v ezes que decodificamos sua superfície, apresentamos significados coerentes que sabemos não se referir a qualquer prática social precisa . Le Corbusier, assim, supercodificou seu prédio com metáforas, e tão precisamente relacionou parte com parte, que os sentidos parecem ter-se fix ado por incontáv eis gerações env olv idas em um ritual: algo tão rico quanto os padrões delicados do Islã, ou a iconologia ex ata do x intoísmo. Quão agradáv el é a ex periência deste jogo de significação, que sabemos que repousa principalmente sobre o brilho imaginativ o. Pacific Design Center. Los Angeles, 1 97 6. Arquiteto Cezar Pelli. Outro edifício moderno, que cristaliza uma série de metáforas, dev ido à sua forma incomum, é o Pacific Design Center, de Cesar Pelli, em Los Angeles – conhecidas localmente como “A baleia azul”. Ao contrário de Ronchamp e TWA, faz uso de formas retilíneas e uma parede de cortina de três diferentes tipos de v idro, mas não obstante estes elementos familiares apontam para associações desconhecidos, por causa de seu tratamento peculiar: “iceberg”, “caix a registradora”, ‘”hangar de av ião”, e mais apropriadamente “moldura arquitetonica ex trudada”, (é um centro de decoradores de interiores e designers). coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 14/17
  • 15. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Essas metáforas podem ser mapeados, literalmente, em termos de contorno de secção e, não tanto “Baleia Azul”, imagem que se relaciona apenas em termos de cor e massa. E, no entanto este é o apelido preferido. Por quê? Porque há um restaurante local, cuja entrada é boca de uma grande baleia azul, e o prédio é reconhecido como um lev iatã na sua v izinhança de pequena escala, que engole os outros edifícios peix es pequenos, (neste caso, as pequenas lojas de decoradores. Em outras palav ras, dois códigos locais pertinentes, a grande escala e conex ão com o restaurante local, prev alecem sobre as metáforas mais plausív el do edifício, o hangar de aeronav es ou de moldagem – um bom ex emplo do modo como a arquitetura está mais a mercê do observ ador do que, digamos, da poesia. Arquitetura como linguagem é muito mais maleáv el do que a língua falada, e sujeitas a transformações de códigos de curta duração. Apesar de um edifício poder ficar por 300 anos, a forma como as pessoas o têm em conta e o usam pode mudar a cada dez anos. Seria perv erso para reescrev er sonetos de Shakespeare, transformar poemas de amor em cartas de ódio, ler comédia como tragédia, mas é perfeitamente aceitáv el para pendurar roupa lav ada em balaustradas decorativ as, conv erter uma igreja em uma sala de concertos, e usar um prédio todos os dias sem nunca ter olhado para ele, (na v erdade, a norma). A arquitetura é frequentemente ex perimentada coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 15/17
  • 16. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura distraidamente, ex atamente o oposto do que se supõe ex perimentar uma sinfonia ou obra de arte. Um implicações disto para a arquitetura é que, entre outras coisas, o arquiteto dev e super codificar seus edifícios, utilizando uma redundância de signos e metáforas populares, se o seu trabalho pretende comunicar e sobrev iv er à transformação de códigos de rápida mudança. Surpreendentemente, muitos arquitetos modernos negam este potente nív el metafórico de significado. Eles acham não funcional e pessoal, literário e v ago, certamente algo que não podemos controlar conscientemente e usar adequadamente. Ao inv és disso, eles se concentram nos supostos aspectos racionais do projeto – o custo e função, como estreitamente o definem. O resultado é que suas inadv ertidas metáforas v ingam-se metafóricamente e chutam-lhes o trazeiro: seus edifícios acabam parecendo metáforas da função e economia, e são condenados como tal. A situação pode mudar, porém, uma v ez que a pesquisa social e semiótica arquitetônica partilham a resposta interpessoal comum da metáfora. Isto é muito mais prev isív el e controláv el do que os arquitetos pesav am, e desde que a metáfora desempenha um papel preponderante na a aceitação do público ou rejeição dos edifícios, pode-se apostar que os arquitetos v oltar-se para este ponto, mesmo que seja apenas para sua própria prosperidade. Metáfora, v ista atrav és dos códigos v isuais conv encionais, difere de grupo para grupo, mas pode ser coerentemente, se não precisamente, delineada para todos esses grupos em uma sociedade. Notas [1 ] V ulgar. “Pênis do Pereira” [2] O teste de Rorschach é um teste psicológico desenv olv ido pelo psiquiatra suíço Hermann Rorschach. O teste consiste em dar possív eis interpretações a dez pranchas com manchas de tinta simétricas. A partir das respostas, procura-se obter um quadro amplo da dinâmica psicológica do indiv íduo. Esta entrada foi publicada em Arquitetura pós-moderna, Arquitetura Século XX, Crítica, Filosofia da arquitetura e marcada com a tag Arquitetura Século XX, Pós modernismo, Semiótica na arquitetura, Teoria da arquitetura. Adicione o link permanente aos seus fav oritos. UMA RESPOSTA PARA A METÁFORA NA ARQUITETURA Bianca | 09/12/2010 às 02:43 | Responder Silv io, cada v ez que passo por aqui me apaix ono mais por esse mistério da arquitetura. Saudade de ouv ir tudo isso que li durante as suas aulas. Adorei o tex to! Um dia minha intimidade com a Arquitetura v ai ser desse jeito? =) Parabéns!!! coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 16/17
  • 17. 09/04/12 A metáfora na arquitetura | Coisas da Arquitetura Tema: Coraline por Automattic. Fonts on this blog. Orgulhosamente criado com WordPress. coisasdaarquitetura.wordpress.com/2010/10/29/a-metafora-na-arquitetura-2/ 17/17