Historia da psicologia hospitalar ensaios universitários - robertalouzeiro
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Psicologia Hospitalar:
Ao longo de séculos, a assistência psicológica aos enfermos confundiu-se com a assistência
religiosa. Em clínicas e hospitais esse acompanhamento era realizado por freiras. Podemos
dizer que a inserção de um psicólogo no cenário hospitalar deu-se pela primeira vez em 1818,
quando, no Hospital McLean, em Massachussets, formou-se a primeira equipe
multiprofissional que incluía um psicólogo. Nesse mesmo hospital foi fundado, em 1904, um
laboratório de psicologia onde foram desenvolvidas pesquisas pioneiras sobre a Psicologia
Hospitalar.
Depois da Segunda Guerra Mundial, quando houve uma série de mudanças no cenário global,
os hospitais começaram a constituir equipes interdisciplinares buscando oferecer respostas
diferenciadas às complexas demandas da sociedade. Lentamente, sistemas de atenção
integral ao indivíduo começaram a ser criados. Dessa maneira, fez-se necessário que o
acompanhamento psicológico ao paciente evoluísse daquela concepção puramente religiosa
e missionária para a atenção psicológica profissionalizada. Nos anos 50 o cotidiano
hospitalar era seguido por normas rigorosas da medicina e nessa configuração o modelo
cartesiano prevalecia. O paciente era comparado a uma máquina que precisava ser reparada.
Havia uma certa frieza e distanciamento no procedimento médico e a intervenção médica era
considerada objetiva. Esse modelo biomédico já era questionado nessa época pelos
trabalhos de
Freud, Lacan e Jung que mostravam claramente uma interação entre mente, corpo e ambiente.
De acordo com esses trabalhos concluiu-se que os problemas humanos residiam para além
dos sintomas verbalizados.
Na Pós-modernidade surgia um modelo biopsicossocial, o qual levava em conta todos os
aspectos inerentes ao sujeito. Nessa época surgia um homem complexo, um homem que se
distanciava do ideal positivista e punha-se a questionar o seu lugar no mundo. Entre os anos
50 e 60 fundamentos filosóficos conduziram a uma ampliação do conceito de psicologia
hospitalar. Antes de ser encarado como doente, uma condição passageira, o indivíduo podia
ser pai, filho, marido, advogado, etc... Muitos especialistas utilizam o termo Psicologia da
Saúde para designar esse tipo de atenção. Essa disciplina combinaria os saberes
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educacionais, científicos e profissionais da psicologia em ações integradas para a prevenção
de doenças, para a promoção do bem-estar e para a manutenção da saúde. Poderíamos
percebê-la como uma junção das ciências médicas e sociais.
No Brasil a psicologia hospitalar vem com uma função atrelada à Psiquiatria quando, na
década de 30, foram fundados os primeiros serviços de Higiene Mental como propostas
alternativas à internação psiquiátrica. Na década de 40, as políticas de saúde no Brasil são
centradas no hospital e seguem um modelo que prioriza as ações de saúde via atenção
secundária (modelo clínico-assistencialista), e
deixa em segundo plano as ações ligadas à saúde coletiva (modelo sanitarista). Nessa época
o hospital passa a ser o símbolo máximo de saúde, idéia que, de alguma maneira, persiste até
hoje. Muito provavelmente, essa é a razão pela qual, no Brasil, o trabalho da Psicologia no
campo da saúde é denominada Hospitalar, e não, Psicologia da Saúde, como em outros
países.
Os relatos da inserção do psicólogo em hospitais começam na década de 50, com Matilde
Neder, psicóloga formada pela Universidade de São Paulo, instalando um Serviço de
Psicologia Hospitalar no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de
São Paulo. Essa senhora foi a pioneira nos trabalhos interdisciplinares e humanistas
oferecidos na área da saúde hospitalar, sendo responsável pela revolução no atendimento
médico-hospitalar. Ao ser convidada para esse trabalho, ela procurou fazer uma adaptação
técnica do seu instrumental teórico, acoplando-o à realidade institucional. Foram então criados
modelos teóricos de atendimentos que visavam a uma agilização desses atendimentos para
que se tornassem adequados à realidade hospitalar.
O primeiro curso de psicologia hospitalar do Brasil foi oferecido pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, em 1976, sob a responsabilidade de Bellkiss Wilma Romano Lamosa,
psicóloga que, depois de haver atuado em diversas unidades do Hospital das Clínicas da
Universidade de São Paulo, foi convidada para a
implantação do Serviço de Psicologia do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da
USP.
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Regina D’Aquino cria em 1979 em Brasília um trabalho junto a pacientes terminais, tornando-
se um dos grandes marcos na assistência psicológica a pacientes terminais, lidando com a
questão da morte e as suas implicações. Nesse mesmo ano, Wilma Torres inicia, como
coordenadora, o Programa de Estudos e Pesquisas em Tanatologia da Fundação Getúlio
Vargas no Rio de Janeiro.
O primeiro curso de Especialização em Psicologia Hospitalar foi oferecido em 1981 pelo
Instituto Sedes Sapientiae de São Paulo, tendo como responsável o professor Valdemar
Augusto Angerami-Camon . E em 1982, após anos de atividades, o Setor de Psicologia do
Serviço de Oncologia Ginecológica da Real e Benemérita Sociedade Portuguesa de
Beneficência é normatizado. Esse feito cabe à professora Marli Rosani Meleti. Nesse mesmo
ano, Heloísa Benevides Carvalho Chiattone implanta o Setor de Psicologia do Serviço de
Pediatria do Hospital Brigadeiro em São Paulo.
O Primeiro Encontro Nacional de Psicólogos da Área Hospitalar, foi o primeiro evento de
âmbito nacional que reuniu os diversos psicólogos que atuavam de maneira dispersa pelas
mais diferentes localidades do país. Foi promovido pelo Serviço de Psicologia do Hospital
das Clínicas da USP em 1983, sob a responsabilidade de Bellkiss Wilma Romano Lamosa.
Desde o ano 2000, a Psicologia Hospitalar foi reconhecida como uma
especialidade pelo Conselho Federal de Psicologia. Além disso, desde quando foi fundada
por 45 psicólogos, em 1997, a Sociedade Brasileira de Psicologia Hospitalar (SBPH),
sediada em Belo Horizonte, vem dando forças à área no cenário nacional. Esta sociedade tem
como objetivo principal ampliar o campo de conhecimento científico e promover cada vez mais
o profissional que se dedica a esse campo da psicologia.
A Psicologia hospitalar é, num conceito bem amplo, a área da Psicologia que lida com o
entendimento e o tratamento dos aspectos psicológicos em torno do adoecimento. Esse
adoecimento acontece quando o sujeito humano, repleto de uma subjetividade, dá de encontro
com uma realidade de natureza patológica, chamada de “doença”, que se manifesta no seu
próprio corpo, acarretando uma série de aspectos psicológicos que podem ser observados
tanto no paciente quanto na sua família e até na equipe de profissionais que o assistem.
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A psicologia hospitalar não trata apenas das doenças psicossomáticas (aquelas que advêm
de causas psíquicas), mas sim dos aspectos psicológicos gerados por toda e qualquer
doença. Pois toda doença é carregada de subjetividade, toda doença acarreta aspectos
psicológicos, e por esse motivo pode se beneficiar do trabalho do psicólogo hospitalar.
Hoje em dia, partindo de um ponto de vista biopsicossocial, se aceita que a doença é um
fenômeno bastante complexo. No entanto, não cabe à psicologia hospitalar
quantificar ou determinar o quanto de biológico, psicológico ou social essa doença contém.
O interesse desse campo da psicologia é explorar a subjetividade do paciente fazendo-o dar
voz a seus sentimentos, seus desejos, seus pensamentos, suas crenças, seus sonhos, seus
conflitos e seu estilo de vida antes e depois de adoecer. Uma característica importante da
psicologia hospitalar é que ela não propõe uma meta ideal para o paciente alcançar, ela
simplesmente inicia um processo de construção simbólica do adoecimento. Ela se oferece ao
paciente como acompanhante nessa jornada através da experiência do adoecimento sem
prever o fim dessa viagem, porque este lhe é também desconhecido.
A psicologia hospitalar não tem como base uma filosofia de cura, primeiramente porque ela
muitas vezes lida com situações em que a cura já não possível (doenças crônicas e doenças
terminais) e em segundo lugar, porque ela é ineficaz no sentido de erradicar doenças e
eliminar sintomas. Este trabalho cabe ao médico. O trabalho do psicólogo hospitalar realiza-se
no âmbito da relação do paciente com os sintomas que ele apresenta.
O psicólogo hospitalar faz das palavras a sua estratégia para tratar do seu paciente. Ele fala e
escuta, mais escuta do q fala. É essa prática que ilustra o seu treinamento, a sua
especialidade. Até mesmo naqueles casos em que o paciente encontra-se impossibilitado de
falar, pois está inconsciente, sedado, lesionado na
região oral, ou porque se recusa a falar, mesmo assim essa orientação do trabalho pela
palavra é válida, já que existem outras formas de comunicação além das verbais que valem
tanto quanto, como gestos, olhares, a escrita e até mesmo o silêncio. Essa conversa entre
paciente e psicólogo é a via de acesso para um mundo de significados e sentidos. O que
diferencia o homem dos outros animais é muito mais a sua linguagem do que o seu corpo
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físico e é nessa arte de conversar que o psicólogo encontra o seu ofício. Para tanto, o
profissional pode utilizar-se de duas técnicas: a escuta analítica e o manejo situacional. A
primeira reúne as intervenções básicas da psicologia clínica, como escuta, associação livre,
interpretação, etc. A segunda técnica traduz-se em intervenções direcionadas à situação
concreta que se forma em torno do adoecimento. No hospital é importante sair da posição de
passividade e neutralidade, características da psicologia clínica pois é um cenário
completamente diferente: enquanto no consultório o espaço físico é privativo, no hospital o
atendimento pode ser interrompido a qualquer hora por médicos, enfermeiros e outros
técnicos que estão agindo no cumprimento de seus deveres e funções. A questão do sigilo
também fica comprometida pois, muitas vezes o atendimento se dá no meio de uma grande
enfermaria, por exemplo, onde outros pacientes estão presentes.
Entre as diversas funções exercidas pelo psicólogo
hospitalar a que mais diz respeito a sua atuação nesse ambiente é a de acompanhar os casos
dos pacientes, partindo do princípio de que a doença é a causa primeira da desarmonia
subjetiva desse indivíduo. Dessa forma o psicólogo tem acesso aos prontuários médicos, aos
quartos dos internos e a todas as informações médicas concernentes a esses pacientes.
Assim, ele intervém na qualidade do processo de adaptação e recuperação do paciente
internado.
Ele também participa das decisões nas unidades médicas, atuando como consultor e
ajudando os outros profissionais a lidarem com o doente, delineando e executando junto com
a equipe médica programas para modificar ou instalar comportamentos adequados no
paciente.
O psicólogo hospitalar pode também lançar mão de grupos educativos que, junto aos
pacientes e às suas famílias, facilitam a conscientização no contexto da doença e das formas
de tratamento. Além disso, existem ainda trabalhos que podem ser desenvolvidos em conjunto
com os pacientes, os seus familiares e a equipe médica no sentido de facilitar a relação entre
esses três grupos. Essas
A psicologia hospitalar é uma área que mexe profundamente com as emoções do psicólogo.
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É nessa área que o seu trabalho depara-se de forma mais direta com o eterno drama da vida
e da morte. Por esse motivo ele precisa estar preparado para todo o tipo de perdas,
frustrações e até mesmo para ausência física de um paciente que de uma hora para outra
veio a falecer. Precisa também estar ciente do fato de que a psicologia, infelizmente, não é
suficiente para a cura de uma enfermidade mas sim, um meio para facilitar a relação do
doente com os seus sintomas.
Há um aforismo hipocrático que diz assim: “curar sempre que possível, aliviar quase sempre,
consolar sempre”. Esse “consolar” é o “escutar” do psicólogo. Essa é a filosofia da psicologia
hospitalar. Pautado por essa idéia de que a subjetividade do paciente permanece
independente da doença, independente da cura, o psicólogo hospitalar é o artífice de dois
elos indissociáveis: mente e corpo; psíquico e orgânico.
REFERÊNCIAS
ANGERAMI-CAMON, V.A. (org). (2002). Psicologia da Saúde: um novo significado para a
prática clínica. Pioneira: São Paulo
ANGERAMI-CAMON, V.A. (org). (2006). Psicologia Hospitalar: teoria e prática. Pioneira: São
Paulo.
ANGERAMI-CAMON, V.A., CHIATTONE, H.B.C. & NICOLETTI, E.A. (2004). O doente, a
psicologia e o hospital. (3. ed.). Pioneira: São Paulo.
HERGENHAHN, B.R. (2008). An introduction to the history of psychology. (6. ed.). Wadsworth
Publishing: Londres.
ISMAEL, S.M.C. (org). (2005). A prática psicológica e a sua interface com as doenças. São
Paulo: Casa do Psicólogo.
ROMANO, B.W. (1999). Princípios para a prática da psicologia clínica em hospitais. São
Paulo: Casa do Psicólogo.
SIMONETTI, A. (2004). Manual de Psicologia Hospitalar: o mapa da doença. São Paulo: Casa
do