SlideShare uma empresa Scribd logo
1 de 10
Baixar para ler offline
NÓIS MUDEMO
Fidêncio Bogo
Ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela
Belém-Brasilia rumo ao Porto Nacional.
Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma
luzona enorme pra namorado nenhum botar defeito.
Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um
presépio, todo poesia e misticismo.
As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola
de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre
eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
- Por que você faltou esses dias todos?
- É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda.
Risadinhas da turma.
- Não se diz “nóis mudemo” menino! A gente deve dizer: nós
mudamos, tá?
- Tá fessora!
No recreio as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até
amanhã, nóis mudemo!
No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos,
gozações.
- Pai, não vô mais pra escola!
- Oxente! Módi quê?
Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse:
- Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga
pras gozações da mininada! Logo eles esquece.
Não esqueceram.
Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu
no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me
dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no
diário de classe e soube que se chamava Lúcio – Lúcio
Rodrigues Barbosa. Achei o endereço.
Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde.
O rapaz tinha partido no dia anterior para casa de um tio, no
sul do Pará.
-É, professora, meu fio não aguentou as gozações da
mininada. Eu tentei fazê ele continuá, mas não teve jeito. Ele
tava chateado demais. Bosta de vida! Eu devia di tê ficado na
fazenda coa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala
tudo errado.
Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer. Engoli em seco
e me despedi.
O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em
total esquecimento, ao menos de minha parte.
Uma tarde, um povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia
pegar o ônibus, quando alguém me chamou.
Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente
vestido, magro, com aparência doentia.
-O que é, moço?
-A senhora não se lembra de mim, fessora?
Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstitui num
momento meus longos anos de sacerdócio, digo de
magistério. Tudo escuro.
-Não me lembro não, moço. Você me conhece? De
onde? Foi meu aluno? Como se chama?
Para tantas perguntas, uma resposta lacônica:
-Eu sou “Nóis mudemo”, lembra?
Comecei a tremer.
-Sim, moço. Agora lembro. Como era mesmo o seu nome?
-Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa.
- 0 que aconteceu?
- Ah! Fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o
pão que o diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui
garimpeiro. Fui bóia-fria, um “gato” me arrecadou e levou num
caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como
escravo, passei fome, fui baleado quando conseguir fugi.
Peguei tudo quando é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis
ignorante as veis fais coisa sem querê fazê. A escola fais uma
farta danada. Eu não devia tê saído da quele jeito, fessora, mais
não agüentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia
consegui falá direito. Ainda hoje não sei.
-Meu Deus!
Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para
mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente.
Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz,
o que restava do rapaz que me olhava atarantado.
O ônibus buzinou com insistência.
O rapaz afastou-se suavemente.
- Chora não, fessora! A senhora não tem curpa.
- Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu!
Entrei no ônibus apinhado.
Cem olhos eram cem flechas vingadoras
apontadas para mim. O ônibus partiu.
Pensei na minha sala de aula.
Eu era uma assassina a caminho da
guilhotina.
Hoje tenho raiva da gramática.
Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos...
Super usada, mal usada, abusada, ela é uma
guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e
sapato da língua materna, a língua que a criança
aprendeu com seus país e irmãos e colegas – e se
torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e
fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime,
cobrando centenas de regrinhas estúpidas para
aquela idade.
E os lúcios da vida, os milhares lúcios da
periferia e do interior, barrados nas salas
de aula:
“Não é assim que se diz, menino!” Como
se o professor quisesse dizer: “Você está
errado! Os seus pais estão errados! Seus
irmãos e amigos e vizinhos estão errados!
A certa sou eu! Imite-me!

Copie-me! Fale como eu! Você não seja você!
Renegue suas raízes! Diminua-se ! Desfigure-se!
Fique no seu lugar!
Seja uma sombra!”
E siga desarmado para o matadouro da vida...

Mais conteúdo relacionado

Mais procurados

Análise do conto Um Apólogo
Análise do conto Um ApólogoAnálise do conto Um Apólogo
Análise do conto Um ApólogoAna Polo
 
SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - doc
SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - docSIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - doc
SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - docwendell Viana
 
Texto de campanha comunitária
Texto de campanha comunitáriaTexto de campanha comunitária
Texto de campanha comunitáriaMariany Dutra
 
Redação: Relato Pessoal
Redação: Relato PessoalRedação: Relato Pessoal
Redação: Relato Pessoal7 de Setembro
 
Seminário de Literatura para Ensino Médio
Seminário de Literatura para Ensino MédioSeminário de Literatura para Ensino Médio
Seminário de Literatura para Ensino MédioVal Valença
 
Contos - 7G - Uma Aventura na Ilha
Contos - 7G - Uma Aventura na IlhaContos - 7G - Uma Aventura na Ilha
Contos - 7G - Uma Aventura na Ilhabedjoaoii
 
Gêneros , tipologia textual, descritores e distratores
Gêneros , tipologia textual, descritores e distratoresGêneros , tipologia textual, descritores e distratores
Gêneros , tipologia textual, descritores e distratoresRenato Rodrigues
 
Variantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na MúsicaVariantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na MúsicaPricila Yessayan
 
Tirinha, gêneros e tipologia textual - Alunos CEV 2015 1°C
Tirinha, gêneros e tipologia textual -  Alunos CEV 2015 1°CTirinha, gêneros e tipologia textual -  Alunos CEV 2015 1°C
Tirinha, gêneros e tipologia textual - Alunos CEV 2015 1°CJefferson Barroso
 
Folha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdf
Folha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdfFolha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdf
Folha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdfTarcisoDouglas1
 
Contos para o ensino médio
Contos para o ensino médioContos para o ensino médio
Contos para o ensino médioEwerton Gindri
 
Inferências - pressuposto e subentendido
Inferências - pressuposto e subentendidoInferências - pressuposto e subentendido
Inferências - pressuposto e subentendidoAna Lúcia Moura Neves
 

Mais procurados (20)

Análise do conto Um Apólogo
Análise do conto Um ApólogoAnálise do conto Um Apólogo
Análise do conto Um Apólogo
 
Notícia gênero textual
Notícia gênero textualNotícia gênero textual
Notícia gênero textual
 
SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - doc
SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - docSIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - doc
SIMULADO DE LÍNGUA PORTUGUESA - 7° ANO - doc
 
Oficina de minicontos
Oficina de minicontosOficina de minicontos
Oficina de minicontos
 
Adjetivo 7º ano
Adjetivo 7º anoAdjetivo 7º ano
Adjetivo 7º ano
 
Slides sobre reportagem
Slides sobre reportagemSlides sobre reportagem
Slides sobre reportagem
 
Texto de campanha comunitária
Texto de campanha comunitáriaTexto de campanha comunitária
Texto de campanha comunitária
 
Redação: Relato Pessoal
Redação: Relato PessoalRedação: Relato Pessoal
Redação: Relato Pessoal
 
Seminário de Literatura para Ensino Médio
Seminário de Literatura para Ensino MédioSeminário de Literatura para Ensino Médio
Seminário de Literatura para Ensino Médio
 
Contos - 7G - Uma Aventura na Ilha
Contos - 7G - Uma Aventura na IlhaContos - 7G - Uma Aventura na Ilha
Contos - 7G - Uma Aventura na Ilha
 
Gêneros , tipologia textual, descritores e distratores
Gêneros , tipologia textual, descritores e distratoresGêneros , tipologia textual, descritores e distratores
Gêneros , tipologia textual, descritores e distratores
 
Variantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na MúsicaVariantes Linguísticas na Música
Variantes Linguísticas na Música
 
Tirinha, gêneros e tipologia textual - Alunos CEV 2015 1°C
Tirinha, gêneros e tipologia textual -  Alunos CEV 2015 1°CTirinha, gêneros e tipologia textual -  Alunos CEV 2015 1°C
Tirinha, gêneros e tipologia textual - Alunos CEV 2015 1°C
 
Folha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdf
Folha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdfFolha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdf
Folha-de-redação-Oficial-Se-liga-no-Enem (1).pdf
 
Circo roteiro
Circo roteiroCirco roteiro
Circo roteiro
 
Lendas e causos
Lendas e causosLendas e causos
Lendas e causos
 
Variação linguística
Variação linguísticaVariação linguística
Variação linguística
 
Contos para o ensino médio
Contos para o ensino médioContos para o ensino médio
Contos para o ensino médio
 
Genero textual charge
Genero textual chargeGenero textual charge
Genero textual charge
 
Inferências - pressuposto e subentendido
Inferências - pressuposto e subentendidoInferências - pressuposto e subentendido
Inferências - pressuposto e subentendido
 

Semelhante a Nóis mudemo

"As confissoes de Caim"
 "As confissoes de Caim"  "As confissoes de Caim"
"As confissoes de Caim" Susana Cardoso
 
A confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caducaA confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caducaArthur Dellarubia
 
A namorada do meu amigo
A namorada do meu amigoA namorada do meu amigo
A namorada do meu amigoLuhFigueiredos
 
Emily e victor.
Emily e victor.Emily e victor.
Emily e victor.adry-07
 
Capítulo 1 ataques, contra-ataques e conquistas
Capítulo 1   ataques, contra-ataques e conquistasCapítulo 1   ataques, contra-ataques e conquistas
Capítulo 1 ataques, contra-ataques e conquistasIolanda Medina
 
Variações linguísticas 2014
Variações linguísticas  2014Variações linguísticas  2014
Variações linguísticas 2014nixsonmachado
 
A história de Florzinha
A história de FlorzinhaA história de Florzinha
A história de FlorzinhaSylvia Seny
 
CURSO - OFICINA DE TEXTOS.ppt
CURSO - OFICINA DE TEXTOS.pptCURSO - OFICINA DE TEXTOS.ppt
CURSO - OFICINA DE TEXTOS.pptLlianGonalves3
 
Slide sequencia didática crônica memória poesia
Slide sequencia didática crônica memória poesiaSlide sequencia didática crônica memória poesia
Slide sequencia didática crônica memória poesiaJomari
 
Desabafo De Um Velho
Desabafo De Um VelhoDesabafo De Um Velho
Desabafo De Um Velhojmeirelles
 
Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]MDLSOUZA
 
Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]jany clea
 
Caixinha pandora
Caixinha pandoraCaixinha pandora
Caixinha pandorapribeletato
 
Novel Marcos Monogatari
Novel Marcos MonogatariNovel Marcos Monogatari
Novel Marcos MonogatariRenata Almeida
 

Semelhante a Nóis mudemo (20)

Nóis mudemo
Nóis mudemoNóis mudemo
Nóis mudemo
 
Emoções
EmoçõesEmoções
Emoções
 
"As confissoes de Caim"
 "As confissoes de Caim"  "As confissoes de Caim"
"As confissoes de Caim"
 
A confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caducaA confidente da rameira caduca
A confidente da rameira caduca
 
A namorada do meu amigo
A namorada do meu amigoA namorada do meu amigo
A namorada do meu amigo
 
Menino de asas homero homem
Menino de asas   homero homemMenino de asas   homero homem
Menino de asas homero homem
 
Emily e victor.
Emily e victor.Emily e victor.
Emily e victor.
 
Recursos%282%29
Recursos%282%29Recursos%282%29
Recursos%282%29
 
Capítulo 1 ataques, contra-ataques e conquistas
Capítulo 1   ataques, contra-ataques e conquistasCapítulo 1   ataques, contra-ataques e conquistas
Capítulo 1 ataques, contra-ataques e conquistas
 
Variações linguísticas 2014
Variações linguísticas  2014Variações linguísticas  2014
Variações linguísticas 2014
 
A história de Florzinha
A história de FlorzinhaA história de Florzinha
A história de Florzinha
 
CURSO - OFICINA DE TEXTOS.ppt
CURSO - OFICINA DE TEXTOS.pptCURSO - OFICINA DE TEXTOS.ppt
CURSO - OFICINA DE TEXTOS.ppt
 
Slide sequencia didática crônica memória poesia
Slide sequencia didática crônica memória poesiaSlide sequencia didática crônica memória poesia
Slide sequencia didática crônica memória poesia
 
Desabafo De Um Velho
Desabafo De Um VelhoDesabafo De Um Velho
Desabafo De Um Velho
 
Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]
 
Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]Galileu Leu[2]
Galileu Leu[2]
 
Caixinha pandora
Caixinha pandoraCaixinha pandora
Caixinha pandora
 
Sa meu primeiro beijo
Sa   meu primeiro beijoSa   meu primeiro beijo
Sa meu primeiro beijo
 
Novel Marcos Monogatari
Novel Marcos MonogatariNovel Marcos Monogatari
Novel Marcos Monogatari
 
Giselda laporta
Giselda laportaGiselda laporta
Giselda laporta
 

Mais de Jose Arnaldo Silva

Romantismo em-portugal-e-no-brasil
Romantismo em-portugal-e-no-brasilRomantismo em-portugal-e-no-brasil
Romantismo em-portugal-e-no-brasilJose Arnaldo Silva
 
Projeto de pesquisa de mestrado
Projeto de pesquisa de mestradoProjeto de pesquisa de mestrado
Projeto de pesquisa de mestradoJose Arnaldo Silva
 
Marketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensino
Marketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensinoMarketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensino
Marketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensinoJose Arnaldo Silva
 
O realismo e o naturalismo em portugal e no brasil
O realismo e o naturalismo em portugal e no brasilO realismo e o naturalismo em portugal e no brasil
O realismo e o naturalismo em portugal e no brasilJose Arnaldo Silva
 
O valente soldadinho de chumbo
O valente soldadinho de chumboO valente soldadinho de chumbo
O valente soldadinho de chumboJose Arnaldo Silva
 
Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo
Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo
Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo Jose Arnaldo Silva
 
Atividades - Estudo de caso: Diálogo de atenas
Atividades - Estudo de caso: Diálogo de atenasAtividades - Estudo de caso: Diálogo de atenas
Atividades - Estudo de caso: Diálogo de atenasJose Arnaldo Silva
 
Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?
Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?
Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?Jose Arnaldo Silva
 
Venha ver o pôr do sol - Lygia fagundes telles
Venha ver o pôr do sol  - Lygia fagundes tellesVenha ver o pôr do sol  - Lygia fagundes telles
Venha ver o pôr do sol - Lygia fagundes tellesJose Arnaldo Silva
 
Língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Língua portuguesa com ênfase em gramática e literaturaLíngua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Língua portuguesa com ênfase em gramática e literaturaJose Arnaldo Silva
 
Apostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Apostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literaturaApostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Apostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literaturaJose Arnaldo Silva
 

Mais de Jose Arnaldo Silva (20)

Semana de-arte-moderma
Semana de-arte-modermaSemana de-arte-moderma
Semana de-arte-moderma
 
Romantismo em-portugal-e-no-brasil
Romantismo em-portugal-e-no-brasilRomantismo em-portugal-e-no-brasil
Romantismo em-portugal-e-no-brasil
 
Projeto de pesquisa de mestrado
Projeto de pesquisa de mestradoProjeto de pesquisa de mestrado
Projeto de pesquisa de mestrado
 
Pressupostos e-subentendidos
Pressupostos e-subentendidosPressupostos e-subentendidos
Pressupostos e-subentendidos
 
Pre modernismo-no-brasil
Pre modernismo-no-brasilPre modernismo-no-brasil
Pre modernismo-no-brasil
 
Marketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensino
Marketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensinoMarketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensino
Marketing estrategico-e-operacional-de-instituicoes-de-ensino
 
Funcoes da-linguagem
Funcoes da-linguagemFuncoes da-linguagem
Funcoes da-linguagem
 
Figuras de-construcao
Figuras de-construcaoFiguras de-construcao
Figuras de-construcao
 
O realismo e o naturalismo em portugal e no brasil
O realismo e o naturalismo em portugal e no brasilO realismo e o naturalismo em portugal e no brasil
O realismo e o naturalismo em portugal e no brasil
 
O valente soldadinho de chumbo
O valente soldadinho de chumboO valente soldadinho de chumbo
O valente soldadinho de chumbo
 
Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo
Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo
Atividades - Estudo de caso: Seleção de um executivo
 
Atividades - Estudo de caso: Diálogo de atenas
Atividades - Estudo de caso: Diálogo de atenasAtividades - Estudo de caso: Diálogo de atenas
Atividades - Estudo de caso: Diálogo de atenas
 
Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?
Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?
Atividades - Estudo de caso: Afinal, quem manda aqui?
 
Figuras de linguagem
Figuras de linguagem Figuras de linguagem
Figuras de linguagem
 
O Humanismo
O Humanismo O Humanismo
O Humanismo
 
O Trovadorismo
O Trovadorismo O Trovadorismo
O Trovadorismo
 
Venha ver o pôr do sol - Lygia fagundes telles
Venha ver o pôr do sol  - Lygia fagundes tellesVenha ver o pôr do sol  - Lygia fagundes telles
Venha ver o pôr do sol - Lygia fagundes telles
 
Língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Língua portuguesa com ênfase em gramática e literaturaLíngua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
 
Apostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Apostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literaturaApostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
Apostila de língua portuguesa com ênfase em gramática e literatura
 
Psicologia da educação
Psicologia da educaçãoPsicologia da educação
Psicologia da educação
 

Último

A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...Unidad de Espiritualidad Eudista
 
Poder do convencimento,........... .
Poder do convencimento,...........         .Poder do convencimento,...........         .
Poder do convencimento,........... .WAGNERJESUSDACUNHA
 
Caça palavras - BULLYING
Caça palavras  -  BULLYING  Caça palavras  -  BULLYING
Caça palavras - BULLYING Mary Alvarenga
 
PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...
PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...
PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...Colaborar Educacional
 
Verbos - transitivos e intransitivos.pdf
Verbos -  transitivos e intransitivos.pdfVerbos -  transitivos e intransitivos.pdf
Verbos - transitivos e intransitivos.pdfKarinaSouzaCorreiaAl
 
EBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdf
EBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdfEBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdf
EBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdfIBEE5
 
Apresentação sobrea dengue educação.pptx
Apresentação sobrea dengue educação.pptxApresentação sobrea dengue educação.pptx
Apresentação sobrea dengue educação.pptxtaloAugusto8
 
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...Colaborar Educacional
 
Termo de audiência de Mauro Cid na ìntegra
Termo de audiência de Mauro Cid na ìntegraTermo de audiência de Mauro Cid na ìntegra
Termo de audiência de Mauro Cid na ìntegrafernando846621
 
ARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdf
ARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdfARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdf
ARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdfItaloAtsoc
 
autismo conhecer.pptx, Conhecer para entender
autismo conhecer.pptx, Conhecer para entenderautismo conhecer.pptx, Conhecer para entender
autismo conhecer.pptx, Conhecer para entenderLucliaResende1
 
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptxAula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptxMarceloDosSantosSoar3
 
Depende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsx
Depende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsxDepende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsx
Depende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsxLuzia Gabriele
 
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123JaineCarolaineLima
 
Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024gilmaraoliveira0612
 
arte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacional
arte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacionalarte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacional
arte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacionalidicacia
 
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de históriaFORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de históriaBenigno Andrade Vieira
 
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptxLuizHenriquedeAlmeid6
 

Último (20)

A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
A Congregação de Jesus e Maria, conhecida também como os Eudistas, foi fundad...
 
Poder do convencimento,........... .
Poder do convencimento,...........         .Poder do convencimento,...........         .
Poder do convencimento,........... .
 
Caça palavras - BULLYING
Caça palavras  -  BULLYING  Caça palavras  -  BULLYING
Caça palavras - BULLYING
 
Abordagens 4 (Problematização) e 5 (Síntese pessoal) do texto de Severino (20...
Abordagens 4 (Problematização) e 5 (Síntese pessoal) do texto de Severino (20...Abordagens 4 (Problematização) e 5 (Síntese pessoal) do texto de Severino (20...
Abordagens 4 (Problematização) e 5 (Síntese pessoal) do texto de Severino (20...
 
PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...
PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...
PROJETO DE EXTENSÃO - SEGURANÇA, INOVAÇÃO E SUSTENTABILIDADE PARA O BEM COMUM...
 
Verbos - transitivos e intransitivos.pdf
Verbos -  transitivos e intransitivos.pdfVerbos -  transitivos e intransitivos.pdf
Verbos - transitivos e intransitivos.pdf
 
EBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdf
EBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdfEBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdf
EBOOK LINGUAGEM GRATUITO EUDCAÇÃO INFANTIL.pdf
 
Apresentação sobrea dengue educação.pptx
Apresentação sobrea dengue educação.pptxApresentação sobrea dengue educação.pptx
Apresentação sobrea dengue educação.pptx
 
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
Apresente de forma sucinta as atividades realizadas ao longo do semestre, con...
 
Termo de audiência de Mauro Cid na ìntegra
Termo de audiência de Mauro Cid na ìntegraTermo de audiência de Mauro Cid na ìntegra
Termo de audiência de Mauro Cid na ìntegra
 
ARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdf
ARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdfARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdf
ARTE BARROCA E ROCOCO BRASILEIRO-min.pdf
 
autismo conhecer.pptx, Conhecer para entender
autismo conhecer.pptx, Conhecer para entenderautismo conhecer.pptx, Conhecer para entender
autismo conhecer.pptx, Conhecer para entender
 
Abordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdf
Abordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdfAbordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdf
Abordagem 1. Análise textual (Severino, 2013).pdf
 
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptxAula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
Aula 6 - O Imperialismo e seu discurso civilizatório.pptx
 
Depende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsx
Depende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsxDepende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsx
Depende De Nós! José Ernesto Ferraresso.ppsx
 
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
SEMIOSES DO OLHAR - SLIDE PARA ESTUDO 123
 
Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024Atividade de matemática para simulado de 2024
Atividade de matemática para simulado de 2024
 
arte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacional
arte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacionalarte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacional
arte retrato de um povo - Expressão Cultural e Identidade Nacional
 
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de históriaFORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
FORMAÇÃO POVO BRASILEIRO atividade de história
 
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptxSlides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
Slides Lição 1, CPAD, O Início da Caminhada, 2Tr24, Pr Henrique.pptx
 

Nóis mudemo

  • 2. Ônibus da Transbrasiliana deslizava manso pela Belém-Brasilia rumo ao Porto Nacional. Era abril, mês das derradeiras chuvas. No céu, uma luzona enorme pra namorado nenhum botar defeito. Sob o luar generoso, o cerrado verdejante era um presépio, todo poesia e misticismo.
  • 3. As aulas tinham começado numa segunda-feira. Escola de periferia, classes heterogêneas, retardatários. Entre eles, uma criança crescida, quase um rapaz.
  • 4. - Por que você faltou esses dias todos? - É que nóis mudemo onti, fessora. Nóis veio da fazenda. Risadinhas da turma. - Não se diz “nóis mudemo” menino! A gente deve dizer: nós mudamos, tá? - Tá fessora! No recreio as chacotas dos colegas: Oi, nóis mudemo! Até amanhã, nóis mudemo! No dia seguinte, a mesma coisa: risadinhas, cochichos, gozações. - Pai, não vô mais pra escola! - Oxente! Módi quê? Ouvida a história, o pai coçou a cabeça e disse: - Meu fio, num deixa a escola por uma bobagem dessa! Não liga pras gozações da mininada! Logo eles esquece.
  • 5. Não esqueceram. Na quarta-feira, dei pela falta do menino. Ele não apareceu no resto da semana, nem na segunda-feira seguinte. Aí me dei conta de que eu nem sabia o nome dele. Procurei no diário de classe e soube que se chamava Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa. Achei o endereço. Longe, um dos últimos casebres do bairro. Fui lá, uma tarde. O rapaz tinha partido no dia anterior para casa de um tio, no sul do Pará. -É, professora, meu fio não aguentou as gozações da mininada. Eu tentei fazê ele continuá, mas não teve jeito. Ele tava chateado demais. Bosta de vida! Eu devia di tê ficado na fazenda coa famia. Na cidade nóis não tem veis. Nóis fala tudo errado. Inexperiente, confusa, sem saber o que dizer. Engoli em seco e me despedi.
  • 6. O episódio ocorrera há dezessete anos e tinha caído em total esquecimento, ao menos de minha parte. Uma tarde, um povoado à beira da Belém-Brasília, eu ia pegar o ônibus, quando alguém me chamou. Olhei e vi, acenando para mim, um rapaz pobremente vestido, magro, com aparência doentia. -O que é, moço? -A senhora não se lembra de mim, fessora? Olhei para ele, dei tratos à bola. Reconstitui num momento meus longos anos de sacerdócio, digo de magistério. Tudo escuro. -Não me lembro não, moço. Você me conhece? De onde? Foi meu aluno? Como se chama?
  • 7. Para tantas perguntas, uma resposta lacônica: -Eu sou “Nóis mudemo”, lembra? Comecei a tremer. -Sim, moço. Agora lembro. Como era mesmo o seu nome? -Lúcio – Lúcio Rodrigues Barbosa. - 0 que aconteceu? - Ah! Fessora! É mais fácil dizê o que não aconteceu. Comi o pão que o diabo amasso. E êta diabo bom de padaria! Fui garimpeiro. Fui bóia-fria, um “gato” me arrecadou e levou num caminhão pruma fazenda no meio da mata. Lá trabaiei como escravo, passei fome, fui baleado quando conseguir fugi. Peguei tudo quando é doença. Até na cadeia já fui pará. Nóis ignorante as veis fais coisa sem querê fazê. A escola fais uma farta danada. Eu não devia tê saído da quele jeito, fessora, mais não agüentei as gozação da turma. Eu vi logo que nunca ia consegui falá direito. Ainda hoje não sei. -Meu Deus!
  • 8. Aquela revelação me virou pelo avesso. Foi demais para mim. Descontrolada, comecei a soluçar convulsivamente. Como eu podia ter sido tão burra e má? E abracei o rapaz, o que restava do rapaz que me olhava atarantado. O ônibus buzinou com insistência. O rapaz afastou-se suavemente. - Chora não, fessora! A senhora não tem curpa. - Como? Eu não tenho culpa? Deus do céu! Entrei no ônibus apinhado. Cem olhos eram cem flechas vingadoras apontadas para mim. O ônibus partiu. Pensei na minha sala de aula. Eu era uma assassina a caminho da guilhotina.
  • 9. Hoje tenho raiva da gramática. Eu mudo, tu mudas, ele muda, nós mudamos... Super usada, mal usada, abusada, ela é uma guilhotina dentro da escola. A gramática faz gato e sapato da língua materna, a língua que a criança aprendeu com seus país e irmãos e colegas – e se torna o terror dos alunos. Em vez de estimular e fazer crescer, comunicando, ela reprime e oprime, cobrando centenas de regrinhas estúpidas para aquela idade.
  • 10. E os lúcios da vida, os milhares lúcios da periferia e do interior, barrados nas salas de aula: “Não é assim que se diz, menino!” Como se o professor quisesse dizer: “Você está errado! Os seus pais estão errados! Seus irmãos e amigos e vizinhos estão errados! A certa sou eu! Imite-me! Copie-me! Fale como eu! Você não seja você! Renegue suas raízes! Diminua-se ! Desfigure-se! Fique no seu lugar! Seja uma sombra!” E siga desarmado para o matadouro da vida...