Este documento apresenta a obra L'Oiseau Lyre do compositor português Jorge Peixinho. A obra foi composta em 1982 e é considerada uma obra-prima para guitarra. O documento descreve a vida e obra de Jorge Peixinho, analisa L'Oiseau Lyre e discute os principais intérpretes desta obra, incluindo o guitarrista Lopes e Silva, que estreou e gravou a obra.
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Trabalho hm sec_xx
1. História da Música do Séc. XX
1
Departamento de Comunicação e Arte
Mestrado em Música para o Ensino Vocacional
L'Oiseau Lyre: Jorge Peixinho, a obra e o legado para Guitarra
Trabalho para a Disciplina de: História da Música do Séc. XX
Docente: Prof. Dra. Helena Santana
Aluno: António Gil Alves Ferreira
Nº Mec: 38780
Data: 3 de Dezembro de 2009
2. História da Música do Séc. XX
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Agradecimentos
Resumo
Ao Professor Paulo Vaz de Carvalho que generosamente
cedeu a partitura de L’Oiseau Lyre.
Este trabalho pretende dar a conhecer a obra L’Oiseau
Lyre de Jorge Peixinho bem como o contributo e o legado
do compositor, fazendo uma análise, enquadrando-a no
conjunto da obra do compositor e no contexto do
reportório para guitarra.
4. História da Música do Séc. XX
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ÍNDICE
Pág.
1. Introdução 5
2. Jorge Peixinho, vida e obra 6
3. L’Oiseau Lyre
3.1 A obra 9
3.2 Os Intérpretes 10
4. Conclusão 12
5. Anexos: Partitura de L’Oiseau Lyre 15
6. Bibliografia 23
5. História da Música do Séc. XX
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1. Introdução
Proponho-me a apresentar um trabalho de pesquisa e síntese, sobre a obra
L’Oiseau Lyre do compositor Jorge Peixinho «L'oiseau Lyre: Jorge Peixinho, a obra
e o legado para Guitarra».
Este trabalho inscreve-se na disciplina de História da Música do Século XX do
Curso de Mestrado em Música para o Ensino Vocacional da Universidade de
Aveiro, orientada pela Professora Doutora Helena Santana.
No contexto específico deste trabalho pretendo apresentar o compositor, a obra e a
relação com o meio guitarrístico português.
Além da contextualização da obra L’Oiseau Lyre e dos seus aspectos cronológicos
e históricos pretendo ainda realizar uma análise estética no sentido de contribuir
para uma percepção mais apurada da obra.
Conhecer melhor a obra e contribuir para um conhecimento maior do compositor ou
ainda contribuir para uma interpretação historicamente informada são os objectivos
matriciais deste trabalho.
É minha pretensão apresentar este trabalho numa profunda linha de rigor científico.
6. História da Música do Séc. XX
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2. Jorge Peixinho, vida e obra
“O objectivo da minha música é a construção e organização de um novo e pessoal mundo sonoro.
Explorei profundamente e intensivamente todas as relações entre a harmonia e o timbre para
construir uma espécie de rede muito densa de sons transformados. A característica principal da
minha música é uma espécie de «atmosfera sonora onírica», na qual surgem pequenas
transformações através de artifícios contrapontísticos, filtragens harmónicas e tímbricas, etc. Dou
também muita importância à ambiguidade entre a continuidade e a descontinuidade.”
Jorge Peixinho, in B. Morton, Contempory Composer, P. Collins (ed.) Chicago, St. James Press, 1992, p.735.
Jorge Peixinho (1940-1995) foi um dos mais importantes
compositores portugueses do século XX, tendo um papel
fundamental na actualização do panorama musical do país
entre 1961 e meados da década de 1980, não apenas
através da sua actividade criativa, mas também enquanto
incansável divulgador, ensaísta e intérprete.
O compositor Jorge Peixinho nas em 1940, no Montijo. Após ter terminado os
cursos de Piano e Composição no Conservatório de Lisboa, estudou, como bolseiro
da Fundação Gulbenkian em Roma entre 1959 e 1961 com Boris Porena e Goffredo
Petrassi, onde obteve o diploma de aperfeiçoamento em composição (1961).
Adoptou então o cromatismo integral e o atonalismo serial como base para a
assimilação de novas técnicas criativas. Na Holanda, em 1960, familiarizou-se com
as possibilidades oferecidas pelos estúdios de música electrónica. Trabalhou ainda
com Luigi Nono em Veneza e com Pierre Boulez e Karlheinz Stockhausen em
Basileia, tendo frequentado, na década de1960, os cursos internacionais de
composição de Darmstadt, onde participou em obras colectivas orientadas por
Stockhausen.
Jorge Peixinho, Março de 1995
Fotografia de Elena Martin
(imagem digitalizada de Jorge
Peixinho In Memoriam, pp.320)
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Foi professor no Conservatório de Música do Porto (1965-1966) e na Escola de
Música do Conservatório Nacional em Lisboa (1985-1995). Dirigiu cursos de música
contemporânea, em colaboração com os compositores Louis Saguer e Pierre
Marietan (1962 e 1964).
Jorge Peixinho participou em inúmeros festivais de música contemporânea, entre os
quais: Gaudeamus (Holanda), Madrid, Veneza, Buenos Aires, Maracaíbo
(Venezuela), São João del Rei, Curitiba, Santos (Brasil). Em 1972-1973 realizou um
estágio no estúdio de música electrónica IPEM, em Gent (Bélgica).
Em Lisboa, Peixinho divulgou, gerando polémica, a música de John Cage (1961,
1964); desdobrou-se como pianista, crítico musical, conferencista e ensaísta.
Participou ainda em estrepitosos "happenings" multimedia entre 1965 e 1967. Em
1970, fundou o influente Grupo de Música Contemporânea de Lisboa, que dirigiu
até à sua morte, tendo-se apresentado com ele em diversos países da Europa e da
América do Sul; o GMCL abriu uma janela sobre a criação contemporânea
internacional e permitiu que nomes como Constança Capdeville e Emmanuel
Nunes, entre outros, se fizessem ouvir.
Em 1977 foi eleito membro do Conselho Presidencial da SIMC (Sociedade
internacional de Música Contemporânea) e nesse mesmo ano foi convidado a
realizar uma obra no Estúdio de Música Experimental de Bourges (França).
Na obra de Peixinho, a crescente influência de Stockhausen é detectável a partir de
1963, culminando na acentuada componente aleatória de "Eurídice Re-amada"
(1968). De 1969 em diante, a música de Peixinho ganhou um lirismo particular,
facilmente reconhecível, baseado no entretecer de citações, na distensão temporal
e no refinamento tímbrico. No início dos anos oitenta, o compositor passou a
privilegiar a falsa citação e a auto-citação e a explorar universos sonoros
estilisticamente "impuros", que testemunham a influência pontual da sensibilidade
pós-moderna, com a qual teve uma relação ambígua. A sua influência foi grande no
meio nacional; compositores como Clotilde Rosa, Paulo Brandão ou Isabel Soveral
devem-lhe um impulso decisivo para a sua evolução artística.
Jorge Peixinho recebeu vários prémios nacionais de composição: o Prémio do
Conservatório Nacional em 1958, o Sassetti em 1959, o da Casa da Imprensa em
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1972, o Gulbenkian em 1974, o da S.P.A. em 1976 (duas categorias), o do
Conselho Português da Música em 1984, o da S.P.A. em 1985 (categoria de música
de câmara) e, finalmente, o Prémio Joly Braga Santos em 1988.
Recebeu encomendas de várias instituições portuguesas – SEC, Fundação
Gulbenkian, Comissão dos Descobrimentos, Conselho Português da Música,
Oficina Musical, Câmara Municipal de Matosinhos – instituições estrangeiras –
Festival Internacional de Alicante, GMEB de Bourges (França), New Music Concerts
(Toronto, Canadá), Festival de Adqui Terme (Itália) para além das encomendas de
artistas e ensembles nacionais e estrangeiros.
Politicamente activo desde finais dos anos sessenta, conotado com uma esquerda
próxima do P.C.P. (de 1993 a 1995 chegou a presidir, pela CDU, à Assembleia
Municipal do Montijo), soube conjugar na sua obra musical o empenhamento moral
e a integridade artística.
Peixinho foi galardoado com as medalhas de Mérito Cultural e de Ouro da Cidade
do Montijo. Faleceu a 30 de Junho de 1995.
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3. L’oiseau Lyre
3.1A obra
“Neste título, pássaro-lira, pode haver alusão a várias coisas… O pássaro-lira é um pássaro que
imita o canto das outras aves. Acho que isso seria uma razão pouco importante para o Jorge
Peixinho chamar esse nome a uma obra extensa como esta que escreveu. Acho que o que há de
mais importante nesta obra é que ao mesmo tempo ela é por vezes pássaro, outras vezes lira… às
vezes toma a forma das linhas do voo dos pássaros, outras vezes procura as consonâncias da lira.”
Paulo Vaz de Carvalho, 2008
“L’Oiseau Lyre” foi composta entre Novembro e Dezembro de 1982 e é uma
composição onde Peixinho investiga profundamente a materialidade da guitarra.
Podemos inscrever a estética da obra na linha desenvolvida pelo autor nos últimos
tempos, visível em Mémoires - Miroirs ou ainda Two Minimal Pieces e acentuada
em obras do mesmo período como Serenata per A., à Flor das Águas Verdes, Sax-
Blue, Ulivi Aspri e Forti e Retrato de Helena.
Numa linha que evidência um processo de recuperação-renovação de elementos
estílicos do passado e que agora assumem novos contornos, linhas e formas
inscritos na intimidade da Guitarra.
Seria um erro não considerar L’Oiseau Lyre uma obra-prima tendo em conta toda a
linguagem de vanguarda nela presente.
Encontramos ainda uma forma e um tempo novos, uma nova lógica no processo
compositivo do autor que exigirá ao intérprete e ouvinte uma nova atitude na fruição
da obra.
Toda a expressividade da obra, não pretende ser reflexo emocional do autor mas
sim resultante das potencialidades expressivas do próprio material sonoro.
L’Oiseau Lyre surge, em minha opinião, como uma das obras de Peixinho de
onírismo pleno. Numa escrita feita de jogos de espelhos, alude à espiral, à
eternidade e a permanente fluência discursiva.
É uma obra que compreende a linguagem idiomática da Guitarra, tendo o
compositor criado uma obra eminentemente guitarrística. As ideias matriciais
nascem e florescem a partir da Guitarra em concreto fundindo-se com ela em
permanente diálogo.
10. História da Música do Séc. XX
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Quanto ao título, sabe-se que foi extraído de uma Colectânea de Peças de Carl
Phillip-Emmanuel Bach, contudo a relação entre pássaro e lira está, sem sombra de
dúvida presente em toda a obra, sendo espontaneamente evidente.
A obra tem a duração de 11 minutos e 52 segundos e estreou em Lisboa em 1982,
pelas mãos de Lopes e Silva, seu dedicatário. A partitura foi editada pela
Musicoteca em 1996 com o patrocínio da Câmara Municipal do Montijo e da SPA.
Encontra-se disponível em dois formatos aúdio, tendo sido editada em LP pela
Portugalsom em 1985 e em CD pela mesma editora em 1995 «Música
Contemporânea – Obras para Guitarra – Lopes e Silva.
A gravação do registo áudio no qual podemos encontra L’Oiseau Lyre aconteceu
em 3 de Janeiro de 1985 no Estúdio JORSOM em Lisboa com a assistência musical
de Jorge Costa Pinto.
L’Oiseau Lyre não é tonal, nem atonal, nem serial… é Peixinho.
3.2 Os Intérpretes
Podemos referir diversos Guitarristas portugueses responsáveis pela circulação da
obra em Portugal e no estrangeiro. Nomes como Lopes e Silva, Paulo Vaz de
Carvalho ou Pedro Rodrigues, entre outros (MIC: 2009).
Não obstante o valor na divulgação da obra guitarrística portuguesa
e o rigor estílistico e sonoro de todos eles proponho agora que se
observe a nota biográfica de Lopes e Silva, guitarrista responsável
pela estreia da obra, pelo primeiro registo discográfico e intérprete
ao qual foi dedicada L’Oiseau Lyre. As performances dos
Guitarristas referidos dispensam qualquer elogio porque são de
indiscutível autoridade.
Lopes e Silva nasceu em 1937 e efectuou os seus estudos de Guitarra com Emilio
Pujol1
, no Conservatório Nacional de Lisboa, e os estudos musicais com Fernanda
1
Guitarrísta, pedagogo e compositor espanhol. Emilio Pujol é considerado por muitos como principal pedagogo da guitarra do
século XX. Estudou com Francisco Tárrega no Conservatório de Barcelona.
Em 1946, Pujol começou o ensino de guitarra no Conservatório de Música de Lisboa onde ensinou até a 1969.
Emilio Pujol compôs 124 obras e fez mais de 275 transcrições e arranjos para guitarra. Morreu em 15 de Novembro de 1980.
Lopes e Silva
(imagem retirada de www.mic.pt)
11. História da Música do Séc. XX
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Chichorro. Em 1959 e 1960 frequentou os cursos de Santiago de Compostela com
Andrés Segovia, com bolsas de estudo do Instituto Cultural de Madrid e da
Fundação Calouste Gulbenkian. Em 1962, fixou-se no Brasil, tendo prosseguido os
seus estudos e sido professor nos principais Conservatórios de S. Paulo.
Frequentou também os cursos de Música Antiga com Safford Cape.
A partir de 1970, Lopes e Silva dedicou-se aos estudos da música contemporânea e
das novas correntes musicais. Estudou com Jorge Peixinho, Álvaro Salazar, Luís de
Pablo e Filipe Pires. Em 1975, participou em cursos sobre interpretação e
informação sobre a música contemporânea para guitarra, na Alemanha Federal,
com uma bolsa da Fundação Calouste Gulbenkian. Um ano depois, frequentou os
cursos de Darmstadt, sob a orientação de Gyorgy Ligeti, Mauricio Kagel e Cristobal
Halffter.
Integrou, desde a sua fundação, o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa,
dirigido por Jorge Peixinho. Em 1972, ingressou como professor no Conservatório
Nacional de Lisboa.
Com a obra Epígono I, Lopes e Silva esteve presente no Festival Internacional
World Music Days de 1980, em Israel. Tem realizado também inúmeros concertos a
solo e com o Grupo de Música Contemporânea de Lisboa em Portugal, Brasil,
Espanha, França, Alemanha, Polónia, Finlândia, Jugoslávia, Países Baixos, Israel,
Itália e em muitos festivais nacionais e internacionais.
(biografia de Lopes e Silva, baseada nas notas biográficas presentes no disco Música Portuguesa Contemporânea – Obras
para Guitarra – Lopes e Silva)
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4. Conclusão
É díficil concluir uma reflexão de uma obra inscrita na obra de um compositor que
partiu cedo demais deixando em nós uma sensação imensurável de falta... Em
virtude do teor em que se inscreve este trabalho, uma disciplina de História da
Música do Séc. XX considero que a análise final deve reportar-se a questões
estéticas, da relação com a sociedade dos anos 80 em Portugal e influência dos
compositores do pós-guerra.
Os anos 80 reportam-nos a uma década de acontecimentos políticos, sociais e
sobretudo como a década que marca o início da idade da informação na medida em
que empresas da área da informática como a IBM ou a Apple desenvolveram
produtos considerados autenticamente revolucionários. A génese do formado CD
(compact disc) reporta-se aos anos 80 bem como a popularização dos
computadores pessoais, walkmans e videogravadores. A um outro nível esta é
também a década da descoberta do Síndrome da Imunodeficiência Humana (SIDA)
e o ano de 1986 marca a adesão de Portugal à União Europeia (CEE). No contexto
político, no inicio da década de 80, em 1981 era Presidente da República o General
Ramalho Eanes e Primeiro-ministro o Dr. Francisco Pinto Balsemão.
A riqueza de L’oiseau Lyre (composta entre Novembro e Dezembro de 1982) reside
na sua identidade forte, na sua expressão mediterrânica detentora de uma fantasia
assinalável embora equilibrada pelo racional domínio técnico do compositor em
todos os parâmetros da música.
L’Oiseau Lyre marca de forma preponderante a escrita para Guitarra produzida em
Portugal por compositores portugueses e pena é que seja a única obra para
Guitarra solo escrita por Jorge Peixinho.
Conforme anteriormente referido sabemos que o seu título está relacionado com a
colectânea de peças de Carl Phillip-Emmanuel Bach. O compositor considerava
fundamental, para a compreensão da música do século XX. o conhecimento das
“épocas fundamentais da história da música, que são, também, e inequivocamente
as etapas fundamentais da história do homem e do pensamento humano” (Teixeira:
2006, pp. 115) podendo assim estabelecer-se uma ligação histórica ao título.
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Ainda a respeito do título, a relação com o pássaro lira deve ser tida em conta. O
pássaro lira é uma ave fascinante na sua envergadura, na sua beleza e na
capacidade que a distingue das outras aves – o facto de imitar os sons de outras
aves (entre outros sons) e construir elaboradas “melodias” que depois usa para
cortejar. L’oiseau Lyre de Peixinho não imita obra nenhuma no universo das obras
escritas para guitarra e a estabelecer-se um elo de ligação com o pássaro, segundo
a minha perspectiva, estará com certeza relacionado com a elegância da ave e com
o seu voo. Será muito importante salvaguardar que o vulto desta obra situa-a ao
nível de compositores especializados na escrita para o instrumento como Leo
Brouwer, Alberto Ginastera ou Radamés Gnattali entre outros…
A produção do compositor deve ser ainda relacionada com um exercício de
cidadania activa dado que Peixinho foi um crítico do sistema, empenhado na
dinamização de suportes institucionais adequados ao ensino e na divulgação da
música contemporânea.
Dos compositores do pós-guerra, aqueles que mais influenciaram Peixinho terão
sido J. Cage, Berio, Kagel, Xenakis.
Consequentemente L’oiseau Lyre inscreve-se numa estética contemporânea,
explora recursos idiomáticos do instrumento (harmónicos naturais e artificias,
afinação de notas durate a execução da peça), fundindo-se com ele e emanando
um discurso tão expressivo quanto emotivo.
Relaciona a organização harmónica com a pesquisa tímbrica da Guitarra pelo que,
na minha opinião, Peixinho conseguiu uma obra de grande categoria plena de
espírito onírico, de extremo bom gosto, subtileza e consequentemente um
importante contributo para a literatura da guitarra.
As harmonias resultantes do discurso lembram o carácter eterno e perfeito da Lira
Apolínea.
A oposição entre tensões e distensões, tratamento do timbre e a organização dos
materiais demonstram a genialidade do compositor. L’Oiseau Lyre evidênciando
ainda a segurança criativa de Peixinho e um uso cuidado e não gratuito de todos os
recursos idiomáticos da escrita para Guitarra.
Ainda sobre a exploração do timbre obtém um discurso sonoro de plena
naturalidade ao qual os harmónicos conferem um carácter encantatório e divinal e o
efeito de aceleração desaceleração a faz nascer e renascer a partir dela própria.
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Considero esta peça uma das mais belas obras que se escreveram até hoje para
Guitarra contudo o contributo da Peixinho, na guitarra não se restringe à produção
de L’oiseau Lyre mas também a todas a obras que compôs para formações multi-
instrumentais onde incluiu a Guitarra sendo de destacar aquelas compostas para o
Grupo de Música Contemporânea de Lisboa (fundado em 1970 sob a influência da
figura tutelar do compositor Jorge Peixinho).
Jorge Peixinho representa o que há de mais rico na Música Portuguesa, L’oyseau
Lyre é uma pedra preciosa na sua vastíssima obra cuja riqueza reside numa
identidade forte plena de lirismo e onirismo não obstante o conhecimento profundo
do autor de todos os parâmetros da composição.
Em L’oyseau Lyre, Peixinho envolve-nos no seu impulso lírico…
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5. Anexos
Partitura original de L’oiseau Lyre – Jorge Peixinho
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6. Bibliografia
Monografias
BRANCO, João de Freitas, História da Música Portuguesa. Mem Martins:
Publicações Europa-América, Lda, 2005. 434 pp.
CARVALHO, Mário Vieira de, Estes sons, esta linguagem. Lisboa: Editorial
Estampa, LDA, 1978. (pp. 203 a 212)
MACHADO, José (organização de), Jorge Peixinho In Memoriam. Lisboa:
Editorial Caminho, 2002. 407pp.
MORTON, B., Contempory Composer, Chicago: St. James Press, 1992
TEIXEIRA, Cristina Delgado, Música, estética e sociedade nos escritos de
Jorge Peixinho. Lisboa: Edições Colibri, 2006
Internet
Centro de Informação da Música Portuguesa
url: http://www.mic.pt/
Consultado em: 20/10/2009
Centro Virtual Camões
url: http://cvc.instituto-camoes.pt/figuras/jorgepeixinho.html
Consultado em: 20/10/2009
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Aveiro, 3 de Dezembro de 2009
António Gil Alves Ferreira
(aluno do curso de
Mestrado em Música para o Ensino Vocacional
da Universidade de Aveiro)