1. Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde 2010; 12(2) : 25-30 |25
Maria Carolina Sales Sousa1
Luiza Fonseca 2
Carla Figueiredo Brandão3
Paulo José Lima Juiz4
|Avaliação microbiológica de
antissépticos fluoretados:
estudo in vitro
RESUMO | Objetivos: O estudo avaliou in vitro a eficácia de alguns antissépticos
fluoretados, na inibição do crescimento da microbiota da saliva.
Métodos: Os antissépticos avaliados foram: Plax® da Colgate-Palmolive,
Oral B ® da Gillete do Brasil®, Cepacol Flúor® da Aventis Pharma Ltda.,
Fluordent ® da Johnson e Jonhson, e as soluções fluoreto de sódio (0,5%),
fluoreto de sódio (1,0%) e fluoreto de sódio (2,0%) preparados em laboratório
e serviram como controle. Os inóculos foram obtidos a partir da
cultura proveniente de saliva. Os quatros antissépticos e as soluções fluoretadas
eram colocadas, separadamente, em tubos de ensaio (13x100mm)
autoclavados, utilizando-se pontas adaptadas e pipetas automáticas com
dosagens de 25μL, 50μL e 100μL. A seguir, acrescentou-se 1,0mL do inóculo
diluído a 10-4 .Os tubos contendo os experimentos eram colocados
em jarras de anaerobiose (método de vela) para produção de CO2. As
leituras foram realizadas nos períodos de 24 e 48 horas. Resultados: Os
resultados revelaram que o Plax® se apresentou como o mais eficiente na
redução da microbiota da saliva, seguido pelo Oral B® e Cepacol®; e que
tanto os fluoretos de sódio (0,5%, 1,0% e 2,0%) como o Fluordent® não
apresentaram resultados de eficiência. Conclusão: Conclui-se que o fluoreto
associado a outros agentes que apresentem maior substantividade em
sua composição apresenta melhor atividade antimicrobiana.
2. Palavras-chave | Antissépticos; Atividade antimicrobiana; Colutórios.
1Cirurgiã-dentista- Salvador, Bahia
2 Professor adjunto no Curso de Odontologia da FBDC, Bahia
3 Professor adjunto no Curso de Odontologia da FBDC, Bahia
4 Professor da Universidade Federal do Reconcavo da Bahia, Bahia
ABSTRACT | Objective: The in vitro study
evaluated the effectiveness of some antiseptic
fluoride,to inhibit growth of microbes in
saliva. Methods: The antiseptics were: Plax
* Colgate-Palmolive,Oral B* of Brazil’s
Gillette*,Cepacol*Fluoride Aventis Pharma
ltda,Fluordent*Johnson and Johnson, sodium
fluoride (0.5%),sodium fluoride (1.0%) and
sodium fuoride(2.0%) prepared in the laboratory
that served as control. the inocula were obtained
from the culture from saliva. The four anti-septics
and rinses were placed separately in test tubes
(13x100mm.),autoclaved,using appropriate tips an
pipettes with dosages of 25ml.,50ml. and 100ml.
and then added to these 1.0ml. of inoculum
diluted to 10*-4.Tubes containing the experiments
were placed in anaerobic jars (candle method) for
production of CO2. The readings were taken at
24 and 48 hours. Results: The results revealed
that Plax* is presented as the most effective in
reducing the microbiota of saliva,followed by Oral
B* and Cepacol*, and that both sodiun fluoride
(0.5%,1.0% and 2.0%)as the Fluordent* did
not apresented effective results. Conclusion: The
results showed that fluoride in combination with
other agents to provide greater substantivity in its
composition has better antimicrobial activity.
Keywords| Anti-bacterial; Antimicrobial
activity; Mouthwashes.
3. Microbiological evaluation of
antiseptics fluoridated:
study in vitro
26| 2010; 12(2) : 25-30 Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde
INTRODUÇÃO |
Medidas de caráter preventivo são fundamentais para a
saúde bucal. Nas últimas décadas, a Odontologia Preventiva
tem como principal fundamento manter a cavidade
bucal saudável, prevenindo o desenvolvimento de doenças7.
A escovação é o método mais comumente utilizado
para a higiene bucal, reconhecendo-se o controle da placa/
biofilme supragengival como um dos principais fatores na
prevenção de cáries e doenças periodontais9.
A maioria dos agentes quimioprofiláticos é formulada para
serem utilizados como suplemento dos procedimentos
profiláticos orais mecânicos com o objetivo de prevenir
ou limitar o acúmulo de placa e o seu metabolismo12. Entretanto,
as substâncias ativas podem também causar efeitos
adversos4.
A quantidade retida de um quimioprofilático na cavidade
oral depende da capacidade de sua ligação às superfícies,
bem como do índice do fluxo salivar e gengival, dosagem,
concentração, tempo de contato e frequência de aplicação15.
Ito et al.5 verificaram, por meio de estudo duplo cego, a
influência de bochechos com cloreto de cetilpiridínio em
diferentes concentrações sobre a formação da placa dental
e índice gengival e, concomitantemente, a contagem de unidade
formadora de colônias do número de S. salivarius e
S. mutans. Os autores observaram que a solução de cloreto
de cetilpiridínio a 0,05% inibiu estatisticamente a formação
da placa dental, acompanhada da redução quantitativa do
4. número de S. mutans, o que não aconteceu com S. salivarius.
Monfrin e Ribeiro7 avaliaram in vitro a ação de antissépticos
sobre a microbiota da saliva. Selecionaram 50
amostras de saliva e, após o cultivo dos microrganismos
das amostras, procederam à inoculação de dez diferentes
antissépticos (Kolynos®, Oral B®, Cepacol®, Periogard
®, Flogoral®, Malvatricim®, Fluordent®, Wash®,
Plax®, Listerine®) em três dosagens (10μL, 20μL e 25μL).
O primeiro estudo, com base no tempo de 24 horas e na
dosagem de 10μL, mostrou que os antissépticos Flogoral®
e Listerin® apresentaram resultados iguais e pouco eficientes
em relação ao Periogard®, que se mostrou eficiente
em oito amostras. O segundo estudo, baseado no tempo
de 24 horas e dosagem de 20μL, indicou que os antissépticos
obtiveram resultados independentes, destacando-se o
Periogard®, que foi eficiente em 24 amostras. No terceiro
estudo, considerando o tempo de 24 horas e a dosagem de
25μL, apenas o Fluordent® se comportou de maneira distinta,
quando comparado com o Flogoral® e o Listerine®.
O quarto estudo compreendeu o tempo de 48 horas e a
dosagem de 10μL e mostrou que o Periogard® foi o único
eficiente. No quinto estudo, com base no tempo de 48
horas e dosagem de 20μL, apenas os antissépticos Oral B®
e Periogard® se distinguiram dos demais. O sexto e último
estudo baseou-se no tempo de 48 horas e na dosagem de
25μL e teve o Periogard® como destaque, pois foi eficiente
em 28 amostras.
O triclosan encontrado no agente Plax® é um agente não
iônico com propriedades hidrofílicas e hidrofóbicas. Possui
amplo espectro antimicrobiano com atividade contra
bactérias Gram-positivas, Gram-negativas e fungos. A
substantividade do triclosan, demonstrada in vivo, e a sua
5. eficácia antiplaca são limitadas quando usadas sem associação,
por isso os fabricantes adicionam o copolímero ácido
maléico, éter metílico polivinil (PVM/MA), comercialmente
conhecido como Gantrez15.
Rodrigues, Zawadzki e Calvete, em 199913, realizaram um
trabalho para avaliar a eficácia do colutório Plax® no controle
químico da placa bacteriana, utilizando o digluconato
de clorexidina a 0,12% , como controle positivo, e um placebo,
como controle negativo. Observaram que o Plax®
teve uma redução significativa de 15,0% na formação de
placa, quando utilizado como controle químico, seguido do
digluconato de clorexidina com 35,5% e do placebo com
6,7%.
Um agente antimicrobiano ideal deveria possuir ação bactericida
rápida. Altas concentrações de fluoretos (>1000
ppm) mostram propriedades bactericidas, porém em baixas
concentrações. O fluoreto é mais eficaz como agente
preventivo na redução da cárie dental. Seu mecanismo
cariostático é exercido segundo os seguintes princípios: interferência
nos processos enzimáticos das bactérias; ação
bactericida direta; interferência na aderência dos microrganismos;
aumento na remineralização do esmalte dentário;
estimulação da formação dos grandes cristais de apatita;
diminuição da solubilidade do esmalte dentário2.
O flúor é o mais eletronegativo dos elementos, portanto
dotado de uma intensa reação química. O flúor, em seu
metabolismo bacteriano, pode alterar a função da barreira
da membrana extracelular e intracelular, inibindo aquelas
enzimas que necessitam de magnésio, principalmente a
enolase, e deprimindo os produtos finais da glicose.
A aplicação tópica, diária, sob a forma gel, bochechos ou
dentifrícios, resulta em altos níveis de íons fluoreto nos
6. biofilmes dentais. Os programas com bochechos com fluo-
Avaliação microbiológica de antissépticos fluoretados: estudo in vitro | Sousa MCS et al.
Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde 2010; 12(2) : 25-30 |27
reto são usualmente realizados com fluoreto de sódio contendo
0,1 ou 0,2 %11.
Sabe-se que os estreptococos e os lactobacilos apresentam
um importante papel no início e progressão da cárie. Dessa
forma, Yoshihara et al.17 estudaram a ação do bochecho
fluoretado sobre os estreptococos e os lactobacilos salivares,
concluindo que o uso do bochechos com fluoretos
reduz, significantemente, o nível de Streptococcus mutans
na saliva.
Os colutórios representam o veículo mais simples para os
agentes quimioprofiláticos e, em geral, apresentam uma
mistura do princípio ativo em água e álcool, com a adição
de um surfactante, um umectante e um sabor15.
O objetivo deste artigo foi avaliar, in vitro, enxaguatórios
bucais, fluoretados e não fluoretados em associação com
outros agentes nas dosagens de 25μL, 50μL e 100μL e nos
tempos de 24 e 48 horas.
MATERIAL E MÉTODOS |
Foram testados quatro antissépticos associados ao fluoreto
de sódio, usados como colutório bucal, encontrados no comércio
e, para o controle, foram preparados no laboratório
o fluoreto de sódio p.a em água destilada nas concentrações
de 0,5%, 1,0% e 2,0%:
a)Fluordent® (fluoreto de sódio a 0,05% - 225ppm, água
desmineralizada, sorbitol, álcool etílico, glicerin);
b)Oral-B® (Fluoreto de sódio a 0,05% - 225ppm, água
desmineralizada, glicerina, cloreto de cetilpiridínio monohidrato);
c)Plax® (fluoreto de sódio-227ppm, Triclosan a 0,03%,
Gantrez (0,20%) da Colgate);
7. d)Cepacol Flúor® (fluoreto de sódio- 226,2ppm, cloreto
de cetilpiridínio, álcool etílico);
e)Fluoreto de sódio a 2,0% (1000ppm), preparado no Laboratório
de Microbiologia da FBDC;
f)Fluoreto de sódio a 1,0% (500ppm), preparado no Laboratório
de Microbiologia da FBDC;
g)Fluoreto de sódio a 0,05% (250ppm), preparado no Laboratório
de Microbiologia da FBDC.
Preparo do inóculo microbiano
Os inóculos foram obtidos a partir da cultura proveniente
de saliva coletada de pacientes para estoque e uso no trabalho
de rotina no Laboratório de Microbiologia, ativados
e mantidos em 10,0mL de caldo de cultura BHI, com o
objetivo de preservar o crescimento dos microrganismos.
Para o preparo do inóculo, 24 horas antes do procedimento,
a cultura com microrganismos da saliva foi ativada em
tubos com 5,0mL de caldo BHI (em triplicata) e incubada
a 370C por 24 horas, observando-se o crescimento por
turvação do meio. Os tubos foram devidamente identificados.
Após crescimento dos microrganismos, foi anotada a
turvação do meio de cultura acompanhada de sedimentação
ou película para posterior comparação dos resultados.
A seguir foi retirado 1,0mL do inóculo e adicionado ao
tubo A (10-1) que continha 9,0mL do caldo BHI, previamente
preparado e autoclavado e, após, foram iniciadas as
diluições de 10-1 até 10-4, com a finalidade atingir a escala
padrão 0,5 de McFarland com a proporção aproximada de
1,5x108 de células por mL. Para conhecimento dos morfotipos,
foi usado o método de Gram.
Preparo dos antissépticos e soluções fluoretadas
Previamente, os quatros antissépticos e as três soluções fluoretadas
(controle) foram colocados, separadamente, em
8. tubos de ensaios (13X100mm), autoclavados, utilizando-se
de pontas adaptadas em pipetas automáticas com dosagens
de 25μL, 50μL e 100μL, totalizando 27 tubos para
cada amostra.
Após esse procedimento, foi retirada 1,0mL do tubo com o
inóculo diluído 10-4 e acrescentado aos tubos que continham
os antissépticos e solução fluoretada nas concentrações
de 25 μL,50μL e 100μL. A seguir, os tubos contendo
os experimentos foram colocados em jarras de anaerobiose
(método da vela) para produção CO2, e incubados a 37ºC
por um tempo de 24 e 48 horas.
Os tubos com as diluições (104) e um tubo com 10,0mL de
caldo BHI (controle negativo) também foram incubados e
observado o crescimento por turvação.
As leituras foram realizadas por dois examinadores, no
período de 24 e 48 horas,e os resultados foram registrados
para avaliação.
RESULTADOS |
Foi realizada leitura observando-se turvação nos tubos
com as amostras (teste/controle) com presença de sedimentação,
película na superfície ou ambos. Essas observações
da presença de sedimentos e película nas amostras
Avaliação microbiológica de antissépticos fluoretados: estudo in vitro | Sousa MCS et al.
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do teste/controle foram comparadas com as anotações
prévias feitas do que foi encontrado no inóculo (saliva)
usado como indicador. Para a análise dos resultados, foi
utilizada a mesma classificação proposta por Monfrin e Ribeiro7:
a)Eficiente: ausência de crescimento bacteriano.
b)Quase eficiente (turvação do meio de cultura): crescimento
reduzido de microrganismos.
c)Pouco eficiente (turvação do meio de cultura acompanhada
9. de sedimentação ou película de crescimento bacteriano):
significa crescimento moderado de microrganismos
quando comparado com B.
d)Nada eficiente (turvação do meio de cultura acompanhada
de sedimentação e película de crescimento bacteriano):
significa abundante crescimento quando comparado com C.
Resultados de amostras de acordo com a classificação
(A, B, C, D) nas primeiras 24 horas e 48 horas
1)Para dosagem de 25μL:
a) Com resultado eficiente, o Plax® apresentou-se com
51,8% nas primeiras 24 horas, seguido pelo Oral B®
(22,2%), Cepacol® (18,5%). Nas 48 horas na mesma ordem,
o Plax® apresentou 48,1% seguido pelo Oral B®
(14,8%) e Cepacol® (11,1%);
b) Como quase eficiente (B) nas primeiras 24 horas, o
fluoreto de sódio 2,0% (14,8%) seguido do fluoreto de
sódio 1,0% (11,1%), fluoreto de sódio 0,5% (7,4%), Oral
B (7,4%) e Fluordent® (3,7%). Nas 48 horas, o fluoreto
de sódio 1,0% (11,1%), fluoreto de sódio 2,0% (11,1%) e
Fluordent® (7,4%).
c) Como pouco eficiente nas 24 horas, o Fluordent®
apresentou-se com 70,3%, seguido do Plax® em 18,5%.
A solução do fluoreto de sódio 0,5% (59,2%), fluoreto de
sódio 1,0% e 2,0% com 55,5%, Oral B® com 25,9% e
Cepacol® com 33,3%. Nas 48 horas, o Plax® se manteve
em 18,5%. Por sua vez, o Fluordent®, fluoreto de sódio
a 2,0% e fluoreto de sódio 0,5% com 62,9%, seguido do
fluoreto de sódio 1,0%, que manteve o valor em 55,5%,
Oral B® com 37,0% e Cepacol® com 22,2%.
d) Apenas o Oral B® não apresentou resultado nada eficiente
nas primeiras 24 horas. O Fluordent® e o Plax®
com 25,9%, seguidos do fluoreto de sódio 1,0% e 2,0%
10. com 29,6%, Cepacol® com 33,3% e fluoreto de sódio com
40,7%. Nas 48 horas, o fluoreto de sódio 1,0% e 2,0% se
mantiveram em 29,6% das amostras.
2)Para dosagem de 50μL
a) Plax® foi eficiente em 59,2% das amostras, seguido do
Oral B® (25,9%) e do Cepacol® (18,5%). O resultado,
nas 48 horas, foi mantido pelo Cepacol® (18,5%), igual
valor para o Oral B® (18,5%) e com maior eficiência o
Plax® (48,1%). a p
b) O resultado do quase eficiente nas primeiras 24 horas
foi em ordem para as soluções de fluoreto de sódio 0,5%
(51,8%), fluoreto de sódio 2,0% (18,5%), fluoreto de sódio
1,0% (3,7%), Fluordent (7,4%), Cepacol® (3,6%) e Oral
B® (3,7%). Nas 48 horas, o fluoreto de sódio 0,5% apresentou-
se com 40,7% seguido do fluoreto de sódio 1,0% e
2,0% com 7,4% de suas amostras.
c) Para pouco eficiente, o Fluordent® e fluoreto de sódio
0,5% e 1,0% apresentaram igual valor de 62,9%, Plax®
com 22,2%, Oral B® (25,9%), Cepacol®( 33,3%), fluoreto
de sódio 2,0% com 51,8%. Nas 48 horas, o Cepacol® com
o valor de 14,8%, seguido do Plax® (18,5%) e Oral B
®33,3%. O Fluordent® manteve 62,9% seguido do fluoreto
de sódio 2,0% (62,9%) e fluoreto de sódio 0,5% e 1,0%
com 59,2% das amostras.
d) Em relação ao nada eficiente, o fluoreto de sódio 0,5%
apresentou-se com 40,7%, o fluoreto de sódio 1,0% e 2,0%
com igual valor de 29,6%, Cepacol® com 25,9%, Fluordent
® 22,2%, Plax® 14,8%. Nas 48 horas, as soluções de
fluoreto de sódio 0,5%, 1,0% e 2,0% mantiveram-se com
29,6%, o Cepacol® com 51,8%, Plax® 22,2% e Fluordent
® 33,3% das amostras.
3)Para a dosagem de 100 μL
11. a) Como muito eficiente, em ordem, foi o OralB® (29,6%),
Plax® (59,2%) e Cepacol® 18,5%. Nas 48 horas, os resultados
permaneceram com iguais valores para o Oral B,
Cepacol® e o Plax® com 48,1%.
b)Quanto ao quase eficiente, nas 24 horas, a solução de
fluoreto de sódio 2,0% com 22,2%, Cepacol® 11,1%, Fluordent
® 7,4%, Oral B® e fluoreto de sódio a 1,0% com
3,7%. Nas 48 horas, o Fluordent® com 3,7% e o fluoreto
de sódio 2,0% e 1,0% com igual valor de 3,7% das
amostras.
c)Em relação ao pouco eficiente, em ordem, o Fluordent®
(66,6%), Oral B® (22,2%), Plax® (25,9%), Cepacol®
(29,6%), fluoreto de sódio 0,5% (66,6%), 1,0% (59,2%) e
2,0% (55,5%). Nas 48 horas, o Fluordent® (62,9%), Oral
B® (33,3%), Plax® (25,9%) e Cepacol® (18,5%), fluoreto
de sódio 0,5% (62,9%), 1,0% (62,9%) e 2,0% (70,3%).
Avaliação microbiológica de antissépticos fluoretados: estudo in vitro | Sousa MCS et al.
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d)Como nada eficiente, o Fluordent® (22,2%), Plax (3,7%),
Cepacol (18,5%), fluoreto de sódio 0,5% e 1,0% (37,0%),
2,0% (22,2%). Nas 48 horas, o Fluordent® (25,9%), Plax®
(18,5%), Cepacol® (40,7%), fluoreto de sódio 0,5% e 1,0%
(33,3%), 2,0% (25,9%).
DISCUSSÃO |
A literatura tem nos beneficiado com pesquisas, que
mostram aos cirurgiões-dentistas a importância de se conhecer
os benefícios dos agentes quimioprofiláticos na
prevenção e controle da cárie, limitando o acúmulo da
placa bacteriana e atividade da microbiota oral. Por outro
lado, encontram-se também opiniões que se opõem ao seu
uso rotineiro, por períodos prolongados, revelando observações
quanto à concentração inibitória máxima e mínima,
12. bem como ao tempo de contato e frequência de aplicação,
para que, com segurança, se possam orientar e advertir os
pacientes quanto aos efeitos adversos que esses agentes
podem causar em sua cavidade oral4,12,15.
As pesquisas têm mais se concentrado na eficiência dos
enxaguatórios fluoretados, associando-os aos tecidos dentais
e dando pouca atenção aos efeitos sobre as bactérias
na saliva17. Neste estudo, foi observado que o antisséptico
Plax® mostrou ser o mais eficiente (A) agente antimicrobiano,
quando comparado com os demais pesquisados, nas
dosagens de 25μL, 50μL e 100μL e nos tempos de 24 e 48
horas. Esses dados são diferentes do que foi observado
por Monfrin e Ribeiro7 com as dosagens de 10μL, 20μL e
25μL, quando encontraram pouca redução de microrganismos
na saliva, o que nos faz considerar que o aumento nas
concentrações, provavelmente, influenciou na atividade do
agente em frente aos microrganismos.
Além disso, o trilosan/gantrez, um dos componentes presentes
no Plax®, associado ao fluoreto de sódio, é um
composto bacteriano de amplo espectro, não iônico, com
baixa toxicidade e que aumenta a permeabilidade da parede
bacteriana3,8,16. Monfrin e Ribeiro7 relatam que o Plax®
está mais destinado à deposição de flúor do que à redução
de microrganismos.
Os antissépticos Cepacol® e Oral B®, associados ao fluoreto
de sódio, apresentaram uma efetividade muito inferior
ao Plax® em parte da amostra. Monfrin e Ribeiro7 observaram
que o Cepacol® e o Oral B® resultaram em um
nível menor de atividade antimicrobiana que os outros
enxaguatórios usados em seu trabalho (Malvatricin® e
Periogard®) e, assim, baseados na literatura, acrescentaram
a necessidade do uso de antisséptico à base de cloreto
13. de cetilpiridínio várias vezes ao dia para que se tenha um
resultado mais eficaz. Os componentes presentes nesses
enxaguatórios têm um poder de diminuição de microorganismos
significativo, o que foi observado por Ito et al5,
Meier et al.6 e Pinheiro10. Ainda consideram que a diluição
utilizada normalmente em bochechos de 1:2 seja eficaz contra
as bactérias da cavidade oral.
Por outro lado, considerando que o Cepacol® contém, em
sua composição, o álcool etílico, cabe aqui citar a advertência
feita por Poggi et al.12, de que o seu consumo deve ser
feito com segurança e que os pacientes devem ser avisados
sobre as implicações de seu uso.
O Fluordent®, que possui em sua composição o fluoreto
de sódio, sem associação com outros agentes antimicrobianos,
mostrou atividade pouco eficiente (C), aproximando-
se dos resultados observados com fluoreto de sódio,
p.a (0,5%, 1,0% e 2,0%) preparado em laboratório. Esses
resultados também foram apresentados por Monfrin e Ribeiro7,
quando observaram pouca atividade antimicrobiana
do Fluordent® com as dosagens de 10 μL, 20μL e 25 μL,
e concluíram relatando que o emprego desse antisséptico
está mais destinado à deposição de flúor do que à redução
de microrganismos. Assim como o Cepacol®, o Fluordent
® apresenta, em sua composição, a presença de álcool
etilico, cabendo-lhe considerações quanto aos prováveis
efeitos deletérios.
Diante dos dados analisados, verificamos que novas investigações
devem ser feitas por meio de estudos in vivo
e in vitro, a respeito da atividade antimicrobiana de enxaguatórios
encontrados no comércio e usados como bochechos,
a fim de se prevenir e controlar a cárie e a doença
periodontal. E, ainda, que esses enxaguatórios devem ser
14. indicados para pacientes com segurança, de acordo com as
suas necessidades.
Sobretudo os antissépticos usados em bochechos orais têm
sido utilizados para a descontaminação de escovas dentais,
que podem funcionar como reservatório de microrganismos
e via de transmissibilidade1,11,14,18.
CONCLUSÕES |
O fluoreto de sódio (225ppm), associado ao triclosan e ao
copolímero Gantrez (Plax®) demonstrou ser mais eficiente
(A) em todas as dosagens (25μL, 50μL e 100μL) e nos
tempos de 24 e 48 horas.
O fluoreto de sódio, associado ao cloreto de cetilpiridínio
(Cepacol® - 226ppm e Oral B® - 225ppm), apresentou
Avaliação microbiológica de antissépticos fluoretados: estudo in vitro | Sousa MCS et al.
30| 2010; 12(2) : 25-30 Revista Brasileira de Pesquisa em Saúde
eficiência nas dosagens de 25μL, 50μL e 100μL e nos tempos
de 24 e 48 horas, porém em menor porcentagem do
que a apresentada pelo Plax®.
O fluoreto de sódio preparado no laboratório nas concentrações
de 0,5%, 1,0% e 2,0%, comparado com o fluoreto
de sódio a 0,05%, associado ao álcool e à glicerina (Fluordent
®), não mostrou eficiência nas dosagens de 25μL,
50μL e 100μL e nos tempos de 24 e 48 horas.
REFERÊNCIAS |
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Avaliação in vitro da atividade antimicrobiana de
antissépticos bucais
Ana Cristina Azevedo Moreira1
Marlus Henrique Queiroz Pereira2
Mariana Ribeiro Porto3
Leandro Antônio Palmeira da Rocha3
Bruno Campos Nascimento3
Péricles Maia Andrade4
Resumo
O objetivo deste trabalho foi avaliar a atividade antimicrobiana de antissépticos bucais sobre Streptococcus mutans
ATCC
25175, Pseudomonas aeruginosa ATCC 115442, Enterococcus faecalis, Staphylococcus aureus ATCC 6538 e sobre
17. bactérias
obtidas de uma amostra de saliva de 10 indivíduos. Foram analisados enxaguatórios com os seguintes antissépticos:
gluconato de clorexidina a 0,12%; gluconato de clorexidina a 0,2 %; cloreto de cetilpiridínio com e sem flúor; timol;
triclosan com flúor ; extrato de malva com flúor e xilitol e peróxido de hidrogênio. A técnica utilizada foi por difusão
em
ágar, método da placa com orifício, com incubação a 37º C em aerobiose e microaerofilia. Após incubação, observou-se
a presença ou a ausência de halo de inibição de crescimento em torno dos orifícios. A formação de halo demonstrou
atividade antimicrobiana. Nos enxaguatórios com timol e com flúor associado ao xilitol, não foi evidenciada atividade
sobre as bactérias utilizadas. Os outros enxaguatórios apresentaram eficácia sobre as bactérias, com exceção dos que
continham cloreto de cetilpiridínio, que não apresentaram atividade sobre Pseudomonas aeruginosa, e do enxaguatório
com malva associada ao flúor e xilitol, sem atividade sobre P. aeruginosa, S. mutans e bactérias da saliva. Os
enxaguatórios
com triclosan com flúor, peróxido de hidrogênio e clorexidina foram os mais efetivos, de acordo com o diâmetro dos
halos
de inibição formados e a metodologia utilizada. Os resultados obtidos comprovaram que substâncias antissépticas
podem constituir-se em opção complementar para o controle do biofilme dental e de infecções bucais, somando-se aos
métodos já preconizados e de efeitos comprovados.
Palavras-chave: Antissépticos bucais - Atividade antimicrobiana - Biofilme dental - Difusão em ágar.
INTRODUÇÃO
A saúde bucal depende da utilização de
medidas de caráter curativo e preventivo. A cárie
dentária e a doença periodontal são doenças
relacionadas com a presença do biofilme dental
(MONFRIM; RIBEIRO, 2000; GEBRAN;
GEBERT, 2002), que pode ser definido como
uma comunidade microbiana embebida por uma
matriz aglutinante, firmemente aderida a uma
superfície sólida e úmida (LORENZO, 2004).
Para o controle do biofilme dental e das
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154
patologias decorrentes da sua presença, diversos
18. métodos são propostos: os recursos mecânicos e
químicos, ou através do controle da dieta. O
controle mecânico representa o método mais
valioso utilizado na prevenção e remoção do
biofilme e consiste na escovação e no uso do fio
dental. Porém nem sempre é realizado
adequadamente. Desse modo, diversas
substâncias têm sido utilizadas para o controle
químico da placa bacteriana, como adjutórias
aos procedimentos mecânicos (MONFRIN;
RIBEIRO, 2000; GEBRAN; GEBERT, 2002;
ADDY, 2005).
O uso de substâncias químicas
antissépticas para a redução ou eliminação do
biofilme dental é recomendado para pacientes
com dificuldades operacionais frente ao controle
mecânico. Elas estão incorporadas em
dentifrícios ou em soluções para bochechos, os
enxaguatórios ou colutórios (MONFRIN;
RIBEIRO, 2000; GEBRAN;GEBERT, 2002).
Os enxaguatórios representam o meio mais
simples para a veiculação de substâncias
antissépticas, sendo uma mistura do componente
ativo, água, álcool, surfactantes, umectantes e
flavorizantes (TORRES et al., 2000).
As propriedades de um antisséptico ideal
incluem: estabilidade, baixa tensão superficial,
poder germicida e letal em baixas concentrações,
ausência de toxicidade e poder de penetração.
No entanto, nenhum produto disponível no
19. mercado possui todos os requisitos acima citados,
o que justifica os efeitos colaterais ou a pouca
eficiência apresentada por alguns (MONFRIN;
RIBEIRO, 2000).
Várias substâncias antimicrobianas são
utilizadas sob a forma de enxaguatórios: fluoreto
de sódio, cloreto de cetilpiridínio, triclosan,
timol, clorexidina, tirotricina, dentre outras
(MONFRIN; RIBEIRO, 2000).
Os benefícios na prevenção à cárie por sais
de fluoreto estão bem estabelecidos. Além da
atividade durante a mineralização, o íon fluoreto
contribui para efeitos cariostáticos, porque
influencia na ecologia do biofilme dental. Em
odontologia, é empregado sob diversas formas.
Nos enxaguatórios, o fluoreto de sódio pode ser
utilizado a 0,05% em bochechos diários
(TORRES et al., 2000; ADDY, 2005).
O cloreto de cetilpiridínio, presente nas
marcas comerciais Cepacol e Oral B, é um
composto monovalente, catiônico, tensoativo e
pertence ao grupo dos compostos quaternários
de amônia (MENDES et al., 1995). É mais
efetivo contra Gram-positivos, provocando
aumento da permeabilidade celular e
rompimento da parede celular bacteriana
(GEBRAN; GEBERT, 2002). O uso prolongado
dessa substância pode causar sensação de
queimação, descoloração dos dentes, ulcerações
recorrentes e aumento da formação do cálculo
20. (GRANJEIRO et al., 1993).
A clorexidina é uma bisguanida catiônica,
disponível principalmente na forma de sais de
digluconato. Apresenta amplo espectro sobre as
bactérias Gram-positivas, Gram-negativas,
fungos e leveduras. Diminui significativamente
a placa, pois afeta a aderência microbiana,
aumenta a permeabilidade celular por meio do
rompimento da bactéria ou age através da
coagulação e precipitação dos seus constituintes
citoplasmáticos. Pode ser utilizada em
concentrações de 0,12%, 0,2% e 2%, sendo a
clorexidina a 0,12% a mais indicada, devido à
associação da eficácia contra os microrganismos
e a diminuição dos efeitos adversos, quando
comparada com soluções mais concentradas
(MENDES et al., 1995; GEBRAN; GEBERT,
2002; SOUZA; ABREU, 2003).
O triclosan é um fenol sintético, não
iônico, de baixa toxicidade, e não provoca
desequilíbrio na cavidade bucal (SABA-CHUJFI
et al., 1998; GEBRAN; GEBERT, 2002).
Tem amplo espectro bacteriano, sendo eficaz
contra Gram-positivos e Gram-negativos,
demonstrando efetividade também contra
Mycobacterium e principalmente bactérias
anaeróbias, assim como esporos e fungos da
espécie Candida. Sua ação ocorre pela lise da
membrana citoplasmática do microorganismo
(SABA-CHUJFI et al., 1998; MONFRIN;
21. RIBEIRO, 2000). O triclosan pode ser
encontrado associado ao copolímero gantrez
0,2% (metoxietileno mais ácido maléico). Essa
associação é realizada para aumentar a sua
presença na cavidade bucal, devido à baixa
substantividade apresentada pelo antisséptico.
O copolímero também aumenta o seu espectro
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155
de ação sobre bactérias Gram negativas e
leveduras (SABA-CHUJFI et al., 1998;
GEBRAN; GEBERT, 2002; Bugno et al.,
2006).
A tirotricina (gramicidina 20 a 25% e
tirocidina cerca de 60%), presente no
enxaguatório Malvatricin, é oriunda do Bacillus
brevis. A depender da concentração, pode ter
ação bacteriostática ou bactericida. Atua sobre
bactérias Gram-negativas e tem ação tópica
duradoura (MONFRIN; RIBEIRO, 2000). O
enxaguatório também apresenta extrato de
malva além de outros componentes em sua
composição, existindo formulações sem
tirotricina.
O enxaguatório comercialmente
denominado Listerine está na categoria dos óleos
essenciais, sendo composto por timol,
eucaliptol, mentol e salicilato de metila. Age
lesando a parede celular bacteriana, inibindo os
sistemas enzimáticos e diminuindo os
22. lipopolissacarídeos e o conteúdo protéico da
placa bacteriana. Possui baixa substantividade.
Sensação de queimação, gosto amargo, manchas
nos dentes e injúrias ao tecido bucal constituem
seus efeitos colaterais (MENDES et al., 1995).
O peróxido de hidrogênio, presente no
enxaguatório Peroxil, é um agente oxidante, que
atua sobre a membrana lipídica e no DNA,
sendo ativo contra micro-organismos anaeróbios.
Apresenta como efeitos colaterais o desequilíbrio
da microbiota oral, queimaduras e irritação dos
tecidos bucais (Torres et al., 2000; GEBRAN;
GEBERT, 2002).
No Brasil, os enxaguatórios bucais são
classificados como produtos de higiene pessoal
e cosméticos. As formulações que apresentam
indicações específicas como antissépticos,
antiplaca e de uso infantil são classificadas como
produtos de grau 2 e demandam a comprovação
da sua segurança e eficácia antimicrobiana
(AGÊNCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA
SANITÁRIA, 2005).
A avaliação da eficácia antimicrobiana dos
antissépticos bucais pode ser realizada por testes
in vivo ou in vitro. Os últimos geralmente são
adaptações dos procedimentos de difusão em
ágar, da determinação da concentração inibitória
mínima (CIM) ou de ensaios para a
determinação do tempo de redução decimal
(BOTELHO, 2000), não havendo, no Brasil,
23. uma metodologia oficial para a avaliação da
atividade antimicrobiana dos enxaguatórios
bucais (BUGNO et al., 2006).
O objetivo deste estudo é avaliar in vitro
a atividade antimicrobiana de antissépticos
bucais comercialmente disponíveis sobre
Streptococcus mutans ATCC 25175, Pseudomonas
aeruginosa ATCC 115442, Staphylococcus aureus
ATCC 6538, Enterococcus faecalis e bactérias
mesófilas facultativas obtidas de saliva.
MATERIAIS E MÉTODOS
O material deste estudo foi constituído
de antissépticos bucais comercialmente
disponíveis em farmácias, drogarias e
supermercados da cidade de Salvador, Bahia. A
identificação dos produtos foi realizada segundo
o seu principio ativo e sua marca comercial.
Foram analisados nove enxaguatórios bucais com
os antissépticos descritos no Quadro 1. Todos
os produtos foram avaliados quanto à sua
atividade antimicrobiana sem diluição, conforme
a indicação de uso. Para a realização das análises,
a técnica utilizada foi por difusão em ágar,
método da placa com orifício, de acordo com o
procedimento operacional n° 65.3210.006 do
Instituto Nacional de Controle de Qualidade
em Saúde (2006).
Os antissépticos foram testados com
culturas de Streptococcus mutans ATCC-
25175, Pseudomonas aeruginosa ATCC-
24. 115442, Staphylococcus aureus ATCC- 6538,
Enterococcus faecalis e um pool de saliva
coletada em 10 indivíduos. As culturas foram
ativadas em tubos com 10 mL de caldo BHI
(Brain Heart Infusion, Difco) e repicadas por
3 dias consecutivos, com incubação a 35ºC ,
verificando-se sempre a sua pureza através da
técnica de Gram.
Após o terceiro repique, adicionou-se com
um pipetador automático 0,2ml da cultura
bacteriana a 30 ml de ágar BHI fundido e
resfriado, homogeneizando e vertendo o
conteúdo em placa de Petri, fazendo dois
orifícios através de cilindros metálicos estéreis
com 1,5 cm de diâmetro e 1 cm de altura,
R. Ci. méd. biol., Salvador, v.8, n.2, p.153-161, mai./ago. 2009
156
deixando solidificar. Após a solidificação, foi
colocado, nos orifícios, o antisséptico em teste.
Para cada antisséptico, foram feitas placas em
duplicatas, com um total de quatro orifícios.
Foram feitos dois controles. O controle positivo
com triclosan 0,5% em álcool, e o controle
negativo com soro fisiológico (NaCl 0,85% em
água destilada). O mesmo procedimento técnico
utilizado para os testes foi adotado para os
controles.
As placas foram incubadas em estufa
bacteriológica regulada a 37ºC por 24 horas. A
leitura foi feita observando-se a formação de
25. halos de inibição de crescimento que, quando
presentes, indicavam propriedades
bacteriostáticas ou bactericidas dos
enxaguatórios. Os resultados obtidos foram
expressos através da média do diâmetro dos halos
de inibição de crescimento formados em volta
dos orifícios (Quadro 1).
RESULTADOS
Os resultados obtidos nas análises
microbiológicas realizadas em nove
enxaguatórios bucais frente às bactérias
utilizadas estão descritos nas Figuras 1 a 12. Nas
Figuras 1, 2 e 3, são visualizados o aspecto do
crescimento das bactérias nas placas, os halos
de inibição de crescimento produzidos e os
controles positivo e negativo. Nas Figuras 4 a
12, estão representados os gráficos com as médias
dos halos de inibição do crescimento das
bactérias frente aos antissépticos sob teste.
Avaliando-se a atividade dos princípios
ativos componentes dos enxaguatórios sobre
cada bactéria, exibiram atividade contra S.
mutans os enxaguatórios com peróxido de
hidrogênio (Peroxil), clorexidina a 0,12 e a 0,2%
(Periogard e Paradontax), cloreto de
cetilpiridínio (Cepacol e Oral B) e triclosan com
flúor (Plax). A maioria dos antissépticos foi eficaz
para S. aureus, com exceção dos enxaguatórios
com flúor + xilitol (Fluormint) e timol
(Listerine). Para Enterococcus faecalis, foram
26. ativos clorexidina (Periogard e Paradontax),
extrato de malva, fluoreto e xilitol (Malvatricin),
peróxido de hidrogênio (Peroxil), cloreto de
cetilpiridinio (Cepacol e Oral B) e triclosan
(Plax). Para P. aeruginosa, foram eficazes os
enxaguatórios com triclosan, clorexidina e
peróxido de hidrogênio. Foram ativos sobre as
bactérias da saliva os enxaguatórios com cloreto
de cetilpiridínio, triclosan, clorexidina e peróxido
de hidrogênio.
DISCUSSÃO
A produção de estudos sobre a eficácia de
medicamentos, particularmente os antissépticos,
é pouco expressiva e pouco divulgada.
Consequentemente, os profissionais de saúde
têm uma visão sobre eles veiculada pelos
fabricantes, sendo de vital importância a
realização de testes in vitro para confirmar a sua
efetividade, possibilitando melhor escolha do
produto a ser prescrito.
Cloreto de cetilpiridínio é um
antisséptico muito utilizado em bochechos,
devido às suas propriedades antimicrobianas. Os
resultados obtidos com o cloreto de
cetilpiridínio, princípio ativo dos enxaguatórios
Cepacol e Oral B (Figura 4; Figura 5),
demonstraram a sua efetividade para S. mutans,
E. faecalis, S. aureus e bactérias da saliva,
confirmando o seu principal alvo de ação, sobre
bactérias Gram positivas, e a ausência de
27. atividade contra P. aeruginosa, bactéria Gram
negativa. O resultado obtido com o
Streptococcus mutans, no qual foi evidenciada
atividade do cloreto de cetilpiridínio sobre esse
microrganismo, foi semelhante ao de Tirapelli
e Ito (2003) que, testando a atividade de
antissépticos sobre amostras de saliva, obtiveram,
após o uso do cloreto de cetilpiridínio, a inibição
do crescimento de estreptococos do grupo
mutans. Pitten e Kramer (2001) verificaram que
os produtos à base de cloreto de cetilpiridínio
reduziram as contagens microbianas na saliva
entre 2 e 2,5 ciclos logarítmicos. Mota e
colaboradores (2004), estudando in vivo a
eficácia de dois enxaguatórios bucais no controle
da placa supra-gengival, concluíram que o
cloreto de cetilpiridínio foi eficaz na prevenção
da formação da placa.
Óleos essenciais, como timol, mentol e
eucaliptol, constituem os princípios ativos do
R. Ci. méd. biol., Salvador, v.8, n.2, p.153-161, mai./ago. 2009
157
Quadro 1. Antissépticos testados, marca e fabricante.
Antissépticos Marca Fabricante
Cloreto de Cetilpiridínio Cepacol Aventis Pharma
Triclosan + Fluoreto de Sódio Plax Colgate
Fluoreto de sódio+Cloreto de cetilpiridinio Oral-B Lab. Rety
Fluoreto de sódio + Xilitol + Timol Fluor mint Daudt
Extrato de Malva +Fluoreto de sódio + xilitol Malvatricin Daudt
Peróxido de Hidrogênio Peroxil Colgate
28. Timol Listerine Pfizer
Clorexidina 0,12% Periogard Colgate
Clorexidina 0,2% Paradontax SmithKline B.C.H.
Figura 1. Halo de inibição de crescimento de S.
mutans utilizando Peróxido de hidrogênio.
Figura 2. Halo de inibição de crescimento de E.
faecalis utilizando Clorexidina a 0,12%
(Periogard).
Figura 3. Controle negativo (esquerda) e positivo (direita)
R. Ci. méd. biol., Salvador, v.8, n.2, p.153-161, mai./ago. 2009
158
Figura 4. Cloreto de Cetilpiridínio.
Figura 5. Cloreto de Cetilpiridinio +Fluoreto
de Sódio (Oral B).
Figura 6. Triclosan (Plax).
Figura 7. Fluoreto de Sódio+Xilitol + Timol
(Fluomint).
Figura 8. Extrato de Malva + Flúor + Xilitol
(Malvatricin).
Figura 9. Peróxido de Hidrogênio (Peroxil).
Figura 10. Timol (Listerine).
Figura 11. Clorexidina 0,12% (Periogard).
Figura 12. Clorexidina 0,2% (Parodontax).
Listerine. São compostos fenólicos que agem
contra as bactérias rompendo a parede celular
ou inibindo a ação enzimática. São aceitos pela
ADA (American Dental Association) para o
controle da placa bacteriana e gengivite
(MENDES et al., 1995; GEBRAN; GEBERT,
2002).
29. Os resultados visualizados na Figura 10
expressam a ausência de atividade antibacteriana
apresentada pelo Listerine. Como a técnica
R. Ci. méd. biol., Salvador, v.8, n.2, p.153-161, mai./ago. 2009
159
utilizada neste estudo foi por difusão em Agar,
e o fenômeno da difusão depende das
propriedades físico-químicas do produto e do
meio de cultura, a ausência da formação de halos
de inibição de crescimento poderia estar
associada ao grau de difusão do antisséptico
listerine em ágar, não estando obrigatoriamente
relacionada com a ausência de atividade
antimicrobiana. Monfrin e Ribeiro (2000)
evidenciaram pouca eficácia do Listerine na
redução da microbiota da saliva. No entanto,
utilizando o método de regressão linear para
avaliar a eficácia antimicrobiana de enxaguatórios
bucais, Bugno e colaboradores (2006)
evidenciaram que o produto à base de óleos
essenciais (timol) foi o que apresentou melhor
atividade antimicrobiana, em relação aos
demais.
Os resultados obtidos com o enxaguatório
Fluormint, cujos princípios ativos são fluoreto
de sódio associado ao xilitol e timol (Figura 7),
foram idênticos aos obtidos com o Listerine
(timol), não tendo o produto demonstrado
atividade antimicrobiana. Esses resultados
podem estar relacionados com a capacidade de
30. difusão do flúor em ágar. Monfrin e Ribeiro
(2000), testando antissépticos com flúor,
relataram resultados concordantes com os ora
obtidos. Esses autores comentaram que o
mecanismo anticariogênico do flúor deve ser
exercido nos ciclos de desmineralização e
remineralização, estando o antisséptico mais
apropriado à deposição de flúor do que à
redução de micro-organismos.
Os testes realizados com o Malvatricin,
cujos princípios ativos são malva, fluoreto de
sódio e xilitol, demonstraram efetividade do
enxaguatório sobre E. faecalis e S. aureus.
Utilizando meio de cultura líquido, Monfrin e
Ribeiro (2000) obtiveram com o mesmo
enxaguatório, porém com adição de tirotricina,
redução dos microrganismos da saliva, embora
não aconselhassem a sua utilização
indiscriminadamente, devido à presença de
substância antibiótica em sua fórmula.
O peróxido de hidrogênio é um agente
oxidante usado em endodontia para desinfecção
de canais radiculares e, em periodontia, por
tempo determinado, pois o seu uso poderá causar
desequilíbrio da microbiota oral. Apresenta como
efeitos colaterais queimaduras e irritação dos
tecidos bucais (GEBRAN; GEBERT, 2002). Os
resultados expressos na Figura 9 demonstraram
elevada efetividade do peróxido de hidrogênio
(Peroxil) sobre todas as bactérias utilizadas nesta
31. investigação, especialmente sobre S. mutans.
Apesar de sua eficiência, esse produto deverá ser
utilizado para fins específicos, devido aos efeitos
colaterais acima mencionados.
Triclosan é um derivado fenólico utilizado
em soluções para bochechos e apresenta amplo
espectro de ação sobre os microrganismos. Os
resultados visualizados na Figura 6
demonstraram a atividade do triclosan sobre
todas as bactérias utilizadas (Gram positivas e
Gram negativas). Nesse antisséptico, peróxido
de hidrogênio e gluconato de clorexidina foram
os princípios ativos que demonstraram maior
atividade e espectro de ação, de acordo com o
diâmetro dos halos de inibição de crescimento
produzidos.
Avaliando a eficácia antimicrobiana de
anti-sépticos bucais, Tirapelli e Ito (2003)
constataram que o enxaguatório com triclosan
foi o mais efetivo sobre estreptococos do grupo
mutans. Porém Monfrin e Ribeiro (2000),
testando o mesmo antisséptico, obtiveram pouca
redução dos microrganismos da saliva.
As Figuras 11 e 12 representam os
resultados obtidos com enxaguatórios que
contêm clorexidina em concentrações de 0,12
e 0,2% (Periogard e Paradontax,
respectivamente). Os enxaguatórios foram ativos
contra todas as bactérias sob teste, incluindo
Pseudomonas aeruginosa. Não houve diferença
32. significante nas médias do diâmetro dos halos
de inibição do crescimento entre os dois
enxaguatórios, nas diluições de 0,12% e 0,2%.
Esses resultados foram concordantes com os
descritos por Monfrin e Ribeiro (2000), que
obtiveram, com o enxaguatório que continha
clorexidina, o melhor resultado na redução dos
microrganismos da saliva.
CONCLUSÃO
De acordo com a metodologia utilizada
neste estudo, pode-se concluir que foram eficazes
R. Ci. méd. biol., Salvador, v.8, n.2, p.153-161, mai./ago. 2009
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sobre Streptococcus mutans, Staphylococcus aureus,
Enterococcus faecalis, Pseudomonas aeruginosa e
bactérias mesófilas facultativas da saliva os
enxaguatórios com peróxido de hidrogênio
(Peroxil), triclosam com flúor (Plax), clorexidina
a 0,12% (Periogard), a 2% (Paradontax).
Exibiram diferenças quanto ao espectro de ação
sobre as bactérias o cloreto de cetilpiridínio (Oral
B e Cepacol) e malva, flúor e xilitol
(Malvatricin).
Os enxaguatórios com timol (Listerine) e
associação de fluoreto de sódio, xilitol e timol
(Fluormint) não demonstraram atividade
antibacteriana. Como esses são antissépticos
bastante utilizados, recomenda-se a realização
de novos ensaios utilizando-se outra
metodologia.