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Princípios Metodológicos da
Atividade Física para Idosos
Marisete Peralta Safons e
Márcio de Moura Pereira
Faculdade de Educação Física – UnBFaculdade de Educação Física – UnB
Marisete Peralta Safons e Márcio de Moura Pereira
Princípios Metodológicos da
Atividade Física para Idosos
Faculdade de Educação Física – UnBFaculdade de Educação Física – UnB
BRASÍLIA
2007
Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região – CREF7
Endereço: SGAN 604 conjunto C – Clube de Vizinhança Norte
CEP: 70840-040 - Brasília-DF
Tel: (61)3321-1417 (61)3322-6351
Site: www.cref7.org.br
DIRETORIA EXECUTIVA:CONSELHEIROS:
PresidenteAlex Charles Rocha
Alexandre Fachetti Vaillant MoulinAlexander Martinovic
Alexandre Fachetti Vaillant Moulin
1º Vice-presidenteAndré Almeida Cunha Arantes
Paulo Roberto da Silveira LimaCristina Queiroz Mazzini Calegaro
Elke Oliveira da Silva
2º Vice-presidenteGeraldo Gama Andrade
Marcellus R. N. Fernandes PeixotoGuilherme Eckhard Molina
João Alves do Nascimento Filho
1º SecretárioJosé Ricardo Carneiro Dias Gabriel
Marcelo Boarato MeneguimLúcio Rogério Gomes dos Santos
Luiz Guilherme Grossi Porto
2ª SecretáriaMarcellus Rodrigues N. Fernandes Peixoto
Elke Oliveira da SilvaMarcelo Boarato Meneguim
Márcia Ferreira Cardoso Carneiro
1º TesoureiroPaulo Roberto da Silveira Lima
José Ricardo Carneiro Dias GabrielRamón Fabián Alonso López
Ricardo Camargo Cordeiro
2º TesoureiroTelma de Oliveira Pradera
Alex Charles RochaWaldir Delgado Assad
Wylson Phillip Lima Souza Rêgo
COMISSÃO EDITORIAL:
Alexandre Fachetti Vaillant Moulin
Cristina Quiroz Mazzini Calegaro
Márcia Ferreira Cardoso Carneiro
Márcio de Moura Pereira
Telma de Oliveira Pradera
Universidade de Brasília – UnB
Faculdade de Educação Física – FEF
Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos – GEPAFI
Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro – Gleba B – Asa Norte
CEP: 70910-970 Tel.: 3307 – 2252
Site FEF: www.unb.br/fef
Blog GEPAFI: http://gepafi.blogspot.com
Diretor: Prof. Dr. Jônatas de França Barros
Vice Diretor: Prof. Dr. Jake do Carmo
Chefe do Centro Olímpico: Profa. Dra. Marisete Peralta Safons
Coordenador de Graduação: Prof. Dr. Alexandre Rezende
Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação: Profa. Dra. Ana Cristina de David
Coordenador de Extensão e Atividades Comunitárias: Prof. Dr. André T. Reis.
Coordenador de Prática Desportiva: Prof. William Passos
Editores
CREF/DF e FEF/UnB/GEPAFI
Autores
Marisete Peralta Safons
Doutora em Ciências da Saúde pela UnB
Márcio de Moura Pereira
Mestre em Educação Física pela UCB
Editoração Eletrônica
Aderson Peixoto Ulisses de Carvalho
Revisão
Fernando Borges Pereira
Publicação
CREF7
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
Safons, Marisete Peralta.
Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos / Marisete Peralta
Safons; Márcio de Moura Pereira - Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007.
110 p.:il.
ISBN 978-85-60259-02-1
1. Educação física para idosos. 2. Metodologia do ensino. 3. Esporte e
educação.
I. Pereira, Márcio de Moura. II. Título.
CDU 796.4-053.9
Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Jeane Ramalho CRB1/1225
SUMÁRIO
UNIDADE 1 – NOÇÕES DE DIDÁTICA ................................................................................7
1.1. Planejar é Preciso ............................................................................................................8
1.2. Pilares do Planejamento.................................................................................................13
1.3. Reflexões Finais ............................................................................................................16
UNIDADE 2 – O PAPEL DO PROFESSOR: QUEM ENSINA? ...........................................17
2.1. Competências necessárias a um educador de idosos.....................................................18
2.2. Reflexões Finais ............................................................................................................26
UNIDADE 3 – OBJETIVOS: POR QUE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA IDOSOS?...............27
3.1. Propostas pedagógicas de um programa para idosos.....................................................28
3.2. Objetivos em um Plano de Curso para idosos...............................................................32
3.3. Reflexões Finais ............................................................................................................35
UNIDADE 4 – FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: QUEM É O ALUNO
IDOSO? ....................................................................................................................................36
4.1. Epidemiologia do Envelhecimento................................................................................37
4.2. Fisiologia do Envelhecimento .......................................................................................41
4.2.1. Um novo paradigma para o envelhecimento..........................................................41
4.3. Fisiopatologia do envelhecimento: doenças prevalentes...............................................43
4.3.1. Doenças Cardiovasculares......................................................................................44
4.3.2. Doenças Ortopédicas e Reumatológicas.................................................................45
4.3.3. Doenças Metabólicas..............................................................................................47
4.3.4. Quedas: doença ou sintoma? ..................................................................................49
4.4. Reflexões Finais ............................................................................................................52
UNIDADE 5 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO: O QUÊ PRESCREVER PARA IDOSOS? 53
5.1. Prescrição do exercício para o idoso .............................................................................54
5.1.1. Princípios da prescrição..........................................................................................55
5.1.2. Orientações gerais para uma prescrição .................................................................57
5.1.3. Escala de Borg no controle da Intensidade do Exercício .......................................60
5.1.4. Orientações específicas para uma prescrição .........................................................62
5.2. Cuidados com as doenças prevalentes e riscos durante a aula ......................................82
5.3. Reflexões Finais ............................................................................................................83
UNIDADE 6 – METODOLOGIA DE TRABALHO ..............................................................84
6.1. Estratégias ou métodos de trabalho ...............................................................................85
6.2. Trabalhando a Aptidão Física com segurança...............................................................87
6.3. Avaliando resultados de um programa..........................................................................88
6.4 Recursos .........................................................................................................................96
6.4.1. Espaço Físico..........................................................................................................96
6.4.2. Equipamentos e Materiais ......................................................................................96
6.4.3. Secretaria ................................................................................................................98
6.4.4. Parcerias .................................................................................................................99
6.5. Emergências: Primeiros Socorros..................................................................................99
6.6. Reflexões Finais ..........................................................................................................102
7. BIBLIOGRAFIA................................................................................................................103
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 1 – NOÇÕES DE DIDÁTICA
Apresentação Nesta unidade demonstraremos que um professor eficaz
planeja, organiza e se mantém um passo à frente. Começaremos contextualizando a
prática pedagógica de quem trabalha com atividade física para idosos dentro das
dimensões históricas e sociais das quais estes alunos provêm. Depois passaremos à
conceituação dos pilares do planejamento, identificando cada ator ou atividade do
processo pedagógico.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
• Localizar o ensino de atividades físicas para idosos enquanto prática
pedagógica, visando à educação e à saúde dos alunos;
• Entender a importância do ato de planejar;
• Reconhecer os pilares do planejamento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 7
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
1.1. Planejar é Preciso
O professor que assume um grupo de idosos para orientar atividades físicas
precisa saber que seu trabalho está inserido em uma realidade com fortes
componentes históricos e sociais.
Historicamente, seu aluno faz parte de uma população que nasceu na
primeira metade do século XX. Ele faz parte da primeira geração industrial brasileira,
que veio de um Brasil rural, agrícola, que se urbanizou e se modernizou a uma
velocidade astronômica. Este aluno vem de um país com altas taxas de
analfabetismo, alguns deles inclusive permaneceram analfabetos e tornaram-se
parte do grupo de idosos, que hoje freqüenta os programas de atividades físicas
comunitários.
Nestes grupos também não é raro descobrir que, mesmo para quem tem
formação superior, a escolarização foi um processo tão penoso quanto para a
maioria: alguns não tinham escolas onde moravam, outros não tiveram dinheiro para
manterem-se na escola, outros se mudaram tantas vezes acompanhando a família
em busca de emprego que perderam anos de estudo, enquanto outros, por
necessidade ou falta de oportunidade, ainda permaneceram na roça até a idade
adulta e não puderam ir à escola.
No aspecto social é preciso lembrar que enquanto o Brasil buscava seu
desenvolvimento do ponto de vista global, individualmente também os cidadãos
buscavam crescimento. Essa geração, hoje idosa, trabalhou muito: construiu as
grandes fábricas, as grandes estradas, as grandes hidrelétricas, as grandes
metrópoles deste país. Esta geração mudou a capital federal, transformou a
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 8
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
agricultura em agroindústria. Essas pessoas trouxeram a televisão para o país e
foram os primeiros a ver o Brasil ganhar uma copa do mundo de futebol. São filhos
de uma guerra mundial e viveram a maior parte da vida em uma ditadura, mas
também foram os primeiros a derrubar um presidente, a lutar por eleições diretas,
defender o divórcio, lutar pela igualdade feminina e pelos direitos humanos, contra o
racismo, contra a exclusão...a favor da natureza.
Essa geração realmente trabalhou muito, lutou, mudou a cara do Brasil... e se
aposentou.
E o corpo destes indivíduos?
O corpo desta geração foi excluído: “coisificado” pelas ciências da saúde,
adestrado pela educação, alienado pela política, “demonizado” pela religião. Objeto
de trabalho, instrumento de transporte e palco de conflitos. Este corpo não teve
acesso à educação física escolar na infância e adolescência (nem no ensino
noturno, que boa parte freqüentou, normalmente não foram ministradas aulas de
educação física) e na idade adulta este corpo não teve tempo para se exercitar,
nem para o jogo, o esporte ou o lazer.
Este corpo aos sessenta anos espoliado, cansado, frágil e com um repertório
pequeno de movimentos (só faz bem os movimentos relacionados ao trabalho).
Muitas vezes este corpo apresenta-se com doenças associadas ao sedentarismo
(obesidade, hipertensão, cardiopatias, colesterol alto, diabetes tipo II, “reumatismos”)
e, normalmente, com dores no corpo, muita dor (na coluna, nas pernas, nos braços,
na cabeça...). Isso sem contar outras dores, tais como a da solidão, do abandono,
da pobreza, da falta de atendimento especializado, do desrespeito a direitos básicos
ou da violência onipresente.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 9
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
O professor que assume um grupo de idosos para orientar na prática de
exercícios físicos precisa ter essas realidades bem claras ao propor as atividades. É
preciso saber que nenhum exercício proposto se reduz ao ato mecânico de mover
um braço ou uma perna.
É preciso ter claro que cada movimento é, na verdade, uma possibilidade de
resgate da infância, redescoberta da corporeidade, liberação de afetos, superação
de dores, permissão para o prazer de viver...
A possibilidade de viver uma vida plena a partir dos sessenta anos já é hoje
uma realidade. E ninguém sabe ainda onde isso termina: o número de idosos
saudáveis, ativos e produtivos, muitos com mais de 100 anos, cresce na mesma
proporção em que se fazem investimentos em atividade física, saúde, educação,
segurança e inclusão.
E aí começa uma nova história, uma história da qual você professor faz parte.
Se o programa pode ser o espaço para inclusão social, educação para a saúde,
autonomia e cidadania, a atividade física será o meio através do qual o processo
educacional se dará em função desses objetivos. Portanto, precisa ser bem
planejada sob pena de não atingir os resultados, desperdiçando recursos e
frustrando expectativas.
No caso do aluno idoso, falhas no planejamento podem acarretar efeitos
adversos e, portanto, não é possível propor com segurança atividades baseadas em
“boas intenções” ou na “fé de que tudo vai dar certo”.
Desta forma, verifica-se que:
• Se no planejamento não foi prevista a socialização é bem provável que os
alunos venham ao programa por meses sem estreitarem os laços de amizade
e camaradagem (entram mudos, saem calados);
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 10
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• Se no planejamento a inclusão não for prevista é bem provável que em cada
atividade proposta alguns alunos se sintam excluídos (ioga é para as
mulheres, musculação é para homens, não sirvo para correr, branco não
consegue sambar...);
• Se no planejamento não for prevista a progressão é bem provável que os
alunos não percebam vantagem alguma em investir seu tempo em algo que
não apresenta resultados visíveis ou mensuráveis (a distância ou o tempo da
caminhada são os mesmos há um ano, o peso que levanto é o mesmo há
meses, o que ganhei com tanto trabalho, tempo e suor? Estas serão
perguntas freqüentes na mente desses alunos.);
• Se no planejamento não houver previsão de atividades que levem em conta a
saúde é bem provável que nenhuma melhora seja verificada neste aspecto (o
médico me disse que com exercício minha pressão - ou a glicose ou a dor -
melhoraria, mas já estou praticando há 5 anos e continuo na mesma!);
• E, não havendo previsão de riscos é bem provável que os alunos venham a
sofrer danos com a atividade proposta (desconforto psicológico, dor, lesão e
até morte!).
Você sabia que um infarto causado por exercícios mal planejados pode
acontecer até várias horas depois da prática, podendo levar à morte ou invalidez?
Você sabia que uma hipoglicemia causada por exercícios mal planejados
pode acontecer até várias horas depois da prática, muitas vezes à noite, caso em
que o idoso pode morrer dormindo?
Você sabia que uma crise de dor causada por exercícios mal planejados pode
acontecer até várias horas depois da prática, quando passa o efeito do aquecimento
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 11
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
e das endorfinas, levando o aluno muitas vezes ao leito durante semanas, sob
medicação cara e pesada?
Um professor que planeja levando em conta a realidade do aluno, procurando
proporcionar o máximo de benefícios e ao mesmo tempo prevenir os riscos sabe que
muito do progresso de cada aluno se deve às atividades propostas por ele.
Um professor que planeja com seriedade também está seguro de que os
agravos nas doenças prévias dos alunos e até mesmo a morte de algum aluno ao
longo do ano podem ter qualquer causa (acaso, progressão natural da doença,
acidente...), mas não a sua imperícia ou omissão.
Já um professor que não se preparou e não planejou, jamais saberá porque
um aluno progrediu e outro não. Da mesma forma que não poderá afirmar com
segurança que uma morte não foi causada por imperícia de seu trabalho só porque
ela não aconteceu durante a aula.
Estas reflexões nos levam à conclusão de que Planejar é preciso, não só por
motivos técnicos, mas também éticos: consciência tranqüila e certeza do dever
cumprido não têm preço. Assim, um bom planejamento foca os recursos na direção
da conquista dos objetivos; evita que o trabalho se torne rotineiro e repetitivo;
previne os riscos do improviso e aumenta a segurança das práticas.
Em seu planejamento, um professor bem preparado deixa claro QUEM faz O
QUÊ e POR QUE, PARA QUEM e COMO, determinando ainda procedimentos de
AVALIAÇÃO para acompanhar o processo. Este professor sabe que a parte mais
importante de seu planejamento será a tarefa de executá-lo. Ele sabe também que o
“Plano A” pode não funcionar na hora, mas como tem tudo planejado, tem sempre
um “Plano B” preparado com antecedência. Assim nunca terá que improvisar e
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 12
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
dedicar-se-á mais aos alunos e à tarefa pedagógica, trabalhando sempre próximo ao
“ESTADO DA ARTE” profissional.
1.2. Pilares do Planejamento
O planejamento visa à ação. É um processo dinâmico de coordenação de
esforços e recursos, dentro das atividades de ensino e aprendizagem, que permite
ao professor prever e avaliar a direção da ação principal, determinando rumos de
ações alternativas, servindo ainda para auxiliar o professor a tomar decisões
racionais tecnicamente embasadas.
QQuueemm ffaazz
OO qquuêê ffaazz
PPaarraa qquueemm
ffaazz
PPoorr qquuee ffaazz
CCoommoo ffaazzeerr
((mmeettooddoollooggiiaa))
AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO
Ao planejar uma aula ou projeto
de atividades físicas para idosos é
preciso especificar claramente: quem
vai fazer o quê, para quem e por que,
a fim de determinar o como fazer (a
metodologia de trabalho). É preciso
também especificar instrumentos de avaliação para acompanhamento e controle da
atividade desde o início.
No caso de um programa de atividades físicas para idosos cada item
colocado acima corresponderia a:
• Quem faz é o profissional de educação física;
• Por que faz são as justificativas teóricas e os objetivos para o programa ou
para cada aula (saúde, educação, esporte, lazer, etc.);
• Para quem faz é o aluno idoso;
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 13
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• O quê faz são os conteúdos de Educação Física (atividade física, exercícios,
esporte, jogos, etc.);
• Como faz é a metodologia de trabalho adaptada para idosos, são as aulas
propriamente ditas, prescritas e ministradas aos idosos.
• Avaliação: instrumentos de acompanhamento e controle do aluno, da
atividade e do programa a fim de verificar questões como: quem é o aluno? Que
atividades podem ser desenvolvidas com ele neste lugar? O treinamento atingiu os
objetivos? Por quanto tempo serão mantidas as estratégias atuais? Serão
necessários ajustes? Onde?
Por ser dinâmico o planejamento não se resume ao plano de curso e aos
planos de aula, metodicamente executados e jamais alterados. Na verdade ele se
conclui por aproximações sucessivas, sofrendo influências o tempo todo da
realidade à qual está sendo aplicado. Por isso a avaliação está presente o tempo
todo, inclusive durante a execução das tarefas.
O planejamento deve expressar os objetivos do programa de exercícios e
antever os meios para alcançar os propósitos, racionalizando a utilização dos
recursos e otimizando a tarefa principal da educação que é o processo ensino-
aprendizagem.
Isto deve ser feito por escrito, em um caderno, pasta de planos avulsos (em
papel ou arquivadas em computador) ou em qualquer outro meio que o professor
considere válido para escrever, guardar, recuperar, estudar e refazer seus planos.
No exemplo do caderno, pode-se ter um caderno para cada disciplina que se
pretenda ministrar. As páginas iniciais são reservadas para o plano de curso e as
seguintes ficam destinadas aos planos de aula. O plano de curso é aquele mais
geral, que resume os principais pontos que nortearão o desenvolvimento do
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 14
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
programa e a confecção dos planos de aula. Já o plano de aula é mais específico e
deve prever o que acontecerá em cada aula.
Nas próximas unidades você aprenderá como estruturar o seu planejamento.
Há vários modelos, você não precisará seguir exatamente o sugerido neste curso,
mas há algumas informações que não podem faltar em um plano, independente do
modelo. Lembre-se: planejar é muito importante, faz parte das atribuições de um
professor. Além disso, pensar sobre cada aula é também uma forma de demonstrar
seu afeto e sua atenção para com seus alunos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 15
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
1.3. Reflexões Finais
Fim da primeira etapa! Após o contato com estas informações iniciais, é
importante, neste momento, parar e tentar perceber qual foi o entendimento que
você teve dos assuntos. A qual conclusão você chegou a respeito da visão da
atividade física para idosos como prática pedagógica? Qual foi o seu entendimento a
respeito da importância do ato de planejar? O que você aprendeu a respeito dos
pilares do planejamento? Diante destas reflexões, como você tem pensado a sua
prática com os idosos?
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 16
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 2 – O PAPEL DO PROFESSOR: QUEM ENSINA?
Apresentação Neste capítulo nos concentraremos no estudo das
competências necessárias a um professor que pretenda trabalhar com a educação
para idosos gerando aprendizagem significativa e de qualidade, utilizando o
movimento como instrumento pedagógico. Veremos também que a capacitação
profissional não é definitiva, tendo um prazo de validade a partir do qual se torna
obsoleta, sendo sempre necessário atualizar informações, conceitos, técnicas e
materiais: só isso manterá o professor dentro da realidade.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
• Reconhecer a importância da capacitação profissional para o trabalho com
idosos;
• Descrever as competências básicas necessárias a quem trabalha com
atividades físicas com idosos;
• Discutir questões relativas a aprofundamento técnico e teórico, atuação
reflexiva, educação continuada, produção de conhecimento, e comunicação
pedagógica.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 17
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
2.1. Competências necessárias a um educador de idosos
A formação do professor que trabalha com educação física deverá priorizar o
desenvolvimento de certas competências importantes para o trabalho esportivo
voltado para qualquer idade, mas que se tornam indispensáveis no caso do
professor que atenda a idosos.
Medeiros (2004) aponta seis competências necessárias ao profissional que
orienta a prática de atividades físicas:
1. Conhecimento da educação física no contexto da educação e da
sociedade
2. Conhecimento técnico-teórico-filosófico a respeito da pessoa humana
3. Capacidade reflexiva para analisar os diversos fenômenos que
compõem a prática cotidiana
4. Capacidade de realizar sua formação continuada
5. Capacidade de produzir conhecimento
6. Capacidade de comunicar-se com seus interlocutores
Com o objetivo de prestar sempre o melhor atendimento no trabalho com
idosos, cada uma dessas áreas de competência da proposta de Medeiros pode ser
objeto permanente de estudo e aprofundamento por parte do professor.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 18
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
1. Conhecimento da Educação Física no contexto da Educação e da
Sociedade
A Atividade Física realizada separadamente do processo maior de Educação
do aluno acaba por se reduzir a uma prática alienada. A Educação Física é um elo
na cadeia maior da Educação (outros conteúdos, outras disciplinas), da Saúde
(outros serviços na área da saúde física, mental e social) e da Formação do
Cidadão.
Por isso é sempre bom ter em mente que embora o Exercício promova
Educação e Saúde, ele sozinho, NÃO EDUCA TOTALMENTE, NEM CURA OU
PREVINE TODOS OS MALES.
O professor precisa ter conhecimentos mínimos das áreas relacionadas ao
seu trabalho e das possibilidades de orientação e encaminhamento a fim de fazer de
suas aulas um efetivo momento de educação. Sem tais conhecimentos sua prática
se torna isolada, afastada da realidade, reduzindo-se ao papel de “distrair os
idosos”, “tirá-los de casa”, “leva-los para tomar sol”.
Sem saber onde a atividade física se insere no contexto da educação e da
sociedade o professor não utiliza seu potencial, faz um trabalho alienado e ainda
oferece à população idosa um serviço que não gera benefícios maiores de saúde em
longo prazo, nem autonomia, inclusão social ou cidadania.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 19
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
2. Conhecimento Técnico-Teórico-Filosófico a respeito da pessoa
humana
O professor que vai trabalhar Atividades Físicas com idosos precisa
desenvolver um arsenal de conhecimentos para compreender questões relacionadas
à corporeidade do idoso.
Do ponto de vista técnico é necessário ter formação básica em educação
física (anatomia, fisiologia geral e do exercício, didática, psicologia da
aprendizagem), conhecimentos de Saúde (epidemiologia, fisiopatologia, saúde
pública), Domínio do Esporte ou Atividade que pretende ensinar, conhecimentos de
Administração Esportiva, conhecimentos de Psicologia aplicada à atividade física ou
esportiva, etc.
Do ponto de vista teórico e filosófico é preciso ter uma compreensão mais
ampla da realidade na qual seu trabalho está inserido. Daí serem necessários
conhecimentos mínimos de história, sociologia, antropologia, filosofia, ética, política,
etc.
Tudo isso auxiliará o professor a entender os mecanismos da EXCLUSÃO DO
IDOSO em nossa sociedade e a propor alternativas viáveis para reverter essa
situação a partir do seu trabalho com exercícios físicos, auxiliando o idoso em seu
trabalho de se encontrar como SER HUMANO IDOSO (cidadão, pai ou mãe de
família, amigo, amante, profissional, consumidor, CIDADÃO).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 20
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3. Capacidade Reflexiva para analisar os diversos fenômenos que
compõem a prática cotidiana
O professor precisa ser capaz de contextualizar os conteúdos, levando em
conta idade, sexo e condições físicas dos alunos; clima e outras características
geográficas do local em que as atividades são desenvolvidas; os aspectos culturais,
gostos regionais, etc. Deve também ser capaz de fazer referência a situações
concretas ao ensinar um exercício (tal movimento melhora tal atividade da vida
diária).
Deve ainda ser capaz de evitar a fragmentação do conhecimento, mostrando
que o exercício não é um fim em si, mas um meio, promovendo assim a
interdisciplinaridade e trabalhando os temas transversais.
4. Capacidade para Realizar a Formação Continuada
O conhecimento não é definitivo, a cada 3 ou 4 anos o volume de
conhecimento em todas as áreas de trabalho simplesmente DOBRA. Portanto, para
manter-se atualizado é preciso fazer releituras e atualizações constantes.
Para isso é preciso estudar sempre, ler muito (livros, revistas, jornais, da sua
área e de outras), assistir criticamente a filmes e documentários (e até novelas de
TV, pois para quem busca o conhecimento criticamente, qualquer “texto” pode iniciar
uma discussão produtiva).
Outra estratégia é conversar com outros professores, buscar supervisão ou
coordenação de colegas mais experientes, fazer visitas técnicas para conhecer
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 21
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
abordagens utilizadas pelos colegas, conversar com os alunos buscando ver a
realidade a partir dos olhares de quem já é idoso a fim de propor novas ações
focadas em suas necessidades.
5. Capacidade para Produzir Conhecimento
Estreitar a relação entre o ofício de ensinar e o hábito de pesquisar. Levar
para a discussão profissional (fóruns, encontros, seminários, congressos, cursos,
etc.) as dificuldades e soluções inovadoras observadas em sua prática pedagógica
socializando o conhecimento ou ainda lançando questões-problema para futuros
estudos.
O resultado imediato desta atitude se reflete em toda a classe profissional,
melhorando métodos e procedimentos, diminuindo riscos e contribuindo para o
sucesso profissional na forma de um melhor serviço à população.
Outros resultados na forma de publicação de artigos científicos e livros,
apresentação de trabalhos em congressos e elaboração de cursos também poderão
advir da introdução da atitude científica, curiosa, no ofício de ensinar.
6. Capacidade para Comunicar-se com seus interlocutores
É a utilização consciente e intencional dos recursos da FALA PEDAGÓGICA,
que pode ser entendida como um conjunto de discursos orais e corporais ou “não
verbais” (gestual, atitudinal, comportamental) colocado a serviço da dinamização dos
conteúdos. O professor não deve resumir sua fala aos conteúdos cognitivos, nem
apenas a comandos verbais: é preciso falar ao aluno por inteiro.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 22
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
No trabalho com idosos a atenção a esse “diálogo pedagógico” pode explicitar
questões interessantes a respeito da formação do professor, gerando algumas
situações problema.
Há, por exemplo, o caso do professor desatualizado para o trabalho com
idosos, mas carismático, com grande habilidade na utilização da fala oral sempre
acompanhado por uma multidão de alunos entusiasmados. Considere que nesta
situação o professor está feliz, satisfeito com seu desempenho e os alunos também,
absolutamente satisfeitos com o trabalho do qual fazem parte. Onde está o
problema? Do ponto de vista motivacional, do talento verbal do professor,
absolutamente nenhum, boa parte dos professores do mundo trabalha para atingir
este nível de desempenho na “fala oral”.
O problema situa-se em outro aspecto do “discurso”, aquele denominado não-
verbal. É preciso lembrar que este professor é um professor de educação física, que
o aluno matriculou-se em um programa de educação física e que, portanto, no
“diálogo pedagógico” além de se “falar às emoções e ao intelecto” do aluno, não se
pode esquecer de “falar ao corpo”, aos ossos, articulações e músculos, ao coração,
artérias e sangue, aos hormônios e neurotransmissores.
Se este diálogo falhar, todo o processo pedagógico falhará e no final o próprio
corpo do aluno denuncia esta falha, este fracasso pedagógico, “falando” durante a
avaliação.
É nesta hora que, sem utilizar uma única palavra da fala oral, o aluno diz que
não melhorou a flexibilidade, a força, a capacidade aeróbia, o equilíbrio, a
coordenação, a pressão arterial ou o peso. Nesta hora o professor precisará ser
muito bom na “fala oral” para explicar ao aluno por que, depois que ele veio a todas
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 23
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
as aulas e participou de todas as atividades, os resultados prometidos não foram
atingidos.
No extremo oposto temos o professor extremamente capacitado tecnicamente
para “falar” com todas as estruturas anatômicas e funcionais através do movimento,
meticulosamente planejado e acompanhado, mas que “fala pouco” com o aluno do
ponto de vista verbal. Considere que nesta situação o professor está feliz,
plenamente satisfeito com seu desempenho e os alunos (normalmente 1 ou 2)
também completamente satisfeitos com o atendimento que recebem. Onde está o
problema? Do ponto de vista técnico, fisiológico, absolutamente nenhum, o aluno
está mais forte, mais flexível, mais resistente ao esforço aeróbio, mais saudável. Boa
parte dos professores do mundo trabalha e estuda muito até atingir este nível de
competência para “falar com o corpo”.
O problema situa-se em outro aspecto do “discurso”, aquele denominado
verbal. É preciso lembrar que este professor é um professor de educação física, que
o aluno matriculou-se em um programa de educação física e que, portanto, no
“diálogo pedagógico” além de se “falar ao corpo” do aluno, não se pode esquecer de
“falar às emoções e ao intelecto”, tornando a prática motivante, envolvente, lúdica,
divertida, prazerosa, gregária, comunitária (lembre-se que a solidão, a depressão e o
isolamento são problemas prevalentes em idosos, portanto, privar o idoso da
oportunidade de participar de um grupo, de estreitar laços e de fazer amizades
somente se justifica se suas condições de saúde exigirem isolamento ou
atendimento individualizado).
Se este diálogo falhar, todo o processo pedagógico falhará e no final o próprio
corpo do aluno denuncia esta falha, este fracasso pedagógico, “falando” com sua
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 24
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
ausência às aulas ou durante a avaliação, relatando que não melhorou nos aspectos
psicossociais.
Estes dois exemplos são situações fictícias extremas, mas que podem levar o
professor que trabalha com idosos a reavaliar como tem explorado os diversos
aspectos de sua “fala pedagógica”, levando-o também a refletir sobre a necessidade
de investir parte dos esforços da educação continuada no desenvolvimento de
competências relacionadas às diversas opções de comunicação com seus alunos.
“SE VOCÊ NÃO ESTIVER SEMPRE PREPARADO, SEUS ALUNOS
SABERÃO!”
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 25
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
2.2. Reflexões Finais
Ao terminar esta unidade é preciso parar e refletir sobre alguns dos temas
abordados:
1 - o que você pensa a respeito da importância da capacitação profissional
para o trabalho com idosos?
2 - Como você se vê com relação às competências básicas necessárias a
quem trabalha com atividades físicas com idosos?
3 - Como você avalia os serviços prestados aos idosos em sua comunidade a
partir dos conhecimentos que agora possui a respeito da preparação profissional
para o exercício desta atividade?
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 26
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 3 – OBJETIVOS: POR QUE EDUCAÇÃO FÍSICA
PARA IDOSOS?
Apresentação Nesta unidade discutiremos algumas das questões teóricas
(pedagógicas, filosóficas e conceituais) relativas à proposição de atividades físicas
para idosos. O convite é para a reflexão a respeito dos rumos que um professor
pretende dar ao seu programa e às propostas educacionais que pretende defender
perante o aluno e a sociedade.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Situar sua prática pedagógica dentro do universo das políticas públicas, das
recomendações de organizações de saúde e do conselho profissional;
Refletir sobre os “por quês”, os objetivos maiores que fundamentam as suas
propostas educacionais para os idosos;
Discutir os possíveis entendimentos de questões como autonomia,
independência física e envelhecimento ativo;
Redigir parte de um Plano de Curso para uma proposta de uma atividade
física para idosos, justificando a proposta e especificando alguns objetivos.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 27
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3.1. Propostas pedagógicas de um programa para idosos
Um dos grandes desafios da Educação Física hoje é atuar preventivamente
na comunidade, combatendo o sedentarismo e melhorando a saúde da população
(CONFEF, 2002).
De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o
profissional da Educação Física deverá lançar mão de todos os meios formais e não-
formais (exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura,
relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e um estilo de vida ativo.
Este documento sugere que o trabalho educativo a partir do movimento deve
estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o
Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da
Humanidade como a inclusão dos idosos e das pessoas portadoras de
necessidades especiais, o combate à exclusão social, a promoção da paz, a defesa
do meio ambiente e a educação para a cidadania, democracia, convivência com a
diversidade (étnica, sexual, cultural, religiosa, etc.).
Também a Organização Pan-americana da Saúde (2005), através de sua
representação no Brasil, divulgou o documento “Envelhecimento ativo: uma política”
de saúde, no qual procura dar informações para a discussão e formulação de planos
de ação que promovam um envelhecimento saudável e ativo, visando sensibilizar
todos aqueles responsáveis pela formulação de políticas e programas ligados ao
envelhecimento (governos, entidades não-governamentais, setor privado).
Segundo este documento “manter a autonomia e independência durante o
processo de envelhecimento é uma meta fundamental para indivíduos e
governantes”. Alerta também que no conceito de envelhecimento ativo, a palavra
ativo não se refere unicamente a manter o idoso fisicamente ativo e saudável.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 28
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Embora estes também sejam objetivos a se perseguir, é preciso ter o entendimento
de um idoso ativo no sentido mais amplo de ser participativo.
Um programa deve se preocupar em preparar as pessoas idosas para a
participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis,
e não somente para serem fisicamente ativas. É preciso educá-las para saber que
podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares, companheiros,
comunidades e países - mesmo estando aposentadas, mesmo com alguma doença
ou alguma necessidade especial.
Na legislação brasileira há artigo específico com relação à atuação do poder
público quanto "ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e
atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso
e estimulem sua participação na comunidade" (Lei nº 8.842/1994 – art. 10 –
inciso VII - alínea e).
Estes posicionamentos de Conselho Profissional, Organização de Saúde e
Estado brasileiro deixam claro que não há dúvida quanto à necessidade de se
implantar programas de atividades físicas para idosos.
Do ponto de vista acadêmico, entretanto, surgem questões a respeito das
questões pedagógicas, levando diversos estudiosos a se debruçar sobre o problema
de quais seriam as características destas atividades, que fundamentos teóricos e
que objetivos específicos embasariam e justificariam uma proposta de programa de
atividades físicas para idosos.
Para OKUMA (2004) uma proposta pedagógica de atividades físicas para
idosos deve situar seus objetivos para além das questões da aptidão física e da
saúde, que são colocadas como meios e não como fins. O foco real da proposta
deve ser “o desenvolvimento do ser idoso” e para este trabalho sugerem-se sete
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 29
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
princípios que têm por base uma Educação que abra para o aluno idoso um leque
de perspectivas para:
1. o autoconhecimento
2. a autonomia
3. o aprender contínuo e atualização
4. a descoberta de competências
5. ser responsável
6. usufruir do meio ambiente
7. a fruição e prazer
Segundo esta pesquisadora a educação física é:
“... processo educativo que ensina às pessoas os conhecimentos sobre
movimento humano e os procedimentos/habilidades para melhorá-lo
e/ou mantê-lo, de forma a otimizar suas potencialidades e possibilidades
motoras de qualquer ordem e natureza, adaptando-se e interagindo com
o meio ambiente, para ter qualidade de vida.”
Numa outra abordagem, mas dentro de foco semelhante, MIRANDA, GEREZ
e VELARDI (2004) sugerem ser importante superar o paradigma biomédico na hora
de se propor um programa de exercícios visando autonomia para idosos.
Dentro da visão biomédica, autonomia é sinônimo de independência física:
basta um idoso manter-se fisicamente independente (cuidando de sua saúde
biológica e treinando suas capacidades físicas) para ser considerado autônomo.
Embora não neguem a importância da independência física para a autonomia, as
autoras convidam o professor a refletir se uma prática centrada no paradigma
biomédico não estaria limitando as possibilidades educacionais de um programa de
atividades físicas para idosos. Levantam a questão de que, na hora de propor
atividades para idosos, uma abordagem que conceba saúde de maneira mais
abrangente possivelmente ajude o professor a ampliar os limites do que pode ser
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 30
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
considerado ser autônomo, incluindo até mesmo o idoso fisicamente frágil e o idoso
deficiente físico como passíveis de alcançar autonomia.
Esta abordagem é baseada no conceito de Promoção da Saúde
(biopsicossocial) e utiliza a educação física como uma das estratégias de Educação
em Saúde. Esta visão estimula o professor a propor atividades que ajudem o aluno a
descobrir recursos para ser autônomo e “continuar a manter o controle sobre vida,
mesmo na presença de alguma limitação física... Neste caso a autonomia passa a
ser concebida não só a partir da independência física, mas como algo que envolve
reflexão, tomada de decisão e escolhas conscientes”.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 31
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3.2. Objetivos em um Plano de Curso para idosos
As reflexões que se fazem sobre educação e sobre a importância da atividade
física como meio na educação de idosos autônomos precisam, no final, se
articularem com as atividades que pretendemos desenvolver dentro de um programa
e isto se faz através da confecção de um Plano de Curso.
É durante a redação do Plano de Curso que o professor vai se questionar a
respeito de como tornar importante e estimulante cada atividade e conteúdo para a
vida diária de seu aluno, como dividir com eles a filosofia, a visão de mundo e
concepção de envelhecimento que embasam a proposta pedagógica. É durante a
redação deste Plano também que o professor vai se perguntar a respeito de que
espaço físico, equipamentos materiais necessitará. Também é neste momento
que ele vai se questionar a respeito de como avaliará se o programa está dando
resultado ou não.
Ao redigir o plano de curso, o professor muitas vezes se perde ou não articula
os diversos componentes, esquecendo que o plano de curso resume e organiza os
objetivos e as grandes ações para um período relativamente longo de tempo, como
um semestre ou ano. Esta confusão pode ser evitada seguindo-se algumas regras
simples.
Primeiro é importante saber que, no Plano de Curso, a fundamentação teórica
é o centro da redação. Portanto a justificativa, os objetivos gerais e os objetivos
específicos devem estar explicitados claramente, enquanto que conteúdos,
estratégias, avaliação, equipamentos, etc. precisam apenas ser sugeridos em linhas
gerais (pois serão mais bem descritos nos planos de aula).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 32
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A justificativa situa o programa, atividade ou modalidade proposta dentro de
uma proposta pedagógica, de uma filosofia de trabalho, de uma visão de mundo e
de envelhecimento que nortearão o trabalho.
Os Objetivos Gerais referem-se às grandes alterações que se pretende
implementar junto aos alunos ao longo de um período de treinamento (um trimestre,
um semestre ou um ano).
Já os Objetivos específicos apontam para alterações mais exatas, mais
definidas (fisiológicas, psicológicas, sociais) que se quer verificar em cada aluno
durante as aulas ou dentro de uma unidade do curso. O seu enunciado já deve levar
o professor a pensar em conteúdos e estratégias, pois neles já se consegue divisar
aspectos mais operacionais, instrucionais, do trabalho que se pretende realizar.
Ao redigir os objetivos é preciso estar atento ao fato de que devem especificar
os comportamentos esperados do aluno (e não do professor) e devem também
especificar claramente a intenção do professor (não dando margem a muitas
interpretações).
Para redigir um Plano de Curso o professor deve conhecer bem o aluno
(sua realidade, suas expectativas e necessidades), precisa estar bem
fundamentado teoricamente, para justificar e propor objetivos para o trabalho, e
necessita estar bem fundamentado tecnicamente (para propor atividades,
escolher estratégias, metodologias e avaliação, prever necessidades de espaço,
equipamentos, materiais e ainda estar preparado para prevenir riscos e acidentes).
O planejamento deve considerar ainda uma análise detalhada do espaço físico em
que acontecerão as aulas. Conhecer previamente o espaço onde serão
desenvolvidas as atividades é fundamental para um bom planejamento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 33
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
MODELO DE PLANO DE CURSO
Embora existam modelos diferentes para redigir um Plano de Curso, observe
na sua redação se foram contempladas as informações mínimas necessárias
explicitadas no esquema abaixo:
PLANO DE CURSO
Atividade proposta:
Público alvo:
Professor:
Duração do treinamento: semanas, meses...
Justificativa: defesa teórica na necessidade e viabilidade do programa dentro de
uma proposta pedagógica
Objetivos: gerais e específicos explicitando resultados que se pretenda observar
Conteúdos a serem adquiridos e desenvolvidos pelos alunos para alcançarem os
objetivos
Metodologia e recursos que facilitem o processo de ensino e aprendizagem
Avaliação: Instrumentos de que possibilitem verificar, de alguma forma, até que
ponto os objetivos foram alcançados.
CRONOGRAMA
AULA
Nº
Conteúdos DATA
1
2
3
4
5
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 34
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
3.3. Reflexões Finais
Essa parte do curso trabalhou com algumas noções bem teóricas por um lado
e outras diretamente ligadas à prática por outro e ambas serão importantes no ato
de planejar. Talvez alguns conceitos que ainda não lhe sejam familiares, pois os
tópicos relacionados a conteúdos, metodologia, recursos e avaliação serão objeto de
estudo aprofundado nas próximas unidades, eles foram apresentados sumariamente
nesta unidade com a finalidade de permitir que você já começasse a pensar em um
esboço do seu Plano de Curso.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 35
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 4 – FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO:
QUEM É O ALUNO IDOSO?
Apresentação Nesta unidade conheceremos melhor o nosso aluno. Quem
é o idoso em nossa sociedade? Será verdade que o número de idosos está
aumentando? Como é que uma pessoa envelhece? O indivíduo que envelhece é
mais sujeito a doenças? Discutiremos essas questões a partir da epidemiologia, da
fisiologia e da patologia, numa abordagem voltada para as questões do
envelhecimento.
Conhecer o aluno é fundamental para o planejamento. Sem esse
conhecimento, corre-se o risco de pensar primeiro na atividade e depois procurar
que tipo de idoso se encaixa nela: o que acaba por se tornar uma atividade de
exclusão na prática. Portanto, é a partir do conhecimento do aluno, de sua realidade
e de suas necessidades que se começa a traçar os objetivos de cada aula, e é a
partir do aluno que se escolhe conteúdos e metodologia de trabalho.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Analisar a realidade na qual está inserido o seu aluno idoso, a partir das
noções teóricas de epidemiologia aplicada ao envelhecimento;
Compreender os mecanismos pelos quais o processo de envelhecimento atua
sobre o seu aluno idoso, a partir das noções teóricas de fisiologia aplicada ao
envelhecimento;
Conhecer as principais doenças a que estão sujeitos seus alunos idosos, a
partir das noções teóricas de patologia aplicada ao envelhecimento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 36
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.1. Epidemiologia do Envelhecimento
No Brasil, os idosos representam 8,5% do total da população. Caso sejam
mantidas as taxas atuais de crescimento, provavelmente até 2025 o país contabilize
cerca de um quinto de sua população no grupo dos idosos. Isso gera, desde já,
demandas para os Sistemas de Saúde, Previdenciário e também para toda a
sociedade, devido às características e necessidades especiais desse segmento,
mormente no que tange à atividade física (OLIVEIRA, 2002).
Além das perdas sociais e cognitivas, ao envelhecimento está associada uma
série de outras perdas nos níveis antropométrico, neuromotor e metabólico, capazes
de comprometer seriamente a qualidade de vida do idoso (MAZZEO et al., 1998).
Os efeitos dessas perdas começam a se fazer notar a partir dos 50 anos de
idade, ocorrendo a uma taxa aproximada de 1% ao ano para a maior parte das
variáveis da aptidão física. Na antropometria detecta-se aumento do peso corporal,
diminuição da estatura e aumento da gordura corporal, em detrimento da massa
muscular e da massa óssea. O envelhecimento é também acompanhado de menor
desempenho neuromotor, explicado pela diminuição no número e no tamanho das
fibras musculares, levando a uma perda gradativa da força muscular. Quanto às
variáveis metabólicas, o principal efeito deletério é sobre a potência aeróbia que
diminui mesmo nos idosos ativos (MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000).
A fraqueza muscular pode diminuir a capacidade para realizar as atividades
da vida diária, levando o idoso à dependência. Além disso, conforme se perde força
aumenta-se o risco de traumas em conseqüência das quedas. Resultados
semelhantes também são observados a partir de perdas significativas na
flexibilidade (BAUMGARTNER, 1998; GUIMARÃES, 1999).
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 37
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
As perdas na potência aeróbia também estão relacionadas à maior morbidade
e mortalidade por doenças crônicas e degenerativas, doenças metabólicas, infarto
agudo do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, demência, depressão, dentre
outras (NIEMAN, 1999).
Do ponto de vista epidemiológico, embora este quadro de perdas e sua
associação ao desenvolvimento de doenças crônicas e incapacidades seja
prevalente na população idosa de todo o mundo, isso não quer dizer que esta seja a
única via pela qual esta população chega à velhice.
Examinado sob a ótica puramente biológica, sabe-se que o envelhecimento é
um processo natural e acontece com todas as espécies de forma semelhante.
Entretanto, sabe-se também que, no caso do ser humano, este processo é
fortemente influenciado pelos aspectos psicológicos, sociais, históricos, filosóficos,
políticos, antropológicos, que fazem o ser humano ser quem ele é hoje, viver como
vive hoje, envelhecer como envelhece hoje.
Este modo de “ser humano” revela-se exteriormente como um conjunto de
crenças, valores, atitudes, posturas e hábitos de vida que caracterizam cada grupo
social e cada população humana. Já é evidente hoje que alguns grupos envelhecem
seguindo uma via diferente daquela que termina em doença, incapacidade ou perda
de autonomia. O diferencial entre as pessoas pertencentes a estes grupos é que,
embora elas apresentem alguma perda, elas envelheceram de maneira saudável e
apresentam níveis de autonomia significativamente superiores aos do que se
esperava verificar em idosos antigamente (CANÇADO e HORTA, 2002).
Uma explicação provável para esta realidade relaciona-se ao estilo de vida
dessas pessoas. Verifica-se que esses idosos de alguma forma (consciente ou
inconscientemente) fizeram algumas escolhas e promoveram algumas alterações no
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 38
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
seu estilo de vida que correspondem exatamente àquilo que é preconizado
atualmente, em todas as áreas da saúde, como fundamental para se viver muito e
com qualidade.
50%
20%
20%
10%
Hábitos
Genética
Ambiente
Sist. Saúde
As alterações no estilo de vida, como a adoção de hábitos sadios tais como a
inclusão de exercícios físicos e alimentação balanceada; ao lado da extinção de
outros hábitos nocivos à saúde, tais como o estresse, o excesso de calorias, o
tabagismo e o alcoolismo estão hoje entre as principais orientações para uma
melhor qualidade de vida e maior longevidade. Essa prescrição fundamenta-se em
um estudo realizado por PAFFENBARGER et al. (1993), comparando qual o peso
dos hábitos de vida no adoecimento e
morte de 17.000 universitários
acompanhados pelo tempo de 11 a 15
anos. Verificou-se que 50% dos
adoecimentos e óbitos nesta população
estiveram relacionados a alterações
negativas nos hábitos de vida adotadas
após a saída da universidade (tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade).
Este estudo foi repetido no mundo todo, avaliando boa parte das doenças
conhecidas e a conclusão foi a mesma: os hábitos de vida têm um grande peso no
processo que leva as pessoas a adoecerem e morrer.
Dentre os novos hábitos a serem adquiridos, a participação em atividade
física regular desempenha importante papel. Está estabelecido que a maior parte
dos efeitos negativos atribuídos ao envelhecimento deve-se, na verdade, ao
sedentarismo, que leva ao desuso das funções fisiológicas por imobilidade e má
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 39
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
adaptação e não estão diretamente relacionados nem ao avançar dos anos ou com
o desenvolvimento das doenças crônicas (OLIVEIRA et al., 2001).
O envelhecimento favorece a implantação de um quadro de perdas e
incapacidades no idoso sedentário, mas a atividade física contribui diretamente para
a manutenção e incremento das funções do aparelho locomotor e cardiovascular,
amenizando os efeitos do desuso, da má adaptação e das doenças crônicas,
prevenindo parte dessas perdas e incapacidades (SINGH, 2002).
Verifica-se, portanto, que do ponto de vista epidemiológico e da saúde
pública, já existe consenso no reconhecimento dos benefícios advindos da prática
regular de exercícios físicos pelos idosos, tanto nos aspectos fisiológicos como
psicossociais, proporcionando melhorias significativas na auto-estima e na qualidade
de vida dessas pessoas.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 40
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.2. Fisiologia do Envelhecimento
4.2.1. Um novo paradigma para o envelhecimento
Para que se entenda a ação da atividade física no organismo de pessoas na
terceira idade, torna-se necessário compreender o quê, fisiologicamente, acontece
com o corpo humano que envelhece.
Autores como CANÇADO e HORTA (2002), consideram o sistema nervoso
central (SNC) o sistema biológico mais comprometido no processo de
envelhecimento, sendo o responsável pelas sensações, movimentos, funções
psíquicas entre outros, além das funções biológicas internas. O comprometimento
deste sistema preocupa pelo fato de não dispor de capacidade reparadora eficiente,
nem rápida, ficando este sistema sujeito ao processo de envelhecimento através de
fatores intrínsecos (genéticos, sexo, circulatório, metabólico, radicais livres, etc.) e
extrínsecos (ambiente, sedentarismo, hábitos de vida como, tabagismo, drogas,
radiações, etc.). Estes fatores acabam exercendo uma ação deletéria no organismo
ao longo do tempo.
MATSUDO (2001) atribui à evolução etária e ao sedentarismo a diminuição
da capacidade física das pessoas. Alterações psicológicas acompanham este
processo, como sentimento de velhice, estresse, depressão. A redução das
atividades físicas de vida diária também contribui para deteriorar o processo de
envelhecimento. Para esta autora, o desuso das funções fisiológicas é o principal
problema do envelhecimento.
HAYFLICK (1996), alerta, que diminuições e perdas são coisas distintas
porque dependem muito de como as percebemos:
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 41
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
"Com a idade, nossa pele pode perder sua suavidade e adquirir
rugas. Do ponto de vista da função da pele, que é encobrir nossos
órgãos e nos proteger do meio ambiente, não importa muito se nossa
pele é suave ou enrugada. O pessimista vê a mudança como negativa e
a classifica como perda; o otimista vê a mudança como positiva e a
chama de ganho. Da mesma forma o cabelo branco é uma mudança
normal da idade que não afeta a saúde. Se é uma perda ou um ganho,
depende do ponto de vista sob o qual este fato é vivenciado”.
Estas colocações nos fazem lembrar do estereotipo de que homens de
cabelos brancos são charmosos, enquanto que as mulheres, em sua grande maioria,
costumam recorrer a técnicas diversas no sentido de esconder o branco passar do
tempo sobre suas cabeças.
É preciso que se entenda que o envelhecimento por si só não é uma doença
e que a maior parte das pessoas idosas não tem uma saúde debilitada. O
envelhecimento está acompanhado de mudanças físicas e assim aumenta a
possibilidade de desenvolver enfermidades crônicas. Porém, a idéia de que tudo
piora na velhice é uma imagem negativa e estereotipada (HAYFLICK, 1996).
Na opinião de RAMOS (2002), o que está em jogo na velhice é a autonomia,
a capacidade de determinar e executar seus próprios desejos. Para este autor, a
capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde e passa a ser
resultante da interação multidimensional entre saúde física, saúde mental,
independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência
econômica. Qualquer uma dessas dimensões, se comprometida, pode afetar a
capacidade funcional do idoso. O bem-estar na velhice, ou saúde num sentido
amplo, seria o resultado do equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade
funcional do idoso, sem necessariamente significar ausência de problemas em todas
as dimensões.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 42
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A OMS define incapacidade como uma “restrição ou falta de capacidade para
realizar uma atividade da maneira ou dentro da amplitude considerada normal para
um ser humano”.
Diversos estudos revelam que o idoso tem menos medo de morrer do que se
tornar fisicamente dependente, conforme evidenciado por seu forte desejo de
permanecer independente (BUCHNER et al., 1992).
4.3. Fisiopatologia do envelhecimento: doenças prevalentes
De acordo com (NIEMAN, 1999), aproximadamente 85% das pessoas idosas
apresentam uma ou mais das seguintes doenças ou problemas de saúde, que
necessitam ser considerados no planejamento da atividade física para esta
população: Artrite e Artrose (48%); Hipertensão arterial (36%); Cardiopatias (32%);
Comprometimento da audição (32%); Comprometimentos ortopédicos (19%);
Catarata (17%); Diabetes (11%); Comprometimento visual (9%); Alzheimer (de 4 a
11%).
artrite
36
32 32
19 17
11 9
4
48
0
10
20
30
40
50
60
prevalência (%)
hipertensão
cardiopatias
audição
ortopédicas
catarata
diabetes
visuais
alzheimer
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4.3.1. Doenças Cardiovasculares
Doença Cardiovascular é a designação genérica para diversas doenças que
acometem o coração e os vasos sangüíneos. Dentro desta denominação se
encontram: a hipertensão arterial; a doença coronariana (ou doença cardíaca
coronariana), doenças cerebrovasculares, doenças vasculares periféricas, etc. Sabe-
se hoje que o colesterol alto e o sedentarismo representam riscos maiores para o
desenvolvimento dessas doenças que a obesidade e o tabagismo.
0
10
20
30
40
50
coesterolalto
sedentarism
o
obesidade
hipertensão
tabagism
o
Risco relativo: sedentarismo x cardiopatias
Perigos da hipertensão arterial
Dentre as doenças cardiovasculares, deve ser dado cuidado especial à
Hipertensão Arterial devido à sua morbidade (capacidade para desencadear outras
doenças).
A Pressão Arterial normal é de 120X80 mmHg (popularmente dito 12 por 8),
mas ela pode variar numa faixa que vai de 90X60 mmHg (ou 9 por 6) até 140X90 (ou
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14 por 9) mmHg e ainda ser considerada aceitável para aqueles sem outros fatores
de risco para doenças cardiovasculares.
O primeiro valor é denominado Pressão Arterial Sistólica (PAS ou pressão
máxima), ele torna-se perigoso para desencadear problemas cardiovasculares
quando está acima de 140 mmHg (acima de 14).
O segundo valor é denominado Pressão Arterial Diastólica (PAD ou pressão
mínima), ele torna-se perigoso quando está acima de 90 mmHg (acima de 9).
Quando pelo menos um dos valores está elevado, o indivíduo apresenta
hipertensão arterial (pressão alta).
4.3.2. Doenças Ortopédicas e Reumatológicas
As principais doenças ortopédicas e reumatológicas que atingem os idosos
são: osteoartrite, osteoporose, lombalgia e dor crônica.
a) OSTEOARTRITE OU OSTEOARTROSE
A osteoartrose (AO) é a forma mais comum de artrite. É uma doença crônica
que afeta as articulações, músculos e o tecido conjuntivo. Afeta mais pessoas do
sexo feminino (2/3 dos casos relatados) e é prevalente em idosos (70% apresentam
testes radiológicos positivos para a doença e, destes, pelo menos 50%
desenvolverão os sintomas clínicos).
Os sintomas mais comuns são: inflamação (dor, calor, rubor, edema), rigidez,
limitação de movimentos (seqüelas de calcificações, atrofias, etc), incapacidades
(diversos níveis). Tudo isso leva o idoso à:
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 45
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
• dor e rigidez por longos períodos;
• dificuldade para andar, subir escadas, levantar-se da cama ou cadeira,
entrar e sair de carro, carregar objetos;
• perda de independência e de qualidade de vida.
b) OSTEOPOROSE
A Osteoporose é definida como uma desordem esquelética que compromete
a força óssea e aumenta do risco de fratura das áreas afetadas. A força óssea
reflete a integração entre a densidade mineral óssea e a qualidade óssea. A
diminuição da força óssea indica que os ossos estão mais porosos, mais frágeis e,
portanto, mais fáceis de quebrar. Entretanto, até acontecer a primeira fratura a
pessoa não sabe que é portadora da doença, por isto a osteoporose é considerada
uma doença silenciosa.
A massa óssea do adulto reflete o acúmulo de tecido ósseo ocorrido durante
o crescimento. A massa óssea é avaliada através da densitometria óssea, um
exame que compara a massa óssea do indivíduo examinado com a média da
densidade mineral óssea de adultos jovens. O resultado é dado em T-Score que
mostra o quanto o indivíduo se aproxima ou afasta daquela média. Segundo a OMS
a osteoporose é definida quando o T-Score é igual ou inferior a -2,5, dentro dos
escores possíveis:
1. normal: T-Score ≥ −1,0
2. osteopenia: T-Score < −1,0 e > −2,5
3. osteoporose: T-Score ≤ −2,5
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 46
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
A doença progride lentamente e raramente apresenta sintomas. Se não for
avaliada a massa óssea a osteoporose será percebida apenas quando surgirem as
primeiras fraturas. Os locais mais comuns de fraturas são as vértebras. As fraturas
que se correlacionam com maior mortalidade e perda da independência são as
fraturas de quadril.
Apesar de acometer mais as mulheres idosas, por volta de 13 % dos homens
acima dos 50 anos podem apresentar algum tipo de fratura por osteoporose e as
fraturas de quadril nos homens associam-se a maior mortalidade do que nas
mulheres. Ou seja, as mulheres sofrem mais fraturas que os homens, mas os
homens morrem mais em decorrência destas fraturas.
c) DOR CRÔNICA
Sabe-se que a dor crônica é prevalente em idosos, podendo atingir até
71,5% destas pessoas em algumas populações. Vários estudos têm demonstrado
que o fenômeno da dor não depende apenas do grau de lesão, podendo ocorrer
inclusive na ausência de lesão orgânica (BROCHET et al., 1998; PEREIRA e
GOMES, 2004; HARTIKAINEN et al., 2005).
Os pontos de dor mais comuns são: Ombro, Cotovelo, Punho, Mão e Coluna
Lombar.
4.3.3. Doenças Metabólicas
Doença Metabólica é o termo genérico utilizado para as doenças causadas
por algum processo metabólico anormal. Uma doença metabólica pode ser
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congênita (devido a alguma anormalidade genética herdada) ou pode ser adquirida
(devido a alguma doença ou disfunção endócrina).
As doenças metabólicas mais comuns em idosos são:
• dislipidemias (colesterol e triglicerídeos);
• hiperuricemia (gota e hipertensão);
• distúrbios do metabolismo do ferro (anemia e sobrecarga de ferro);
• desequilíbrio hidroeletrolítico (desidratação, desequilíbrio do sódio e do
potássio);
• desequilíbrio ácido-básico (alcalose e acidose);
• transtornos do metabolismo da glicose (hipoglicemia, hiperglicemia e
diabetes) e
• síndrome metabólica.
As doenças metabólicas produzem sintomas diversos, que comprometem a
qualidade de vida e o desempenho nas atividades da vida diária. Sem os devidos
cuidados e tratamento, elas evoluem para estados mais graves e podem levar ao
óbito.
Durante o exercício, elas são as maiores responsáveis por tontura,
formigamento, fraqueza, visão turva, náusea, síncope, queda, parada cardíaca e
morte súbita.
O controle dessas doenças necessita da combinação de tratamento médico,
acompanhamento nutricional e da prática de exercícios físicos orientados.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 48
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
4.3.4. Quedas: doença ou sintoma?
As quedas e síncopes (desmaios) são muito comuns em idosos. As
estatísticas mostram que 35% dos idosos acima de 65 anos sofrem pelo menos 1
queda por ano. Já entre idosos acima de 80 anos, 45% sofre pelo menos 1 queda
por ano. Em pelo menos 10% dos casos, a queda resulta em FRATURA.
É importante observar sintomas como mal-estar, vertigem, desequilíbrio e
síncope em pessoas idosas porque eles podem resultar em queda e também porque
podem significar presença de situações que necessitam de cuidados especiais,
primeiros socorros ou encaminhamento para o médico:
• Crise hipertensiva;
• Ataque cardíaco;
• Hipotensão postural;
• Labirintopatia e outros distúrbios do equilíbrio;
• Hipoglicemia e hiperglicemia;
• Comprometimentos ortopédicos/osteoporose;
• Demência senil (Doença de Alzheimer).
Em idosos saudáveis as 4 principais causas de queda são as
hipotensões posturais, perdas neuromotoras, perdas neurossensoriais e efeitos de
medicações.
a) Hipotensão Postural
A hipotensão postural é a diminuição rápida da pressão arterial sistólica
(pressão máxima) em valores superiores a 20 mmHg ou da pressão diastólica
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 49
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
(pressão mínima) em valores superiores a 10 mmHg, acompanhada de sintomas de
hipoperfusão cerebral (diminuição da irrigação sangüínea cerebral) levando a
fraqueza, tontura, perturbações visuais - visão turva, enevoada, escurecida - e
síncope (desmaio).
Não importa os valores iniciais da pressão arterial, basta uma redução rápida
na pressão arterial nos níveis vistos acima para provocar os sintomas em pessoas
de qualquer idade.
É comum acontecer quando o idoso passa da posição sentada ou deitada
rapidamente para a de pé. Acontece também quando se permanece muito tempo de
pé em posições de pouco movimento. Em idosos é também comum apresentar estes
sintomas após as refeições, mesmo os lanches rápidos.
Deve-se esperar encontrar eventos de hipotensão postural e síncopes em
idosos que apresentem dificuldade para caminhar, quedas freqüentes, histórico de
infarto do miocárdio, de eventos isquêmicos transitórios e, particularmente, naqueles
com a estenose das carótidas por aterosclerose (SGAMBATTI et al., 2000; FREITAS
et al., 2002; RUTAN et al., 1992).
b) Perdas Neuromotoras
As perdas de massa e força muscular estão ligadas à maior incidência de
doenças crônicas como a osteoporose, aos distúrbios de equilíbrio e da marcha e,
também, à maior incidência de quedas.
Verifica-se também que a degeneração progressiva dos proprioceptores,
devido ao envelhecimento, faz com que o controle da própria posição no espaço
seja bastante comprometido, prejudicando o equilíbrio e aumentando o risco de
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 50
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
quedas (CASTILHO, 2002; MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000;
MAZZEO et al., 1998).
c) Perdas Neurossensoriais
São as perdas relacionadas aos órgãos dos sentidos. Ao longo dos anos,
uma compensação natural para as perdas de equilíbrio relacionadas às perdas
neuromotoras é feita, transferindo-se os referenciais de equilíbrio e controle da
própria posição no espaço cada vez mais para marcadores sensoriais,
principalmente a visão que, com a idade avançada, torna-se o recurso predominante
para avaliar a posição do corpo no espaço. Entretanto, chega o momento em que
também essa via torna-se obsoleta devido às perdas que também acometem os
órgãos dos sentidos inclusive a visão. A partir daí o risco de queda aumenta,
enquanto a perda de equilíbrio torna-se cada vez mais severa. (ALTER, 1999)
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 51
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
d) Medicações que provocam hipotensão e quedas
Ocorre aumento na freqüência de quedas entre indivíduos que ingerem mais
de um tipo de medicação. Os medicamentos que mais predispõem à queda são os
que induzem hipotensão postural (remédios para cardiopatas, diuréticos, nitratos,
anti-hipertensivos e antidepressivos tricíclicos), sonolência (hipnóticos) e confusão
mental (cimetidina e digitais). Medicações para problemas psicológicos (depressão,
etc.), Mal de Alzheimer e Doença de Parkinson também predispõem a quedas
(MACDONALD, 1985; MACDONALD e MACDONALD, 1977).
4.4. Reflexões Finais
Nesta parte do curso você estudou conteúdos que ajudaram a conhecer
melhor a realidade do seu aluno. Procure certificar-se de que, a partir das noções
teóricas a respeito de epidemiologia, fisiologia e patologia, você consegue identificar
o quanto o seu aluno ou o seu grupo de alunos se enquadra nas características dos
idosos retratados nos artigos científicos de todo o mundo.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 52
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
UNIDADE 5 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO: O QUÊ
PRESCREVER PARA IDOSOS?
Apresentação Nesta unidade estudaremos os fundamentos da fisiologia do
exercício com foco nos efeitos da atividade física sobre os diversos sistemas do
idoso e sobre a sua saúde. Faremos uma revisão sobre as bases para a prescrição
do exercício a partir dos princípios do treinamento esportivo também centrado no
trabalho com idosos. E, finalmente, procuraremos conhecer alguns cuidados
(indicações, contra-indicações e riscos) na prescrição do exercício para o idoso
portador de algumas das patologias que estudamos na unidade anterior.
Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de:
Reconhecer e aplicar os princípios do treinamento esportivo no
desenvolvimento de atividades físicas para idosos;
Descrever os benefícios do exercício físico para os diversos sistemas e para a
aptidão física dos idosos;
Indicar e contra-indicar atividades e prever riscos durante a prática de
exercícios por parte dos alunos idosos portadores de alguma das principais doenças
prevalentes nesta faixa etária.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 53
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
5.1. Prescrição do exercício para o idoso
A prática segura de exercícios físicos sempre pressupõe:
• prescrição (qual modalidade será praticada por qual aluno ou turma para
atingir que objetivo?),
• orientação (presencial feita por um professor ou à distância feita por um
professor através de um manual, cartilha, folheto, vídeo, programa de televisão,
etc.) e, preferencialmente,
• supervisão (controle exercido por um professor presente, junto com o aluno
ou turma em uma situação pedagógica, facilitando o processo de ensino e
aprendizagem: aula).
A prescrição, orientação e supervisão são importantes porque neste tipo de
atividade física (exercício) sempre existe alguma expectativa de benefício (físico,
psicológico, social, etc.) que, para ser alcançado, sempre necessita de um mínimo
de conhecimento técnico, pois sempre envolve alguma dose de risco (risco social
de exclusão; risco psicológico de frustração e, principalmente, risco físico de lesão,
fadiga e até morte).
Para se discutir os princípios para a prescrição do exercício físico para que o
idoso melhore sua aptidão física e saúde, primeiro é preciso ter bem claro o que se
entende por Aptidão Física, Atividade Física e Exercício Físico dentro de fisiologia do
exercício aplicada ao trabalho com idosos (ASSUMPÇÃO, 2002):
APTIDÃO FÍSICA: é uma série de atributos físicos que possibilita a qualquer
pessoa o desempenho satisfatório de suas atividades da vida diária, que vão desde
o trabalho e cuidados pessoais até as recreativas, esportivas e de lazer.
• ATIVIDADE FÍSICA: é qualquer atividade ou movimento que provoque um
gasto de energia acima do repouso. São exemplos de atividades físicas: tomar
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 54
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
banho, dirigir, pintar, tocar um instrumento, andar, brincar, passear, fazer compras,
trabalhar, dançar, jogar, varrer, jardinar e praticar exercícios físicos.
• EXERCÍCIO FÍSICO: é uma atividade física praticada regularmente com
base numa prescrição que visa o condicionamento físico ou o
desenvolvimento de habilidades esportivas ou a educação através do
movimento. Todo exercício físico possui padrões característicos de cada
modalidade e devem estar ligados aos objetivos propostos, mas alguns estão
sempre presentes: freqüência semanal, duração, intensidade, progressão, dentre
outros. Estes padrões são conhecidos em Fisiologia do Exercício como Princípios de
Prescrição ou Princípios do Treinamento Esportivo.
5.1.1. Princípios da prescrição
De acordo com NUNES (2000) há sete princípios que norteiam o
planejamento e a prescrição de exercícios físicos visando ao condicionamento físico
e à saúde. Estes princípios são válidos desde o planejamento de simples atividades
físicas no leito ou na cadeira de rodas para um idoso infartado até o planejamento
de um treinamento para este mesmo idoso participar de uma maratona cinco anos
depois.
Estes princípios são denominados PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO
DESPORTIVO:
1. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE BIOLÓGICA: Um indivíduo é diferente do
outro. Algumas pessoas são naturalmente mais flexíveis (talento natural para ioga,
ginástica), outras são mais fortes (facilidade para musculação, escaladas) e outras
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 55
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
têm maior potência aeróbia (predisposição para corridas, natação). Em um grupo,
pessoas diferentes apresentam diferentes níveis iniciais de aptidão física
(morfológica, cardiorrespiratória, muscular e articular), isto é característico de sua
individualidade biológica e precisa ser levado em conta na hora de planejar as
atividades de forma a valorizar os talentos naturais e, ao mesmo tempo, melhorar o
condicionamento das áreas em que o indivíduo tenha maior dificuldade.
2. PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE: exercícios específicos produzem
incrementos específicos. Treinar flexibilidade melhora a flexibilidade, não a força.
Treinar força de pernas não melhora a força dos braços.
3. PRINCÍPIO DA SOBRECARGA: para produzir melhoras é preciso aumentar a
carga. A Carga de trabalho é o somatório da quantidade de trabalho (volume =
duração + freqüência + repouso) com a qualidade do trabalho (Intensidade = tipo de
esforço). Aumenta-se a carga diminuindo-se o repouso ou aumentando-se um ou
mais dos seguintes componentes: INTENSIDADE, DURAÇÃO e FREQÜÊNCIA do
exercício. A INTENSIDADE refere-se a quanto do máximo esforço se situa a
prescrição. Exemplo: passar de 50% para 55% da Freqüência Cardíaca Máxima é
fazer sobrecarga em um treino aeróbio. Passar de 30% para 40% de 1RM (Uma
Repetição Máxima) é fazer sobrecarga em um treino de força. A DURAÇÃO refere-
se a quanto tempo se submeterá o corpo ao esforço. Exemplo: aumentar o tempo da
sessão de treinamento de 30 para 40 minutos é fazer sobrecarga a partir da
duração. A FREQÜÊNCIA refere-se ao número de sessões semanais. Exemplo:
aumentar o número de práticas de 3 para 4 vezes na semana é fazer sobrecarga a
partir da freqüência.
4. PRINCÍPIO DA ADAPTABILIDADE: o corpo se adapta às cargas a que é
constantemente submetido. Portanto, depois de algumas semanas levantando 10
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 56
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
vezes um peso de 3 kg, o corpo se adapta e passa a levantar o mesmo peso 12, 15
ou mais vezes ou então passa a ser capaz de fazer as 10 repetições agora com 4
kg. Depois de algumas semanas caminhando 4 km em 1 hora, o corpo se adapta e
já consegue percorrer os 4 km em 45 minutos ou então em 1 hora descobre que já
consegue caminhar 5 km. Isso quer dizer que o corpo melhorou o condicionamento
físico, mas significa também que a partir daí, se nada for mudado, ele pára de
progredir, ficando em estado de manutenção do que já foi ganho. Para continuar
progredindo será necessária uma sobrecarga.
5. PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE: a sobrecarga deve ser aplicada sem
saltos, gradativamente, para garantir os benefícios e prevenir lesões ou acidentes.
6. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE: os benefícios decorrem da prática. Os
resultados para o condicionamento são cumulativos, não ocorrem na prática
intermitente.
7. PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE: se não houver continuidade perdem-
se os ganhos obtidos. O tempo para voltar ao estágio inicial é, em média, de 1/3
do tempo de treinamento. Exemplo: O aluno começou o programa aeróbio
caminhando 4 km em 1 hora. Em 9 meses já estava caminhando 7 km em 1 hora.
Parando o treinamento, aproximadamente em 3 meses ele volta à condição inicial.
5.1.2. Orientações gerais para uma prescrição
O idoso deve ter um nível de capacidade física suficiente para realizar as
suas atividades diárias, tomar parte ativa em atividades recreativas e diminuir o risco
de aumentar ou piorar as conseqüências do envelhecimento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 57
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Quem está sentado durante a maior parte do dia apresenta sinais evidentes
de diminuição desta capacidade. Sente-se cansado durante a maior parte do tempo
e incapaz de manter relações com outras pessoas da sua idade. Entra assim num
ciclo vicioso que o leva a evitar a atividade porque se cansa demasiado
rapidamente.
As novas orientações de saúde apelam para 30 minutos ou mais de atividade
física moderada, durante a maior parte dos dias da semana. Pode-se utilizar
qualquer atividade que se provoque um esforço entre as intensidades baixa e
moderadamente intensa.
Nas atividades de baixa intensidade podem ser incluídas atividades
físicas como a caminhada por puro prazer, a jardinagem, os trabalho domésticos, a
automassagem e a dança recreativa. Não é necessário praticar todos os exercícios
de uma só vez. Podendo-se fazer sessões de 5 a 10 minutos, várias vezes ao dia. O
importante é cumprir os necessários 30 minutos quotidianos. A chave está no total
de energia gasta, não na intensidade. É especialmente importante incluir exercícios
de força como, por exemplo, o transporte de compras, pelo menos duas vezes por
semana. Isso obriga os músculos a se exercitarem com mais freqüência,
fortalecendo-os e combatendo, assim, as perdas provocadas pelo envelhecimento.
E, dado que as calorias são queimadas durante todo tipo de atividade física, ela é
um fator chave para manter um peso saudável.
Este tipo de atividade deve ser complementado por atividades físicas
moderadamente vigorosas durante 30 a 60 minutos, três ou mais vezes por semana.
Entende-se por moderadamente intensos os exercícios físicos que
ofereçam ao corpo uma carga maior que a da vida diária com objetivo de ir além da
simples redução das perdas. Neste tipo de atividade o foco é o treinamento para
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 58
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
aquisição, recuperação e incrementos na Aptidão Física, num processo educacional
planejado que ajude o idoso a atingir e manter acessível o máximo de suas
capacidades funcionais. É preciso lembrar que, se a atividade for suficiente para
provocar alterações positivas na fisiologia do idoso, também pode oferecer alguns
riscos em potencial, necessitando, portanto, ser planejada e prescrita dentro dos
princípios do treinamento esportivo.
Consideram-se exercícios de moderada intensidade aqueles como a
caminhada rápida, o subir escadas, a dança aeróbica, a corrida, o ciclismo e a
natação, que trabalham a capacidade aeróbia. Outras modalidades de exercícios
tais como musculação, ginástica localizada, circuitos de treinamento, ioga, tai chi
chuan, lian kung e os vários esportes também podem ser adaptados para o trabalho
de moderada intensidade.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 59
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
5.1.3. Escala de Borg no controle da Intensidade do Exercício
Um método bastante seguro de se fazer o controle do esforço durante o
exercício é a Escala de Percepção Subjetiva do Esforço (PSE). A mais utilizada em
educação física é a Escala de PSE CR10 de Borg (BORG, 2000). Ela se aplica a
toda situação em que se deseja levar em conta como a pessoa está se sentindo
durante o exercício e é especialmente útil para aquelas pessoas em que a
freqüência cardíaca não é um parâmetro confiável (cardiopatas, medicados, etc.).
Também é útil quando se propõem atividades de grupo em que o controle individual
fica quase impossível sem prejuízo dos aspectos pedagógicos e da dinâmica da
modalidade.
A Escala CR10 de Borg é uma escala numérica e visual, que classifica o
esforço percebido em valores que vão de 0 (zero) a 10 (dez). Estes valores têm uma
alta correlação com os valores da FCM, com as Freqüências de treinamento e com
todo tipo de esforço. Paro os objetivos do trabalho com idosos estes valores podem
ser adaptados da seguinte forma:
CR10 BORG PSE FCM % 1RM FLEX
0 ABSOLUTAMENTE NADA
1 MUITO FRACO Alongamento
2 FRACO 40% 40% Alongamento
3 MODERADO 50% 50% Flexionamento
4 UM POUCO FORTE 60% 60% Flexionamento
5 FORTE 70% 70% Flexionamento
6 80% 80% Flexionamento
7 MUITO FORTE 90% Risco lesão
8 Risco lesão
9 Risco lesão
10 EXTREMAMENTE FORTE Risco lesão
Fonte: BORG (2000). Adaptada por GEPAFI.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 60
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Quando utilizar a escala em um grupo de idosos é importante lembrar de
reproduzi-la em um tamanho que permita sua fácil utilização. Se for individual, usar
fontes grandes para números e letras. Se for para uma turma o cartaz, quadro ou
pôster deverá ser de um tamanho que permita ao aluno fazer a leitura de onde
estiver na sala ou quadra.
Um sinal externo de que o idoso já está em 4 na Escala CR10 de Borg (60%
da FCM) é a aceleração da respiração. Até 3 na escala (50%) é possível fazer o
exercício e conversar naturalmente. A partir de 4 na escala a fala já vai ficando
entrecortada pela respiração, significando que o organismo já começa a acelerar a
respiração para eliminar mais gás carbônico e evitar a acidose metabólica. Esta
mudança na respiração deve ser considerada um indicador de que o trabalho já está
próximo de 60%, mesmo que o idoso não esteja ainda reconhecendo isto através da
percepção que o esforço já é UM POUCO FORTE.
Por outro lado, a sudorese (presença de suor) não é um sinal confiável para
avaliar o nível do esforço. A quantidade de suor é muito influenciada por
características genéticas, climáticas e, também, por medicações. Isso faz com que
algumas pessoas fiquem ensopadas de suor em pouco tempo e sob o mínimo
esforço, enquanto outras permanecem totalmente livres de suor diante dos maiores
esforços.
Sabe-se que 1 em cada 10 idosos terá dificuldade em utilizar esta escala,
portanto utilize-a de forma crítica: na Escala de Borg 10% dos idosos poderão
apontar valores diferentes daquilo que realmente estão sentindo. Como é uma
escala subjetiva, o desejo de parecer melhor, de agradar o professor, competir com
os colegas pode levar o idoso a informar que está percebendo um esforço menor
que o real - e você precisará ajudar esta pessoa a refrear sua pressa, sua ânsia por
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 61
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
competir. Por outro lado, o medo de tentar algo novo, o medo de sofrer, o desejo de
atenção extra, poderá levá-la a informar que está se esforçando mais que o real - e
você precisará ajudar essa pessoa a aprender a lidar com seus medos e
ansiedades, mostrando a ela que o que você planejou é seguro e que ela é capaz de
cumprir o programa.
Existem diversos modelos da Escala de Borg. Algumas foram adaptadas
colocando desenhos no lugar da PSE, de forma a facilitar o entendimento do aluno a
esta escala. Escolha sempre o modelo que melhor atenda às necessidades da sua
turma de alunos.
5.1.4. Orientações específicas para uma prescrição
A melhor maneira de escolher uma atividade para se alcançar objetivos
específicos do treinamento é classificá-la de acordo com sua atuação dentro dos
Componentes da Aptidão Física. De acordo com Falls (1980) são 4 os componentes
da Aptidão Física: o Morfológico, o Cardiorrespiratório, o Muscular e o Articular. O
trabalho sobre cada componente da aptidão física exige o desenvolvimento de
Qualidades Físicas específicas.
Assim, para melhorar a Aptidão Física Morfológica é preciso trabalhar sobre
as Qualidades Físicas Percentual de Gordura e Distribuição da Gordura
Corporal.
Para melhorar a Aptidão Física Cardiorrespiratória é preciso trabalhar sobre a
Qualidade Física denominada Potência Aeróbia.
Para melhorar a Aptidão Física Muscular é preciso trabalhar sobre as
Qualidades Físicas denominadas Força e Resistência Muscular.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 62
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
E para melhorar a Aptidão Física Articular é preciso trabalhar sobre a
Qualidade Física denominada Flexibilidade.
Além disso, em um programa de condicionamento físico é necessário também
acrescentar exercícios que desenvolvam outras habilidades físicas tais como
equilíbrio, coordenação, agilidade, velocidade, tempo de reação e a potência.
Potência Aeróbia
As atividades físicas de natureza aeróbia são fundamentais para saúde do
idoso, atuando como proteção contra diversos fatores de risco para as doenças
cardiovasculares.
• Intensidade: 40 a 80% da FCM (Freqüência Cardíaca Máxima)
ou Esforço Percebido de 3 a 6 na Escala CR10 de Borg, tendo
como metas valores de 50% a 60% da FCM e entre 3 e 4 na
Escala CR10 de Borg.
A atividade física regular promove um aumento da capacidade aeróbia
máxima, devido a um aumento da oferta de oxigênio para o trabalho muscular. Desta
forma a freqüência cardíaca e a pressão arterial são proporcionalmente menores
para executar uma determinada carga de trabalho. As descargas simpáticas e a
resistência vascular periférica diminuem, por conseguinte o trabalho muscular é
obtido através da extração do oxigênio na periferia e não pelo aumento do fluxo
sanguíneo e da pressão arterial. Portanto os músculos ficam mais eficientes e as
necessidades de oxigênio no miocárdio
ficam reduzidas (Faro Jr. et al., 1996).
Obs: reabilitação 40%, ativos 50% a 60%; atletas 70%.
• Duração: de 30 a 60 minutos por aula
• Freqüência: mínimo de 3 e máximo de 5 aulas por semana
• Repouso: mínimo de 6 horas a 24 horas entre sessões de
treinamento.
As características básicas na
prescrição de um treino aeróbio para
idosos são as mesmas da prescrição para o adulto jovem.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 63
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Quando se fala em INTENSIDADE, a FCM (Freqüência Cardíaca Máxima)
representa o máximo de esforço fisiologicamente possível, a partir dele o sistema
cardiorrespiratório não consegue mais suportar o esforço.
Jamais se treinará próximo a 100% da FCM com o idoso. Mesmo atletas
jovens de alto rendimento não trabalham mais que alguns minutos nesta
intensidade.
Em um programa de treinamento para idosos atletas a intensidade será
diferente em cada fase do treinamento, podendo chegar a valores próximos dos 85%
da FCM.
Para a maioria dos idosos ativos, com o objetivo de promoção de saúde e
condicionamento físico a faixa de trabalho será de 50% até valores próximos dos
60% da FCM (um pouco mais para alguns, um pouco menos para outros).
Para idosos em reabilitação cardíaca (depois de um infarto ou de uma
internação por fratura, por exemplo) e para aqueles sedentários, em início de
treinamento, a intensidade deve começar com FCM próxima de 40% em sessões de
duração inferior a 20 minutos e gradualmente subir tendo como meta a intensidade
de 50 a 60% em sessão com 30 a 60 minutos de duração, quando termina a fase
terapêutica de reabilitação ou adaptação ao exercício e o idoso passa a treinar com
prescrições semelhantes aos dos idosos ativos.
Para se calcular a FCM podem-se utilizar vários recursos. O mais comum é a
Equação de Karvonen:
FCM = 220 – idade
Por exemplo: Qual é a FCM de um indivíduo de 70 anos?
Utilizando a fórmula FCM = 220 – idade é só substituir a idade por 70 e fazer
a conta.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 64
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
Cálculo: FCM = 220 – 70
Resultado: 150 bpm (batimentos por minuto)
Como jamais se trabalha na FCM, é importante calcular a Freqüência
Cardíaca de Treinamento para este indivíduo. Suponhamos que este aluno, para
quem calculamos a FCM de 150 bpm, é um idoso sedentário em início de
treinamento ou é um cardíaco (ou hipertenso) em reabilitação. Sabendo que vamos
trabalhar inicialmente com ele em uma faixa que deve começar a 40% da FCM e isto
pode chegar a 60% da FCM. Qual será a faixa de treinamento para este idoso?
Para isto, basta calcular quanto é 40% e 60% de 150 bpm.
Cálculo: 40% de 150 = 60 bpm
60% de 150 = 90 bpm
Portanto, com este aluno começaremos o treinamento a partir de uma
freqüência cardíaca de 60 bpm que, ao longo do tempo, poderá chegar a 90 bpm.
Se você analisa estes valores do ponto de vista do idoso saudável ou do
adulto jovem, pode ser que os considere baixos demais para iniciar um treinamento.
Entretanto, é preciso lembrar que o idoso sedentário e o cardíaco em reabilitação
estão submetidos ao risco de evento cardiovascular (infarto, derrame, etc.) por
sobrecarga de intensidade. Então, se ao ajustar a intensidade a essa freqüência
cardíaca, o trabalho parecer leve para ele, aumente alguns minutos na duração, ou
acrescente mais um dia de treino na freqüência semanal. Mas vá devagar com os
aumentos na freqüência cardíaca.
Outra observação que reforça a necessidade de começar com baixa
intensidade é que boa parte dos idosos sedentários e todos os cardiopatas tomam
alguma medicação (para controlar a pressão arterial, para diminuir a angina - dores
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 65
SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos.
no peito, para as arritmias, para a insuficiência cardíaca, etc.) e muitas delas alteram
a freqüência cardíaca.
Algumas medicações diminuem a freqüência cardíaca, de maneira que, em
repouso, ela muitas vezes fica próxima de 50 bpm e em muitos casos, mesmo sob
grande esforço, ela não ultrapassa os 100 ou 120 bpm, pois o objetivo da medicação
é justamente evitar que o coração seja sobrecarregado.
Outras medicações diminuem a pressão arterial, que tende a permanecer
baixa até diante de grandes esforços. E há, ainda, aquelas medicações que
diminuem a angina, com elas a pessoa é capaz de suportar grades esforços sem
sintomas cardíacos dolorosos.
O resultado em todos os casos é que o idoso, mesmo apresentando baixa
freqüência cardíaca, pressão arterial normal e nenhuma dor, pode infartar e morrer
durante o exercício ou até algumas horas depois.
Portanto, quando você treina o idoso sedentário ou cardiopata, ajustando a
intensidade para 60 ou 70 bpm, para este idoso pode ser já é um grande salto. Para
pessoas que tomam medicação para a pressão e o coração (os betabloqueadores
são os mais comuns, mas não são os únicos) aumentar 10 a 20 batimentos pode ser
suficiente para representar um esforço classificado entre moderado e um pouco
forte.
Sabendo que, muitas vezes, a freqüência cardíaca está alterada em
função da ingestão de medicamentos e que isto pode mascarar a real
freqüência cardíaca do idoso durante o esforço, é preciso cuidado no que
tange a utilizar a freqüência cardíaca como parâmetro para avaliação ou
prescrição do treinamento.
Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 66
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Planejamento eficaz para idosos

  • 1. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos Marisete Peralta Safons e Márcio de Moura Pereira Faculdade de Educação Física – UnBFaculdade de Educação Física – UnB
  • 2. Marisete Peralta Safons e Márcio de Moura Pereira Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos Faculdade de Educação Física – UnBFaculdade de Educação Física – UnB BRASÍLIA 2007
  • 3. Conselho Regional de Educação Física da 7ª Região – CREF7 Endereço: SGAN 604 conjunto C – Clube de Vizinhança Norte CEP: 70840-040 - Brasília-DF Tel: (61)3321-1417 (61)3322-6351 Site: www.cref7.org.br DIRETORIA EXECUTIVA:CONSELHEIROS: PresidenteAlex Charles Rocha Alexandre Fachetti Vaillant MoulinAlexander Martinovic Alexandre Fachetti Vaillant Moulin 1º Vice-presidenteAndré Almeida Cunha Arantes Paulo Roberto da Silveira LimaCristina Queiroz Mazzini Calegaro Elke Oliveira da Silva 2º Vice-presidenteGeraldo Gama Andrade Marcellus R. N. Fernandes PeixotoGuilherme Eckhard Molina João Alves do Nascimento Filho 1º SecretárioJosé Ricardo Carneiro Dias Gabriel Marcelo Boarato MeneguimLúcio Rogério Gomes dos Santos Luiz Guilherme Grossi Porto 2ª SecretáriaMarcellus Rodrigues N. Fernandes Peixoto Elke Oliveira da SilvaMarcelo Boarato Meneguim Márcia Ferreira Cardoso Carneiro 1º TesoureiroPaulo Roberto da Silveira Lima José Ricardo Carneiro Dias GabrielRamón Fabián Alonso López Ricardo Camargo Cordeiro 2º TesoureiroTelma de Oliveira Pradera Alex Charles RochaWaldir Delgado Assad Wylson Phillip Lima Souza Rêgo COMISSÃO EDITORIAL: Alexandre Fachetti Vaillant Moulin Cristina Quiroz Mazzini Calegaro Márcia Ferreira Cardoso Carneiro Márcio de Moura Pereira Telma de Oliveira Pradera
  • 4. Universidade de Brasília – UnB Faculdade de Educação Física – FEF Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Atividade Física para Idosos – GEPAFI Endereço: Campus Universitário Darcy Ribeiro – Gleba B – Asa Norte CEP: 70910-970 Tel.: 3307 – 2252 Site FEF: www.unb.br/fef Blog GEPAFI: http://gepafi.blogspot.com Diretor: Prof. Dr. Jônatas de França Barros Vice Diretor: Prof. Dr. Jake do Carmo Chefe do Centro Olímpico: Profa. Dra. Marisete Peralta Safons Coordenador de Graduação: Prof. Dr. Alexandre Rezende Coordenador de Pesquisa e Pós-Graduação: Profa. Dra. Ana Cristina de David Coordenador de Extensão e Atividades Comunitárias: Prof. Dr. André T. Reis. Coordenador de Prática Desportiva: Prof. William Passos
  • 5. Editores CREF/DF e FEF/UnB/GEPAFI Autores Marisete Peralta Safons Doutora em Ciências da Saúde pela UnB Márcio de Moura Pereira Mestre em Educação Física pela UCB Editoração Eletrônica Aderson Peixoto Ulisses de Carvalho Revisão Fernando Borges Pereira Publicação CREF7 Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Safons, Marisete Peralta. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos / Marisete Peralta Safons; Márcio de Moura Pereira - Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. 110 p.:il. ISBN 978-85-60259-02-1 1. Educação física para idosos. 2. Metodologia do ensino. 3. Esporte e educação. I. Pereira, Márcio de Moura. II. Título. CDU 796.4-053.9 Ficha Catalográfica elaborada pela bibliotecária Jeane Ramalho CRB1/1225
  • 6. SUMÁRIO UNIDADE 1 – NOÇÕES DE DIDÁTICA ................................................................................7 1.1. Planejar é Preciso ............................................................................................................8 1.2. Pilares do Planejamento.................................................................................................13 1.3. Reflexões Finais ............................................................................................................16 UNIDADE 2 – O PAPEL DO PROFESSOR: QUEM ENSINA? ...........................................17 2.1. Competências necessárias a um educador de idosos.....................................................18 2.2. Reflexões Finais ............................................................................................................26 UNIDADE 3 – OBJETIVOS: POR QUE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA IDOSOS?...............27 3.1. Propostas pedagógicas de um programa para idosos.....................................................28 3.2. Objetivos em um Plano de Curso para idosos...............................................................32 3.3. Reflexões Finais ............................................................................................................35 UNIDADE 4 – FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: QUEM É O ALUNO IDOSO? ....................................................................................................................................36 4.1. Epidemiologia do Envelhecimento................................................................................37 4.2. Fisiologia do Envelhecimento .......................................................................................41 4.2.1. Um novo paradigma para o envelhecimento..........................................................41 4.3. Fisiopatologia do envelhecimento: doenças prevalentes...............................................43 4.3.1. Doenças Cardiovasculares......................................................................................44 4.3.2. Doenças Ortopédicas e Reumatológicas.................................................................45 4.3.3. Doenças Metabólicas..............................................................................................47 4.3.4. Quedas: doença ou sintoma? ..................................................................................49 4.4. Reflexões Finais ............................................................................................................52 UNIDADE 5 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO: O QUÊ PRESCREVER PARA IDOSOS? 53 5.1. Prescrição do exercício para o idoso .............................................................................54 5.1.1. Princípios da prescrição..........................................................................................55 5.1.2. Orientações gerais para uma prescrição .................................................................57 5.1.3. Escala de Borg no controle da Intensidade do Exercício .......................................60 5.1.4. Orientações específicas para uma prescrição .........................................................62 5.2. Cuidados com as doenças prevalentes e riscos durante a aula ......................................82 5.3. Reflexões Finais ............................................................................................................83 UNIDADE 6 – METODOLOGIA DE TRABALHO ..............................................................84 6.1. Estratégias ou métodos de trabalho ...............................................................................85 6.2. Trabalhando a Aptidão Física com segurança...............................................................87 6.3. Avaliando resultados de um programa..........................................................................88 6.4 Recursos .........................................................................................................................96 6.4.1. Espaço Físico..........................................................................................................96 6.4.2. Equipamentos e Materiais ......................................................................................96 6.4.3. Secretaria ................................................................................................................98 6.4.4. Parcerias .................................................................................................................99 6.5. Emergências: Primeiros Socorros..................................................................................99 6.6. Reflexões Finais ..........................................................................................................102 7. BIBLIOGRAFIA................................................................................................................103
  • 7. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. UNIDADE 1 – NOÇÕES DE DIDÁTICA Apresentação Nesta unidade demonstraremos que um professor eficaz planeja, organiza e se mantém um passo à frente. Começaremos contextualizando a prática pedagógica de quem trabalha com atividade física para idosos dentro das dimensões históricas e sociais das quais estes alunos provêm. Depois passaremos à conceituação dos pilares do planejamento, identificando cada ator ou atividade do processo pedagógico. Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de: • Localizar o ensino de atividades físicas para idosos enquanto prática pedagógica, visando à educação e à saúde dos alunos; • Entender a importância do ato de planejar; • Reconhecer os pilares do planejamento. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 7
  • 8. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 1.1. Planejar é Preciso O professor que assume um grupo de idosos para orientar atividades físicas precisa saber que seu trabalho está inserido em uma realidade com fortes componentes históricos e sociais. Historicamente, seu aluno faz parte de uma população que nasceu na primeira metade do século XX. Ele faz parte da primeira geração industrial brasileira, que veio de um Brasil rural, agrícola, que se urbanizou e se modernizou a uma velocidade astronômica. Este aluno vem de um país com altas taxas de analfabetismo, alguns deles inclusive permaneceram analfabetos e tornaram-se parte do grupo de idosos, que hoje freqüenta os programas de atividades físicas comunitários. Nestes grupos também não é raro descobrir que, mesmo para quem tem formação superior, a escolarização foi um processo tão penoso quanto para a maioria: alguns não tinham escolas onde moravam, outros não tiveram dinheiro para manterem-se na escola, outros se mudaram tantas vezes acompanhando a família em busca de emprego que perderam anos de estudo, enquanto outros, por necessidade ou falta de oportunidade, ainda permaneceram na roça até a idade adulta e não puderam ir à escola. No aspecto social é preciso lembrar que enquanto o Brasil buscava seu desenvolvimento do ponto de vista global, individualmente também os cidadãos buscavam crescimento. Essa geração, hoje idosa, trabalhou muito: construiu as grandes fábricas, as grandes estradas, as grandes hidrelétricas, as grandes metrópoles deste país. Esta geração mudou a capital federal, transformou a Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 8
  • 9. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. agricultura em agroindústria. Essas pessoas trouxeram a televisão para o país e foram os primeiros a ver o Brasil ganhar uma copa do mundo de futebol. São filhos de uma guerra mundial e viveram a maior parte da vida em uma ditadura, mas também foram os primeiros a derrubar um presidente, a lutar por eleições diretas, defender o divórcio, lutar pela igualdade feminina e pelos direitos humanos, contra o racismo, contra a exclusão...a favor da natureza. Essa geração realmente trabalhou muito, lutou, mudou a cara do Brasil... e se aposentou. E o corpo destes indivíduos? O corpo desta geração foi excluído: “coisificado” pelas ciências da saúde, adestrado pela educação, alienado pela política, “demonizado” pela religião. Objeto de trabalho, instrumento de transporte e palco de conflitos. Este corpo não teve acesso à educação física escolar na infância e adolescência (nem no ensino noturno, que boa parte freqüentou, normalmente não foram ministradas aulas de educação física) e na idade adulta este corpo não teve tempo para se exercitar, nem para o jogo, o esporte ou o lazer. Este corpo aos sessenta anos espoliado, cansado, frágil e com um repertório pequeno de movimentos (só faz bem os movimentos relacionados ao trabalho). Muitas vezes este corpo apresenta-se com doenças associadas ao sedentarismo (obesidade, hipertensão, cardiopatias, colesterol alto, diabetes tipo II, “reumatismos”) e, normalmente, com dores no corpo, muita dor (na coluna, nas pernas, nos braços, na cabeça...). Isso sem contar outras dores, tais como a da solidão, do abandono, da pobreza, da falta de atendimento especializado, do desrespeito a direitos básicos ou da violência onipresente. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 9
  • 10. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. O professor que assume um grupo de idosos para orientar na prática de exercícios físicos precisa ter essas realidades bem claras ao propor as atividades. É preciso saber que nenhum exercício proposto se reduz ao ato mecânico de mover um braço ou uma perna. É preciso ter claro que cada movimento é, na verdade, uma possibilidade de resgate da infância, redescoberta da corporeidade, liberação de afetos, superação de dores, permissão para o prazer de viver... A possibilidade de viver uma vida plena a partir dos sessenta anos já é hoje uma realidade. E ninguém sabe ainda onde isso termina: o número de idosos saudáveis, ativos e produtivos, muitos com mais de 100 anos, cresce na mesma proporção em que se fazem investimentos em atividade física, saúde, educação, segurança e inclusão. E aí começa uma nova história, uma história da qual você professor faz parte. Se o programa pode ser o espaço para inclusão social, educação para a saúde, autonomia e cidadania, a atividade física será o meio através do qual o processo educacional se dará em função desses objetivos. Portanto, precisa ser bem planejada sob pena de não atingir os resultados, desperdiçando recursos e frustrando expectativas. No caso do aluno idoso, falhas no planejamento podem acarretar efeitos adversos e, portanto, não é possível propor com segurança atividades baseadas em “boas intenções” ou na “fé de que tudo vai dar certo”. Desta forma, verifica-se que: • Se no planejamento não foi prevista a socialização é bem provável que os alunos venham ao programa por meses sem estreitarem os laços de amizade e camaradagem (entram mudos, saem calados); Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 10
  • 11. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. • Se no planejamento a inclusão não for prevista é bem provável que em cada atividade proposta alguns alunos se sintam excluídos (ioga é para as mulheres, musculação é para homens, não sirvo para correr, branco não consegue sambar...); • Se no planejamento não for prevista a progressão é bem provável que os alunos não percebam vantagem alguma em investir seu tempo em algo que não apresenta resultados visíveis ou mensuráveis (a distância ou o tempo da caminhada são os mesmos há um ano, o peso que levanto é o mesmo há meses, o que ganhei com tanto trabalho, tempo e suor? Estas serão perguntas freqüentes na mente desses alunos.); • Se no planejamento não houver previsão de atividades que levem em conta a saúde é bem provável que nenhuma melhora seja verificada neste aspecto (o médico me disse que com exercício minha pressão - ou a glicose ou a dor - melhoraria, mas já estou praticando há 5 anos e continuo na mesma!); • E, não havendo previsão de riscos é bem provável que os alunos venham a sofrer danos com a atividade proposta (desconforto psicológico, dor, lesão e até morte!). Você sabia que um infarto causado por exercícios mal planejados pode acontecer até várias horas depois da prática, podendo levar à morte ou invalidez? Você sabia que uma hipoglicemia causada por exercícios mal planejados pode acontecer até várias horas depois da prática, muitas vezes à noite, caso em que o idoso pode morrer dormindo? Você sabia que uma crise de dor causada por exercícios mal planejados pode acontecer até várias horas depois da prática, quando passa o efeito do aquecimento Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 11
  • 12. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. e das endorfinas, levando o aluno muitas vezes ao leito durante semanas, sob medicação cara e pesada? Um professor que planeja levando em conta a realidade do aluno, procurando proporcionar o máximo de benefícios e ao mesmo tempo prevenir os riscos sabe que muito do progresso de cada aluno se deve às atividades propostas por ele. Um professor que planeja com seriedade também está seguro de que os agravos nas doenças prévias dos alunos e até mesmo a morte de algum aluno ao longo do ano podem ter qualquer causa (acaso, progressão natural da doença, acidente...), mas não a sua imperícia ou omissão. Já um professor que não se preparou e não planejou, jamais saberá porque um aluno progrediu e outro não. Da mesma forma que não poderá afirmar com segurança que uma morte não foi causada por imperícia de seu trabalho só porque ela não aconteceu durante a aula. Estas reflexões nos levam à conclusão de que Planejar é preciso, não só por motivos técnicos, mas também éticos: consciência tranqüila e certeza do dever cumprido não têm preço. Assim, um bom planejamento foca os recursos na direção da conquista dos objetivos; evita que o trabalho se torne rotineiro e repetitivo; previne os riscos do improviso e aumenta a segurança das práticas. Em seu planejamento, um professor bem preparado deixa claro QUEM faz O QUÊ e POR QUE, PARA QUEM e COMO, determinando ainda procedimentos de AVALIAÇÃO para acompanhar o processo. Este professor sabe que a parte mais importante de seu planejamento será a tarefa de executá-lo. Ele sabe também que o “Plano A” pode não funcionar na hora, mas como tem tudo planejado, tem sempre um “Plano B” preparado com antecedência. Assim nunca terá que improvisar e Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 12
  • 13. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. dedicar-se-á mais aos alunos e à tarefa pedagógica, trabalhando sempre próximo ao “ESTADO DA ARTE” profissional. 1.2. Pilares do Planejamento O planejamento visa à ação. É um processo dinâmico de coordenação de esforços e recursos, dentro das atividades de ensino e aprendizagem, que permite ao professor prever e avaliar a direção da ação principal, determinando rumos de ações alternativas, servindo ainda para auxiliar o professor a tomar decisões racionais tecnicamente embasadas. QQuueemm ffaazz OO qquuêê ffaazz PPaarraa qquueemm ffaazz PPoorr qquuee ffaazz CCoommoo ffaazzeerr ((mmeettooddoollooggiiaa)) AAVVAALLIIAAÇÇÃÃOO Ao planejar uma aula ou projeto de atividades físicas para idosos é preciso especificar claramente: quem vai fazer o quê, para quem e por que, a fim de determinar o como fazer (a metodologia de trabalho). É preciso também especificar instrumentos de avaliação para acompanhamento e controle da atividade desde o início. No caso de um programa de atividades físicas para idosos cada item colocado acima corresponderia a: • Quem faz é o profissional de educação física; • Por que faz são as justificativas teóricas e os objetivos para o programa ou para cada aula (saúde, educação, esporte, lazer, etc.); • Para quem faz é o aluno idoso; Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 13
  • 14. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. • O quê faz são os conteúdos de Educação Física (atividade física, exercícios, esporte, jogos, etc.); • Como faz é a metodologia de trabalho adaptada para idosos, são as aulas propriamente ditas, prescritas e ministradas aos idosos. • Avaliação: instrumentos de acompanhamento e controle do aluno, da atividade e do programa a fim de verificar questões como: quem é o aluno? Que atividades podem ser desenvolvidas com ele neste lugar? O treinamento atingiu os objetivos? Por quanto tempo serão mantidas as estratégias atuais? Serão necessários ajustes? Onde? Por ser dinâmico o planejamento não se resume ao plano de curso e aos planos de aula, metodicamente executados e jamais alterados. Na verdade ele se conclui por aproximações sucessivas, sofrendo influências o tempo todo da realidade à qual está sendo aplicado. Por isso a avaliação está presente o tempo todo, inclusive durante a execução das tarefas. O planejamento deve expressar os objetivos do programa de exercícios e antever os meios para alcançar os propósitos, racionalizando a utilização dos recursos e otimizando a tarefa principal da educação que é o processo ensino- aprendizagem. Isto deve ser feito por escrito, em um caderno, pasta de planos avulsos (em papel ou arquivadas em computador) ou em qualquer outro meio que o professor considere válido para escrever, guardar, recuperar, estudar e refazer seus planos. No exemplo do caderno, pode-se ter um caderno para cada disciplina que se pretenda ministrar. As páginas iniciais são reservadas para o plano de curso e as seguintes ficam destinadas aos planos de aula. O plano de curso é aquele mais geral, que resume os principais pontos que nortearão o desenvolvimento do Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 14
  • 15. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. programa e a confecção dos planos de aula. Já o plano de aula é mais específico e deve prever o que acontecerá em cada aula. Nas próximas unidades você aprenderá como estruturar o seu planejamento. Há vários modelos, você não precisará seguir exatamente o sugerido neste curso, mas há algumas informações que não podem faltar em um plano, independente do modelo. Lembre-se: planejar é muito importante, faz parte das atribuições de um professor. Além disso, pensar sobre cada aula é também uma forma de demonstrar seu afeto e sua atenção para com seus alunos. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 15
  • 16. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 1.3. Reflexões Finais Fim da primeira etapa! Após o contato com estas informações iniciais, é importante, neste momento, parar e tentar perceber qual foi o entendimento que você teve dos assuntos. A qual conclusão você chegou a respeito da visão da atividade física para idosos como prática pedagógica? Qual foi o seu entendimento a respeito da importância do ato de planejar? O que você aprendeu a respeito dos pilares do planejamento? Diante destas reflexões, como você tem pensado a sua prática com os idosos? Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 16
  • 17. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. UNIDADE 2 – O PAPEL DO PROFESSOR: QUEM ENSINA? Apresentação Neste capítulo nos concentraremos no estudo das competências necessárias a um professor que pretenda trabalhar com a educação para idosos gerando aprendizagem significativa e de qualidade, utilizando o movimento como instrumento pedagógico. Veremos também que a capacitação profissional não é definitiva, tendo um prazo de validade a partir do qual se torna obsoleta, sendo sempre necessário atualizar informações, conceitos, técnicas e materiais: só isso manterá o professor dentro da realidade. Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de: • Reconhecer a importância da capacitação profissional para o trabalho com idosos; • Descrever as competências básicas necessárias a quem trabalha com atividades físicas com idosos; • Discutir questões relativas a aprofundamento técnico e teórico, atuação reflexiva, educação continuada, produção de conhecimento, e comunicação pedagógica. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 17
  • 18. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 2.1. Competências necessárias a um educador de idosos A formação do professor que trabalha com educação física deverá priorizar o desenvolvimento de certas competências importantes para o trabalho esportivo voltado para qualquer idade, mas que se tornam indispensáveis no caso do professor que atenda a idosos. Medeiros (2004) aponta seis competências necessárias ao profissional que orienta a prática de atividades físicas: 1. Conhecimento da educação física no contexto da educação e da sociedade 2. Conhecimento técnico-teórico-filosófico a respeito da pessoa humana 3. Capacidade reflexiva para analisar os diversos fenômenos que compõem a prática cotidiana 4. Capacidade de realizar sua formação continuada 5. Capacidade de produzir conhecimento 6. Capacidade de comunicar-se com seus interlocutores Com o objetivo de prestar sempre o melhor atendimento no trabalho com idosos, cada uma dessas áreas de competência da proposta de Medeiros pode ser objeto permanente de estudo e aprofundamento por parte do professor. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 18
  • 19. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 1. Conhecimento da Educação Física no contexto da Educação e da Sociedade A Atividade Física realizada separadamente do processo maior de Educação do aluno acaba por se reduzir a uma prática alienada. A Educação Física é um elo na cadeia maior da Educação (outros conteúdos, outras disciplinas), da Saúde (outros serviços na área da saúde física, mental e social) e da Formação do Cidadão. Por isso é sempre bom ter em mente que embora o Exercício promova Educação e Saúde, ele sozinho, NÃO EDUCA TOTALMENTE, NEM CURA OU PREVINE TODOS OS MALES. O professor precisa ter conhecimentos mínimos das áreas relacionadas ao seu trabalho e das possibilidades de orientação e encaminhamento a fim de fazer de suas aulas um efetivo momento de educação. Sem tais conhecimentos sua prática se torna isolada, afastada da realidade, reduzindo-se ao papel de “distrair os idosos”, “tirá-los de casa”, “leva-los para tomar sol”. Sem saber onde a atividade física se insere no contexto da educação e da sociedade o professor não utiliza seu potencial, faz um trabalho alienado e ainda oferece à população idosa um serviço que não gera benefícios maiores de saúde em longo prazo, nem autonomia, inclusão social ou cidadania. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 19
  • 20. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 2. Conhecimento Técnico-Teórico-Filosófico a respeito da pessoa humana O professor que vai trabalhar Atividades Físicas com idosos precisa desenvolver um arsenal de conhecimentos para compreender questões relacionadas à corporeidade do idoso. Do ponto de vista técnico é necessário ter formação básica em educação física (anatomia, fisiologia geral e do exercício, didática, psicologia da aprendizagem), conhecimentos de Saúde (epidemiologia, fisiopatologia, saúde pública), Domínio do Esporte ou Atividade que pretende ensinar, conhecimentos de Administração Esportiva, conhecimentos de Psicologia aplicada à atividade física ou esportiva, etc. Do ponto de vista teórico e filosófico é preciso ter uma compreensão mais ampla da realidade na qual seu trabalho está inserido. Daí serem necessários conhecimentos mínimos de história, sociologia, antropologia, filosofia, ética, política, etc. Tudo isso auxiliará o professor a entender os mecanismos da EXCLUSÃO DO IDOSO em nossa sociedade e a propor alternativas viáveis para reverter essa situação a partir do seu trabalho com exercícios físicos, auxiliando o idoso em seu trabalho de se encontrar como SER HUMANO IDOSO (cidadão, pai ou mãe de família, amigo, amante, profissional, consumidor, CIDADÃO). Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 20
  • 21. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 3. Capacidade Reflexiva para analisar os diversos fenômenos que compõem a prática cotidiana O professor precisa ser capaz de contextualizar os conteúdos, levando em conta idade, sexo e condições físicas dos alunos; clima e outras características geográficas do local em que as atividades são desenvolvidas; os aspectos culturais, gostos regionais, etc. Deve também ser capaz de fazer referência a situações concretas ao ensinar um exercício (tal movimento melhora tal atividade da vida diária). Deve ainda ser capaz de evitar a fragmentação do conhecimento, mostrando que o exercício não é um fim em si, mas um meio, promovendo assim a interdisciplinaridade e trabalhando os temas transversais. 4. Capacidade para Realizar a Formação Continuada O conhecimento não é definitivo, a cada 3 ou 4 anos o volume de conhecimento em todas as áreas de trabalho simplesmente DOBRA. Portanto, para manter-se atualizado é preciso fazer releituras e atualizações constantes. Para isso é preciso estudar sempre, ler muito (livros, revistas, jornais, da sua área e de outras), assistir criticamente a filmes e documentários (e até novelas de TV, pois para quem busca o conhecimento criticamente, qualquer “texto” pode iniciar uma discussão produtiva). Outra estratégia é conversar com outros professores, buscar supervisão ou coordenação de colegas mais experientes, fazer visitas técnicas para conhecer Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 21
  • 22. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. abordagens utilizadas pelos colegas, conversar com os alunos buscando ver a realidade a partir dos olhares de quem já é idoso a fim de propor novas ações focadas em suas necessidades. 5. Capacidade para Produzir Conhecimento Estreitar a relação entre o ofício de ensinar e o hábito de pesquisar. Levar para a discussão profissional (fóruns, encontros, seminários, congressos, cursos, etc.) as dificuldades e soluções inovadoras observadas em sua prática pedagógica socializando o conhecimento ou ainda lançando questões-problema para futuros estudos. O resultado imediato desta atitude se reflete em toda a classe profissional, melhorando métodos e procedimentos, diminuindo riscos e contribuindo para o sucesso profissional na forma de um melhor serviço à população. Outros resultados na forma de publicação de artigos científicos e livros, apresentação de trabalhos em congressos e elaboração de cursos também poderão advir da introdução da atitude científica, curiosa, no ofício de ensinar. 6. Capacidade para Comunicar-se com seus interlocutores É a utilização consciente e intencional dos recursos da FALA PEDAGÓGICA, que pode ser entendida como um conjunto de discursos orais e corporais ou “não verbais” (gestual, atitudinal, comportamental) colocado a serviço da dinamização dos conteúdos. O professor não deve resumir sua fala aos conteúdos cognitivos, nem apenas a comandos verbais: é preciso falar ao aluno por inteiro. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 22
  • 23. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. No trabalho com idosos a atenção a esse “diálogo pedagógico” pode explicitar questões interessantes a respeito da formação do professor, gerando algumas situações problema. Há, por exemplo, o caso do professor desatualizado para o trabalho com idosos, mas carismático, com grande habilidade na utilização da fala oral sempre acompanhado por uma multidão de alunos entusiasmados. Considere que nesta situação o professor está feliz, satisfeito com seu desempenho e os alunos também, absolutamente satisfeitos com o trabalho do qual fazem parte. Onde está o problema? Do ponto de vista motivacional, do talento verbal do professor, absolutamente nenhum, boa parte dos professores do mundo trabalha para atingir este nível de desempenho na “fala oral”. O problema situa-se em outro aspecto do “discurso”, aquele denominado não- verbal. É preciso lembrar que este professor é um professor de educação física, que o aluno matriculou-se em um programa de educação física e que, portanto, no “diálogo pedagógico” além de se “falar às emoções e ao intelecto” do aluno, não se pode esquecer de “falar ao corpo”, aos ossos, articulações e músculos, ao coração, artérias e sangue, aos hormônios e neurotransmissores. Se este diálogo falhar, todo o processo pedagógico falhará e no final o próprio corpo do aluno denuncia esta falha, este fracasso pedagógico, “falando” durante a avaliação. É nesta hora que, sem utilizar uma única palavra da fala oral, o aluno diz que não melhorou a flexibilidade, a força, a capacidade aeróbia, o equilíbrio, a coordenação, a pressão arterial ou o peso. Nesta hora o professor precisará ser muito bom na “fala oral” para explicar ao aluno por que, depois que ele veio a todas Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 23
  • 24. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. as aulas e participou de todas as atividades, os resultados prometidos não foram atingidos. No extremo oposto temos o professor extremamente capacitado tecnicamente para “falar” com todas as estruturas anatômicas e funcionais através do movimento, meticulosamente planejado e acompanhado, mas que “fala pouco” com o aluno do ponto de vista verbal. Considere que nesta situação o professor está feliz, plenamente satisfeito com seu desempenho e os alunos (normalmente 1 ou 2) também completamente satisfeitos com o atendimento que recebem. Onde está o problema? Do ponto de vista técnico, fisiológico, absolutamente nenhum, o aluno está mais forte, mais flexível, mais resistente ao esforço aeróbio, mais saudável. Boa parte dos professores do mundo trabalha e estuda muito até atingir este nível de competência para “falar com o corpo”. O problema situa-se em outro aspecto do “discurso”, aquele denominado verbal. É preciso lembrar que este professor é um professor de educação física, que o aluno matriculou-se em um programa de educação física e que, portanto, no “diálogo pedagógico” além de se “falar ao corpo” do aluno, não se pode esquecer de “falar às emoções e ao intelecto”, tornando a prática motivante, envolvente, lúdica, divertida, prazerosa, gregária, comunitária (lembre-se que a solidão, a depressão e o isolamento são problemas prevalentes em idosos, portanto, privar o idoso da oportunidade de participar de um grupo, de estreitar laços e de fazer amizades somente se justifica se suas condições de saúde exigirem isolamento ou atendimento individualizado). Se este diálogo falhar, todo o processo pedagógico falhará e no final o próprio corpo do aluno denuncia esta falha, este fracasso pedagógico, “falando” com sua Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 24
  • 25. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. ausência às aulas ou durante a avaliação, relatando que não melhorou nos aspectos psicossociais. Estes dois exemplos são situações fictícias extremas, mas que podem levar o professor que trabalha com idosos a reavaliar como tem explorado os diversos aspectos de sua “fala pedagógica”, levando-o também a refletir sobre a necessidade de investir parte dos esforços da educação continuada no desenvolvimento de competências relacionadas às diversas opções de comunicação com seus alunos. “SE VOCÊ NÃO ESTIVER SEMPRE PREPARADO, SEUS ALUNOS SABERÃO!” Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 25
  • 26. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 2.2. Reflexões Finais Ao terminar esta unidade é preciso parar e refletir sobre alguns dos temas abordados: 1 - o que você pensa a respeito da importância da capacitação profissional para o trabalho com idosos? 2 - Como você se vê com relação às competências básicas necessárias a quem trabalha com atividades físicas com idosos? 3 - Como você avalia os serviços prestados aos idosos em sua comunidade a partir dos conhecimentos que agora possui a respeito da preparação profissional para o exercício desta atividade? Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 26
  • 27. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. UNIDADE 3 – OBJETIVOS: POR QUE EDUCAÇÃO FÍSICA PARA IDOSOS? Apresentação Nesta unidade discutiremos algumas das questões teóricas (pedagógicas, filosóficas e conceituais) relativas à proposição de atividades físicas para idosos. O convite é para a reflexão a respeito dos rumos que um professor pretende dar ao seu programa e às propostas educacionais que pretende defender perante o aluno e a sociedade. Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de: Situar sua prática pedagógica dentro do universo das políticas públicas, das recomendações de organizações de saúde e do conselho profissional; Refletir sobre os “por quês”, os objetivos maiores que fundamentam as suas propostas educacionais para os idosos; Discutir os possíveis entendimentos de questões como autonomia, independência física e envelhecimento ativo; Redigir parte de um Plano de Curso para uma proposta de uma atividade física para idosos, justificando a proposta e especificando alguns objetivos. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 27
  • 28. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 3.1. Propostas pedagógicas de um programa para idosos Um dos grandes desafios da Educação Física hoje é atuar preventivamente na comunidade, combatendo o sedentarismo e melhorando a saúde da população (CONFEF, 2002). De acordo com a Carta Brasileira de Educação Física (CONFEF, 2000), o profissional da Educação Física deverá lançar mão de todos os meios formais e não- formais (exercícios, ginásticas, esportes, danças, atividades de aventura, relaxamento, etc.) para educar o ser humano para a saúde e um estilo de vida ativo. Este documento sugere que o trabalho educativo a partir do movimento deve estabelecer relações também com o Lazer, a Cultura, o Esporte, a Ciência e o Turismo e tem compromissos com as grandes questões contemporâneas da Humanidade como a inclusão dos idosos e das pessoas portadoras de necessidades especiais, o combate à exclusão social, a promoção da paz, a defesa do meio ambiente e a educação para a cidadania, democracia, convivência com a diversidade (étnica, sexual, cultural, religiosa, etc.). Também a Organização Pan-americana da Saúde (2005), através de sua representação no Brasil, divulgou o documento “Envelhecimento ativo: uma política” de saúde, no qual procura dar informações para a discussão e formulação de planos de ação que promovam um envelhecimento saudável e ativo, visando sensibilizar todos aqueles responsáveis pela formulação de políticas e programas ligados ao envelhecimento (governos, entidades não-governamentais, setor privado). Segundo este documento “manter a autonomia e independência durante o processo de envelhecimento é uma meta fundamental para indivíduos e governantes”. Alerta também que no conceito de envelhecimento ativo, a palavra ativo não se refere unicamente a manter o idoso fisicamente ativo e saudável. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 28
  • 29. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. Embora estes também sejam objetivos a se perseguir, é preciso ter o entendimento de um idoso ativo no sentido mais amplo de ser participativo. Um programa deve se preocupar em preparar as pessoas idosas para a participação contínua nas questões sociais, econômicas, culturais, espirituais e civis, e não somente para serem fisicamente ativas. É preciso educá-las para saber que podem continuar a contribuir ativamente para seus familiares, companheiros, comunidades e países - mesmo estando aposentadas, mesmo com alguma doença ou alguma necessidade especial. Na legislação brasileira há artigo específico com relação à atuação do poder público quanto "ao incentivo e à criação de programas de lazer, esporte e atividades físicas que proporcionem a melhoria da qualidade de vida do idoso e estimulem sua participação na comunidade" (Lei nº 8.842/1994 – art. 10 – inciso VII - alínea e). Estes posicionamentos de Conselho Profissional, Organização de Saúde e Estado brasileiro deixam claro que não há dúvida quanto à necessidade de se implantar programas de atividades físicas para idosos. Do ponto de vista acadêmico, entretanto, surgem questões a respeito das questões pedagógicas, levando diversos estudiosos a se debruçar sobre o problema de quais seriam as características destas atividades, que fundamentos teóricos e que objetivos específicos embasariam e justificariam uma proposta de programa de atividades físicas para idosos. Para OKUMA (2004) uma proposta pedagógica de atividades físicas para idosos deve situar seus objetivos para além das questões da aptidão física e da saúde, que são colocadas como meios e não como fins. O foco real da proposta deve ser “o desenvolvimento do ser idoso” e para este trabalho sugerem-se sete Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 29
  • 30. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. princípios que têm por base uma Educação que abra para o aluno idoso um leque de perspectivas para: 1. o autoconhecimento 2. a autonomia 3. o aprender contínuo e atualização 4. a descoberta de competências 5. ser responsável 6. usufruir do meio ambiente 7. a fruição e prazer Segundo esta pesquisadora a educação física é: “... processo educativo que ensina às pessoas os conhecimentos sobre movimento humano e os procedimentos/habilidades para melhorá-lo e/ou mantê-lo, de forma a otimizar suas potencialidades e possibilidades motoras de qualquer ordem e natureza, adaptando-se e interagindo com o meio ambiente, para ter qualidade de vida.” Numa outra abordagem, mas dentro de foco semelhante, MIRANDA, GEREZ e VELARDI (2004) sugerem ser importante superar o paradigma biomédico na hora de se propor um programa de exercícios visando autonomia para idosos. Dentro da visão biomédica, autonomia é sinônimo de independência física: basta um idoso manter-se fisicamente independente (cuidando de sua saúde biológica e treinando suas capacidades físicas) para ser considerado autônomo. Embora não neguem a importância da independência física para a autonomia, as autoras convidam o professor a refletir se uma prática centrada no paradigma biomédico não estaria limitando as possibilidades educacionais de um programa de atividades físicas para idosos. Levantam a questão de que, na hora de propor atividades para idosos, uma abordagem que conceba saúde de maneira mais abrangente possivelmente ajude o professor a ampliar os limites do que pode ser Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 30
  • 31. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. considerado ser autônomo, incluindo até mesmo o idoso fisicamente frágil e o idoso deficiente físico como passíveis de alcançar autonomia. Esta abordagem é baseada no conceito de Promoção da Saúde (biopsicossocial) e utiliza a educação física como uma das estratégias de Educação em Saúde. Esta visão estimula o professor a propor atividades que ajudem o aluno a descobrir recursos para ser autônomo e “continuar a manter o controle sobre vida, mesmo na presença de alguma limitação física... Neste caso a autonomia passa a ser concebida não só a partir da independência física, mas como algo que envolve reflexão, tomada de decisão e escolhas conscientes”. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 31
  • 32. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 3.2. Objetivos em um Plano de Curso para idosos As reflexões que se fazem sobre educação e sobre a importância da atividade física como meio na educação de idosos autônomos precisam, no final, se articularem com as atividades que pretendemos desenvolver dentro de um programa e isto se faz através da confecção de um Plano de Curso. É durante a redação do Plano de Curso que o professor vai se questionar a respeito de como tornar importante e estimulante cada atividade e conteúdo para a vida diária de seu aluno, como dividir com eles a filosofia, a visão de mundo e concepção de envelhecimento que embasam a proposta pedagógica. É durante a redação deste Plano também que o professor vai se perguntar a respeito de que espaço físico, equipamentos materiais necessitará. Também é neste momento que ele vai se questionar a respeito de como avaliará se o programa está dando resultado ou não. Ao redigir o plano de curso, o professor muitas vezes se perde ou não articula os diversos componentes, esquecendo que o plano de curso resume e organiza os objetivos e as grandes ações para um período relativamente longo de tempo, como um semestre ou ano. Esta confusão pode ser evitada seguindo-se algumas regras simples. Primeiro é importante saber que, no Plano de Curso, a fundamentação teórica é o centro da redação. Portanto a justificativa, os objetivos gerais e os objetivos específicos devem estar explicitados claramente, enquanto que conteúdos, estratégias, avaliação, equipamentos, etc. precisam apenas ser sugeridos em linhas gerais (pois serão mais bem descritos nos planos de aula). Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 32
  • 33. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. A justificativa situa o programa, atividade ou modalidade proposta dentro de uma proposta pedagógica, de uma filosofia de trabalho, de uma visão de mundo e de envelhecimento que nortearão o trabalho. Os Objetivos Gerais referem-se às grandes alterações que se pretende implementar junto aos alunos ao longo de um período de treinamento (um trimestre, um semestre ou um ano). Já os Objetivos específicos apontam para alterações mais exatas, mais definidas (fisiológicas, psicológicas, sociais) que se quer verificar em cada aluno durante as aulas ou dentro de uma unidade do curso. O seu enunciado já deve levar o professor a pensar em conteúdos e estratégias, pois neles já se consegue divisar aspectos mais operacionais, instrucionais, do trabalho que se pretende realizar. Ao redigir os objetivos é preciso estar atento ao fato de que devem especificar os comportamentos esperados do aluno (e não do professor) e devem também especificar claramente a intenção do professor (não dando margem a muitas interpretações). Para redigir um Plano de Curso o professor deve conhecer bem o aluno (sua realidade, suas expectativas e necessidades), precisa estar bem fundamentado teoricamente, para justificar e propor objetivos para o trabalho, e necessita estar bem fundamentado tecnicamente (para propor atividades, escolher estratégias, metodologias e avaliação, prever necessidades de espaço, equipamentos, materiais e ainda estar preparado para prevenir riscos e acidentes). O planejamento deve considerar ainda uma análise detalhada do espaço físico em que acontecerão as aulas. Conhecer previamente o espaço onde serão desenvolvidas as atividades é fundamental para um bom planejamento. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 33
  • 34. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. MODELO DE PLANO DE CURSO Embora existam modelos diferentes para redigir um Plano de Curso, observe na sua redação se foram contempladas as informações mínimas necessárias explicitadas no esquema abaixo: PLANO DE CURSO Atividade proposta: Público alvo: Professor: Duração do treinamento: semanas, meses... Justificativa: defesa teórica na necessidade e viabilidade do programa dentro de uma proposta pedagógica Objetivos: gerais e específicos explicitando resultados que se pretenda observar Conteúdos a serem adquiridos e desenvolvidos pelos alunos para alcançarem os objetivos Metodologia e recursos que facilitem o processo de ensino e aprendizagem Avaliação: Instrumentos de que possibilitem verificar, de alguma forma, até que ponto os objetivos foram alcançados. CRONOGRAMA AULA Nº Conteúdos DATA 1 2 3 4 5 Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 34
  • 35. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 3.3. Reflexões Finais Essa parte do curso trabalhou com algumas noções bem teóricas por um lado e outras diretamente ligadas à prática por outro e ambas serão importantes no ato de planejar. Talvez alguns conceitos que ainda não lhe sejam familiares, pois os tópicos relacionados a conteúdos, metodologia, recursos e avaliação serão objeto de estudo aprofundado nas próximas unidades, eles foram apresentados sumariamente nesta unidade com a finalidade de permitir que você já começasse a pensar em um esboço do seu Plano de Curso. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 35
  • 36. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. UNIDADE 4 – FISIOPATOLOGIA DO ENVELHECIMENTO: QUEM É O ALUNO IDOSO? Apresentação Nesta unidade conheceremos melhor o nosso aluno. Quem é o idoso em nossa sociedade? Será verdade que o número de idosos está aumentando? Como é que uma pessoa envelhece? O indivíduo que envelhece é mais sujeito a doenças? Discutiremos essas questões a partir da epidemiologia, da fisiologia e da patologia, numa abordagem voltada para as questões do envelhecimento. Conhecer o aluno é fundamental para o planejamento. Sem esse conhecimento, corre-se o risco de pensar primeiro na atividade e depois procurar que tipo de idoso se encaixa nela: o que acaba por se tornar uma atividade de exclusão na prática. Portanto, é a partir do conhecimento do aluno, de sua realidade e de suas necessidades que se começa a traçar os objetivos de cada aula, e é a partir do aluno que se escolhe conteúdos e metodologia de trabalho. Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de: Analisar a realidade na qual está inserido o seu aluno idoso, a partir das noções teóricas de epidemiologia aplicada ao envelhecimento; Compreender os mecanismos pelos quais o processo de envelhecimento atua sobre o seu aluno idoso, a partir das noções teóricas de fisiologia aplicada ao envelhecimento; Conhecer as principais doenças a que estão sujeitos seus alunos idosos, a partir das noções teóricas de patologia aplicada ao envelhecimento. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 36
  • 37. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 4.1. Epidemiologia do Envelhecimento No Brasil, os idosos representam 8,5% do total da população. Caso sejam mantidas as taxas atuais de crescimento, provavelmente até 2025 o país contabilize cerca de um quinto de sua população no grupo dos idosos. Isso gera, desde já, demandas para os Sistemas de Saúde, Previdenciário e também para toda a sociedade, devido às características e necessidades especiais desse segmento, mormente no que tange à atividade física (OLIVEIRA, 2002). Além das perdas sociais e cognitivas, ao envelhecimento está associada uma série de outras perdas nos níveis antropométrico, neuromotor e metabólico, capazes de comprometer seriamente a qualidade de vida do idoso (MAZZEO et al., 1998). Os efeitos dessas perdas começam a se fazer notar a partir dos 50 anos de idade, ocorrendo a uma taxa aproximada de 1% ao ano para a maior parte das variáveis da aptidão física. Na antropometria detecta-se aumento do peso corporal, diminuição da estatura e aumento da gordura corporal, em detrimento da massa muscular e da massa óssea. O envelhecimento é também acompanhado de menor desempenho neuromotor, explicado pela diminuição no número e no tamanho das fibras musculares, levando a uma perda gradativa da força muscular. Quanto às variáveis metabólicas, o principal efeito deletério é sobre a potência aeróbia que diminui mesmo nos idosos ativos (MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000). A fraqueza muscular pode diminuir a capacidade para realizar as atividades da vida diária, levando o idoso à dependência. Além disso, conforme se perde força aumenta-se o risco de traumas em conseqüência das quedas. Resultados semelhantes também são observados a partir de perdas significativas na flexibilidade (BAUMGARTNER, 1998; GUIMARÃES, 1999). Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 37
  • 38. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. As perdas na potência aeróbia também estão relacionadas à maior morbidade e mortalidade por doenças crônicas e degenerativas, doenças metabólicas, infarto agudo do miocárdio, acidentes vasculares cerebrais, demência, depressão, dentre outras (NIEMAN, 1999). Do ponto de vista epidemiológico, embora este quadro de perdas e sua associação ao desenvolvimento de doenças crônicas e incapacidades seja prevalente na população idosa de todo o mundo, isso não quer dizer que esta seja a única via pela qual esta população chega à velhice. Examinado sob a ótica puramente biológica, sabe-se que o envelhecimento é um processo natural e acontece com todas as espécies de forma semelhante. Entretanto, sabe-se também que, no caso do ser humano, este processo é fortemente influenciado pelos aspectos psicológicos, sociais, históricos, filosóficos, políticos, antropológicos, que fazem o ser humano ser quem ele é hoje, viver como vive hoje, envelhecer como envelhece hoje. Este modo de “ser humano” revela-se exteriormente como um conjunto de crenças, valores, atitudes, posturas e hábitos de vida que caracterizam cada grupo social e cada população humana. Já é evidente hoje que alguns grupos envelhecem seguindo uma via diferente daquela que termina em doença, incapacidade ou perda de autonomia. O diferencial entre as pessoas pertencentes a estes grupos é que, embora elas apresentem alguma perda, elas envelheceram de maneira saudável e apresentam níveis de autonomia significativamente superiores aos do que se esperava verificar em idosos antigamente (CANÇADO e HORTA, 2002). Uma explicação provável para esta realidade relaciona-se ao estilo de vida dessas pessoas. Verifica-se que esses idosos de alguma forma (consciente ou inconscientemente) fizeram algumas escolhas e promoveram algumas alterações no Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 38
  • 39. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. seu estilo de vida que correspondem exatamente àquilo que é preconizado atualmente, em todas as áreas da saúde, como fundamental para se viver muito e com qualidade. 50% 20% 20% 10% Hábitos Genética Ambiente Sist. Saúde As alterações no estilo de vida, como a adoção de hábitos sadios tais como a inclusão de exercícios físicos e alimentação balanceada; ao lado da extinção de outros hábitos nocivos à saúde, tais como o estresse, o excesso de calorias, o tabagismo e o alcoolismo estão hoje entre as principais orientações para uma melhor qualidade de vida e maior longevidade. Essa prescrição fundamenta-se em um estudo realizado por PAFFENBARGER et al. (1993), comparando qual o peso dos hábitos de vida no adoecimento e morte de 17.000 universitários acompanhados pelo tempo de 11 a 15 anos. Verificou-se que 50% dos adoecimentos e óbitos nesta população estiveram relacionados a alterações negativas nos hábitos de vida adotadas após a saída da universidade (tabagismo, alcoolismo, sedentarismo, obesidade). Este estudo foi repetido no mundo todo, avaliando boa parte das doenças conhecidas e a conclusão foi a mesma: os hábitos de vida têm um grande peso no processo que leva as pessoas a adoecerem e morrer. Dentre os novos hábitos a serem adquiridos, a participação em atividade física regular desempenha importante papel. Está estabelecido que a maior parte dos efeitos negativos atribuídos ao envelhecimento deve-se, na verdade, ao sedentarismo, que leva ao desuso das funções fisiológicas por imobilidade e má Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 39
  • 40. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. adaptação e não estão diretamente relacionados nem ao avançar dos anos ou com o desenvolvimento das doenças crônicas (OLIVEIRA et al., 2001). O envelhecimento favorece a implantação de um quadro de perdas e incapacidades no idoso sedentário, mas a atividade física contribui diretamente para a manutenção e incremento das funções do aparelho locomotor e cardiovascular, amenizando os efeitos do desuso, da má adaptação e das doenças crônicas, prevenindo parte dessas perdas e incapacidades (SINGH, 2002). Verifica-se, portanto, que do ponto de vista epidemiológico e da saúde pública, já existe consenso no reconhecimento dos benefícios advindos da prática regular de exercícios físicos pelos idosos, tanto nos aspectos fisiológicos como psicossociais, proporcionando melhorias significativas na auto-estima e na qualidade de vida dessas pessoas. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 40
  • 41. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 4.2. Fisiologia do Envelhecimento 4.2.1. Um novo paradigma para o envelhecimento Para que se entenda a ação da atividade física no organismo de pessoas na terceira idade, torna-se necessário compreender o quê, fisiologicamente, acontece com o corpo humano que envelhece. Autores como CANÇADO e HORTA (2002), consideram o sistema nervoso central (SNC) o sistema biológico mais comprometido no processo de envelhecimento, sendo o responsável pelas sensações, movimentos, funções psíquicas entre outros, além das funções biológicas internas. O comprometimento deste sistema preocupa pelo fato de não dispor de capacidade reparadora eficiente, nem rápida, ficando este sistema sujeito ao processo de envelhecimento através de fatores intrínsecos (genéticos, sexo, circulatório, metabólico, radicais livres, etc.) e extrínsecos (ambiente, sedentarismo, hábitos de vida como, tabagismo, drogas, radiações, etc.). Estes fatores acabam exercendo uma ação deletéria no organismo ao longo do tempo. MATSUDO (2001) atribui à evolução etária e ao sedentarismo a diminuição da capacidade física das pessoas. Alterações psicológicas acompanham este processo, como sentimento de velhice, estresse, depressão. A redução das atividades físicas de vida diária também contribui para deteriorar o processo de envelhecimento. Para esta autora, o desuso das funções fisiológicas é o principal problema do envelhecimento. HAYFLICK (1996), alerta, que diminuições e perdas são coisas distintas porque dependem muito de como as percebemos: Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 41
  • 42. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. "Com a idade, nossa pele pode perder sua suavidade e adquirir rugas. Do ponto de vista da função da pele, que é encobrir nossos órgãos e nos proteger do meio ambiente, não importa muito se nossa pele é suave ou enrugada. O pessimista vê a mudança como negativa e a classifica como perda; o otimista vê a mudança como positiva e a chama de ganho. Da mesma forma o cabelo branco é uma mudança normal da idade que não afeta a saúde. Se é uma perda ou um ganho, depende do ponto de vista sob o qual este fato é vivenciado”. Estas colocações nos fazem lembrar do estereotipo de que homens de cabelos brancos são charmosos, enquanto que as mulheres, em sua grande maioria, costumam recorrer a técnicas diversas no sentido de esconder o branco passar do tempo sobre suas cabeças. É preciso que se entenda que o envelhecimento por si só não é uma doença e que a maior parte das pessoas idosas não tem uma saúde debilitada. O envelhecimento está acompanhado de mudanças físicas e assim aumenta a possibilidade de desenvolver enfermidades crônicas. Porém, a idéia de que tudo piora na velhice é uma imagem negativa e estereotipada (HAYFLICK, 1996). Na opinião de RAMOS (2002), o que está em jogo na velhice é a autonomia, a capacidade de determinar e executar seus próprios desejos. Para este autor, a capacidade funcional surge como um novo paradigma de saúde e passa a ser resultante da interação multidimensional entre saúde física, saúde mental, independência na vida diária, integração social, suporte familiar e independência econômica. Qualquer uma dessas dimensões, se comprometida, pode afetar a capacidade funcional do idoso. O bem-estar na velhice, ou saúde num sentido amplo, seria o resultado do equilíbrio entre as várias dimensões da capacidade funcional do idoso, sem necessariamente significar ausência de problemas em todas as dimensões. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 42
  • 43. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. A OMS define incapacidade como uma “restrição ou falta de capacidade para realizar uma atividade da maneira ou dentro da amplitude considerada normal para um ser humano”. Diversos estudos revelam que o idoso tem menos medo de morrer do que se tornar fisicamente dependente, conforme evidenciado por seu forte desejo de permanecer independente (BUCHNER et al., 1992). 4.3. Fisiopatologia do envelhecimento: doenças prevalentes De acordo com (NIEMAN, 1999), aproximadamente 85% das pessoas idosas apresentam uma ou mais das seguintes doenças ou problemas de saúde, que necessitam ser considerados no planejamento da atividade física para esta população: Artrite e Artrose (48%); Hipertensão arterial (36%); Cardiopatias (32%); Comprometimento da audição (32%); Comprometimentos ortopédicos (19%); Catarata (17%); Diabetes (11%); Comprometimento visual (9%); Alzheimer (de 4 a 11%). artrite 36 32 32 19 17 11 9 4 48 0 10 20 30 40 50 60 prevalência (%) hipertensão cardiopatias audição ortopédicas catarata diabetes visuais alzheimer Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 43
  • 44. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 4.3.1. Doenças Cardiovasculares Doença Cardiovascular é a designação genérica para diversas doenças que acometem o coração e os vasos sangüíneos. Dentro desta denominação se encontram: a hipertensão arterial; a doença coronariana (ou doença cardíaca coronariana), doenças cerebrovasculares, doenças vasculares periféricas, etc. Sabe- se hoje que o colesterol alto e o sedentarismo representam riscos maiores para o desenvolvimento dessas doenças que a obesidade e o tabagismo. 0 10 20 30 40 50 coesterolalto sedentarism o obesidade hipertensão tabagism o Risco relativo: sedentarismo x cardiopatias Perigos da hipertensão arterial Dentre as doenças cardiovasculares, deve ser dado cuidado especial à Hipertensão Arterial devido à sua morbidade (capacidade para desencadear outras doenças). A Pressão Arterial normal é de 120X80 mmHg (popularmente dito 12 por 8), mas ela pode variar numa faixa que vai de 90X60 mmHg (ou 9 por 6) até 140X90 (ou Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 44
  • 45. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 14 por 9) mmHg e ainda ser considerada aceitável para aqueles sem outros fatores de risco para doenças cardiovasculares. O primeiro valor é denominado Pressão Arterial Sistólica (PAS ou pressão máxima), ele torna-se perigoso para desencadear problemas cardiovasculares quando está acima de 140 mmHg (acima de 14). O segundo valor é denominado Pressão Arterial Diastólica (PAD ou pressão mínima), ele torna-se perigoso quando está acima de 90 mmHg (acima de 9). Quando pelo menos um dos valores está elevado, o indivíduo apresenta hipertensão arterial (pressão alta). 4.3.2. Doenças Ortopédicas e Reumatológicas As principais doenças ortopédicas e reumatológicas que atingem os idosos são: osteoartrite, osteoporose, lombalgia e dor crônica. a) OSTEOARTRITE OU OSTEOARTROSE A osteoartrose (AO) é a forma mais comum de artrite. É uma doença crônica que afeta as articulações, músculos e o tecido conjuntivo. Afeta mais pessoas do sexo feminino (2/3 dos casos relatados) e é prevalente em idosos (70% apresentam testes radiológicos positivos para a doença e, destes, pelo menos 50% desenvolverão os sintomas clínicos). Os sintomas mais comuns são: inflamação (dor, calor, rubor, edema), rigidez, limitação de movimentos (seqüelas de calcificações, atrofias, etc), incapacidades (diversos níveis). Tudo isso leva o idoso à: Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 45
  • 46. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. • dor e rigidez por longos períodos; • dificuldade para andar, subir escadas, levantar-se da cama ou cadeira, entrar e sair de carro, carregar objetos; • perda de independência e de qualidade de vida. b) OSTEOPOROSE A Osteoporose é definida como uma desordem esquelética que compromete a força óssea e aumenta do risco de fratura das áreas afetadas. A força óssea reflete a integração entre a densidade mineral óssea e a qualidade óssea. A diminuição da força óssea indica que os ossos estão mais porosos, mais frágeis e, portanto, mais fáceis de quebrar. Entretanto, até acontecer a primeira fratura a pessoa não sabe que é portadora da doença, por isto a osteoporose é considerada uma doença silenciosa. A massa óssea do adulto reflete o acúmulo de tecido ósseo ocorrido durante o crescimento. A massa óssea é avaliada através da densitometria óssea, um exame que compara a massa óssea do indivíduo examinado com a média da densidade mineral óssea de adultos jovens. O resultado é dado em T-Score que mostra o quanto o indivíduo se aproxima ou afasta daquela média. Segundo a OMS a osteoporose é definida quando o T-Score é igual ou inferior a -2,5, dentro dos escores possíveis: 1. normal: T-Score ≥ −1,0 2. osteopenia: T-Score < −1,0 e > −2,5 3. osteoporose: T-Score ≤ −2,5 Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 46
  • 47. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. A doença progride lentamente e raramente apresenta sintomas. Se não for avaliada a massa óssea a osteoporose será percebida apenas quando surgirem as primeiras fraturas. Os locais mais comuns de fraturas são as vértebras. As fraturas que se correlacionam com maior mortalidade e perda da independência são as fraturas de quadril. Apesar de acometer mais as mulheres idosas, por volta de 13 % dos homens acima dos 50 anos podem apresentar algum tipo de fratura por osteoporose e as fraturas de quadril nos homens associam-se a maior mortalidade do que nas mulheres. Ou seja, as mulheres sofrem mais fraturas que os homens, mas os homens morrem mais em decorrência destas fraturas. c) DOR CRÔNICA Sabe-se que a dor crônica é prevalente em idosos, podendo atingir até 71,5% destas pessoas em algumas populações. Vários estudos têm demonstrado que o fenômeno da dor não depende apenas do grau de lesão, podendo ocorrer inclusive na ausência de lesão orgânica (BROCHET et al., 1998; PEREIRA e GOMES, 2004; HARTIKAINEN et al., 2005). Os pontos de dor mais comuns são: Ombro, Cotovelo, Punho, Mão e Coluna Lombar. 4.3.3. Doenças Metabólicas Doença Metabólica é o termo genérico utilizado para as doenças causadas por algum processo metabólico anormal. Uma doença metabólica pode ser Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 47
  • 48. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. congênita (devido a alguma anormalidade genética herdada) ou pode ser adquirida (devido a alguma doença ou disfunção endócrina). As doenças metabólicas mais comuns em idosos são: • dislipidemias (colesterol e triglicerídeos); • hiperuricemia (gota e hipertensão); • distúrbios do metabolismo do ferro (anemia e sobrecarga de ferro); • desequilíbrio hidroeletrolítico (desidratação, desequilíbrio do sódio e do potássio); • desequilíbrio ácido-básico (alcalose e acidose); • transtornos do metabolismo da glicose (hipoglicemia, hiperglicemia e diabetes) e • síndrome metabólica. As doenças metabólicas produzem sintomas diversos, que comprometem a qualidade de vida e o desempenho nas atividades da vida diária. Sem os devidos cuidados e tratamento, elas evoluem para estados mais graves e podem levar ao óbito. Durante o exercício, elas são as maiores responsáveis por tontura, formigamento, fraqueza, visão turva, náusea, síncope, queda, parada cardíaca e morte súbita. O controle dessas doenças necessita da combinação de tratamento médico, acompanhamento nutricional e da prática de exercícios físicos orientados. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 48
  • 49. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 4.3.4. Quedas: doença ou sintoma? As quedas e síncopes (desmaios) são muito comuns em idosos. As estatísticas mostram que 35% dos idosos acima de 65 anos sofrem pelo menos 1 queda por ano. Já entre idosos acima de 80 anos, 45% sofre pelo menos 1 queda por ano. Em pelo menos 10% dos casos, a queda resulta em FRATURA. É importante observar sintomas como mal-estar, vertigem, desequilíbrio e síncope em pessoas idosas porque eles podem resultar em queda e também porque podem significar presença de situações que necessitam de cuidados especiais, primeiros socorros ou encaminhamento para o médico: • Crise hipertensiva; • Ataque cardíaco; • Hipotensão postural; • Labirintopatia e outros distúrbios do equilíbrio; • Hipoglicemia e hiperglicemia; • Comprometimentos ortopédicos/osteoporose; • Demência senil (Doença de Alzheimer). Em idosos saudáveis as 4 principais causas de queda são as hipotensões posturais, perdas neuromotoras, perdas neurossensoriais e efeitos de medicações. a) Hipotensão Postural A hipotensão postural é a diminuição rápida da pressão arterial sistólica (pressão máxima) em valores superiores a 20 mmHg ou da pressão diastólica Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 49
  • 50. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. (pressão mínima) em valores superiores a 10 mmHg, acompanhada de sintomas de hipoperfusão cerebral (diminuição da irrigação sangüínea cerebral) levando a fraqueza, tontura, perturbações visuais - visão turva, enevoada, escurecida - e síncope (desmaio). Não importa os valores iniciais da pressão arterial, basta uma redução rápida na pressão arterial nos níveis vistos acima para provocar os sintomas em pessoas de qualquer idade. É comum acontecer quando o idoso passa da posição sentada ou deitada rapidamente para a de pé. Acontece também quando se permanece muito tempo de pé em posições de pouco movimento. Em idosos é também comum apresentar estes sintomas após as refeições, mesmo os lanches rápidos. Deve-se esperar encontrar eventos de hipotensão postural e síncopes em idosos que apresentem dificuldade para caminhar, quedas freqüentes, histórico de infarto do miocárdio, de eventos isquêmicos transitórios e, particularmente, naqueles com a estenose das carótidas por aterosclerose (SGAMBATTI et al., 2000; FREITAS et al., 2002; RUTAN et al., 1992). b) Perdas Neuromotoras As perdas de massa e força muscular estão ligadas à maior incidência de doenças crônicas como a osteoporose, aos distúrbios de equilíbrio e da marcha e, também, à maior incidência de quedas. Verifica-se também que a degeneração progressiva dos proprioceptores, devido ao envelhecimento, faz com que o controle da própria posição no espaço seja bastante comprometido, prejudicando o equilíbrio e aumentando o risco de Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 50
  • 51. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. quedas (CASTILHO, 2002; MATSUDO, MATSUDO e BARROS NETO, 2000; MAZZEO et al., 1998). c) Perdas Neurossensoriais São as perdas relacionadas aos órgãos dos sentidos. Ao longo dos anos, uma compensação natural para as perdas de equilíbrio relacionadas às perdas neuromotoras é feita, transferindo-se os referenciais de equilíbrio e controle da própria posição no espaço cada vez mais para marcadores sensoriais, principalmente a visão que, com a idade avançada, torna-se o recurso predominante para avaliar a posição do corpo no espaço. Entretanto, chega o momento em que também essa via torna-se obsoleta devido às perdas que também acometem os órgãos dos sentidos inclusive a visão. A partir daí o risco de queda aumenta, enquanto a perda de equilíbrio torna-se cada vez mais severa. (ALTER, 1999) Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 51
  • 52. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. d) Medicações que provocam hipotensão e quedas Ocorre aumento na freqüência de quedas entre indivíduos que ingerem mais de um tipo de medicação. Os medicamentos que mais predispõem à queda são os que induzem hipotensão postural (remédios para cardiopatas, diuréticos, nitratos, anti-hipertensivos e antidepressivos tricíclicos), sonolência (hipnóticos) e confusão mental (cimetidina e digitais). Medicações para problemas psicológicos (depressão, etc.), Mal de Alzheimer e Doença de Parkinson também predispõem a quedas (MACDONALD, 1985; MACDONALD e MACDONALD, 1977). 4.4. Reflexões Finais Nesta parte do curso você estudou conteúdos que ajudaram a conhecer melhor a realidade do seu aluno. Procure certificar-se de que, a partir das noções teóricas a respeito de epidemiologia, fisiologia e patologia, você consegue identificar o quanto o seu aluno ou o seu grupo de alunos se enquadra nas características dos idosos retratados nos artigos científicos de todo o mundo. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 52
  • 53. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. UNIDADE 5 – FISIOLOGIA DO EXERCÍCIO: O QUÊ PRESCREVER PARA IDOSOS? Apresentação Nesta unidade estudaremos os fundamentos da fisiologia do exercício com foco nos efeitos da atividade física sobre os diversos sistemas do idoso e sobre a sua saúde. Faremos uma revisão sobre as bases para a prescrição do exercício a partir dos princípios do treinamento esportivo também centrado no trabalho com idosos. E, finalmente, procuraremos conhecer alguns cuidados (indicações, contra-indicações e riscos) na prescrição do exercício para o idoso portador de algumas das patologias que estudamos na unidade anterior. Ao término do estudo desta Unidade, você deverá ser capaz de: Reconhecer e aplicar os princípios do treinamento esportivo no desenvolvimento de atividades físicas para idosos; Descrever os benefícios do exercício físico para os diversos sistemas e para a aptidão física dos idosos; Indicar e contra-indicar atividades e prever riscos durante a prática de exercícios por parte dos alunos idosos portadores de alguma das principais doenças prevalentes nesta faixa etária. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 53
  • 54. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 5.1. Prescrição do exercício para o idoso A prática segura de exercícios físicos sempre pressupõe: • prescrição (qual modalidade será praticada por qual aluno ou turma para atingir que objetivo?), • orientação (presencial feita por um professor ou à distância feita por um professor através de um manual, cartilha, folheto, vídeo, programa de televisão, etc.) e, preferencialmente, • supervisão (controle exercido por um professor presente, junto com o aluno ou turma em uma situação pedagógica, facilitando o processo de ensino e aprendizagem: aula). A prescrição, orientação e supervisão são importantes porque neste tipo de atividade física (exercício) sempre existe alguma expectativa de benefício (físico, psicológico, social, etc.) que, para ser alcançado, sempre necessita de um mínimo de conhecimento técnico, pois sempre envolve alguma dose de risco (risco social de exclusão; risco psicológico de frustração e, principalmente, risco físico de lesão, fadiga e até morte). Para se discutir os princípios para a prescrição do exercício físico para que o idoso melhore sua aptidão física e saúde, primeiro é preciso ter bem claro o que se entende por Aptidão Física, Atividade Física e Exercício Físico dentro de fisiologia do exercício aplicada ao trabalho com idosos (ASSUMPÇÃO, 2002): APTIDÃO FÍSICA: é uma série de atributos físicos que possibilita a qualquer pessoa o desempenho satisfatório de suas atividades da vida diária, que vão desde o trabalho e cuidados pessoais até as recreativas, esportivas e de lazer. • ATIVIDADE FÍSICA: é qualquer atividade ou movimento que provoque um gasto de energia acima do repouso. São exemplos de atividades físicas: tomar Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 54
  • 55. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. banho, dirigir, pintar, tocar um instrumento, andar, brincar, passear, fazer compras, trabalhar, dançar, jogar, varrer, jardinar e praticar exercícios físicos. • EXERCÍCIO FÍSICO: é uma atividade física praticada regularmente com base numa prescrição que visa o condicionamento físico ou o desenvolvimento de habilidades esportivas ou a educação através do movimento. Todo exercício físico possui padrões característicos de cada modalidade e devem estar ligados aos objetivos propostos, mas alguns estão sempre presentes: freqüência semanal, duração, intensidade, progressão, dentre outros. Estes padrões são conhecidos em Fisiologia do Exercício como Princípios de Prescrição ou Princípios do Treinamento Esportivo. 5.1.1. Princípios da prescrição De acordo com NUNES (2000) há sete princípios que norteiam o planejamento e a prescrição de exercícios físicos visando ao condicionamento físico e à saúde. Estes princípios são válidos desde o planejamento de simples atividades físicas no leito ou na cadeira de rodas para um idoso infartado até o planejamento de um treinamento para este mesmo idoso participar de uma maratona cinco anos depois. Estes princípios são denominados PRINCÍPIOS DO TREINAMENTO DESPORTIVO: 1. PRINCÍPIO DA INDIVIDUALIDADE BIOLÓGICA: Um indivíduo é diferente do outro. Algumas pessoas são naturalmente mais flexíveis (talento natural para ioga, ginástica), outras são mais fortes (facilidade para musculação, escaladas) e outras Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 55
  • 56. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. têm maior potência aeróbia (predisposição para corridas, natação). Em um grupo, pessoas diferentes apresentam diferentes níveis iniciais de aptidão física (morfológica, cardiorrespiratória, muscular e articular), isto é característico de sua individualidade biológica e precisa ser levado em conta na hora de planejar as atividades de forma a valorizar os talentos naturais e, ao mesmo tempo, melhorar o condicionamento das áreas em que o indivíduo tenha maior dificuldade. 2. PRINCÍPIO DA ESPECIFICIDADE: exercícios específicos produzem incrementos específicos. Treinar flexibilidade melhora a flexibilidade, não a força. Treinar força de pernas não melhora a força dos braços. 3. PRINCÍPIO DA SOBRECARGA: para produzir melhoras é preciso aumentar a carga. A Carga de trabalho é o somatório da quantidade de trabalho (volume = duração + freqüência + repouso) com a qualidade do trabalho (Intensidade = tipo de esforço). Aumenta-se a carga diminuindo-se o repouso ou aumentando-se um ou mais dos seguintes componentes: INTENSIDADE, DURAÇÃO e FREQÜÊNCIA do exercício. A INTENSIDADE refere-se a quanto do máximo esforço se situa a prescrição. Exemplo: passar de 50% para 55% da Freqüência Cardíaca Máxima é fazer sobrecarga em um treino aeróbio. Passar de 30% para 40% de 1RM (Uma Repetição Máxima) é fazer sobrecarga em um treino de força. A DURAÇÃO refere- se a quanto tempo se submeterá o corpo ao esforço. Exemplo: aumentar o tempo da sessão de treinamento de 30 para 40 minutos é fazer sobrecarga a partir da duração. A FREQÜÊNCIA refere-se ao número de sessões semanais. Exemplo: aumentar o número de práticas de 3 para 4 vezes na semana é fazer sobrecarga a partir da freqüência. 4. PRINCÍPIO DA ADAPTABILIDADE: o corpo se adapta às cargas a que é constantemente submetido. Portanto, depois de algumas semanas levantando 10 Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 56
  • 57. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. vezes um peso de 3 kg, o corpo se adapta e passa a levantar o mesmo peso 12, 15 ou mais vezes ou então passa a ser capaz de fazer as 10 repetições agora com 4 kg. Depois de algumas semanas caminhando 4 km em 1 hora, o corpo se adapta e já consegue percorrer os 4 km em 45 minutos ou então em 1 hora descobre que já consegue caminhar 5 km. Isso quer dizer que o corpo melhorou o condicionamento físico, mas significa também que a partir daí, se nada for mudado, ele pára de progredir, ficando em estado de manutenção do que já foi ganho. Para continuar progredindo será necessária uma sobrecarga. 5. PRINCÍPIO DA PROGRESSIVIDADE: a sobrecarga deve ser aplicada sem saltos, gradativamente, para garantir os benefícios e prevenir lesões ou acidentes. 6. PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE: os benefícios decorrem da prática. Os resultados para o condicionamento são cumulativos, não ocorrem na prática intermitente. 7. PRINCÍPIO DA REVERSIBILIDADE: se não houver continuidade perdem- se os ganhos obtidos. O tempo para voltar ao estágio inicial é, em média, de 1/3 do tempo de treinamento. Exemplo: O aluno começou o programa aeróbio caminhando 4 km em 1 hora. Em 9 meses já estava caminhando 7 km em 1 hora. Parando o treinamento, aproximadamente em 3 meses ele volta à condição inicial. 5.1.2. Orientações gerais para uma prescrição O idoso deve ter um nível de capacidade física suficiente para realizar as suas atividades diárias, tomar parte ativa em atividades recreativas e diminuir o risco de aumentar ou piorar as conseqüências do envelhecimento. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 57
  • 58. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. Quem está sentado durante a maior parte do dia apresenta sinais evidentes de diminuição desta capacidade. Sente-se cansado durante a maior parte do tempo e incapaz de manter relações com outras pessoas da sua idade. Entra assim num ciclo vicioso que o leva a evitar a atividade porque se cansa demasiado rapidamente. As novas orientações de saúde apelam para 30 minutos ou mais de atividade física moderada, durante a maior parte dos dias da semana. Pode-se utilizar qualquer atividade que se provoque um esforço entre as intensidades baixa e moderadamente intensa. Nas atividades de baixa intensidade podem ser incluídas atividades físicas como a caminhada por puro prazer, a jardinagem, os trabalho domésticos, a automassagem e a dança recreativa. Não é necessário praticar todos os exercícios de uma só vez. Podendo-se fazer sessões de 5 a 10 minutos, várias vezes ao dia. O importante é cumprir os necessários 30 minutos quotidianos. A chave está no total de energia gasta, não na intensidade. É especialmente importante incluir exercícios de força como, por exemplo, o transporte de compras, pelo menos duas vezes por semana. Isso obriga os músculos a se exercitarem com mais freqüência, fortalecendo-os e combatendo, assim, as perdas provocadas pelo envelhecimento. E, dado que as calorias são queimadas durante todo tipo de atividade física, ela é um fator chave para manter um peso saudável. Este tipo de atividade deve ser complementado por atividades físicas moderadamente vigorosas durante 30 a 60 minutos, três ou mais vezes por semana. Entende-se por moderadamente intensos os exercícios físicos que ofereçam ao corpo uma carga maior que a da vida diária com objetivo de ir além da simples redução das perdas. Neste tipo de atividade o foco é o treinamento para Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 58
  • 59. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. aquisição, recuperação e incrementos na Aptidão Física, num processo educacional planejado que ajude o idoso a atingir e manter acessível o máximo de suas capacidades funcionais. É preciso lembrar que, se a atividade for suficiente para provocar alterações positivas na fisiologia do idoso, também pode oferecer alguns riscos em potencial, necessitando, portanto, ser planejada e prescrita dentro dos princípios do treinamento esportivo. Consideram-se exercícios de moderada intensidade aqueles como a caminhada rápida, o subir escadas, a dança aeróbica, a corrida, o ciclismo e a natação, que trabalham a capacidade aeróbia. Outras modalidades de exercícios tais como musculação, ginástica localizada, circuitos de treinamento, ioga, tai chi chuan, lian kung e os vários esportes também podem ser adaptados para o trabalho de moderada intensidade. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 59
  • 60. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. 5.1.3. Escala de Borg no controle da Intensidade do Exercício Um método bastante seguro de se fazer o controle do esforço durante o exercício é a Escala de Percepção Subjetiva do Esforço (PSE). A mais utilizada em educação física é a Escala de PSE CR10 de Borg (BORG, 2000). Ela se aplica a toda situação em que se deseja levar em conta como a pessoa está se sentindo durante o exercício e é especialmente útil para aquelas pessoas em que a freqüência cardíaca não é um parâmetro confiável (cardiopatas, medicados, etc.). Também é útil quando se propõem atividades de grupo em que o controle individual fica quase impossível sem prejuízo dos aspectos pedagógicos e da dinâmica da modalidade. A Escala CR10 de Borg é uma escala numérica e visual, que classifica o esforço percebido em valores que vão de 0 (zero) a 10 (dez). Estes valores têm uma alta correlação com os valores da FCM, com as Freqüências de treinamento e com todo tipo de esforço. Paro os objetivos do trabalho com idosos estes valores podem ser adaptados da seguinte forma: CR10 BORG PSE FCM % 1RM FLEX 0 ABSOLUTAMENTE NADA 1 MUITO FRACO Alongamento 2 FRACO 40% 40% Alongamento 3 MODERADO 50% 50% Flexionamento 4 UM POUCO FORTE 60% 60% Flexionamento 5 FORTE 70% 70% Flexionamento 6 80% 80% Flexionamento 7 MUITO FORTE 90% Risco lesão 8 Risco lesão 9 Risco lesão 10 EXTREMAMENTE FORTE Risco lesão Fonte: BORG (2000). Adaptada por GEPAFI. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 60
  • 61. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. Quando utilizar a escala em um grupo de idosos é importante lembrar de reproduzi-la em um tamanho que permita sua fácil utilização. Se for individual, usar fontes grandes para números e letras. Se for para uma turma o cartaz, quadro ou pôster deverá ser de um tamanho que permita ao aluno fazer a leitura de onde estiver na sala ou quadra. Um sinal externo de que o idoso já está em 4 na Escala CR10 de Borg (60% da FCM) é a aceleração da respiração. Até 3 na escala (50%) é possível fazer o exercício e conversar naturalmente. A partir de 4 na escala a fala já vai ficando entrecortada pela respiração, significando que o organismo já começa a acelerar a respiração para eliminar mais gás carbônico e evitar a acidose metabólica. Esta mudança na respiração deve ser considerada um indicador de que o trabalho já está próximo de 60%, mesmo que o idoso não esteja ainda reconhecendo isto através da percepção que o esforço já é UM POUCO FORTE. Por outro lado, a sudorese (presença de suor) não é um sinal confiável para avaliar o nível do esforço. A quantidade de suor é muito influenciada por características genéticas, climáticas e, também, por medicações. Isso faz com que algumas pessoas fiquem ensopadas de suor em pouco tempo e sob o mínimo esforço, enquanto outras permanecem totalmente livres de suor diante dos maiores esforços. Sabe-se que 1 em cada 10 idosos terá dificuldade em utilizar esta escala, portanto utilize-a de forma crítica: na Escala de Borg 10% dos idosos poderão apontar valores diferentes daquilo que realmente estão sentindo. Como é uma escala subjetiva, o desejo de parecer melhor, de agradar o professor, competir com os colegas pode levar o idoso a informar que está percebendo um esforço menor que o real - e você precisará ajudar esta pessoa a refrear sua pressa, sua ânsia por Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 61
  • 62. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. competir. Por outro lado, o medo de tentar algo novo, o medo de sofrer, o desejo de atenção extra, poderá levá-la a informar que está se esforçando mais que o real - e você precisará ajudar essa pessoa a aprender a lidar com seus medos e ansiedades, mostrando a ela que o que você planejou é seguro e que ela é capaz de cumprir o programa. Existem diversos modelos da Escala de Borg. Algumas foram adaptadas colocando desenhos no lugar da PSE, de forma a facilitar o entendimento do aluno a esta escala. Escolha sempre o modelo que melhor atenda às necessidades da sua turma de alunos. 5.1.4. Orientações específicas para uma prescrição A melhor maneira de escolher uma atividade para se alcançar objetivos específicos do treinamento é classificá-la de acordo com sua atuação dentro dos Componentes da Aptidão Física. De acordo com Falls (1980) são 4 os componentes da Aptidão Física: o Morfológico, o Cardiorrespiratório, o Muscular e o Articular. O trabalho sobre cada componente da aptidão física exige o desenvolvimento de Qualidades Físicas específicas. Assim, para melhorar a Aptidão Física Morfológica é preciso trabalhar sobre as Qualidades Físicas Percentual de Gordura e Distribuição da Gordura Corporal. Para melhorar a Aptidão Física Cardiorrespiratória é preciso trabalhar sobre a Qualidade Física denominada Potência Aeróbia. Para melhorar a Aptidão Física Muscular é preciso trabalhar sobre as Qualidades Físicas denominadas Força e Resistência Muscular. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 62
  • 63. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. E para melhorar a Aptidão Física Articular é preciso trabalhar sobre a Qualidade Física denominada Flexibilidade. Além disso, em um programa de condicionamento físico é necessário também acrescentar exercícios que desenvolvam outras habilidades físicas tais como equilíbrio, coordenação, agilidade, velocidade, tempo de reação e a potência. Potência Aeróbia As atividades físicas de natureza aeróbia são fundamentais para saúde do idoso, atuando como proteção contra diversos fatores de risco para as doenças cardiovasculares. • Intensidade: 40 a 80% da FCM (Freqüência Cardíaca Máxima) ou Esforço Percebido de 3 a 6 na Escala CR10 de Borg, tendo como metas valores de 50% a 60% da FCM e entre 3 e 4 na Escala CR10 de Borg. A atividade física regular promove um aumento da capacidade aeróbia máxima, devido a um aumento da oferta de oxigênio para o trabalho muscular. Desta forma a freqüência cardíaca e a pressão arterial são proporcionalmente menores para executar uma determinada carga de trabalho. As descargas simpáticas e a resistência vascular periférica diminuem, por conseguinte o trabalho muscular é obtido através da extração do oxigênio na periferia e não pelo aumento do fluxo sanguíneo e da pressão arterial. Portanto os músculos ficam mais eficientes e as necessidades de oxigênio no miocárdio ficam reduzidas (Faro Jr. et al., 1996). Obs: reabilitação 40%, ativos 50% a 60%; atletas 70%. • Duração: de 30 a 60 minutos por aula • Freqüência: mínimo de 3 e máximo de 5 aulas por semana • Repouso: mínimo de 6 horas a 24 horas entre sessões de treinamento. As características básicas na prescrição de um treino aeróbio para idosos são as mesmas da prescrição para o adulto jovem. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 63
  • 64. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. Quando se fala em INTENSIDADE, a FCM (Freqüência Cardíaca Máxima) representa o máximo de esforço fisiologicamente possível, a partir dele o sistema cardiorrespiratório não consegue mais suportar o esforço. Jamais se treinará próximo a 100% da FCM com o idoso. Mesmo atletas jovens de alto rendimento não trabalham mais que alguns minutos nesta intensidade. Em um programa de treinamento para idosos atletas a intensidade será diferente em cada fase do treinamento, podendo chegar a valores próximos dos 85% da FCM. Para a maioria dos idosos ativos, com o objetivo de promoção de saúde e condicionamento físico a faixa de trabalho será de 50% até valores próximos dos 60% da FCM (um pouco mais para alguns, um pouco menos para outros). Para idosos em reabilitação cardíaca (depois de um infarto ou de uma internação por fratura, por exemplo) e para aqueles sedentários, em início de treinamento, a intensidade deve começar com FCM próxima de 40% em sessões de duração inferior a 20 minutos e gradualmente subir tendo como meta a intensidade de 50 a 60% em sessão com 30 a 60 minutos de duração, quando termina a fase terapêutica de reabilitação ou adaptação ao exercício e o idoso passa a treinar com prescrições semelhantes aos dos idosos ativos. Para se calcular a FCM podem-se utilizar vários recursos. O mais comum é a Equação de Karvonen: FCM = 220 – idade Por exemplo: Qual é a FCM de um indivíduo de 70 anos? Utilizando a fórmula FCM = 220 – idade é só substituir a idade por 70 e fazer a conta. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 64
  • 65. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. Cálculo: FCM = 220 – 70 Resultado: 150 bpm (batimentos por minuto) Como jamais se trabalha na FCM, é importante calcular a Freqüência Cardíaca de Treinamento para este indivíduo. Suponhamos que este aluno, para quem calculamos a FCM de 150 bpm, é um idoso sedentário em início de treinamento ou é um cardíaco (ou hipertenso) em reabilitação. Sabendo que vamos trabalhar inicialmente com ele em uma faixa que deve começar a 40% da FCM e isto pode chegar a 60% da FCM. Qual será a faixa de treinamento para este idoso? Para isto, basta calcular quanto é 40% e 60% de 150 bpm. Cálculo: 40% de 150 = 60 bpm 60% de 150 = 90 bpm Portanto, com este aluno começaremos o treinamento a partir de uma freqüência cardíaca de 60 bpm que, ao longo do tempo, poderá chegar a 90 bpm. Se você analisa estes valores do ponto de vista do idoso saudável ou do adulto jovem, pode ser que os considere baixos demais para iniciar um treinamento. Entretanto, é preciso lembrar que o idoso sedentário e o cardíaco em reabilitação estão submetidos ao risco de evento cardiovascular (infarto, derrame, etc.) por sobrecarga de intensidade. Então, se ao ajustar a intensidade a essa freqüência cardíaca, o trabalho parecer leve para ele, aumente alguns minutos na duração, ou acrescente mais um dia de treino na freqüência semanal. Mas vá devagar com os aumentos na freqüência cardíaca. Outra observação que reforça a necessidade de começar com baixa intensidade é que boa parte dos idosos sedentários e todos os cardiopatas tomam alguma medicação (para controlar a pressão arterial, para diminuir a angina - dores Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 65
  • 66. SAFONS, M.P.; PEREIRA, M.M. Princípios Metodológicos da Atividade Física para Idosos. no peito, para as arritmias, para a insuficiência cardíaca, etc.) e muitas delas alteram a freqüência cardíaca. Algumas medicações diminuem a freqüência cardíaca, de maneira que, em repouso, ela muitas vezes fica próxima de 50 bpm e em muitos casos, mesmo sob grande esforço, ela não ultrapassa os 100 ou 120 bpm, pois o objetivo da medicação é justamente evitar que o coração seja sobrecarregado. Outras medicações diminuem a pressão arterial, que tende a permanecer baixa até diante de grandes esforços. E há, ainda, aquelas medicações que diminuem a angina, com elas a pessoa é capaz de suportar grades esforços sem sintomas cardíacos dolorosos. O resultado em todos os casos é que o idoso, mesmo apresentando baixa freqüência cardíaca, pressão arterial normal e nenhuma dor, pode infartar e morrer durante o exercício ou até algumas horas depois. Portanto, quando você treina o idoso sedentário ou cardiopata, ajustando a intensidade para 60 ou 70 bpm, para este idoso pode ser já é um grande salto. Para pessoas que tomam medicação para a pressão e o coração (os betabloqueadores são os mais comuns, mas não são os únicos) aumentar 10 a 20 batimentos pode ser suficiente para representar um esforço classificado entre moderado e um pouco forte. Sabendo que, muitas vezes, a freqüência cardíaca está alterada em função da ingestão de medicamentos e que isto pode mascarar a real freqüência cardíaca do idoso durante o esforço, é preciso cuidado no que tange a utilizar a freqüência cardíaca como parâmetro para avaliação ou prescrição do treinamento. Brasília: CREF/DF- FEF/UnB/GEPAFI, 2007. p. 66