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Caras e caros amigos da “Escola Sá Couto”,
       Caras e caros colegas de trabalho,
       Caras mães e caros pais,



       Faz hoje um mês que a Estefânia decidiu partir. Parece que já foi há muito tempo,
tantas e tão intensas foram as coisas todas que vivemos nestes 30 dias e nestas 30 noites.
Ao mesmo tempo, parece que ainda foi noutro dia que ela se ausentou do nosso convívio e
que em breve voltará, despertando-nos a todos deste sonho mau. Os sentimentos
atropelam-se no meio de tanta dor e tanto sofrimento, seja porque ela já não está connosco,
seja pelas circunstâncias dramáticas em que partiu, desesperadamente à procura de um
descanso que não encontrava, nem via possível, aqui.
       Faz hoje um mês e pouco a pouco, imagino, a memória que dela alguns têm vai-se
esvanecendo, vai ficando mais longínqua, porque a vida tem de continuar com os vivos, que
remédio... Diz-se que o tempo acaba por curar as feridas. Algumas curará, outras nem tanto,
mas há que arranjar forças e maneiras de tentar seguir em frente.

         Logo nos dias imediatos a este acontecimento tão triste, tive vontade de vos
escrever, a vós, colegas e amigas/amigos da Escola onde durante tantos anos ela trabalhou e
com quem tanto gostava (pelo menos durante tanto tempo) de estar. E porquê? Porque
para quem, como nós cá em casa, acompanhava muito de perto o dia-a-dia da Estefânia e o
seu pensar e o seu sentir, foi doloroso (e até surpreendente, confesso) ver como neste ano
lectivo, e muito em particular nos últimos dois ou três meses, a Escola se tornara numa
enorme fonte de sofrimento. Ela, que deu aulas durante 36 anos e aparentemente com bons
resultados (como durante este mês tantos antigos alunos seus nos vieram testemunhar),
sentia-se agora incompetente, incapaz, receosa do seu futuro profissional, atormentada pelo
mais e mais que o ‘sistema’ lhe vinha pedindo e angustiada pela dificuldade em dar resposta
a todas as solicitações. Fosse o manter a disciplina nas aulas, fosse o conseguir que os alunos
aprendessem os mínimos e se preparassem bem para os novos exames de fim de ano, fosse
o lidar com uma direcção de turma particularmente complicada por vários motivos, fosse o
gerir as incompreensões de pais que se demitem da sua função de educadores e atiram tudo
para os ombros dos professores, fosse o gerir alunos com necessidades especiais no meio, e
ao mesmo tempo, de alunos ´normais’, fosse o ter de preparar dar umas aulas de educação
sexual para que não se sentia adequadamente preparada, fosse o ter de avançar com um
‘Projecto’ que mal sabia por onde pegar ou como concretizar, fossem os planos de
recuperação deste e daquele e mais daquela, fossem as idas à CPCJ por causa de faltas não
justificadas, fosse… sei lá!, tanta coisa, tanta coisa, todo o dia, todos os dias, e ela cada vez
mais amargurada, cada vez mais sem saber para onde sair, cada vez mais deprimida, cada
vez mais ameaçada (sim, que ela sentia-se de algum modo ameaçada) por um futuro
profissional que encarava com crescente cepticismo. Mas não aceitava a alternativa, que lhe
sugerimos mais de uma vez, de parar, de meter ‘baixa’ médica por uns tempos, porventura
de começar mesmo a pensar numa reforma antecipada. Não. Queria continuar a tentar, pelo

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menos mais um bocadinho, até porque vinham aí as avaliações do 2º período e os miúdos
não podiam ficar agora sem professora, e porque talvez as coisas fossem melhorando, e isto
e aquilo… E cada vez mais nós sentíamos que ela estava com imensa dificuldade em ir para a
escola, mas também claramente incapaz de não ir, dado o seu enorme brio profissional e o
seu profundo sentido de responsabilidade para com os alunos.

        Eu sei, e vocês (sobretudo as amigas e os amigos mais próximos) sabem melhor do
que eu, que nem todos estes problemas seriam problemas objectivamente muito graves,
dramáticos, insuperáveis. Alguns destes problemas sentem-nos vocês próprios e não os
vivem com a angústia com que a Estefânia estava a vivê-los. Ela porventura sentia-os
exageradamente, porventura via ‘fantasmas’ onde não havia mais do que dificuldades
próprias de um trabalho exigente, porventura dramatizava mais do que devia, porventura
deixou-se enredar numa teia interior de tristeza e de impotência que fazia o presente (e o
futuro…) muito mais negro do que a realidade objectiva dos factos. Mas isto também vai da
sensibilidade de cada um, não é? E a verdade é que ela sentia tudo isto, e sentia-o com um
tremendo dramatismo! Eu ouvi-a, nós ouvimo-la cá em casa, dias e dias seguidos a falar
destas coisas todas, a sonhar com elas, a não conseguir dormir por causa delas, a lamentar-
se por não saber o que fazer ou para onde se virar. Na conversa, procurávamos
desdramatizar, relativizar, acalmar, ajudar (como sei que as suas amigas e amigos aí da
Escola também tentaram), mas não parecia dar grande resultado. E, tragicamente, não deu.
Como se viu. Lá no seu íntimo, não havia solução para nada e a dor tomava conta dela.

        Não digo que a decisão da Estefânia de pôr termo à vida tenha sido provocada
directamente (ou exclusivamente) pelo seu mal-estar profissional. Nenhum de nós – mesmo
os que partilhávamos casa e vida há mais de 30 anos – conhecerá alguma vez, com certeza
certa, tudo o que lhe passava pela cabeça e pela alma e o que a levou a decidir acabar com
tudo. Sei, como sabem as suas amigas e amigos mais próximos, que ela, nos últimos anos, foi
ficando mais triste, mais fechada, mais só, mais desesperançada – e parte disso deveu-se,
certamente, a factores que pouco terão a ver com a Escola. Não é segredo que as
circunstâncias muito difíceis com que teve de lidar em termos familiares, sobretudo num
passado mais recente com a morte do irmão e a dolorosa incapacidade da mãe, a
deprimiram fortemente e lhe foram retirando, em boa medida, aquele gosto de viver
singelo, espontâneo e risonho que lhe conhecíamos. E talvez nenhum de nós (a começar
pela sua família mais próxima) tenha percebido a profundidade da angústia e a intensidade
do sofrimento que a foram minando por dentro até à impossibilidade total, até à exaustão,
até ao último gesto de desespero em busca de um pouco de paz. Talvez não tenhamos
percebido o tamanho da sua fragilidade, talvez não a tenhamos ajudado como deveríamos e
como ela precisaria. Essa é uma outra ferida, aliada à dor insuportável pela sua ausência,
que há-de acompanhar-nos sempre.

      Mas, se é verdade que a Estefânia sofria dentro dela por diversos motivos, também é
bem verdade que, sobretudo nestes últimos meses, sofria, e sofria muitíssimo, por causa da

                                                                                         2
escola. Não por causa dessa escola em particular: à ‘Sá Couto’ e a quem aí trabalha ela não
poupava elogios. Não por causa dessa escola, mas por causa DA ESCOLA, daquilo em que a
escola/sistema de ensino se vem transformando, exigindo cada vez mais aos professores
mas obrigando-os a dar resposta em condições cada vez mais complicadas. Sabem do que
falo, e sabem-no bem melhor do que eu. E todos sabemos como, por causa destas
dificuldades crescentes (a que se soma uma chocante demissão de muitos pais das suas
responsabilidades na educação dos filhos) nestes últimos anos, tantos professores
apaixonados pela sua profissão acabaram por não aguentar mais e por ir embora, por
antecipar uma reforma, por meter uma baixa prolongada, por deixar de se interessar, por
desmotivar e passar a cumprir apenas os ‘serviços mínimos’, face ao desencanto acumulado.
        Isto, tudo isto, também contribuiu em larga medida para o enorme cansaço da
Estefânia, para a sua crescente desmotivação, para os seus medos do que viesse por aí, para
a sua cada vez maior solidão, para um mal-estar cada vez mais frequente e intenso que se foi
transformando em desespero e em beco sem saída. Tudo isto também contribuiu para que
ela deixasse de ser capaz, deixasse de aguentar. Para que ela desistisse – e da própria vida,
como dramaticamente desistiu.

        Ao escrever estas linhas, repito, não pretendo encontrar culpados por aquilo que
sucedeu. Se há alguém a quem posso atribuir culpas pelo sucedido, esse alguém sou eu
próprio. Enquanto companheiro ao longo de quase 40 anos, enquanto marido e pai das
nossas filhas, julgava que a conhecia bem, mas tinha a obrigação de a conhecer ainda
melhor, pois nunca imaginei, apesar de todas as dificuldades e agruras, que pudesse fazer o
que fez. E ainda hoje passo os dias e as noites à volta de uma simples pergunta – “Porquê?...
Mas porquê?...” – que nunca terá resposta cabal. Mas sei bem que eu, mais do que qualquer
pessoa, podia e devia ter feito mais pela Estefânia, quer nos últimos meses em que a tristeza
foi alastrando, quer ao longo dos muitos anos de vida comum. Olho agora para trás e
lamento profundamente o muito que podia ter feito e não fiz para que ela se sentisse ainda
mais amada, mais acompanhada, mais querida, mais apoiada, mais compreendida, mais com
a certeza de que podia contar comigo, connosco, para tudo o que quisesse, e que juntos, nós
os dois mais as nossas filhas, com todo o amor que lhe temos, iríamos encontrar maneira de
ultrapassar os problemas. Sinto esta culpa, hei-de senti-la sempre e por vezes mal aguento a
dor enorme que ela me causa, até porque não posso voltar atrás e fazer melhor o que não
fiz bem. E a única coisa que hoje posso fazer é tentar cuidar o melhor possível das nossas
duas filhas onde a vida da Estefânia se mantém e se prolonga, e, através delas, procurar
compensar um pouco o tanto que deixei por fazer no passado.
        Para além de mim próprio, não quero, portanto, culpar nada nem ninguém pela
dramática decisão que a Estefânia acabou por tomar. Sei também, volto a dizê-lo, que o seu
estado depressivo não advinha apenas do seu mal-estar em termos profissionais. Mas a
verdade é que esse mal-estar também teve aqui, infelizmente, um papel muito relevante. E
por isso quis, de coração aberto e com grande amizade, partilhar convosco estas reflexões,
para que todos tomemos, se possível, um pouco mais de consciência de como certas coisas
podem fazer tão mal às pessoas, a ponto de as levar a estados de absoluta impotência e de

                                                                                           3
total desesperança. E essas pessoas podem ser a nossa colega ou o nosso colega de
trabalho, que passa por nós todos os dias e em quem nem sempre reparamos. E essas
pessoas podem ir-se isolando cada vez mais, a ponto de quase nem se dar por elas, até que
de repente surge uma notícia terrível que nos faz estremecer de incredulidade.
        Se me permitem este singelo apelo, em nome da Estefânia e em homenagem a ela,
falem destas coisas uns com os outros, falem do vosso mal-estar, exponham-no, gritem-no
se preciso for, partilhem os problemas e as dificuldades, ajudem-se uns aos outros e ajudem
sobretudo os mais frágeis, estejam atentos a sinais que possam indiciar a necessidade de um
apoio mais forte, encontrem modos de solidariamente lidar com as agruras crescentes de
um tão incompreendido e tão desvalorizado trabalho docente, sobretudo aquele que se
desenvolve com adolescentes e jovens. Apesar das imposições frias e economicistas de um
sistema que quase só vê números e estatísticas, é de pessoas e com pessoas que estamos a
tratar, é de pessoas e com pessoas que vive uma escola que se pretende autenticamente um
espaço de educação, de formação, de crescimento autêntico e saudável.
        Apelo também a que falem destas coisas com os pais dos alunos: que eles se
lembrem sempre que no papel de professores e professoras estão pessoas de carne e osso;
pessoas que tentam dar o seu melhor mas que não podem fazer tudo e que por vezes
também erram, mas não de propósito ou por maldade; pessoas que precisam de contar com
uma cumplicidade permanente e activa dos encarregados de educação, pois o trabalho
educativo só se faz bem na escola se se fizer bem em casa; pessoas que têm o direito de ser
ouvidas antes de julgadas; pessoas que têm direito a descansar à noite em casa, com as suas
próprias famílias (sim, que os professores também são pais e mães, também têm filhos para
cuidar…), sem que o telemóvel as chame a desoras; enfim, pessoas que se esforçam muito
num trabalho tão difícil, pessoas que dão aos alunos o melhor das suas energias, quantas
vezes a troco de nada – nem de uma simples palavra de reconhecimento.

        Agradeço, em meu nome e das nossas filhas – e também, se me permitem, em nome
da própria Estefânia, cuja memória queremos preservar e honrar –, a atenção que queiram
prestar a estas reflexões. São reflexões de um marido, de um pai, e também de um professor
como vocês, que se sente tristemente impotente para alterar o que sucedeu mas que
gostaria que, pelo menos, todos nós aprendêssemos algo com este drama. Em homenagem
à Estefânia, que tanto amamos, que guardaremos sempre com o maior carinho no fundo dos
nossos corações e que queremos manter viva, verdadeiramente viva, através de tudo (e
tanto, tanto foi!…) o que de bom e de bonito nos foi dando ao longo da sua vida. Uma vida
que não foi de modo nenhum, e prometo que nunca será, em vão.



       Com um grande abraço de amizade,
       Joaquim Fidalgo



Espinho, 1 de Abril de 2012

                                                                                         4

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A Dor de uma Professora e o Peso da Escola

  • 1. Caras e caros amigos da “Escola Sá Couto”, Caras e caros colegas de trabalho, Caras mães e caros pais, Faz hoje um mês que a Estefânia decidiu partir. Parece que já foi há muito tempo, tantas e tão intensas foram as coisas todas que vivemos nestes 30 dias e nestas 30 noites. Ao mesmo tempo, parece que ainda foi noutro dia que ela se ausentou do nosso convívio e que em breve voltará, despertando-nos a todos deste sonho mau. Os sentimentos atropelam-se no meio de tanta dor e tanto sofrimento, seja porque ela já não está connosco, seja pelas circunstâncias dramáticas em que partiu, desesperadamente à procura de um descanso que não encontrava, nem via possível, aqui. Faz hoje um mês e pouco a pouco, imagino, a memória que dela alguns têm vai-se esvanecendo, vai ficando mais longínqua, porque a vida tem de continuar com os vivos, que remédio... Diz-se que o tempo acaba por curar as feridas. Algumas curará, outras nem tanto, mas há que arranjar forças e maneiras de tentar seguir em frente. Logo nos dias imediatos a este acontecimento tão triste, tive vontade de vos escrever, a vós, colegas e amigas/amigos da Escola onde durante tantos anos ela trabalhou e com quem tanto gostava (pelo menos durante tanto tempo) de estar. E porquê? Porque para quem, como nós cá em casa, acompanhava muito de perto o dia-a-dia da Estefânia e o seu pensar e o seu sentir, foi doloroso (e até surpreendente, confesso) ver como neste ano lectivo, e muito em particular nos últimos dois ou três meses, a Escola se tornara numa enorme fonte de sofrimento. Ela, que deu aulas durante 36 anos e aparentemente com bons resultados (como durante este mês tantos antigos alunos seus nos vieram testemunhar), sentia-se agora incompetente, incapaz, receosa do seu futuro profissional, atormentada pelo mais e mais que o ‘sistema’ lhe vinha pedindo e angustiada pela dificuldade em dar resposta a todas as solicitações. Fosse o manter a disciplina nas aulas, fosse o conseguir que os alunos aprendessem os mínimos e se preparassem bem para os novos exames de fim de ano, fosse o lidar com uma direcção de turma particularmente complicada por vários motivos, fosse o gerir as incompreensões de pais que se demitem da sua função de educadores e atiram tudo para os ombros dos professores, fosse o gerir alunos com necessidades especiais no meio, e ao mesmo tempo, de alunos ´normais’, fosse o ter de preparar dar umas aulas de educação sexual para que não se sentia adequadamente preparada, fosse o ter de avançar com um ‘Projecto’ que mal sabia por onde pegar ou como concretizar, fossem os planos de recuperação deste e daquele e mais daquela, fossem as idas à CPCJ por causa de faltas não justificadas, fosse… sei lá!, tanta coisa, tanta coisa, todo o dia, todos os dias, e ela cada vez mais amargurada, cada vez mais sem saber para onde sair, cada vez mais deprimida, cada vez mais ameaçada (sim, que ela sentia-se de algum modo ameaçada) por um futuro profissional que encarava com crescente cepticismo. Mas não aceitava a alternativa, que lhe sugerimos mais de uma vez, de parar, de meter ‘baixa’ médica por uns tempos, porventura de começar mesmo a pensar numa reforma antecipada. Não. Queria continuar a tentar, pelo 1
  • 2. menos mais um bocadinho, até porque vinham aí as avaliações do 2º período e os miúdos não podiam ficar agora sem professora, e porque talvez as coisas fossem melhorando, e isto e aquilo… E cada vez mais nós sentíamos que ela estava com imensa dificuldade em ir para a escola, mas também claramente incapaz de não ir, dado o seu enorme brio profissional e o seu profundo sentido de responsabilidade para com os alunos. Eu sei, e vocês (sobretudo as amigas e os amigos mais próximos) sabem melhor do que eu, que nem todos estes problemas seriam problemas objectivamente muito graves, dramáticos, insuperáveis. Alguns destes problemas sentem-nos vocês próprios e não os vivem com a angústia com que a Estefânia estava a vivê-los. Ela porventura sentia-os exageradamente, porventura via ‘fantasmas’ onde não havia mais do que dificuldades próprias de um trabalho exigente, porventura dramatizava mais do que devia, porventura deixou-se enredar numa teia interior de tristeza e de impotência que fazia o presente (e o futuro…) muito mais negro do que a realidade objectiva dos factos. Mas isto também vai da sensibilidade de cada um, não é? E a verdade é que ela sentia tudo isto, e sentia-o com um tremendo dramatismo! Eu ouvi-a, nós ouvimo-la cá em casa, dias e dias seguidos a falar destas coisas todas, a sonhar com elas, a não conseguir dormir por causa delas, a lamentar- se por não saber o que fazer ou para onde se virar. Na conversa, procurávamos desdramatizar, relativizar, acalmar, ajudar (como sei que as suas amigas e amigos aí da Escola também tentaram), mas não parecia dar grande resultado. E, tragicamente, não deu. Como se viu. Lá no seu íntimo, não havia solução para nada e a dor tomava conta dela. Não digo que a decisão da Estefânia de pôr termo à vida tenha sido provocada directamente (ou exclusivamente) pelo seu mal-estar profissional. Nenhum de nós – mesmo os que partilhávamos casa e vida há mais de 30 anos – conhecerá alguma vez, com certeza certa, tudo o que lhe passava pela cabeça e pela alma e o que a levou a decidir acabar com tudo. Sei, como sabem as suas amigas e amigos mais próximos, que ela, nos últimos anos, foi ficando mais triste, mais fechada, mais só, mais desesperançada – e parte disso deveu-se, certamente, a factores que pouco terão a ver com a Escola. Não é segredo que as circunstâncias muito difíceis com que teve de lidar em termos familiares, sobretudo num passado mais recente com a morte do irmão e a dolorosa incapacidade da mãe, a deprimiram fortemente e lhe foram retirando, em boa medida, aquele gosto de viver singelo, espontâneo e risonho que lhe conhecíamos. E talvez nenhum de nós (a começar pela sua família mais próxima) tenha percebido a profundidade da angústia e a intensidade do sofrimento que a foram minando por dentro até à impossibilidade total, até à exaustão, até ao último gesto de desespero em busca de um pouco de paz. Talvez não tenhamos percebido o tamanho da sua fragilidade, talvez não a tenhamos ajudado como deveríamos e como ela precisaria. Essa é uma outra ferida, aliada à dor insuportável pela sua ausência, que há-de acompanhar-nos sempre. Mas, se é verdade que a Estefânia sofria dentro dela por diversos motivos, também é bem verdade que, sobretudo nestes últimos meses, sofria, e sofria muitíssimo, por causa da 2
  • 3. escola. Não por causa dessa escola em particular: à ‘Sá Couto’ e a quem aí trabalha ela não poupava elogios. Não por causa dessa escola, mas por causa DA ESCOLA, daquilo em que a escola/sistema de ensino se vem transformando, exigindo cada vez mais aos professores mas obrigando-os a dar resposta em condições cada vez mais complicadas. Sabem do que falo, e sabem-no bem melhor do que eu. E todos sabemos como, por causa destas dificuldades crescentes (a que se soma uma chocante demissão de muitos pais das suas responsabilidades na educação dos filhos) nestes últimos anos, tantos professores apaixonados pela sua profissão acabaram por não aguentar mais e por ir embora, por antecipar uma reforma, por meter uma baixa prolongada, por deixar de se interessar, por desmotivar e passar a cumprir apenas os ‘serviços mínimos’, face ao desencanto acumulado. Isto, tudo isto, também contribuiu em larga medida para o enorme cansaço da Estefânia, para a sua crescente desmotivação, para os seus medos do que viesse por aí, para a sua cada vez maior solidão, para um mal-estar cada vez mais frequente e intenso que se foi transformando em desespero e em beco sem saída. Tudo isto também contribuiu para que ela deixasse de ser capaz, deixasse de aguentar. Para que ela desistisse – e da própria vida, como dramaticamente desistiu. Ao escrever estas linhas, repito, não pretendo encontrar culpados por aquilo que sucedeu. Se há alguém a quem posso atribuir culpas pelo sucedido, esse alguém sou eu próprio. Enquanto companheiro ao longo de quase 40 anos, enquanto marido e pai das nossas filhas, julgava que a conhecia bem, mas tinha a obrigação de a conhecer ainda melhor, pois nunca imaginei, apesar de todas as dificuldades e agruras, que pudesse fazer o que fez. E ainda hoje passo os dias e as noites à volta de uma simples pergunta – “Porquê?... Mas porquê?...” – que nunca terá resposta cabal. Mas sei bem que eu, mais do que qualquer pessoa, podia e devia ter feito mais pela Estefânia, quer nos últimos meses em que a tristeza foi alastrando, quer ao longo dos muitos anos de vida comum. Olho agora para trás e lamento profundamente o muito que podia ter feito e não fiz para que ela se sentisse ainda mais amada, mais acompanhada, mais querida, mais apoiada, mais compreendida, mais com a certeza de que podia contar comigo, connosco, para tudo o que quisesse, e que juntos, nós os dois mais as nossas filhas, com todo o amor que lhe temos, iríamos encontrar maneira de ultrapassar os problemas. Sinto esta culpa, hei-de senti-la sempre e por vezes mal aguento a dor enorme que ela me causa, até porque não posso voltar atrás e fazer melhor o que não fiz bem. E a única coisa que hoje posso fazer é tentar cuidar o melhor possível das nossas duas filhas onde a vida da Estefânia se mantém e se prolonga, e, através delas, procurar compensar um pouco o tanto que deixei por fazer no passado. Para além de mim próprio, não quero, portanto, culpar nada nem ninguém pela dramática decisão que a Estefânia acabou por tomar. Sei também, volto a dizê-lo, que o seu estado depressivo não advinha apenas do seu mal-estar em termos profissionais. Mas a verdade é que esse mal-estar também teve aqui, infelizmente, um papel muito relevante. E por isso quis, de coração aberto e com grande amizade, partilhar convosco estas reflexões, para que todos tomemos, se possível, um pouco mais de consciência de como certas coisas podem fazer tão mal às pessoas, a ponto de as levar a estados de absoluta impotência e de 3
  • 4. total desesperança. E essas pessoas podem ser a nossa colega ou o nosso colega de trabalho, que passa por nós todos os dias e em quem nem sempre reparamos. E essas pessoas podem ir-se isolando cada vez mais, a ponto de quase nem se dar por elas, até que de repente surge uma notícia terrível que nos faz estremecer de incredulidade. Se me permitem este singelo apelo, em nome da Estefânia e em homenagem a ela, falem destas coisas uns com os outros, falem do vosso mal-estar, exponham-no, gritem-no se preciso for, partilhem os problemas e as dificuldades, ajudem-se uns aos outros e ajudem sobretudo os mais frágeis, estejam atentos a sinais que possam indiciar a necessidade de um apoio mais forte, encontrem modos de solidariamente lidar com as agruras crescentes de um tão incompreendido e tão desvalorizado trabalho docente, sobretudo aquele que se desenvolve com adolescentes e jovens. Apesar das imposições frias e economicistas de um sistema que quase só vê números e estatísticas, é de pessoas e com pessoas que estamos a tratar, é de pessoas e com pessoas que vive uma escola que se pretende autenticamente um espaço de educação, de formação, de crescimento autêntico e saudável. Apelo também a que falem destas coisas com os pais dos alunos: que eles se lembrem sempre que no papel de professores e professoras estão pessoas de carne e osso; pessoas que tentam dar o seu melhor mas que não podem fazer tudo e que por vezes também erram, mas não de propósito ou por maldade; pessoas que precisam de contar com uma cumplicidade permanente e activa dos encarregados de educação, pois o trabalho educativo só se faz bem na escola se se fizer bem em casa; pessoas que têm o direito de ser ouvidas antes de julgadas; pessoas que têm direito a descansar à noite em casa, com as suas próprias famílias (sim, que os professores também são pais e mães, também têm filhos para cuidar…), sem que o telemóvel as chame a desoras; enfim, pessoas que se esforçam muito num trabalho tão difícil, pessoas que dão aos alunos o melhor das suas energias, quantas vezes a troco de nada – nem de uma simples palavra de reconhecimento. Agradeço, em meu nome e das nossas filhas – e também, se me permitem, em nome da própria Estefânia, cuja memória queremos preservar e honrar –, a atenção que queiram prestar a estas reflexões. São reflexões de um marido, de um pai, e também de um professor como vocês, que se sente tristemente impotente para alterar o que sucedeu mas que gostaria que, pelo menos, todos nós aprendêssemos algo com este drama. Em homenagem à Estefânia, que tanto amamos, que guardaremos sempre com o maior carinho no fundo dos nossos corações e que queremos manter viva, verdadeiramente viva, através de tudo (e tanto, tanto foi!…) o que de bom e de bonito nos foi dando ao longo da sua vida. Uma vida que não foi de modo nenhum, e prometo que nunca será, em vão. Com um grande abraço de amizade, Joaquim Fidalgo Espinho, 1 de Abril de 2012 4