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APRENDENDO COM ANIMES: A MITOLOGIA COMO FONTE DE
INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE LITERATURA NO
ENSINO MÉDIO
Amanda Borges Brussio 1
Josenildo Campos Brussio 2

RESUMO

Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa sobre a utilização de animes
como instrumento metodológico para construção de um trabalho interdisciplinar com
alunos do 1º ano do Ensino Médio, da Escola Pública Estadual Antônio Ribeiro,
localizada na periferia de São Luís/MA. Verificou-se o interesse dos alunos em
animes como Os Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Naruto, Dragon Ball, o que levou o
professor de literatura a trabalhar diferentes textos literários (mitos da Grécia Antiga)
a partir dos animes. Além da literatura, outras disciplinas puderam interagir nas
atividades com os animes, como a Química (o zero absoluto na luta entre Yoga e
Camus, de Aquário), a Geografia e a Psicologia (os sete chakras da mitologia hindu,
base da coluna cervical, pontos genitais, zona umbilical/estomacal, coração,
olhos/visão, cérebro) e a História e a Filosofia. A interdisciplinaridade, segundo Ivani
Fazenda (1998), consiste em “ser capaz de ver e entender o mundo de forma
holística, em sua rede infinita de relações, em sua complexidade”. A presente
pesquisa demonstra que os animes podem ser uma ótima ferramenta para atingir os
objetivos propostos nos PCNs e a LDB 9.394/96, além de aproximar os alunos do
Ensino Médio da pesquisa científica, ao entrarem em contato com autores como
Joseph Campbell (2001), Gaston Bachelard (2008), Gilbert Durand (1997), entres
outros, que nos permitem estudar o imaginário que se apresenta nesses animes.
Palavras-chave: Interdisciplinaridade – Ensino Médio – Animes – Imaginário

1

Especialista em Psicopedagogia Educacional e Institucional. Professora de Português e Literatura do 1º e 2º do
Ensino Médio, na rede privada de São Luís/MA e Diretora Adjunta da rede municipal (SEMED). E-mail:
amandabrussio@hotmail.com.
2
Doutor em Psicologia Social (UERJ), Professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da
UFMA/São Bernardo-MA. E-mail: jbrussio@bol.com.br.
INTRODUÇÃO

Desenvolver o gosto pela leitura e tornar interessante a aula de literatura
são missões bem difíceis para o professor de Língua Portuguesa no cotidiano da
sala de aula no Ensino Médio.
Vivemos em um mundo globalizado, que bombardeia cada vez mais os
jovens com informações variadas e, em sua maioria, descontextualizadas dos
conteúdos programáticos delimitados pelos nossos planejamentos escolares. Ainda
que a educação brasileira tenha dado um grande salto com a LDB 9.394/96 e os
PCNs para o Ensino Médio, incorremos em erros no ensino das linguagens, por
ainda não conseguirmos (a grande maioria) desenvolver em nossos alunos as
habilidades e competências propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais na
área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias.
Mas, não culpemos somente o aluno, grande parte do fracasso deste
processo recai sobre o educador, que deve ser o primeiro a vencer os obstáculos
com que se depara no ensino cotidiano da Língua Portuguesa: alunos
desinteressados, salas de aula lotadas, às vezes, sem recursos tecnológicos e de
apoio, falta de tempo para planejar, pesquisar e preparar aulas, entre outros
problemas.
Ensinar Língua Portuguesa, em especial, é tarefa árdua porque ainda o
fazemos tradicionalmente, ainda que imersos em um oceano de informações,
separando a gramática da leitura, da literatura e da produção textual, como se
fossem coisas separadas. Alguns professores até se esforçam para seguir as
propostas dos PCNs, embora os conteúdos programáticos, conforme dispostos nos
livros didáticos ainda estejam bem distantes do exigido nas provas do ENEM.
Nas aulas de literatura, por exemplo, o próprio livro didático, ainda que
inicie um capítulo por um texto relacionado ao assunto, não abandona a sequência:
contexto histórico, características e produção literária. Ou seja, dificilmente, o
professor parte do texto para o autor, para o contexto histórico, para as
características, etc.
Tal prática é decorrente ainda da formação acadêmica que geralmente
adquirimos em nossa formação docente, geralmente, transmitida pela formação de
nossos professores, que transmitem os conhecimentos conforme suas convicções
acadêmicas, linha de pesquisa, publicações, orientações.
Embora tais problemas ocorram, não podemos perder o foco de que a
literatura está em tudo, que um dos objetivos propostos pelos PCNs para o Ensino
Médio, na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias é possibilitar ao aluno “a
compreensão e o uso de sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios
de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão,
comunicação e informação” (PCNs – Ensino Médio, MEC, 2000).
Por isso,

abordaremos neste artigo

um

relato

de

experiências

desenvolvidas com alunos do Ensino Médio da Escola Pública Estadual Antônio
Ribeiro, do Colégio universitário da Universidade Federal do Maranhão e da Escola
Privada Colégio Paralelo, ambas localizadas em São Luís, capital do Maranhão. Na
primeira e na segunda, as aulas de Língua Portuguesa e Literatura foram
ministradas pelo professor Josenildo Brussio, na terceira, pela professora Amanda
Brussio.
No primeiro capítulo do artigo, falaremos sobre os problemas no ensino
da literatura que nos levaram a buscar os animes e a mitologia como fontes de
estímulo para tornar interessantes as aulas. No segundo capitulo, vamos descrever
alguns procedimentos adotados nas aulas de maneira a compartilhar com demais
colegas professores a metodologia desenvolvida. No terceiro capítulo, os resultados
desta pesquisa e o incentivo à pesquisa científica no Ensino Médio que fomos
buscar a partir destas experiências.

1

ANIMES E MITOLOGIA NAS AULAS DE LITERATURA: UM RELATO DE
EXPERIÊNCIAS

Quando começou a fazer pesquisas do Mestrado em Educação sobre a
relação entre professor e aluno no processo ensino-aprendizagem3, o professor
Josenildo Brussio percebeu que o método que utilizava para ministrar as suas aulas
de literatura surtia um efeito positivo em relação ao processo ensino-aprendizagem,
visto que os alunos apresentaram um excelente rendimento no ENEM de 2009,
principalmente, na área de Linguagens e Códigos e suas tecnologias e na prova de

3

Quando fez o Mestrado em Educação, Josenildo Campos Brussio, ainda era professor do Ensino Médio no
Colégio Universitário (COLUN/UFMA). Antes disso, também ministrava aulas de Língua Portuguesa e Literatura
na rede pública estadual e em uma universidade particular (UNICEUMA).
redação. Isto não quer dizer que não tenham ocorridos resultados positivos também
nas demais áreas do conhecimento.
Percebemos que o desenvolvimento dos alunos nas habilidades de ler e
interpretar resultou da forma como foi trabalhada a disciplina de Língua Portuguesa
e Literatura. A princípio, pensamos em trabalhar com algum instrumento
metodológico que causasse o interesse dos alunos nas aulas de literatura,
principalmente. Assim, consultamos os alunos para descobrir que tipo de diversão
eles buscavam no dia-a-dia e, dentre as opções, apareceram os animes4.
O primeiro anime com o qual entrei em contato foi a série Os Cavaleiros
do Zodíaco5, quando ainda ministrava aulas de português no Ensino Fundamental,
em 1994. Quando começou a ministrar aulas de literatura no Ensino Médio, em
1995, já contava com um público-alvo “viciado” nos Cavaleiros do Zodíaco e sempre
procurava vincular às aulas a série.
Sempre que possível, os alunos tentavam adquirir este mesmo espaço de
diálogo com professores de outras disciplinas, muitos não cediam, alguns
interagiam. Dessa maneira, tivemos a oportunidade de interagir com o professor de
Química no episódio em que se passa a luta do cavaleiro de bronze, Yoga de Cisne,
contra o mestre de seu mestre, o cavaleiro de ouro, Camus de Aquário. Neste
episódio, fizemos uma aula conjunta, no turno oposto, para termos tempo de exibir o
episódio e sobrar mais tempo para as discussões. Yoga e Camus são cavaleiros que
usam o frio como força e poder. No decorrer da batalha, o mestre relembra ao
discípulo a explicação sobre o zero absoluto6, habilidade essencial para vencer
uma luta entre cavaleiros de gelo.
É nesse momento que o professor de Química entra em ação e revela a
contribuição do anime para a aula sobre Escalas Termométricas, pois o Zero
4

Basicamente, animes são os desenhos animados produzidos no Japão. Para os japoneses os animes são todos
os desenhos animados, independente da sua origem, nacional ou estrangeira. Para o mundo ocidental, os
animes são apenas os desenhos animados do Japão.
5
Saint Seiya (聖闘士星矢 Seinto Seiya, lit. "Santo Seiya"), conhecido nos países lusófonos como Os Cavaleiros
do Zodíaco, é uma série japonesa (anime e mangá) de grande sucesso no mundo durante a década de 1990 e
também um dos grandes responsáveis pela divulgação dos animes no Brasil. No Brasil, o lançamento da série
em 1994 foi responsável por mudar a maneira que o público assistia animes, desencadeando uma "animemania".
6
Por volta do século XIX, o cientista inglês William Thompson, mais conhecido como Lorde Kelvin, percebeu,
através de experimentação, que quando um gás a volume constante era resfriado de 0°C a -1°C sua pressão
diminuía cerca de 1/273 do valor inicial. Sendo a pressão do gás uma consequência da agitação térmica das
partículas, Kelvin concluiu que a temperatura deveria diminuir de 273°C até que cessasse o movimento das
partículas, ou seja, o estado de agitação térmica das partículas deveria ser nulo, e adotou o valor -273 °C como
origem da escala absoluta: 0 K (zero Kelvin) ou zero absoluto.
Absoluto representa 273º da Escala Kelvin. De um episódio de anime discutido em
uma aula de literatura, chegamos a interdisciplinaridade, com a participação do
professor de química. Fica evidente que qualquer assunto de uma disciplina pode
sempre dialogar com uma ou mais disciplinas. Este é o grande salto da
interdisciplinaridade, o aluno adquire uma compreensão mais ecumênica do mundo,
partindo de um único assunto. É um processo de diversas vias, não há ponto de
partida definido, qualquer um pode tomar a iniciativa. Por exemplo, poderia ter sido o
professor de química que poderia ter usado o anime como ponto de partida para a
aula de Escalas Termométricas e convidado o professor de literatura, filosofia,
geografia, entre outros para interagirem, não acham?
A interdisciplinaridade, segundo Ivani Fazenda (1998), consiste em “ser
capaz de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de
relações,

em

sua

complexidade”.

Tendo

em

vista

estas

reflexões,

a

interdisciplinaridade se realiza como uma forma de ver e sentir o mundo, de estar no
mundo, de perceber, de entender as múltiplas implicações que se realizam, ao
analisar um acontecimento, um aspecto da natureza, isto é, os fenômenos na
dimensão social, natural ou cultural.
Fica evidente que, para realizar uma atividade interdisciplinar como esta,
é necessário que o professor desenvolva-se enquanto pesquisador, ampliando sua
percepção dos conteúdos que trabalha na sala de aula em correlação às múltiplas
formas de manifestação daquele conhecimento. Por isso, afirma Ivani fazenda
(1992);

O valor e a aplicabilidade da Interdisciplinaridade, portanto, podemse verificar tanto na formação geral, profissional, de pesquisadores,
como meio de superar a dicotomia ensino-pesquisa e como forma de
permitir uma educação permanente. FAZENDA (1992, p.49)

Como se vê, na citação acima, para se superar a dicotomia ensinopesquisa, é necessária a formação profissional de professores-pesquisadores7
que estejam dispostos a proporcionar aos seus alunos o universo da pesquisa. Por
meio a pesquisa, fica mais fácil compreender o pensamento de Paulo Freire (1996),
7

Vale ressaltar que usaremos esta expressão no artigo por falta de outro termo para substituí-la no contexto,
uma vez que concordamos com o pensamento de Paulo Freire que discorda desta expressão “professorpesquisador”, pois coloca que “o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de
ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca,
a pesquisa” (FREIRE, 1996, p. 29).
“quem ensina aprende ao ensinar, quem aprende ensina ao aprender”, pois nesta
troca de conhecimentos também se constrói a interdisciplinaridade.
Além dos cavaleiros do zodíaco, outro anime muito interesse para se
trabalhar com os alunos do ensino médio é Fullmetal Alquimist, mais conhecido
como o Alquimista de Aço. Este anime oferece muitas discussões nas disciplinas de
química, física, biologia e geografia.
Diz a Alquimia que pode conseguir-se qualquer coisa, desde que se
pague o que se deseja tanto com um valor equivalente. É a lei máxima da Alquimia,
a "Troca Equivalente". Transmuta-se um objeto reorganizando e recombinando as
substâncias químicas que compõem o objeto. Como um corpo humano é composto
por diversos elementos químicos, em teoria, pode-se criá-lo misturando os
elementos certos e em suas devidas proporções. Pondo esta teoria na prática, os
protagonistas do anime, os irmãos Elric, que perderam a sua mãe por uma doença
desconhecida, utilizam a receita do livro para trazer a mãe de volta a vida, e, como
último ingrediente, acrescentam uma gota de seu sangue, que carrega as
lembranças genéticas da mãe. Assim, é quebrado o maior tabu da Alquimia:
a Transmutação Humana. Entretanto, os irmãos conseguem reviver apenas o
corpo da mãe, sem alma. E por terem praticado a transmutação humana, são
levados até a Porta da Alquimia (o Portal), onde o preço do corpo da mãe é
cobrado: Edward perde sua perna esquerda, enquanto seu irmão Alphonse perde
todo o seu corpo. Edward então sacrificou o seu braço direito em troca da alma do
seu irmão, que ele selou (utilizando um selo de sangue) em uma antiga armadura.
Com este anime, conseguimos realizar na Escola Estadual Antônio
Ribeiro uma semana científica sobre ALQUIMIA com a participação de professores
de todas as disciplinas, inclusive língua estrangeira, artes, geografia e história, que,
no início, até os próprios professores duvidaram que seria possível.
Além dos dois animes que aqui comentamos ainda há muitos outros que
podem ser utilizados na sala de aula para desenvolver diversos conhecimentos de
várias disciplinas, como, Dragon Ball Z (trata da energia espiritual, o Ki, a energia
Kundalini, a Jornada de Jiva, a serpente dos Chakras, os sete pontos dos Chakras
comparados às sete esferas do Dragão, mencionado por Joseph Campbell, no
“Mitos de Luz: metáforas orientais do eterno”), Shurato (retrata a cultura hindu, a
mitologia oriental de Vishnu e os deuses celestias), e o anime mais recente e de
maior sucesso no mundo todo Naruto (retrata a energia do corpo Chakra, a energia
da natureza, o modo Sennin, a superação e evolução do ser humano).
Apesar das experiências relatadas da confluência da literatura com outras
disciplinas, concordamos com Ivani Fazenda (1998) que “a interação entre as
diferentes disciplinas é uma visão limitada da palavra interdisciplinaridade”
(FAZENDA, 1998, p. 12).

2

A INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE LITERATURA NO ENSINO
MÉDIO: ESTRATÉGIAS E DISCUSSÕES

No capítulo anterior, demonstramos algumas situações em

que

realizamos a interdisciplinaridade com animes nas aulas de literatura. No entanto, já
fazíamos atividades interdisciplinares com diversos outros recursos como músicas,
novela, vídeos de curta direção e filmes em geral.
Recentemente, a novela “Lado a lado”, transmitida pela Rede Globo no
horário das 18h, prestou uma grande contribuição para os professores e alunos de
literatura do 3º ano, pois contextualizou a cidade do Rio de Janeiro no início do
século XX, oferecendo todo o cenário do florescimento do Pré-Modernismo
brasileiro, com todos os detalhes do negro na sociedade brasileira pós-Lei Áurea, a
Revolta da Vacina, pelo médico sanitarista Oswaldo cruz, a Revolta da Chibata,
enfim, as cenas da novela ofereceram um ótimo debate e grandes discussões sobre
o assunto na sala de aula.
Além disso, os filmes são ótimos recursos metodológicos para estimular o
interesse pela disciplina. São instrumentos eficientes de reforço da aprendizagem,
parafraseando o behaviorista Skinner (1972):
"... Uma vez tenhamos preparado o tipo específico de consequências
8
chamadas de reforços , as nossas técnicas nos permitem configurar quase
à vontade, o comportamento de um organismo. Condutas extremamente
complexas podem ser alcançadas através de passos sucessivos no
processo de configuração, sendo modificadas progressivamente com a
realização de reforço, no sentido do comportamento desejado" (SKINNER,
1972, p. 35).

8

Apesar das diversas teorias psicológicas do conhecimento, a Teoria do Behaviorismo presta grande
contribuição para a compreensão dos processos de aprendizagem do ser humano, ainda que apresente as suas
limitações.
Ao assistir ao filme, o aluno reforça os conteúdos expressos na sala de
aula. Podemos exemplificar o trabalho realizado pela professora Amanda Brussio
com o 1º e 2º ano nas aulas de literatura. Após trabalhar o contexto histórico e as
características do Barroco com o 1º ano, e do Simbolismo, com o 2º ano, passou
para os alunos o filme “O nome da rosa” e “Amor além da vida” para cada turma,
respectivamente.
É evidente que as imagens reforçaram os conhecimentos discutidos em
sala de aula pela professora com os alunos. Este tipo de atividade é importante no
contexto do imaginário na contemporaneidade, porque ratifica o efeito perverso do
iconoclasmo ocidental, que durante séculos de história da humanidade tentou
afastar-se da imagem e, agora, a pouco menos de duzentos anos, experimenta “a
revolução do vídeo” ou a “civilização da imagem” (DURAND, 2004, p. 31).
Durante a aula, o aluno faz um esforço enorme para imaginar como
ocorreram os acontecimentos ou fenômenos estudados em determinada escola
literária, o contexto histórico, como se organizava a sociedade daquela época, como
era a vida do autor e o que o levaria a produzir tal obra naquele momento. Tais
dúvidas, às vezes, encontram respostas em uma produção cinematográfica, ou seja,
as abstrações dos alunos concretizam-se em imagens que aparecem na telona.
Os PCNs-Ensino Médio, área de Linguagens, Códigos e suas
Tecnologias, afirmam que “a televisão, o rádio, a informática, entre outras, fizeram
com que os homens se aproximassem por imagens e por sons de mundos antes
inimagináveis”. Isto é fantástico! É a “derrota” dos iconoclastas, parodiando a frase
de Durand (1988) – a “vitória os iconoclastas” – em seu livro A Imaginação
Simbólica.
Durand (1988) demonstra que o iconoclasmo ocidental originado desde
Bizâncio, século V d.c.,

influenciou fortemente o pensamento ocidental até a

contemporaneidade nas mais diversas áreas do conhecimento, contribuindo para
método reducionista da imagem e do símbolo, como afirma sobre Descartes: “amais
evidente depreciação dos símbolos que a história de nossa civilização apresenta é
certamente aquela que se manifesta no cientista saído do cartesianismo” (DURAND,
1988, p. 25).
Além de filmes, a professora Amanda Brussio procura desenvolver
atividades relacionadas com a música. Por exemplo, após explanação das figuras de
linguagem, solicita aos alunos que cantem e retirem das músicas (escolhidas por
eles) as figuras de linguagem que encontrarem. É uma atividade bem dinâmica e
divertida que pode ser aplicada com diversos conteúdos de várias disciplinas além
da literatura e da língua portuguesa.
Vale ressaltar que utilizamos outras estratégias para tornar as nossas
aulas de literatura mais interessantes, no entanto, por se tratar de um artigo, temos
um espaço limitado para detalhar estas experiências, além do mais, detivemo-nos,
nesta pesquisa, em relatar mais especificamente o trabalho com animes.

3

A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO E A INICIAÇÃO CIENTÍFICA

Já havíamos mencionado no primeiro capítulo deste artigo a necessidade
da pesquisa para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares. Dessa
maneira, inevitavelmente, o docente se torna um professor-pesquisador, que
perscruta, investiga, mergulha, busca, questiona, reflete, critica, enfim, compreende
que seu trabalho é contínuo e inesgotável.
No entanto, além da pesquisa em seu sentido mais amplo, queremos
especificar neste momento, a “pesquisa científica”, que exige a “reflexão filosófica”
antes de tudo, caracterizada por ser radical, rigorosa e de conjunto (SAVIANI,
2007). Através da pesquisa científica torna-se mais sólida a ponte entre o aluno do
Ensino médio e o conhecimento produzido no Ensino Superior.
No Brasil, existem poucas bolsas de iniciação científica voltadas para
alunos do Ensino Médio, sendo a maioria destinadas aos alunos de instituições
federais (Colégios universitários e Institutos Federais Tecnológicos de Educação),
raramente voltadas para alunos de escolas públicas (estaduais) e escolas privadas.
No ano de 2011, tivemos a oportunidade de iniciar cientificamente alunos
do 3º ano do Ensino Médio do COLUN (Colégio Universitário) da UFMA
(Universidade Federal do Maranhão). Na época, o professor Josenildo Brussio
ministrava Língua Portuguesa, Literatura e Redação para os pré-vestibulandos e
estava terminando o seu Doutorado em Psicologia Social na UERJ (Universidade do
Estado do Rio de Janeiro), com o tema “O Imaginário Social do padre Antônio Vieira
no Maranhão do século XVII”, quando surgiram bolsas de iniciação científica para o
Ensino Médio (PIBIC/EM). Tivemos a aprovação do projeto “IMAGINÁRIO SOCIAL
DO

PADRE

ANTONIO

VIEIRA

NO

MARANHÃO

DO

SÉCULO

XVII

CONTRIBUIÇÕES E CONTRADIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
MARANHENSE”, com a disponibilidade de apenas uma bolsa. A bolsista apresentou
uma comunicação oral, com a publicação de um artigo “O UNO E O MÚLTIPLO: AS
FACES DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA NO MARANHÃO DO SÉCULO XVII” no XXIV
SEMIC (Seminário de Iniciação Científica), e obteve o primeiro lugar, como melhor
pesquisa científica do Ensino Médio, e o professor Josenildo Brussio, primeiro lugar
como melhor orientador.
Atualmente, são disponibilizadas cerca de 20 bolsas para estudantes do
Ensino Médio do COLUN/UFMA, que podem ser pleiteadas por professores de
qualquer área do conhecimento. Basta se inscreverem e terem os seus projetos de
pesquisa aprovados pelos comitês científicos de sua instituição.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A presente pesquisa demonstra que os animes podem ser uma ótima
ferramenta para atingir os objetivos propostos pelos PCNs e a LDB 9.394/96, além
de aproximar os alunos do Ensino Médio da pesquisa científica, ao entrarem em
contato com autores como Joseph Campbell (2001), Gaston Bachelard (2008),
Gilbert Durand (1997), entre outros, que nos permitem estudar o imaginário que se
apresenta nesses animes.
É óbvio que esta tarefa demanda grande esforço do educador para
pesquisar, planejar, criar e executar atividades que necessitam de um olhar
interdisciplinar,

mais

próximo

da

complexidade

em

que

vive

o

homem

contemporâneo.
O trabalho com animes é apenas uma pequena fatia do que pode ser
feito neste imenso universo de imagens, imaginário e imaginação de que dispomos
para trabalhar e compreender melhor o mundo em que vivemos. Educar com
animes é divertido e gostoso e essa é a pedagogia em que acreditamos, a
pedagogia da alegria, qualquer que seja o recurso.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1998.
CAMPBELL, Joseph. Mitos de Luz: metáforas orientais de eterno. São Paulo:
Madras, 2006.
DURAND, Gilbert. O Imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da
imagem. 3ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2004.
______________. A Imaginação Simbólica. São Paulo: Editora Cultrix, 1988.
FAZENDA. Ivani. Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro:
Efetividade ou ideologia? São Paulo: Loyola, 1992.
FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa.
Campinas: Papirus, 1999.

4 ed.

FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: Um projeto em parceira. São Paulo, 1991.
FAZENDA, Ivani. Práticas interdisciplinares na escola. (ORG.) coordenadora-2
ed. São Paulo: Cortez,1993.
FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e
Terra ltda, 1975.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia –Saberes Necessários à prática
Educativa. 17 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996.
JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro:
Imago, 1976.
PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (Ensino Médio), texto processado,
http.//www.mec.gov.br./semtec/ensmed/pcn.shtm [cópia sem data].
SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São
Paulo: Campinas, 2007.
SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. São Paulo: Editora Pedagógica. 1972.

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Artigo aprendendo com animes em PDF

  • 1. APRENDENDO COM ANIMES: A MITOLOGIA COMO FONTE DE INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO Amanda Borges Brussio 1 Josenildo Campos Brussio 2 RESUMO Este artigo apresenta o resultado de uma pesquisa sobre a utilização de animes como instrumento metodológico para construção de um trabalho interdisciplinar com alunos do 1º ano do Ensino Médio, da Escola Pública Estadual Antônio Ribeiro, localizada na periferia de São Luís/MA. Verificou-se o interesse dos alunos em animes como Os Cavaleiros do Zodíaco, Shurato, Naruto, Dragon Ball, o que levou o professor de literatura a trabalhar diferentes textos literários (mitos da Grécia Antiga) a partir dos animes. Além da literatura, outras disciplinas puderam interagir nas atividades com os animes, como a Química (o zero absoluto na luta entre Yoga e Camus, de Aquário), a Geografia e a Psicologia (os sete chakras da mitologia hindu, base da coluna cervical, pontos genitais, zona umbilical/estomacal, coração, olhos/visão, cérebro) e a História e a Filosofia. A interdisciplinaridade, segundo Ivani Fazenda (1998), consiste em “ser capaz de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações, em sua complexidade”. A presente pesquisa demonstra que os animes podem ser uma ótima ferramenta para atingir os objetivos propostos nos PCNs e a LDB 9.394/96, além de aproximar os alunos do Ensino Médio da pesquisa científica, ao entrarem em contato com autores como Joseph Campbell (2001), Gaston Bachelard (2008), Gilbert Durand (1997), entres outros, que nos permitem estudar o imaginário que se apresenta nesses animes. Palavras-chave: Interdisciplinaridade – Ensino Médio – Animes – Imaginário 1 Especialista em Psicopedagogia Educacional e Institucional. Professora de Português e Literatura do 1º e 2º do Ensino Médio, na rede privada de São Luís/MA e Diretora Adjunta da rede municipal (SEMED). E-mail: amandabrussio@hotmail.com. 2 Doutor em Psicologia Social (UERJ), Professor Adjunto do Curso de Licenciatura em Ciências Humanas da UFMA/São Bernardo-MA. E-mail: jbrussio@bol.com.br.
  • 2. INTRODUÇÃO Desenvolver o gosto pela leitura e tornar interessante a aula de literatura são missões bem difíceis para o professor de Língua Portuguesa no cotidiano da sala de aula no Ensino Médio. Vivemos em um mundo globalizado, que bombardeia cada vez mais os jovens com informações variadas e, em sua maioria, descontextualizadas dos conteúdos programáticos delimitados pelos nossos planejamentos escolares. Ainda que a educação brasileira tenha dado um grande salto com a LDB 9.394/96 e os PCNs para o Ensino Médio, incorremos em erros no ensino das linguagens, por ainda não conseguirmos (a grande maioria) desenvolver em nossos alunos as habilidades e competências propostas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias. Mas, não culpemos somente o aluno, grande parte do fracasso deste processo recai sobre o educador, que deve ser o primeiro a vencer os obstáculos com que se depara no ensino cotidiano da Língua Portuguesa: alunos desinteressados, salas de aula lotadas, às vezes, sem recursos tecnológicos e de apoio, falta de tempo para planejar, pesquisar e preparar aulas, entre outros problemas. Ensinar Língua Portuguesa, em especial, é tarefa árdua porque ainda o fazemos tradicionalmente, ainda que imersos em um oceano de informações, separando a gramática da leitura, da literatura e da produção textual, como se fossem coisas separadas. Alguns professores até se esforçam para seguir as propostas dos PCNs, embora os conteúdos programáticos, conforme dispostos nos livros didáticos ainda estejam bem distantes do exigido nas provas do ENEM. Nas aulas de literatura, por exemplo, o próprio livro didático, ainda que inicie um capítulo por um texto relacionado ao assunto, não abandona a sequência: contexto histórico, características e produção literária. Ou seja, dificilmente, o professor parte do texto para o autor, para o contexto histórico, para as características, etc. Tal prática é decorrente ainda da formação acadêmica que geralmente adquirimos em nossa formação docente, geralmente, transmitida pela formação de nossos professores, que transmitem os conhecimentos conforme suas convicções acadêmicas, linha de pesquisa, publicações, orientações.
  • 3. Embora tais problemas ocorram, não podemos perder o foco de que a literatura está em tudo, que um dos objetivos propostos pelos PCNs para o Ensino Médio, na área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias é possibilitar ao aluno “a compreensão e o uso de sistemas simbólicos das diferentes linguagens como meios de organização cognitiva da realidade pela constituição de significados, expressão, comunicação e informação” (PCNs – Ensino Médio, MEC, 2000). Por isso, abordaremos neste artigo um relato de experiências desenvolvidas com alunos do Ensino Médio da Escola Pública Estadual Antônio Ribeiro, do Colégio universitário da Universidade Federal do Maranhão e da Escola Privada Colégio Paralelo, ambas localizadas em São Luís, capital do Maranhão. Na primeira e na segunda, as aulas de Língua Portuguesa e Literatura foram ministradas pelo professor Josenildo Brussio, na terceira, pela professora Amanda Brussio. No primeiro capítulo do artigo, falaremos sobre os problemas no ensino da literatura que nos levaram a buscar os animes e a mitologia como fontes de estímulo para tornar interessantes as aulas. No segundo capitulo, vamos descrever alguns procedimentos adotados nas aulas de maneira a compartilhar com demais colegas professores a metodologia desenvolvida. No terceiro capítulo, os resultados desta pesquisa e o incentivo à pesquisa científica no Ensino Médio que fomos buscar a partir destas experiências. 1 ANIMES E MITOLOGIA NAS AULAS DE LITERATURA: UM RELATO DE EXPERIÊNCIAS Quando começou a fazer pesquisas do Mestrado em Educação sobre a relação entre professor e aluno no processo ensino-aprendizagem3, o professor Josenildo Brussio percebeu que o método que utilizava para ministrar as suas aulas de literatura surtia um efeito positivo em relação ao processo ensino-aprendizagem, visto que os alunos apresentaram um excelente rendimento no ENEM de 2009, principalmente, na área de Linguagens e Códigos e suas tecnologias e na prova de 3 Quando fez o Mestrado em Educação, Josenildo Campos Brussio, ainda era professor do Ensino Médio no Colégio Universitário (COLUN/UFMA). Antes disso, também ministrava aulas de Língua Portuguesa e Literatura na rede pública estadual e em uma universidade particular (UNICEUMA).
  • 4. redação. Isto não quer dizer que não tenham ocorridos resultados positivos também nas demais áreas do conhecimento. Percebemos que o desenvolvimento dos alunos nas habilidades de ler e interpretar resultou da forma como foi trabalhada a disciplina de Língua Portuguesa e Literatura. A princípio, pensamos em trabalhar com algum instrumento metodológico que causasse o interesse dos alunos nas aulas de literatura, principalmente. Assim, consultamos os alunos para descobrir que tipo de diversão eles buscavam no dia-a-dia e, dentre as opções, apareceram os animes4. O primeiro anime com o qual entrei em contato foi a série Os Cavaleiros do Zodíaco5, quando ainda ministrava aulas de português no Ensino Fundamental, em 1994. Quando começou a ministrar aulas de literatura no Ensino Médio, em 1995, já contava com um público-alvo “viciado” nos Cavaleiros do Zodíaco e sempre procurava vincular às aulas a série. Sempre que possível, os alunos tentavam adquirir este mesmo espaço de diálogo com professores de outras disciplinas, muitos não cediam, alguns interagiam. Dessa maneira, tivemos a oportunidade de interagir com o professor de Química no episódio em que se passa a luta do cavaleiro de bronze, Yoga de Cisne, contra o mestre de seu mestre, o cavaleiro de ouro, Camus de Aquário. Neste episódio, fizemos uma aula conjunta, no turno oposto, para termos tempo de exibir o episódio e sobrar mais tempo para as discussões. Yoga e Camus são cavaleiros que usam o frio como força e poder. No decorrer da batalha, o mestre relembra ao discípulo a explicação sobre o zero absoluto6, habilidade essencial para vencer uma luta entre cavaleiros de gelo. É nesse momento que o professor de Química entra em ação e revela a contribuição do anime para a aula sobre Escalas Termométricas, pois o Zero 4 Basicamente, animes são os desenhos animados produzidos no Japão. Para os japoneses os animes são todos os desenhos animados, independente da sua origem, nacional ou estrangeira. Para o mundo ocidental, os animes são apenas os desenhos animados do Japão. 5 Saint Seiya (聖闘士星矢 Seinto Seiya, lit. "Santo Seiya"), conhecido nos países lusófonos como Os Cavaleiros do Zodíaco, é uma série japonesa (anime e mangá) de grande sucesso no mundo durante a década de 1990 e também um dos grandes responsáveis pela divulgação dos animes no Brasil. No Brasil, o lançamento da série em 1994 foi responsável por mudar a maneira que o público assistia animes, desencadeando uma "animemania". 6 Por volta do século XIX, o cientista inglês William Thompson, mais conhecido como Lorde Kelvin, percebeu, através de experimentação, que quando um gás a volume constante era resfriado de 0°C a -1°C sua pressão diminuía cerca de 1/273 do valor inicial. Sendo a pressão do gás uma consequência da agitação térmica das partículas, Kelvin concluiu que a temperatura deveria diminuir de 273°C até que cessasse o movimento das partículas, ou seja, o estado de agitação térmica das partículas deveria ser nulo, e adotou o valor -273 °C como origem da escala absoluta: 0 K (zero Kelvin) ou zero absoluto.
  • 5. Absoluto representa 273º da Escala Kelvin. De um episódio de anime discutido em uma aula de literatura, chegamos a interdisciplinaridade, com a participação do professor de química. Fica evidente que qualquer assunto de uma disciplina pode sempre dialogar com uma ou mais disciplinas. Este é o grande salto da interdisciplinaridade, o aluno adquire uma compreensão mais ecumênica do mundo, partindo de um único assunto. É um processo de diversas vias, não há ponto de partida definido, qualquer um pode tomar a iniciativa. Por exemplo, poderia ter sido o professor de química que poderia ter usado o anime como ponto de partida para a aula de Escalas Termométricas e convidado o professor de literatura, filosofia, geografia, entre outros para interagirem, não acham? A interdisciplinaridade, segundo Ivani Fazenda (1998), consiste em “ser capaz de ver e entender o mundo de forma holística, em sua rede infinita de relações, em sua complexidade”. Tendo em vista estas reflexões, a interdisciplinaridade se realiza como uma forma de ver e sentir o mundo, de estar no mundo, de perceber, de entender as múltiplas implicações que se realizam, ao analisar um acontecimento, um aspecto da natureza, isto é, os fenômenos na dimensão social, natural ou cultural. Fica evidente que, para realizar uma atividade interdisciplinar como esta, é necessário que o professor desenvolva-se enquanto pesquisador, ampliando sua percepção dos conteúdos que trabalha na sala de aula em correlação às múltiplas formas de manifestação daquele conhecimento. Por isso, afirma Ivani fazenda (1992); O valor e a aplicabilidade da Interdisciplinaridade, portanto, podemse verificar tanto na formação geral, profissional, de pesquisadores, como meio de superar a dicotomia ensino-pesquisa e como forma de permitir uma educação permanente. FAZENDA (1992, p.49) Como se vê, na citação acima, para se superar a dicotomia ensinopesquisa, é necessária a formação profissional de professores-pesquisadores7 que estejam dispostos a proporcionar aos seus alunos o universo da pesquisa. Por meio a pesquisa, fica mais fácil compreender o pensamento de Paulo Freire (1996), 7 Vale ressaltar que usaremos esta expressão no artigo por falta de outro termo para substituí-la no contexto, uma vez que concordamos com o pensamento de Paulo Freire que discorda desta expressão “professorpesquisador”, pois coloca que “o que há de pesquisador no professor não é uma qualidade ou uma forma de ser ou de atuar que se acrescente à de ensinar. Faz parte da natureza da prática docente a indagação, a busca, a pesquisa” (FREIRE, 1996, p. 29).
  • 6. “quem ensina aprende ao ensinar, quem aprende ensina ao aprender”, pois nesta troca de conhecimentos também se constrói a interdisciplinaridade. Além dos cavaleiros do zodíaco, outro anime muito interesse para se trabalhar com os alunos do ensino médio é Fullmetal Alquimist, mais conhecido como o Alquimista de Aço. Este anime oferece muitas discussões nas disciplinas de química, física, biologia e geografia. Diz a Alquimia que pode conseguir-se qualquer coisa, desde que se pague o que se deseja tanto com um valor equivalente. É a lei máxima da Alquimia, a "Troca Equivalente". Transmuta-se um objeto reorganizando e recombinando as substâncias químicas que compõem o objeto. Como um corpo humano é composto por diversos elementos químicos, em teoria, pode-se criá-lo misturando os elementos certos e em suas devidas proporções. Pondo esta teoria na prática, os protagonistas do anime, os irmãos Elric, que perderam a sua mãe por uma doença desconhecida, utilizam a receita do livro para trazer a mãe de volta a vida, e, como último ingrediente, acrescentam uma gota de seu sangue, que carrega as lembranças genéticas da mãe. Assim, é quebrado o maior tabu da Alquimia: a Transmutação Humana. Entretanto, os irmãos conseguem reviver apenas o corpo da mãe, sem alma. E por terem praticado a transmutação humana, são levados até a Porta da Alquimia (o Portal), onde o preço do corpo da mãe é cobrado: Edward perde sua perna esquerda, enquanto seu irmão Alphonse perde todo o seu corpo. Edward então sacrificou o seu braço direito em troca da alma do seu irmão, que ele selou (utilizando um selo de sangue) em uma antiga armadura. Com este anime, conseguimos realizar na Escola Estadual Antônio Ribeiro uma semana científica sobre ALQUIMIA com a participação de professores de todas as disciplinas, inclusive língua estrangeira, artes, geografia e história, que, no início, até os próprios professores duvidaram que seria possível. Além dos dois animes que aqui comentamos ainda há muitos outros que podem ser utilizados na sala de aula para desenvolver diversos conhecimentos de várias disciplinas, como, Dragon Ball Z (trata da energia espiritual, o Ki, a energia Kundalini, a Jornada de Jiva, a serpente dos Chakras, os sete pontos dos Chakras comparados às sete esferas do Dragão, mencionado por Joseph Campbell, no “Mitos de Luz: metáforas orientais do eterno”), Shurato (retrata a cultura hindu, a mitologia oriental de Vishnu e os deuses celestias), e o anime mais recente e de
  • 7. maior sucesso no mundo todo Naruto (retrata a energia do corpo Chakra, a energia da natureza, o modo Sennin, a superação e evolução do ser humano). Apesar das experiências relatadas da confluência da literatura com outras disciplinas, concordamos com Ivani Fazenda (1998) que “a interação entre as diferentes disciplinas é uma visão limitada da palavra interdisciplinaridade” (FAZENDA, 1998, p. 12). 2 A INTERDISCIPLINARIDADE NAS AULAS DE LITERATURA NO ENSINO MÉDIO: ESTRATÉGIAS E DISCUSSÕES No capítulo anterior, demonstramos algumas situações em que realizamos a interdisciplinaridade com animes nas aulas de literatura. No entanto, já fazíamos atividades interdisciplinares com diversos outros recursos como músicas, novela, vídeos de curta direção e filmes em geral. Recentemente, a novela “Lado a lado”, transmitida pela Rede Globo no horário das 18h, prestou uma grande contribuição para os professores e alunos de literatura do 3º ano, pois contextualizou a cidade do Rio de Janeiro no início do século XX, oferecendo todo o cenário do florescimento do Pré-Modernismo brasileiro, com todos os detalhes do negro na sociedade brasileira pós-Lei Áurea, a Revolta da Vacina, pelo médico sanitarista Oswaldo cruz, a Revolta da Chibata, enfim, as cenas da novela ofereceram um ótimo debate e grandes discussões sobre o assunto na sala de aula. Além disso, os filmes são ótimos recursos metodológicos para estimular o interesse pela disciplina. São instrumentos eficientes de reforço da aprendizagem, parafraseando o behaviorista Skinner (1972): "... Uma vez tenhamos preparado o tipo específico de consequências 8 chamadas de reforços , as nossas técnicas nos permitem configurar quase à vontade, o comportamento de um organismo. Condutas extremamente complexas podem ser alcançadas através de passos sucessivos no processo de configuração, sendo modificadas progressivamente com a realização de reforço, no sentido do comportamento desejado" (SKINNER, 1972, p. 35). 8 Apesar das diversas teorias psicológicas do conhecimento, a Teoria do Behaviorismo presta grande contribuição para a compreensão dos processos de aprendizagem do ser humano, ainda que apresente as suas limitações.
  • 8. Ao assistir ao filme, o aluno reforça os conteúdos expressos na sala de aula. Podemos exemplificar o trabalho realizado pela professora Amanda Brussio com o 1º e 2º ano nas aulas de literatura. Após trabalhar o contexto histórico e as características do Barroco com o 1º ano, e do Simbolismo, com o 2º ano, passou para os alunos o filme “O nome da rosa” e “Amor além da vida” para cada turma, respectivamente. É evidente que as imagens reforçaram os conhecimentos discutidos em sala de aula pela professora com os alunos. Este tipo de atividade é importante no contexto do imaginário na contemporaneidade, porque ratifica o efeito perverso do iconoclasmo ocidental, que durante séculos de história da humanidade tentou afastar-se da imagem e, agora, a pouco menos de duzentos anos, experimenta “a revolução do vídeo” ou a “civilização da imagem” (DURAND, 2004, p. 31). Durante a aula, o aluno faz um esforço enorme para imaginar como ocorreram os acontecimentos ou fenômenos estudados em determinada escola literária, o contexto histórico, como se organizava a sociedade daquela época, como era a vida do autor e o que o levaria a produzir tal obra naquele momento. Tais dúvidas, às vezes, encontram respostas em uma produção cinematográfica, ou seja, as abstrações dos alunos concretizam-se em imagens que aparecem na telona. Os PCNs-Ensino Médio, área de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, afirmam que “a televisão, o rádio, a informática, entre outras, fizeram com que os homens se aproximassem por imagens e por sons de mundos antes inimagináveis”. Isto é fantástico! É a “derrota” dos iconoclastas, parodiando a frase de Durand (1988) – a “vitória os iconoclastas” – em seu livro A Imaginação Simbólica. Durand (1988) demonstra que o iconoclasmo ocidental originado desde Bizâncio, século V d.c., influenciou fortemente o pensamento ocidental até a contemporaneidade nas mais diversas áreas do conhecimento, contribuindo para método reducionista da imagem e do símbolo, como afirma sobre Descartes: “amais evidente depreciação dos símbolos que a história de nossa civilização apresenta é certamente aquela que se manifesta no cientista saído do cartesianismo” (DURAND, 1988, p. 25). Além de filmes, a professora Amanda Brussio procura desenvolver atividades relacionadas com a música. Por exemplo, após explanação das figuras de linguagem, solicita aos alunos que cantem e retirem das músicas (escolhidas por
  • 9. eles) as figuras de linguagem que encontrarem. É uma atividade bem dinâmica e divertida que pode ser aplicada com diversos conteúdos de várias disciplinas além da literatura e da língua portuguesa. Vale ressaltar que utilizamos outras estratégias para tornar as nossas aulas de literatura mais interessantes, no entanto, por se tratar de um artigo, temos um espaço limitado para detalhar estas experiências, além do mais, detivemo-nos, nesta pesquisa, em relatar mais especificamente o trabalho com animes. 3 A LITERATURA NO ENSINO MÉDIO E A INICIAÇÃO CIENTÍFICA Já havíamos mencionado no primeiro capítulo deste artigo a necessidade da pesquisa para o desenvolvimento de atividades interdisciplinares. Dessa maneira, inevitavelmente, o docente se torna um professor-pesquisador, que perscruta, investiga, mergulha, busca, questiona, reflete, critica, enfim, compreende que seu trabalho é contínuo e inesgotável. No entanto, além da pesquisa em seu sentido mais amplo, queremos especificar neste momento, a “pesquisa científica”, que exige a “reflexão filosófica” antes de tudo, caracterizada por ser radical, rigorosa e de conjunto (SAVIANI, 2007). Através da pesquisa científica torna-se mais sólida a ponte entre o aluno do Ensino médio e o conhecimento produzido no Ensino Superior. No Brasil, existem poucas bolsas de iniciação científica voltadas para alunos do Ensino Médio, sendo a maioria destinadas aos alunos de instituições federais (Colégios universitários e Institutos Federais Tecnológicos de Educação), raramente voltadas para alunos de escolas públicas (estaduais) e escolas privadas. No ano de 2011, tivemos a oportunidade de iniciar cientificamente alunos do 3º ano do Ensino Médio do COLUN (Colégio Universitário) da UFMA (Universidade Federal do Maranhão). Na época, o professor Josenildo Brussio ministrava Língua Portuguesa, Literatura e Redação para os pré-vestibulandos e estava terminando o seu Doutorado em Psicologia Social na UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro), com o tema “O Imaginário Social do padre Antônio Vieira no Maranhão do século XVII”, quando surgiram bolsas de iniciação científica para o Ensino Médio (PIBIC/EM). Tivemos a aprovação do projeto “IMAGINÁRIO SOCIAL DO PADRE ANTONIO VIEIRA NO MARANHÃO DO SÉCULO XVII CONTRIBUIÇÕES E CONTRADIÇÕES PARA A FORMAÇÃO DA SOCIEDADE
  • 10. MARANHENSE”, com a disponibilidade de apenas uma bolsa. A bolsista apresentou uma comunicação oral, com a publicação de um artigo “O UNO E O MÚLTIPLO: AS FACES DO PADRE ANTÔNIO VIEIRA NO MARANHÃO DO SÉCULO XVII” no XXIV SEMIC (Seminário de Iniciação Científica), e obteve o primeiro lugar, como melhor pesquisa científica do Ensino Médio, e o professor Josenildo Brussio, primeiro lugar como melhor orientador. Atualmente, são disponibilizadas cerca de 20 bolsas para estudantes do Ensino Médio do COLUN/UFMA, que podem ser pleiteadas por professores de qualquer área do conhecimento. Basta se inscreverem e terem os seus projetos de pesquisa aprovados pelos comitês científicos de sua instituição. CONSIDERAÇÕES FINAIS A presente pesquisa demonstra que os animes podem ser uma ótima ferramenta para atingir os objetivos propostos pelos PCNs e a LDB 9.394/96, além de aproximar os alunos do Ensino Médio da pesquisa científica, ao entrarem em contato com autores como Joseph Campbell (2001), Gaston Bachelard (2008), Gilbert Durand (1997), entre outros, que nos permitem estudar o imaginário que se apresenta nesses animes. É óbvio que esta tarefa demanda grande esforço do educador para pesquisar, planejar, criar e executar atividades que necessitam de um olhar interdisciplinar, mais próximo da complexidade em que vive o homem contemporâneo. O trabalho com animes é apenas uma pequena fatia do que pode ser feito neste imenso universo de imagens, imaginário e imaginação de que dispomos para trabalhar e compreender melhor o mundo em que vivemos. Educar com animes é divertido e gostoso e essa é a pedagogia em que acreditamos, a pedagogia da alegria, qualquer que seja o recurso. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BACHELARD, Gaston. A Poética do Espaço. São Paulo: Martins Fontes, 1998. CAMPBELL, Joseph. Mitos de Luz: metáforas orientais de eterno. São Paulo: Madras, 2006.
  • 11. DURAND, Gilbert. O Imaginário: ensaio acerca das ciências e da filosofia da imagem. 3ª ed. Rio de Janeiro: DIFEL, 2004. ______________. A Imaginação Simbólica. São Paulo: Editora Cultrix, 1988. FAZENDA. Ivani. Integração e Interdisciplinaridade no Ensino Brasileiro: Efetividade ou ideologia? São Paulo: Loyola, 1992. FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: história, teoria e pesquisa. Campinas: Papirus, 1999. 4 ed. FAZENDA, Ivani. Interdisciplinaridade: Um projeto em parceira. São Paulo, 1991. FAZENDA, Ivani. Práticas interdisciplinares na escola. (ORG.) coordenadora-2 ed. São Paulo: Cortez,1993. FREIRE, Paulo. Educação como prática da liberdade. 5 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra ltda, 1975. FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia –Saberes Necessários à prática Educativa. 17 ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996. JAPIASSU, Hilton. Interdisciplinaridade e Patologia do saber. Rio de Janeiro: Imago, 1976. PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS (Ensino Médio), texto processado, http.//www.mec.gov.br./semtec/ensmed/pcn.shtm [cópia sem data]. SAVIANI, Dermeval. Educação: do senso comum à consciência filosófica. São Paulo: Campinas, 2007. SKINNER, B. F. Tecnologia do Ensino. São Paulo: Editora Pedagógica. 1972.