Uma princesa vai viver com uma serpente num palácio para salvar o pai da morte. Ela cuida da serpente e eles tornam-se amigos. Quando a princesa chora sobre o peito da serpente, esta transforma-se num príncipe, revelando que era vítima de um encanto de uma bruxa. O príncipe pede a princesa em casamento.
2. Era uma vez um rei que tinha três filhas. A princesa mais velha e a princesa do meio eram muito vaidosas, e egoístas. A princesa mais nova era muito simples e muito bela. O rei, que em tempos tinha sido um dos homens mais ricos do mundo inteiro, estava na miséria porque o seu reino tinha sido atingido por guerras, terramotos, epidemias e desgraças.
3. Para que o seu povo não sofresse tanto, o rei distribuiu toda a sua riqueza e resolveu pedir ajuda aos reis de outros países. Antes de partir, perguntou a cada uma das princesas que presentes gostariam que lhes trouxesse.
4. Quero que me tragas um vestido bordado a ouro com a mais fina seda que encontrares. Quero que me tragas um colar com as maiores pérolas que achares. Tu não pedes nada? A mais bela rosa que encontrares.
5. Hi! Hi! Hi! Hi! Hi! Hi! O rei acenou com a cabeça e as outras princesas começaram a rir e a troçar do pedido da irmã mais nova.
6. O rei montou um cavalo branco e partiu de madrugada. Antes de voltar para o palácio, o rei comprou as prendas que as filhas tinham pedido: Um vestido bordado a ouro e feito com seda muito fina e um colar de pérolas enormes.
7. Só lhe faltava colher uma rosa para a filha mais nova. Mas não estava fácil encontrá-la. Ele queria oferecer-lhe uma rosa como nunca se tinha visto outra igual.
8. No jardim, cresciam as mais belas rosas que ele já tinha visto. Quando já estava mais perto do seu reino, o rei passou junto de um enorme palácio, cercado por um grande jardim.
9. O rei desmontou e dirigiu-se à porta principal do palácio e tocou a sineta e esperou que o viessem atender. Mas não apareceu ninguém. Voltou a fazer soar a sineta, uma, duas, dez, vinte vezes, mas ninguém atendeu. Então, o rei resolveu entrar. Caminhando por todo o jardim, bateu palmas, chamou, gritou, mas não encontrou ninguém. Então, curvou-se e, com muita delicadeza, colheu uma bela e perfumada rosa.
10. Nesse momento, uma enorme serpente saltou do meio das rosas e gritou com voz rouca A quem pediste autorização para colheres essa rosa? Muito assustado e aflito, o rei explicou à serpente tudo o que se tinha passado no seu reino, falou-lhe das filhas e das prendas que elas tinham pedido. Por falares a verdade, podes levar a rosa para a tua filha mais nova. Mas dou-te três dias para me trazeres aqui a tua filha! Ou então morrerás.
11. Muito triste com aquela conversa, o rei montou o seu cavalo branco e cavalgou uma noite e um dia até chegar ao seu palácio.
12. A princesa mais nova recebeu a rosa, fixou os seus olhos nos de seu pai e ficou preocupada por ver um olhar tristíssimo. Aí chegado, mandou chamar as filhas e entregou-lhes as prendas, não falando com nenhuma delas sobre o que tinha acontecido.
13. Deixou que as irmãs fossem enfeitar-se para os seus quartos e perguntou ao pai porque é que ele estava assim tão triste, tão magoado. O pai não queria responder. Mas a filha tanto insistiu que o rei, banhado em lágrimas, lhe contou do encontro e da conversa que tivera entre ele e a serpente. Pai, não fiques triste nem preocupado; eu vou ter com a serpente.
14. E assim aconteceu. Nessa mesma noite, ela montou um cavalo preto e pôs-se a caminho do palácio desabitado, deixando para trás o pai a chorar e as irmãs a rir.
15. Chegada ao palácio, a princesa ficou admirada com tanta grandeza e tanta riqueza. Desmontou do cavalo e fez como o pai lhe disse: dirigiu-se à porta para fazer soar a sineta. Mas não foi preciso. A porta abriu-se imediatamente.
16. Com muito medo, a princesa entrou no palácio e procurou gente nas salas, saletas e salões muito limpos e arrumados. Mas não encontrou ninguém. Cansada, acabou por deitar-se numa cama bordada a ouro.
17. A princesa viu surgir a cabeça duma enorme serpente que deslizava lentamente por debaixo da roupa da cama. Por favor, não tenhas medo de mim. Ai! Já estava quase a dormir, quando sentiu que havia qualquer coisa na cama que mexia e era muito fria. Horrorizada, deu um enorme grito e um grande salto na cama.
18. Cheia de medo, mas vendo que a serpente não lhe fazia mal, foi-se aproximando dela, muito devagarinho. A seguir, fez-lhe algumas carícias. Pouco depois, de tão cansada que estava adormeceu.
19. De manhã, ao acordar, a princesa lembrou-se do que tinha acontecido. Tirou os lençóis e os cobertores da cama, mas não encontrou a serpente. Ela tinha desaparecido.
20. Olhou para uma mesa e ficou admirada. Por cima de uma branca toalha de linho havia muita comida, sumos variados, chá, leite, muita fruta e muitos doces. Cheia de apetite, a princesa saciou a fome.
21. E passou o dia a cuidar das belas flores do jardim.
22. À noite, encontrou a mesa cheia das melhores comidas e, quando se foi deitar, a serpente voltou a aparecer na cama. Já sem medo, a princesa acariciou a serpente e depois adormeceu. E assim se foram passando os dias e os meses.
23. A certa altura, a princesa acordou com muitas saudades dos seu pai e das suas irmãs.
24. Quando ia a sair do palácio, ouviu uma voz rouca a dizer. Sim, vai visitar a tua família, mas terás de regressar antes de se terem passado três dias. Sentindo que já não conseguia estar tanto tempo sozinha, resolveu fazer-lhes uma visita.
25. A princesa montou o seu cavalo preto e cavalgou todo o dia e toda a noite. Quando chegou ao palácio, o seu pai encheu-se de alegria e as irmãs ficaram de boca aberta, muito admiradas. Eram tantas as saudades que a princesa perdeu a noção das horas e dos dias. E quando se lembrou do que a serpente lhe tinha recomendado, ficou muito aflita e partiu a galope.
26. Quando chegou ao palácio desabitado, já os três dias tinham passado há muito tempo. A princesa entrou no palácio e procurou a serpente por todo o lado. Ao fim de muito procurar, encontrou-a no jardim, no meio das rosas, quase morta e num sofrimento muito grande. Cheia de pena, a princesa pegou na serpente ao colo e, chorando em silêncio, acariciou-lhe todo o corpo. Uma lágrima muito transparente caiu de mansinho no peito da serpente e imediatamente apareceu um enorme clarão azul, vermelho e amarelo.
27. Quando o clarão desapareceu, a serpente transformou-se num belo príncipe, que lhe disse com a sua voz rouca. Princesa, acabaste de me salvar. Uma bruxa transformou-me há muitos anos numa horrorosa serpente. E o encanto só acabaria se uma princesa chorasse sobre o meu peito.