SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 52
Descargar para leer sin conexión
Mens aGeiR o LUteRano | ano 94 | nº 1.154


Dezembro2010                                                        Leia nesta eDição




                                                                        16
A complexa questão do cânone. Num certo sentido, é
chocante ver que os cristãos não conseguem concordar
quanto à extensão da Bíblia, especialmente do Antigo
Testamento. Por que isso é assim?


05    MENSAGEM DO PRESIDENTE
                                                                    ADORAÇãO E LOUVOR
06    VIDA COM DEUS                            VIDA EM FAMÍLIA
                                            A comunhão horizontal   Os elementos
                                                                                           07
08    MEDITAÇãO
11    EM FOCO                                                       da Santa Ceia
12    CAPA
15    MÚSICA NA IGREJA
                                                                    SERVIÇO DE CAPELANIA
23    IELB 2011
28                                                                  Hospital: um

                                                                                           32
      SERVIÇO SOCIAL
30    EDUCAÇãO TEOLÓGICA
                                                                    lugar diferente
                                                                    e desafiador
31    PERGUNTA
34    TESTEMUNHO
                                                                    IGREJAS PELO MUNDO
41    RESPINGOS DA HISTÓRIA
                                                                    St Paul,

                                                                                           44
46    IELB NO MUNDO
                                                                    Des Peres

                                                  38
47    DIA DA BÍBLIA
48    BÍBLIA HOJE
50    VIRANDO A PÁGINA                                                      Mensageiro | DezeMbro 2010   3
| AO LEITOR |

                                                                                                       Nilo Wachholz
                                                                                                       Editor-Redator | editor@editoraconcordia.com.br




    Tempos de mudanças
        Vivemos dias de mudanças muito rápi-                            amor, no seu gracioso perdão, na salvação e
    das em todos os lugares e setores da vida.                          na vida que dura para sempre.
    A velocidade das mudanças nas tecnologias                               Neste contexto e nesta visão, o Mensagei-
    da informação e do conhecimento humano                              ro Luterano, que, com esta edição completa




                                                                                                                                                                                                                e.COM
    ultrapassam as previsões mais otimistas que                         93 anos de existência, chega ao número de




                                                                                                                                                                                                            - DreAMsTiM
    alguém poderia fazer. E estas atingem não só                        circulação 1.154 e abre o ano 94 de sua his-
    as formas e os meios, mas os próprios valo-                         tória, também traz algumas mudanças para




                                                                                                                                                                                                     ll MeDveDev
    res do relacionamento humano, em todas as                           apreciação dos nossos leitores.
    esferas: familiar, social, cultural, profissional                       O objetivo é facilitar a leitura, interagir




                                                                                                                                                                                                  PA: © Kiri
    e religioso.                                                        mais com o nosso leitor, oferecer um visual




                                                                                                                                                                                               FOTO DA CA
        Se, sob alguns aspectos, isso é motivo                          mais leve e arejado, valorizar mais textos e
    para preocupações e que nos colocam diante                          imagens, entre outros benefícios.
    de muitas dificuldades, por outros, estamos                             Acreditamos que o Caderno de Notícias
    diante de desafios, ferramentas e oportuni-                         da IELB, o Caderno da LLLB (nesta edição) e o                     determinado caderno de seu interesse, fica
    dades nunca antes imaginadas.                                       Mensageiro das Crianças, encartados, mas não                      mais fácil atender a esse pedido.
        Portanto, cabe-nos buscar discernimento,                        grampeados no miolo, dão mais flexibilidade                            Portanto, está aí o Mensageiro Luterano em
    conselhos e sabedoria do Alto, para fazer o me-                     e mobilidade no uso do ML como um todo.                           edição especial de aniversário. Agradecemos a
    lhor ao nosso alcance, com os melhores meios                        Pois, dependendo do contexto e das pessoas                        todas as pessoas e instituições que nos ajuda-
    e formas que pudermos usar, para preservar e                        com quem o leitor quer repartir o conteúdo                        ram a fazer este número histórico.
    divulgar os valores éticos, morais e religiosos                     do miolo, de um ou mais encartes, é possível                           Com gratidão e alegria, se Deus o permi-
    que herdamos e nos quais acreditamos. E aci-                        usá-los em separado, sem prejuízo das demais                      tir, voltamos com a edição dupla de janeiro e
    ma de tudo, proclamando ao mundo de hoje,                           informações. Além disso, se uma congregação,                      fevereiro 2011!
    o Cristo que veio para acolher a todos no seu                       distrito ou região, quiser mais exemplares de                          Um feliz e abençoado Natal!




                                                               Mensageiro Luterano
    iSSn 1679-0243

    Órgão oficial da igreja evangélica luterana do Brasil (ielB) de periodicidade mensal
    (exceto janeiro e fevereiro - edição única). registrado sob nº 249, livro M, nº 1, em                  Editora
                                                                                                                                                             IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL
    dezembro de 1935, no registro de títulos e documentos do rio de Janeiro, conforme
    o decreto-lei de imprensa nº 24776 de 14/07/1934.
                                                                                                           Concórdia
                                                                                            Filiada a associação de editores cristãos (asec)
    projEto E produção GráFiCa editora concórdia ltda.                                                                                              EndErEço rua cel. lucas de oliveira, 894
    rEdação mensageiro@editoraconcordia.com.br                                              EndErEço av. são Pedro, 633, Bairro são                 Bairro Mont’serrat, ceP 90440-010
    Editor Nilo Wachholz - Mtb 42140/sP                                                     Geraldo, ceP 90230-120, Porto alegre, rs                Porto alegre, rs, Brasil
    aSSiStEntE Editorial daiene Bauer Kühl - Mtb 14623/rs                                   FonE/Fax (51) 3272 3456                                 FonE (51) 3332 2111 / Fax: (51) 3332 8145
    rEviSão aline lorentz sabka                                                             SitE www.editoraconcordia.com.br                        SitE www.ielb.org.br
    jornaliSta-diaGramador leandro da rosa camaratta                                        twittEr twitter.com/edconcordia                         twittEr twitter.com/ielB_Brasil
                                                                                            Email editora@editoraconcordia.com.br                   E-mail ielb@ielb.org.br
    dESiGnEr christian schünke
    ColaboradorES FixoS Bruno ries, carlos W. Winterle, luisivan V. strelow, Marcos         ComErCial comercial@editoraconcordia.com.br
                                                                                                                                                    dirEtoria naCional 2010/2014
    schmidt, Mona liza Fuhrmann, rosemarie K. lange, Vitor radünz, Waldyr Hoffmann                                                                  prESidEntE egon Kopereck
    aSSinaturaS lianete schneider de souza                                                  dirEtoria ExECutiva
                                                                                            Henry J. rheinheimer (presidente), clóvis J. Prunzel,   1º viCE-prESidEntE arnildo schneider
    loGíStiCa Marcelo azambuja                                                                                                                      2º viCE-prESidEntE Geraldo Walmir schüler
                                                                                            Nilo Wachholz, Nilson Krick e rubens José ogg
                                                                                            GErEntE                                                 SECrEtário rubens José ogg
    aSSinatura no braSil anual r$ 49,00; Bianual r$ 92,00                                   Nilson Krick - nilson@editoraconcordia.com.br           tESourEiro renato Bauermann
    aSSinatura para outroS paíSES anual Us$ 52,00; Bianual Us$ 100,00                       dEpto FinanCEiro
                                                                                            Joel Weber                                              a ielB crê, confessa e ensina que os livros canônicos
    tiraGEm dESta Edição 12 mil exemplares                                                  Editor                                                  das escrituras sagradas, do antigo e do Novo
                                                                                            Nilo Wachholz - editor@editoraconcordia.com.br          testamento, são a Palavra infalível revelada por deus e
    a redação reserva-se o direito de publicar ou não o material a enviado, bem como        ComiSSão Editorial                                      aceita, como exposição correta dessa Palavra, os livros
    editá-lo para fins de publicação. Matérias assinadas não expressam necessariamente a    adilson schünke, célia M. Bündchen,                     simbólicos da igreja evangélica luterana, reunidos no
    opinião da redação ou da administração Nacional da ielB. o conteúdo do Mensageiro       clóvis J. Prunzel, Nilo Wachholz, Nilson Krick          livro de concórdia do ano 1580.
    pode ser reproduzido, mencionados o autor e a fonte.                                    e rubens José ogg




4     Mensageiro | DezeMbro 2010
| MENSAGEM DO PRESIDENTE |

                                                                           Egon Kopereck
                                                                           Pastor Presidente da IELB| presidente@ielb.org.br




A Bíblia é fundamental
para a vida cristã

A
                                                                                                                               FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA

             cabo de voltar de uma viagem
             pela Europa. Tive o privilégio de
             me encontrar, rapidamente, com
             os pastores e alguns congrega-
dos da Igreja em Portugal e, pude participar
da reunião do Comitê Executivo do Interna-
tional Lutheran Council (ILC), na Alemanha,
cidade de Wittenberg. Foi uma emoção muito
grande andar pelas ruas, ver coisas, igrejas,
a universidade onde o reformador Martinho
Lutero andou, viveu e lutou pela “Verdade
que liberta”. Nesta reunião da ILC, mais uma
vez destacamos a importância da Bíblia, a
Palavra de Deus na vida da Igreja.

            BíBliA SAgrADA
    Quando Martinho Lutero iniciou a sua
luta, todo o seu labor, a sua defesa e os seus
argumentos estavam sempre fundamentados,
firmados e alicerçados na Bíblia Sagrada. Ela
era e é fonte de toda a doutrina, verdade, fé
e vida. Não é diferente em nossos dias. Muito
mais importante do que discutirmos e pole-             Queridos irmãos, queridas irmãs! Não                        é NAtAl
mizarmos qual a melhor tradução da Bíblia é        menosprezemos este tesouro que Deus               E assim nos preparamos para festejar o
incentivarmos, lutarmos e nos empenharmos          deixou a nossa disposição. Não andemos        Natal. Nestes dias de tanta correria, não permi-
no sentido de que os cristãos leiam a Bíblia,      no escuro. Usemos a luz que quer clarear      tamos que as coisas do mundo, os preparativos,
usem as Sagradas Escrituras, busquem nelas         os nossos caminhos. Busquemos nela o          a festa, os presentes e os enfeites, encubram
a força, o fundamento, a luz para iluminar         consolo, o conforto, o guia e a bênção.       o verdadeiro sentido, o verdadeiro motivo – o
seus caminhos e argumentos.                        Pratiquemos o que ela diz. E como Deus        aniversariante. Deixemos, acima de tudo, Jesus
    Neste mês de dezembro, lembramos o “Dia        disse para Josué, também na nossa vida        Cristo brilhar, sobressair e ser lembrado.
da Bíblia”. Nós cantamos com tanta força, com      há de se revelar: “Medita nele dia e noite,       Jesus é e deve ser o centro da nossa festa,
tanto orgulho: “Santa Bíblia meu prazer, meu       para que tenhas cuidado de fazer segundo      dos nossos preparativos. Se não for assim, o
tesouro deves ser. Tu me dizes o que sou, donde    tudo quanto nele está escrito; então, farás   nosso Natal estará cheio de futilidades, correria
vim e aonde vou” (HL 247). Nós repetimos mui-      prosperar o teu caminho e serás bem suce-     e preocupações, mas vazio do seu verdadeiro
tas vezes a bela definição do salmista, dizendo:   dido” (Js 1.8).                               significado para esta vida e para a eternidade.
“Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra,
e luz para os meus caminhos” (SL 119.105).
Porém, será que esse tesouro é devidamente
valorizado por nós? De fato temos usado esta            Feliz Natal a todos! O Natal do meu, do teu,
lâmpada para iluminar nosso caminho rumo                         do nosso Salvador Jesus!
à vida eterna? Onde está a nossa Bíblia? Ela é
usada diariamente por nós?                                                                                                                               m




                                                                                                                   Mensageiro | DezeMbro 2010                    5
| VIDA COM DEUS |

                                                                              Luisivan Vellar Strelow
                                                                              Pastor da IELB | lstrelow@hotmail.com




    Diante dos cabelos grisalhos te levantarás, e honrarás
    a face do ancião, e temerás o teu Deus. Lv 19.32
    Os que te amam brilham como o sol quando se levanta
    no seu esplendor. Jz 5.31




                                                    Idosos: honra,
                                                    bênção e glória




                                                                                                                                                      FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA
    O
                 s cabelos grisalhos, para os jamais passará. Os idosos que amam a Deus da terra: “Não temais; eis aqui vos trago
                 que confiam nas promessas do brilham como o sol no amanhecer, porque boa-nova de grande alegria, que o será para
                 Senhor, antecipam a coroa de aguardam não tanto o entardecer da vida todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade
                 glória eterna. O profeta Daniel terrena como, muito mais, o amanhecer da de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor”
    descreveu Deus como “o Ancião de dias” (Dn vida celestial.                                       (Lc 2.10,11). Pela fé que temos em Jesus, a
    7.9,13), uma expressão poética para referir-se       Na Bahia, ainda hoje, os mais novos Palavra criadora de Deus que se fez carne (Jo
    ao Eterno em termos da experiência humana, dizem aos mais velhos: “a bênção, meu vô”, 1.14), vemos a glória de Deus: “um menino
    com relação à passagem do tempo. Também “a bênção, minha vó”. Os mais velhos, por nos nasceu, um filho se nos deu [...] e o seu
    muitos pintores retrataram o Criador como sua vez, respondem “Deus te abençoe, meu nome será [...] Pai da Eternidade, Príncipe da
    um homem grisalho. Ao honrar os idosos, filho”, “Deus te abençoe, minha filha”. Hon- Paz” (Is 9.6). Nasceu o menino que é o Pai da
    honramos ao Deus Eterno.                         rar os idosos é agradável a Deus, porque o Eternidade, que nos traz a maior de todas as
        Os cabelos grisalhos são, por um lado, Criador quis ser honrado por intermédio da bênçãos – o perdão, a ressurreição para a vida
    sinal da brevidade da vida na terra. O cin- honra que damos aos mais velhos. E estes, e a imortalidade – o qual recebe a mais elevada
    za dos cabelos nos lembra que somos                                                                   honra (2 Tm 1.10; Fp 2.9-11). Quem crê em
    criaturas feitas de pó, que a morte tudo                                                              Jesus Cristo agrada a Deus; é aprovado
    reduz a cinzas. Por outro lado, os cabelos
                                                 “Os idosos que amam a Deus brilham por Deus; recebe de Deus o bom testemu-
    grisalhos são símbolo da longevidade e         como o sol no amanhecer, porque                        nho – o testemunho de ser justo e de se
    da eternidade. A cor prata dos cabelos                                                                tornar herdeiro da justiça que vem da fé,
    antecipa a coroa da salvação (Hb 11.6).
                                                   aguardam não tanto o entardecer                        herdeiro da pátria celestial, herdeiro da
    Os idosos são um sinal para os jovens,        da vida terrena como, muito mais, o ressurreição; para contemplar a Jesus, o
    tanto da brevidade da vida terrena                amanhecer da vida celestial”.                       Filho do Homem, assentado no Trono de
    quanto da longevidade da vida eterna.                                                                 Deus (Hb 11.1-12.2).
    Os cabelos grisalhos nos ensinam que                                                                      A vida terrena se conta por dias que
    a nossa vida é como a das flores do campo, por não terem outros mais idosos do que amanhecem e se perdem no anoitecer. A
    mas que Deus é eterno e seus dias e a sua eles aos quais honrar, dão honra e glória vida com Deus se conta pelo amanhecer da
    misericórdia não têm fim. Separados de Deus, ao Deus Eterno. Da mesma forma, os mais fé, quando brilha para nós o Sol da Graça de
    já perdemos a vida. Em comunhão com Deus, velhos abençoam os mais novos, até que os Deus, Jesus Cristo, Filho de Deus, misericor-
    já vencemos a morte, pois nada poderá nos bebês que não têm a quem abençoar, são eles dioso com todos os pecadores (Lm 3.22; Hb
    separar do amor de Deus em Cristo.               mesmos, para cada família, a mais preciosa 4.14-16). O brilho de cada dia logo passa, o
        Os cabelos grisalhos nos chamam à bênção do Criador e Doador da vida.                        brilho do dia da salvação é eterno, e os que
    reflexão sobre a vida terrena, que passa             O Natal é a notícia da bênção mais preciosa aguardam o amanhecer da glória eterna tam-
    rapidamente, e sobre a vida com Deus, que que não alegra uma, mas todas as famílias bém brilharão por toda a eternidade.                      m



6     Mensageiro | DezeMbro 2010
| ADORAÇãO E LOUVOR |




Os elementos da
Santa Ceia                                                                                                                        FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA
DaviD Karnopp
Membro da Comissão de Culto da IELB
Pastor em Vacaria, RS




N
              o Catecismo Menor, aprendemos         guardavam em re-
              que “a Santa Ceia é o verdadeiro      cipientes lacrados
              corpo e sangue de nosso Senhor        e depois o coloca-
              Jesus Cristo, para ser comido e       vam submersos
bebido, sob o pão e o vinho...”. Pão e vinho são    em poços de água
os elementos visíveis da Santa Ceia. Porém, as      em temperatura
igrejas que proíbem qualquer bebida alcoólica       abaixo de 10ºC,
usam vários motivos para justificar o uso do        que o conservava
suco em vez do vinho. Há também os que justifi-     por vários meses.
cam outros elementos em lugar do pão. A seguir,     Esta seria mais
vamos conhecer os principais argumentos.            uma comprovação
                                                    de que Jesus teria
           FrUtO DA viDeirA                         usado o suco. No
    Quando o Senhor Jesus instituiu a Santa         entanto, ainda que o mosto fosse consumi-        POr qUe USAmOS PãO e viNHO?
Ceia, usou a expressão: “deste fruto da videira”    do, o vinho velho, chamado de vinho bom,                    Quanto ao uso do pão
(Mt 26.29). Esta era uma expressão usada pelos      sempre era preferido (Lc 2.1-10).                   Está claro nas palavras da instituição:
judeus para designar o vinho usado em festas                                                        “tomou o pão” (Mt 26.26). Portanto não é
solenes e casamentos. Muitos alegam que esta                   A FermeNtAçãO                        possível usar outro elemento em lugar do pão.
é uma expressão genérica que se refere a todos          Jesus instituiu a Ceia durante a Páscoa.    Jesus usou pães que estavam à disposição, ou
os derivados da uva, como o suco e até mesmo        A lei da Páscoa (Ex 12.14-20; 13.7) proibia o   seja, o pão sem fermento, pois era festa dos
o refrigerante a base de uva.                       uso do fermento durante o evento. A fermen-     pães asmos (Lc 22.7). O pão com fermento era
                                                    tação era símbolo da corrupção pecaminosa       proibido só na Páscoa; em outras épocas, ele
               SUCO De UvA                          (Mt 16.6,12; 1Co 5.7,8). Apenas o pão asmo,     era usado. E os discípulos continuaram cele-
    Há os que alegam que a palavra grega para       ou seja, o pão sem fermento, era permitido.     brando a Santa Ceia com os pães que tinham
vinho, oinos, teria o significado tanto de vinho,   Muitos alegam que o vinho, sendo bebida         à disposição, entre eles, o pão fermentado.
como de suco de uva, este também chamado            fermentada, também era proibido. Porém, o       Assim, não está errado usar pão com fermen-
de mosto ou vinho novo. Com isso, querem            fermento citado é o do pão acrescentado à fa-   to, mas, por coerência, é bom usar sempre a
dizer que Jesus teria usado suco e não vinho.       rinha, e não o do vinho que é natural dele.     hóstia que é um pão sem fermento.
Porém, em Israel, a colheita da uva acontece
por volta de setembro e outubro, e a Páscoa em                CUltUrA JUDAiCA                                   Quanto ao uso do vinho
março e abril. Assim, não havia como impedir a          Há também os que alegam que o pão e o           Nas festas sagradas e nos casamentos, os
fermentação do vinho durante esse espaço de         vinho eram ingredientes da cultura judaica.     judeus usavam vinho fermentado. A Bíblia o
tempo. Além disso, o mosto era armazenado em        Logo, Jesus teria usado elementos ligados a     cita como “bebida forte” (Lv 10.9; Lc 1.15), ou
odres feitos de couro de cabrito, ou em vazilhas    uma cultura, mas não teria atrelado a Santa     seja, vinho mesmo, não suco. A Bíblia condena
de barro, onde naturalmente fermentava. O           Ceia a elementos daquela cultura. Os adeptos    a embriaguez, mas não o uso do vinho. Além
sacolejo do transporte e a alta temperatura não     desta interpretação dizem que pode-se usar      disso, em Coríntio, os cristãos usaram vinho na
evitava o processo de fermentação.                  elementos de qualquer cultura. Assim, numa      Santa Ceia com teor alcoólico, o que até gerou
                                                    região produtora de cana de açúcar, poderia     casos de embriaguez (1Co 11.21).
            A CONServAçãO                           então se usar cachaça e rapadura na Santa           Assim, pela tradição da Igreja e crença lute-
    Outros alegam que os judeus tinham téc-         Ceia – os mineiros poderiam usar leite e        rana, na Santa Ceia, usamos o pão e o vinho, de
nicas de conservação do suco de uva. Eles o         pãozinho de queijo.                             preferência um vinho de boa qualidade.         m




                                                                                                                      Mensageiro | DezeMbro 2010                    7
| MEDITAÇãO |




                                                                    É Natal...
                                 FOTOs: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA




                                                                      ELTon JUnGES
                                                                      Pastor em Cosmópolis, SP




                                                                    C
                                                                                omo é bonita esta época de final de ano. Como é bonita
                                                                                esta época de Natal. É maravilhoso andar pelas ruas e
                                                                                ver praças e casas enfeitadas, cheias de luzes brilhantes;
                                                                                ver as pessoas mais compreensivas e solidárias. Todos
                                                                    querem e fazem questão de estar com a família, com os amigos…
                                                                    É um corre-corre para todo o lado: compra de presentes, comidas
                                                                    e bebidas para que a família possa passar um bom Natal. Nesse
                                                                    corre-corre, a maioria das pessoas acabam por esquecer o verdadeiro
                                                                    sentido do Natal e o verdadeiro preparo para celebrar o Natal. Muitos
                                                                    ficam chateados, e lamentam-se porque o seu Natal será pobre. Há
                                                                    também quem pense que, se não sair o 13º, não tiver pinheiro, não
                                                                    tiver presente e não puder comer e beber à vontade, não é Natal.
                                                                        A princípio, o Natal não requer sofisticação e fartura em co-
                                                                    midas e bebidas, e nem gastos exagerados em presentes. Pois o
                                                                    Natal aconteceu de uma forma bem simples… É um tesouro que
                                                                    veio revestido de humildade.
                                                                        “A virgem ficará grávida e terá um filho que receberá o nome
                                                                    de Emanuel, que quer dizer ‘Deus está conosco’” (Mateus 1.23).
                                                                    Natal é Deus Conosco! Que maravilhoso saber que Deus veio
                                                                    morar conosco!

                                                                                             tODOS OS DiAS
                                                                        O Natal é a paz vinda para ficar com a humanidade. Jesus, o
                                                                    príncipe da paz, quer estar conosco todos os dias, quer fortalecer
                                                                    e confortar nosso coração diariamente. Um dia é muito pouco para
                                                                    o Senhor do tempo. Um templo é muito pequeno para o Senhor
                                                                    da imensidão. Como é maravilhoso o Natal! Como é maravilhoso
                                                                    o nosso Deus!

    O Natal das multidões                                               Emanuel é Deus conosco, para sempre, durante todo o ano,
                                                                    todos os dias, todas as horas – perdoando, salvando, socorrendo,
    é uma vez por ano.                                              amparando e confortando. O Natal das multidões é uma vez por
                                                                    ano. O Natal dos Cristãos é todos os dias. Quando o Natal chega
    O Natal dos Cristãos                                            em nossos corações e lares, um sentimento terno e emotivo toma
                                                                    conta de grandes e pequenos.
    é todos os dias.                                                    “Hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês
                                                                    – o Messias, o Senhor” (Lucas 2.11).
    Quando o Natal                                                      Acima de tudo, o Natal é uma festa de fé e confiança na vinda
                                                                    humilde do nosso Salvador, e na certeza de que ele virá novamente
    chega em nossos                                                 em glória. Por isso, prepare o seu coração para o Natal. É Natal
                                                                    mais uma vez!
    corações e lares,                                                   Mostremos que Jesus não nasceu em vão. Pois, ainda que Cristo
                                                                    nasça mil vezes, se não nascer em seu coração, o seu Natal será ilusão,
    um sentimento terno                                             será vazio, e a sua festa será uma festa pagã. Jesus é e deve ser sempre o
                                                                    motivo de nossa festa. Jesus quer que nos alegremos por sua vinda.
    e emotivo toma conta                                                Neste Natal, festeje você também a vinda de Cristo ao mundo
                                                                    e ao seu coração. Festeje a vitória que Jesus lhe trouxe. Festeje a
    de grandes e pequenos.                                          salvação. Festeje a vida.

8   Mensageiro | DezeMbro 2010
O verDADeirO PreSeNte                                                                        do amor; é a chegada do Filho de Deus! E sua
     Batam os sinos, cantem, dancem de alegria,                                                    vinda deve ser festejada e compartilhada.
pois nasceu o seu Salvador, Jesus, o Senhor!                                                            O Natal é a renovação da esperança. O Natal
Com Jesus, a festa da vida é para sempre!                                                          é a festa da Salvação. O Natal é a festa dos salvos,
     E mesmo que você não possa dar presentes                                                      dos que creem que Jesus é o único Senhor e Sal-
caros e nem venha a receber presentes caros,                                              Nes-     vador de sua vida. É muito mais emocionante,
lembre-se que o verdadeiro presente de Natal                                          te Natal,    empolgante e confortante comemorar o Natal na
não é aquele que nós trocamos uns com os                                            permita que    certeza de que Jesus é o nosso Salvador.
outros. O verdadeiro presente de Natal é dado                                    o amor de Cris-        Acenda as luzes como manifestação de fé
por Deus: Jesus a cada coração. Junto com ele,    to faça com que você perdoe aquela mágoa,        e alegria em Deus, o Salvador. O Natal é a luz
vem paz, amor, perdão, esperança, comunhão,       aquele ressentimento, aquele aborrecimento       que se acende e brilha em meio à escuridão
felicidade e vida eterna.                         que alguém lhe causou. Deixe o orgulho de        da nossa vida. “Eu sou a Luz do mundo”,
     Assim como Jesus, o Deus Filho, está co-     lado e ofereça desculpas ou peça desculpas       disse Jesus. O Natal é a certeza de que a Luz
nosco, nos ajuda em nossas fraquezas, nossas      caso tenha magoado alguém. Isso é Natal! Pois    de Cristo brilha em nossos corações. É um
atribulações, e diariamente nos abençoa com       Natal é a festa do amor e do perdão recebidos    convite para sermos luz para o mundo em
toda a sorte de bênçãos, vamos também             de Deus e compartilhados com as pessoas.         todas as ocasiões. Alegre-se com a vinda do
compartilhar a alegria do Natal diariamente:      Este é o maior presente que podemos dar às       seu Salvador e festeje o Natal em grande
auxiliando o próximo em suas fraquezas e di-      pessoas, repartir o amor de Jesus com elas.      estilo; festeje com Cristo no coração, e per-
ficuldades, perdoando e cooperando para que                                                        mita a ele guiá-lo pelo caminho da paz, pelo
caminhe com Jesus – o Deus conosco.                       A CHegADA DO AmOr                        caminho da luz. Alegre-se, filho de Deus, pois
     É Natal! É hora de repensar sobre a nossa       O Natal chegou. O Natal é o cumprimento       em Jesus a sua glória está garantida. É Natal,
vida, deixar as coisas insignificantes de lado    da maior e mais confortadora promessa. Deus      vamos dar as mãos e festejar com alegria no
e valorizar a fé, a vida com Jesus.               prometeu e Deus cumpriu... Natal é a chegada     coração. Feliz Natal!                             m




                                                                                                                      Mensageiro | DezeMbro 2010          9
| MEDITAÇãO |




                                                                                                                                                        FOTOs: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA
                                                                         O Natal é
                                                                    a filantropia
                                                                          de Deus
                                                        “Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para
  ELmEr TEoDoro JaGnow
  Pastor em Marechal Candido Rondon, PR                as pessoas a quem ele quer bem!” Deus enviou Jesus ao mundo
                                                                       porque “quer bem” às pessoas.



  O
                uve-se falar de entidade filantró-   ramou com generosidade o seu Espírito Santo         A FilANtrOPiA DOS HOmeNS
                pica. Mas o que é uma entidade       sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o nosso         Os seres humanos não são dados à filan-
                filantrópica? A origem da palavra    Salvador. E fez isso para que, pela sua graça,   tropia. Nos dias atuais, as pessoas estão num
                pode ajudar a entender o sentido.    nós sejamos aceitos por Deus e recebamos         corre-corre interminável e o individualismo
  Filantropia tem a sua origem na língua grega       a vida eterna que esperamos”(Tt 3.3a-7). Os      está cada vez maior. Ninguém tem tempo para
  e é formada por duas palavras: filos (amigo) e     anjos em seu cântico expressam isto: “Glória     o próximo. As pessoas estão em seu mundinho
  antropos (ser humano, pessoa). Literalmente, o     a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na      pessoal, onde nem se tem tempo para uma
  sentido seria “amigo do ser humano” ou “ami-       terra para as pessoas a quem ele quer bem!”(Lc   palavra de conforto para o semelhante, muito
  go das pessoas”. Ela era usada para expressar      2.14). Deus enviou Jesus ao mundo porque         menos dispor tempo ou dinheiro para ajudar
  a bondade de alguém (At 28.2).                     “quer bem” às pessoas. Importante perceber       alguém. Porém, pode-se mudar sendo tocados
       No Brasil, o termo passou a ser usado para    que a iniciativa é de Deus.                      pela filantropia de Deus.
  entidades que prestam serviços à sociedade e           Ele envia Jesus para trazer perdão para          Que esta filantropia de Deus nos faça mais
  não cobram por estes serviços. Por exemplo:        nossos erros. Deus não pede nada em troca. É     amigos de nosso semelhante e dispostos a ajudar
  entidades que ajudam as pessoas carentes ou        um gesto de puro amor pela humanidade.           nosso próximo com gestos de amor autêntico.
  ajudam na recuperação de pessoas dependen-
  tes de drogas, etc. Estas têm incentivo gover-
  namental com isenção de alguns impostos.

         A FilANtrOPiA De DeUS
      Pode-se afirmar que o Natal é a demons-
  tração da filantropia de Deus. O apóstolo Paulo
  afirma em sua carta a Tito: “Os outros tinham
  ódio de nós, e nós tínhamos ódio deles. Porém,
  quando Deus, o nosso Salvador, mostrou a sua
  bondade e o seu amor por todos (filantropia),
  ele nos salvou porque teve compaixão de nós, e
  não porque nós tivéssemos feito alguma coisa
  boa. Ele nos salvou por meio do Espírito Santo,
  que nos lavou, fazendo com que nascêssemos
  de novo e dando-nos uma nova vida. Deus der-
10 M  ensageiro   | DezeMbro 2010
| EM FOCO |

                                                          Marcos Schmidt
                                                           Pastor em Novo Hamburgo, RS| marsch@terra.com.br




                                 Quinquilharias
                                 do Natal

                                 E
                                              xiste uma explicação para este     armário anda abarrotado e, apesar disso,
                                              sentimento de melancolia nes-      você tem sempre a impressão de que não há
                                              ta época do ano. É que somos       nada adequado à ocasião para vestir? Com
                                              bombardeados por votos de paz,     a chegada do Natal e do fim de ano, é uma
                                 felicidade, esperança, mas, que na realidade,   boa hora de dar uma reciclada em tudo. Doe
                                 não é o que experimentamos. O Natal e o fim     todas as peças que não usou nenhuma vez
                                 de ano, apesar das festas, confraternizações,   no ano...”.
                                 família reunida, presentes, comida e bebida,        Deveríamos fazer algo parecido no coração,
                                 carregam um sentimento de velório, solidão,     sempre entulhado com coisas que nunca usa-
                                 perda, fome e sede. Por isso, é zona de alto    mos, ou que não deveríamos usar. Começando
                                 risco ao suicídio.                              com aquilo que recomenda Paulo: “Livrem-se
                                      “Eu quero paz”, suplicou Leila Lopes,      de tudo isto: da raiva, da paixão e dos senti-
                                 uma artista de novela que tirou a própria       mentos de ódio [...] Vistam-se de misericórdia,
                                 vida às vésperas do Natal passado. Numa         de bondade, de humildade, de delicadeza e de
                                 carta de despedida, ela desabafou:              paciência” (Colossenses 3.8,12).
                                      – Estou cansada, cansada da cabeça!            Contudo, isso não é fácil. Aliás, é impossível
                                 Não aguento mais pensar, pagar contas,          quando se busca dentro do próprio armário o
                                 resolver problemas.                             poder da decisão e a coragem para a arrumação.
                                      Na verdade, esse é um sentimento co-       O milagre vem de fora. Ou como diz a Bíblia:
                                 mum neste período do calendário, bem dife-      “Pensem nas coisas lá do alto e não nas que
                                 rente das mensagens nos cartões natalinos.      são aqui da terra. Porque vocês já morreram,
     O Natal e o fim de ano           Mas, pensando bem, o Natal só tem sen-     e a vida de vocês está escondida com Cristo,
   carregam este sentimento      tido onde a vida está sem sentido. Ou então     que está unido com Deus. Cristo é a verdadeira
                                 acontece aquilo que disse um teólogo: “O        vida de vocês” (Colossenses 3.2-4). “Pensar nas
  contraditório... “Jesus está   Senhor Jesus veio a uma humanidade tão          coisas lá do alto” é deixar de lado os badulaques
no mundo. Está nos braços de     acostumada com a miséria e a desgraça, e        deste mundo e priorizar o presente do Natal.
                                 feliz numa situação na qual ninguém pode        Algo parecido com a história dos 33 mineiros
 Simeão. Está no caminho de      ser feliz – a menos que não esteja certo da     chilenos que só queriam sair daquele buraco.
  todo ser humano. Não pode      cabeça”. Este é o problema na Terra. Não é          Por isso, o Natal e o fim de ano carregam
                                 o aquecimento global pela fumaça que vai        este sentimento contraditório. Ou como escre-
   ser ignorado. Não pode ser    para cima, é o esfriamento espiritual que       veu o meu professor no Seminário, Otto Goerl:
  contornado. Qual rocha no      impede o amor para baixo. Problema antigo       “Jesus está no mundo. Está nos braços de
  meio da corrente que faz as    já no primeiro Natal, pois “aquele que é a      Simeão. Está no caminho de todo ser humano.
                                 Palavra veio para o seu próprio país, mas o     Não pode ser ignorado. Não pode ser contorna-
 águas se partirem – correm à    seu povo não o recebeu” (João 1.11).            do. Qual rocha no meio da corrente que faz as
 direita, correm à esquerda –         Por isso, Jesus afirmou que bem-aven-      águas se partirem – correm à direita, correm à
                                 turados, felizes, são os pobres de espírito,    esquerda – assim Jesus divide as pessoas, os sé-
assim Jesus divide as pessoas,   os que choram, os humildes, os que têm          culos, os pensamentos, os destinos eternos”.
os séculos, os pensamentos, os   fome e sede.                                        Não é por nada todo este sentimento no
                                      Certa vez, encontrei a seguinte dica       Natal... É Deus mexendo intensamente no
        destinos eternos”.       de uma consultora de organização: “Seu          coração das pessoas.                            m


                                                                                                   Mensageiro | DezeMbro 2010     11
| CAPA |

                                                                                                          FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA




                                                                                                                                            No N

  LinDoLfo piEpEr
  Pastor emérito, Jaru, RO




  E
                   ra uma vez, um rei muito cari-     Em Cristo, DEus assumE                       graça para socorro em ocasião oportuna”
                   doso que procurava governar         a naturEza humana                           (Hebreus 4.15-16).
                   o seu país da melhor maneira         Foi isso o que Deus fez na pessoa de           No Natal, lembramos a humanação de
                   possível. Porém, apesar de       Jesus, por ocasião do primeiro Natal. Ele      Jesus, quando o Verbo se fez carne e habitou
                   todos os seus esforços, ele      assumiu a identidade humana; renunciou         entre nós. Neste dia, o rei Jesus deixou o
  não conseguia agradar o povo. Sempre havia        ao trono da glória para conquistar o co-       trono da glória para se fazer um ser humano
  muita reclamação entre os seus súditos.           ração dos seres humanos. Diz o apóstolo        como cada um de nós, a fim de cumprir a
      Ele, então, procurou conselho junto aos       Paulo na carta aos Filipenses: “Tende          Lei em nosso lugar, evangelizar os povos e
  sábios da corte, a fim de saber o que fazer       em vós o mesmo sentimento que houve            morrer pelos pecados de todos.
  para conseguir agradar a população. Os            também em Cristo Jesus, pois ele, sub-             Durante o tempo em que Jesus esteve
  sábios se reuniram e chegaram à conclusão         sistindo em forma de Deus, não julgou          aqui na terra, ele, embora fosse o Emanuel,
  que para o rei entender os anseios do povo        como usurpação ser igual a Deus; antes a       o Deus encarnado, se comportou como um
  e fazer um governo que os agradasse só            si mesmo se esvaziou, assumindo a forma        simples ser humano, mostrando a sua divin-
  haveria uma maneira: ele tinha que descer         de servo, tornando-se em semelhança de         dade apenas algumas vezes quando realizava
  do trono, se juntar ao povo e se tornar           homem; e, reconhecido em figura huma-          os seus milagres e fazia os seus discursos.
  igual a eles.                                     na, a si mesmo se humilhou, tornando-se            Se nós formos olhar para a vida de Je-
      O rei fez conforme lhe aconselharam.          obediente até à morte, e morte de cruz”        sus, parece que tudo deu errado. Primeiro,
  Saiu do palácio, vestiu-se como um colono         (Filipenses 2.5-8).                            ele nasceu numa estrebaria, num curral de
  e foi morar entre as pessoas comuns. Assim,           E o autor da carta aos Hebreus escreve,    gado. Era de se esperar que Jesus nascesse
  começou a sentir o que o povo sentia e ouvir      dizendo: “Porque não temos um sumo sacer-      num palácio, afinal, ele era o Filho de Deus,
  as reclamações que o povo tinha a fazer. Ele      dote que não possa compadecer-se de nossas     o Rei dos reis e o Senhor dos senhores.
  viu que o que povo queria não era grandes         fraquezas; antes, ele [Jesus] foi tentado em   Foi por isso que os magos do oriente,
  obras, mas, sim, boas estradas, saúde, educa-     todas as coisas, a nossa semelhança, mas       quando vieram adorar o Menino Jesus, o
  ção e segurança. Segundo a lenda, depois de       sem pecado. Aproximemo-nos, portanto,          procuraram no palácio do rei Herodes em
  um ano, ele voltou novamente ao palácio e, a      confiantemente junto ao trono da graça a       Jerusalém. Porém, lá não havia ninguém. O
  partir de então, fez um grande governo.           fim de recebermos misericórdia e acharmos      rei Herodes nem sabia do seu nascimento,




12 M  ensageiro   | DezeMbro 2010
No plano de Deus, a nossa salvação passa pela humanação
    de seu único Filho Jesus Cristo, o qual não deixou de ser Deus,
              mas assumiu também a natureza humana



Natal, Deus veio habitar entre nós




                                                           “
  tampouco o povo de Jerusalém.                                                 nos planos de Deus: desde o seu humilde
      Depois, no seu ministério, ele foi rejei-                                 nascimento, até a sua morte na cruz. Isso
  tado e desprezado. Ele não foi bem aceito                                     tudo havia sido predito pelos profetas. Esse
  pelos homens. Diz o apóstolo João: “Ele                                       era o plano de Deus para salvar o mundo. O
  veio para os seus, mas os seus não o recebe-      No Natal, lembramos a       profeta Isaías, por exemplo, depois de des-
  ram” (João 1.11).                                                             crever em minúcias o seu sofrimento e morte
      Às vezes, ele não tinha nem lugar para
                                                     humanação de Jesus,        no capítulo 53 do seu livro, conclui dizendo:
  dormir, para descansar o corpo. Por isso,          quando o Verbo se fez      “Quando ele [Jesus] olhou para trás e viu o
  num certo lugar dos Evangelhos, ele recla-         carne e habitou entre      fruto do seu trabalho, ficou satisfeito”.
  ma, dizendo: “As raposas têm os seus covis,                                       Jesus, segundo o plano de Deus, veio na
  as aves dos céus, ninhos; mas o Filho do        nós. Neste dia, o rei Jesus   plenitude dos tempos. Ele nasceu na cidade
  homem não tem nem onde reclinar a sua            deixou o trono da glória     de Belém, de acordo com o que Deus plane-
  cabeça” (Mateus 8.20).                                                        jara. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém,
      E, no fim de sua vida, ele foi humilhado,       para se fazer um ser      tudo segundo a santa vontade de Deus. E,
  desprezado e colocado numa cruz, como um         humano como cada um          de acordo com o plano de Deus, Jesus um
  criminoso, como um marginal, como um                                          dia voltará. Isso vai acontecer quando o
  bandido. Parecia que ele estava sozinho, que
                                                   de nós, a fim de cumprir     Evangelho for pregado em todo o mundo…
  até o próprio Deus o havia abandonado. Por         a Lei em nosso lugar,      Então virá o fim.
  isso, como que desesperado, ele clama no                                          Ele não virá mais como um bebê inde-
                                                     evangelizar os povos
  alto da cruz: “Deus meu, Deus meu, porque                                     feso, mas em glória e majestade. Virá para
  me desamparaste?” (Mateus 27.46).                 e morrer pelos pecados      julgar os vivos e os mortos, quando “ao
                                                            de todos.           nome de Jesus se dobrará todo o joelho,




                                                           ”
  Tudo era plano de deus,                                                       nos céus, na terra e debaixo da terra, e
   nada foi improvisado                                                         toda língua confessará que Jesus Cristo
     No entanto, Deus não o havia desam-                                        é o Senhor, para a glória de Deus Pai”
  parado. Tudo o que acontecia com ele estava                                   (Filipenses 2.10,11).




                                                                                                Mensageiro | DezeMbro 2010   13
| CAPA |


     Estamos esperando, portanto, a sua           ele vier na segunda vez, em majestade e glória,   bendito aquele que vem em nome do Senhor.
  vinda em glória, para julgar os vivos e os      quem o desprezar será condenado ao fogo do        Hosana, hosana, hosana nas alturas!” (Hi-
  mortos, para levar junto consigo os que nele    inferno. Para que isso não aconteça, Deus         nário Luterano, página 39).
  creem e se preparam para a sua vinda.           envia mensageiros, à semelhança de João
                                                  Batista, a fim de que prepara o nosso coração          a súplica de naTal
             o naTal foi                          mediante a pregação do Evangelho, dizendo:             O livro de Apocalipse é o que mais fala
            desfigurado                           “Arrependei-vos, porque está próximo o            do retorno de Cristo. Por isso, o saudoso
      Hoje, muitas pessoas, em vez de se          reino dos céus” (Mateus 3.2).                     professor Dr. Johannes H. Rottmann intitu-
  prepararem para celebrar o Natal de Jesus,          É necessário que nos arrependamos dos         lou o livro que escreveu sobre o Apocalipse
  estão se preocupando com coisas externas,       nossos pecados para que o Rei da Glória           de Vem, Senhor Jesus. Pois, no capítulo 5
  que nada tem a ver com o nascimento de          entre, conforme o Salmo 24. Apenas quem           de Apocalipse, encontramos o conhecido
  Jesus. Enfeitam a casa, mas não adornam         tem o seu coração purificado mediante o           Cântico do Cordeiro, onde toda criatura,
  o seu coração. Compram presentes para os        sangue de Cristo derramado na cruz é que          no céu e na terra, exalta a Cristo, dizendo:
  seus filhos, mas não reconhecem em Jesus        pode receber com dignidade o Rei Jesus            “Digno é o Cordeiro que foi morto de rece-
  um presente de Deus. Chamam um velhinho         vindo em glória. O povo de Jerusalém, ao          ber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e
  inexistente de Papai Noel quando o nosso        ver Jesus entrando na cidade, estendeu as         honra, e glória, e louvor”. E o apóstolo João
  verdadeiro Pai é Deus.                          suas vestes e ramos de árvores pelo cami-         conclui, dizendo: “Então ouvi toda criatura
      O comércio tem se aproveitando deste dia    nho por onde ele passava, dizendo: “Ho-           que há no céu e sobre a terra, debaixo da
  para aumentar os seus lucros através de gran-   sana, ao filho de Davi, bendito o que vem         terra e sobre o mar, e tudo o que neles há,
  des vendas, fazendo com que muitas pessoas      em nome do Senhor! Hosana nas alturas!”           estava dizendo: Aquele que está sentado
  gastem mais do que podem. Depois, elas ficam    (Mateus 21.9).                                    no trono e ao Cordeiro, será o louvor, e a
  quase o ano todo pagando prestações.                Na Santa Ceia, quando lembramos a             honra, e a glória, e o domínio pelos séculos
      Precisamos novamente recuperar o            morte de Jesus, cantamos: “É verdadeira-          dos séculos” (Apocalipse 5.12,13).
  verdadeiro sentido do Natal. Precisamos         mente digno, justo e do nosso dever, que em            Por isso, neste Natal, como em todos
  nos conscientizar do que é realmente im-        todos os tempos e em todos os lugares te de-      os dias da nossa vida, preparemos o nosso
  portante no Natal e do que é secundário.        mos graças, ó Senhor, santo Pai, onipotente,      coração, orando como o poeta sacro: “Enche
  Do contrário, podemos ser surpreendidos         eterno Deus. Mediante Jesus Cristo, nosso         os nossos corações com o teu real poder. De
  como o povo de Israel, que se esqueceu de       Senhor. Portanto, com os anjos e arcanjos         pecados e tentações, vem, Jesus, nos defen-
  tal modo do Messias Prometido que, em           e com toda a companhia celeste louvamos e         der. Pois nós somos tua grei. Glória, glória a
  vez de recebê-lo como um rei, o receberam       magnificamos o teu glorioso nome, exaltan-        ti, ó Rei!” (Hinário Luterano 124.1).
  como um mendigo, deixando-o nascer numa         do-te sempre, dizendo: santo, santo, santo             Então, um dia na eternidade, poderemos
  estrebaria, num curral de gado.                 é o Senhor Deus dos Exércitos. Os céus e a        cantar junto com o grande coro dos anjos:
      Quando Cristo veio pela primeira vez, ele   terra estão cheios de sua glória. Hosana, ho-     “Glória a Deus nas maiores alturas e paz [...]
  pôde ser desprezado e morto. Porém, quando      sana, hosana nas alturas! Bendito, bendito,       entre os homens, a quem ele quer bem”. m




                                        “
     “Jesus, segundo o plano de Deus, veio na plenitude dos
   tempos. Ele nasceu na cidade de Belém, segundo o que Deus
     planejara. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém, tudo
  segundo a santa vontade de Deus. E, segundo o plano de Deus,
   Jesus um dia voltará. Isso vai acontecer quando o Evangelho




                                        ”
          for pregado em todo mundo. Então virá o fim”.




14 M ensageiro   | DezeMbro 2010
| MÚSICA NA IGREJA |




Música, também
uma forma de orar
                                                                                                                           FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA
paULo BrUm
Membro da Comissão de Culto da IELB
Pastor e capelão de música da ULBRA




A
             ssim como hoje as pessoas não
             pensaram sempre da mesma
             forma. A visão que o ser humano
             possui do mundo, e de seu lugar
dentro dele, tem variado em função do avanço
nas diversas áreas do conhecimento. Ao longo
da história, muitos foram os conceitos e as
funções atribuídas à Música. A proposta deste
texto é lembrar algumas das abordagens feitas
para a Música Sacra.
    Para os gregos antigos, a Música era
compreendida como uma manifestação divi-
na entre os mortais, e, por sua ausência ou       Na Sociologia, a Música é encarada como      usadas para o mal como para o bem. A Mu-
qualidade de presença, era possível descobrir um elemento de encadeamento social, isto         sicoterapia, por exemplo, dedica-se a curar
a natureza do caráter dos seres humanos. é, como ela é e pode ser usada nas relações           distúrbios psicológicos e doenças mentais
Durante as épocas de tendência racionalista entre os diversos agrupamentos humanos.            pela utilização adequada da Música. Tais
(Século XVII), a Música                                              A propaganda a ser-       fenômenos, da mesma forma, tem grande
nada mais era do que                                                 viço do consumismo,       relação com a Música Sacra.
o resultado de uma          “O cântico congregacional                o condicionamento             Na Teologia, o assunto tem sido descuida-
elaboração estética,             e o convívio musical                à alienação social,       do. Grandes teólogos têm reconhecido o valor
cuja matéria-prima                                                   política e religiosa, e   da Música no desenvolvimento da fé e do
era o som. Por outro            são indispensáveis e                 outras doutrinações       louvor. Entretanto, na maioria das vezes, as
lado, nas épocas mais      insubstituíveis para a união de toda ordem são                      reflexões permanecem superficiais. O cântico
românticas (século                                                   a grande exploração       congregacional e o convívio musical, de uma
XIX), a Música era en-
                              entre as pessoas de uma                negativa das possi-       forma geral, são indispensáveis e insubsti-
tendida como algo            comunidade. Não apenas                  bilidades da Música.      tuíveis para a união entre as pessoas de uma
etéreo, poderoso e que                                                                         comunidade. Não apenas como divertimento
                           como divertimento ou fator A Sociologia estuda
não se submetia à ra-                                                tais fenômenos que        ou fator de instrução, mas como processo de
zão. Essas tendências         de instrução, mas como                 muito teriam a cola-      aproximação de Deus. Cantar ou tocar com
de natureza filosófica       processo de aproximação                 borar com a Música        alegria e simplicidade também é uma forma
conflitante convivem                                                 se usados de forma        de orar. A execução musical em conjunto
com o sentido utili-          de Deus. Cantar ou tocar               positiva.                 promove comunhão no louvor a Deus e é uma
tarista da Música no        com alegria e simplicidade                   Na Psicologia, a      experiência que transcende a ostentação que
século XX.                                                           Música é estudada         costuma determinar o clima na maioria das
    A Música também
                                também é uma forma                   com o objetivo de         salas de espetáculo.
tem sido envolvida                       de orar”.                   chegar às estruturas          O cultivo musical das igrejas não só deve-
nas diversas áreas do                                                do pensamento hu-         ria ter maiores responsabilidades artísticas,
conhecimento, como a Sociologia, a Psicologia mano, a fim de compreender como as pessoas       como deveria superar tais meras experiências
e a Teologia, além dos domínios científicos sentem e pensam. A partir daí já tem surgido       estéticas na busca de algo muito mais profun-
ditos exatos, como a Física, por exemplo.      algumas descobertas, que tanto podem ser        do: a dimensão da fé.                       m



                                                                                                               Mensageiro | DezeMbro 2010                15
| ESCRITURAS SAGRADAS |




                                   A complexa
                                   questão do
                                     cânone
  I
          magine-se na situação de um líder da      Dr. viLSon SchoLz                 adicional, o Salmo 151? A solução encontrada
          Sociedade Bíblica, num país como a        Professor de Teologia Exegética   foi colocá-los na mesma seção de livros entre
          Turquia, com a tarefa de publicar uma     Consultor de Traduções da SBB     os dois testamentos, só que depois daqueles
          nova tradução da Bíblia que possa ser                                               que são aceitos tanto por católicos
  aceita por evangélicos, pela Igreja Católica                                                quanto por ortodoxos. A ordem dos




                                                                                       FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA
  Romana, e pelas várias igrejas da tradição                                                  livros ficou assim: Tobias, Judite, Ester
  ortodoxa, entre elas a Igreja Ortodoxa Grega.                                               (grego), Sabedoria, Siraque, Baruque,
  O que você faria? Como é sabido, esses três                                                 Carta de Jeremias, A oração de Azarias
  grupos de cristãos não publicam a Bíblia com                                                e o Cântico dos três jovens, Susana, Bel
  a mesma configuração, ou o mesmo número                                                     e o dragão, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3
  de livros, especialmente no que diz respeito                                                Macabeus, 1 Esdras (3 Esdras, na Vulga-
  ao Antigo Testamento.                                                                  ta), 4 Esdras, A oração de Manassés, Salmo
      Uma saída fácil seria dizer: publique-se                                           151 e 4 Macabeus.
  uma Bíblia para cada confissão ou igreja! No                                                A colocação dos livros apócrifos num
  entanto, os cristãos são minoria absoluta na                                           bloco à parte é aceitável a (muitos) protes-
  Turquia, formando um por cento da popula-                                              tantes; a colocação de livros como Tobias,
  ção. Três edições diferentes da Bíblia seriam                                          Judite, Sabedoria, Siraque no topo da lista
  inviáveis do ponto de vista econômico. O                                               agrada a católicos-romanos; e a inclusão de
  que fazer?                                                                             outros livros, ainda que ao final, atende aos
      Um consultor de traduções das Socieda-                                             anseios das igrejas ortodoxas. E, na prática,
  des Bíblicas Unidas encontrou uma solução,                                             cada Igreja lê os livros que quiser.
  em diálogo com as igrejas envolvidas e, por                                                 Claro, tal solução para um problema bem
  fim, com a concordância delas. A primeira                                              concreto num país de maioria muçulmana e
  decisão foi colocar os livros que os pro-                                              minoria cristã seria totalmente inaceitável
  testantes chamam de apócrifos e que os                                                 para, quem sabe, a maioria dos evangélicos
  católicos denominam de deuterocanônicos                                                no Brasil. Mas ela coloca diante de nossos
  (Tobias, Sabedoria, Judite, etc.) numa seção                                           olhos a complexa questão do cânone.
  à parte, entre o Antigo Testamento e o Novo
  Testamento. Tal procedimento, que já havia                                                                             A HiStóriA DOS CâNONeS
  sido adotado por Martinho Lutero, no século                                                                     Em se tratando de cânone, existem duas
  16, é aceitável à Igreja Católica Romana, em                                                                histórias que precisam ser contadas: a do
  se tratando de edições interconfessionais.                                                                  cânone do Antigo Testamento, e a do câno-
  Há um documento, assinado conjuntamente                                                                     ne do Novo Testamento. O cânone do Novo
  pelas Sociedades Bíblicas Unidas e o Vatica-                                                                Testamento é, de modo geral, o mesmo em
  no, datado de 1987, que trata desta questão.                                                                todas as denominações cristãs: são aqueles
  Mas o que fazer com aqueles livros a mais,                                                                  27 livros e ponto final. Porém, no caso do
  fora da lista dos apócrifos, que são aceitos                                                                Antigo Testamento, as opiniões se dividem.
  apenas pelas igrejas ortodoxas? Sim, livros                                                                     Num certo sentido, é chocante ver que
  como 3 Macabeus, 4 Macabeus, e um salmo                                                                     os cristãos não conseguem concordar quanto


16 M ensageiro   | DezeMbro 2010
à extensão da Bíblia, especialmente do Antigo       igrejas, ou, então, da Igreja em que se é mem-      divisões da Bíblia Hebraica. Em outras palavras,
Testamento. Por que isso é assim? Essencial-        bro. O cânone que se aceita é o cânone usado        a primeira parte a ser reconhecida como canôni-
mente, porque a própria Bíblia não fecha esta       na Igreja. Na realidade, foi isso o que aconteceu   ca teria sido a Lei ou o Pentateuco, seguida dos
questão. Ela não nos dá a extensão do cânone. E     ao longo da história do povo de Deus. Quando        Profetas e dos Escritos. Segundo esta teoria, Da-
por que a Bíblia não define essa questão, quem      pessoas e concílios se pronunciaram, em geral,      niel e Crônicas, que, na Bíblia Hebraica, fazem
aceita o princípio do “somente a Escritura”         ratificaram o que vinha sendo a prática da          parte dos Escritos, teriam sido “canonizados”
precisa conviver com essa indefinição. Para         Igreja em sua vida de culto.                        num período mais recente ou próximo a nós.
quem aceita a autoridade de concílios, como é o         Se a Escritura não delimita o cânone, e         No entanto, isto não passa de hipótese. Não há
caso da Igreja Católica Romana, a questão está      os concílios e teólogos não são suficientes         nenhum registro histórico de que isto tenha,
definida, pelo menos desde o Concílio de Trento,    para suprir essa “lacuna”, quem poderia nos         de fato, acontecido assim.
em 1546. Para quem se norteia pela Confissão        auxiliar nesta questão? Em outras palavras,              Em busca de uma pista, muitos olham
                                                                                                        para a comunidade essênia dos arredores de
                                                                                                        Qumran e para os manuscritos que ali foram
          O cânone que se aceita é o cânone usado na Igreja.                                            descobertos entre 1947 e 1956. No entanto,
                                                                                                        aquela comunidade judaica dissidente não
            Na realidade, foi isso o que aconteceu ao longo                                             nos deixou nenhuma declaração a respeito dos
             da história do povo de Deus. Quando pessoas                                                livros que eram considerados sagrados. Entre
          e concílios se pronunciaram, em geral, ratificaram                                            os manuscritos ou rolos do mar Morto, como
                                                                                                        vieram a ser conhecidos, foram encontrados
                 o que vinha sendo a prática da Igreja                                                  fragmentos de Tobias, que é um livro apócrifo
                          em sua vida de culto.                                                         ou deuterocanônico, e também dos livros de
                                                                                                        Enoque e de Jubileus, entre outros, que não
                                                                                                        fazem parte de nenhum cânone bíblico hoje em
de Westminster, de 1647, a questão também           se o cânone não é uma questão de doutrina, o        dia. Significa isto que esses livros também eram
está resolvida na medida em que esta confissão      que seria então?                                    vistos como canônicos? Não temos uma respos-
cita os livros aceitos como canônicos, e que são        Normalmente, afirma-se que o cânone é           ta, embora tudo indique que os essênios tinham
os livros que hoje, de modo geral, aparecem         uma questão histórica. Em outras palavras,          essencialmente o mesmo cânone dos fariseus e
em todas as edições protestantes da Bíblia.         olha-se para a história em busca de alguma          saduceus, ou seja, o cânone da Bíblia Hebraica,
Outros evangélicos, quando perguntados sobre        pista ou orientação. No entanto, ao fazermos        que é também o cânone protestante.
a extensão do cânone, só podem responder que        uma investigação histórica, temos mais pergun-
“os livros canônicos são os livros inspirados por   tas do que respostas. Temos algumas supostas            livrOS DeUterOCâNONiCOS
Deus, e que os livros inspirados por Deus são os    verdades que não passam de hipóteses. Outras            Por vezes, também se afirma ou se dá a
livros canônicos”. Eles se abstêm de serem mais     respostas que vêm da história são incompletas       entender que os livros apócrifos ou deuteroca-
específicos, porque a Bíblia silencia a respeito    ou incertas. E existem fatos que ainda não co-      nônicos, escritos originalmente em grego ou
desta questão.                                      nhecemos. Vejamos alguns exemplos.                  preservados em tradução grega, faziam parte
     Se a Bíblia não define a questão, uma alter-       Geralmente se afirma que a canonização          de um cânone dos judeus de Alexandria que
nativa é aceitar o que tem sido a prática das       do Antigo Testamento se deu conforme as três        falavam grego. Alexandria, é bom lembrar,




              Parabéns, Mensageiro Luterano, pelos
               93 anos de circulação ininterrupta!
                                                                                    A Hora Luterana se alegra por
                                                                                  fazer parte desta edição especial,
                                                                                e parabeniza a todos que participam
                                                                                da produção do Mensageiro, um dos
                 HORA LUTERANA                                               principais meios de comunicação da nossa
         Parceira da Igreja no evangelismo                                      Igreja Evangélica Luterana do Brasil.

                              Visite-nos na Internet: www.horaluterana.org.br ou blog.horaluterana.org.br


                                                                                                                          Mensageiro | DezeMbro 2010    17
| ESCRITURAS SAGRADAS |




                                                                                                                                                            FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA
                               A Bíblia de Genebra, de 1560, tradução feita por teólogos
                            reformados que haviam se refugiado em Genebra, era idêntica
                               à Bíblia de Lutero, na questão dos apócrifos. Contudo, a
                            exemplo de Lutero, os editores deixaram claro que esses livros
                                   não podiam ser usados para confirmar doutrina.

  foi o contexto em que surgiu a Septuaginta         apócrifos, mesmo que não fizessem campanha              Outro dado pouco conhecido é que durante
  ou tradução grega do Antigo Testamento. No         em prol da supressão dos apócrifos. Atanásio        a Idade Média, mesmo no Ocidente, houve
  entanto, não se tem notícia concreta de que os     pensava que estes livros não fazem parte do         teólogos que sustentavam o ponto de vista
  judeus de Alexandria tivessem um cânone mais       cânone, mas que foram indicados, desde os           de Jerônimo, ou seja, faziam distinção entre
  amplo do que a Bíblia Hebraica. O simples fato     tempos antigos, como leitura para recém-con-        livros canônicos e outros livros. Isto significa
  de que a Septuaginta acabou tendo um grupo         vertidos que, nas palavras de Atanásio, “querem     que Lutero não tirou esta distinção do ar. O
  adicional de livros, que não fazem parte da        ser instruídos na religião verdadeira”. A maioria   cardeal Cajetano, encarregado pelas autorida-
  Bíblia Hebraica, não significa que essa já era a   dos eruditos das igrejas ortodoxas (orientais)      des de Roma a dialogar com Lutero, pensava
  situação verificada na comunidade judaica. Filo    segue Atanásio, colocando os livros que a Septu-    exatamente como Jerônimo.
  de Alexandria, um filósofo judeu que viveu mais    aginta tem a mais em relação à Bíblia Hebraica          É verdade que Lutero colocou os apócrifos
  ou menos na mesma época do apóstolo Paulo,         num nível inferior de autoridade.                   numa seção à parte, depois de Malaquias e an-
  não dá indícios de que aceitasse a autoridade           Jerônimo, que prezava aquilo que chamou        tes de Mateus, mas ele não foi o único a fazer
  dos livros que denominamos de apócrifos.           de veritas hebraica (verdade hebraica), traduziu    isso. A Bíblia de Genebra, de 1560, tradução
      Às vezes, pensa-se que os Pais da Igreja       o Antigo Testamento do original hebraico. No        feita por teólogos reformados que haviam se
  eram todos ardorosos defensores dos apócrifos      entanto, isto não significou que ele deu início a   refugiado em Genebra, era idêntica à Bíblia de
  ou deuterocanônicos. É verdade que homens          uma “cruzada” contra os apócrifos. Entendia que     Lutero na questão dos apócrifos. Contudo, a
  como Orígenes, Atanásio e Jerônimo conheciam       esses livros podiam ser lidos para a edificação     exemplo de Lutero, os editores deixaram claro
  os apócrifos. No entanto, também é verdade         do povo, embora não devessem ser usados para        que esses livros não podiam ser usados para
  que faziam distinção entre os canônicos e os       estabelecer doutrinas ou dogmas eclesiásticos.      confirmar doutrina.




18 M  ensageiro   | DezeMbro 2010
A renomada tradução inglesa co-
nhecida como King James Version, de                                                                           Em conclusão, cabe relembrar que,
1611, incluía os apócrifos. Na época,                                                                     em se tratando do cânone do Antigo
o arcebispo de Cantuária proibiu a                                                                        Testamento, a diferença entre católicos
publicação e venda de Bíblias sem os                                                                      e protestantes se explica pelo fato de
apócrifos. A pena prevista para os in-                                                                    terem os protestantes, no tempo da
fratores era um ano de prisão. Depois,                                                                    Reforma do século 16, entendido que os
é claro, os apócrifos foram tirados da                                                                    livros canônicos eram, a rigor, os que es-
King James.                                                                                               tavam na Bíblia Hebraica. Em resposta, a
    E que dizer da famosa Bíblia de Mary                                                                  Igreja Católica Romana canonizou livros
Jones, a menina galesa que inspirou o                                                                     que tinham aceitação na Igreja desde
movimento das Sociedades Bíblicas?                                                                        tempos antigos. Esta é a situação que,
Essa Bíblia que Mary Jones adquiriu com                                                                   provavelmente, permanecerá inalterada
tanto sacrifício foi preservada. E ela traz                                                               no futuro próximo.
os apócrifos, pois a assinatura de Mary                                                                       Entretanto, também precisa ser
Jones aparece na última página dos                                                                        dito que a diferença fundamental entre
livros de Macabeus. Aliás, a Sociedade                                                                    as confissões religiosas ou igrejas não
Bíblica Britânica e Estrangeira, fundada                                                                  reside no cânone. As reais diferenças de-
em 1804, só deixou de publicar Bíblias                                                                    correm de interpretações divergentes de
com os apócrifos em 1826, ou seja,                                                                        textos que, sem sombra de dúvida, são
22 anos depois de sua fundação. Já a                                                                      canônicos, como, por exemplo, Mateus
Bíblia de Almeida, que teve o Antigo                                                                      16.18, as palavras da instituição da ceia
Testamento publicado em 1748 (o Novo                                         FOTO: leAnDrO r. CAMArATTA   do Senhor, e textos que tratam da relação
Testamento havia sido lançado em 1681), nunca                                                             entre fé e obras.
incluiu os apócrifos.                                                                                   Além disso, por mais importante que seja
                                                    A diferença entre católicos                  a questão do cânone, a pergunta fundamental
         ler PArA CONHeCer                                                                       ainda é a do próprio Jesus, em Mateus 16.15:
                                                  e protestantes se explica pelo “Quem vocês dizem que eu sou?” Esta pergunta
    Com respeito aos apócrifos, muitos pre-
ferem a atitude do “não li e não gostei”. Uma     fato de terem os protestantes, não pode ficar sem resposta. As perguntas mais
                                                                                                 complexas relacionadas com o cânone podem
maior disponibilidade e familiaridade com estes      no tempo da Reforma do                      ficar para depois, para o dia em que, como diz
livros poderiam ajudar o leitor a avaliar estes
textos e, quem sabe, ter uma compreensão mais
                                                    século 16, entendido que                     Paulo em 1 Co 13.12, “veremos face a face” e
adequada das questões envolvidas na delimita-        os livros canônicos eram,                   “conheceremos perfeitamente”.                    m


ção do cânone do Antigo Testamento.
                                                    a rigor, os que estavam na                         nota da rEdação
    Nesse sentido, é interessante uma página
da vida de John Bunyan, o famoso autor de O              Bíblia Hebraica.                              Publicado originalmente na revista a
                                                                                                       Bíblia no Brasil, nº 229 - Outubro a
Peregrino. Por volta de 1652, num tempo de
                                                                                                       Dezembro de 2010 – Ano 62
profunda depressão, Bunyan encontrou consolo
num texto que lhe veio à mente: “Pensem nas
gerações passadas e reparem bem: será que
alguém que confiou no Senhor ficou desiludi-
do?” Passada a crise, Bunyan não conseguia
se lembrar de onde vinha esse texto, não con-
seguiu localizá-lo em sua Bíblia, e não houve
quem pudesse lhe indicar a referência. Um ano
depois, ele escreve: “Voltando meus olhos para
os apócrifos, encontrei o texto em Siraque (ou
Eclesiástico) 2.10. A princípio, isto me deixou
um pouco perplexo, pois não fazia parte dos
textos que chamamos de santos e canônicos;
entretanto, como essa frase era o resumo e
conteúdo de muitas das promessas, era meu
dever tirar consolo dela. E eu agradeço a Deus
por essa palavra, pois foi boa para mim”.


                                                                                                                      Mensageiro | DezeMbro 2010   19
| ESCRITURAS SAGRADAS |




                                 Lu ter oea
                                      uçã o da
                                 trad
                                     B íblia
                                                                                      as Es-
                                                                           s Sagrad




                                          L
                                                    utero tr    aduziu a                  ovo
                                                                              gua do p
                                                                 para a lín             Jesus
                                                    crituras                u Senhor
                                                     “por am     or de me                  írito
                                                                               ue o “Esp
                                                                   abendo q                     s
                                                      Cristo”. S                   Deus e do
                                                                      alavra de
                                                    e atr avés da P                    ia que o
                                          Santo ag                          dor quer
                                                                 Reforma                       em
                                           sacram  entos”, o              mina   r a Bíblia
                                                       esse    ler e exa
                                            povo pud             ua.                        “uma
                                            sua pró  pria líng                 ia fa z e r
                                                              o d e q u e ir                Deus e
                                                 C o n v ic t                  e de seu
                                                         forme     a vontad                    alho.
                                             obra con                              seu trab
                                                                      iniciou o                1521,
                                                         ”, Lutero               orms, em
                                              Salvador               ieta de W                    tero
                                                           do da D                  u que Lu
                                              Retornan                  , mando                   ança
                                                            , o Sábio                em segur
                                               Frederico               o ” e posto
                                                           questrad
                                                fosse “se                     rgo.
                                                             lo d e Wartbu              grande p
                                                                                                     ro-
                                                 no Caste           tero re  alizou a
                                                      E aqui Lu                              ento num
                                                                                o Testam
                                                               uzin do o Nov                     el - de
                                                  eza, trad                        impossív
                                                                uma   namente                    22.
                                                  tempo h                           rço de 15
                                                                  de 1 521 a ma
                                                   dezembro




                                                                                                       MOnTAGeM sOBre FOTO ArquivO eDiTOrA COnCórDiA




20 M
   ensageiro   | DezeMbro 2010
O Antigo Testamento foi traduzido ao longo                                                          tos da Dieta de Augsburgo. Na época em que
dos anos. Enquanto o Novo Testamento foi tra-                                                            escreveu a carta, estava empenhado na tradução
                                                            Não basta o dom
duzido apenas por Lutero – o Antigo Testamento                                                           dos livros proféticos do Antigo Testamento e já
foi traduzido com o apoio de Melanchthon, Bu-           linguístico para traduzir                        tinha mais de dez anos de experiência em maté-
genhagen, Justus Jonas, Cruciger, Aurogallus e         bem, disse Lutero. Traduzir                       ria de traduzir. Seu primeiro ensaio de tradução
Roerer. Dada a sua extensão, os livros do Antigo                                                         de textos bíblicos é de 1517, em seu primeiro
Testamento foram publicados em quatro volu-            bem é graça e dom especial                        escrito, Os Sete Salmos Penitenciais. Nessa primei-
mes, assim que iam sendo traduzidos.                            de Deus.                                 ra tentativa já se afasta da Vulgata, conforme
     Porém, foi em 1534 que a tradução com-                                                              se lê no prefácio ao escrito mencionado, onde
pleta da Bíblia foi impressa. Esta é considerada                                                         diz que ultrapassou nostra translatio.
a impressão mais fina do Século XVI, realizada      rer, consideram a tradução de Lutero o maior              A parte da carta que interessa ao nosso
pelo editor Hans Luft, de Wittenberg. Neste         acontecimento literário do século XVI.               tema é a resposta de Lutero a uma crítica feita
ano de 1984, pois, a Igreja Cristã “comemora             Lutero tinha consciência aguda dos proble-      a sua tradução de Rm 3.28. Em vez de traduzir:
os 450 anos da impressão da Bíblia, tradução de     mas envolvidos na tarefa de traduzir e do que é      “... o homem é justificado pela fé, sem as obras
Lutero, considerada ‘a mais perfeita e completa     necessário para traduzir bem. Não basta o dom        da lei”, Lutero traduziu: “sem as obras da lei,
até hoje’”.                                         linguístico para traduzir bem, disse ele. Traduzir   somente pela fé” (“ohne des Gesetzes Werke, allein
     Não foi obra pequena, nem fácil, traduzir a    bem é graça e dom especial de Deus. Depois de        durch den Glauben”). É na defesa de sua tradução
Bíblia para a língua do povo. Em sua Carta Aberta   iniciar a empresa de traduzir a Bíblia em alemão,    desse texto que Lutero enuncia os princípios a
sobre a Tradução, Lutero elabora e defende sete     escreveu que, se não o tivesse tentado, poderia      que aludimos. Nosso objeto não é analisar os
princípios básicos para fazer uma boa tradução.     ter morrido com a ideia errônea de que era           argumentos de Lutero a favor de sua tradução
     O professor Arnaldo Schüller traduziu e        um erudito, acrescentando que deveriam fazer         de Rm 3.28, mas sublinhar os princípios de
comenta estes princípios de tradução de Lu-         algum trabalho dessa natureza todos os que           tradução que ele estabelece ao longo da defesa
tero, num estudo apresentado no Congresso           se julgam eruditos. Com referência ao livro de       de sua tradução e acrescentar ilustrações, dele
Luterano de Comunicação em São Leopoldo.            Jó, informa que Melanchthon, Aurogallus e ele        ou de outros.
Eis o estudo:                                       algumas vezes mal conseguiram traduzir três
                                                    linhas em quatro dias. Muitas vezes ficavam du-                PrimeirO PriNCíPiO
      PriNCíPiOS De trADUçãO                        rante um mês inteiro à procura de uma palavra          O tradutor deve atender a natureza da língua
     Cresce o número de pessoas que se mos-         e nem sempre a encontravam. Por outro lado,           receptora, isto é, da língua para a qual traduz.
tram conscientes da necessidade de tornar a         uma das muitas evidências da extraordinária               Lutero observa que no texto grego nenhu-
Escritura Sagrada inteligível ao homem comum.       capacidade de Lutero para traduzir a Bíblia é o      ma palavra corresponde ao “somente” de sua
A reflexão sobre essa necessidade nos leva aos      fato dele haver traduzido o Novo Testamento          tradução, acrescentando, no estilo polêmico
problemas da arte de traduzir. Lutero é uma das     em menos de três meses.                              da época, que seus críticos olhavam a palavra
figuras que logo nos acodem à memória quan-              Os princípios de tradução defendidos e          allein como a vaca olha para um portão novo.
do pensamos sobre a arte de traduzir a Bíblia.      seguidos por Lutero estão sendo adotados             Quando falamos de duas coisas, uma das quais
Homens como Oskar Thulin, Heinz Bluhm e E.G.        ainda hoje. Serão o objeto de nossos breves          é afirmada e a outra negada, é próprio da língua
Schwiebert entendem que a tradução da Bíblia        comentários os princípios de que ele fala em sua     alemã, argumenta ele, acrescentar a palavra
foi a realização máxima, o magnum opus de sua       Carta Aberta Sobre Tradução, escrita em 1530, na     allein, para que fique tanto mais completa e
vida. Outros, como, por exemplo, Wilhelm Sche-      Coburg, de onde acompanhava os acontecimen-          clara a negativa ou exclusiva anterior.




                                                                                                                           Mensageiro | DezeMbro 2010      21
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010
Ml dez2010

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Informativo das CEBs mês de julho
Informativo das CEBs mês de julhoInformativo das CEBs mês de julho
Informativo das CEBs mês de julhoBernadetecebs .
 
A Voz da Paróquia_Agosto 2012
A Voz da Paróquia_Agosto 2012A Voz da Paróquia_Agosto 2012
A Voz da Paróquia_Agosto 2012Cris Simoni
 
Informativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP
Informativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SPInformativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP
Informativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SPBernadetecebs .
 
Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011
Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011
Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011Bernadetecebs .
 
Jornal ENSantidade edição 3
Jornal ENSantidade edição 3Jornal ENSantidade edição 3
Jornal ENSantidade edição 3ensantidade
 
Boletim Julho 2012
Boletim Julho 2012Boletim Julho 2012
Boletim Julho 2012willams
 
Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova ParóquiaComunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova ParóquiaJosé Vieira Dos Santos
 
En santidade 11 edição
En santidade   11 ediçãoEn santidade   11 edição
En santidade 11 ediçãoensantidade
 
Jornal das CEBs - mês de setembro
Jornal das CEBs - mês de setembroJornal das CEBs - mês de setembro
Jornal das CEBs - mês de setembroBernadetecebs .
 
Boletim 241 29/05/11
Boletim 241 29/05/11Boletim 241 29/05/11
Boletim 241 29/05/11stanaami
 
Estudo do documento 100
Estudo do documento 100Estudo do documento 100
Estudo do documento 100IRINEU FILHO
 
Comunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaimeComunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaimeAlexandre Panerai
 
Boletim 307 - 28/10/12
Boletim 307 - 28/10/12Boletim 307 - 28/10/12
Boletim 307 - 28/10/12stanaami
 

La actualidad más candente (17)

Informativo das CEBs mês de julho
Informativo das CEBs mês de julhoInformativo das CEBs mês de julho
Informativo das CEBs mês de julho
 
A Voz da Paróquia_Agosto 2012
A Voz da Paróquia_Agosto 2012A Voz da Paróquia_Agosto 2012
A Voz da Paróquia_Agosto 2012
 
Boletim 27.02
Boletim 27.02Boletim 27.02
Boletim 27.02
 
Informativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP
Informativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SPInformativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP
Informativo das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP
 
Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011
Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011
Jornal das CEBs - Diocese de São José dos Campos - SP - novembro de 2011
 
Revista Faço Parte - Nº 05
Revista Faço Parte - Nº 05Revista Faço Parte - Nº 05
Revista Faço Parte - Nº 05
 
Jornal ENSantidade edição 3
Jornal ENSantidade edição 3Jornal ENSantidade edição 3
Jornal ENSantidade edição 3
 
Boletim Julho 2012
Boletim Julho 2012Boletim Julho 2012
Boletim Julho 2012
 
Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova ParóquiaComunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
Comunidade de Comunidades: Uma Nova Paróquia
 
En santidade 11 edição
En santidade   11 ediçãoEn santidade   11 edição
En santidade 11 edição
 
BOLETIM Nº 21
BOLETIM Nº 21BOLETIM Nº 21
BOLETIM Nº 21
 
Jornal das CEBs - mês de setembro
Jornal das CEBs - mês de setembroJornal das CEBs - mês de setembro
Jornal das CEBs - mês de setembro
 
Boletim 241 29/05/11
Boletim 241 29/05/11Boletim 241 29/05/11
Boletim 241 29/05/11
 
Espiral 51
Espiral 51Espiral 51
Espiral 51
 
Estudo do documento 100
Estudo do documento 100Estudo do documento 100
Estudo do documento 100
 
Comunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaimeComunidade de comunidades dom jaime
Comunidade de comunidades dom jaime
 
Boletim 307 - 28/10/12
Boletim 307 - 28/10/12Boletim 307 - 28/10/12
Boletim 307 - 28/10/12
 

Destacado

Mensageiro Luterano
Mensageiro LuteranoMensageiro Luterano
Mensageiro Luteranojpferreira78
 
Mensageiro Luterano - Novembro 2014
Mensageiro Luterano - Novembro 2014Mensageiro Luterano - Novembro 2014
Mensageiro Luterano - Novembro 2014Noimix
 
Mensageiro luterano junho 2012
Mensageiro luterano   junho 2012Mensageiro luterano   junho 2012
Mensageiro luterano junho 2012cristouberlandia
 
Mensageiro Luterano - Outubro 2014
Mensageiro Luterano - Outubro 2014Mensageiro Luterano - Outubro 2014
Mensageiro Luterano - Outubro 2014Noimix
 
Internet ml out2010
Internet ml out2010 Internet ml out2010
Internet ml out2010 jpferreira78
 
Mensageiro luterano agosoto 2010
Mensageiro luterano agosoto 2010Mensageiro luterano agosoto 2010
Mensageiro luterano agosoto 2010jpferreira78
 
Internet ml abr2011
Internet ml abr2011Internet ml abr2011
Internet ml abr2011jpferreira78
 
A morte - Curso de Escatologia (6)
A morte - Curso de Escatologia (6)A morte - Curso de Escatologia (6)
A morte - Curso de Escatologia (6)Afonso Murad (FAJE)
 
Martinho Lutero, a Rosa e a Cruz
Martinho Lutero, a Rosa e a CruzMartinho Lutero, a Rosa e a Cruz
Martinho Lutero, a Rosa e a CruzElizlili
 

Destacado (9)

Mensageiro Luterano
Mensageiro LuteranoMensageiro Luterano
Mensageiro Luterano
 
Mensageiro Luterano - Novembro 2014
Mensageiro Luterano - Novembro 2014Mensageiro Luterano - Novembro 2014
Mensageiro Luterano - Novembro 2014
 
Mensageiro luterano junho 2012
Mensageiro luterano   junho 2012Mensageiro luterano   junho 2012
Mensageiro luterano junho 2012
 
Mensageiro Luterano - Outubro 2014
Mensageiro Luterano - Outubro 2014Mensageiro Luterano - Outubro 2014
Mensageiro Luterano - Outubro 2014
 
Internet ml out2010
Internet ml out2010 Internet ml out2010
Internet ml out2010
 
Mensageiro luterano agosoto 2010
Mensageiro luterano agosoto 2010Mensageiro luterano agosoto 2010
Mensageiro luterano agosoto 2010
 
Internet ml abr2011
Internet ml abr2011Internet ml abr2011
Internet ml abr2011
 
A morte - Curso de Escatologia (6)
A morte - Curso de Escatologia (6)A morte - Curso de Escatologia (6)
A morte - Curso de Escatologia (6)
 
Martinho Lutero, a Rosa e a Cruz
Martinho Lutero, a Rosa e a CruzMartinho Lutero, a Rosa e a Cruz
Martinho Lutero, a Rosa e a Cruz
 

Similar a Ml dez2010

Fermento fevereiro 2013
Fermento fevereiro 2013Fermento fevereiro 2013
Fermento fevereiro 2013cnisbrasil
 
Catequese e Liturgia na Iniciação Cristã
Catequese e Liturgia na Iniciação CristãCatequese e Liturgia na Iniciação Cristã
Catequese e Liturgia na Iniciação CristãSergio Cabral
 
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...JOSE ROBERTO ALVES DA SILVA
 
FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013cnisbrasil
 
Lançar as redes e a devoção mariana
Lançar as redes e a devoção marianaLançar as redes e a devoção mariana
Lançar as redes e a devoção marianaAfonso Murad (FAJE)
 
Boletim Jovem Julho 2012
Boletim Jovem Julho 2012Boletim Jovem Julho 2012
Boletim Jovem Julho 2012willams
 
Informativo das CEBs - setembro 2010
Informativo das CEBs - setembro 2010Informativo das CEBs - setembro 2010
Informativo das CEBs - setembro 2010Bernadetecebs .
 
Lição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPAD
Lição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPADLição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPAD
Lição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPADboasnovassena
 
A arte perdida de fazer discípulos
A arte perdida de fazer discípulosA arte perdida de fazer discípulos
A arte perdida de fazer discípulosjovensonossoalvo
 
Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)
Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)
Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)Paroquia Cucujaes
 
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."Bernadetecebs .
 
Justiça e esperança para hoje a mensagem dos profetas meno
Justiça e esperança para hoje   a mensagem dos profetas menoJustiça e esperança para hoje   a mensagem dos profetas meno
Justiça e esperança para hoje a mensagem dos profetas menoEtson Borges
 
Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_Vai Totó
 
Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_Vai Totó
 
Jornal comunhão agosto 2012 - Diocese de Guaxupé
Jornal comunhão agosto 2012 - Diocese de GuaxupéJornal comunhão agosto 2012 - Diocese de Guaxupé
Jornal comunhão agosto 2012 - Diocese de GuaxupéBernadetecebs .
 
Vida pastoral-setembro-outubro
Vida pastoral-setembro-outubroVida pastoral-setembro-outubro
Vida pastoral-setembro-outubroBernadetecebs .
 
Jornal evangelizar dezembro de 2011
Jornal evangelizar  dezembro de 2011 Jornal evangelizar  dezembro de 2011
Jornal evangelizar dezembro de 2011 Caminhos2012
 

Similar a Ml dez2010 (20)

Fermento fevereiro 2013
Fermento fevereiro 2013Fermento fevereiro 2013
Fermento fevereiro 2013
 
Catequese e Liturgia na Iniciação Cristã
Catequese e Liturgia na Iniciação CristãCatequese e Liturgia na Iniciação Cristã
Catequese e Liturgia na Iniciação Cristã
 
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
Revista da Escola Dominical - Reforma Protestante 500 Anos - Todos Podem Preg...
 
Absg 12-q2-p-l04-t
Absg 12-q2-p-l04-tAbsg 12-q2-p-l04-t
Absg 12-q2-p-l04-t
 
FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013FERMENTO - MARÇO 2013
FERMENTO - MARÇO 2013
 
Lançar as redes e a devoção mariana
Lançar as redes e a devoção marianaLançar as redes e a devoção mariana
Lançar as redes e a devoção mariana
 
Boletim Jovem Julho 2012
Boletim Jovem Julho 2012Boletim Jovem Julho 2012
Boletim Jovem Julho 2012
 
Informativo das CEBs - setembro 2010
Informativo das CEBs - setembro 2010Informativo das CEBs - setembro 2010
Informativo das CEBs - setembro 2010
 
Lição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPAD
Lição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPADLição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPAD
Lição 13 - A Igreja do Século 21 - EBD Jovens - 3 Trimestre 2015 - CPAD
 
A arte perdida de fazer discípulos
A arte perdida de fazer discípulosA arte perdida de fazer discípulos
A arte perdida de fazer discípulos
 
Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)
Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)
Jv cat (TEMA: “Do Catecismo da Igreja católica aos Catecismos Nacionais”)
 
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
Informativo "Lá Vem o Trem das CEBs..."
 
Justiça e esperança para hoje a mensagem dos profetas meno
Justiça e esperança para hoje   a mensagem dos profetas menoJustiça e esperança para hoje   a mensagem dos profetas meno
Justiça e esperança para hoje a mensagem dos profetas meno
 
Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_
 
Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_Acacia julho 2012_
Acacia julho 2012_
 
Bimba 22 01 2012[1]
Bimba 22 01 2012[1]Bimba 22 01 2012[1]
Bimba 22 01 2012[1]
 
Jornal comunhão agosto 2012 - Diocese de Guaxupé
Jornal comunhão agosto 2012 - Diocese de GuaxupéJornal comunhão agosto 2012 - Diocese de Guaxupé
Jornal comunhão agosto 2012 - Diocese de Guaxupé
 
A LIAHONA
A LIAHONAA LIAHONA
A LIAHONA
 
Vida pastoral-setembro-outubro
Vida pastoral-setembro-outubroVida pastoral-setembro-outubro
Vida pastoral-setembro-outubro
 
Jornal evangelizar dezembro de 2011
Jornal evangelizar  dezembro de 2011 Jornal evangelizar  dezembro de 2011
Jornal evangelizar dezembro de 2011
 

Más de jpferreira78

Calendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MG
Calendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MGCalendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MG
Calendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MGjpferreira78
 
Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b jpferreira78
 
Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b jpferreira78
 
Informativo novembro 2011
Informativo novembro 2011Informativo novembro 2011
Informativo novembro 2011jpferreira78
 
Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011jpferreira78
 
Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011jpferreira78
 
Informativo setembro 2011 2ª parte
Informativo setembro 2011 2ª parteInformativo setembro 2011 2ª parte
Informativo setembro 2011 2ª partejpferreira78
 
Informativo setembro 2011 1ª parte
Informativo setembro 2011 1ª parteInformativo setembro 2011 1ª parte
Informativo setembro 2011 1ª partejpferreira78
 
Informativo setembro 2011
Informativo setembro 2011Informativo setembro 2011
Informativo setembro 2011jpferreira78
 
Informativo Setembro 2011
Informativo Setembro 2011Informativo Setembro 2011
Informativo Setembro 2011jpferreira78
 
Informativo julho e agosto 2011
Informativo julho e agosto 2011Informativo julho e agosto 2011
Informativo julho e agosto 2011jpferreira78
 
Informativo junho 2011b
Informativo junho 2011b Informativo junho 2011b
Informativo junho 2011b jpferreira78
 
Informativo junho 2011a
Informativo junho 2011aInformativo junho 2011a
Informativo junho 2011ajpferreira78
 
Calendário de atividades. Maio 2011
Calendário de atividades.  Maio 2011Calendário de atividades.  Maio 2011
Calendário de atividades. Maio 2011jpferreira78
 
Informativo abril 2011
Informativo abril 2011Informativo abril 2011
Informativo abril 2011jpferreira78
 
Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok
Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok
Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok jpferreira78
 
Castelo forte 2011
Castelo forte 2011Castelo forte 2011
Castelo forte 2011jpferreira78
 

Más de jpferreira78 (20)

Calendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MG
Calendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MGCalendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MG
Calendário 2014 da Congregação Evangélica Luterana Cristo Uberlândia/MG
 
Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b
 
Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b Informativo novembro 2011b
Informativo novembro 2011b
 
Informativo novembro 2011
Informativo novembro 2011Informativo novembro 2011
Informativo novembro 2011
 
Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011
 
Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011Informativo outubro 2011
Informativo outubro 2011
 
Informativo setembro 2011 2ª parte
Informativo setembro 2011 2ª parteInformativo setembro 2011 2ª parte
Informativo setembro 2011 2ª parte
 
Informativo setembro 2011 1ª parte
Informativo setembro 2011 1ª parteInformativo setembro 2011 1ª parte
Informativo setembro 2011 1ª parte
 
Informativo setembro 2011
Informativo setembro 2011Informativo setembro 2011
Informativo setembro 2011
 
Informativo Setembro 2011
Informativo Setembro 2011Informativo Setembro 2011
Informativo Setembro 2011
 
Informativo julho e agosto 2011
Informativo julho e agosto 2011Informativo julho e agosto 2011
Informativo julho e agosto 2011
 
Informativo junho 2011b
Informativo junho 2011b Informativo junho 2011b
Informativo junho 2011b
 
Informativo junho 2011a
Informativo junho 2011aInformativo junho 2011a
Informativo junho 2011a
 
Calendário de atividades. Maio 2011
Calendário de atividades.  Maio 2011Calendário de atividades.  Maio 2011
Calendário de atividades. Maio 2011
 
Informativo abril 2011
Informativo abril 2011Informativo abril 2011
Informativo abril 2011
 
Ml dez2010
Ml dez2010Ml dez2010
Ml dez2010
 
Ml dez2010
Ml dez2010Ml dez2010
Ml dez2010
 
Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok
Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok
Louvai ao senhor notas final 26 03-10 ok
 
Ml set2010
Ml set2010Ml set2010
Ml set2010
 
Castelo forte 2011
Castelo forte 2011Castelo forte 2011
Castelo forte 2011
 

Ml dez2010

  • 1.
  • 2.
  • 3. Mens aGeiR o LUteRano | ano 94 | nº 1.154 Dezembro2010 Leia nesta eDição 16 A complexa questão do cânone. Num certo sentido, é chocante ver que os cristãos não conseguem concordar quanto à extensão da Bíblia, especialmente do Antigo Testamento. Por que isso é assim? 05 MENSAGEM DO PRESIDENTE ADORAÇãO E LOUVOR 06 VIDA COM DEUS VIDA EM FAMÍLIA A comunhão horizontal Os elementos 07 08 MEDITAÇãO 11 EM FOCO da Santa Ceia 12 CAPA 15 MÚSICA NA IGREJA SERVIÇO DE CAPELANIA 23 IELB 2011 28 Hospital: um 32 SERVIÇO SOCIAL 30 EDUCAÇãO TEOLÓGICA lugar diferente e desafiador 31 PERGUNTA 34 TESTEMUNHO IGREJAS PELO MUNDO 41 RESPINGOS DA HISTÓRIA St Paul, 44 46 IELB NO MUNDO Des Peres 38 47 DIA DA BÍBLIA 48 BÍBLIA HOJE 50 VIRANDO A PÁGINA Mensageiro | DezeMbro 2010 3
  • 4. | AO LEITOR | Nilo Wachholz Editor-Redator | editor@editoraconcordia.com.br Tempos de mudanças Vivemos dias de mudanças muito rápi- amor, no seu gracioso perdão, na salvação e das em todos os lugares e setores da vida. na vida que dura para sempre. A velocidade das mudanças nas tecnologias Neste contexto e nesta visão, o Mensagei- da informação e do conhecimento humano ro Luterano, que, com esta edição completa e.COM ultrapassam as previsões mais otimistas que 93 anos de existência, chega ao número de - DreAMsTiM alguém poderia fazer. E estas atingem não só circulação 1.154 e abre o ano 94 de sua his- as formas e os meios, mas os próprios valo- tória, também traz algumas mudanças para ll MeDveDev res do relacionamento humano, em todas as apreciação dos nossos leitores. esferas: familiar, social, cultural, profissional O objetivo é facilitar a leitura, interagir PA: © Kiri e religioso. mais com o nosso leitor, oferecer um visual FOTO DA CA Se, sob alguns aspectos, isso é motivo mais leve e arejado, valorizar mais textos e para preocupações e que nos colocam diante imagens, entre outros benefícios. de muitas dificuldades, por outros, estamos Acreditamos que o Caderno de Notícias diante de desafios, ferramentas e oportuni- da IELB, o Caderno da LLLB (nesta edição) e o determinado caderno de seu interesse, fica dades nunca antes imaginadas. Mensageiro das Crianças, encartados, mas não mais fácil atender a esse pedido. Portanto, cabe-nos buscar discernimento, grampeados no miolo, dão mais flexibilidade Portanto, está aí o Mensageiro Luterano em conselhos e sabedoria do Alto, para fazer o me- e mobilidade no uso do ML como um todo. edição especial de aniversário. Agradecemos a lhor ao nosso alcance, com os melhores meios Pois, dependendo do contexto e das pessoas todas as pessoas e instituições que nos ajuda- e formas que pudermos usar, para preservar e com quem o leitor quer repartir o conteúdo ram a fazer este número histórico. divulgar os valores éticos, morais e religiosos do miolo, de um ou mais encartes, é possível Com gratidão e alegria, se Deus o permi- que herdamos e nos quais acreditamos. E aci- usá-los em separado, sem prejuízo das demais tir, voltamos com a edição dupla de janeiro e ma de tudo, proclamando ao mundo de hoje, informações. Além disso, se uma congregação, fevereiro 2011! o Cristo que veio para acolher a todos no seu distrito ou região, quiser mais exemplares de Um feliz e abençoado Natal! Mensageiro Luterano iSSn 1679-0243 Órgão oficial da igreja evangélica luterana do Brasil (ielB) de periodicidade mensal (exceto janeiro e fevereiro - edição única). registrado sob nº 249, livro M, nº 1, em Editora IGREJA EVANGÉLICA LUTERANA DO BRASIL dezembro de 1935, no registro de títulos e documentos do rio de Janeiro, conforme o decreto-lei de imprensa nº 24776 de 14/07/1934. Concórdia Filiada a associação de editores cristãos (asec) projEto E produção GráFiCa editora concórdia ltda. EndErEço rua cel. lucas de oliveira, 894 rEdação mensageiro@editoraconcordia.com.br EndErEço av. são Pedro, 633, Bairro são Bairro Mont’serrat, ceP 90440-010 Editor Nilo Wachholz - Mtb 42140/sP Geraldo, ceP 90230-120, Porto alegre, rs Porto alegre, rs, Brasil aSSiStEntE Editorial daiene Bauer Kühl - Mtb 14623/rs FonE/Fax (51) 3272 3456 FonE (51) 3332 2111 / Fax: (51) 3332 8145 rEviSão aline lorentz sabka SitE www.editoraconcordia.com.br SitE www.ielb.org.br jornaliSta-diaGramador leandro da rosa camaratta twittEr twitter.com/edconcordia twittEr twitter.com/ielB_Brasil Email editora@editoraconcordia.com.br E-mail ielb@ielb.org.br dESiGnEr christian schünke ColaboradorES FixoS Bruno ries, carlos W. Winterle, luisivan V. strelow, Marcos ComErCial comercial@editoraconcordia.com.br dirEtoria naCional 2010/2014 schmidt, Mona liza Fuhrmann, rosemarie K. lange, Vitor radünz, Waldyr Hoffmann prESidEntE egon Kopereck aSSinaturaS lianete schneider de souza dirEtoria ExECutiva Henry J. rheinheimer (presidente), clóvis J. Prunzel, 1º viCE-prESidEntE arnildo schneider loGíStiCa Marcelo azambuja 2º viCE-prESidEntE Geraldo Walmir schüler Nilo Wachholz, Nilson Krick e rubens José ogg GErEntE SECrEtário rubens José ogg aSSinatura no braSil anual r$ 49,00; Bianual r$ 92,00 Nilson Krick - nilson@editoraconcordia.com.br tESourEiro renato Bauermann aSSinatura para outroS paíSES anual Us$ 52,00; Bianual Us$ 100,00 dEpto FinanCEiro Joel Weber a ielB crê, confessa e ensina que os livros canônicos tiraGEm dESta Edição 12 mil exemplares Editor das escrituras sagradas, do antigo e do Novo Nilo Wachholz - editor@editoraconcordia.com.br testamento, são a Palavra infalível revelada por deus e a redação reserva-se o direito de publicar ou não o material a enviado, bem como ComiSSão Editorial aceita, como exposição correta dessa Palavra, os livros editá-lo para fins de publicação. Matérias assinadas não expressam necessariamente a adilson schünke, célia M. Bündchen, simbólicos da igreja evangélica luterana, reunidos no opinião da redação ou da administração Nacional da ielB. o conteúdo do Mensageiro clóvis J. Prunzel, Nilo Wachholz, Nilson Krick livro de concórdia do ano 1580. pode ser reproduzido, mencionados o autor e a fonte. e rubens José ogg 4 Mensageiro | DezeMbro 2010
  • 5. | MENSAGEM DO PRESIDENTE | Egon Kopereck Pastor Presidente da IELB| presidente@ielb.org.br A Bíblia é fundamental para a vida cristã A FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA cabo de voltar de uma viagem pela Europa. Tive o privilégio de me encontrar, rapidamente, com os pastores e alguns congrega- dos da Igreja em Portugal e, pude participar da reunião do Comitê Executivo do Interna- tional Lutheran Council (ILC), na Alemanha, cidade de Wittenberg. Foi uma emoção muito grande andar pelas ruas, ver coisas, igrejas, a universidade onde o reformador Martinho Lutero andou, viveu e lutou pela “Verdade que liberta”. Nesta reunião da ILC, mais uma vez destacamos a importância da Bíblia, a Palavra de Deus na vida da Igreja. BíBliA SAgrADA Quando Martinho Lutero iniciou a sua luta, todo o seu labor, a sua defesa e os seus argumentos estavam sempre fundamentados, firmados e alicerçados na Bíblia Sagrada. Ela era e é fonte de toda a doutrina, verdade, fé e vida. Não é diferente em nossos dias. Muito mais importante do que discutirmos e pole- Queridos irmãos, queridas irmãs! Não é NAtAl mizarmos qual a melhor tradução da Bíblia é menosprezemos este tesouro que Deus E assim nos preparamos para festejar o incentivarmos, lutarmos e nos empenharmos deixou a nossa disposição. Não andemos Natal. Nestes dias de tanta correria, não permi- no sentido de que os cristãos leiam a Bíblia, no escuro. Usemos a luz que quer clarear tamos que as coisas do mundo, os preparativos, usem as Sagradas Escrituras, busquem nelas os nossos caminhos. Busquemos nela o a festa, os presentes e os enfeites, encubram a força, o fundamento, a luz para iluminar consolo, o conforto, o guia e a bênção. o verdadeiro sentido, o verdadeiro motivo – o seus caminhos e argumentos. Pratiquemos o que ela diz. E como Deus aniversariante. Deixemos, acima de tudo, Jesus Neste mês de dezembro, lembramos o “Dia disse para Josué, também na nossa vida Cristo brilhar, sobressair e ser lembrado. da Bíblia”. Nós cantamos com tanta força, com há de se revelar: “Medita nele dia e noite, Jesus é e deve ser o centro da nossa festa, tanto orgulho: “Santa Bíblia meu prazer, meu para que tenhas cuidado de fazer segundo dos nossos preparativos. Se não for assim, o tesouro deves ser. Tu me dizes o que sou, donde tudo quanto nele está escrito; então, farás nosso Natal estará cheio de futilidades, correria vim e aonde vou” (HL 247). Nós repetimos mui- prosperar o teu caminho e serás bem suce- e preocupações, mas vazio do seu verdadeiro tas vezes a bela definição do salmista, dizendo: dido” (Js 1.8). significado para esta vida e para a eternidade. “Lâmpada para os meus pés é a tua Palavra, e luz para os meus caminhos” (SL 119.105). Porém, será que esse tesouro é devidamente valorizado por nós? De fato temos usado esta Feliz Natal a todos! O Natal do meu, do teu, lâmpada para iluminar nosso caminho rumo do nosso Salvador Jesus! à vida eterna? Onde está a nossa Bíblia? Ela é usada diariamente por nós? m Mensageiro | DezeMbro 2010 5
  • 6. | VIDA COM DEUS | Luisivan Vellar Strelow Pastor da IELB | lstrelow@hotmail.com Diante dos cabelos grisalhos te levantarás, e honrarás a face do ancião, e temerás o teu Deus. Lv 19.32 Os que te amam brilham como o sol quando se levanta no seu esplendor. Jz 5.31 Idosos: honra, bênção e glória FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA O s cabelos grisalhos, para os jamais passará. Os idosos que amam a Deus da terra: “Não temais; eis aqui vos trago que confiam nas promessas do brilham como o sol no amanhecer, porque boa-nova de grande alegria, que o será para Senhor, antecipam a coroa de aguardam não tanto o entardecer da vida todo o povo: é que hoje vos nasceu, na cidade glória eterna. O profeta Daniel terrena como, muito mais, o amanhecer da de Davi, o Salvador, que é Cristo, o Senhor” descreveu Deus como “o Ancião de dias” (Dn vida celestial. (Lc 2.10,11). Pela fé que temos em Jesus, a 7.9,13), uma expressão poética para referir-se Na Bahia, ainda hoje, os mais novos Palavra criadora de Deus que se fez carne (Jo ao Eterno em termos da experiência humana, dizem aos mais velhos: “a bênção, meu vô”, 1.14), vemos a glória de Deus: “um menino com relação à passagem do tempo. Também “a bênção, minha vó”. Os mais velhos, por nos nasceu, um filho se nos deu [...] e o seu muitos pintores retrataram o Criador como sua vez, respondem “Deus te abençoe, meu nome será [...] Pai da Eternidade, Príncipe da um homem grisalho. Ao honrar os idosos, filho”, “Deus te abençoe, minha filha”. Hon- Paz” (Is 9.6). Nasceu o menino que é o Pai da honramos ao Deus Eterno. rar os idosos é agradável a Deus, porque o Eternidade, que nos traz a maior de todas as Os cabelos grisalhos são, por um lado, Criador quis ser honrado por intermédio da bênçãos – o perdão, a ressurreição para a vida sinal da brevidade da vida na terra. O cin- honra que damos aos mais velhos. E estes, e a imortalidade – o qual recebe a mais elevada za dos cabelos nos lembra que somos honra (2 Tm 1.10; Fp 2.9-11). Quem crê em criaturas feitas de pó, que a morte tudo Jesus Cristo agrada a Deus; é aprovado reduz a cinzas. Por outro lado, os cabelos “Os idosos que amam a Deus brilham por Deus; recebe de Deus o bom testemu- grisalhos são símbolo da longevidade e como o sol no amanhecer, porque nho – o testemunho de ser justo e de se da eternidade. A cor prata dos cabelos tornar herdeiro da justiça que vem da fé, antecipa a coroa da salvação (Hb 11.6). aguardam não tanto o entardecer herdeiro da pátria celestial, herdeiro da Os idosos são um sinal para os jovens, da vida terrena como, muito mais, o ressurreição; para contemplar a Jesus, o tanto da brevidade da vida terrena amanhecer da vida celestial”. Filho do Homem, assentado no Trono de quanto da longevidade da vida eterna. Deus (Hb 11.1-12.2). Os cabelos grisalhos nos ensinam que A vida terrena se conta por dias que a nossa vida é como a das flores do campo, por não terem outros mais idosos do que amanhecem e se perdem no anoitecer. A mas que Deus é eterno e seus dias e a sua eles aos quais honrar, dão honra e glória vida com Deus se conta pelo amanhecer da misericórdia não têm fim. Separados de Deus, ao Deus Eterno. Da mesma forma, os mais fé, quando brilha para nós o Sol da Graça de já perdemos a vida. Em comunhão com Deus, velhos abençoam os mais novos, até que os Deus, Jesus Cristo, Filho de Deus, misericor- já vencemos a morte, pois nada poderá nos bebês que não têm a quem abençoar, são eles dioso com todos os pecadores (Lm 3.22; Hb separar do amor de Deus em Cristo. mesmos, para cada família, a mais preciosa 4.14-16). O brilho de cada dia logo passa, o Os cabelos grisalhos nos chamam à bênção do Criador e Doador da vida. brilho do dia da salvação é eterno, e os que reflexão sobre a vida terrena, que passa O Natal é a notícia da bênção mais preciosa aguardam o amanhecer da glória eterna tam- rapidamente, e sobre a vida com Deus, que que não alegra uma, mas todas as famílias bém brilharão por toda a eternidade. m 6 Mensageiro | DezeMbro 2010
  • 7. | ADORAÇãO E LOUVOR | Os elementos da Santa Ceia FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA DaviD Karnopp Membro da Comissão de Culto da IELB Pastor em Vacaria, RS N o Catecismo Menor, aprendemos guardavam em re- que “a Santa Ceia é o verdadeiro cipientes lacrados corpo e sangue de nosso Senhor e depois o coloca- Jesus Cristo, para ser comido e vam submersos bebido, sob o pão e o vinho...”. Pão e vinho são em poços de água os elementos visíveis da Santa Ceia. Porém, as em temperatura igrejas que proíbem qualquer bebida alcoólica abaixo de 10ºC, usam vários motivos para justificar o uso do que o conservava suco em vez do vinho. Há também os que justifi- por vários meses. cam outros elementos em lugar do pão. A seguir, Esta seria mais vamos conhecer os principais argumentos. uma comprovação de que Jesus teria FrUtO DA viDeirA usado o suco. No Quando o Senhor Jesus instituiu a Santa entanto, ainda que o mosto fosse consumi- POr qUe USAmOS PãO e viNHO? Ceia, usou a expressão: “deste fruto da videira” do, o vinho velho, chamado de vinho bom, Quanto ao uso do pão (Mt 26.29). Esta era uma expressão usada pelos sempre era preferido (Lc 2.1-10). Está claro nas palavras da instituição: judeus para designar o vinho usado em festas “tomou o pão” (Mt 26.26). Portanto não é solenes e casamentos. Muitos alegam que esta A FermeNtAçãO possível usar outro elemento em lugar do pão. é uma expressão genérica que se refere a todos Jesus instituiu a Ceia durante a Páscoa. Jesus usou pães que estavam à disposição, ou os derivados da uva, como o suco e até mesmo A lei da Páscoa (Ex 12.14-20; 13.7) proibia o seja, o pão sem fermento, pois era festa dos o refrigerante a base de uva. uso do fermento durante o evento. A fermen- pães asmos (Lc 22.7). O pão com fermento era tação era símbolo da corrupção pecaminosa proibido só na Páscoa; em outras épocas, ele SUCO De UvA (Mt 16.6,12; 1Co 5.7,8). Apenas o pão asmo, era usado. E os discípulos continuaram cele- Há os que alegam que a palavra grega para ou seja, o pão sem fermento, era permitido. brando a Santa Ceia com os pães que tinham vinho, oinos, teria o significado tanto de vinho, Muitos alegam que o vinho, sendo bebida à disposição, entre eles, o pão fermentado. como de suco de uva, este também chamado fermentada, também era proibido. Porém, o Assim, não está errado usar pão com fermen- de mosto ou vinho novo. Com isso, querem fermento citado é o do pão acrescentado à fa- to, mas, por coerência, é bom usar sempre a dizer que Jesus teria usado suco e não vinho. rinha, e não o do vinho que é natural dele. hóstia que é um pão sem fermento. Porém, em Israel, a colheita da uva acontece por volta de setembro e outubro, e a Páscoa em CUltUrA JUDAiCA Quanto ao uso do vinho março e abril. Assim, não havia como impedir a Há também os que alegam que o pão e o Nas festas sagradas e nos casamentos, os fermentação do vinho durante esse espaço de vinho eram ingredientes da cultura judaica. judeus usavam vinho fermentado. A Bíblia o tempo. Além disso, o mosto era armazenado em Logo, Jesus teria usado elementos ligados a cita como “bebida forte” (Lv 10.9; Lc 1.15), ou odres feitos de couro de cabrito, ou em vazilhas uma cultura, mas não teria atrelado a Santa seja, vinho mesmo, não suco. A Bíblia condena de barro, onde naturalmente fermentava. O Ceia a elementos daquela cultura. Os adeptos a embriaguez, mas não o uso do vinho. Além sacolejo do transporte e a alta temperatura não desta interpretação dizem que pode-se usar disso, em Coríntio, os cristãos usaram vinho na evitava o processo de fermentação. elementos de qualquer cultura. Assim, numa Santa Ceia com teor alcoólico, o que até gerou região produtora de cana de açúcar, poderia casos de embriaguez (1Co 11.21). A CONServAçãO então se usar cachaça e rapadura na Santa Assim, pela tradição da Igreja e crença lute- Outros alegam que os judeus tinham téc- Ceia – os mineiros poderiam usar leite e rana, na Santa Ceia, usamos o pão e o vinho, de nicas de conservação do suco de uva. Eles o pãozinho de queijo. preferência um vinho de boa qualidade. m Mensageiro | DezeMbro 2010 7
  • 8. | MEDITAÇãO | É Natal... FOTOs: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA ELTon JUnGES Pastor em Cosmópolis, SP C omo é bonita esta época de final de ano. Como é bonita esta época de Natal. É maravilhoso andar pelas ruas e ver praças e casas enfeitadas, cheias de luzes brilhantes; ver as pessoas mais compreensivas e solidárias. Todos querem e fazem questão de estar com a família, com os amigos… É um corre-corre para todo o lado: compra de presentes, comidas e bebidas para que a família possa passar um bom Natal. Nesse corre-corre, a maioria das pessoas acabam por esquecer o verdadeiro sentido do Natal e o verdadeiro preparo para celebrar o Natal. Muitos ficam chateados, e lamentam-se porque o seu Natal será pobre. Há também quem pense que, se não sair o 13º, não tiver pinheiro, não tiver presente e não puder comer e beber à vontade, não é Natal. A princípio, o Natal não requer sofisticação e fartura em co- midas e bebidas, e nem gastos exagerados em presentes. Pois o Natal aconteceu de uma forma bem simples… É um tesouro que veio revestido de humildade. “A virgem ficará grávida e terá um filho que receberá o nome de Emanuel, que quer dizer ‘Deus está conosco’” (Mateus 1.23). Natal é Deus Conosco! Que maravilhoso saber que Deus veio morar conosco! tODOS OS DiAS O Natal é a paz vinda para ficar com a humanidade. Jesus, o príncipe da paz, quer estar conosco todos os dias, quer fortalecer e confortar nosso coração diariamente. Um dia é muito pouco para o Senhor do tempo. Um templo é muito pequeno para o Senhor da imensidão. Como é maravilhoso o Natal! Como é maravilhoso o nosso Deus! O Natal das multidões Emanuel é Deus conosco, para sempre, durante todo o ano, todos os dias, todas as horas – perdoando, salvando, socorrendo, é uma vez por ano. amparando e confortando. O Natal das multidões é uma vez por ano. O Natal dos Cristãos é todos os dias. Quando o Natal chega O Natal dos Cristãos em nossos corações e lares, um sentimento terno e emotivo toma conta de grandes e pequenos. é todos os dias. “Hoje mesmo, na cidade de Davi, nasceu o Salvador de vocês – o Messias, o Senhor” (Lucas 2.11). Quando o Natal Acima de tudo, o Natal é uma festa de fé e confiança na vinda humilde do nosso Salvador, e na certeza de que ele virá novamente chega em nossos em glória. Por isso, prepare o seu coração para o Natal. É Natal mais uma vez! corações e lares, Mostremos que Jesus não nasceu em vão. Pois, ainda que Cristo nasça mil vezes, se não nascer em seu coração, o seu Natal será ilusão, um sentimento terno será vazio, e a sua festa será uma festa pagã. Jesus é e deve ser sempre o motivo de nossa festa. Jesus quer que nos alegremos por sua vinda. e emotivo toma conta Neste Natal, festeje você também a vinda de Cristo ao mundo e ao seu coração. Festeje a vitória que Jesus lhe trouxe. Festeje a de grandes e pequenos. salvação. Festeje a vida. 8 Mensageiro | DezeMbro 2010
  • 9. O verDADeirO PreSeNte do amor; é a chegada do Filho de Deus! E sua Batam os sinos, cantem, dancem de alegria, vinda deve ser festejada e compartilhada. pois nasceu o seu Salvador, Jesus, o Senhor! O Natal é a renovação da esperança. O Natal Com Jesus, a festa da vida é para sempre! é a festa da Salvação. O Natal é a festa dos salvos, E mesmo que você não possa dar presentes dos que creem que Jesus é o único Senhor e Sal- caros e nem venha a receber presentes caros, Nes- vador de sua vida. É muito mais emocionante, lembre-se que o verdadeiro presente de Natal te Natal, empolgante e confortante comemorar o Natal na não é aquele que nós trocamos uns com os permita que certeza de que Jesus é o nosso Salvador. outros. O verdadeiro presente de Natal é dado o amor de Cris- Acenda as luzes como manifestação de fé por Deus: Jesus a cada coração. Junto com ele, to faça com que você perdoe aquela mágoa, e alegria em Deus, o Salvador. O Natal é a luz vem paz, amor, perdão, esperança, comunhão, aquele ressentimento, aquele aborrecimento que se acende e brilha em meio à escuridão felicidade e vida eterna. que alguém lhe causou. Deixe o orgulho de da nossa vida. “Eu sou a Luz do mundo”, Assim como Jesus, o Deus Filho, está co- lado e ofereça desculpas ou peça desculpas disse Jesus. O Natal é a certeza de que a Luz nosco, nos ajuda em nossas fraquezas, nossas caso tenha magoado alguém. Isso é Natal! Pois de Cristo brilha em nossos corações. É um atribulações, e diariamente nos abençoa com Natal é a festa do amor e do perdão recebidos convite para sermos luz para o mundo em toda a sorte de bênçãos, vamos também de Deus e compartilhados com as pessoas. todas as ocasiões. Alegre-se com a vinda do compartilhar a alegria do Natal diariamente: Este é o maior presente que podemos dar às seu Salvador e festeje o Natal em grande auxiliando o próximo em suas fraquezas e di- pessoas, repartir o amor de Jesus com elas. estilo; festeje com Cristo no coração, e per- ficuldades, perdoando e cooperando para que mita a ele guiá-lo pelo caminho da paz, pelo caminhe com Jesus – o Deus conosco. A CHegADA DO AmOr caminho da luz. Alegre-se, filho de Deus, pois É Natal! É hora de repensar sobre a nossa O Natal chegou. O Natal é o cumprimento em Jesus a sua glória está garantida. É Natal, vida, deixar as coisas insignificantes de lado da maior e mais confortadora promessa. Deus vamos dar as mãos e festejar com alegria no e valorizar a fé, a vida com Jesus. prometeu e Deus cumpriu... Natal é a chegada coração. Feliz Natal! m Mensageiro | DezeMbro 2010 9
  • 10. | MEDITAÇãO | FOTOs: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA O Natal é a filantropia de Deus “Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para ELmEr TEoDoro JaGnow Pastor em Marechal Candido Rondon, PR as pessoas a quem ele quer bem!” Deus enviou Jesus ao mundo porque “quer bem” às pessoas. O uve-se falar de entidade filantró- ramou com generosidade o seu Espírito Santo A FilANtrOPiA DOS HOmeNS pica. Mas o que é uma entidade sobre nós, por meio de Jesus Cristo, o nosso Os seres humanos não são dados à filan- filantrópica? A origem da palavra Salvador. E fez isso para que, pela sua graça, tropia. Nos dias atuais, as pessoas estão num pode ajudar a entender o sentido. nós sejamos aceitos por Deus e recebamos corre-corre interminável e o individualismo Filantropia tem a sua origem na língua grega a vida eterna que esperamos”(Tt 3.3a-7). Os está cada vez maior. Ninguém tem tempo para e é formada por duas palavras: filos (amigo) e anjos em seu cântico expressam isto: “Glória o próximo. As pessoas estão em seu mundinho antropos (ser humano, pessoa). Literalmente, o a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na pessoal, onde nem se tem tempo para uma sentido seria “amigo do ser humano” ou “ami- terra para as pessoas a quem ele quer bem!”(Lc palavra de conforto para o semelhante, muito go das pessoas”. Ela era usada para expressar 2.14). Deus enviou Jesus ao mundo porque menos dispor tempo ou dinheiro para ajudar a bondade de alguém (At 28.2). “quer bem” às pessoas. Importante perceber alguém. Porém, pode-se mudar sendo tocados No Brasil, o termo passou a ser usado para que a iniciativa é de Deus. pela filantropia de Deus. entidades que prestam serviços à sociedade e Ele envia Jesus para trazer perdão para Que esta filantropia de Deus nos faça mais não cobram por estes serviços. Por exemplo: nossos erros. Deus não pede nada em troca. É amigos de nosso semelhante e dispostos a ajudar entidades que ajudam as pessoas carentes ou um gesto de puro amor pela humanidade. nosso próximo com gestos de amor autêntico. ajudam na recuperação de pessoas dependen- tes de drogas, etc. Estas têm incentivo gover- namental com isenção de alguns impostos. A FilANtrOPiA De DeUS Pode-se afirmar que o Natal é a demons- tração da filantropia de Deus. O apóstolo Paulo afirma em sua carta a Tito: “Os outros tinham ódio de nós, e nós tínhamos ódio deles. Porém, quando Deus, o nosso Salvador, mostrou a sua bondade e o seu amor por todos (filantropia), ele nos salvou porque teve compaixão de nós, e não porque nós tivéssemos feito alguma coisa boa. Ele nos salvou por meio do Espírito Santo, que nos lavou, fazendo com que nascêssemos de novo e dando-nos uma nova vida. Deus der- 10 M ensageiro | DezeMbro 2010
  • 11. | EM FOCO | Marcos Schmidt Pastor em Novo Hamburgo, RS| marsch@terra.com.br Quinquilharias do Natal E xiste uma explicação para este armário anda abarrotado e, apesar disso, sentimento de melancolia nes- você tem sempre a impressão de que não há ta época do ano. É que somos nada adequado à ocasião para vestir? Com bombardeados por votos de paz, a chegada do Natal e do fim de ano, é uma felicidade, esperança, mas, que na realidade, boa hora de dar uma reciclada em tudo. Doe não é o que experimentamos. O Natal e o fim todas as peças que não usou nenhuma vez de ano, apesar das festas, confraternizações, no ano...”. família reunida, presentes, comida e bebida, Deveríamos fazer algo parecido no coração, carregam um sentimento de velório, solidão, sempre entulhado com coisas que nunca usa- perda, fome e sede. Por isso, é zona de alto mos, ou que não deveríamos usar. Começando risco ao suicídio. com aquilo que recomenda Paulo: “Livrem-se “Eu quero paz”, suplicou Leila Lopes, de tudo isto: da raiva, da paixão e dos senti- uma artista de novela que tirou a própria mentos de ódio [...] Vistam-se de misericórdia, vida às vésperas do Natal passado. Numa de bondade, de humildade, de delicadeza e de carta de despedida, ela desabafou: paciência” (Colossenses 3.8,12). – Estou cansada, cansada da cabeça! Contudo, isso não é fácil. Aliás, é impossível Não aguento mais pensar, pagar contas, quando se busca dentro do próprio armário o resolver problemas. poder da decisão e a coragem para a arrumação. Na verdade, esse é um sentimento co- O milagre vem de fora. Ou como diz a Bíblia: mum neste período do calendário, bem dife- “Pensem nas coisas lá do alto e não nas que rente das mensagens nos cartões natalinos. são aqui da terra. Porque vocês já morreram, O Natal e o fim de ano Mas, pensando bem, o Natal só tem sen- e a vida de vocês está escondida com Cristo, carregam este sentimento tido onde a vida está sem sentido. Ou então que está unido com Deus. Cristo é a verdadeira acontece aquilo que disse um teólogo: “O vida de vocês” (Colossenses 3.2-4). “Pensar nas contraditório... “Jesus está Senhor Jesus veio a uma humanidade tão coisas lá do alto” é deixar de lado os badulaques no mundo. Está nos braços de acostumada com a miséria e a desgraça, e deste mundo e priorizar o presente do Natal. feliz numa situação na qual ninguém pode Algo parecido com a história dos 33 mineiros Simeão. Está no caminho de ser feliz – a menos que não esteja certo da chilenos que só queriam sair daquele buraco. todo ser humano. Não pode cabeça”. Este é o problema na Terra. Não é Por isso, o Natal e o fim de ano carregam o aquecimento global pela fumaça que vai este sentimento contraditório. Ou como escre- ser ignorado. Não pode ser para cima, é o esfriamento espiritual que veu o meu professor no Seminário, Otto Goerl: contornado. Qual rocha no impede o amor para baixo. Problema antigo “Jesus está no mundo. Está nos braços de meio da corrente que faz as já no primeiro Natal, pois “aquele que é a Simeão. Está no caminho de todo ser humano. Palavra veio para o seu próprio país, mas o Não pode ser ignorado. Não pode ser contorna- águas se partirem – correm à seu povo não o recebeu” (João 1.11). do. Qual rocha no meio da corrente que faz as direita, correm à esquerda – Por isso, Jesus afirmou que bem-aven- águas se partirem – correm à direita, correm à turados, felizes, são os pobres de espírito, esquerda – assim Jesus divide as pessoas, os sé- assim Jesus divide as pessoas, os que choram, os humildes, os que têm culos, os pensamentos, os destinos eternos”. os séculos, os pensamentos, os fome e sede. Não é por nada todo este sentimento no Certa vez, encontrei a seguinte dica Natal... É Deus mexendo intensamente no destinos eternos”. de uma consultora de organização: “Seu coração das pessoas. m Mensageiro | DezeMbro 2010 11
  • 12. | CAPA | FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA No N LinDoLfo piEpEr Pastor emérito, Jaru, RO E ra uma vez, um rei muito cari- Em Cristo, DEus assumE graça para socorro em ocasião oportuna” doso que procurava governar a naturEza humana (Hebreus 4.15-16). o seu país da melhor maneira Foi isso o que Deus fez na pessoa de No Natal, lembramos a humanação de possível. Porém, apesar de Jesus, por ocasião do primeiro Natal. Ele Jesus, quando o Verbo se fez carne e habitou todos os seus esforços, ele assumiu a identidade humana; renunciou entre nós. Neste dia, o rei Jesus deixou o não conseguia agradar o povo. Sempre havia ao trono da glória para conquistar o co- trono da glória para se fazer um ser humano muita reclamação entre os seus súditos. ração dos seres humanos. Diz o apóstolo como cada um de nós, a fim de cumprir a Ele, então, procurou conselho junto aos Paulo na carta aos Filipenses: “Tende Lei em nosso lugar, evangelizar os povos e sábios da corte, a fim de saber o que fazer em vós o mesmo sentimento que houve morrer pelos pecados de todos. para conseguir agradar a população. Os também em Cristo Jesus, pois ele, sub- Durante o tempo em que Jesus esteve sábios se reuniram e chegaram à conclusão sistindo em forma de Deus, não julgou aqui na terra, ele, embora fosse o Emanuel, que para o rei entender os anseios do povo como usurpação ser igual a Deus; antes a o Deus encarnado, se comportou como um e fazer um governo que os agradasse só si mesmo se esvaziou, assumindo a forma simples ser humano, mostrando a sua divin- haveria uma maneira: ele tinha que descer de servo, tornando-se em semelhança de dade apenas algumas vezes quando realizava do trono, se juntar ao povo e se tornar homem; e, reconhecido em figura huma- os seus milagres e fazia os seus discursos. igual a eles. na, a si mesmo se humilhou, tornando-se Se nós formos olhar para a vida de Je- O rei fez conforme lhe aconselharam. obediente até à morte, e morte de cruz” sus, parece que tudo deu errado. Primeiro, Saiu do palácio, vestiu-se como um colono (Filipenses 2.5-8). ele nasceu numa estrebaria, num curral de e foi morar entre as pessoas comuns. Assim, E o autor da carta aos Hebreus escreve, gado. Era de se esperar que Jesus nascesse começou a sentir o que o povo sentia e ouvir dizendo: “Porque não temos um sumo sacer- num palácio, afinal, ele era o Filho de Deus, as reclamações que o povo tinha a fazer. Ele dote que não possa compadecer-se de nossas o Rei dos reis e o Senhor dos senhores. viu que o que povo queria não era grandes fraquezas; antes, ele [Jesus] foi tentado em Foi por isso que os magos do oriente, obras, mas, sim, boas estradas, saúde, educa- todas as coisas, a nossa semelhança, mas quando vieram adorar o Menino Jesus, o ção e segurança. Segundo a lenda, depois de sem pecado. Aproximemo-nos, portanto, procuraram no palácio do rei Herodes em um ano, ele voltou novamente ao palácio e, a confiantemente junto ao trono da graça a Jerusalém. Porém, lá não havia ninguém. O partir de então, fez um grande governo. fim de recebermos misericórdia e acharmos rei Herodes nem sabia do seu nascimento, 12 M ensageiro | DezeMbro 2010
  • 13. No plano de Deus, a nossa salvação passa pela humanação de seu único Filho Jesus Cristo, o qual não deixou de ser Deus, mas assumiu também a natureza humana Natal, Deus veio habitar entre nós “ tampouco o povo de Jerusalém. nos planos de Deus: desde o seu humilde Depois, no seu ministério, ele foi rejei- nascimento, até a sua morte na cruz. Isso tado e desprezado. Ele não foi bem aceito tudo havia sido predito pelos profetas. Esse pelos homens. Diz o apóstolo João: “Ele era o plano de Deus para salvar o mundo. O veio para os seus, mas os seus não o recebe- No Natal, lembramos a profeta Isaías, por exemplo, depois de des- ram” (João 1.11). crever em minúcias o seu sofrimento e morte Às vezes, ele não tinha nem lugar para humanação de Jesus, no capítulo 53 do seu livro, conclui dizendo: dormir, para descansar o corpo. Por isso, quando o Verbo se fez “Quando ele [Jesus] olhou para trás e viu o num certo lugar dos Evangelhos, ele recla- carne e habitou entre fruto do seu trabalho, ficou satisfeito”. ma, dizendo: “As raposas têm os seus covis, Jesus, segundo o plano de Deus, veio na as aves dos céus, ninhos; mas o Filho do nós. Neste dia, o rei Jesus plenitude dos tempos. Ele nasceu na cidade homem não tem nem onde reclinar a sua deixou o trono da glória de Belém, de acordo com o que Deus plane- cabeça” (Mateus 8.20). jara. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém, E, no fim de sua vida, ele foi humilhado, para se fazer um ser tudo segundo a santa vontade de Deus. E, desprezado e colocado numa cruz, como um humano como cada um de acordo com o plano de Deus, Jesus um criminoso, como um marginal, como um dia voltará. Isso vai acontecer quando o bandido. Parecia que ele estava sozinho, que de nós, a fim de cumprir Evangelho for pregado em todo o mundo… até o próprio Deus o havia abandonado. Por a Lei em nosso lugar, Então virá o fim. isso, como que desesperado, ele clama no Ele não virá mais como um bebê inde- evangelizar os povos alto da cruz: “Deus meu, Deus meu, porque feso, mas em glória e majestade. Virá para me desamparaste?” (Mateus 27.46). e morrer pelos pecados julgar os vivos e os mortos, quando “ao de todos. nome de Jesus se dobrará todo o joelho, ” Tudo era plano de deus, nos céus, na terra e debaixo da terra, e nada foi improvisado toda língua confessará que Jesus Cristo No entanto, Deus não o havia desam- é o Senhor, para a glória de Deus Pai” parado. Tudo o que acontecia com ele estava (Filipenses 2.10,11). Mensageiro | DezeMbro 2010 13
  • 14. | CAPA | Estamos esperando, portanto, a sua ele vier na segunda vez, em majestade e glória, bendito aquele que vem em nome do Senhor. vinda em glória, para julgar os vivos e os quem o desprezar será condenado ao fogo do Hosana, hosana, hosana nas alturas!” (Hi- mortos, para levar junto consigo os que nele inferno. Para que isso não aconteça, Deus nário Luterano, página 39). creem e se preparam para a sua vinda. envia mensageiros, à semelhança de João Batista, a fim de que prepara o nosso coração a súplica de naTal o naTal foi mediante a pregação do Evangelho, dizendo: O livro de Apocalipse é o que mais fala desfigurado “Arrependei-vos, porque está próximo o do retorno de Cristo. Por isso, o saudoso Hoje, muitas pessoas, em vez de se reino dos céus” (Mateus 3.2). professor Dr. Johannes H. Rottmann intitu- prepararem para celebrar o Natal de Jesus, É necessário que nos arrependamos dos lou o livro que escreveu sobre o Apocalipse estão se preocupando com coisas externas, nossos pecados para que o Rei da Glória de Vem, Senhor Jesus. Pois, no capítulo 5 que nada tem a ver com o nascimento de entre, conforme o Salmo 24. Apenas quem de Apocalipse, encontramos o conhecido Jesus. Enfeitam a casa, mas não adornam tem o seu coração purificado mediante o Cântico do Cordeiro, onde toda criatura, o seu coração. Compram presentes para os sangue de Cristo derramado na cruz é que no céu e na terra, exalta a Cristo, dizendo: seus filhos, mas não reconhecem em Jesus pode receber com dignidade o Rei Jesus “Digno é o Cordeiro que foi morto de rece- um presente de Deus. Chamam um velhinho vindo em glória. O povo de Jerusalém, ao ber o poder, e riqueza, e sabedoria, e força, e inexistente de Papai Noel quando o nosso ver Jesus entrando na cidade, estendeu as honra, e glória, e louvor”. E o apóstolo João verdadeiro Pai é Deus. suas vestes e ramos de árvores pelo cami- conclui, dizendo: “Então ouvi toda criatura O comércio tem se aproveitando deste dia nho por onde ele passava, dizendo: “Ho- que há no céu e sobre a terra, debaixo da para aumentar os seus lucros através de gran- sana, ao filho de Davi, bendito o que vem terra e sobre o mar, e tudo o que neles há, des vendas, fazendo com que muitas pessoas em nome do Senhor! Hosana nas alturas!” estava dizendo: Aquele que está sentado gastem mais do que podem. Depois, elas ficam (Mateus 21.9). no trono e ao Cordeiro, será o louvor, e a quase o ano todo pagando prestações. Na Santa Ceia, quando lembramos a honra, e a glória, e o domínio pelos séculos Precisamos novamente recuperar o morte de Jesus, cantamos: “É verdadeira- dos séculos” (Apocalipse 5.12,13). verdadeiro sentido do Natal. Precisamos mente digno, justo e do nosso dever, que em Por isso, neste Natal, como em todos nos conscientizar do que é realmente im- todos os tempos e em todos os lugares te de- os dias da nossa vida, preparemos o nosso portante no Natal e do que é secundário. mos graças, ó Senhor, santo Pai, onipotente, coração, orando como o poeta sacro: “Enche Do contrário, podemos ser surpreendidos eterno Deus. Mediante Jesus Cristo, nosso os nossos corações com o teu real poder. De como o povo de Israel, que se esqueceu de Senhor. Portanto, com os anjos e arcanjos pecados e tentações, vem, Jesus, nos defen- tal modo do Messias Prometido que, em e com toda a companhia celeste louvamos e der. Pois nós somos tua grei. Glória, glória a vez de recebê-lo como um rei, o receberam magnificamos o teu glorioso nome, exaltan- ti, ó Rei!” (Hinário Luterano 124.1). como um mendigo, deixando-o nascer numa do-te sempre, dizendo: santo, santo, santo Então, um dia na eternidade, poderemos estrebaria, num curral de gado. é o Senhor Deus dos Exércitos. Os céus e a cantar junto com o grande coro dos anjos: Quando Cristo veio pela primeira vez, ele terra estão cheios de sua glória. Hosana, ho- “Glória a Deus nas maiores alturas e paz [...] pôde ser desprezado e morto. Porém, quando sana, hosana nas alturas! Bendito, bendito, entre os homens, a quem ele quer bem”. m “ “Jesus, segundo o plano de Deus, veio na plenitude dos tempos. Ele nasceu na cidade de Belém, segundo o que Deus planejara. Viveu na Judéia e morreu em Jerusalém, tudo segundo a santa vontade de Deus. E, segundo o plano de Deus, Jesus um dia voltará. Isso vai acontecer quando o Evangelho ” for pregado em todo mundo. Então virá o fim”. 14 M ensageiro | DezeMbro 2010
  • 15. | MÚSICA NA IGREJA | Música, também uma forma de orar FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA paULo BrUm Membro da Comissão de Culto da IELB Pastor e capelão de música da ULBRA A ssim como hoje as pessoas não pensaram sempre da mesma forma. A visão que o ser humano possui do mundo, e de seu lugar dentro dele, tem variado em função do avanço nas diversas áreas do conhecimento. Ao longo da história, muitos foram os conceitos e as funções atribuídas à Música. A proposta deste texto é lembrar algumas das abordagens feitas para a Música Sacra. Para os gregos antigos, a Música era compreendida como uma manifestação divi- na entre os mortais, e, por sua ausência ou Na Sociologia, a Música é encarada como usadas para o mal como para o bem. A Mu- qualidade de presença, era possível descobrir um elemento de encadeamento social, isto sicoterapia, por exemplo, dedica-se a curar a natureza do caráter dos seres humanos. é, como ela é e pode ser usada nas relações distúrbios psicológicos e doenças mentais Durante as épocas de tendência racionalista entre os diversos agrupamentos humanos. pela utilização adequada da Música. Tais (Século XVII), a Música A propaganda a ser- fenômenos, da mesma forma, tem grande nada mais era do que viço do consumismo, relação com a Música Sacra. o resultado de uma “O cântico congregacional o condicionamento Na Teologia, o assunto tem sido descuida- elaboração estética, e o convívio musical à alienação social, do. Grandes teólogos têm reconhecido o valor cuja matéria-prima política e religiosa, e da Música no desenvolvimento da fé e do era o som. Por outro são indispensáveis e outras doutrinações louvor. Entretanto, na maioria das vezes, as lado, nas épocas mais insubstituíveis para a união de toda ordem são reflexões permanecem superficiais. O cântico românticas (século a grande exploração congregacional e o convívio musical, de uma XIX), a Música era en- entre as pessoas de uma negativa das possi- forma geral, são indispensáveis e insubsti- tendida como algo comunidade. Não apenas bilidades da Música. tuíveis para a união entre as pessoas de uma etéreo, poderoso e que comunidade. Não apenas como divertimento como divertimento ou fator A Sociologia estuda não se submetia à ra- tais fenômenos que ou fator de instrução, mas como processo de zão. Essas tendências de instrução, mas como muito teriam a cola- aproximação de Deus. Cantar ou tocar com de natureza filosófica processo de aproximação borar com a Música alegria e simplicidade também é uma forma conflitante convivem se usados de forma de orar. A execução musical em conjunto com o sentido utili- de Deus. Cantar ou tocar positiva. promove comunhão no louvor a Deus e é uma tarista da Música no com alegria e simplicidade Na Psicologia, a experiência que transcende a ostentação que século XX. Música é estudada costuma determinar o clima na maioria das A Música também também é uma forma com o objetivo de salas de espetáculo. tem sido envolvida de orar”. chegar às estruturas O cultivo musical das igrejas não só deve- nas diversas áreas do do pensamento hu- ria ter maiores responsabilidades artísticas, conhecimento, como a Sociologia, a Psicologia mano, a fim de compreender como as pessoas como deveria superar tais meras experiências e a Teologia, além dos domínios científicos sentem e pensam. A partir daí já tem surgido estéticas na busca de algo muito mais profun- ditos exatos, como a Física, por exemplo. algumas descobertas, que tanto podem ser do: a dimensão da fé. m Mensageiro | DezeMbro 2010 15
  • 16. | ESCRITURAS SAGRADAS | A complexa questão do cânone I magine-se na situação de um líder da Dr. viLSon SchoLz adicional, o Salmo 151? A solução encontrada Sociedade Bíblica, num país como a Professor de Teologia Exegética foi colocá-los na mesma seção de livros entre Turquia, com a tarefa de publicar uma Consultor de Traduções da SBB os dois testamentos, só que depois daqueles nova tradução da Bíblia que possa ser que são aceitos tanto por católicos aceita por evangélicos, pela Igreja Católica quanto por ortodoxos. A ordem dos FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA Romana, e pelas várias igrejas da tradição livros ficou assim: Tobias, Judite, Ester ortodoxa, entre elas a Igreja Ortodoxa Grega. (grego), Sabedoria, Siraque, Baruque, O que você faria? Como é sabido, esses três Carta de Jeremias, A oração de Azarias grupos de cristãos não publicam a Bíblia com e o Cântico dos três jovens, Susana, Bel a mesma configuração, ou o mesmo número e o dragão, 1 Macabeus, 2 Macabeus, 3 de livros, especialmente no que diz respeito Macabeus, 1 Esdras (3 Esdras, na Vulga- ao Antigo Testamento. ta), 4 Esdras, A oração de Manassés, Salmo Uma saída fácil seria dizer: publique-se 151 e 4 Macabeus. uma Bíblia para cada confissão ou igreja! No A colocação dos livros apócrifos num entanto, os cristãos são minoria absoluta na bloco à parte é aceitável a (muitos) protes- Turquia, formando um por cento da popula- tantes; a colocação de livros como Tobias, ção. Três edições diferentes da Bíblia seriam Judite, Sabedoria, Siraque no topo da lista inviáveis do ponto de vista econômico. O agrada a católicos-romanos; e a inclusão de que fazer? outros livros, ainda que ao final, atende aos Um consultor de traduções das Socieda- anseios das igrejas ortodoxas. E, na prática, des Bíblicas Unidas encontrou uma solução, cada Igreja lê os livros que quiser. em diálogo com as igrejas envolvidas e, por Claro, tal solução para um problema bem fim, com a concordância delas. A primeira concreto num país de maioria muçulmana e decisão foi colocar os livros que os pro- minoria cristã seria totalmente inaceitável testantes chamam de apócrifos e que os para, quem sabe, a maioria dos evangélicos católicos denominam de deuterocanônicos no Brasil. Mas ela coloca diante de nossos (Tobias, Sabedoria, Judite, etc.) numa seção olhos a complexa questão do cânone. à parte, entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Tal procedimento, que já havia A HiStóriA DOS CâNONeS sido adotado por Martinho Lutero, no século Em se tratando de cânone, existem duas 16, é aceitável à Igreja Católica Romana, em histórias que precisam ser contadas: a do se tratando de edições interconfessionais. cânone do Antigo Testamento, e a do câno- Há um documento, assinado conjuntamente ne do Novo Testamento. O cânone do Novo pelas Sociedades Bíblicas Unidas e o Vatica- Testamento é, de modo geral, o mesmo em no, datado de 1987, que trata desta questão. todas as denominações cristãs: são aqueles Mas o que fazer com aqueles livros a mais, 27 livros e ponto final. Porém, no caso do fora da lista dos apócrifos, que são aceitos Antigo Testamento, as opiniões se dividem. apenas pelas igrejas ortodoxas? Sim, livros Num certo sentido, é chocante ver que como 3 Macabeus, 4 Macabeus, e um salmo os cristãos não conseguem concordar quanto 16 M ensageiro | DezeMbro 2010
  • 17. à extensão da Bíblia, especialmente do Antigo igrejas, ou, então, da Igreja em que se é mem- divisões da Bíblia Hebraica. Em outras palavras, Testamento. Por que isso é assim? Essencial- bro. O cânone que se aceita é o cânone usado a primeira parte a ser reconhecida como canôni- mente, porque a própria Bíblia não fecha esta na Igreja. Na realidade, foi isso o que aconteceu ca teria sido a Lei ou o Pentateuco, seguida dos questão. Ela não nos dá a extensão do cânone. E ao longo da história do povo de Deus. Quando Profetas e dos Escritos. Segundo esta teoria, Da- por que a Bíblia não define essa questão, quem pessoas e concílios se pronunciaram, em geral, niel e Crônicas, que, na Bíblia Hebraica, fazem aceita o princípio do “somente a Escritura” ratificaram o que vinha sendo a prática da parte dos Escritos, teriam sido “canonizados” precisa conviver com essa indefinição. Para Igreja em sua vida de culto. num período mais recente ou próximo a nós. quem aceita a autoridade de concílios, como é o Se a Escritura não delimita o cânone, e No entanto, isto não passa de hipótese. Não há caso da Igreja Católica Romana, a questão está os concílios e teólogos não são suficientes nenhum registro histórico de que isto tenha, definida, pelo menos desde o Concílio de Trento, para suprir essa “lacuna”, quem poderia nos de fato, acontecido assim. em 1546. Para quem se norteia pela Confissão auxiliar nesta questão? Em outras palavras, Em busca de uma pista, muitos olham para a comunidade essênia dos arredores de Qumran e para os manuscritos que ali foram O cânone que se aceita é o cânone usado na Igreja. descobertos entre 1947 e 1956. No entanto, aquela comunidade judaica dissidente não Na realidade, foi isso o que aconteceu ao longo nos deixou nenhuma declaração a respeito dos da história do povo de Deus. Quando pessoas livros que eram considerados sagrados. Entre e concílios se pronunciaram, em geral, ratificaram os manuscritos ou rolos do mar Morto, como vieram a ser conhecidos, foram encontrados o que vinha sendo a prática da Igreja fragmentos de Tobias, que é um livro apócrifo em sua vida de culto. ou deuterocanônico, e também dos livros de Enoque e de Jubileus, entre outros, que não fazem parte de nenhum cânone bíblico hoje em de Westminster, de 1647, a questão também se o cânone não é uma questão de doutrina, o dia. Significa isto que esses livros também eram está resolvida na medida em que esta confissão que seria então? vistos como canônicos? Não temos uma respos- cita os livros aceitos como canônicos, e que são Normalmente, afirma-se que o cânone é ta, embora tudo indique que os essênios tinham os livros que hoje, de modo geral, aparecem uma questão histórica. Em outras palavras, essencialmente o mesmo cânone dos fariseus e em todas as edições protestantes da Bíblia. olha-se para a história em busca de alguma saduceus, ou seja, o cânone da Bíblia Hebraica, Outros evangélicos, quando perguntados sobre pista ou orientação. No entanto, ao fazermos que é também o cânone protestante. a extensão do cânone, só podem responder que uma investigação histórica, temos mais pergun- “os livros canônicos são os livros inspirados por tas do que respostas. Temos algumas supostas livrOS DeUterOCâNONiCOS Deus, e que os livros inspirados por Deus são os verdades que não passam de hipóteses. Outras Por vezes, também se afirma ou se dá a livros canônicos”. Eles se abstêm de serem mais respostas que vêm da história são incompletas entender que os livros apócrifos ou deuteroca- específicos, porque a Bíblia silencia a respeito ou incertas. E existem fatos que ainda não co- nônicos, escritos originalmente em grego ou desta questão. nhecemos. Vejamos alguns exemplos. preservados em tradução grega, faziam parte Se a Bíblia não define a questão, uma alter- Geralmente se afirma que a canonização de um cânone dos judeus de Alexandria que nativa é aceitar o que tem sido a prática das do Antigo Testamento se deu conforme as três falavam grego. Alexandria, é bom lembrar, Parabéns, Mensageiro Luterano, pelos 93 anos de circulação ininterrupta! A Hora Luterana se alegra por fazer parte desta edição especial, e parabeniza a todos que participam da produção do Mensageiro, um dos HORA LUTERANA principais meios de comunicação da nossa Parceira da Igreja no evangelismo Igreja Evangélica Luterana do Brasil. Visite-nos na Internet: www.horaluterana.org.br ou blog.horaluterana.org.br Mensageiro | DezeMbro 2010 17
  • 18. | ESCRITURAS SAGRADAS | FOTO: ArquivO eDiTOrA COnCórDiA A Bíblia de Genebra, de 1560, tradução feita por teólogos reformados que haviam se refugiado em Genebra, era idêntica à Bíblia de Lutero, na questão dos apócrifos. Contudo, a exemplo de Lutero, os editores deixaram claro que esses livros não podiam ser usados para confirmar doutrina. foi o contexto em que surgiu a Septuaginta apócrifos, mesmo que não fizessem campanha Outro dado pouco conhecido é que durante ou tradução grega do Antigo Testamento. No em prol da supressão dos apócrifos. Atanásio a Idade Média, mesmo no Ocidente, houve entanto, não se tem notícia concreta de que os pensava que estes livros não fazem parte do teólogos que sustentavam o ponto de vista judeus de Alexandria tivessem um cânone mais cânone, mas que foram indicados, desde os de Jerônimo, ou seja, faziam distinção entre amplo do que a Bíblia Hebraica. O simples fato tempos antigos, como leitura para recém-con- livros canônicos e outros livros. Isto significa de que a Septuaginta acabou tendo um grupo vertidos que, nas palavras de Atanásio, “querem que Lutero não tirou esta distinção do ar. O adicional de livros, que não fazem parte da ser instruídos na religião verdadeira”. A maioria cardeal Cajetano, encarregado pelas autorida- Bíblia Hebraica, não significa que essa já era a dos eruditos das igrejas ortodoxas (orientais) des de Roma a dialogar com Lutero, pensava situação verificada na comunidade judaica. Filo segue Atanásio, colocando os livros que a Septu- exatamente como Jerônimo. de Alexandria, um filósofo judeu que viveu mais aginta tem a mais em relação à Bíblia Hebraica É verdade que Lutero colocou os apócrifos ou menos na mesma época do apóstolo Paulo, num nível inferior de autoridade. numa seção à parte, depois de Malaquias e an- não dá indícios de que aceitasse a autoridade Jerônimo, que prezava aquilo que chamou tes de Mateus, mas ele não foi o único a fazer dos livros que denominamos de apócrifos. de veritas hebraica (verdade hebraica), traduziu isso. A Bíblia de Genebra, de 1560, tradução Às vezes, pensa-se que os Pais da Igreja o Antigo Testamento do original hebraico. No feita por teólogos reformados que haviam se eram todos ardorosos defensores dos apócrifos entanto, isto não significou que ele deu início a refugiado em Genebra, era idêntica à Bíblia de ou deuterocanônicos. É verdade que homens uma “cruzada” contra os apócrifos. Entendia que Lutero na questão dos apócrifos. Contudo, a como Orígenes, Atanásio e Jerônimo conheciam esses livros podiam ser lidos para a edificação exemplo de Lutero, os editores deixaram claro os apócrifos. No entanto, também é verdade do povo, embora não devessem ser usados para que esses livros não podiam ser usados para que faziam distinção entre os canônicos e os estabelecer doutrinas ou dogmas eclesiásticos. confirmar doutrina. 18 M ensageiro | DezeMbro 2010
  • 19. A renomada tradução inglesa co- nhecida como King James Version, de Em conclusão, cabe relembrar que, 1611, incluía os apócrifos. Na época, em se tratando do cânone do Antigo o arcebispo de Cantuária proibiu a Testamento, a diferença entre católicos publicação e venda de Bíblias sem os e protestantes se explica pelo fato de apócrifos. A pena prevista para os in- terem os protestantes, no tempo da fratores era um ano de prisão. Depois, Reforma do século 16, entendido que os é claro, os apócrifos foram tirados da livros canônicos eram, a rigor, os que es- King James. tavam na Bíblia Hebraica. Em resposta, a E que dizer da famosa Bíblia de Mary Igreja Católica Romana canonizou livros Jones, a menina galesa que inspirou o que tinham aceitação na Igreja desde movimento das Sociedades Bíblicas? tempos antigos. Esta é a situação que, Essa Bíblia que Mary Jones adquiriu com provavelmente, permanecerá inalterada tanto sacrifício foi preservada. E ela traz no futuro próximo. os apócrifos, pois a assinatura de Mary Entretanto, também precisa ser Jones aparece na última página dos dito que a diferença fundamental entre livros de Macabeus. Aliás, a Sociedade as confissões religiosas ou igrejas não Bíblica Britânica e Estrangeira, fundada reside no cânone. As reais diferenças de- em 1804, só deixou de publicar Bíblias correm de interpretações divergentes de com os apócrifos em 1826, ou seja, textos que, sem sombra de dúvida, são 22 anos depois de sua fundação. Já a canônicos, como, por exemplo, Mateus Bíblia de Almeida, que teve o Antigo 16.18, as palavras da instituição da ceia Testamento publicado em 1748 (o Novo FOTO: leAnDrO r. CAMArATTA do Senhor, e textos que tratam da relação Testamento havia sido lançado em 1681), nunca entre fé e obras. incluiu os apócrifos. Além disso, por mais importante que seja A diferença entre católicos a questão do cânone, a pergunta fundamental ler PArA CONHeCer ainda é a do próprio Jesus, em Mateus 16.15: e protestantes se explica pelo “Quem vocês dizem que eu sou?” Esta pergunta Com respeito aos apócrifos, muitos pre- ferem a atitude do “não li e não gostei”. Uma fato de terem os protestantes, não pode ficar sem resposta. As perguntas mais complexas relacionadas com o cânone podem maior disponibilidade e familiaridade com estes no tempo da Reforma do ficar para depois, para o dia em que, como diz livros poderiam ajudar o leitor a avaliar estes textos e, quem sabe, ter uma compreensão mais século 16, entendido que Paulo em 1 Co 13.12, “veremos face a face” e adequada das questões envolvidas na delimita- os livros canônicos eram, “conheceremos perfeitamente”. m ção do cânone do Antigo Testamento. a rigor, os que estavam na nota da rEdação Nesse sentido, é interessante uma página da vida de John Bunyan, o famoso autor de O Bíblia Hebraica. Publicado originalmente na revista a Bíblia no Brasil, nº 229 - Outubro a Peregrino. Por volta de 1652, num tempo de Dezembro de 2010 – Ano 62 profunda depressão, Bunyan encontrou consolo num texto que lhe veio à mente: “Pensem nas gerações passadas e reparem bem: será que alguém que confiou no Senhor ficou desiludi- do?” Passada a crise, Bunyan não conseguia se lembrar de onde vinha esse texto, não con- seguiu localizá-lo em sua Bíblia, e não houve quem pudesse lhe indicar a referência. Um ano depois, ele escreve: “Voltando meus olhos para os apócrifos, encontrei o texto em Siraque (ou Eclesiástico) 2.10. A princípio, isto me deixou um pouco perplexo, pois não fazia parte dos textos que chamamos de santos e canônicos; entretanto, como essa frase era o resumo e conteúdo de muitas das promessas, era meu dever tirar consolo dela. E eu agradeço a Deus por essa palavra, pois foi boa para mim”. Mensageiro | DezeMbro 2010 19
  • 20. | ESCRITURAS SAGRADAS | Lu ter oea uçã o da trad B íblia as Es- s Sagrad L utero tr aduziu a ovo gua do p para a lín Jesus crituras u Senhor “por am or de me írito ue o “Esp abendo q s Cristo”. S Deus e do alavra de e atr avés da P ia que o Santo ag dor quer Reforma em sacram entos”, o mina r a Bíblia esse ler e exa povo pud ua. “uma sua pró pria líng ia fa z e r o d e q u e ir Deus e C o n v ic t e de seu forme a vontad alho. obra con seu trab iniciou o 1521, ”, Lutero orms, em Salvador ieta de W tero do da D u que Lu Retornan , mando ança , o Sábio em segur Frederico o ” e posto questrad fosse “se rgo. lo d e Wartbu grande p ro- no Caste tero re alizou a E aqui Lu ento num o Testam uzin do o Nov el - de eza, trad impossív uma namente 22. tempo h rço de 15 de 1 521 a ma dezembro MOnTAGeM sOBre FOTO ArquivO eDiTOrA COnCórDiA 20 M ensageiro | DezeMbro 2010
  • 21. O Antigo Testamento foi traduzido ao longo tos da Dieta de Augsburgo. Na época em que dos anos. Enquanto o Novo Testamento foi tra- escreveu a carta, estava empenhado na tradução Não basta o dom duzido apenas por Lutero – o Antigo Testamento dos livros proféticos do Antigo Testamento e já foi traduzido com o apoio de Melanchthon, Bu- linguístico para traduzir tinha mais de dez anos de experiência em maté- genhagen, Justus Jonas, Cruciger, Aurogallus e bem, disse Lutero. Traduzir ria de traduzir. Seu primeiro ensaio de tradução Roerer. Dada a sua extensão, os livros do Antigo de textos bíblicos é de 1517, em seu primeiro Testamento foram publicados em quatro volu- bem é graça e dom especial escrito, Os Sete Salmos Penitenciais. Nessa primei- mes, assim que iam sendo traduzidos. de Deus. ra tentativa já se afasta da Vulgata, conforme Porém, foi em 1534 que a tradução com- se lê no prefácio ao escrito mencionado, onde pleta da Bíblia foi impressa. Esta é considerada diz que ultrapassou nostra translatio. a impressão mais fina do Século XVI, realizada rer, consideram a tradução de Lutero o maior A parte da carta que interessa ao nosso pelo editor Hans Luft, de Wittenberg. Neste acontecimento literário do século XVI. tema é a resposta de Lutero a uma crítica feita ano de 1984, pois, a Igreja Cristã “comemora Lutero tinha consciência aguda dos proble- a sua tradução de Rm 3.28. Em vez de traduzir: os 450 anos da impressão da Bíblia, tradução de mas envolvidos na tarefa de traduzir e do que é “... o homem é justificado pela fé, sem as obras Lutero, considerada ‘a mais perfeita e completa necessário para traduzir bem. Não basta o dom da lei”, Lutero traduziu: “sem as obras da lei, até hoje’”. linguístico para traduzir bem, disse ele. Traduzir somente pela fé” (“ohne des Gesetzes Werke, allein Não foi obra pequena, nem fácil, traduzir a bem é graça e dom especial de Deus. Depois de durch den Glauben”). É na defesa de sua tradução Bíblia para a língua do povo. Em sua Carta Aberta iniciar a empresa de traduzir a Bíblia em alemão, desse texto que Lutero enuncia os princípios a sobre a Tradução, Lutero elabora e defende sete escreveu que, se não o tivesse tentado, poderia que aludimos. Nosso objeto não é analisar os princípios básicos para fazer uma boa tradução. ter morrido com a ideia errônea de que era argumentos de Lutero a favor de sua tradução O professor Arnaldo Schüller traduziu e um erudito, acrescentando que deveriam fazer de Rm 3.28, mas sublinhar os princípios de comenta estes princípios de tradução de Lu- algum trabalho dessa natureza todos os que tradução que ele estabelece ao longo da defesa tero, num estudo apresentado no Congresso se julgam eruditos. Com referência ao livro de de sua tradução e acrescentar ilustrações, dele Luterano de Comunicação em São Leopoldo. Jó, informa que Melanchthon, Aurogallus e ele ou de outros. Eis o estudo: algumas vezes mal conseguiram traduzir três linhas em quatro dias. Muitas vezes ficavam du- PrimeirO PriNCíPiO PriNCíPiOS De trADUçãO rante um mês inteiro à procura de uma palavra O tradutor deve atender a natureza da língua Cresce o número de pessoas que se mos- e nem sempre a encontravam. Por outro lado, receptora, isto é, da língua para a qual traduz. tram conscientes da necessidade de tornar a uma das muitas evidências da extraordinária Lutero observa que no texto grego nenhu- Escritura Sagrada inteligível ao homem comum. capacidade de Lutero para traduzir a Bíblia é o ma palavra corresponde ao “somente” de sua A reflexão sobre essa necessidade nos leva aos fato dele haver traduzido o Novo Testamento tradução, acrescentando, no estilo polêmico problemas da arte de traduzir. Lutero é uma das em menos de três meses. da época, que seus críticos olhavam a palavra figuras que logo nos acodem à memória quan- Os princípios de tradução defendidos e allein como a vaca olha para um portão novo. do pensamos sobre a arte de traduzir a Bíblia. seguidos por Lutero estão sendo adotados Quando falamos de duas coisas, uma das quais Homens como Oskar Thulin, Heinz Bluhm e E.G. ainda hoje. Serão o objeto de nossos breves é afirmada e a outra negada, é próprio da língua Schwiebert entendem que a tradução da Bíblia comentários os princípios de que ele fala em sua alemã, argumenta ele, acrescentar a palavra foi a realização máxima, o magnum opus de sua Carta Aberta Sobre Tradução, escrita em 1530, na allein, para que fique tanto mais completa e vida. Outros, como, por exemplo, Wilhelm Sche- Coburg, de onde acompanhava os acontecimen- clara a negativa ou exclusiva anterior. Mensageiro | DezeMbro 2010 21