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Texto de Juliana Bazanelli.¹
Capítulo 4- Temperança
            O papel do educador/educadora
“Lidar com os outros é uma questão muito complexa (...) não há como calcular uma
fórmula única que possa resolver todos os problemas. É um pouco como saber
cozinhar. Quando se está preparando uma refeição deliciosa, uma refeição especial
há vários estágios no preparo. Pode-se primeiro ter de ferver os legumes
separadamente. Depois tem que fritá-los pra combiná-los de um modo especial
adicionando temperos e assim por diante. E, finalmente, o resultado seria esse prato
delicioso. Aqui, da mesma forma, para ter talento para lidar com os outros muitos
fatores são necessários, não se pode simplesmente dizer ´esta é a receita´.” Dalai
Lama²


“Quando você quer preparar,
 um remédio salutar,
 põe um cadinho de raio de sol
 e um pouquinho da luz do luar;
 E tem que mexer, tem que misturar
 Um pouquinho de raio de sol
 E um cadinho da luz do luar” Maria Ache.

Meu primeiro inesquecível professor de teatro (inesquecível por que aprendi a amá-lo, e
amar é um eterno lembrar), Edilson Castanheira³, dizia que “o problema não é
deixar-se influenciar pelos outros, é não saber escolher o que você quer que
lhe influencie”.

“(...)Não saber escolher o que você quer que lhe influencie ”; escolher com
consciência é agir sabendo que é por nossas decisões que vamos nos construindo,
portanto transformando ao nosso redor a medida que tal construção vai se realizando.
Escolher frente a uma encruzilhada um caminho é atuar com parcelas de incerteza (O
que terá mais à frente? Será que essa é a melhor escolha?) e aposta (Penso ser esse o
melhor, é, sim! Vou por aqui!).

Escolher conscientemente é procurar discernir qual é a nosso ver o melhor caminho. Se
temos liberdade para escolher entre dois, claro que nos empenharemos para trilhar o
melhor. Mas, o que seria escolher bem o que queremos que nos influencie?

Permitirmos que uma ação externa nos influencie é abrir espaço para que tal ato flua
para dentro de nós, penetre em nosso íntimo. Se essa influência for como água límpida,
vai correr por nosso ser com facilidade, gerando mais vida em vida - como um rio que
alimenta por onde passa - nos trazendo alegria e mobilizando nossas forças para
caminharmos no propósito de nos fazer melhor, de amar melhor, de viver melhor.

____________________________________________
¹ Texto retirado do TCC Tempo de Dialogar – a Importância do diálogo entre educador e educandos, de Juliana
Bazanelli, com orientação de Maria Lucia Pupo. ECA/CAC – USP, 2006.
² LAMA, Dalai. A arte da felicidade, SP, Ed Martins Fontes, lançado em 2000.
³Edílson Castanheira é diretor do grupo de teatro Caldeirão.
Se, ao contrário, for água poluída, pode contaminar o que é fecundo em nós, fazendo
com que nossas vontades de renovação, de busca de ser mais comecem a enfraquecer.
“Quando um rio está poluído, tudo começa a definhar porque tudo depende
de tudo o mais”. ¹

Devemos procurar fazer as escolhas para as quais valha correr riscos. Fazer as apostas
que nos sensibilizem, falem ao nosso sentimento e não fira nosso pensar. Afirmando em
nós as influências que nos impulsiona em nosso caminho de desenvolvimento de nosso
ser-estar no mundo.

Se a possibilidade de influenciar e ser influenciado, de aprender e ensinar pode ocorrer
em todas as situações de nossa vida, qual será o papel do profissional da educação?

É parte do dever do educador ter como princípio o cuidado neste influenciar; o cuidado
no falar, no ouvir e em todas as suas ações. Todo educador é convocado – pela própria
responsabilidade que exige a profissão – a ser espelho luminoso para os outros. “O
espelho cobre-se de pó ao mesmo tempo em que reflete. Precisa que as
brisas leves da sabedoria da Alma limpem o pó das nossas ilusões”³ ; para
sermos espelhos luminosos é preciso que busquemos nos empenharmos na luz
verdadeira da auto-reflexão, para assim, corrigirmos as atitudes que limitam o nosso
potencial de crescimento para assim contribuir com o crescimento do outro.

O verbo educar vem do latim educare e significa: ação de lançar para fora, colocar à
mostra, tirar de dentro. Educar seria auxiliar para que a criatura desentranhasse de seu
mais fundo o seu próprio modo de ser.

Ao falar em educação como auxílio, quero dizer que se não há a vontade de criar em si
abertura para o aprendizado, não há ensino passível de ser feito. Nos diz Gusdorf: “O
mestre e o discípulo não se descobrem como tais senão na relação que os
une (...) pode-se dizer que é o discípulo que faz o mestre, e o mestre que faz o
discípulo”². Não há como inculcar conhecimento em alguém, o outro aprende, portanto,
por seu próprio mérito. Cada consciência marcha por si só, apesar de serem numerosos
os mestres do caminho.

O mestre é aquele que encoraja as pessoas a buscarem suas próprias verdades, pondo a
andar as palavras verdadeiras que há nelas. Estimulando os discípulos a viverem-
atuarem no mundo, no encontro amoroso com os outros, com a coerência de quem
busca harmonizar pensar-sentir e ato.




___________________________________________________________
¹Op.cit. ESTES, 1997, Pág. 83.
² GUSDORF, IN: Op.cit. FETIZON, 2002, Pág.63.
³ Op.cit..BLAVATSKY. Pág. 21.
Durante o meu trabalho com os jovens do CEPAE uma frase aparecia em minha mente
com freqüência: “para ser um bom professor, é necessário, antes, ser um bom aluno”. Só
ensinamos aquilo que sabemos, é tão claro isso, não? Pois é, mas muitas vezes pensei
poder ensinar aquilo que nem eu praticava. Ao falar disso lembro também de uma frase
de uma música da Rita Lee: “ao pedir silêncio, eu berro!”¹.

Mais do que falando, estamos aptos a ensinar quando sentimos e vivenciamos em
verdade o que estamos pretendendo compartilhar com o outro. Ensinamos pelas
entrelinhas. O educador verdadeiro é aquele que antes de falar, exemplifica; antes de
mostrar a resposta permite o espaço de busca (afinal, algumas perguntas permitem
infinitas respostas...) antes de teorizar, sente; e antes de ser um profissional é um ser
humano – como todos: em contínuo desenvolvimento.

Outra lembrança: um dia perguntei a um grande mestre meu se ele poderia falar a
respeito da serenidade. Ao que ele me respondeu: “mais importante do que falar da
serenidade é senti-la”².

Serenidade é uma virtude a ser cultivada pelo educador. É necessário no encontro com
os alunos que o educador procure aprender a olhar com serenidade o que se apresenta
para ele como dificuldade, sem se abater, buscando a melhor forma de fazer o trabalho
que lhe cabe; atuando com temperança.

Ao procurar a palavra temperança no dicionário encontro: “qualidade ou virtude de
quem é moderado ou de quem modera paixões e apetites”³. A moderação
sendo “qualidade ou virtude” não vem para diminuir ou reprimir o valor da
experiência, ao contrário, “moderando paixões” ela acalma uma possível reação
visceral - afogueada pela emoção - e dá espaço para que o sentimento – que é escolha
refletida de um afeto – atue.

 As emoções são passageiras, atuar só em vista delas pode gerar reações tempestuosas
que violentem o ambiente e quem estiver em convivência nele (confesso que não apenas
uma vez já tive vontade de abrir à força cabeça de aluno que eu considerei rebelde e
fazer umas mudanças a meu bel prazer em seu cérebro - que isso fique entre nós!). Já,
deixar atuar o sentimento, sendo escolha cuidadosa, é agir seguindo princípios que
valem nosso risco e aposta.




_________________________________________________________
¹ Cito de memória.
² Frase de autoria de Rogério Rigone; cito de memória.
³ Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, Academia das ciências de Lisboa, edição de 1940.
Apostar no poder da temperança é ter a convicção de que toda situação carrega seus
prós e contras, e que valorizando os aspectos positivos nos fortalecemos em alegria para
cuidar e reformular dos que não estão (ainda) tão bons. A temperança vem nos lembrar
que o poder de estarmos felizes e confortáveis depende apenas de nossa maneira de lidar
com as situações, ou seja, nosso bem viver de todo instante depende exclusivamente de
nós.

Quando a temperança atua em nós acorda nossa cuidadosa percepção de uma situação
específica com o objetivo de trazer harmonia ao trabalho realizado coletivamente. Ao
exercemos uma função de orientador de um trabalho educacional, lidamos com um
coletivo nem sempre harmônico em suas vontades, portanto, a temperança – que é por
natureza flexibilidade nas circunstâncias - exerce o papel de fazer andar o diálogo dentro
do grupo, para que os envolvidos no trabalho cheguem a combinações que possibilitem
ao grupo continuar progredindo em direção ao ser mais juntos.

Ela nos diz, ainda, que nos interessa alimentar idéias novas e que há muitas formas de
desenvolver a capacidade da transformação. E que é no espírito de conciliação com o
outro, em diálogo verdadeiro, que permitimos que o sentimento-pensamento flua,
renovando-se de acordo com a necessidade de cada momento, sempre em vista do bem
comum; em vista de alimentar e cuidar do afeto em nós e entre nós.

Falando em alimentar e cuidar, chego ao tempero que mora na palavra temperança. Pôr
tempero é misturar as mais variadas substâncias para dar sabor. Combinar um cadinho
desse daqui, mais um pouquinho daquele outro ali - em uma criação sensível e delicada.
É acrescentar nos alimentos sabores das mais variadas gamas - dependendo do desejo de
criar e oferecer: suaves; apimentados; amenos; vigorantes; fortalecedores de ânimo;
delicados... e não pára por aqui... Temperar é criar, e onde já se viu criatividade ter fim?

Saber tem um tanto que ver com sabor, ensina-nos Rubem Alves¹.

Novamente, convoco a sabedoria indígena que nos ensina: “Possa eu suprir as minhas
carências e depois aprender a partilhar o amor que é minha essência, o
coração que arde dentro de mim. (...) viver em beleza significa uma forma de
alimentar os outros”².

A nutrição correta provém da capacidade de prestar atenção às nossas necessidades e
sentimentos. Só com a consciência das necessidades nossas e dos outros que poderemos
compartilhar o alimento que é vida em beleza.


O educador e os alunos, quando em diálogo verdadeiro, são companheiros de jornada
rumo à construção do saber - que nos edifica internamente e se revela na transformação
de nosso ser-estar no mundo. Companheiro é aquele que partilha o pão.


______________________________
™ALVES, Rubem, Estórias de quem gosta de ensinar, SP, Ed. Cortez, 1984, pág 23.
¹Op.cit. SAMS, 1997. Pág 69
Isto me faz lembrar da história (Contada por Rubem Alves no livro: Estórias de
quem gosta de ensinar¹) dos quarenta dias que Jesus passou no deserto, sem comer. E
a fome era terrível! Foi aí que o diabo atacou, preciso: - dize a estas pedras que elas
se transformem em pães. Ao que Jesus respondeu, tranqüilo: - de fato, o pão
acabou e a fome é grande. Mas ainda tenho, no meu farnel, muitas palavras.
Elas são gostosas e fazem bem ao corpo. Será que você aceita uma?


O Diabo, bem, o diabo não aceitou. Escolheu não compartilhar com Jesus o alimento.
Aquelas palavras não lhe interessavam. Não se pode obrigar ninguém a ser nosso
companheiro. No caminho ninguém segue ninguém. Temos o poder de escolher o
caminho e os companheiros de jornada.



                        “Quem tem fome não tem fome apenas de pão.

                      Simultaneamente existe a fome de pão e de beleza

                    que grita por se realizar e que com nossa solidariedade

                                poderia ser saciada!”Leonardo Boff²




A essência da educação é compartilhar. O entusiasmo pelo saber, a vontade de saber, a
capacidade de perguntar, o impulso de pesquisar e descobrir é o que deve afinar o
educador com o educando, para que a busca do aperfeiçoamento se faça em conjunto.

Mas nem sempre o conjunto de alunos quer partilhar o que oferecemos. Precisamos,
então, sacar os temperos que trazemos em mãos procurando aguçar os paladares dos
alunos pelo saber-sabor. Como nos diz Gadotti: “Antes de conhecer, o sujeito se
interessa por... é ‘curioso’, é ‘esperançoso’(Freire). Daí a importância do trabalho de
sedução (Nietzsche) do professor, da professora, frente ao aluno, à aluna. Seduzir no
sentido de encantar pela beleza do aprender não como técnica de manipulação”³.

Os temperos e gostos são os mais variados. E é ai que entra a criatividade do educador:
não há receita! Mas, tem algo que posso afirmar que funciona ao contrário do açúcar-
afeto - ou seja, tem o poder de azedar o mundo - é o professor achar, às vezes pensar ter
certeza até, de que seu parceiro de jornada não é capaz e ponto. Essa é a maior falha
ética que um professor pode exercer.

Não é possível apostar em uma educação que seja influência de águas límpidas e salutares ;
que possa ser auxílio para que o outro no encontro com o sabor-saber, faça-se e refaça-se; que
seja nutrição para a potencialidade de ser mais juntos, se não tivermos esperança (convicta!)
na capacidade de reforma íntima do ser humano.

¹Op.cit. ALVES, 1984, pág. 24
²Op.cit.BOFF. 2003.Pág, 33.
 ³ GADOTTI, Moacir, Boniteza de um sonho – ensinar e aprender com sentido, Ed, Feevale - Centro
universitário,2004, pág 27.
Esperança em nosso crescimento, não é, porém, um cruzar de braços e esperar. Movo-
me na esperança enquanto luto cuidando das palavras que fazem bem ao meu corpo e ao
corpo do outro. Ser educador é também cuidar de propiciar terreno para auxiliar no
desenvolvimento do outro. Não excessivo cuidado que mal permite o outro caminhar
com seus próprios pés e respirar por seu próprio esforço, mas cuidado de quem aponta
chão firme para que o outro possa voar em confiança.

A esperança também é amiga (”unha e carne”) da temperança, dividem a mesma casa.
Ter esperança no potencial de transformação em mim, nos outros e no mundo, é mover-
me em busca da realização e em luta por ela, agradecendo a todo instante encontro
comigo mesmo e com os outros cada vez com mais em inteireza.

O Mestre Tempo também se faz notado no viver na temperança. A paciência é a arte da
temperança. E paciência é a ciência da paz. Tanto a arte e a ciência são dons divinos que
alimentados em nós alimentam o divino que há em nós (a potência de realização plena).

“O caminho da paz”, ensinava Ghandi, “é a própria paz. Só meios pacíficos
produzem a paz. A paz, é a um só tempo, método e meta, fim e meio ”¹.
Trilhemos, então, o percurso de nossa caminhada de mãos dadas com a temperança,
esperança e paciência – saboreando cada passo do caminho compartilhado com os
demais seres. Trabalhando para o encontro com a paz, atuando sendo mensageiro dela;
paz que, embora ainda façamos tantas guerras, é sonho de todos. Nos dizeres de
Leonardo Boff: “paz que é a plenitude resultante das relações adequadas com todas as
coisas, com todas as formas de vida, com todas as culturas, consigo mesmo e com o divino”².


Quero, ainda, compartilhar com vocês, uns dizeres que servem de alerta a nós
educadores:


“Toda profissão que lida com a vida alheia, desde a culinária, passando pela arte ou
pela medicina, chegando à docência, tem de ter um lema ético fundamental e,
conseqüentemente, um impedimento. Ou seja, no fazer ético há uma polaridade
positiva e outra negativa. A positiva é o amor à própria vida, do amor ao mundo; a
negativa é a de que jamais, sob hipótese alguma, pode colocar-se a vida do outro
em risco. E colocar a vida do outro em risco é ameaçar sua potência de vida” Julio
groppa Aquino³.


Cuidemo-nos.

_________________________________________________________________

¹GANDHI, in Op.cit. BOFF.2003, Pág.19.

² Op.cit. BOFF, 2003, pág. 60.,

³AQUINO, Julio groppa. Diálogo com educadores.SP. Ed.Moderna, 2002.
Juliana Bazanelli é educadora formada em Artes Cênicas Licenciaura na ECA/USP.
Busca em seu trabalho as conexões entre educação, arte e meio-ambiente.

Atualmente (Abril, 2009) integra a Equipe do CENPEC - CENPEC – Centro de
Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária
(www.cenpec.org.br), atuando como educadora no projeto “Oficinas Culturais:
Educação com Arte”, realizado com os adolescentes e jovens internos na Fundação
Casa. O CENPEC tem como missão contribuir para o desenvolvimento humano e
comunitário sustentável por meio da concepção e implementação de metodologias e
programas no âmbito das políticas públicas de educação, cultura e assistência social.

Atua também, lecionando cursos e oficinas para educadores e alunos de todas as
faixas etárias.

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  • 1. Texto de Juliana Bazanelli.¹ Capítulo 4- Temperança O papel do educador/educadora “Lidar com os outros é uma questão muito complexa (...) não há como calcular uma fórmula única que possa resolver todos os problemas. É um pouco como saber cozinhar. Quando se está preparando uma refeição deliciosa, uma refeição especial há vários estágios no preparo. Pode-se primeiro ter de ferver os legumes separadamente. Depois tem que fritá-los pra combiná-los de um modo especial adicionando temperos e assim por diante. E, finalmente, o resultado seria esse prato delicioso. Aqui, da mesma forma, para ter talento para lidar com os outros muitos fatores são necessários, não se pode simplesmente dizer ´esta é a receita´.” Dalai Lama² “Quando você quer preparar, um remédio salutar, põe um cadinho de raio de sol e um pouquinho da luz do luar; E tem que mexer, tem que misturar Um pouquinho de raio de sol E um cadinho da luz do luar” Maria Ache. Meu primeiro inesquecível professor de teatro (inesquecível por que aprendi a amá-lo, e amar é um eterno lembrar), Edilson Castanheira³, dizia que “o problema não é deixar-se influenciar pelos outros, é não saber escolher o que você quer que lhe influencie”. “(...)Não saber escolher o que você quer que lhe influencie ”; escolher com consciência é agir sabendo que é por nossas decisões que vamos nos construindo, portanto transformando ao nosso redor a medida que tal construção vai se realizando. Escolher frente a uma encruzilhada um caminho é atuar com parcelas de incerteza (O que terá mais à frente? Será que essa é a melhor escolha?) e aposta (Penso ser esse o melhor, é, sim! Vou por aqui!). Escolher conscientemente é procurar discernir qual é a nosso ver o melhor caminho. Se temos liberdade para escolher entre dois, claro que nos empenharemos para trilhar o melhor. Mas, o que seria escolher bem o que queremos que nos influencie? Permitirmos que uma ação externa nos influencie é abrir espaço para que tal ato flua para dentro de nós, penetre em nosso íntimo. Se essa influência for como água límpida, vai correr por nosso ser com facilidade, gerando mais vida em vida - como um rio que alimenta por onde passa - nos trazendo alegria e mobilizando nossas forças para caminharmos no propósito de nos fazer melhor, de amar melhor, de viver melhor. ____________________________________________ ¹ Texto retirado do TCC Tempo de Dialogar – a Importância do diálogo entre educador e educandos, de Juliana Bazanelli, com orientação de Maria Lucia Pupo. ECA/CAC – USP, 2006. ² LAMA, Dalai. A arte da felicidade, SP, Ed Martins Fontes, lançado em 2000. ³Edílson Castanheira é diretor do grupo de teatro Caldeirão.
  • 2. Se, ao contrário, for água poluída, pode contaminar o que é fecundo em nós, fazendo com que nossas vontades de renovação, de busca de ser mais comecem a enfraquecer. “Quando um rio está poluído, tudo começa a definhar porque tudo depende de tudo o mais”. ¹ Devemos procurar fazer as escolhas para as quais valha correr riscos. Fazer as apostas que nos sensibilizem, falem ao nosso sentimento e não fira nosso pensar. Afirmando em nós as influências que nos impulsiona em nosso caminho de desenvolvimento de nosso ser-estar no mundo. Se a possibilidade de influenciar e ser influenciado, de aprender e ensinar pode ocorrer em todas as situações de nossa vida, qual será o papel do profissional da educação? É parte do dever do educador ter como princípio o cuidado neste influenciar; o cuidado no falar, no ouvir e em todas as suas ações. Todo educador é convocado – pela própria responsabilidade que exige a profissão – a ser espelho luminoso para os outros. “O espelho cobre-se de pó ao mesmo tempo em que reflete. Precisa que as brisas leves da sabedoria da Alma limpem o pó das nossas ilusões”³ ; para sermos espelhos luminosos é preciso que busquemos nos empenharmos na luz verdadeira da auto-reflexão, para assim, corrigirmos as atitudes que limitam o nosso potencial de crescimento para assim contribuir com o crescimento do outro. O verbo educar vem do latim educare e significa: ação de lançar para fora, colocar à mostra, tirar de dentro. Educar seria auxiliar para que a criatura desentranhasse de seu mais fundo o seu próprio modo de ser. Ao falar em educação como auxílio, quero dizer que se não há a vontade de criar em si abertura para o aprendizado, não há ensino passível de ser feito. Nos diz Gusdorf: “O mestre e o discípulo não se descobrem como tais senão na relação que os une (...) pode-se dizer que é o discípulo que faz o mestre, e o mestre que faz o discípulo”². Não há como inculcar conhecimento em alguém, o outro aprende, portanto, por seu próprio mérito. Cada consciência marcha por si só, apesar de serem numerosos os mestres do caminho. O mestre é aquele que encoraja as pessoas a buscarem suas próprias verdades, pondo a andar as palavras verdadeiras que há nelas. Estimulando os discípulos a viverem- atuarem no mundo, no encontro amoroso com os outros, com a coerência de quem busca harmonizar pensar-sentir e ato. ___________________________________________________________ ¹Op.cit. ESTES, 1997, Pág. 83. ² GUSDORF, IN: Op.cit. FETIZON, 2002, Pág.63. ³ Op.cit..BLAVATSKY. Pág. 21.
  • 3. Durante o meu trabalho com os jovens do CEPAE uma frase aparecia em minha mente com freqüência: “para ser um bom professor, é necessário, antes, ser um bom aluno”. Só ensinamos aquilo que sabemos, é tão claro isso, não? Pois é, mas muitas vezes pensei poder ensinar aquilo que nem eu praticava. Ao falar disso lembro também de uma frase de uma música da Rita Lee: “ao pedir silêncio, eu berro!”¹. Mais do que falando, estamos aptos a ensinar quando sentimos e vivenciamos em verdade o que estamos pretendendo compartilhar com o outro. Ensinamos pelas entrelinhas. O educador verdadeiro é aquele que antes de falar, exemplifica; antes de mostrar a resposta permite o espaço de busca (afinal, algumas perguntas permitem infinitas respostas...) antes de teorizar, sente; e antes de ser um profissional é um ser humano – como todos: em contínuo desenvolvimento. Outra lembrança: um dia perguntei a um grande mestre meu se ele poderia falar a respeito da serenidade. Ao que ele me respondeu: “mais importante do que falar da serenidade é senti-la”². Serenidade é uma virtude a ser cultivada pelo educador. É necessário no encontro com os alunos que o educador procure aprender a olhar com serenidade o que se apresenta para ele como dificuldade, sem se abater, buscando a melhor forma de fazer o trabalho que lhe cabe; atuando com temperança. Ao procurar a palavra temperança no dicionário encontro: “qualidade ou virtude de quem é moderado ou de quem modera paixões e apetites”³. A moderação sendo “qualidade ou virtude” não vem para diminuir ou reprimir o valor da experiência, ao contrário, “moderando paixões” ela acalma uma possível reação visceral - afogueada pela emoção - e dá espaço para que o sentimento – que é escolha refletida de um afeto – atue. As emoções são passageiras, atuar só em vista delas pode gerar reações tempestuosas que violentem o ambiente e quem estiver em convivência nele (confesso que não apenas uma vez já tive vontade de abrir à força cabeça de aluno que eu considerei rebelde e fazer umas mudanças a meu bel prazer em seu cérebro - que isso fique entre nós!). Já, deixar atuar o sentimento, sendo escolha cuidadosa, é agir seguindo princípios que valem nosso risco e aposta. _________________________________________________________ ¹ Cito de memória. ² Frase de autoria de Rogério Rigone; cito de memória. ³ Vocabulário ortográfico da língua portuguesa, Academia das ciências de Lisboa, edição de 1940.
  • 4. Apostar no poder da temperança é ter a convicção de que toda situação carrega seus prós e contras, e que valorizando os aspectos positivos nos fortalecemos em alegria para cuidar e reformular dos que não estão (ainda) tão bons. A temperança vem nos lembrar que o poder de estarmos felizes e confortáveis depende apenas de nossa maneira de lidar com as situações, ou seja, nosso bem viver de todo instante depende exclusivamente de nós. Quando a temperança atua em nós acorda nossa cuidadosa percepção de uma situação específica com o objetivo de trazer harmonia ao trabalho realizado coletivamente. Ao exercemos uma função de orientador de um trabalho educacional, lidamos com um coletivo nem sempre harmônico em suas vontades, portanto, a temperança – que é por natureza flexibilidade nas circunstâncias - exerce o papel de fazer andar o diálogo dentro do grupo, para que os envolvidos no trabalho cheguem a combinações que possibilitem ao grupo continuar progredindo em direção ao ser mais juntos. Ela nos diz, ainda, que nos interessa alimentar idéias novas e que há muitas formas de desenvolver a capacidade da transformação. E que é no espírito de conciliação com o outro, em diálogo verdadeiro, que permitimos que o sentimento-pensamento flua, renovando-se de acordo com a necessidade de cada momento, sempre em vista do bem comum; em vista de alimentar e cuidar do afeto em nós e entre nós. Falando em alimentar e cuidar, chego ao tempero que mora na palavra temperança. Pôr tempero é misturar as mais variadas substâncias para dar sabor. Combinar um cadinho desse daqui, mais um pouquinho daquele outro ali - em uma criação sensível e delicada. É acrescentar nos alimentos sabores das mais variadas gamas - dependendo do desejo de criar e oferecer: suaves; apimentados; amenos; vigorantes; fortalecedores de ânimo; delicados... e não pára por aqui... Temperar é criar, e onde já se viu criatividade ter fim? Saber tem um tanto que ver com sabor, ensina-nos Rubem Alves¹. Novamente, convoco a sabedoria indígena que nos ensina: “Possa eu suprir as minhas carências e depois aprender a partilhar o amor que é minha essência, o coração que arde dentro de mim. (...) viver em beleza significa uma forma de alimentar os outros”². A nutrição correta provém da capacidade de prestar atenção às nossas necessidades e sentimentos. Só com a consciência das necessidades nossas e dos outros que poderemos compartilhar o alimento que é vida em beleza. O educador e os alunos, quando em diálogo verdadeiro, são companheiros de jornada rumo à construção do saber - que nos edifica internamente e se revela na transformação de nosso ser-estar no mundo. Companheiro é aquele que partilha o pão. ______________________________ ™ALVES, Rubem, Estórias de quem gosta de ensinar, SP, Ed. Cortez, 1984, pág 23. ¹Op.cit. SAMS, 1997. Pág 69
  • 5. Isto me faz lembrar da história (Contada por Rubem Alves no livro: Estórias de quem gosta de ensinar¹) dos quarenta dias que Jesus passou no deserto, sem comer. E a fome era terrível! Foi aí que o diabo atacou, preciso: - dize a estas pedras que elas se transformem em pães. Ao que Jesus respondeu, tranqüilo: - de fato, o pão acabou e a fome é grande. Mas ainda tenho, no meu farnel, muitas palavras. Elas são gostosas e fazem bem ao corpo. Será que você aceita uma? O Diabo, bem, o diabo não aceitou. Escolheu não compartilhar com Jesus o alimento. Aquelas palavras não lhe interessavam. Não se pode obrigar ninguém a ser nosso companheiro. No caminho ninguém segue ninguém. Temos o poder de escolher o caminho e os companheiros de jornada. “Quem tem fome não tem fome apenas de pão. Simultaneamente existe a fome de pão e de beleza que grita por se realizar e que com nossa solidariedade poderia ser saciada!”Leonardo Boff² A essência da educação é compartilhar. O entusiasmo pelo saber, a vontade de saber, a capacidade de perguntar, o impulso de pesquisar e descobrir é o que deve afinar o educador com o educando, para que a busca do aperfeiçoamento se faça em conjunto. Mas nem sempre o conjunto de alunos quer partilhar o que oferecemos. Precisamos, então, sacar os temperos que trazemos em mãos procurando aguçar os paladares dos alunos pelo saber-sabor. Como nos diz Gadotti: “Antes de conhecer, o sujeito se interessa por... é ‘curioso’, é ‘esperançoso’(Freire). Daí a importância do trabalho de sedução (Nietzsche) do professor, da professora, frente ao aluno, à aluna. Seduzir no sentido de encantar pela beleza do aprender não como técnica de manipulação”³. Os temperos e gostos são os mais variados. E é ai que entra a criatividade do educador: não há receita! Mas, tem algo que posso afirmar que funciona ao contrário do açúcar- afeto - ou seja, tem o poder de azedar o mundo - é o professor achar, às vezes pensar ter certeza até, de que seu parceiro de jornada não é capaz e ponto. Essa é a maior falha ética que um professor pode exercer. Não é possível apostar em uma educação que seja influência de águas límpidas e salutares ; que possa ser auxílio para que o outro no encontro com o sabor-saber, faça-se e refaça-se; que seja nutrição para a potencialidade de ser mais juntos, se não tivermos esperança (convicta!) na capacidade de reforma íntima do ser humano. ¹Op.cit. ALVES, 1984, pág. 24 ²Op.cit.BOFF. 2003.Pág, 33. ³ GADOTTI, Moacir, Boniteza de um sonho – ensinar e aprender com sentido, Ed, Feevale - Centro universitário,2004, pág 27.
  • 6. Esperança em nosso crescimento, não é, porém, um cruzar de braços e esperar. Movo- me na esperança enquanto luto cuidando das palavras que fazem bem ao meu corpo e ao corpo do outro. Ser educador é também cuidar de propiciar terreno para auxiliar no desenvolvimento do outro. Não excessivo cuidado que mal permite o outro caminhar com seus próprios pés e respirar por seu próprio esforço, mas cuidado de quem aponta chão firme para que o outro possa voar em confiança. A esperança também é amiga (”unha e carne”) da temperança, dividem a mesma casa. Ter esperança no potencial de transformação em mim, nos outros e no mundo, é mover- me em busca da realização e em luta por ela, agradecendo a todo instante encontro comigo mesmo e com os outros cada vez com mais em inteireza. O Mestre Tempo também se faz notado no viver na temperança. A paciência é a arte da temperança. E paciência é a ciência da paz. Tanto a arte e a ciência são dons divinos que alimentados em nós alimentam o divino que há em nós (a potência de realização plena). “O caminho da paz”, ensinava Ghandi, “é a própria paz. Só meios pacíficos produzem a paz. A paz, é a um só tempo, método e meta, fim e meio ”¹. Trilhemos, então, o percurso de nossa caminhada de mãos dadas com a temperança, esperança e paciência – saboreando cada passo do caminho compartilhado com os demais seres. Trabalhando para o encontro com a paz, atuando sendo mensageiro dela; paz que, embora ainda façamos tantas guerras, é sonho de todos. Nos dizeres de Leonardo Boff: “paz que é a plenitude resultante das relações adequadas com todas as coisas, com todas as formas de vida, com todas as culturas, consigo mesmo e com o divino”². Quero, ainda, compartilhar com vocês, uns dizeres que servem de alerta a nós educadores: “Toda profissão que lida com a vida alheia, desde a culinária, passando pela arte ou pela medicina, chegando à docência, tem de ter um lema ético fundamental e, conseqüentemente, um impedimento. Ou seja, no fazer ético há uma polaridade positiva e outra negativa. A positiva é o amor à própria vida, do amor ao mundo; a negativa é a de que jamais, sob hipótese alguma, pode colocar-se a vida do outro em risco. E colocar a vida do outro em risco é ameaçar sua potência de vida” Julio groppa Aquino³. Cuidemo-nos. _________________________________________________________________ ¹GANDHI, in Op.cit. BOFF.2003, Pág.19. ² Op.cit. BOFF, 2003, pág. 60., ³AQUINO, Julio groppa. Diálogo com educadores.SP. Ed.Moderna, 2002.
  • 7. Juliana Bazanelli é educadora formada em Artes Cênicas Licenciaura na ECA/USP. Busca em seu trabalho as conexões entre educação, arte e meio-ambiente. Atualmente (Abril, 2009) integra a Equipe do CENPEC - CENPEC – Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária (www.cenpec.org.br), atuando como educadora no projeto “Oficinas Culturais: Educação com Arte”, realizado com os adolescentes e jovens internos na Fundação Casa. O CENPEC tem como missão contribuir para o desenvolvimento humano e comunitário sustentável por meio da concepção e implementação de metodologias e programas no âmbito das políticas públicas de educação, cultura e assistência social. Atua também, lecionando cursos e oficinas para educadores e alunos de todas as faixas etárias.