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Ano I – Número 02 – Junhode 2011
                    Julho de 2011             ISSN - 2236-2347




SUCESSÃO
familiar                                               Entrevista
                                    Maria Elenice Anastácio, da Contag:
                                    “A juventude rural está engajada na
                                    transformação da sua comunidade.”
Nesta edição
                                                    Capa                  4
           Com novas possibilidades de renda, jovens estão
                preferindo continuar na profissão dos pais                                                                             10

                                               Debate                     8
    “Onde concentrar os esforços para a permanência do
     jovem no campo?”: Abdalaziz Moura e Kátia Abreu

                                              Entrevista                  10
           Maria Elenice Anastácio, secretária de Jovens
        Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Contag

                                             Boas Práticas                14
Amefa: método de ensino alia aulas na escola e comunidade
  MOC: desenvolvimento sustentável no semiárido baiano

                                          Jovens em Ação                  16
                         As histórias de Marilice e Denise,
                                 jovens mulheres que já se
                         preparam para a sucessão familiar

                                       Instituto em Foco                  18                                                           16
                 Instituto Souza Cruz representa o Brasil
           em eventos internacionais sobre juventude rural

                                             Meu Rural                    19
         O agricultor cearense Everardo Alves, 21 anos,                                                                                16
       aumenta a renda familiar com a criação de abelhas




                                                                     Coordenação: Luiz André Soares
                     SUSTENTABILIDADE DO CAMPO
                     Publicação trimestral do Instituto Souza Cruz   Jornalistas responsáveis:
                     Julho/2011 - Tiragem: 2 mil exemplares          Andrea Guedes (Mtb.28246 RJ)
                                                                     e Guilherme Mattoso (Mtb.26674)

                     Rua da Candelária, 66 / 4º andar – Centro       Projeto gráfico e produção editorial:
                                                                     Via Corporativa Comunicação (www.viacorporativa.com.br)
                     CEP 20091-900 - Rio de Janeiro (RJ)
                     Tel.: (21) 3849-9619 – Fax: (21) 3849-9778      Foto de capa: Jovani Puntel
                     institutosouzacruz@institutosouzacruz.org.br
                                                                     Os conceitos emitidos nos artigos e matérias assinadas são de responsabilidade
                     www.institutosouzacruz.org.br                   dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do Instituto Souza Cruz
Novas
            gerações rurais
D    iante do leque atual e mais amplo de políticas direcionadas ao
meio rural, muito tem sido discutido e repensado acerca das condições
de permanência da juventude no campo. A dinamização econômica
da agricultura familiar, processo ligado à diversificação das atividades
rurais e à pluriatividade, é o principal trunfo para a formação de novas
gerações rurais. Além de combinado com cultura e lazer, é consenso
também que deve ser acompanhado por processos planejados de sucessão
familiar, permitindo aos filhos e filhas a gestão adequada do patrimônio
transferido por seus pais.

Em sua segunda edição, Sustentabilidade do Campo debate a questão,
ao mesmo tempo em que mostra famílias nas quais a continuidade da
agricultura familiar é uma realidade. Em diferentes regiões brasileiras,
o fomento ao empreendedorismo aparece como resposta às aspirações
dos jovens rurais que desejam permanecer no campo, devidamente
acompanhado da inovação.

Rapazes e moças, hoje chamados a desenvolver novas habilidades e
competências no campo, agregam novos conhecimentos e tecnologias
aos saberes práticos das gerações anteriores, reforçando o papel-chave
da educação contextualizada e de qualidade. Embora a questão da sucessão
no campo seja mais visível na gestão das propriedades, é essencial discutir
o papel da juventude em outras dimensões.

A formação de quadros técnicos e institucionais nas organizações do campo,
capazes de exercer papel de liderança, é também uma forte demanda.
Discutir a sustentabilidade do campo, portanto, passa necessariamente por
planejar a qualificação de pessoas e organizações no meio rural.

Boa reflexão!


                                                                                 Luiz André Soares
                                                                                        Gerente do
                                                                              Instituto Souza Cruz
CAPA




           Futuro
              no campo
           O processo sucessório
           no campo, diretamente
           relacionado à sustentabilidade
           da agricultura familiar, está cada
           vez mais inserido na dinâmica
           das pequenas propriedades e
           motiva os jovens a permanecer
           no meio rural



           C    om a crescente dinamização das economias
           rurais, que fizeram aflorar novas possibilidades
           de renda, os jovens têm encontrado bons mo-
           tivos para permanecer nas propriedades familia-
                                                                Andréia De Cézaro Morás




           res, dando continuidade à gestão de seus pais.
           Diego Salvador, 24 anos, é um deles. Apaixo-
           nado pelo cotidiano agrícola, ele comanda, ao
           lado do pai, Vilson Salvador, 59, e da mãe, Eny,
           54, uma área de 12 alqueires localizada em Cor-
                                                                                          Família Salvador: o filho Diego vai dar
           dilheira Alta, no Oeste de Santa Catarina, onde                                continuidade à gestão da propriedade
           cria vacas leiteiras e aves.
               “Eu me formei como técnico agrícola e vi
           que poderia aumentar a renda da propriedade se                                 gaúchos – pretendem herdar a gestão dos esta-
           aplicasse aqui os conhecimentos que acumulei                                   belecimentos. “Eles se queixam apenas de que o
           na escola”, conta Salvador, citando os cursos de                               pai posterga a decisão, e da persistência de uma
           inseminação artificial de animais bovinos e ges-                               certa cultura machista, que pretere as mulheres
           tão de propriedade como os seus preferidos. Se                                 na hora de pensar a sucessão”, assinala ele.
           antes o estabelecimento produzia mensalmente                                      Weisheimer observou também que a juven-
           apenas dois mil litros de leite, hoje a performan-                             tude nutre uma visão positiva do meio rural.
           ce quintuplicou. Seu lema “produzir mais com                                   “O jovem passou cada vez mais a se identificar
           menos” tem funcionado. “Como o campo ofe-                                      como agricultor familiar. Não é mais ‘colono’,
           rece qualidade de vida, quero permanecer. Só                                   expressão que sugere espaço precário, rústico e
           iria para a cidade se fosse para ser dono de um                                atrasado”, afirma.
           negócio”, finaliza.
               O apreço pelo mundo rural não é novidade                                   O valor do empreendedorismo
           para o professor e pesquisador Nilson Weishei-                                 Se o gosto pela terra sempre esteve presente, o
           mer que, em sua tese de doutorado A Situação                                   surgimento de novas oportunidades no campo
           Juvenil na Agricultura Familiar (2009), detectou                               reforçou a autoestima de quem ali vive. Esta
           que 70% dos entrevistados – jovens agricultores                                percepção faz parte do trabalho da Associação



       4   Sustentabilidade do Campo
Acervo Arcafar Sul

Alunos das Casas Familiares Rurais aprendem técnicas agrícolas pelo método da Pedagogia da Alternância




Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do                             realizadas apontam que 85% dos formados nas
Brasil (Arcafar Sul), que congrega 73 escolas dis-                         Casas Familiares Rurais permanecem no campo.
tribuídas em 238 municípios no Sul do País.                                “O jovem precisa ficar por opção, e não ir para a
   As instituições de ensino ali reunidas utilizam                         cidade como exclusão”, assinala Dirce.
como método educacional a Pedagogia da Alter-
nância, que implica em revezamento de tempo                                Jovens protagonistas
e espaço dos estudantes (filhos de agricultores)                           A Federação dos Trabalhadores na Agricultura
entre a escola e a comunidade onde vivem. O                                Familiar da Região Sul do Brasil (Fetraf-Sul)
curso de três anos, inserido no Ensino Médio,                              também atua no sentido de estimular a perma-
entrelaça conteúdo exigido pelo MEC e discipli-                            nência do jovem no campo. Com duração de
nas voltadas para a realidade do campo, ensinan-                           400 horas, e aulas sobre valores humanos, edu-
do técnicas agrícolas, apicultura, gestão, saúde e                         cação ambiental, inclusão digital e oficinas pro-
agroecologia, entre outras matérias.                                       fissionalizantes, o Consórcio Social da Juventude
   “Somando todas as regiões que abrangemos,                               Rural, executado pela Fetraf em parceria com o
formamos quatro mil jovens por ano”, come-                                 Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), qua-
mora a engenheira agrônoma Dirce Slongo,                                   lificou, em um único ano, mais de 700 jovens de
assessora pedagógica da Arcafar Sul. Com o                                 16 a 24 anos, em 22 municípios do Paraná, de
conhecimento adquirido, eles se tornam empre-                              Santa Catarina e do Rio Grande do Sul.
endedores e transformam a realidade nas comu-                                  “O curso abriu oportunidades para que os
nidades rurais. Um dos formados, por exemplo,                              jovens permanecessem na agricultura e con-
investiu na fruticultura e ampliou a plantação                             tribuíssem para o desenvolvimento do setor”,
de parreira, aumentando a renda do estabele-                               explica Jucimara Meotti Araldi, 26 anos, inte-
cimento. Outro, na cidade de Iporã do Oeste                                grante do Coletivo da Juventude da Fetraf-Sul.
(SC), abriu uma agroindústria de empacotamen-                              Outro programa, já finalizado, Terra Solidária,
to de leite e o negócio prosperou de tal forma                             voltou-se para jovens que vivem na agricultu-
que motivou o retorno de um irmão que vivia                                ra familiar. O conteúdo deu ênfase à formação
na cidade. Em Manfrinópolis (PR), um grupo                                 política de militantes sindicais, capacitação pro-
se juntou para construir trilhas para caminhada                            fissional e escolarização. “A juventude está en-
ecológica dentro da propriedade, caracterizado                             tusiasmada porque passou a entender que pode
como investimento em turismo rural. Pesquisas                              ser protagonista”, festeja.



                                                                                                            Instituto Souza Cruz        5
CAPA
               Jucimara Araldi, da Fetraf-Sul (à dir.), ao lado de Cátia Gross, do
           Sindicato de Palmeiras (PR), na luta pela conscientização dos jovens




             Programas específicos
             Projetos como o da Arcafar Sul e políticas pú-
             blicas desencadeadas pelo Governo Federal estão
             qualificando a vida no campo. A atividade agrícola




                                                                                     Acervo Fetraf-Sul
             hoje é um negócio que requer alta especialização
             e uso de tecnologia específica. Ações afirmativas
             como o Programa Nacional de Fortalecimento
             da Agricultura Familiar Jovem (Pronaf-Jovem),
             linha de financiamento de até R$ 10 mil para                                                                              Paulo César Giordan, 38 anos, é um dos exem-
             investimento em atividades produtivas, buscam                                                                         plos de agricultor que preferiu fazer cursos técni-
             contribuir para tornar o campo mais atrativo.                                                                         cos específicos, como os de manejo de ordenha e
                 Outras iniciativas também procuram valorizar                                                                      pastagem, e permanecer trabalhando no estabele-
             este setor de importância estratégica para o País.                                                                    cimento rural. Ele potencializou a renda familiar
             O Programa Nossa Primeira Terra, por exem-                                                                            ao implementar no local tudo o que aprendeu. O
             plo, é uma linha especial de financiamento com                                                                        resultado é visível. A propriedade de 12 alquei-
             o intuito de atender a demanda de jovens sem-                                                                         res no município catarinense de Cordiheira Alta,
             -terra ou filhos de agricultores, na faixa etária de                                                                  que administra com o pai, José Jacob Giordan,
             18 a 24 anos, que desejam permanecer no meio                                                                          61, produz por mês seis mil litros de leite – eles
             rural e investir em uma propriedade. Vinculado                                                                        se dedicam ainda ao cultivo de frutas, hortaliças e
             ao Ministério da Educação, o ProJovem Campo                                                                           feijão, além de criar peru de corte.
             incentiva agricultores familiares de 18 a 29 anos                                                                         “A gente já desenvolvia a atividade, mas só de-
             a concluírem o Ensino Fundamental, elevando a                                                                         pois de aplicar novas técnicas e métodos é que o
             sua escolaridade e proporcionando a qualificação                                                                      negócio prosperou. A partir da nossa experiên-
             profissional de acordo com as especificidades do                                                                      cia, muitos jovens da região decidiram investir na
             campo. O curso, de 24 meses, é ministrado con-                                                                        criação de vacas. Atualmente, 90% das proprieda-
             forme a alternância dos ciclos agrícolas, respei-                                                                     des produzem leite”, festeja Giordan, casado com
             tando-se o período em que os alunos trabalham                                                                         Adriane, 34, filha de agricultores, que trabalhava
             no campo. Em 2010, o programa atendeu cerca                                                                           como doméstica e decidiu voltar para o campo.
             de 63 mil jovens.
                 Em linhas gerais, com aporte de mais recur-
             sos financeiros e tecnológicos no campo, além de
             programas específicos de capacitação técnica e                                                                          A realidade da
             educacional, a maior parte dos jovens ainda pre-
             fere continuar na agricultura familiar, sucedendo                                                                        agricultura familiar
             os pais numa atividade responsável pela produção
             de 70% dos alimentos no Brasil e por 10% do                                                                             4,3 milhões de estabelecimentos
             Produto Interno Bruto (PIB).                                                                                            agrícolas (84,4% do total)
                José Jacob Giordan (pai) e Paulo César Giordan:
                prosperidade no campo                                                                                                24,3% da área agrícola
                                                                                                                                     40% da riqueza agropecuária
                                                                                                                                     12,3 milhões de trabalhadores rurais
                                                                                                                                     74,4% da mão de obra da
                                                                                                                                     agricultura brasileira

                                                                                                                                     18,3 hectares é o tamanho médio
                                                                                                                                     das propriedades
                                                                                                         Andréia De Cézaro Morás




                                                                                                                                     82% dos produtores têm Ensino
                                                                                                                                     Fundamental incompleto
                                                                                                                                                          Fonte: Censo Agropecuário 2006




       6     Sustentabilidade do Campo
Outro cenário
                 A  pesar de se constituir em opção majoritária entre os                 ral de Santa Catarina (UFSC), os filhos dos agricul-
                 jovens, a atividade agrícola, no Oeste de Santa Cata-                   tores devem ser motivados a permanecer no cam-
                 rina, não seduz uma parte considerável de rapazes e,                    po desde a infância. “Não iremos conter o êxodo
                 especialmente, de moças – 43% delas desejavam tra-                      de parte da juventude se não incluirmos as crian-
                 balhar e residir na cidade por avaliarem a ocupação                     ças na análise, pesquisas e ações afirmativas. Elas
                 no campo como fisicamente penosa, de baixa renda                        são portas de entrada das mudanças em curso nas
                 e, normalmente, sentirem-se preteridas na hora da su-                   comunidades rurais”, ensina o acadêmico, atual-
                 cessão. A conclusão consta de dois estudos produzi-                     mente cursando pós-doutorado em Sociologia da
                 dos naquela região, em 1998 e 2001, por pesquisado-                     Infância, no Instituto de Educação da Universidade
                 res da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão                      do Minho, em Portugal.
                 Rural de Santa Catarina (Epagri).                                           Doutor em Sociologia e professor da Universidade
                     “Com a saída das mulheres para outras atividades, a                 Federal de Santa Maria (RS), Joel Orlando Bevilaqua
                 população rural está envelhecendo e o campo se mas-                     Marin assinala que a juventude rural de hoje está sub-
                 culinizando”, diagnostica Clóvis Dorigon, pesquisador                   metida a fatores que podem contribuir, no mínimo,
                 do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Ce-                    para gerar questionamentos sobre se vale a pena se-
                 paf), do Epagri de Chapecó (SC). “Se o estabelecimen-                   guir a profissão dos pais.
                 to não tiver sucessor, corre o risco de ser vendido para                    “Alguns jovens hoje se interessam também pelas
                 investidores urbanos, os chamados neorrurais, interes-                  ocupações assalariadas ligadas à prestação de servi-
                 sados em substituir as atividades executadas ali pela                   ços, ao comércio e à indústria. Além disso, com a am-
                 pecuária de corte ou reflorestamento, com graves con-                   pliação da rede de ensino, estudar ficou mais fácil. As
                 sequências no restante da economia da região”, alerta.                  vias de transporte melhoraram bastante, o que permi-
                     A questão agora, segundo o pesquisador Milton                       te deslocamentos mais rápidos. Por sua vez, os meios
                 Silvestro, também do Cepaf, é identificar quem serão                    de comunicação retratam novos modelos e estilos
                 os responsáveis pela gestão da agricultura daqui para                   de vida. Por último, a saturação da fronteira agrícola
                 frente. Ele sugere algumas medidas. Uma delas, criar                    restringe a possibilidade de aquisição de novas terras.
                 políticas focadas para agricultores de 25 a 35 anos de                  Conjugados, todos esses aspectos podem estimular a
                 idade, um contingente sem alternativas a não ser assu-                  saída deles da propriedade rural”, avalia Marin.
                 mir o estabelecimento dos pais, muitas vezes de baixa                       O campo, segundo os acadêmicos, deve ser en-
                 rentabilidade. Outra, instituir um reordenamento fun-                   carado como um ambiente com vida comunitária,
                 diário, que evite a transformação de terras sem suces-                  gerador de conhecimentos e habilidades especiais
                 sores em sítios de lazer ou pecuária extensiva.                         que não podem ser desqualificados. Como sinteti-
                     Na opinião de Valmir Stropasolas, professor do                      za Dorigon, “trata-se de um patrimônio valioso a ser
                 Centro de Ciências Agrárias da Universidade Fede                        preservado e não isolado.”

                     (Da esq. para a dir.) Dorigon, Silvestro e Marin: necessidade de políticas focadas aos jovens
                                                              Ademir Júnior




                                                                                                              Ademir Júnior
Juliano Mendes




                                                                                                                                 Instituto Souza Cruz   7
DEBATE




         Onde concentrar os
                        esforços para a
                            permanência
                                                                   do jovem no campo?
                                                                                                  Especialistas apresentam diferentes caminhos


             N     a minha experiência de mais de 40 anos de
             vida profissional, atuando no campo com agri-
                                                                                                     - Fulano é do sítio, mas é um rapaz inteligente!
                                                                                                     	 Desconstruir e reconstruir outras concepções
             cultores familiares, assentados, assalariados, pro-                                     sobre a agricultura e o campo torna-se uma tarefa
             fessoras e jovens, a maior dificuldade que tenho                                        árdua. É como se tivesse de enfrentar e confrontar
             encontrado não é nada externo a eles. Não é a                                           o que se ensina na escola, o que os pais passam para
             falta de dinheiro, tecnologia, terra, água, traba-                                      os filhos, remar contra a maré, agir contra o óbvio,
             lho e mercado que restringe a participação da                                           a cultura, o normal, o lógico. Quem tenta recriar
             juventude na agricultura familiar ou sua perma-                                         outras concepções fica parecendo uma pessoa ro-
             nência no campo. Mas, sim, algo intangível, in-                                         mântica, corajosa, diferente, capaz de fazer frente às
             terno, presente na cultura do seu entorno, da                                           evidências, porém, muito idealista porque alimenta
             família, da escola, no inconsciente coletivo da                                         sonhos impossíveis.
             sociedade, que fica determinando o comporta-                                            	 A questão não é se o jovem deve permanecer no
             mento, as atitudes e as concepções dos jovens.                                          campo ou não. Ele pode sair ou ficar, é direito dele
             Ao menos no Nordeste, a realidade é assim. Há                                           fazer a opção. Mas é com quais referenciais ele faz
             um preconceito enraizado expresso em frases                                             suas escolhas, pensando o quê a respeito do campo,
             desse tipo:                                                                             do seu lugar, de sua família. Se suas concepções são
             -Estuda menino, porque senão tu vais ficar no                                           herdadas da cultura vigente, da família e da escola,
             cabo da enxada feito teu pai!                                                           aí reside o problema.
             - Minha nora é do sítio, mas é uma menina limpa!                                        	 Para mudar essa situação, a concentração dos
                                                                                                     esforços está em descobrir outro campo e outra
                                                                                                     maneira de olhar para ele. É tarefa dos movimentos
                                                                                                     sociais do meio rural, da escola, da universidade, de
                                                                                                     instituições envolvidas e, sobretudo, dos próprios
                                                                                                     jovens que moram e trabalham lá. É imprescindível
                                                                                                     o papel de uma legítima educação e uma assistên-
                                                                                                     cia técnica que visualize a descoberta de um campo
                                                                                                     belo, agradável, saudável, sustentável, impregnado
                                                                                                     de cultura e pleno de vida.
                                                                                                    Abdalaziz de Moura
                                                                                                    Xavier de Moraes
                                                                                                    70 anos, é filósofo, teólogo, educador popular
                                                                                                    e autor da Proposta Educacional de Apoio ao
                                                                                                    Desenvolvimento Sustentável (Peads) para as
                                                                                                    escolas públicas do campo, além de integrante
                                                                    Acervo Instituto Souza Cruz




                                                                                                    da equipe de educadores do Serviço de Tecnologia
                                                                                                    Alternativa (Serta), em Pernambuco.
                                                                                                    Tem um blog especializado em educação no campo
                                                                                                    (www.mouraserta.blogspot.com).




         8   Sustentabilidade do Campo
para a sucessão da juventude rural

               Kátia Abreu
               49 anos, elegeu-se senadora em 2006 pelo
               DEM-TO) e é formada em Psicologia. Foi a
               primeira mulher a assumir a presidência da
               Confederação da Agricultura e Pecuária do
               Brasil (CNA), entidade que reúne os produ-
               tores de alimentos do País. Ex-dirigente do
               Sindicato Rural de Gurupi e da Federação da




                                                                                                                     OBritoNews
               Agricultura do Tocantins, exerceu mandato
               de deputada federal de 2000 a 2006.




    N    o empreendedorismo. O jovem que vive no
    campo não tem educação de qualidade, lazer ou
                                                             juntos, compatibilizando a ânsia de evolução
                                                             e crescimento do jovem com a experiência e o
    acesso à moradia. O Estado os esqueceu e a cida-         conhecimento empírico do pai. Não há dúvida
    de se torna a única saída para quem sonha com            de que, quanto mais informação tiver, maiores
    uma vida sem tantas carências. Para que perma-           serão as chances de o jovem fazer suas escolhas
    neçam no campo e se dediquem à atividade rural,          livremente, sem ver na cidade a única possibili-
    é preciso oferecer oportunidades de crescimento          dade de futuro.
    pessoal e profissional que respondam às suas ex-         	 Queremos que os filhos dos nossos produtores
    pectativas. Ensinar a empreender é sempre uma            tenham acesso à formação profissional sem pre-
    boa resposta para o jovem, que aspira inovar,            cisarem, obrigatoriamente, migrar para a cidade.
    progredir e superar as dificuldades enfrentadas          Por esse motivo, buscando compensar os vazios
    pela família no dia a dia da propriedade. E isso         institucionais no campo, o Senar nacional está
    precisa começar cedo, muito antes dos 18 anos.           montando um curso de nível médio para ado-
    	 Saber empreender e ter conhecimentos bási-             lescentes e jovens que queiram especializar-se
    cos sobre gestão e diferenciais de mercado mu-           na função de técnico agrícola, para valorizar e
    dou a rotina de muitos jovens, por exemplo, no           preparar profissionalmente quem tem vocação e
    interior do Paraná. A administração regional do          disposição para trabalhar no campo. Afinal, se-
    Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Se-              gundo dados do Instituto Brasileiro de Geo-
    nar) criou o programa Jovem Agricultor Apren-            grafia e Estatística (IBGE), de 1940 para cá o
    diz para os filhos de pequenos e médios pro-             percentual de brasileiros, homens e mulheres que
    dutores rurais da região. Estimulados, os jovens         vivem na área rural, caiu de 69% para 16%. Se não
    debatem os novos conteúdos com a família e               oferecermos aos jovens que ainda estão no campo
    sugerem soluções para o negócio, gerando mui-            a chance de crescer empreendendo, certamente so-
    tas vezes ganhos de renda e qualidade de vida.           brarão poucos para continuar produzindo alimen-
    Empreendedorismo e sucessão passam a andar               tos e abastecendo as cidades.




                                                                                              Instituto Souza Cruz                9
Maria Elenice Anastácio Secretária de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da




                                                                                                                   César Ramos
                                 Voz ativa dos
                                                 Jovens
     A    vocação para a liderança e o despertar de
     um forte sentimento de preocupação social –
                                                                   Federação dos Trabalhadores na Agricultura
                                                                   do Estado do Rio Grande do Norte (Fetarn).
     fruto do precoce gosto pela leitura – constru-                Ela também foi eleita, pela segunda vez, membro
     íram uma das principais lideranças jovens dos                 da Comissão Executiva da Confederação Nacio-
     agricultores brasileiros. Aos 31 anos, nordes-                nal dos Trabalhadores na Agricultura (Contag),
     tina e filha de trabalhadores rurais sem-terra,               onde atualmente assume a Secretaria de Jovens
     Maria Elenice Anastácio começou a trabalhar                   Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais.
     na roça com 10 ano de idade.                                  	 Com a sabedoria de quem conheceu de per-
     	 Duas décadas depois, ela acumula a experi-                  to as dificuldades enfrentadas no campo, Maria
     ência de já ter sido secretária e presidente do               Elenice fala da sua trajetória e das perspectivas
     Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhado-                     para a atual e para as futuras gerações de filhos
     ras Rurais (STTR) de Monte das Gameleiras                     de agricultores: “A juventude rural está cada vez
     (RN), coordenadora do Polo Sindical de Trai-                  mais engajada na transformação da sua comuni-
     ri (CE) e da Comissão Estadual de Jovens da                   dade e mais consciente do seu papel histórico”.




10   Sustentabilidade do Campo
Contag




                          Comecei lutando pelo direito a es-                       Éramos invisíveis diante da socie-
         Você iniciou     tudar. O meu pai é analfabeto e          Como era a      dade, governos e sindicatos, apenas
           cedo sua       a minha mãe estudou só até a 4ª         sua realidade    vistos como filhos de agricultores,
           militância     série do Ensino Fundamental. Sou        e a de outros    e não como jovens agricultores.
         pela causa da    a mais velha dos sete filhos (cinco         jovens       Tínhamos acesso restrito às políti-
          juventude.      mulheres e dois homens). Apenas         agricultores?    cas públicas. Isso significava baixa
         O que motivou    três mulheres conseguiram concluir                       escolaridade, alto índice de analfa-
           essa luta?     o Ensino Médio. Aos 15 anos in-                          betismo, pouco incentivo à geração
                          gressei na Juventude Unida Game-                         de renda e ao acesso às novas tec-
                          leirense (JUG). A nossa luta era pelo                    nologias para a produção agrícola
                          acesso à educação, ao esporte e ao                       e não agrícola, além de inexistência
                          lazer. Aos 16 anos fui convidada                         de políticas de estímulo ao espor-
                          a participar do Sindicato dos Tra-                       te, lazer e cultura no campo. Não
                          balhadores e Trabalhadoras Rurais                        existiam programas específicos para
                          (STTR) de Monte das Gameleiras                           a juventude rural. Com o início
                          (RN), ao qual me associei e logo                         do governo Lula, propusemos a
                          depois fui eleita para duas gestões                      criação de projetos para o jovem
                          como secretária, e outra como pre-                       do campo, de acesso à terra pelo
                          sidente. Também coordenei o Polo                         Programa Nacional de Crédito
                          Sindical de Trairi (CE), composto                        Fundiário – Nossa Primeira Terra e
                          por 16 sindicatos.                                       ao crédito pelo Pronaf Jovem, de
                                                                                   qualificação pelo Consórcio Social
                          De fato. Fui a primeira mulher e                         da Juventude Rural.
          Não é uma       jovem presidente da região. Em
           trajetória     1999, criamos na Federação dos                           São aquelas que dizem respeito à
                                                                      Como
            comum         Trabalhadores na Agricultura do                          proposição e negociação de polí-
                                                                  secretária de
            de uma        Rio Grande do Norte (Fetarn) a                           ticas públicas e sindicais, a partir
                                                                    jovens em
         adolescente...   primeira Comissão Estadual Provi-                        da concepção do desenvolvimento
                          sória de Jovens Rurais. Em 2002,          um órgão       rural sustentável e solidário. Atu-
                          elegemos a Comissão Estadual de          sindicalista,   amos para garantir visibilidade à
                          Jovens Trabalhadores e Trabalha-           quais são     identidade e demandas juvenis,
                          doras Rurais na Fetarn (CEJTTR).            as suas      afirmando os (as) jovens rurais
                          Fui a primeira jovem eleita como        prioridades?     como segmento estratégico para
                          coordenadora. Em 2005, ganhei a                          ocupar lugares públicos e políticos
                          eleição no Congresso Nacional da
                          Contag para ocupar a Coordena-
                          ção Nacional de Jovens, e já estou
                          na segunda gestão.




              A questão da sucessão familiar acaba sendo
                um problema de toda a sociedade porque
           o esvaziamento do campo implica no inchaço urbano”
                                                                                                                             César Ramos




                                                                                                      Instituto Souza Cruz                 11
Maria Elenice Anastácio



                     quando chegarem à fase adulta.                            capazes de pensar e implementar
                     Essa concepção precisa ser revista                        políticas para os (as) jovens do
                     para que possamos assegurar hoje                          campo, respeitando suas identida-
                     acesso aos direitos por parte dos                         des e contextos territoriais. Uma
                     (as) jovens rurais, que estimulem                         vez criados, esses espaços devem
                     sua permanência no campo e pro-                           dialogar com as organizações e
                     movam o fortalecimento da agri-                           movimentos juvenis.
                     cultura familiar.
                                                                Por que o      Há relação com o modelo de de-
    Na sua
                     O governo tem promovido polí-             campo está      senvolvimento imposto, que tem
                     ticas que respondem às demandas          cada vez mais    favorecido o êxodo dos jovens
   opinião,
                     da juventude rural, principalmen-        masculinizado?
                                                                               mais escolarizados e deixado na
    o Brasil
                     te as que tratam de programas de                          agricultura os de menor escolari-
 avançou nas
                     crédito, da formação e da geração                         dade. Nesse contexto, pesquisas
   políticas
                     de renda e trabalho no âmbito da                          mostram que quem sai primeiro
 sociais para
                     agricultura. Contudo, ainda falta                         são as jovens mulheres, deixando
 a juventude         muito para que a juventude pos-                           o campo cada vez mais masculi-
  no campo?          sa ficar no campo com dignidade.                          nizado e envelhecido. Embora a
                     Temos problemas estruturais no                            saída não seja garantia de sucesso,
                     que diz respeito à educação, saúde,                       a juventude prefere se arriscar ao
                     transporte, acesso à terra, esporte,                      observar as poucas oportunidades
                     cultura e lazer. São problemas que                        de desenvolvimento profissional
                     têm motivado a saída de milhares de                       no meio rural.
                     jovens do campo e, em especial, da
                     agricultura familiar.                        No Rio       É importante considerar que esse
                                                                Grande do      “desinteresse” não surge de for-
                     De maneira geral, as políticas pú-       Sul, 30% dos     ma natural, mas como reflexo das
 O que ainda
                     blicas enxergam os (as) jovens            agricultores
                                                                               relações desiguais estabelecidas no
  falta para
                     mais como um problema social e                            campo. A questão da sucessão fa-
  atender as                                                     não tem
                     menos como sujeitos com direitos,                         miliar acaba sendo um problema
  demandas                                                     sucessores.
                     importantes para construir um                             de toda a sociedade porque o es-
    dessa                                                       Como esse
                     País justo, sustentável e forte. O                        vaziamento do campo implica no
 juventude?                                                      desafio é
                     Pronaf Jovem, por exemplo, es-                            inchaço urbano. O que estamos
                                                               enfrentado
                     tabelece critérios adicionais para a                      vendo hoje no Brasil não é só a saí-
                     juventude, ou seja, somente os jo-       pela Contag?     da da juventude do meio rural, mas
                     vens precisam comprovar 100 ho-                           da família, o que implica no perigo
                     ras de capacitação, além de outras                        da falência da agricultura familiar.
                     exigências, tratando-os como be-                          O Movimento Sindical de Traba-
                     neficiários de risco. Há uma série                        lhadores e Trabalhadoras Rurais
                     de programas para a juventude ru-                         (MSTTR) atua para denunciar essa
                     ral, mas as políticas estruturantes                       realidade, por meio de processos de
                     nas áreas de educação e saúde, por                        negociação de propostas e de gran-
                     exemplo, ainda são bem precá-                             des mobilizações políticas, como o
                     rias. É preciso criar ainda instâncias                    Grito da Terra Brasil.




          Os jovens não são um problema social, mas sujeitos com direitos, importantes
                       para construir um País justo, sustentável e forte”



12   Sustentabilidade do Campo
Muito. Realizamos um processo
                                                                                  Os resultados
                                                                                                  de educação à distância, via inter-
                                                                                       são
                                                                                                  net, chamado Programa Jovem
                                                                                  animadores?
                                                                                                  Saber. Em seis anos de existência,
                                                                                                  já capacitou mais de 30 mil jovens
                                                                                                  nas temáticas de Desenvolvimento
                                                                                                  Rural Sustentável e Solidário, Po-
                                                                                                  líticas Públicas, Políticas Sindicais
                                                                                                  e Gestão da Agricultura Familiar.
                                                                                                  Também organizamos vários fes-
                                                                                                  tivais municipais, estaduais e na-
                                                                                                  cionais da Juventude Rural, que
                                                                                                  costumam mobilizar milhares de
                                                                                                  jovens para participar de ativida-
                                                                                                  des de qualificação, culturais e es-
                                                                                                  portivas.

                                                                                    Como a        A gente tenta mostrar a viabilida-
                                                                                  Contag lida     de da agricultura familiar, apre-
                                                                                  com o fato      sentando exemplos de jovens
                                                                                   de que a
                                                                                                  agricultores bem-sucedidos na
                                                                                                  sua produção. Além disso, defen-
                                                                                    própria
                                                                                                  demos os direitos da classe tra-
                                                                                     família
                                                                                                  balhadora rural, demandando e
                                                                                   incentiva
                                                                                                  monitorando as ações do Estado
                                                                                   os filhos a
                                                                                                  com vistas a garantir à população
                                                                                  deixarem o
                                                                                                  do campo os direitos que histori-
                                                                                    campo?        camente têm sido negados. É um
                                                                                                  esforço incansável para construir-
                                                                                                  mos um mundo rural sustentável
                                                                                                  e solidário.

                                                                                                  A ampliação e diversificação das
                                                                                     O que há     formas de organização da juven-
                                                                                      de mais     tude rural, em sindicatos e mo-
                                                                                   interessante   vimentos estudantis, grupos cul-
                                                                                  acontecendo     turais, cooperativas e associações.
                                                                                    no campo      A juventude está cada vez mais
                                                                                    em relação    engajada na transformação da sua
                                                                                  ao jovem que    comunidade e mais consciente do
                                                                                    nele vive e   seu papel histórico. Há experiên-
                                                                                     trabalha?    cias organizativas interessantes.
                                                                                                  Em Ouro Verde (MG), por exem-
                                                                                                  plo, a associação de jovens quilom-
                                                                                                  bolas é uma referência de organi-
                                                             Fotos: César Ramos




                                                                                                  zação de produção e cidadania. Só
                                                                                                  não queremos que projetos assim
                                                                                                  sejam histórias isoladas, mas vivên-
Em Plenária da Juventude Rural, Elenice coordena reunião                                          cias possíveis para o conjunto da
que reivindica melhores condições de vida nas áreas rurais                                        juventude rural brasileira.




                                                                                                                      Instituto Souza Cruz   13
Jovens passam duas semanas
                                          na escola e a outra quinzena
                                          no campo, onde aplicam os
                                           conhecimentos adquiridos




                                                                                                                                         Acervo Amefa
             Uma escola diferente
             Associação mineira reúne instituições que incorporam método de ensino no qual
             o aluno se reveza entre a sala de aula e atividades práticas na comunidade


             U    m modelo de escola diferente, que, junto
             com o Ensino Fundamental e Médio, desenvolve
                                                                                        os alunos das EFAs têm aulas práticas nas quais
                                                                                        aprendem a cultivar hortas e pomares, criar ani-
             uma formação integral e personalizada de jovens                            mais, entre outras atividades ligadas à agropecuá-
             trabalhadores rurais e suas famílias, em harmonia                          ria, além de noções de gerenciamento da proprie-
             com o meio ambiente. As Escolas Famílias Agrí-                             dade. “As matérias estão inseridas numa política
             colas (EFAs) adotam a Pedagogia da Alternância                             de geração de trabalho e renda, fortalecendo a
             como método educacional. Antes espalhadas e                                agricultura familiar, a agroecologia, a educação
             isoladas, essas instituições de ensino passaram a                          do campo, bem como a cultura popular, a so-
             integrar, em 1993, a Associação Mineira das Es-                            lidariedade e a sustentabilidade no meio rural”,
             colas Famílias Agrícolas (Amefa), sediada em Belo                          explica Gilmar de Souza Oliveira, 38 anos, há
             Horizonte e criada para este fim. Atualmente,                              quatro assessor pedagógico da Amefa.
             a entidade abriga 18 escolas e o número deverá                             	 Na Pedagogia da Alternância, que surgiu na
             aumentar com a inclusão de mais 30 em processo                             França em 1935 e foi implantada pela primeira
             de implantação em Minas Gerais.                                            vez em uma escola brasileira em 1968 (Espírito
             	 Além das disciplinas do currículo tradicional,                           Santo) e em Minas Gerais em 1984, o aluno
             como matemática, português, geografia e história,                          permanece duas semanas em sistema de inter-
                                                                                        nato na sede da EFA, e a outra quinzena do
                                                                                        mês no meio em que vive. Ou seja, ele apren-
Em uma das Escolas Famílias Agrícolas,
                                                                                        de um conjunto de teorias e práticas na escola e
alunos apreendem a cultivar hortas
                                                                                        aplica, em seguida, o conhecimento assimilado
                                                                                        na sua realidade socioprofissional. O curso se
                                                                                        estende por quatro anos no Ensino Fundamental
                                                                                        e pelos três do Ensino Médio.
                                                                                        	 A criação da Amefa organizou essas experiên-
                                                                                        cias pedagógicas visando não descaracterizá-las
                                                                                        e preservar a filosofia, arregimentando apoios,
                                                                                        financiamentos e convênios junto a entidades
                                                                                        governamentais, não governamentais e associa-
                                                                                        ções locais e regionais de Minas Gerais, e até do
                                                                                        Exterior. “Queremos que essa importante pe-
                                                                                        dagogia aplicada no campo não perca sua iden-
                                                                                        tidade e adquira representação política, garan-
                                                                                        tindo que as famílias agricultoras, estudantes
                                                                                        e educadores estejam à frente na gestão dos
                                                                                        projetos. Depois do surgimento da entidade,
                                                                                        nenhuma escola que seguiu as suas orientações
                                                                         Acervo Amefa




                                                                                        fechou”, comemora Gilmar.




       14    Sustentabilidade do Campo
Givaldo do
                 Carmo Souza




                                                                                          Laudécio Carneiro
                                                                                                    da Silva




                                                                                          Acervo Instituto Souza Cruz




Exercício da cidadania
No semiárido baiano, o Movimento de Organização Comunitária promove o desenvolvimento
integral e sustentável da região, e forma a juventude para ser protagonista deste processo


C     om sede na cidade de Feira de Santana,
o Movimento de Organização Comunitária
                                                        	 Já o Programa de Gênero encoraja a militân-
                                                        cia ativa das mulheres no contexto sociopolítico
(MOC) nasceu em 1967 e está revolucionando              local, como forma de promover a igualdade de
toda uma região. Atuando em mais de 60 mu-              direitos entre os sexos. Por sua vez, o Programa
nicípios da Bahia, a entidade promove uma série         de Direitos das Crianças e Adolescentes potencia-
de ações estratégicas para o desenvolvimento in-        liza a criação de organizações juvenis. “Queremos
tegral, participativo e ecologicamente sustentável      fomentar alternativas e perspectivas para que a ju-
daquela área. Como assinala o pedagogo Givaldo          ventude continue no meio rural com dignidade,
do Carmo Souza, 25 anos, as iniciativas têm o in-       renda e sustentabilidade”, conta Souza.
tuito de formar lideranças e turbinar as organiza-      	 O trabalho do MOC, na opinião do coordena-
ções e instituições populares.                          dor, ajuda não só a redemocratizar a região, como
	 “A ONG trabalha no sentido de formar cida-            incita o conhecimento e o exercício dos direitos da
dãos para interferir ativamente em espaços públi-       cidadania. A partir desse momento, o jovem do
cos e institucionais como associações, sindicatos e     campo passa a ter condições de lutar por uma so-
conselhos”, explica ele, coordenador da Equipe de       ciedade mais justa e igualitária. “Antes, a juventude
Juventude, que estimula o empreendedorismo e o          era mais passiva, não interferia, cobrava ou apresen-
exercício de uma visão crítica da realidade por parte   tava propostas”, avalia Souza, que conclui: “Hoje,
dos jovens. Foi por meio desse processo formativo,      ela faz parte da vida e da pauta política da sua co-
aliás, que o estudante Laudécio Carneiro da Silva,      munidade, no papel de protagonista”.
21 anos, prestou vestibular e passou em primeiro
lugar no curso de Comunicação Social da Uni-
versidade Estadual da Bahia. “Os jovens rurais          Com a parceria do Instituto Souza Cruz, o MOC
estão construindo seus projetos de vida, sendo          formou, em junho, 31 jovens no Programa
reconhecidos e valorizados”, orgulha-se Souza,          Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR). Os
filho de pequenos agricultores do município             novos agentes estão contribuindo para o forta-
baiano de Santaluz.                                     lecimento da agricultura familiar no território do
	 A grade de programas específicos da institui-         Sisal, por meio da implantação dos projetos em-
ção tem sido responsável pela transformação das         preendedores, cujos temas abrangem fruticultura,
comunidades abrangidas pelo MOC. O Programa             apicultura, acesso a políticas públicas, entre
Fortalecimento da Agricultura Familiar no Semiári-      outros. Nesta etapa de aplicação prática, todos
do, por exemplo, busca viabilizar processos e ações     continuarão sendo assistidos pelos educadores
de assistência técnica, crédito, beneficiamento da      do programa.
produção e comercialização. Com ênfase na demo-          “Esses jovens vão fazer a diferença nas institu-
cratização da mensagem, o Programa de Comuni-           ições, nas famílias, nas propriedades e serão ci-
cação promove o fortalecimento da comunicação           dadãos com perspectiva de permanência no
nos territórios rurais, capacitando rádios comunitá-    campo com sustentabilidade, renda e cidadania”,
rias e jovens comunicadores.                            conclui Souza.




                                                                                            Instituto Souza Cruz        15
JOVENS EM AÇÃO




         Elas são as
         sucessoras                                                                                Visão de futuro e boa
                                                                                                   gestão da propriedade
                                                                                                   ampliam perspectivas para
                                                                                                   jovens mulheres no campo




                                                            M       arilice Pracer, de 24 anos,
                                                            poderia ter engrossado as esta-
                                                                                                   	 “No momento da elaboração
                                                                                                   do projeto de empreendedorismo,
                                                            tísticas de jovens que deixam o        exigido para a conclusão do pro-
                                                            campo em busca de alternativas         grama, vi com a minha família o
                                                            de ocupação na cidade. A falta de      que era mais viável para a proprie-
                                                            interesse pelo meio rural, aliada à    dade. Como o município está inje-
                                                            questão da sucessão da terra, se-      tando mais recursos na produção
                                                            riam motivos fortes para a evasão.     de leite, optei por esse caminho”,
                                                            Ao mirar o futuro, no entanto, ela     explica Marilice, que participou do
                                                            acabou mudando a sua história.         PEJR no Centro de Desenvolvi-
                                                            	 Ela vive com cinco irmãos, a         mento do Jovem Rural (Cedejor)
                                                            mãe e um sobrinho numa pro-            Centro-Sul do Paraná.
                                                            priedade de quatro hectares na         	 Atualmente, queijos e mantei-
                                                            pequena cidade paranaense de           gas, oriundos do beneficiamento,
                                                            Paulo Frontin. Todos trabalham         são apenas para o consumo da
                                                            na produção agrícola, que abran-       família. Ela, no entanto, quer ir
                                                            ge leite, milho, feijão, erva-mate e   além. Em seu pedaço de terra, pre-
                                                            fumo. Os produtos são comercia-        tende montar uma agroindústria e
                                                            lizados no município e nos arre-       um estabelecimento para processar
                                                            dores e a renda gerada é de toda a     o leite. O objetivo é comercializar
                                                            família que, conjuntamente, deci-      a produção e, em consequência,
                                                            de onde aplicar o dinheiro.            aumentar a renda da família.
                                                            	 Apesar do bom andamento dos          	 A jovem liderança também já
                                                            negócios, a questão da sucessão fa-    articula a criação de uma coopera-
                                                            miliar na propriedade era iminen-      tiva mista de pequenos produtores
                                                            te. A solução encontrada foi aces-     em Paulo Frontin. “Eu corri atrás
                                                            sar o programa Crédito Fundiário,      e já temos 20 agricultores associa-
                                                            do Governo Federal, para a com-        dos. O CNPJ facilitará a venda dos
                                     Fotos: Jovani Puntel




                                                            pra de mais terras. Hoje, todos os     nossos produtos”, conta.
                                                            integrantes têm um lote para tra-      	 Cheia de perspectivas e entu-
                                                            balhar. Com seus dois hectares, e      siasmo, Marilice quer continuar
                                                            o título de Agente de Desenvolvi-      no campo, trabalhando na agricul-
         Empreendedora, Marilice                            mento Rural obtido pela formação       tura, assim como todos os seus ir-
         pretende montar uma                                no Programa Empreendedorismo           mãos. “Eu era uma jovem que não
         agroindústria e um                                 do Jovem Rural (PEJR), Marilice        tinha muito interesse pelas coisas.
         estabelecimento para                               passou a enxergar no campo um          Agora sei que, se a gente quiser
         processar o leite                                  mundo de possibilidades.               algo e for à luta, tudo é possível.”



    16   Sustentabilidade do Campo
A jovem agricultora
                                                    Denise decidiu
                                                    continuar no campo
                                                    após implementar na
                                                    propriedade o que
                                                    aprendeu sobre criação
                                                    de bovinos
                  Fotos: Jovani Puntel




D     ois anos atrás, Denise Las-
ch, 20 anos, surpreendeu-se
                                         ingressar no programa, descobriu
                                         que poderia continuar no campo
                                                                                de já dispõe de estrutura física
                                                                                e algumas cabeças de gado foram
com uma declaração de seu pai.           sem abrir mão da propriedade e,        compradas. Denise conta também
Na ocasião, ele confessou estar          melhor ainda, trabalhar com mais       com o apoio de parceiros como a
preocupado com a sucessão na             qualidade de vida.                     Cooperativa Tritícola de Espumoso
propriedade, sediada no municí-          	 “Houve um período em que             (COTRIEL), a prefeitura muni-
pio gaúcho de Estrela Velha. Por         até pensei em desistir, pois tive      cipal de Estrela Velha e a Empresa
isso, ao tomar conhecimento do           dificuldades para elaborar o pro-      de Assistência Técnica e Extensão
PEJR, do Instituto Souza Cruz,           jeto de conclusão, mas ao longo        Rural (Emater-RS), que ofereceu à
não pensou duas vezes e estimu-          da formação consegui encontrar         jovem um curso de inseminação ar-
lou a filha a participar do curso        meu caminho com o apoio dos            tificial de gado, iniciado em junho.
de formação. “Até entrar ali, não        educadores. Fizemos viagens e          	 “Hoje tenho muito orgulho de
sabia que meus pais tinham esta          visitas técnicas a diferentes expe-    ser jovem agricultora e não vejo a
preocupação. Eles me incentiva-          riências de bovinocultura e me         hora de o projeto estar em pleno
ram bastante a encarar este novo         interessei bastante pelo tema. No      funcionamento. Sinto-me mais
desafio”, conta ela, que se for-         início, tive medo de apresentar a      responsável pela gestão da pro-
mou no ano passado.                      ideia aos meus pais, mas, quando       priedade, pois minha irmã mais
	 Antes de conhecer o PEJR,              falei sobre projeto, o incentivo foi   velha casou-se e a caçula ainda é
implementado no Vale do Rio              imediato”, comemora a jovem.           criança. De certa forma, já me
Pardo (RS) em parceria com               	 Agora, além do plantio de            sinto realizada, pois estou dando
o Cedejor, ela não tinha mui-            diferentes culturas como feijão,       continuidade ao trabalho que vem
ta perspectiva de permanecer no          mandioca, batata, soja e fumo,         sendo feito desde que meus bisa-
meio rural e já alimentava planos        os Lasch terão mais uma alter-         vós, imigrantes alemães, aqui che-
de morar na cidade. Porém, ao            nativa de renda. A proprieda-          garam”, emociona-se Denise.



                                                                                                   Instituto Souza Cruz   17
Presença Internacional



     Representantes de organiza-
     ções internacionais que de-
     senvolvem atividades com a
     juventude rural percorreram,
     entre os dias 8 e 16 de maio,
     diversas regiões na Colômbia
     para conhecer experiências de
     associativismo e empreende-
     dorismo comandadas pelos




                                                                                                                      Acervo Instituto Souza Cruz
     jovens rurais locais. Trata-se
     do programa de intercâmbio
     internacional Rotas de Apren-
     dizagem, realizado pela Cor-
     poração Regional Procasur, do
     Chile, em aliança com o Fundo             Andrea e Eliandro durante as atividades
     Internacional para o Desenvol-            da Rota de Aprendizagem na Colômbia
     vimento da Agricultura (FIDA),
     a Fundação Ford e o Ministério      nização do evento, foi o Insti-           Rural (PEJR). “Esta participa-
     da Agricultura e Desenvolvi-        tuto Souza Cruz, representado             ção reforça a nossa inserção em
     mento Agrícola da Colômbia.         por Andrea Guedes, assessora              uma rede de organizações in-
     	 A única instituição brasileira    de Comunicação, e Eliandro                ternacionais que são referência
     a marcar presença, com todas        Giongo, educador do Programa              na formação de jovens rurais”,
     as despesas custeadas pela orga-    Empreendedorismo do Jovem                 assinala Andrea.



     Na Alemanha
                                         rá o 25º Seminário Internacional          cipais encontros globais do
                                         para Lideranças Jovens Rurais,            gênero, o seminário se vale da
                                         entre os dias 12 e 28 de julho em         múltipla experiência dos parti-
                                         Herrsching (área rural próxima            cipantes para promover um in-
                                         de Munique). Única organização            tercâmbio de ideias e replicação
                                         brasileira a figurar no evento, o         de soluções. Líderes proativos,
                                         Instituto Souza Cruz foi convida-         com idade entre 25 e 45 anos,
                                         do por conta do projeto de coo-           serão enviados ao evento pe-
     Em parceria com a UNESCO e          peração internacional que desen-          las organizações internacionais
     a FAO, o governo alemão, por        volve em parceria com o Instituto         convidadas. O assessor de Co-
     meio de seu Ministério Federal de   Interamericano de Cooperação              municação, Guilherme Matto-
     Agricultura, Alimentação e Prote-   para a Agricultura (IICA).                so, vai representar o Instituto
     ção aos Consumidores, promove-         Considerado um dos prin-               Souza Cruz.



18   Sustentabilidade do Campo
MEU RURAL




Abelhas
bem-vindas
S    ou Everardo Alves Moreira, filho dos agriculto-
res Francisco, conhecido como Tenente, e Fátima.
Moro na comunidade de Lagoa das Pedras, distante
sete quilômetros do município de Apuiarés, que faz
parte do território Médio Curu, no interior do Ce-
                                                        Jovani Puntel
ará. Vivo com meus pais, meus irmãos, Erasmo e
Vanleide, e minha avó Maria.
	 Tenho 29 anos e trabalho na agricultura,
junto com minha família. Em nossa pequena                               minha família. Estudei somente até o 6º ano do
propriedade, desenvolvemos atividades ligadas a                         Ensino Fundamental, mas me considero um estu-
bovinos, ovinos, avicultura, apicultura e melipo-                       dioso destes insetos, pois desde muito cedo obser-
nicultura. Produzimos leite, mel, carne, milho,                         vo o comportamento deles.
feijão e jerimum para o sustento. O excedente é                         	 A apicultura sempre foi uma ocupação familiar,
comercializado, principalmente o mel. Para pre-                         porém não era vista como uma geradora de renda.
servar os recursos naturais, evitamos as queima-                        Minha família criava por criar, sem investir. Então,
das e o uso de agrotóxico. Fazemos, também,                             em 2006, após participar de um curso sobre apicul-
cobertura morta e compostagem.                                          tura ministrado pelo Fundo Estadual de Combate
	 A principal função que desenvolvo, pela qual                          à Pobreza (FECOP), resolvi investir mais na ativi-
sou “apaixonado” desde criança, é a criação de abe-                     dade. Ao me formar, recebi cinco colmeias e logo
lhas – a que, no momento, gera mais renda para a                        iniciei as atividades apícolas na propriedade.


 Referência no assunto
 No início, não tinha o apoio da fa-     cia de Desenvolvimento Econô-                modelo de caixas que estudei
 mília. Com o tempo, no entanto,         mico Local (Adel) proporcionou               lá. A uniformidade da produção
 fui ganhando espaço e confiança         muitas aprendizagens. Ali, adquiri           deles é muito interessante. Por
 para continuar desenvolvendo            conhecimento de novas técnicas               isso, quero formar um grupo
 este trabalho. Como é uma prá-          sobre organização comunitária e              de criadores de abelhas no mu-
 tica nova na minha região, che-         gestão da propriedade, além de               nicípio de Apuiarés e aumentar
 garam a me chamar de “louco”.           conhecer outras experiências na              a produção total. Quero ser um
 Agora, sou referência e estou am-       área. Tive oportunidade ainda de             dos maiores meliponicultores
 pliando a meliponicultura e a api-      participar de fóruns, congressos,            do Estado do Ceará.
 cultura para todos aqueles que          cursos e de um intercâmbio no
 me procuram pedindo ajuda. 	            Amazonas, a convite do Instituto
 	 Hoje já existe uma cooperativa        Souza Cruz.
 no território do Médio Curu, que        	 Esta viagem teve grande im-
 reúne cinco apicultores. Também         pacto em minha vida. Conheci
 na minha comunidade funda-              outras pessoas, lugares, a for-
 mos a Associação dos Criadores          ma como eles trabalham com a
 e Apicultores de Lagoa das Pedras       apicultura, a união das pessoas.
 e Adjacências, da qual sou presi-       No geral, aprendi muito sobre a
                                                                                                                               Jovani Puntel




 dente, e contamos com 23 sócios.        atividade da meliponicultura e,
 	 A minha participação na Agên-         hoje, estou implantando o novo



                                                                                                        Instituto Souza Cruz   19
Centenas de jovens de todo o Brasil
  debatendo sobre o meio rural




                                      Acervo Instituto Souza Cruz




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  • 1. Ano I – Número 02 – Junhode 2011 Julho de 2011 ISSN - 2236-2347 SUCESSÃO familiar Entrevista Maria Elenice Anastácio, da Contag: “A juventude rural está engajada na transformação da sua comunidade.”
  • 2. Nesta edição Capa 4 Com novas possibilidades de renda, jovens estão preferindo continuar na profissão dos pais 10 Debate 8 “Onde concentrar os esforços para a permanência do jovem no campo?”: Abdalaziz Moura e Kátia Abreu Entrevista 10 Maria Elenice Anastácio, secretária de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da Contag Boas Práticas 14 Amefa: método de ensino alia aulas na escola e comunidade MOC: desenvolvimento sustentável no semiárido baiano Jovens em Ação 16 As histórias de Marilice e Denise, jovens mulheres que já se preparam para a sucessão familiar Instituto em Foco 18 16 Instituto Souza Cruz representa o Brasil em eventos internacionais sobre juventude rural Meu Rural 19 O agricultor cearense Everardo Alves, 21 anos, 16 aumenta a renda familiar com a criação de abelhas Coordenação: Luiz André Soares SUSTENTABILIDADE DO CAMPO Publicação trimestral do Instituto Souza Cruz Jornalistas responsáveis: Julho/2011 - Tiragem: 2 mil exemplares Andrea Guedes (Mtb.28246 RJ) e Guilherme Mattoso (Mtb.26674) Rua da Candelária, 66 / 4º andar – Centro Projeto gráfico e produção editorial: Via Corporativa Comunicação (www.viacorporativa.com.br) CEP 20091-900 - Rio de Janeiro (RJ) Tel.: (21) 3849-9619 – Fax: (21) 3849-9778 Foto de capa: Jovani Puntel institutosouzacruz@institutosouzacruz.org.br Os conceitos emitidos nos artigos e matérias assinadas são de responsabilidade www.institutosouzacruz.org.br dos autores, não refletindo, necessariamente, a opinião do Instituto Souza Cruz
  • 3. Novas gerações rurais D iante do leque atual e mais amplo de políticas direcionadas ao meio rural, muito tem sido discutido e repensado acerca das condições de permanência da juventude no campo. A dinamização econômica da agricultura familiar, processo ligado à diversificação das atividades rurais e à pluriatividade, é o principal trunfo para a formação de novas gerações rurais. Além de combinado com cultura e lazer, é consenso também que deve ser acompanhado por processos planejados de sucessão familiar, permitindo aos filhos e filhas a gestão adequada do patrimônio transferido por seus pais. Em sua segunda edição, Sustentabilidade do Campo debate a questão, ao mesmo tempo em que mostra famílias nas quais a continuidade da agricultura familiar é uma realidade. Em diferentes regiões brasileiras, o fomento ao empreendedorismo aparece como resposta às aspirações dos jovens rurais que desejam permanecer no campo, devidamente acompanhado da inovação. Rapazes e moças, hoje chamados a desenvolver novas habilidades e competências no campo, agregam novos conhecimentos e tecnologias aos saberes práticos das gerações anteriores, reforçando o papel-chave da educação contextualizada e de qualidade. Embora a questão da sucessão no campo seja mais visível na gestão das propriedades, é essencial discutir o papel da juventude em outras dimensões. A formação de quadros técnicos e institucionais nas organizações do campo, capazes de exercer papel de liderança, é também uma forte demanda. Discutir a sustentabilidade do campo, portanto, passa necessariamente por planejar a qualificação de pessoas e organizações no meio rural. Boa reflexão! Luiz André Soares Gerente do Instituto Souza Cruz
  • 4. CAPA Futuro no campo O processo sucessório no campo, diretamente relacionado à sustentabilidade da agricultura familiar, está cada vez mais inserido na dinâmica das pequenas propriedades e motiva os jovens a permanecer no meio rural C om a crescente dinamização das economias rurais, que fizeram aflorar novas possibilidades de renda, os jovens têm encontrado bons mo- tivos para permanecer nas propriedades familia- Andréia De Cézaro Morás res, dando continuidade à gestão de seus pais. Diego Salvador, 24 anos, é um deles. Apaixo- nado pelo cotidiano agrícola, ele comanda, ao lado do pai, Vilson Salvador, 59, e da mãe, Eny, 54, uma área de 12 alqueires localizada em Cor- Família Salvador: o filho Diego vai dar dilheira Alta, no Oeste de Santa Catarina, onde continuidade à gestão da propriedade cria vacas leiteiras e aves. “Eu me formei como técnico agrícola e vi que poderia aumentar a renda da propriedade se gaúchos – pretendem herdar a gestão dos esta- aplicasse aqui os conhecimentos que acumulei belecimentos. “Eles se queixam apenas de que o na escola”, conta Salvador, citando os cursos de pai posterga a decisão, e da persistência de uma inseminação artificial de animais bovinos e ges- certa cultura machista, que pretere as mulheres tão de propriedade como os seus preferidos. Se na hora de pensar a sucessão”, assinala ele. antes o estabelecimento produzia mensalmente Weisheimer observou também que a juven- apenas dois mil litros de leite, hoje a performan- tude nutre uma visão positiva do meio rural. ce quintuplicou. Seu lema “produzir mais com “O jovem passou cada vez mais a se identificar menos” tem funcionado. “Como o campo ofe- como agricultor familiar. Não é mais ‘colono’, rece qualidade de vida, quero permanecer. Só expressão que sugere espaço precário, rústico e iria para a cidade se fosse para ser dono de um atrasado”, afirma. negócio”, finaliza. O apreço pelo mundo rural não é novidade O valor do empreendedorismo para o professor e pesquisador Nilson Weishei- Se o gosto pela terra sempre esteve presente, o mer que, em sua tese de doutorado A Situação surgimento de novas oportunidades no campo Juvenil na Agricultura Familiar (2009), detectou reforçou a autoestima de quem ali vive. Esta que 70% dos entrevistados – jovens agricultores percepção faz parte do trabalho da Associação 4 Sustentabilidade do Campo
  • 5. Acervo Arcafar Sul Alunos das Casas Familiares Rurais aprendem técnicas agrícolas pelo método da Pedagogia da Alternância Regional das Casas Familiares Rurais do Sul do realizadas apontam que 85% dos formados nas Brasil (Arcafar Sul), que congrega 73 escolas dis- Casas Familiares Rurais permanecem no campo. tribuídas em 238 municípios no Sul do País. “O jovem precisa ficar por opção, e não ir para a As instituições de ensino ali reunidas utilizam cidade como exclusão”, assinala Dirce. como método educacional a Pedagogia da Alter- nância, que implica em revezamento de tempo Jovens protagonistas e espaço dos estudantes (filhos de agricultores) A Federação dos Trabalhadores na Agricultura entre a escola e a comunidade onde vivem. O Familiar da Região Sul do Brasil (Fetraf-Sul) curso de três anos, inserido no Ensino Médio, também atua no sentido de estimular a perma- entrelaça conteúdo exigido pelo MEC e discipli- nência do jovem no campo. Com duração de nas voltadas para a realidade do campo, ensinan- 400 horas, e aulas sobre valores humanos, edu- do técnicas agrícolas, apicultura, gestão, saúde e cação ambiental, inclusão digital e oficinas pro- agroecologia, entre outras matérias. fissionalizantes, o Consórcio Social da Juventude “Somando todas as regiões que abrangemos, Rural, executado pela Fetraf em parceria com o formamos quatro mil jovens por ano”, come- Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), qua- mora a engenheira agrônoma Dirce Slongo, lificou, em um único ano, mais de 700 jovens de assessora pedagógica da Arcafar Sul. Com o 16 a 24 anos, em 22 municípios do Paraná, de conhecimento adquirido, eles se tornam empre- Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. endedores e transformam a realidade nas comu- “O curso abriu oportunidades para que os nidades rurais. Um dos formados, por exemplo, jovens permanecessem na agricultura e con- investiu na fruticultura e ampliou a plantação tribuíssem para o desenvolvimento do setor”, de parreira, aumentando a renda do estabele- explica Jucimara Meotti Araldi, 26 anos, inte- cimento. Outro, na cidade de Iporã do Oeste grante do Coletivo da Juventude da Fetraf-Sul. (SC), abriu uma agroindústria de empacotamen- Outro programa, já finalizado, Terra Solidária, to de leite e o negócio prosperou de tal forma voltou-se para jovens que vivem na agricultu- que motivou o retorno de um irmão que vivia ra familiar. O conteúdo deu ênfase à formação na cidade. Em Manfrinópolis (PR), um grupo política de militantes sindicais, capacitação pro- se juntou para construir trilhas para caminhada fissional e escolarização. “A juventude está en- ecológica dentro da propriedade, caracterizado tusiasmada porque passou a entender que pode como investimento em turismo rural. Pesquisas ser protagonista”, festeja. Instituto Souza Cruz 5
  • 6. CAPA Jucimara Araldi, da Fetraf-Sul (à dir.), ao lado de Cátia Gross, do Sindicato de Palmeiras (PR), na luta pela conscientização dos jovens Programas específicos Projetos como o da Arcafar Sul e políticas pú- blicas desencadeadas pelo Governo Federal estão qualificando a vida no campo. A atividade agrícola Acervo Fetraf-Sul hoje é um negócio que requer alta especialização e uso de tecnologia específica. Ações afirmativas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar Jovem (Pronaf-Jovem), linha de financiamento de até R$ 10 mil para Paulo César Giordan, 38 anos, é um dos exem- investimento em atividades produtivas, buscam plos de agricultor que preferiu fazer cursos técni- contribuir para tornar o campo mais atrativo. cos específicos, como os de manejo de ordenha e Outras iniciativas também procuram valorizar pastagem, e permanecer trabalhando no estabele- este setor de importância estratégica para o País. cimento rural. Ele potencializou a renda familiar O Programa Nossa Primeira Terra, por exem- ao implementar no local tudo o que aprendeu. O plo, é uma linha especial de financiamento com resultado é visível. A propriedade de 12 alquei- o intuito de atender a demanda de jovens sem- res no município catarinense de Cordiheira Alta, -terra ou filhos de agricultores, na faixa etária de que administra com o pai, José Jacob Giordan, 18 a 24 anos, que desejam permanecer no meio 61, produz por mês seis mil litros de leite – eles rural e investir em uma propriedade. Vinculado se dedicam ainda ao cultivo de frutas, hortaliças e ao Ministério da Educação, o ProJovem Campo feijão, além de criar peru de corte. incentiva agricultores familiares de 18 a 29 anos “A gente já desenvolvia a atividade, mas só de- a concluírem o Ensino Fundamental, elevando a pois de aplicar novas técnicas e métodos é que o sua escolaridade e proporcionando a qualificação negócio prosperou. A partir da nossa experiên- profissional de acordo com as especificidades do cia, muitos jovens da região decidiram investir na campo. O curso, de 24 meses, é ministrado con- criação de vacas. Atualmente, 90% das proprieda- forme a alternância dos ciclos agrícolas, respei- des produzem leite”, festeja Giordan, casado com tando-se o período em que os alunos trabalham Adriane, 34, filha de agricultores, que trabalhava no campo. Em 2010, o programa atendeu cerca como doméstica e decidiu voltar para o campo. de 63 mil jovens. Em linhas gerais, com aporte de mais recur- sos financeiros e tecnológicos no campo, além de programas específicos de capacitação técnica e A realidade da educacional, a maior parte dos jovens ainda pre- fere continuar na agricultura familiar, sucedendo agricultura familiar os pais numa atividade responsável pela produção de 70% dos alimentos no Brasil e por 10% do 4,3 milhões de estabelecimentos Produto Interno Bruto (PIB). agrícolas (84,4% do total) José Jacob Giordan (pai) e Paulo César Giordan: prosperidade no campo 24,3% da área agrícola 40% da riqueza agropecuária 12,3 milhões de trabalhadores rurais 74,4% da mão de obra da agricultura brasileira 18,3 hectares é o tamanho médio das propriedades Andréia De Cézaro Morás 82% dos produtores têm Ensino Fundamental incompleto Fonte: Censo Agropecuário 2006 6 Sustentabilidade do Campo
  • 7. Outro cenário A pesar de se constituir em opção majoritária entre os ral de Santa Catarina (UFSC), os filhos dos agricul- jovens, a atividade agrícola, no Oeste de Santa Cata- tores devem ser motivados a permanecer no cam- rina, não seduz uma parte considerável de rapazes e, po desde a infância. “Não iremos conter o êxodo especialmente, de moças – 43% delas desejavam tra- de parte da juventude se não incluirmos as crian- balhar e residir na cidade por avaliarem a ocupação ças na análise, pesquisas e ações afirmativas. Elas no campo como fisicamente penosa, de baixa renda são portas de entrada das mudanças em curso nas e, normalmente, sentirem-se preteridas na hora da su- comunidades rurais”, ensina o acadêmico, atual- cessão. A conclusão consta de dois estudos produzi- mente cursando pós-doutorado em Sociologia da dos naquela região, em 1998 e 2001, por pesquisado- Infância, no Instituto de Educação da Universidade res da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão do Minho, em Portugal. Rural de Santa Catarina (Epagri). Doutor em Sociologia e professor da Universidade “Com a saída das mulheres para outras atividades, a Federal de Santa Maria (RS), Joel Orlando Bevilaqua população rural está envelhecendo e o campo se mas- Marin assinala que a juventude rural de hoje está sub- culinizando”, diagnostica Clóvis Dorigon, pesquisador metida a fatores que podem contribuir, no mínimo, do Centro de Pesquisa para Agricultura Familiar (Ce- para gerar questionamentos sobre se vale a pena se- paf), do Epagri de Chapecó (SC). “Se o estabelecimen- guir a profissão dos pais. to não tiver sucessor, corre o risco de ser vendido para “Alguns jovens hoje se interessam também pelas investidores urbanos, os chamados neorrurais, interes- ocupações assalariadas ligadas à prestação de servi- sados em substituir as atividades executadas ali pela ços, ao comércio e à indústria. Além disso, com a am- pecuária de corte ou reflorestamento, com graves con- pliação da rede de ensino, estudar ficou mais fácil. As sequências no restante da economia da região”, alerta. vias de transporte melhoraram bastante, o que permi- A questão agora, segundo o pesquisador Milton te deslocamentos mais rápidos. Por sua vez, os meios Silvestro, também do Cepaf, é identificar quem serão de comunicação retratam novos modelos e estilos os responsáveis pela gestão da agricultura daqui para de vida. Por último, a saturação da fronteira agrícola frente. Ele sugere algumas medidas. Uma delas, criar restringe a possibilidade de aquisição de novas terras. políticas focadas para agricultores de 25 a 35 anos de Conjugados, todos esses aspectos podem estimular a idade, um contingente sem alternativas a não ser assu- saída deles da propriedade rural”, avalia Marin. mir o estabelecimento dos pais, muitas vezes de baixa O campo, segundo os acadêmicos, deve ser en- rentabilidade. Outra, instituir um reordenamento fun- carado como um ambiente com vida comunitária, diário, que evite a transformação de terras sem suces- gerador de conhecimentos e habilidades especiais sores em sítios de lazer ou pecuária extensiva. que não podem ser desqualificados. Como sinteti- Na opinião de Valmir Stropasolas, professor do za Dorigon, “trata-se de um patrimônio valioso a ser Centro de Ciências Agrárias da Universidade Fede preservado e não isolado.” (Da esq. para a dir.) Dorigon, Silvestro e Marin: necessidade de políticas focadas aos jovens Ademir Júnior Ademir Júnior Juliano Mendes Instituto Souza Cruz 7
  • 8. DEBATE Onde concentrar os esforços para a permanência do jovem no campo? Especialistas apresentam diferentes caminhos N a minha experiência de mais de 40 anos de vida profissional, atuando no campo com agri- - Fulano é do sítio, mas é um rapaz inteligente! Desconstruir e reconstruir outras concepções cultores familiares, assentados, assalariados, pro- sobre a agricultura e o campo torna-se uma tarefa fessoras e jovens, a maior dificuldade que tenho árdua. É como se tivesse de enfrentar e confrontar encontrado não é nada externo a eles. Não é a o que se ensina na escola, o que os pais passam para falta de dinheiro, tecnologia, terra, água, traba- os filhos, remar contra a maré, agir contra o óbvio, lho e mercado que restringe a participação da a cultura, o normal, o lógico. Quem tenta recriar juventude na agricultura familiar ou sua perma- outras concepções fica parecendo uma pessoa ro- nência no campo. Mas, sim, algo intangível, in- mântica, corajosa, diferente, capaz de fazer frente às terno, presente na cultura do seu entorno, da evidências, porém, muito idealista porque alimenta família, da escola, no inconsciente coletivo da sonhos impossíveis. sociedade, que fica determinando o comporta- A questão não é se o jovem deve permanecer no mento, as atitudes e as concepções dos jovens. campo ou não. Ele pode sair ou ficar, é direito dele Ao menos no Nordeste, a realidade é assim. Há fazer a opção. Mas é com quais referenciais ele faz um preconceito enraizado expresso em frases suas escolhas, pensando o quê a respeito do campo, desse tipo: do seu lugar, de sua família. Se suas concepções são -Estuda menino, porque senão tu vais ficar no herdadas da cultura vigente, da família e da escola, cabo da enxada feito teu pai! aí reside o problema. - Minha nora é do sítio, mas é uma menina limpa! Para mudar essa situação, a concentração dos esforços está em descobrir outro campo e outra maneira de olhar para ele. É tarefa dos movimentos sociais do meio rural, da escola, da universidade, de instituições envolvidas e, sobretudo, dos próprios jovens que moram e trabalham lá. É imprescindível o papel de uma legítima educação e uma assistên- cia técnica que visualize a descoberta de um campo belo, agradável, saudável, sustentável, impregnado de cultura e pleno de vida. Abdalaziz de Moura Xavier de Moraes 70 anos, é filósofo, teólogo, educador popular e autor da Proposta Educacional de Apoio ao Desenvolvimento Sustentável (Peads) para as escolas públicas do campo, além de integrante Acervo Instituto Souza Cruz da equipe de educadores do Serviço de Tecnologia Alternativa (Serta), em Pernambuco. Tem um blog especializado em educação no campo (www.mouraserta.blogspot.com). 8 Sustentabilidade do Campo
  • 9. para a sucessão da juventude rural Kátia Abreu 49 anos, elegeu-se senadora em 2006 pelo DEM-TO) e é formada em Psicologia. Foi a primeira mulher a assumir a presidência da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), entidade que reúne os produ- tores de alimentos do País. Ex-dirigente do Sindicato Rural de Gurupi e da Federação da OBritoNews Agricultura do Tocantins, exerceu mandato de deputada federal de 2000 a 2006. N o empreendedorismo. O jovem que vive no campo não tem educação de qualidade, lazer ou juntos, compatibilizando a ânsia de evolução e crescimento do jovem com a experiência e o acesso à moradia. O Estado os esqueceu e a cida- conhecimento empírico do pai. Não há dúvida de se torna a única saída para quem sonha com de que, quanto mais informação tiver, maiores uma vida sem tantas carências. Para que perma- serão as chances de o jovem fazer suas escolhas neçam no campo e se dediquem à atividade rural, livremente, sem ver na cidade a única possibili- é preciso oferecer oportunidades de crescimento dade de futuro. pessoal e profissional que respondam às suas ex- Queremos que os filhos dos nossos produtores pectativas. Ensinar a empreender é sempre uma tenham acesso à formação profissional sem pre- boa resposta para o jovem, que aspira inovar, cisarem, obrigatoriamente, migrar para a cidade. progredir e superar as dificuldades enfrentadas Por esse motivo, buscando compensar os vazios pela família no dia a dia da propriedade. E isso institucionais no campo, o Senar nacional está precisa começar cedo, muito antes dos 18 anos. montando um curso de nível médio para ado- Saber empreender e ter conhecimentos bási- lescentes e jovens que queiram especializar-se cos sobre gestão e diferenciais de mercado mu- na função de técnico agrícola, para valorizar e dou a rotina de muitos jovens, por exemplo, no preparar profissionalmente quem tem vocação e interior do Paraná. A administração regional do disposição para trabalhar no campo. Afinal, se- Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Se- gundo dados do Instituto Brasileiro de Geo- nar) criou o programa Jovem Agricultor Apren- grafia e Estatística (IBGE), de 1940 para cá o diz para os filhos de pequenos e médios pro- percentual de brasileiros, homens e mulheres que dutores rurais da região. Estimulados, os jovens vivem na área rural, caiu de 69% para 16%. Se não debatem os novos conteúdos com a família e oferecermos aos jovens que ainda estão no campo sugerem soluções para o negócio, gerando mui- a chance de crescer empreendendo, certamente so- tas vezes ganhos de renda e qualidade de vida. brarão poucos para continuar produzindo alimen- Empreendedorismo e sucessão passam a andar tos e abastecendo as cidades. Instituto Souza Cruz 9
  • 10. Maria Elenice Anastácio Secretária de Jovens Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais da César Ramos Voz ativa dos Jovens A vocação para a liderança e o despertar de um forte sentimento de preocupação social – Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado do Rio Grande do Norte (Fetarn). fruto do precoce gosto pela leitura – constru- Ela também foi eleita, pela segunda vez, membro íram uma das principais lideranças jovens dos da Comissão Executiva da Confederação Nacio- agricultores brasileiros. Aos 31 anos, nordes- nal dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), tina e filha de trabalhadores rurais sem-terra, onde atualmente assume a Secretaria de Jovens Maria Elenice Anastácio começou a trabalhar Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais. na roça com 10 ano de idade. Com a sabedoria de quem conheceu de per- Duas décadas depois, ela acumula a experi- to as dificuldades enfrentadas no campo, Maria ência de já ter sido secretária e presidente do Elenice fala da sua trajetória e das perspectivas Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhado- para a atual e para as futuras gerações de filhos ras Rurais (STTR) de Monte das Gameleiras de agricultores: “A juventude rural está cada vez (RN), coordenadora do Polo Sindical de Trai- mais engajada na transformação da sua comuni- ri (CE) e da Comissão Estadual de Jovens da dade e mais consciente do seu papel histórico”. 10 Sustentabilidade do Campo
  • 11. Contag Comecei lutando pelo direito a es- Éramos invisíveis diante da socie- Você iniciou tudar. O meu pai é analfabeto e Como era a dade, governos e sindicatos, apenas cedo sua a minha mãe estudou só até a 4ª sua realidade vistos como filhos de agricultores, militância série do Ensino Fundamental. Sou e a de outros e não como jovens agricultores. pela causa da a mais velha dos sete filhos (cinco jovens Tínhamos acesso restrito às políti- juventude. mulheres e dois homens). Apenas agricultores? cas públicas. Isso significava baixa O que motivou três mulheres conseguiram concluir escolaridade, alto índice de analfa- essa luta? o Ensino Médio. Aos 15 anos in- betismo, pouco incentivo à geração gressei na Juventude Unida Game- de renda e ao acesso às novas tec- leirense (JUG). A nossa luta era pelo nologias para a produção agrícola acesso à educação, ao esporte e ao e não agrícola, além de inexistência lazer. Aos 16 anos fui convidada de políticas de estímulo ao espor- a participar do Sindicato dos Tra- te, lazer e cultura no campo. Não balhadores e Trabalhadoras Rurais existiam programas específicos para (STTR) de Monte das Gameleiras a juventude rural. Com o início (RN), ao qual me associei e logo do governo Lula, propusemos a depois fui eleita para duas gestões criação de projetos para o jovem como secretária, e outra como pre- do campo, de acesso à terra pelo sidente. Também coordenei o Polo Programa Nacional de Crédito Sindical de Trairi (CE), composto Fundiário – Nossa Primeira Terra e por 16 sindicatos. ao crédito pelo Pronaf Jovem, de qualificação pelo Consórcio Social De fato. Fui a primeira mulher e da Juventude Rural. Não é uma jovem presidente da região. Em trajetória 1999, criamos na Federação dos São aquelas que dizem respeito à Como comum Trabalhadores na Agricultura do proposição e negociação de polí- secretária de de uma Rio Grande do Norte (Fetarn) a ticas públicas e sindicais, a partir jovens em adolescente... primeira Comissão Estadual Provi- da concepção do desenvolvimento sória de Jovens Rurais. Em 2002, um órgão rural sustentável e solidário. Atu- elegemos a Comissão Estadual de sindicalista, amos para garantir visibilidade à Jovens Trabalhadores e Trabalha- quais são identidade e demandas juvenis, doras Rurais na Fetarn (CEJTTR). as suas afirmando os (as) jovens rurais Fui a primeira jovem eleita como prioridades? como segmento estratégico para coordenadora. Em 2005, ganhei a ocupar lugares públicos e políticos eleição no Congresso Nacional da Contag para ocupar a Coordena- ção Nacional de Jovens, e já estou na segunda gestão. A questão da sucessão familiar acaba sendo um problema de toda a sociedade porque o esvaziamento do campo implica no inchaço urbano” César Ramos Instituto Souza Cruz 11
  • 12. Maria Elenice Anastácio quando chegarem à fase adulta. capazes de pensar e implementar Essa concepção precisa ser revista políticas para os (as) jovens do para que possamos assegurar hoje campo, respeitando suas identida- acesso aos direitos por parte dos des e contextos territoriais. Uma (as) jovens rurais, que estimulem vez criados, esses espaços devem sua permanência no campo e pro- dialogar com as organizações e movam o fortalecimento da agri- movimentos juvenis. cultura familiar. Por que o Há relação com o modelo de de- Na sua O governo tem promovido polí- campo está senvolvimento imposto, que tem ticas que respondem às demandas cada vez mais favorecido o êxodo dos jovens opinião, da juventude rural, principalmen- masculinizado? mais escolarizados e deixado na o Brasil te as que tratam de programas de agricultura os de menor escolari- avançou nas crédito, da formação e da geração dade. Nesse contexto, pesquisas políticas de renda e trabalho no âmbito da mostram que quem sai primeiro sociais para agricultura. Contudo, ainda falta são as jovens mulheres, deixando a juventude muito para que a juventude pos- o campo cada vez mais masculi- no campo? sa ficar no campo com dignidade. nizado e envelhecido. Embora a Temos problemas estruturais no saída não seja garantia de sucesso, que diz respeito à educação, saúde, a juventude prefere se arriscar ao transporte, acesso à terra, esporte, observar as poucas oportunidades cultura e lazer. São problemas que de desenvolvimento profissional têm motivado a saída de milhares de no meio rural. jovens do campo e, em especial, da agricultura familiar. No Rio É importante considerar que esse Grande do “desinteresse” não surge de for- De maneira geral, as políticas pú- Sul, 30% dos ma natural, mas como reflexo das O que ainda blicas enxergam os (as) jovens agricultores relações desiguais estabelecidas no falta para mais como um problema social e campo. A questão da sucessão fa- atender as não tem menos como sujeitos com direitos, miliar acaba sendo um problema demandas sucessores. importantes para construir um de toda a sociedade porque o es- dessa Como esse País justo, sustentável e forte. O vaziamento do campo implica no juventude? desafio é Pronaf Jovem, por exemplo, es- inchaço urbano. O que estamos enfrentado tabelece critérios adicionais para a vendo hoje no Brasil não é só a saí- juventude, ou seja, somente os jo- pela Contag? da da juventude do meio rural, mas vens precisam comprovar 100 ho- da família, o que implica no perigo ras de capacitação, além de outras da falência da agricultura familiar. exigências, tratando-os como be- O Movimento Sindical de Traba- neficiários de risco. Há uma série lhadores e Trabalhadoras Rurais de programas para a juventude ru- (MSTTR) atua para denunciar essa ral, mas as políticas estruturantes realidade, por meio de processos de nas áreas de educação e saúde, por negociação de propostas e de gran- exemplo, ainda são bem precá- des mobilizações políticas, como o rias. É preciso criar ainda instâncias Grito da Terra Brasil. Os jovens não são um problema social, mas sujeitos com direitos, importantes para construir um País justo, sustentável e forte” 12 Sustentabilidade do Campo
  • 13. Muito. Realizamos um processo Os resultados de educação à distância, via inter- são net, chamado Programa Jovem animadores? Saber. Em seis anos de existência, já capacitou mais de 30 mil jovens nas temáticas de Desenvolvimento Rural Sustentável e Solidário, Po- líticas Públicas, Políticas Sindicais e Gestão da Agricultura Familiar. Também organizamos vários fes- tivais municipais, estaduais e na- cionais da Juventude Rural, que costumam mobilizar milhares de jovens para participar de ativida- des de qualificação, culturais e es- portivas. Como a A gente tenta mostrar a viabilida- Contag lida de da agricultura familiar, apre- com o fato sentando exemplos de jovens de que a agricultores bem-sucedidos na sua produção. Além disso, defen- própria demos os direitos da classe tra- família balhadora rural, demandando e incentiva monitorando as ações do Estado os filhos a com vistas a garantir à população deixarem o do campo os direitos que histori- campo? camente têm sido negados. É um esforço incansável para construir- mos um mundo rural sustentável e solidário. A ampliação e diversificação das O que há formas de organização da juven- de mais tude rural, em sindicatos e mo- interessante vimentos estudantis, grupos cul- acontecendo turais, cooperativas e associações. no campo A juventude está cada vez mais em relação engajada na transformação da sua ao jovem que comunidade e mais consciente do nele vive e seu papel histórico. Há experiên- trabalha? cias organizativas interessantes. Em Ouro Verde (MG), por exem- plo, a associação de jovens quilom- bolas é uma referência de organi- Fotos: César Ramos zação de produção e cidadania. Só não queremos que projetos assim sejam histórias isoladas, mas vivên- Em Plenária da Juventude Rural, Elenice coordena reunião cias possíveis para o conjunto da que reivindica melhores condições de vida nas áreas rurais juventude rural brasileira. Instituto Souza Cruz 13
  • 14. Jovens passam duas semanas na escola e a outra quinzena no campo, onde aplicam os conhecimentos adquiridos Acervo Amefa Uma escola diferente Associação mineira reúne instituições que incorporam método de ensino no qual o aluno se reveza entre a sala de aula e atividades práticas na comunidade U m modelo de escola diferente, que, junto com o Ensino Fundamental e Médio, desenvolve os alunos das EFAs têm aulas práticas nas quais aprendem a cultivar hortas e pomares, criar ani- uma formação integral e personalizada de jovens mais, entre outras atividades ligadas à agropecuá- trabalhadores rurais e suas famílias, em harmonia ria, além de noções de gerenciamento da proprie- com o meio ambiente. As Escolas Famílias Agrí- dade. “As matérias estão inseridas numa política colas (EFAs) adotam a Pedagogia da Alternância de geração de trabalho e renda, fortalecendo a como método educacional. Antes espalhadas e agricultura familiar, a agroecologia, a educação isoladas, essas instituições de ensino passaram a do campo, bem como a cultura popular, a so- integrar, em 1993, a Associação Mineira das Es- lidariedade e a sustentabilidade no meio rural”, colas Famílias Agrícolas (Amefa), sediada em Belo explica Gilmar de Souza Oliveira, 38 anos, há Horizonte e criada para este fim. Atualmente, quatro assessor pedagógico da Amefa. a entidade abriga 18 escolas e o número deverá Na Pedagogia da Alternância, que surgiu na aumentar com a inclusão de mais 30 em processo França em 1935 e foi implantada pela primeira de implantação em Minas Gerais. vez em uma escola brasileira em 1968 (Espírito Além das disciplinas do currículo tradicional, Santo) e em Minas Gerais em 1984, o aluno como matemática, português, geografia e história, permanece duas semanas em sistema de inter- nato na sede da EFA, e a outra quinzena do mês no meio em que vive. Ou seja, ele apren- Em uma das Escolas Famílias Agrícolas, de um conjunto de teorias e práticas na escola e alunos apreendem a cultivar hortas aplica, em seguida, o conhecimento assimilado na sua realidade socioprofissional. O curso se estende por quatro anos no Ensino Fundamental e pelos três do Ensino Médio. A criação da Amefa organizou essas experiên- cias pedagógicas visando não descaracterizá-las e preservar a filosofia, arregimentando apoios, financiamentos e convênios junto a entidades governamentais, não governamentais e associa- ções locais e regionais de Minas Gerais, e até do Exterior. “Queremos que essa importante pe- dagogia aplicada no campo não perca sua iden- tidade e adquira representação política, garan- tindo que as famílias agricultoras, estudantes e educadores estejam à frente na gestão dos projetos. Depois do surgimento da entidade, nenhuma escola que seguiu as suas orientações Acervo Amefa fechou”, comemora Gilmar. 14 Sustentabilidade do Campo
  • 15. Givaldo do Carmo Souza Laudécio Carneiro da Silva Acervo Instituto Souza Cruz Exercício da cidadania No semiárido baiano, o Movimento de Organização Comunitária promove o desenvolvimento integral e sustentável da região, e forma a juventude para ser protagonista deste processo C om sede na cidade de Feira de Santana, o Movimento de Organização Comunitária Já o Programa de Gênero encoraja a militân- cia ativa das mulheres no contexto sociopolítico (MOC) nasceu em 1967 e está revolucionando local, como forma de promover a igualdade de toda uma região. Atuando em mais de 60 mu- direitos entre os sexos. Por sua vez, o Programa nicípios da Bahia, a entidade promove uma série de Direitos das Crianças e Adolescentes potencia- de ações estratégicas para o desenvolvimento in- liza a criação de organizações juvenis. “Queremos tegral, participativo e ecologicamente sustentável fomentar alternativas e perspectivas para que a ju- daquela área. Como assinala o pedagogo Givaldo ventude continue no meio rural com dignidade, do Carmo Souza, 25 anos, as iniciativas têm o in- renda e sustentabilidade”, conta Souza. tuito de formar lideranças e turbinar as organiza- O trabalho do MOC, na opinião do coordena- ções e instituições populares. dor, ajuda não só a redemocratizar a região, como “A ONG trabalha no sentido de formar cida- incita o conhecimento e o exercício dos direitos da dãos para interferir ativamente em espaços públi- cidadania. A partir desse momento, o jovem do cos e institucionais como associações, sindicatos e campo passa a ter condições de lutar por uma so- conselhos”, explica ele, coordenador da Equipe de ciedade mais justa e igualitária. “Antes, a juventude Juventude, que estimula o empreendedorismo e o era mais passiva, não interferia, cobrava ou apresen- exercício de uma visão crítica da realidade por parte tava propostas”, avalia Souza, que conclui: “Hoje, dos jovens. Foi por meio desse processo formativo, ela faz parte da vida e da pauta política da sua co- aliás, que o estudante Laudécio Carneiro da Silva, munidade, no papel de protagonista”. 21 anos, prestou vestibular e passou em primeiro lugar no curso de Comunicação Social da Uni- versidade Estadual da Bahia. “Os jovens rurais Com a parceria do Instituto Souza Cruz, o MOC estão construindo seus projetos de vida, sendo formou, em junho, 31 jovens no Programa reconhecidos e valorizados”, orgulha-se Souza, Empreendedorismo do Jovem Rural (PEJR). Os filho de pequenos agricultores do município novos agentes estão contribuindo para o forta- baiano de Santaluz. lecimento da agricultura familiar no território do A grade de programas específicos da institui- Sisal, por meio da implantação dos projetos em- ção tem sido responsável pela transformação das preendedores, cujos temas abrangem fruticultura, comunidades abrangidas pelo MOC. O Programa apicultura, acesso a políticas públicas, entre Fortalecimento da Agricultura Familiar no Semiári- outros. Nesta etapa de aplicação prática, todos do, por exemplo, busca viabilizar processos e ações continuarão sendo assistidos pelos educadores de assistência técnica, crédito, beneficiamento da do programa. produção e comercialização. Com ênfase na demo- “Esses jovens vão fazer a diferença nas institu- cratização da mensagem, o Programa de Comuni- ições, nas famílias, nas propriedades e serão ci- cação promove o fortalecimento da comunicação dadãos com perspectiva de permanência no nos territórios rurais, capacitando rádios comunitá- campo com sustentabilidade, renda e cidadania”, rias e jovens comunicadores. conclui Souza. Instituto Souza Cruz 15
  • 16. JOVENS EM AÇÃO Elas são as sucessoras Visão de futuro e boa gestão da propriedade ampliam perspectivas para jovens mulheres no campo M arilice Pracer, de 24 anos, poderia ter engrossado as esta- “No momento da elaboração do projeto de empreendedorismo, tísticas de jovens que deixam o exigido para a conclusão do pro- campo em busca de alternativas grama, vi com a minha família o de ocupação na cidade. A falta de que era mais viável para a proprie- interesse pelo meio rural, aliada à dade. Como o município está inje- questão da sucessão da terra, se- tando mais recursos na produção riam motivos fortes para a evasão. de leite, optei por esse caminho”, Ao mirar o futuro, no entanto, ela explica Marilice, que participou do acabou mudando a sua história. PEJR no Centro de Desenvolvi- Ela vive com cinco irmãos, a mento do Jovem Rural (Cedejor) mãe e um sobrinho numa pro- Centro-Sul do Paraná. priedade de quatro hectares na Atualmente, queijos e mantei- pequena cidade paranaense de gas, oriundos do beneficiamento, Paulo Frontin. Todos trabalham são apenas para o consumo da na produção agrícola, que abran- família. Ela, no entanto, quer ir ge leite, milho, feijão, erva-mate e além. Em seu pedaço de terra, pre- fumo. Os produtos são comercia- tende montar uma agroindústria e lizados no município e nos arre- um estabelecimento para processar dores e a renda gerada é de toda a o leite. O objetivo é comercializar família que, conjuntamente, deci- a produção e, em consequência, de onde aplicar o dinheiro. aumentar a renda da família. Apesar do bom andamento dos A jovem liderança também já negócios, a questão da sucessão fa- articula a criação de uma coopera- miliar na propriedade era iminen- tiva mista de pequenos produtores te. A solução encontrada foi aces- em Paulo Frontin. “Eu corri atrás sar o programa Crédito Fundiário, e já temos 20 agricultores associa- do Governo Federal, para a com- dos. O CNPJ facilitará a venda dos Fotos: Jovani Puntel pra de mais terras. Hoje, todos os nossos produtos”, conta. integrantes têm um lote para tra- Cheia de perspectivas e entu- balhar. Com seus dois hectares, e siasmo, Marilice quer continuar o título de Agente de Desenvolvi- no campo, trabalhando na agricul- Empreendedora, Marilice mento Rural obtido pela formação tura, assim como todos os seus ir- pretende montar uma no Programa Empreendedorismo mãos. “Eu era uma jovem que não agroindústria e um do Jovem Rural (PEJR), Marilice tinha muito interesse pelas coisas. estabelecimento para passou a enxergar no campo um Agora sei que, se a gente quiser processar o leite mundo de possibilidades. algo e for à luta, tudo é possível.” 16 Sustentabilidade do Campo
  • 17. A jovem agricultora Denise decidiu continuar no campo após implementar na propriedade o que aprendeu sobre criação de bovinos Fotos: Jovani Puntel D ois anos atrás, Denise Las- ch, 20 anos, surpreendeu-se ingressar no programa, descobriu que poderia continuar no campo de já dispõe de estrutura física e algumas cabeças de gado foram com uma declaração de seu pai. sem abrir mão da propriedade e, compradas. Denise conta também Na ocasião, ele confessou estar melhor ainda, trabalhar com mais com o apoio de parceiros como a preocupado com a sucessão na qualidade de vida. Cooperativa Tritícola de Espumoso propriedade, sediada no municí- “Houve um período em que (COTRIEL), a prefeitura muni- pio gaúcho de Estrela Velha. Por até pensei em desistir, pois tive cipal de Estrela Velha e a Empresa isso, ao tomar conhecimento do dificuldades para elaborar o pro- de Assistência Técnica e Extensão PEJR, do Instituto Souza Cruz, jeto de conclusão, mas ao longo Rural (Emater-RS), que ofereceu à não pensou duas vezes e estimu- da formação consegui encontrar jovem um curso de inseminação ar- lou a filha a participar do curso meu caminho com o apoio dos tificial de gado, iniciado em junho. de formação. “Até entrar ali, não educadores. Fizemos viagens e “Hoje tenho muito orgulho de sabia que meus pais tinham esta visitas técnicas a diferentes expe- ser jovem agricultora e não vejo a preocupação. Eles me incentiva- riências de bovinocultura e me hora de o projeto estar em pleno ram bastante a encarar este novo interessei bastante pelo tema. No funcionamento. Sinto-me mais desafio”, conta ela, que se for- início, tive medo de apresentar a responsável pela gestão da pro- mou no ano passado. ideia aos meus pais, mas, quando priedade, pois minha irmã mais Antes de conhecer o PEJR, falei sobre projeto, o incentivo foi velha casou-se e a caçula ainda é implementado no Vale do Rio imediato”, comemora a jovem. criança. De certa forma, já me Pardo (RS) em parceria com Agora, além do plantio de sinto realizada, pois estou dando o Cedejor, ela não tinha mui- diferentes culturas como feijão, continuidade ao trabalho que vem ta perspectiva de permanecer no mandioca, batata, soja e fumo, sendo feito desde que meus bisa- meio rural e já alimentava planos os Lasch terão mais uma alter- vós, imigrantes alemães, aqui che- de morar na cidade. Porém, ao nativa de renda. A proprieda- garam”, emociona-se Denise. Instituto Souza Cruz 17
  • 18. Presença Internacional Representantes de organiza- ções internacionais que de- senvolvem atividades com a juventude rural percorreram, entre os dias 8 e 16 de maio, diversas regiões na Colômbia para conhecer experiências de associativismo e empreende- dorismo comandadas pelos Acervo Instituto Souza Cruz jovens rurais locais. Trata-se do programa de intercâmbio internacional Rotas de Apren- dizagem, realizado pela Cor- poração Regional Procasur, do Chile, em aliança com o Fundo Andrea e Eliandro durante as atividades Internacional para o Desenvol- da Rota de Aprendizagem na Colômbia vimento da Agricultura (FIDA), a Fundação Ford e o Ministério nização do evento, foi o Insti- Rural (PEJR). “Esta participa- da Agricultura e Desenvolvi- tuto Souza Cruz, representado ção reforça a nossa inserção em mento Agrícola da Colômbia. por Andrea Guedes, assessora uma rede de organizações in- A única instituição brasileira de Comunicação, e Eliandro ternacionais que são referência a marcar presença, com todas Giongo, educador do Programa na formação de jovens rurais”, as despesas custeadas pela orga- Empreendedorismo do Jovem assinala Andrea. Na Alemanha rá o 25º Seminário Internacional cipais encontros globais do para Lideranças Jovens Rurais, gênero, o seminário se vale da entre os dias 12 e 28 de julho em múltipla experiência dos parti- Herrsching (área rural próxima cipantes para promover um in- de Munique). Única organização tercâmbio de ideias e replicação brasileira a figurar no evento, o de soluções. Líderes proativos, Instituto Souza Cruz foi convida- com idade entre 25 e 45 anos, do por conta do projeto de coo- serão enviados ao evento pe- Em parceria com a UNESCO e peração internacional que desen- las organizações internacionais a FAO, o governo alemão, por volve em parceria com o Instituto convidadas. O assessor de Co- meio de seu Ministério Federal de Interamericano de Cooperação municação, Guilherme Matto- Agricultura, Alimentação e Prote- para a Agricultura (IICA). so, vai representar o Instituto ção aos Consumidores, promove- Considerado um dos prin- Souza Cruz. 18 Sustentabilidade do Campo
  • 19. MEU RURAL Abelhas bem-vindas S ou Everardo Alves Moreira, filho dos agriculto- res Francisco, conhecido como Tenente, e Fátima. Moro na comunidade de Lagoa das Pedras, distante sete quilômetros do município de Apuiarés, que faz parte do território Médio Curu, no interior do Ce- Jovani Puntel ará. Vivo com meus pais, meus irmãos, Erasmo e Vanleide, e minha avó Maria. Tenho 29 anos e trabalho na agricultura, junto com minha família. Em nossa pequena minha família. Estudei somente até o 6º ano do propriedade, desenvolvemos atividades ligadas a Ensino Fundamental, mas me considero um estu- bovinos, ovinos, avicultura, apicultura e melipo- dioso destes insetos, pois desde muito cedo obser- nicultura. Produzimos leite, mel, carne, milho, vo o comportamento deles. feijão e jerimum para o sustento. O excedente é A apicultura sempre foi uma ocupação familiar, comercializado, principalmente o mel. Para pre- porém não era vista como uma geradora de renda. servar os recursos naturais, evitamos as queima- Minha família criava por criar, sem investir. Então, das e o uso de agrotóxico. Fazemos, também, em 2006, após participar de um curso sobre apicul- cobertura morta e compostagem. tura ministrado pelo Fundo Estadual de Combate A principal função que desenvolvo, pela qual à Pobreza (FECOP), resolvi investir mais na ativi- sou “apaixonado” desde criança, é a criação de abe- dade. Ao me formar, recebi cinco colmeias e logo lhas – a que, no momento, gera mais renda para a iniciei as atividades apícolas na propriedade. Referência no assunto No início, não tinha o apoio da fa- cia de Desenvolvimento Econô- modelo de caixas que estudei mília. Com o tempo, no entanto, mico Local (Adel) proporcionou lá. A uniformidade da produção fui ganhando espaço e confiança muitas aprendizagens. Ali, adquiri deles é muito interessante. Por para continuar desenvolvendo conhecimento de novas técnicas isso, quero formar um grupo este trabalho. Como é uma prá- sobre organização comunitária e de criadores de abelhas no mu- tica nova na minha região, che- gestão da propriedade, além de nicípio de Apuiarés e aumentar garam a me chamar de “louco”. conhecer outras experiências na a produção total. Quero ser um Agora, sou referência e estou am- área. Tive oportunidade ainda de dos maiores meliponicultores pliando a meliponicultura e a api- participar de fóruns, congressos, do Estado do Ceará. cultura para todos aqueles que cursos e de um intercâmbio no me procuram pedindo ajuda. Amazonas, a convite do Instituto Hoje já existe uma cooperativa Souza Cruz. no território do Médio Curu, que Esta viagem teve grande im- reúne cinco apicultores. Também pacto em minha vida. Conheci na minha comunidade funda- outras pessoas, lugares, a for- mos a Associação dos Criadores ma como eles trabalham com a e Apicultores de Lagoa das Pedras apicultura, a união das pessoas. e Adjacências, da qual sou presi- No geral, aprendi muito sobre a Jovani Puntel dente, e contamos com 23 sócios. atividade da meliponicultura e, A minha participação na Agên- hoje, estou implantando o novo Instituto Souza Cruz 19
  • 20. Centenas de jovens de todo o Brasil debatendo sobre o meio rural Acervo Instituto Souza Cruz www.jovemrural.com.br