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A LUZ E A ESCURIDÃO
Leandro Vargas
2008
Parte 1: DESTINO
Para ela, a vida sempre foi como um parque de diversões. Aproveitava cada momento sem se
importar com o que viria a seguir. Até a hora em que sua irresponsabilidade lhe tirou algo de imenso valor.
Para ele, a vida era apenas o começo de uma longa jornada. Apesar da pouca idade, carregava em seus
ombros a missão de ajudar e dar conforto aos que já tinham cumprido parte da viagem e se sentiam sós por
alguma razão.
As vidas deles se cruzaram e estarão juntas para sempre.
Parte 2: A VISÃO
David acordou no meio da noite. Ao lado de sua cama, pairava um anjo. O garoto não parecia estar
surpreso.
- Oi. Você é o meu anjo da guarda? - perguntou David.
- Na verdade, não. Embora desejasse ter essa honra. Você é muito especial para todos os meus amigos e
eu.
- Como assim especial?
- Ora, você sabe. Que garoto de 12 anos consegue conversar com um anjo? Que garoto de 12 anos tem a
percepção de quem ou o que realmente sou? Você sempre viu coisas estranhas não é verdade?
- Sim. Você veio aqui só para me dizer isso?
- Não, eu vim para lhe prevenir. Até agora, você só teve contato com a parte "boa" de seu dom. Mas quanto
mais você o vivencia, mais ele se torna poderoso. E o poder não atrai somente coisas boas.
- Você está dizendo que eu irei ver coisas ruins?
- Sim. Ruins demais para uma criança, mesmo uma como você, suportar.
- Tem alguma maneira de você me ajudar? Você não pode fazer com que as visões vão embora?
- Não - respondeu o anjo, com certa tristeza no olhar - As coisas não funcionam assim. Eu só posso lhe
dizer para que você acredite em si mesmo quando "eles" chegarem.
- "Eles" podem me machucar?
- Não diretamente. Me desculpe, mas eu tenho de partir. Meus poderes têm um certo limite.
- Espere, qual é o seu nome? Você vai voltar?
- Sim, eu voltarei. Eu não tenho um nome.
Após dizer isso, a figura angelical que pairava sobre a cama de David desapareceu como num passe de
mágica.
O garoto, então, voltou a deitar-se e começou a pensar. Pensou sobre sua primeira visão. Ele tinha apenas
cinco anos quando viu Ariel. Ariel era sua prima, e tinha morrido um ano antes, vítima de um acidente de
carro. Ariel tinha somente quinze anos quando aconteceu o acidente.
David lembra que nem sequer se assustou quando viu a bela e iluminada imagem de Ariel surgir na sua
frente, enquanto ele brincava numa pracinha.
Os lábios dela se mexiam mas David não conseguia ouvir nenhuma palavra. Mesmo assim, a paz e a
alegria que ela transmitia eram tamanhas que até hoje continuam a acompanhá-lo.
Será que agora tudo mudará? As visões virão acompanhadas de dor e de sofrimento?
David não sabe as respostas. Ele só sabe que a partir de agora, sua vida vai mudar muito, e possivelmente
para pior.
Parte 3: A LUZ DAS FADAS
- Mamãe, fadas existem?
Ao ouvir a pergunta de seu filho, ela sorriu. "Isso é coisa que ele viu na TV", ela pensou.
- Não, meu filho, as fadas são apenas personagens de livros ou de filmes. Se você se comportar, à noite eu
vou contar uma bela história para você, tá bom?
- Mas mãe, é que um garoto na escola falou que se você for inocente e ficar acordado esperando por elas
do fundo do coração, elas vão aparecer e iluminar tudo com suas asas mágicas.
- É mesmo? Quem disse isso?
- Foi um garoto mais velho, o David.
- Filho! Você não deve acreditar em tudo que lhe contam. Você confia na mamãe?
- Sim!!!
- Então não perca seu sono, pois nenhuma fada irá lhe fazer visitas. Está bom? Você promete?
- Tá, eu prometo!
- Então agora vá lavar as mãos, que eu já vou lhe dar a janta.
***
Após acabar de jantar, o menino foi ver porque sua mãe havia comido tão rápido e ido para o quarto mudar
de roupa.
- Você vai sair, mãe?
- Sim, meu filho. Eu vou visitar a sua tia, que está doente e pediu para eu ir lá levar alguns remédios.
- Você vai demorar? Eu não gosto de ficar sozinho.
- Você já é bem grandinho, não? Eu vou num pé e volto noutro. só vou levar uma meia-horinha.
- Tá bom. Me trás bala quando voltar?
- É claro. Dá um beijinho. Não abre a porta pra ninguém. Eu vou levar a chave. Ah! Se seu pai ligar, diz que
tudo está bem e que eu fui na casa da titia.
- Por que o papai fica sempre trabalhando à noite?
- Você sabe. É pra fazer mais dinheiro e pra comprar uma casa maior para a gente morar, principalmente
quando você ganhar irmãozinhos. Agora eu tenho que sair, antes que fique muito tarde. Tchau!
***
O menino não gostava de ficar sozinho e, desta vez, resolveu ficar esperando sua mãe, olhando pela janela.
Já estava cansado de ver TV e brincar com seus carrinhos.
Foi quando viu. Sua mãe chegou de carro junto com o vizinho. Eles, então, desceram do carro e se
despediram com um beijo na boca.
Era um beijo diferente dos que ela dava em seu pai. Ao ver aquilo, todo o carinho que ela dava a um
estranho, o menino chorou.
- Você ainda está acordado? Vem cá me dar um abraço.
- Como vai a titia? - perguntou o menino, já nos braços da mãe.
- Vai bem melhor, ela te mandou um beijo. O papai ligou? Você não sabe como eu estou com saudades
dele.
Neste noite, o menino ficou esperando pela luz das fadas. Só essa luz poderia curar seu triste coração.
Elas, entretanto, jamais apareceram.
Parte 4: A PAZ
Eu o vejo! Sim, eu posso vê-lo! Após tanto tempo, já havia esquecido como as pessoas são bonitas.
Queria tanto poder dizer tudo que ainda me angústia. Mesmo aqui, porque ainda dói tanto? Eu pensei que
as coisas ruins ficariam para trás... Mas não! Nada mudou. Porque as palavras não alcançam o garoto?
Porque vir até aqui, se não posso compartilhar tudo o que sinto? Foi tão difícil atravessar a fronteira... Será
este mais um erro que cometi? Como foi um erro ter saído de casa quando as coisas ficaram complicadas.
Como foi um erro não ter dado atenção àqueles que me amavam. Como foi um erro ter puxado o gatilho.
Não... não pode ser um erro. Espere, eu posso ouví-lo. Eu posso ouví-lo!
- Qual é o seu nome?
Meu nome? Isso é horrível, mas não me lembro mais. Como será que ele consegue me entender? Sua
expressão é tão serena. Talvez ele possa sentir meus pensamentos.
- Porque você veio até mim?
Porque ainda não alcancei a paz que tanto desejava. Eu abandonei minha família justamente no momento
em que eles mais precisavam de mim. Ainda em vida, eu me arrependi de tudo que fiz, mas não tive
coragem de encarar meus erros. Preferi fugir.
- Você já cansou de fugir?
Sim... acho que sim.
- Então vá até seus entes queridos e diga a eles tudo que lhe atormenta.
Mas eles não irão ouvir.
- É verdade, mas irão sentir. Irão entender. Terão seus corações aquecidos por todas as coisas que você
lhes transmitir. Assim como você, eles encontrarão a paz.
Quantos anos você tem? Como pode ser tão lúcido e saber tanto sobre a alma humana?
- Eu apenas sei.
Tenho que partir agora. Obrigado por me confortar. Queria poder fazer algo para lhe retribuir.
- Você fará, assim que encontrar-se com seus familiares.
Eles estavam certos. O garoto me ajudou a enxergar o que há muito tempo eu já não conseguia ver. É
incrível, é impressionante como é difícil abrir os olhos e conseguir sair do inferno que nós mesmos criamos
para nos escondermos. Foi assim durante minha vida, foi assim durante minha morte. Mas chega!!!
Confortarei aqueles que amo e finalmente poderei encontrar a paz que tanto procurei. Sim, Lucas, você
finalmente irá encontrar a paz. Sim, finalmente...
Em seu quarto, o pequeno David demorou para pegar no sono naquela noite. Ele imaginou como será difícil
trilhar os caminhos que o conduzirão à paz."
Parte 5: ESCURIDÃO
Nunca gostei do silêncio.
E nem do escuro.
É quando tudo fica silencioso e sombrio que as coisas más costumam acontecer.
Como ontem, por exemplo.
Faltou luz logo após o jantar.
Após isso, uma forte chuva começou a cair e se estendeu madrugada adentro.
Fui para meu quarto e fiquei quieto, imóvel, esperando pelo sono ou pelo retorno da energia elétrica.
Quando me dei conta, lá estava ele, sorrindo para mim. Me encarando.
Fechei os olhos e contei até 10, mas ele ainda estava lá quando eu os abri.
Sorrindo para mim, me encarando.
Na maioria das vezes, fico feliz em receber as visitas do outro lado.
Esse não era o caso.
O visitante normalmente não pode me tocar nem me machucar, apenas conversar comigo.
Mas esse, em especial, tinha poderes estranhos.
Eu pude sentir sua gélida presença no ar, pude sentir sua voz ecoando em minha cabeça, pude sentir que
ele podia me fazer mal.
Mas ele não fez nada.
Acho que a visita durou cerca de 10 minutos.
Os 10 minutos mais longos de minha vida.
Tentei manter contato, mas sua mente estava extremamente fechada, fora de alcance.
Ao contrário da minha, infelizmente.
Durante todo o tempo fiquei ouvindo, repetidamente, as palavras "morte", "retornarei", "desgraça" e
"solidão".
Foi horrível.
Não sei porque ele não disse frases completas, mas aquelas palavras obviamente me soaram como uma
terrível ameaça.
A partir daquele momento, começei a temer por mim e por aqueles que gosto e já ajudei.
Até quando a calmaria irá durar?
Parte 6: GRANDES PODERES...
Ela viu toda a sua família ser morta em poucos minutos. Primeiro, sua mãe. Depois seu pai, que em
vão tentou enfrentar a criatura. E, finalmente, seu irmão. Ele sentiu um medo tão grande que não foi capaz
sequer de esboçar alguma reação.
O monstro de quatro braços e duas bocas agora se virara para ela. O seu olhar era frio, morto. Após dar um
grito horrível, ele começou a avançar em sua direção. A menina, então, fez um gesto com sua mão,
ordenando que o monstro parasse. E ele parou. Ficou imóvel como uma estátua. Ao se certificar de que não
corria mais perigo, pelo menos por enquanto, ela olhou para os restos dos corpos de seus parentes e
chorou. Não era para ser assim.
- O que eu fiz? Como pude ser capaz disso? - ela gritou - Eu quero que todos vivam novamente. Agora!!!
Nada aconteceu.
- O que está errado? Eu dei uma ordem. Porque o que eu desejei não aconteceu?
- E você ainda pergunta?
A estranha voz veio do congelado monstro, e assustou muito a garota. O monstro continuou:
- Você pediu que um horrível monstro aparecesse e não mediu as conseqüências desse seu estúpido ato?
- Porque você tinha de matá-los?
- Porque você tinha que me chamar? Não estava satisfeita com tudo o que conseguiu?
- Eu só queria um pouco de diversão. Achei que seria legal ter um monstro só para mim. Mas quando você
apareceu, eu não pude controlá-lo.
- Os monstros não podem ser controlados? Não é verdade?
- Eu acho que sim.
A garota, então, abaixou a cabeça.
Ela aprendera uma grande lição.
Estalou os dedos e o monstro desapareceu.
Uma lágrima caiu de seus olhos e, quando levantou a cabeça, olhou por uma última vez para os restos de
sua família.
No minuto seguinte, ela já estava sentada na areia, em frente ao mar, em alguma praia anteriormente
desconhecida por olhos humanos.
Estava sozinha, totalmente isolada. Precisava de tempo para pensar em tudo que lhe acontecera nos
últimos dias.
Os poderes haviam lhe dado muita coisa, mas também lhe tiraram tudo que realmente importava.
Era estranho que tanta força repousasse sobre seus ombros.
Ela não sabia o que iria fazer em seguida.
Mas, sem dúvida, não tinha intenção de desistir da sua família...
Parte 7: JÚLIA
- Olá! - disse a inesperada visitante.
- Quem é você? - perguntou David.
- Sou Júlia. - respondeu a linda menina, que tinha 13 anos, cabelos encaracolados e loiros e olhos verdes. -
Então, você realmente existe. Qual é o seu nome?
- É David. Como assim "você realmente existe"?
- Ora, eu desejei aparecer para alguém que pudesse me ajudar. Eu pensei que esse desejo não daria em
nada. Mas aqui está você. E aí, o que você faz? Voa? Move coisas com a mente? É superforte?
- Não sei como você veio parar aqui. mas não sei como posso ajudar você. Você não está morta, está?
- É lógico que não, David. Como já disse, meu nome é Júlia e, mais ou menos um mês atrás, sem
explicação, eu acordei e notei que tudo estava diferente. Tinha ganho poderes que tornavam realidade tudo
o que eu desejasse. Só que meus desejos meio que saíram do controle e minha família acabou morrendo.
Eu quero que eles voltem para mim. Você pode me ajudar ou não?
- Eu acho que não. Eu tenho um poder, a capacidade de ver coisas que ninguém mais pode ver. Coisas
"especiais". Este é o meu dom. Se sua família está morta, talvez eu possa conversar com eles, passar
alguma mensagem sua, mas é só isso que eu posso fazer por você...
- Já vi que estou perdendo meu tempo ficando aqui. Obrigado por nada. - disse uma contrariada Júlia, que
logo depois deixou a sala.
David tentou, em vão, impedi-la de ir embora. Ele realmente não poderia ajudá-la a ressuscitar sua família,
mas queria saber mais sobre ela e seus poderes.
Sem perceber, o menino estava sendo observado por uma enigmática sombra, que sumiu no mesmo
instante em que Júlia partiu.
Parte 8: O JOGO
Em um escuro local, duas pessoas sem rosto conversam.
- O plano está indo de acordo com o combinado. Já avisei o garoto sobre um possível perigo que está por
vir e ele já se encontrou com Júlia.
- Sim! O cenário está montado. Agora só falta uma última visita ao nosso pequeno vidente e tudo estará
pronto.
- Certamente, mas não sei porque não podemos simplesmente matá-lo.
- Nós não podemos, esqueceu? Usando Júlia, estaremos livres de qualquer represália, e talvez terminemos
de uma vez por todas com o ciclo de escolhidos.
- Você acha que os poderes que deu a ela serão suficientes?
- Acredito que sim. David ainda não conhece a própria força. Ele acredita que só consegue ter visões.
Quando Júlia desejar sua morte, ele nada poderá fazer. Depois disso, ele virará um simples anjo e não será
mais digno da atenção das criaturas do Mal.
- E o que acontecerá com Júlia?
- Assim que ela acabar com David, eu retirarei seus poderes e a pobre marionete voltará a ser apenas uma
simples garota.
- Sua família será "devolvida"?
- É claro que não! Agora chega de indagações, eu tenho de me preparar para falar com David pela última
vez.
***
"Cuidado com Júlia".
David estava no meio de uma aula de matemática quando viu o anjo que já falara com ele anteriormente e
ouviu a estranha voz ecoando em sua cabeça.
"Ela não é o que parece. Ela é o grande mal que eu previ".
David nem teve tempo de organizar seus pensamentos ou falar alguma coisa, pois o anjo partiu
rapidamente, deixando uma última mensagem:
"Os desejos são a chave!".
***
À noite, David sentou-se na cama e começou a pensar no que deveria fazer.
'Será que Júlia realmente não era o que parecia? Será que o mal realmente corrompeu seu coração?'
Ele não sabia as respostas, não sabia o que podia fazer, não sabia mais nada.
Decidiu seguir seus instintos e gritou: "Júlia!!!"
Alguns segundos depois, a garota apareceu. De alguma maneira, os dois estavam conectados.
- E aí, David? Decidiu me ajudar? - disse ela, ostentando um enorme sorriso.
Parte 9: “Eu desejo que você morra”
- Eu sabia que você ia mudar de idéia e decidir me ajudar. - disse Júlia.
- Eu posso até te ajudar, mas primeiro você tem que me dizer a verdade. Como conseguiu os seus
poderes? - falou David.
Júlia parou de sorrir, mas respondeu a pergunta:
- Eu não sei! Eles simplesmente apareceram. Você sabe de onde eles saíram?
- Eu acho que sim. Na minha opinião, seus poderes vêm do mal.
- Como assim do mal?
- Bem... Você gostava mesmo dos seus pais, ou o fato deles terem morrido foi simplesmente o reflexo de
um desejo inconsciente, e não um acidente, como você disse?
- Você está tentando dizer que eu queria matar toda minha família? Que espécie de monstro você acha que
eu sou?
David não respondeu.
Júlia, com muita raiva, continuou:
- Se você me acha tão má assim, vai provar um pouco dessa "maldade". Eu desejo que você morra!!!
Neste momento, nas sombras, um sinistro observador sorri.
As criaturas do mal, mais uma vez, parecem ter vencido. Com a morte de mais um escolhido, os seres da
escuridão desfrutam de uma importante vitória.
Os escolhidos surgem a cada 50 anos para, com seus poderes especiais, amenizarem o mal existente em
todas as pessoas.
Só que, até hoje, nenhum dos escolhidos pôde usar plenamente as suas habilidades especiais.
Os entes do mal sempre se incubiram de canalizar todas as suas energias para dar um fim às existências
das crianças como David.
Parte 10: CARTAS NA MESA
David abriu os olhos. Estava num lugar estranho, cercado por várias crianças. Júlia não era uma delas.
Uma das meninas, então, disse para David:
- Você é o novo escolhido e, como todos nós, teve de se confrontar com as forças do mal. Nós não tivemos
chances de evitar nosso destino, mas você tem. Fomos preparados para ajudá-lo. Se você triunfar, toda a
dor que nossas mortes causaram a nossas famílias não terá sido em vão.
- O que... O que eu tenho de fazer? O que eu posso fazer? - perguntou David.
- Você deve trazer nossos inimigos para a luz, só assim eles poderão ser derrotados.
- Mas Júlia é muito poderosa. Foi ela quem me matou. Como poderei enfrentá-la, se estou morto?
- Você ainda não está morto, David. Combinando o que restou de nossos poderes, nós trouxemos seu
espírito para cá pouco antes dele ser arrancado de seu corpo pelo desejo de Júlia.
- Onde está meu corpo?
- Está caído em seu quarto, mas não se preocupe, nós podemos mandar você de volta. Antes, porém, há
algo que você deve saber.
- Me diga, eu não tenho medo...
- Aquela garota, Júlia, é tão vítima quanto nós, ela foi manipulada pelas trevas, e só por isso fez o que fez.
Seus verdadeiros inimigos são outros.
- Quem???
- Você conhece pelo menos um deles: o falso anjo que já lhe visitou por 2 vezes.
- Ele!? Mas ele me pareceu tão confiável.
- As aparências enganam, David. Chegou a hora de você voltar para o seu corpo. Você, como nós
anteriormente, foi abençoado com um grande dom, que impedirá o mal de corromper toda a inocência que
existe no mundo. Use seu poder com sabedoria, todos nós estamos contando com você. Está preparado?
David, recuperado do choque inicial que todas estas novas informações lhe causaram, respondeu:
- Sim, já sei o que deve ser feito!
As crianças se deram as mãos, e um imenso brilho iluminou todo o lugar. David fechou os olhos e sentiu
uma forte energia percorrer seu corpo. Quando voltou a abri-los, o garoto já estava de volta em seu quarto e
Júlia, à sua frente, dizia: "Se você me acha...".
Parte 11: A VITÓRIA
- Espere!!! - gritou David - eu estava errado, você não é a responsável pela morte de seus pais.
- O que fez você mudar de idéia tão rápido? Ficou com medo de mim? - disse Júlia, com um olhar raivoso.
- Digamos que eu tenha tido uma revelação. Vamos deixar essas bobagens para trás, eu preciso de sua
ajuda em algo muito importante, e não temos tempo para explicações.
- O que você quer que eu faça? - perguntou Júlia, que por alguma razão que não podia explicar, confiava no
garoto.
- Eu quero que você deseje que o "anjo" que me visitou apareça aqui agora!
- Tudo bem... - Júlia, então, desejou o que David a pediu e o "anjo", imediatamente, apareceu no quarto.
- Olá, David, vejo que descobriu minhas verdadeiras intenções. Terei de cuidar de você pessoalmente. Nada
mais importa neste momento.
Os olhos do "anjo" ficaram negros, e com um sorriso que demonstrava enorme satisfação com o que estava
por fazer, ele apontou suas mãos - que exalavam uma luz escarlate - para as duas crianças.
O garoto, então, utilizando o poder concedido pelos escolhidos, mandou uma mensagem para a mente de
Júlia, que agiu prontamente:
- Eu desejo que você perca as suas asas!!! - falou a garota, dirigindo-se para o "anjo".
E o "anjo" perdeu as suas asas, ou seja, perdeu a sua condição de existir após a morte. De uma criatura
supostamente divina, ele passou a ser nada. Consciente de sua derrota, o "anjo" olhou para David e sorriu,
enquanto seu corpo se desfazia e deixava de existir.
David, por sua vez, superara um grande obstáculo, e estava livre para crescer e cultivar de forma
apropriada os seus dons e habilidades,
Naquele momento, não apenas o maléfico "anjo" perdia sua força vital, mas várias outras entidades
comprometidas com o mal também, pois assim como as forças do bem, elas também estavam interligadas.
Júlia, assustada, pôs as suas mãos nos ombros de David e falou:
- Meus poderes foram embora. Eu pude sentir a energia me deixando. Agora eu nunca mais poderei
recuperar a minha família.
David estava feliz por sua vitória, mas não pôde deixar de sentir a dor da menina com sua enorme perda.
- Eu sinto muito - disse o garoto, que logo em seguida abraçou sua amiga.
Essas duas crianças tinham acabado de viver uma incrível e estranha aventura, a primeira de muitas que
ainda estariam por acontecer.
Parte 12: Um parque de diversões
Sem dúvida, algumas das maiores batalhas são travadas dentro de nós, e mesmo aquelas que irão
influenciar toda a humanidade, podem ser simples e decididas nos pequenos detalhes.
Demônios podem ser derrotados apenas com palavras, assim como também podem usar palavras para
disseminar sua maldade.
A nossa simples vontade pode ser responsável por causar enormes tragédias. Como seres humanos,
cometemos erros e acertos. A diferença entre o bem e o mal é muito sutil e cabe a cada um de nós traçar
seu próprio caminho, confiando em nossas escolhas e atitudes.
FIM

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A Luz e a Escuridão

  • 1. A LUZ E A ESCURIDÃO Leandro Vargas 2008
  • 2. Parte 1: DESTINO Para ela, a vida sempre foi como um parque de diversões. Aproveitava cada momento sem se importar com o que viria a seguir. Até a hora em que sua irresponsabilidade lhe tirou algo de imenso valor. Para ele, a vida era apenas o começo de uma longa jornada. Apesar da pouca idade, carregava em seus ombros a missão de ajudar e dar conforto aos que já tinham cumprido parte da viagem e se sentiam sós por alguma razão. As vidas deles se cruzaram e estarão juntas para sempre. Parte 2: A VISÃO David acordou no meio da noite. Ao lado de sua cama, pairava um anjo. O garoto não parecia estar surpreso. - Oi. Você é o meu anjo da guarda? - perguntou David. - Na verdade, não. Embora desejasse ter essa honra. Você é muito especial para todos os meus amigos e eu. - Como assim especial? - Ora, você sabe. Que garoto de 12 anos consegue conversar com um anjo? Que garoto de 12 anos tem a percepção de quem ou o que realmente sou? Você sempre viu coisas estranhas não é verdade? - Sim. Você veio aqui só para me dizer isso? - Não, eu vim para lhe prevenir. Até agora, você só teve contato com a parte "boa" de seu dom. Mas quanto mais você o vivencia, mais ele se torna poderoso. E o poder não atrai somente coisas boas. - Você está dizendo que eu irei ver coisas ruins? - Sim. Ruins demais para uma criança, mesmo uma como você, suportar. - Tem alguma maneira de você me ajudar? Você não pode fazer com que as visões vão embora? - Não - respondeu o anjo, com certa tristeza no olhar - As coisas não funcionam assim. Eu só posso lhe dizer para que você acredite em si mesmo quando "eles" chegarem. - "Eles" podem me machucar? - Não diretamente. Me desculpe, mas eu tenho de partir. Meus poderes têm um certo limite. - Espere, qual é o seu nome? Você vai voltar? - Sim, eu voltarei. Eu não tenho um nome. Após dizer isso, a figura angelical que pairava sobre a cama de David desapareceu como num passe de mágica. O garoto, então, voltou a deitar-se e começou a pensar. Pensou sobre sua primeira visão. Ele tinha apenas cinco anos quando viu Ariel. Ariel era sua prima, e tinha morrido um ano antes, vítima de um acidente de
  • 3. carro. Ariel tinha somente quinze anos quando aconteceu o acidente. David lembra que nem sequer se assustou quando viu a bela e iluminada imagem de Ariel surgir na sua frente, enquanto ele brincava numa pracinha. Os lábios dela se mexiam mas David não conseguia ouvir nenhuma palavra. Mesmo assim, a paz e a alegria que ela transmitia eram tamanhas que até hoje continuam a acompanhá-lo. Será que agora tudo mudará? As visões virão acompanhadas de dor e de sofrimento? David não sabe as respostas. Ele só sabe que a partir de agora, sua vida vai mudar muito, e possivelmente para pior. Parte 3: A LUZ DAS FADAS - Mamãe, fadas existem? Ao ouvir a pergunta de seu filho, ela sorriu. "Isso é coisa que ele viu na TV", ela pensou. - Não, meu filho, as fadas são apenas personagens de livros ou de filmes. Se você se comportar, à noite eu vou contar uma bela história para você, tá bom? - Mas mãe, é que um garoto na escola falou que se você for inocente e ficar acordado esperando por elas do fundo do coração, elas vão aparecer e iluminar tudo com suas asas mágicas. - É mesmo? Quem disse isso? - Foi um garoto mais velho, o David. - Filho! Você não deve acreditar em tudo que lhe contam. Você confia na mamãe? - Sim!!! - Então não perca seu sono, pois nenhuma fada irá lhe fazer visitas. Está bom? Você promete? - Tá, eu prometo! - Então agora vá lavar as mãos, que eu já vou lhe dar a janta. *** Após acabar de jantar, o menino foi ver porque sua mãe havia comido tão rápido e ido para o quarto mudar de roupa. - Você vai sair, mãe? - Sim, meu filho. Eu vou visitar a sua tia, que está doente e pediu para eu ir lá levar alguns remédios. - Você vai demorar? Eu não gosto de ficar sozinho. - Você já é bem grandinho, não? Eu vou num pé e volto noutro. só vou levar uma meia-horinha. - Tá bom. Me trás bala quando voltar?
  • 4. - É claro. Dá um beijinho. Não abre a porta pra ninguém. Eu vou levar a chave. Ah! Se seu pai ligar, diz que tudo está bem e que eu fui na casa da titia. - Por que o papai fica sempre trabalhando à noite? - Você sabe. É pra fazer mais dinheiro e pra comprar uma casa maior para a gente morar, principalmente quando você ganhar irmãozinhos. Agora eu tenho que sair, antes que fique muito tarde. Tchau! *** O menino não gostava de ficar sozinho e, desta vez, resolveu ficar esperando sua mãe, olhando pela janela. Já estava cansado de ver TV e brincar com seus carrinhos. Foi quando viu. Sua mãe chegou de carro junto com o vizinho. Eles, então, desceram do carro e se despediram com um beijo na boca. Era um beijo diferente dos que ela dava em seu pai. Ao ver aquilo, todo o carinho que ela dava a um estranho, o menino chorou. - Você ainda está acordado? Vem cá me dar um abraço. - Como vai a titia? - perguntou o menino, já nos braços da mãe. - Vai bem melhor, ela te mandou um beijo. O papai ligou? Você não sabe como eu estou com saudades dele. Neste noite, o menino ficou esperando pela luz das fadas. Só essa luz poderia curar seu triste coração. Elas, entretanto, jamais apareceram. Parte 4: A PAZ Eu o vejo! Sim, eu posso vê-lo! Após tanto tempo, já havia esquecido como as pessoas são bonitas. Queria tanto poder dizer tudo que ainda me angústia. Mesmo aqui, porque ainda dói tanto? Eu pensei que as coisas ruins ficariam para trás... Mas não! Nada mudou. Porque as palavras não alcançam o garoto? Porque vir até aqui, se não posso compartilhar tudo o que sinto? Foi tão difícil atravessar a fronteira... Será este mais um erro que cometi? Como foi um erro ter saído de casa quando as coisas ficaram complicadas. Como foi um erro não ter dado atenção àqueles que me amavam. Como foi um erro ter puxado o gatilho. Não... não pode ser um erro. Espere, eu posso ouví-lo. Eu posso ouví-lo! - Qual é o seu nome? Meu nome? Isso é horrível, mas não me lembro mais. Como será que ele consegue me entender? Sua expressão é tão serena. Talvez ele possa sentir meus pensamentos. - Porque você veio até mim? Porque ainda não alcancei a paz que tanto desejava. Eu abandonei minha família justamente no momento em que eles mais precisavam de mim. Ainda em vida, eu me arrependi de tudo que fiz, mas não tive coragem de encarar meus erros. Preferi fugir. - Você já cansou de fugir?
  • 5. Sim... acho que sim. - Então vá até seus entes queridos e diga a eles tudo que lhe atormenta. Mas eles não irão ouvir. - É verdade, mas irão sentir. Irão entender. Terão seus corações aquecidos por todas as coisas que você lhes transmitir. Assim como você, eles encontrarão a paz. Quantos anos você tem? Como pode ser tão lúcido e saber tanto sobre a alma humana? - Eu apenas sei. Tenho que partir agora. Obrigado por me confortar. Queria poder fazer algo para lhe retribuir. - Você fará, assim que encontrar-se com seus familiares. Eles estavam certos. O garoto me ajudou a enxergar o que há muito tempo eu já não conseguia ver. É incrível, é impressionante como é difícil abrir os olhos e conseguir sair do inferno que nós mesmos criamos para nos escondermos. Foi assim durante minha vida, foi assim durante minha morte. Mas chega!!! Confortarei aqueles que amo e finalmente poderei encontrar a paz que tanto procurei. Sim, Lucas, você finalmente irá encontrar a paz. Sim, finalmente... Em seu quarto, o pequeno David demorou para pegar no sono naquela noite. Ele imaginou como será difícil trilhar os caminhos que o conduzirão à paz." Parte 5: ESCURIDÃO Nunca gostei do silêncio. E nem do escuro. É quando tudo fica silencioso e sombrio que as coisas más costumam acontecer. Como ontem, por exemplo. Faltou luz logo após o jantar. Após isso, uma forte chuva começou a cair e se estendeu madrugada adentro. Fui para meu quarto e fiquei quieto, imóvel, esperando pelo sono ou pelo retorno da energia elétrica. Quando me dei conta, lá estava ele, sorrindo para mim. Me encarando. Fechei os olhos e contei até 10, mas ele ainda estava lá quando eu os abri. Sorrindo para mim, me encarando. Na maioria das vezes, fico feliz em receber as visitas do outro lado. Esse não era o caso. O visitante normalmente não pode me tocar nem me machucar, apenas conversar comigo.
  • 6. Mas esse, em especial, tinha poderes estranhos. Eu pude sentir sua gélida presença no ar, pude sentir sua voz ecoando em minha cabeça, pude sentir que ele podia me fazer mal. Mas ele não fez nada. Acho que a visita durou cerca de 10 minutos. Os 10 minutos mais longos de minha vida. Tentei manter contato, mas sua mente estava extremamente fechada, fora de alcance. Ao contrário da minha, infelizmente. Durante todo o tempo fiquei ouvindo, repetidamente, as palavras "morte", "retornarei", "desgraça" e "solidão". Foi horrível. Não sei porque ele não disse frases completas, mas aquelas palavras obviamente me soaram como uma terrível ameaça. A partir daquele momento, começei a temer por mim e por aqueles que gosto e já ajudei. Até quando a calmaria irá durar? Parte 6: GRANDES PODERES... Ela viu toda a sua família ser morta em poucos minutos. Primeiro, sua mãe. Depois seu pai, que em vão tentou enfrentar a criatura. E, finalmente, seu irmão. Ele sentiu um medo tão grande que não foi capaz sequer de esboçar alguma reação. O monstro de quatro braços e duas bocas agora se virara para ela. O seu olhar era frio, morto. Após dar um grito horrível, ele começou a avançar em sua direção. A menina, então, fez um gesto com sua mão, ordenando que o monstro parasse. E ele parou. Ficou imóvel como uma estátua. Ao se certificar de que não corria mais perigo, pelo menos por enquanto, ela olhou para os restos dos corpos de seus parentes e chorou. Não era para ser assim. - O que eu fiz? Como pude ser capaz disso? - ela gritou - Eu quero que todos vivam novamente. Agora!!! Nada aconteceu. - O que está errado? Eu dei uma ordem. Porque o que eu desejei não aconteceu? - E você ainda pergunta? A estranha voz veio do congelado monstro, e assustou muito a garota. O monstro continuou: - Você pediu que um horrível monstro aparecesse e não mediu as conseqüências desse seu estúpido ato? - Porque você tinha de matá-los? - Porque você tinha que me chamar? Não estava satisfeita com tudo o que conseguiu?
  • 7. - Eu só queria um pouco de diversão. Achei que seria legal ter um monstro só para mim. Mas quando você apareceu, eu não pude controlá-lo. - Os monstros não podem ser controlados? Não é verdade? - Eu acho que sim. A garota, então, abaixou a cabeça. Ela aprendera uma grande lição. Estalou os dedos e o monstro desapareceu. Uma lágrima caiu de seus olhos e, quando levantou a cabeça, olhou por uma última vez para os restos de sua família. No minuto seguinte, ela já estava sentada na areia, em frente ao mar, em alguma praia anteriormente desconhecida por olhos humanos. Estava sozinha, totalmente isolada. Precisava de tempo para pensar em tudo que lhe acontecera nos últimos dias. Os poderes haviam lhe dado muita coisa, mas também lhe tiraram tudo que realmente importava. Era estranho que tanta força repousasse sobre seus ombros. Ela não sabia o que iria fazer em seguida. Mas, sem dúvida, não tinha intenção de desistir da sua família... Parte 7: JÚLIA - Olá! - disse a inesperada visitante. - Quem é você? - perguntou David. - Sou Júlia. - respondeu a linda menina, que tinha 13 anos, cabelos encaracolados e loiros e olhos verdes. - Então, você realmente existe. Qual é o seu nome? - É David. Como assim "você realmente existe"? - Ora, eu desejei aparecer para alguém que pudesse me ajudar. Eu pensei que esse desejo não daria em nada. Mas aqui está você. E aí, o que você faz? Voa? Move coisas com a mente? É superforte? - Não sei como você veio parar aqui. mas não sei como posso ajudar você. Você não está morta, está? - É lógico que não, David. Como já disse, meu nome é Júlia e, mais ou menos um mês atrás, sem explicação, eu acordei e notei que tudo estava diferente. Tinha ganho poderes que tornavam realidade tudo o que eu desejasse. Só que meus desejos meio que saíram do controle e minha família acabou morrendo. Eu quero que eles voltem para mim. Você pode me ajudar ou não? - Eu acho que não. Eu tenho um poder, a capacidade de ver coisas que ninguém mais pode ver. Coisas "especiais". Este é o meu dom. Se sua família está morta, talvez eu possa conversar com eles, passar
  • 8. alguma mensagem sua, mas é só isso que eu posso fazer por você... - Já vi que estou perdendo meu tempo ficando aqui. Obrigado por nada. - disse uma contrariada Júlia, que logo depois deixou a sala. David tentou, em vão, impedi-la de ir embora. Ele realmente não poderia ajudá-la a ressuscitar sua família, mas queria saber mais sobre ela e seus poderes. Sem perceber, o menino estava sendo observado por uma enigmática sombra, que sumiu no mesmo instante em que Júlia partiu. Parte 8: O JOGO Em um escuro local, duas pessoas sem rosto conversam. - O plano está indo de acordo com o combinado. Já avisei o garoto sobre um possível perigo que está por vir e ele já se encontrou com Júlia. - Sim! O cenário está montado. Agora só falta uma última visita ao nosso pequeno vidente e tudo estará pronto. - Certamente, mas não sei porque não podemos simplesmente matá-lo. - Nós não podemos, esqueceu? Usando Júlia, estaremos livres de qualquer represália, e talvez terminemos de uma vez por todas com o ciclo de escolhidos. - Você acha que os poderes que deu a ela serão suficientes? - Acredito que sim. David ainda não conhece a própria força. Ele acredita que só consegue ter visões. Quando Júlia desejar sua morte, ele nada poderá fazer. Depois disso, ele virará um simples anjo e não será mais digno da atenção das criaturas do Mal. - E o que acontecerá com Júlia? - Assim que ela acabar com David, eu retirarei seus poderes e a pobre marionete voltará a ser apenas uma simples garota. - Sua família será "devolvida"? - É claro que não! Agora chega de indagações, eu tenho de me preparar para falar com David pela última vez. *** "Cuidado com Júlia". David estava no meio de uma aula de matemática quando viu o anjo que já falara com ele anteriormente e ouviu a estranha voz ecoando em sua cabeça. "Ela não é o que parece. Ela é o grande mal que eu previ". David nem teve tempo de organizar seus pensamentos ou falar alguma coisa, pois o anjo partiu rapidamente, deixando uma última mensagem:
  • 9. "Os desejos são a chave!". *** À noite, David sentou-se na cama e começou a pensar no que deveria fazer. 'Será que Júlia realmente não era o que parecia? Será que o mal realmente corrompeu seu coração?' Ele não sabia as respostas, não sabia o que podia fazer, não sabia mais nada. Decidiu seguir seus instintos e gritou: "Júlia!!!" Alguns segundos depois, a garota apareceu. De alguma maneira, os dois estavam conectados. - E aí, David? Decidiu me ajudar? - disse ela, ostentando um enorme sorriso. Parte 9: “Eu desejo que você morra” - Eu sabia que você ia mudar de idéia e decidir me ajudar. - disse Júlia. - Eu posso até te ajudar, mas primeiro você tem que me dizer a verdade. Como conseguiu os seus poderes? - falou David. Júlia parou de sorrir, mas respondeu a pergunta: - Eu não sei! Eles simplesmente apareceram. Você sabe de onde eles saíram? - Eu acho que sim. Na minha opinião, seus poderes vêm do mal. - Como assim do mal? - Bem... Você gostava mesmo dos seus pais, ou o fato deles terem morrido foi simplesmente o reflexo de um desejo inconsciente, e não um acidente, como você disse? - Você está tentando dizer que eu queria matar toda minha família? Que espécie de monstro você acha que eu sou? David não respondeu. Júlia, com muita raiva, continuou: - Se você me acha tão má assim, vai provar um pouco dessa "maldade". Eu desejo que você morra!!! Neste momento, nas sombras, um sinistro observador sorri. As criaturas do mal, mais uma vez, parecem ter vencido. Com a morte de mais um escolhido, os seres da escuridão desfrutam de uma importante vitória. Os escolhidos surgem a cada 50 anos para, com seus poderes especiais, amenizarem o mal existente em todas as pessoas. Só que, até hoje, nenhum dos escolhidos pôde usar plenamente as suas habilidades especiais. Os entes do mal sempre se incubiram de canalizar todas as suas energias para dar um fim às existências
  • 10. das crianças como David. Parte 10: CARTAS NA MESA David abriu os olhos. Estava num lugar estranho, cercado por várias crianças. Júlia não era uma delas. Uma das meninas, então, disse para David: - Você é o novo escolhido e, como todos nós, teve de se confrontar com as forças do mal. Nós não tivemos chances de evitar nosso destino, mas você tem. Fomos preparados para ajudá-lo. Se você triunfar, toda a dor que nossas mortes causaram a nossas famílias não terá sido em vão. - O que... O que eu tenho de fazer? O que eu posso fazer? - perguntou David. - Você deve trazer nossos inimigos para a luz, só assim eles poderão ser derrotados. - Mas Júlia é muito poderosa. Foi ela quem me matou. Como poderei enfrentá-la, se estou morto? - Você ainda não está morto, David. Combinando o que restou de nossos poderes, nós trouxemos seu espírito para cá pouco antes dele ser arrancado de seu corpo pelo desejo de Júlia. - Onde está meu corpo? - Está caído em seu quarto, mas não se preocupe, nós podemos mandar você de volta. Antes, porém, há algo que você deve saber. - Me diga, eu não tenho medo... - Aquela garota, Júlia, é tão vítima quanto nós, ela foi manipulada pelas trevas, e só por isso fez o que fez. Seus verdadeiros inimigos são outros. - Quem??? - Você conhece pelo menos um deles: o falso anjo que já lhe visitou por 2 vezes. - Ele!? Mas ele me pareceu tão confiável. - As aparências enganam, David. Chegou a hora de você voltar para o seu corpo. Você, como nós anteriormente, foi abençoado com um grande dom, que impedirá o mal de corromper toda a inocência que existe no mundo. Use seu poder com sabedoria, todos nós estamos contando com você. Está preparado? David, recuperado do choque inicial que todas estas novas informações lhe causaram, respondeu: - Sim, já sei o que deve ser feito! As crianças se deram as mãos, e um imenso brilho iluminou todo o lugar. David fechou os olhos e sentiu uma forte energia percorrer seu corpo. Quando voltou a abri-los, o garoto já estava de volta em seu quarto e Júlia, à sua frente, dizia: "Se você me acha...". Parte 11: A VITÓRIA - Espere!!! - gritou David - eu estava errado, você não é a responsável pela morte de seus pais.
  • 11. - O que fez você mudar de idéia tão rápido? Ficou com medo de mim? - disse Júlia, com um olhar raivoso. - Digamos que eu tenha tido uma revelação. Vamos deixar essas bobagens para trás, eu preciso de sua ajuda em algo muito importante, e não temos tempo para explicações. - O que você quer que eu faça? - perguntou Júlia, que por alguma razão que não podia explicar, confiava no garoto. - Eu quero que você deseje que o "anjo" que me visitou apareça aqui agora! - Tudo bem... - Júlia, então, desejou o que David a pediu e o "anjo", imediatamente, apareceu no quarto. - Olá, David, vejo que descobriu minhas verdadeiras intenções. Terei de cuidar de você pessoalmente. Nada mais importa neste momento. Os olhos do "anjo" ficaram negros, e com um sorriso que demonstrava enorme satisfação com o que estava por fazer, ele apontou suas mãos - que exalavam uma luz escarlate - para as duas crianças. O garoto, então, utilizando o poder concedido pelos escolhidos, mandou uma mensagem para a mente de Júlia, que agiu prontamente: - Eu desejo que você perca as suas asas!!! - falou a garota, dirigindo-se para o "anjo". E o "anjo" perdeu as suas asas, ou seja, perdeu a sua condição de existir após a morte. De uma criatura supostamente divina, ele passou a ser nada. Consciente de sua derrota, o "anjo" olhou para David e sorriu, enquanto seu corpo se desfazia e deixava de existir. David, por sua vez, superara um grande obstáculo, e estava livre para crescer e cultivar de forma apropriada os seus dons e habilidades, Naquele momento, não apenas o maléfico "anjo" perdia sua força vital, mas várias outras entidades comprometidas com o mal também, pois assim como as forças do bem, elas também estavam interligadas. Júlia, assustada, pôs as suas mãos nos ombros de David e falou: - Meus poderes foram embora. Eu pude sentir a energia me deixando. Agora eu nunca mais poderei recuperar a minha família. David estava feliz por sua vitória, mas não pôde deixar de sentir a dor da menina com sua enorme perda. - Eu sinto muito - disse o garoto, que logo em seguida abraçou sua amiga. Essas duas crianças tinham acabado de viver uma incrível e estranha aventura, a primeira de muitas que ainda estariam por acontecer. Parte 12: Um parque de diversões Sem dúvida, algumas das maiores batalhas são travadas dentro de nós, e mesmo aquelas que irão influenciar toda a humanidade, podem ser simples e decididas nos pequenos detalhes. Demônios podem ser derrotados apenas com palavras, assim como também podem usar palavras para disseminar sua maldade. A nossa simples vontade pode ser responsável por causar enormes tragédias. Como seres humanos,
  • 12. cometemos erros e acertos. A diferença entre o bem e o mal é muito sutil e cabe a cada um de nós traçar seu próprio caminho, confiando em nossas escolhas e atitudes. FIM