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Educação
                                                          sem fronteiras

                                              SERVIÇO
                                               SOCIAL

                                                                               Autores
                                  Professora Especialista Edilene Maria de Oliveira Araújo
                                    Professora Ma. Amirtes Menezes de Carvalho de Silva
                                     Professora Ma. Angela Cristina Dias do Rego Catonio
                                                Professora Ma. Maria Clotilde Pires Bastos




                                                                                      4
                                                                www.interativa.uniderp.br
                                                               www.unianhanguera.edu.br
                                                                   Anhanguera Publicações
                                                                        Valinhos/SP, 2009




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© 2009 Anhanguera Publicações
             Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de                                                    Ficha Catalográfica realizada pela Bibliotecária
             impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua                                              Alessandra Karyne C. de Souza Neves – CRB 8/6640
             portuguesa ou qualquer outro idioma.
             Impresso no Brasil 2009
                                                                                                          S514      Serviço social / Edilene Maria de Oliveira Araújo ...[et al.]. - Valinhos :
                                                                                                                         Anhanguera Publicações, 2009.
                                                                                                                         256 p. - (Educação sem fronteiras ; 4).


                                                                                                                           ISBN: 978-85-62280-44-3


                                                                                                                         1. Comunicação – Metodologia da pesquisa. 2. Direito –
                                                                                                                    Legislação social. 3. Movimento social. I. Araújo, Edilene Maria de
                                                                                                                    Oliveira. II. Título. III. Série.
             ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
             CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS
                                                                                                                                                                              CDD: 360
             Presidente
             Prof. Antonio Carbonari Netto

             Diretor Acadêmico
             Prof. José Luis Poli

             Diretor Administrativo
             Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior
                                                                                                                                                          ANHANGUERA PUBLICAÇÕES
             CAMPUS I
                                                                                                                                                                                     Diretor
             Chanceler                                                                                                                                         Prof. Diógenes da Silva Júnior
             Profa. Dra. Ana Maria Costa de Sousa
             Reitor                                                                                                                                                     Gerente Acadêmico
             Prof. Dr. Guilherme Marback Neto                                                                                                                            Prof. Adauto Damásio
             Vice-Reitor
                                                                                                                                                                  Gerente Administrativo
             Profa. Heloísa Helena Gianotti Pereira
                                                                                                                                                                 Prof. Cássio Alvarenga Netto
             Pró-Reitores
             Pró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior
             Pró-Reitora de Graduação: Profa. Heloisa Helena Gianotti Pereira
             Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo Busato




             ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A.
             UNIDERP INTERATIVA

             Diretor
             Prof. Dr. Ednilson Aparecido Guioti

             Coodernação
             Prof. Wilson Buzinaro

             COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA
             Profa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Aparecida Lucinei Lopes Taveira Rizzo / Profa. Maria Massae Sakate /
             Profa. Adriana Amaral Flores Salles / Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora)

             PROJETO DOS CURSOS
             Administração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira Satolani
             Ciências Contábeis: Prof. Ruberlei Bulgarelli
             Enfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins / Profa. Roberta Machado Pereira
             Letras: Profa. Márcia Cristina Rocha Figliolini
             Pedagogia: Profa. Vivina Dias Sol Queiroz
             Serviço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis / Profa. Ana Lúcia Américo Antonio
             Tecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas: Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira Biazetto
             Tecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma Marcario
             Tecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias
             Tecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias
             Tecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias




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Nossa Missão, Nossos Valores
                      _______________________________

                A Anhanguera Educacional completa 15 anos em 2009. Desde sua fundação, buscou a ino-
             vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de
             Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação
             dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho.
                A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre
             preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis-
             tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor
             relação qualidade/custo, adotaram-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições
             de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas
             Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores
             da Anhanguera.
                Atuando também no Ensino a Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es-
             tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da Uniderp Interativa, nos seus pólos
             espalhados por todo o Brasil.




                                                                         Boa aprendizagem e bons estudos!



                                                                             Prof. Antonio Carbonari Netto
                                                                    Presidente — Anhanguera Educacional




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AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico



                                       Apresentação
                                   ____________________

                 A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no
              desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos,
              arrojados, pluralistas, democráticos.
                 Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par-
              ceiros e congêneres no país e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou
              para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo compromisso com a
              qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos propósi-
              tos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e a ascensão social.
                  Reconhecida pela ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um
              desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportunida-
              des de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a
              Distância.
                 Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que, em pouco tempo, saiu das frontei-
              ras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do país, possibilitando o
              acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída.
                 O Centro de Educação a Distância atua por meio de duas unidades operacionais: a Uniderp
              Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN). Com os modelos alternativos ofereci-
              dos e respectivos pólos de apoio presencial de cada uma das unidades operacionais, localizados
              em diversas regiões do país e exterior, oferece cursos de graduação, pós-graduação e educação
              continuada, possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias
              dinâmicas e inovadoras.
                 Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da
              Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na estrutura organizacional e acadêmica, com re-
              flexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro-
              Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza
              a compra, pelos alunos, de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado
              e estimula-os a formar a própria biblioteca, promovendo, assim, a melhoria na qualidade de sua
              aprendizagem.
                 É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de
              formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos,
              preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena na sociedade.



                                                                               Prof. Guilherme Marback Neto




00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 5                                                                                 5/28/09 3:24:31 PM
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Autores
                                       ____________________

                                                               AMIRTES MENEZES DE CARVALHO E SILVA
                           Graduação: Pedagogia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 1998
                                           Pós-graduação: Fundamentos da Educação – Área de Concentração:
                          Psicologia da Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 2001
                                                 Mestrado: Em Educação – Área de Concentração: Psicologia –
                                                          Universidade de Mato Grosso do Sul – UFMS – 2003

                                                                    EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO
                                                       Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidades Católica
                                                                               de Mato Grosso – FUCMT – 1986
                                               Pós-graduação Lato Sensu: Formação de Formadores em Educação
                                           de Jovens e Adultos – Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003
                                                        Pós-graduação Lato Sensu: Gestão de Iniciativas Sociais –
                                                          Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – 2002
                                                        Pós-graduação Lato Sensu: Administração em Marketing
                                                                            e Comércio Exterior – UCDB – 1998

                                                         ANgELA CRISTINA DIAS DO REgO CATONIO
                  Graduação: Letras – Língua Portuguesa e Língua Inglesa/Universidade Católica Dom Bosco
                                                                      – UCDB, Campo Grande/MS – 1996
                    Especialização: Comunicação Social/Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, São
                                                                                            Paulo/SP, 1999
                 Mestrado: Comunicação Social/Universidade Metodista de São Paulo – IMESP, São Bernardo
                                                                                       do Campo/SP, 2000

                                                                            MARIA CLOTILDE PIRES BASTOS
                                          Graduação: Pedagogia com Habilitação em Administração e Supervisão
                                    Escolar de 1º e 2º Graus – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 1981
                                      Pós-graduação Lato Sensu: Metodologia do Ensino Superior – Universidade
                                  para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP – 1988
                                                   Pós-graduação Strictu Sensu: Educação – Universidade Federal
                                                                          de Mato Grosso do Sul – UFMS – 1997




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Sumário
                                                ____________________
             MÓDULO – COMUNICAÇÃO E METODOLOgIA DA PESQUISA

             UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁgIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL
             AULA 1
               Estágio supervisionado e a prática do saber ......................................................................................                      3
             AULA 2
               Legislação e a profissão do assistente social .......................................................................................                  13

             UNIDADE DIDÁTICA – COMUNICAÇÃO SOCIAL
             AULA 1
               Linguagem e sua função social ...........................................................................................................              23
             AULA 2
               Modalidades verbais e não verbais na comunicação .........................................................................                             29
             AULA 3
               Comunicação: conceitos e modelos ...................................................................................................                   33
             AULA 4
               Funções da linguagem e tipos de comunicação.................................................................................                           38
             AULA 5
               Habilidades em comunicação.............................................................................................................                42
             AULA 6
               Comunicação e novas tecnologias da comunicação .........................................................................                               46
             AULA 7
               Relações humanas ...............................................................................................................................       49
             AULA 8
               Comportamento e moda ....................................................................................................................              51

             UNIDADE DIDÁTICA – METODOLOgIA DA PESQUISA CIENTÍFICA
             AULA 1
               O conhecimento e a ciência ................................................................................................................            59
             AULA 2
               O método científico ............................................................................................................................       63
             AULA 3
               O processo de pesquisa .......................................................................................................................         67
             AULA 4
               A pesquisa qualitativa .........................................................................................................................       72
             AULA 5
               Leitura e registro .................................................................................................................................   76
             AULA 6
               Apresentação de trabalhos acadêmicos – Normas da ABNT ............................................................                                     79

             SEMINÁRIO INTEGRADO.....................................................................................................................                 94




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MÓDULO – DIREITO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS

                               UNIDADE DIDÁTICA – DIREITO E LEgISLAÇÃO SOCIAL
                               AULA 1
                                 A aplicabilidade do direito no serviço social .....................................................................................                        97
                               AULA 2
                                 A pessoa e seu inter-relacionamento social .......................................................................................                        106
                               AULA 3
                                 A institucionalização da sociedade.....................................................................................................                   118
                               AULA 4
                                 O direito familiar ................................................................................................................................       132
                               AULA 5
                                 A estruturação dos direitos constitucionais e as garantias fundamentais: direitos humanos
                                 e cidadania ...........................................................................................................................................   143
                               AULA 6
                                 O direito infraconstitucional e suas aplicações no serviço social – a legislação social e a proteção
                                 da sociedade ........................................................................................................................................     160
                               AULA 7
                                 O direito trabalhista e as relações políticas de trabalho ....................................................................                            169
                               AULA 8
                                 O direito previdenciário – sistema brasileiro de seguridade social ..................................................                                     193

                               UNIDADE DIDÁTICA – MOVIMENTOS SOCIAIS
                               AULA 1
                                 Movimentos sociais.............................................................................................................................           209
                               AULA 2
                                 Aspectos teóricos – histórico dos movimentos sociais no Brasil ......................................................                                     212
                               AULA 3
                                 Movimentos sociais e cidadania .........................................................................................................                  215
                               AULA 4
                                 Políticas sociais – a contribuição dos movimentos sociais ...............................................................                                 218
                               AULA 5
                                 A sociedade civil e a construção de espaços públicos........................................................................                              221
                               AULA 6
                                 O caráter educativo do movimento social popular ...........................................................................                               223
                               AULA 7
                                 Os movimentos sociais e a articulação entre educação não formal e sistema formal de ensino ....                                                           226
                               AULA 8
                                 Movimentos sociais em suas diferentes expressões ...........................................................................                              229
                               AULA 9
                                 Tendências dos movimentos sociais na realidade brasileira contemporânea ..................................                                                232
                               AULA 10
                                 Redes de ações coletivas ......................................................................................................................           239

                               SEMINÁRIO INTEGRADO..................................................................................................................... 243




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Módulo

                                       DIREITO SOCIAL
                                E MOVIMENTOS SOCIAIS




                                           Professora Ma. Laura Marcia Rosa dos Santos




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Unidade Didática — Movimentos Sociais


                  Apresentação

               Caro(a) acadêmico(a),
               Conhecer a mobilidade das classes sociais no Brasil é muito importante. Diante dessa proposta, esta uni­
            dade didática tem como objetivo estudar e compreender as temáticas classes sociais e as influências dos mo­
            vimentos sociais no Brasil.
               Correlacionar os fenômenos sociais que ocorrem na sociedade brasileira ao longo dos tempos com a
            atuação do serviço social se faz necessário para se entender como esse fenômeno interfere na ação diária do
            profissional da área social.
               Se olharmos para o passado, observamos que as lutas que aconteceram não foram em vão, tornando neces­
            sário conhecer as teorias e a trajetória dos movimentos sociais no Brasil, bem como a dimensão educativa dos
            movimentos sociais na formação da cidadania, a contribuição dos movimentos na elaboração e implemen­
            tação de políticas sociais e o seu papel na articulação educação não formal com o sistema formal de ensino e
            as tendências contemporâneas.

                Grata e até mais!



                                                                           Professora Ma. Laura Marcia Rosa dos Santos




                                                                 208


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AULA 1 — Movimentos Sociais



                                                                 AULA

                                           ____________________   1




                                                                                                                              Unidade Didática – Movimentos Sociais
                                             MOVIMENTOS SOCIAIS

                 Conteúdo
                 •	 A luta de classes
                 •	 Movimentos sociais

                 Competências e habilidades
                 •	 Identificar os aspectos históricos e sociais que interferem diretamente nas questões sociais
                    na atualidade

                 Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                 Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.

                 Duração
                 2 h/a – via satélite com professor interativo
                 2 h/a – presenciais com professor local
                 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




                 As questões acerca das lutas e movimentos na so­                 Vale ressaltar que a defesa dos direitos sociais e
              ciedade têm ganhado campo desde o século XIX.                    humanos, da democracia e da justiça social faz parte
              Nesta perspectiva buscaremos resgatar os movimen­                da luta dos assistentes sociais, o que requer muita
              tos e lutas empreendidas pela sociedade civil, mais              atenção para fatos e acontecimentos que marcam a
              especificamente pelas camadas populares em decor­                história da sociedade.
              rência das demandas e reivindicações ocorridas no
              espaço urbano.                                                   A luTA De ClAsses
                 Ao longo do processo iremos abordar os pontos                    De modo geral, o debate central para os estudos
              básicos dos fatos históricos ocorridos no Brasil, mas            de lutas e movimentos está presente na história,
              que também têm relação e sofrem influência norte­                uma vez que ela se desenvolve a partir da população
              americana e europeia. No bojo da discussão será                  civil, ou seja, parte principalmente das camadas so­
              enfatizada a questão da cidadania, para demonstrar               ciais mais pobres. As lutas têm o caráter de rebelião
              as alterações que foram acontecendo em sua pró­                  contra a ordem estabelecida. Diante desse fato, far­
              pria concepção, resgatando, assim, seus princípios               se­á um recorte a partir do século XVIII, no qual
              articulatórios e as conquistas concebidas a respeito,            as lutas tinham em comum o desejo de libertação
              particularmente pelas camadas populares.                         da metrópole. As mudanças ocorrem não porque os

                                                                         209


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Unidade Didática — Movimentos Sociais

            grupos (liberais radicais) que lideravam as lutas se       vista a passagem de um tipo de sociedade a outro”.
            impuseram, mas devido ao apoio da elite conserva­          Na produção textual em curso, tomamos como re­
            dora ao príncipe herdeiro de uma monarquia deca­           ferência a explicitação do conceito formulado por
            dente para não perder seus privilégios.                    Calado (1999, p. 136) concernente a esses sujeitos
               Por outro lado, o século XIX traz para a histó­         coletivos.
            ria os conflitos que abrangiam as “zonas rurais e              Organizações coletivas empenhadas na luta em
            urbanas, pois dado o sistema produtivo existente,          defesa de seus interesses econômicos e socioculturais,
            baseado na hegemonia da monocultura do café, a             buscando construir sua identidade, de forma pro­
            produção ocorria no campo mas a comercialização,           cessual, tendo como referência oposta a conduta dos
            do produto e da mão­de­obra, ocorria na cidade”            que eles situam como seus adversários ou inimigos.
            (GOHN, 2005, p. 18). Nesse período surgem as se­               A sociedade civil historicamente tem desempe­
            guintes categorias problemáticas de lutas: as que lu­      nhado um papel importante no debate sobre direi­
            tam em torno da questão da escravidão, em torno            tos humanos. Terreno fértil onde nascem os con­
            das cobranças do Fisco, de pequenos camponeses,            flitos, as ações coletivas organizadas e encabeçadas
            contra Legislações e Atos do Poder Público, pela           pela sociedade civil engendram a dinâmica de re­
            mudança do regime político e as lutas entre catego­        lações sociopolíticas e humanas que dão sentido à
            rias socioeconômicas.                                      sociedade. Composta por uma gama de atores que
               O século XX imprimiu um novo caráter às lutas           atuam para dar forma a esse conjunto da vida espi­
            sociais no Brasil. As questões urbanas ganham ca­          ritual e intelectual, permeada de relações ideológi­
            racterísticas próprias, advindas das novas funções         co­culturais (GRAMSCI, 1984), a sociedade civil é
            que passam a se concentrar nas cidades. À medida           fiadora de ações coletivas que afetam a dinâmica e
            que o desenvolvimento vai se instalando na socie­          (re)configuram as relações sociais. Locus dos movi­
            dade por meio da indústria e, em consequência              mentos sociais, essa mesma sociedade civil é espaço
            disso, as novas configurações sociais que surgem na        para construção de hegemonia e atua como media­
            sociedade darão o tom para as ações e conflitos no         dora da infraestrutura econômica e o Estado em seu
            meio urbano. Consequentemente, novas categorias            sentido restrito. O Estado em seu sentido mais am­
            de lutas emergem, como as de lutas sociais da classe       plo é constituído, portanto, pela esfera da sociedade
            operária por melhores salários e condições de vida;        civil e pela esfera da sociedade política (conjunto
            lutas populares e médias por moradia; lutas sociais        de mecanismos em que a classe dominante detém o
            no campo; lutas da categoria dos militares; lutas e        monopólio legal da repressão e da violência (RA­
            movimentos de raça, etnia, cor, gênero; lutas cívicas,     MOS, 2005). Em uma relação dialógica, a socieda­
            entre outros.                                              de civil exerce a hegemonia pela direção política, e
                                                                       o consenso e a sociedade política pela coerção. Na
            MoviMenTos soCiAis                                         dialética entre coerção e consenso, ditadura e hege­
               As concepções e conceitos referentes a movimen­         monia, são expressos o poder de uma classe.
            to social, como observa Scherer­Warren (1996, p.               Desde que a concepção marxista sobre o papel
            18), variam desde a afirmação de que “toda ação            da luta de classes para o entendimento da sociedade
            coletiva com caráter reivindicativo ou de protesto         começa a ser alterado em meados da década de 1970
            é um movimento social, independente do alcance             (GOSS; PRuDêNCIO, 2004), novas questões pas­
            ou significado político ou cultural da luta”, ao ex­       sam a ser introduzidas para análise e compreensão
            tremo de considerar movimento social como “ape­            da realidade social, dentre elas a ênfase em outras
            nas um número muito limitado de ações coletivas            relações que não apenas econômicas como caminho
            de conflito, aquelas que atuam na produção da so­          para pensar as relações, o deslocamento de atenção
            ciedade ou seguem orientações globais, tendo em            da sociedade política para a sociedade civil e da luta

                                                                     210


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AULA 1 — Movimentos Sociais

              de classes para os movimentos sociais. Os sujeitos                  movimentos sociais se fecundarem. É o que aponta
              políticos deixam de ser analisados pela relação clas­               Dias (2004), em uma análise sobre a semelhança en­
              se­partido­Estado. Em outras palavras, a categoria                  tre os movimentos populares tradicionais e os con­
              classes sociais torna­se insuficiente para entender os              temporâneos, a partir da arqueologia foucaltiana:
              movimentos arquitetados no âmbito da sociedade
                                                                                       [...] compreende­se que o húmus discursivo de
              civil.
                                                                                       onde nascem as reflexões sobre os movimentos
                  Surge, assim, o que alguns autores da área cha­                      sociais não seria o liberalismo, esse fenômeno do
              mam de novos movimentos sociais, com atuação                             mundo ocidental, nem o Estado Liberal, nem a so­
              pautada em questões identitárias e com foco na                           ciedade civil em si mesmos, mas as práticas políti­
              politização de espaços alternativos de luta, que não                     cas e de poder, os modos de atualização da liberda­
              apenas os partidos políticos e sindicatos. Entre as al­                  de e igualdade na sociedade civil e as conquistas da
              terações mais significativas está a ideia de que o po­                   realização da cidadania e dos direitos individuais
              lítico passa a ser um componente presente em toda                        (GOHN, 2004, p. 98).
              prática social e não apenas em espaços específicos,                    Em se tratando de estratégias, os movimentos so­
              o que configura os movimentos sociais como “ações                   ciais contemporâneos em plena era da globalização
              sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural               e da informação atuam em redes, formas de arti­
              que viabilizam distintas formas da população se or­                 culação que potencializam a ação dos sujeitos que,
              ganizar e expressar suas demandas” (GOHN, 2004,                     interligados por meio de uma teia de relações, am­
              p. 13). Essas mesmas ações coletivas criam identida­                pliam sua esfera de atuação.
              des em espaços não institucionalizados que geram
              transformações no espaço social.
                A essência de atuação dos movimentos sociais é
              chamar o sujeito como forma de resistir à domina­                     *     ANOTAÇÕES

              ção social. Resistir ao poder é defender o sujeito.

                     As novas contestações não visam criar um novo
                     tipo de sociedade, mas “mudar a vida”, defender
                     os direitos do homem, assim como o direito à vida
                     para os que estão ameaçados pela fome e pelo ex­
                     termínio, e também o direito à livre expressão ou à
                     livre escolha de um estilo e de uma história de vida
                     pessoais (TOuRAINE apud GOSS; PRuDêNCIO,
                     2004, p. 80).

                 Na ausência de adversários, os movimentos so­
              ciais discutem e pautam questões que antes esta­
              vam na esfera privada, como as questões de gênero,
              sexual e étnicas e ao mesmo tempo compartilham
              de lutas mais abrangentes. Alguns movimentos da
              sociedade civil de cunho identitário na busca pela
              afirmação de suas diferenças acabam tocando em
              questões estruturais.
                 E é na sociedade construída, sustentada e media­
              da pelas relações de poder, como apontamos ante­
              riormente, que estão criadas as bases férteis para os

                                                                            211


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Unidade Didática — Movimentos Sociais



                                                                                                AULA

                                                                          ____________________        2
                                                               ASPECTOS TEÓRICOS – HISTÓRICO
                                                             DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL
            Unidade Didática – Movimentos Sociais




                                                    Conteúdo
                                                    •	 As	teorias	clássicas	sobre	as	ações	coletivas
                                                    •	 Teorias	contemporâneas	norte-americanas	da	ação	coletiva	e	dos	movimentos	sociais
                                                    •	 Teorias	na	era	da	globalização:	a	mobilidade	política
                                                    •	 Os	paradigmas	europeus
                                                    •	 As	questões	brasileiras

                                                    Competências e habilidades
                                                    •	 Capacidade	de	introduzir	o	acadêmico	no	universo	histórico	e	social	das	questões	sociais,	a	partir	da	
                                                       realidade do Brasil e do mundo

                                                    Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                                                    Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.

                                                    Duração
                                                    2 h/a – via satélite com professor interativo
                                                    2 h/a – presenciais com professor local
                                                    6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




              As TeoriAs ClássiCAs sobre As Ações                                                      Esse paradigma clássico foi apropriado por uma
              ColeTivAs                                                                             nova geração de pesquisadores, tendo como ponto
                 As questões assinaladas conduziram, no nível teó­                                  de partida e referencial histórico para essa análise
              rico, a uma reflexão sobre alguns elementos históri­                                  dois motivos: por um lado, a memória histórica das
              cos que estruturam a criação dos movimentos sociais.                                  primeiras teorias dos movimentos sociais e ações
              Essa reflexão possibilitará retomar os paradigmas                                     coletivas e, por outro, as referências e matrizes teó­
              clássicos e contemporâneos. Cabe observar que não                                     ricas de vários conceitos que estão sendo retomados
              se trata de evidenciar a perpetuação de mecanismos                                    nos anos 1990 pelo próprio paradigma norte­ame­
              de dominação e de determinadas mazelas da cultura                                     ricano (GOHN, 2007).
              social e da política brasileira, mas de apreender esses                                  O período clássico durou até os anos 1960. No
              mecanismos e como eles se atualizam.                                                  entanto, não há um consenso nas abordagens, o

                                                                                               212


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AULA 2 — Aspectos Teóricos – Histórico dos Movimentos Sociais no Brasil

              que nos leva a considerar cinco grandes linhas com                            meira corrente de teoria sobre os movimentos
              diferentes ênfases com características comuns, que                            sociais, no trabalho de Heebert Blumer (1939).
              são:                                                                       2. A segunda, desenvolvida ao longo dos anos
                                                                                            1940 e 1950, teve como teóricos Eric Fromm
                     [...] o núcleo articulador das análises é a teoria da                  (1941), Hoffer (1951) e Kornhruser (1959).
                     ação social, e a busca de compreensão dos compor­
                                                                                         3. A terceira predominou nos anos 1950 com um
                     tamentos coletivos é nela a meta principal. [...] A
                                                                                            viés político forte que articulava as classes e re­
                     ênfase na ação institucional, contraposta à não ins­
                                                                                            lações sociais de produção na busca do entendi­
                     titucional, também era uma preocupação prioritária
                                                                                            mento tanto dos movimentos revolucionários
                     e um denominador que dividia os dois tipos básicos
                                                                                            como da mobilização partidária, presente nos
                     de ação: a do comportamento coletivo institucional
                                                                                            trabalhos de Lipset (1950) e Heberle (1951).
                     e a do não institucional (GOHN, 2007, p. 23).
                                                                                         4. Combinação das teorias da Escola de Chicago
                Segundo Gohn (2007), pode­se dividir em cin­                                com a teoria da ação social de Parsons.
              co grandes correntes teóricas a abordagem clássica                         5. A quinta corrente denominada organizacional­
              sobre ação coletiva, sendo que em três delas os mo­                           institucional, não gerou nenhuma teoria sobre
              vimentos sociais especificados como teorias e nas                             os movimentos sociais.
              outras duas como ações coletivas. A seguir apresen­
              tamos as correntes:                                                      Elementos comparativos entre as teorias contem­
                1. A Escola de Chicago e alguns interacionistas                     porâneas norte­americanas da ação coletiva e as teo­
                   simbólicos do início do século. Tida como a pri­                 rias sobre movimentos sociais na era da globalização:


                                     Mobilização de recursos                                            Mobilização política
                            Analisa os movimentos dos direitos civis                        Impera a política do “politicamente correto”
                                                                                    A teoria da mobilização política reintroduz a psicologia
                           A psicologia é rejeitada como explicativo                   social como instrumento para a compreensão do
                                                                                                   comportamento coletivo
                                                                                           Com o desenvolvimento do processo político,
                Explica os movimentos sociais no âmbito organizacional formal
                                                                                                o campo da cultura foi reativado
                                                                                           O recurso deixa de ser o eixo central condutor
                          A variável mais importante é a dos recursos
                                                                                            das análises e passa a ser o processo político
                      Dá ênfase à visão economicista, baseada na lógica
                                                                                          Ênfase na estrutura das oportunidades políticas
                          racional da interação entre os indivíduos
                      Concebiam os movimentos sociais em termos de                            Busca entender a identidade coletiva
                    um setor de mercado, livre e aberto a grupos e ideias                    dos grupos e a interação com sua cultura
                            A mobilização das bases do movimento                                O interacionismo ressurge na forma
                               é analisada pela ótica econômica                                     de interacionismo simbólico
                                                                                     A ênfase está na problemática da consciência política,
                         O consenso objetiva a obtenção de recursos
                                                                                        a qual é aplicada para entender os movimentos
                         financeiros e o conflito, as mudanças sociais
                                                                                                  de conflitos e os de consenso



                                                                         os paradigmas
                      Os movimentos sociais devem ser entendidos em                        Constrói-se uma nova teoria, que passa a
                     termos de uma teoria de conflito da ação coletiva                      ser denominada “mobilização política”
                                                                                    Os atores são competidores em um mesmo cenário,
                        Refutam a ideia de incluir como movimentos
                                                                                     sem que haja contradição de interesses, porque
                        sociais as diferentes formas de ação coletiva
                                                                                       não aborda a problemática das classes sociais
                     A sociedade é vista como um arranjo estático das
                                                                                     Resgate da premissa tradicional da ação coletiva
                       elites e não elites, relativamente homogêneo
                                  Destaca o caráter estrutural                                    Reforça a análise estrutural


                                                                              213


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Unidade Didática — Movimentos Sociais

                                                                        As quesTões brAsileirAs
                !      IMPORTANTE                                           Na América Latina, mais especificamente no Bra­
                Por meio dos movimentos sociais, as pessoas se en­      sil, as questões teóricas voltadas para os movimentos
                volvem em lutas simbólicas sobre os significados e      ganham corpo a partir do final da década de 1970,
                interpretações dos fatos e coisas.                      quando se fala dos novos movimentos sociais em
                                                                        encontros, seminários e colóquios acadêmicos.
            os PArADigMAs euroPeus
                                                                            Os paradigmas desse período são divididos, e isso
                                                                        se dá no âmbito das interpretações das ações. Segundo
               Segundo Gohn (2007), na Europa pode­se dis­
                                                                        Gohn (2007, p. 283­284), no Brasil o que predominou
            tinguir duas grandes linhas de abordagem sobre as
                                                                        nos anos 1970 foram as análises de cunho marxista, in­
            teorias que determinam o paradigma a partir dos
                                                                        fluenciadas pela corrente franco­espanhola de Castells,
            anos 1960: a neomarxista e a culturalista­acionalis­
                                                                        Borja, Lojkine e Preteceille e as análises acionalistas de
            ta, que se consagrou como a teoria dos Novos Mo­
                                                                        Touraine. Na década de 1980, as análises são influen­
            vimentos Sociais.
                                                                        ciadas por Foucault, Guattari, Melucci, entre outros.
               As características gerais desse novo movimento               Ainda nos anos 1980, o cenário das lutas no Bra­
            seriam:                                                     sil apresenta um conjunto de ações que passam pelo
               •	 o	modelo	teórico	é	baseado	na	cultura,	mas	ne-        plano da atuação concreta, da análise, do otimismo
                  ga os valores e normas herdadas do passado. A         para a perplexidade e, depois, para descrença. Vários
                  ideologia é deixada de lado e sofre influência        fatores colaboram para isso, inclusive as alterações
                  pós­estruturalista e pós­modernista de cultura,       nas políticas públicas e na composição dos agentes
                  centrando suas atenções nos discursos como            e atores que participam de sua implementação, ges­
                  expressões de práticas culturais;                     tão e avaliação (GOHN, 2007).
               •	 nega	 o	 marxismo	 como	 campo	 teórico,	 por	            Nos anos 1990, é preciso entender o contexto a
                  tratar a ação coletiva apenas no nível das estru­     partir da era da globalização, pois o País passa por
                  turas, da ação das classes;                           transformações econômicas e nova ênfase é dada às
               •	 elimina	o	sujeito	histórico	redutor	da	humani­        políticas sociais. Nesse cenário destacam­se elemen­
                  dade, configurado pelas contradições do capi­         tos que exercerão grande influência sobre a dinâmica
                  talismo e formado pela “consciência autêntica”        dos movimentos sociais, principalmente os popula­
                  de uma vanguarda partidária;                          res. Nesse sentido, pode­se apontar a crise econômica
               •	 a	política	ganha	centralidade	na	análise,	sendo	      que levou à diminuição dos empregos no mercado
                  utilizada principalmente no âmbito das rela­          formal; as políticas econômicas dão suporte às ati­
                                                                        vidades na economia informal; a economia semi­
                  ções microssociais e culturais;
                                                                        comunitária encontra nas organizações não gover­
               •	 os	atores	sociais	são	analisados	por	suas	ações	
                                                                        namentais uma forma para servir de suporte como
                  coletivas e pela identidade coletiva criada no
                                                                        estruturas organizativas do processo de produção; e
                  processo. Ressalta­se que essa identidade é
                                                                        o número de pessoas sem­teto, morando permanen­
                  criada por grupo e não por identidade social.         temente nas ruas, cresce de modo assustador.
                                                                            Por outro lado, na década de 1990, novas práticas
               Segundo Mouffe (apud GOHN, 2007), a novida­              civis surgem no cenário nacional de movimentos que
            de dos novos movimentos deriva das novas manei­             já existiam, mas com uma nova roupagem. Estamos
            ras de subordinação ao capitalismo tardio, no qual          falando do Movimento dos Trabalhadores Rurais
            se insurge a banalização da vida social, a burocrati­       Sem­Terra, a união Ruralista Brasileira, como tam­
            zação da sociedade e a massificação da vida social          bém os movimentos centrados nas questões éticas ou
            pela poderosa invasão dos meios de comunicação              de revalorização da vida humana. Mas essas questões
            de massa.                                                   serão aprofundadas no decorrer das aulas.

                                                                      214


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AULA 3 — Movimentos Sociais e Cidadania



                                                                 AULA

                                           ____________________   3




                                                                                                                                  Unidade Didática – Movimentos Sociais
                                MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA

                 Conteúdo
                 •	 O	conceito	de	cidadania
                 •	 A	relação	entre	movimentos	sociais	e	cidadania	no	Brasil

                 Competências e habilidades
                 •	 Capacidade	de	compreender	e	exercitar	o	significado	da	palavra	cidadania	no	contexto	social	que	
                    permeia as relações sociais na sociedade brasileira atual

                 Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                 Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.

                 Duração
                 2 h/a – via satélite com professor interativo
                 2 h/a – presenciais com professor local
                 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




              o ConCeiTo De CiDADAniA                                               de participação integral na comunidade – ou, como
                 Na medida em que observamos a constituição de                      eu diria, de cidadania – o qual não é inconsistente
              direitos referentes à questão social no Brasil, faz­se                com as desigualdades que diferenciam os vários ní­
              necessário explicar a maneira como esse processo é                    veis econômicos na sociedade. Em outras palavras,
              pensado em relação à forma como utilizamos, aqui,                     a desigualdade do sistema de classes sociais pode
              o conceito de cidadania.                                              ser aceitável desde que a igualdade de cidadania
                                                                                    seja reconhecida (MARSHALL, 1967, p. 62).
                 Como ponto de partida, gostaríamos de retomar
              algumas reflexões e questões clássicas explicitadas                Então, podemos dizer que a mais recente fase da
              pelo sociólogo Thomas H. Marshall, a respeito da                 evolução da cidadania seria caminhar rumo à igual­
              cidadania na sociedade inglesa, no período pós­                  dade social. Se este é o caso, para que as argumenta­
              guerra; pois ele estava preocupado com a relação de­             ções sigam uma lógica realizar­se­á uma divisão do
              mocracia e capitalismo. Ressaltando, em seu texto, o             conceito de cidadania, distinguindo­se três dimen­
              que vem a ser a hipótese sociológica latente do ensaio
                                                                               sões: a civil, a política e a social, cada uma relaciona­
              do economista Alfred Marshall:
                                                                               da a um período formativo.
                     [Alfred Marshall] Postula que há uma espécie de             A cidadania civil teria se desenvolvido no século
                     igualdade humana básica associada com o conceito          XVII, como resposta ao absolutismo, caracterizan­

                                                                         215


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Unidade Didática — Movimentos Sociais

            do­se pelos direitos necessários à liberdade indivi­          leira, mas se caracteriza pelo caráter conciliatório e
            dual, pela liberdade de ir e vir, de palavra, pensa­          de negociação entre a elite nacional, a coroa portu­
            mento, entre outros.                                          guesa e a inglesa. A solução monárquica e conserva­
               Na cidadania política, associada ao século XIX,            dora estava garantida, e a Constituição de 1824 re­
            desenvolvem­se os direitos referentes à participação          gulou os direitos políticos dos cidadãos e definiu
            no exercício do poder político, com extensão do di­           quem teria direito de votar e ser votado.
            reito ao voto em escala cada vez maior.                          Apesar de certo grau de democracia – grande par­
               Quanto à cidadania social, desenvolvida princi­            te da população adulta masculina podia exercer seus
            palmente no século XX, inclui os direitos a um mí­            direitos políticos –, os brasileiros alçados à categoria
            nimo de bem­estar econômico­social, sendo o siste­            de cidadãos pela Constituição de 1824 eram predo­
            ma educacional e os serviços sociais as instituições          minantemente analfabetos e viviam em áreas rurais
            a ele relacionadas.                                           sob o comando dos grandes proprietários, e na ci­
                                                                          dade os eleitores eram em sua maioria funcionários
                                                                          públicos influenciados e controlados pelo governo.
            A relAção enTre MoviMenTos soCiAis
                                                                             A escravidão foi o grande entrave para o desen­
            e CiDADAniA no brAsil
                                                                          volvimento dos direitos civis no Brasil, pois negava
               Os direitos do cidadão e do homem e a cidadania
                                                                          a condição de humanidade para as pessoas consi­
            são históricos, resultam das relações e dos conflitos
                                                                          deradas escravas. Em 1888, quando a elite descobre
            sociais em determinados momentos da história de
                                                                          que a escravidão impedia a integração do País nos
            um povo. Ou seja, a formulação e o desenvolvimento
                                                                          mercados internacionais, além de bloquear o de­
            dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e cul­
                                                                          senvolvimento das classes sociais e do mercado de
            turais seguiram no Brasil e no resto do mundo um              trabalho, ela finalmente abole a escravidão, mas não
            processo marcado por avanços e retrocessos, ao passo          revê o formato de divisão de bens (a terra), pois o
            que certos direitos estavam sendo discutidos e garan­         movimento pela independência preservou as elites
            tidos em algum lugar do planeta, em outro continen­           nacionais no poder, manteve a nação dividida entre
            te ou país estavam sendo violados ou nem estavam              senhores e não criou um sistema educacional públi­
            em discussão. Os direitos que estavam garantidos por          co de qualidade.
            muito tempo passaram a ser negligenciados por con­
                                                                             Com a urbanização, a industrialização e o surgi­
            ta de interesses ideológicos, políticos e/ou econômi­         mento de uma pequena classe operária no Rio de Ja­
            cos. Além do mais, dentro de uma mesma sociedade,             neiro e São Paulo, alguns direitos básicos como a or­
            os direitos do homem e do cidadão não são garanti­            ganização sindical, as manifestações e reivindicações
            dos do mesmo modo a todas as pessoas.                         públicas e as greves, aparecem no cenário nacional.
               No Brasil, a construção da cidadania e a afirma­              Em 1930, verifica­se um avanço dos direitos so­
            ção dos direitos têm percorrido caminhos difíceis e           ciais com a criação do Ministério do Trabalho e com
            bastante tortuosos, pois, apesar das influências que          uma ampla legislação trabalhista e previdenciária,
            recebemos, construímos um processo diferencia­                culminando com a Consolidação das Leis do Traba­
            do nas discussões e na implementação dos direitos             lho (CLT), em 1943.
            civis, políticos e sociais. Diante dessa constatação,            Em relação ao desenvolvimento dos direitos políti­
            dividiremos o processo histórico por períodos, a co­          cos, a instabilidade democrática do País entre 1930 e
            meçar pela Independência.                                     1964 alterna ditadura e regimes mais democráticos,
                                                                          não permitindo uma plena evolução das discussões
            A independência                                               sobre os direitos civis e políticos. A liberdade de ex­
              A proclamação da independência em 1822 inau­                pressão e de organização chega a ser suspensa no
            gura a era dos direitos políticos na sociedade brasi­         período ditatorial de 1937. A derrubada de Vargas,

                                                                        216


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AULA 3 — Movimentos Sociais e Cidadania

              as eleições presidenciais e legislativas e a Constitui­         são questões novas no cenário nacional” (p. 203).
              ção de 1946 garantiram certa estabilidade para os               Ou seja, nesse período o novo é a forma e o modo
              direitos civis e políticos até 1964. A partir daí, por          como equacionar e encaminhar as demandas e as
              conta da ditadura militar, a maioria dos direitos ci­           possíveis soluções.
              vis e políticos foi restringida pela violência.                    Outro ponto é a nova concepção da ideia de co­
                                                                              munidade, por se tratar não apenas de um locus
              os desafios contemporâneos                                      geográfico espacial, mas por ser uma categoria da
                 A década de 1980 inaugura no Brasil novos tem­               realidade social, de intervenção, assim como de re­
              pos para a questão da cidadania, pois os movimen­               definição dos valores seculares, como os dos direi­
              tos e organizações do passado se articulam com o                tos humanos e a articulação entre os valores morais,
              novo, com a Igreja, entre outros, criando uma nova              econômicos e o desejo de mudanças políticas.
              identidade para os movimentos nesse período, no
              qual novas bandeiras foram levantadas. Esses gru­                 Para concluir
              pos eram fortalecidos pela conjuntura internacio­                  Pode­se observar que a questão da cidadania foi
              nal, que também destacava as questões dos direitos              a grande conquista dos movimentos sociais, pois as
              humanos como sendo básicos.                                     pessoas estão se posicionando como protagonistas
                  Esse processo representa para os brasileiros as             da história, na qual a cidadania tutelada dá lugar à
              mudanças no cenário político, como também trans­                cidadania moderna, fundada na noção de direito à
              formações mais profundas no seio da sociedade,                  diferença, mas não somente a vida, mas a autode­
              mas permanece no País uma enorme concentração                   terminação como questão de gênero, raça, idade,
              de renda e seus subprodutos, como a miséria e a                 manifestação sexual, entre outras. E reivindica­se a
              exclusão social. Ao lado disso, a atuação omissa e              participação da sociedade nas questões civis e polí­
              vacilante por parte do Estado que não promove po­               ticas, no mercado de bens e consumo, como tam­
              líticas públicas adequadas e suficientes para corrigir          bém a manutenção dos valores culturais.
              essas desigualdades sociais e regionais.                           Conforme Gohn (2003, p. 209), a “concepção de
                 A garantia dos direitos civis e políticos não resol­         cidadania que resulta deste cenário busca corrigir
              veu os problemas históricos da cidadania no País.               diferenças instituídas, destacando o valor da igual­
              Contudo, esses direitos formam um quadro no                     dade”. A solidariedade volta a ser a mola propulsora
              qual os movimentos sociais podem aparecer publi­                dos grupos sociais e a participação políticas se dá na
              camente trazendo suas reivindicações e propostas,               esfera da igualdade entre os cidadãos.
              ocorrendo alternância de grupos políticos no poder.
              Ao mesmo tempo, os problemas estruturais e secu­
              lares da sociedade brasileira podem ser discutidos e
              estudados.                                                        *     ANOTAÇÕES


              o paradigma
                 Segundo Gohn (2003), as demandas da ação so­
              cial contrastaram com o sistema vigente. Mas, na
              realidade, essas demandas não são novas, posto que
              “a carência de bens e serviços para os setores po­
              pulares, a discriminação social contra os negros,
              os índios, as mulheres, o desrespeito à natureza, ou
              ainda o problema das crianças pobres nas ruas não

                                                                        217


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Unidade Didática — Movimentos Sociais



                                                                                                AULA

                                                                          ____________________        4
                                                               POLÍTICAS SOCIAIS – A CONTRIBUIÇÃO
                                                                   DOS MOVIMENTOS SOCIAIS
            Unidade Didática – Movimentos Sociais




                                                    Conteúdo
                                                    •	 Movimento	social:	a	luta	por	direitos
                                                    •	 O	Estado	e	as	políticas	sociais
                                                    •	 Avanços	da	participação	cidadã

                                                    Competências e habilidades
                                                    •	 Identificar	os	elementos	que	contribuem	e	interferem	na	dinâmica	dos	movimentos	sociais,	a	partir	
                                                       das políticas sociais

                                                    Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                                                    Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.

                                                    Duração
                                                    2 h/a – via satélite com professor interativo
                                                    2 h/a – presenciais com professor local
                                                    6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




              MoviMenTo soCiAl: A luTA Por DireiTos                                                 servamos a ação das organizações dos movimentos
                 Quando nos referimos a políticas sociais, enten­                                   sociais, assim como as ações discursivas e as estra­
              demos aquelas ações desenvolvidas pelos governos                                      tégias práticas de intelectuais, militantes e políticos
              e poderes políticos constituídos, uma forma de                                        preocupados com as desigualdades sociais.
              ação prática, que se traduz em leis, organizações e                                      No contexto deste estudo, configura­se como
              programas de intervenção, orientadas pelo Poder                                       movimento social a diversidade de grupos e orga­
              Público, abrangendo os poderes Executivo, Legisla­                                    nizações, em seus diferentes graus de envolvimento
              tivo e Judiciário. Mas a essa definição de políticas                                  com a questão social, que tiveram como um de seus
              incorporamos também a observação da maneira                                           objetivos melhorar as condições de vida da socieda­
              como certos direitos foram estabelecidos e as for­                                    de. Abrangeria o conjunto de iniciativas de natureza
              ças sociais que atuaram para isso. Dessa forma, ob­                                   política, educacional e cultural incorporando, dessa

                                                                                               218


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AULA 4 — Políticas Sociais – A Contribuição dos Movimentos Sociais

              forma, tanto as reivindicações culturais quantos as              o esTADo e As PolíTiCAs soCiAis
              referentes às condições socioeconômicas da socie­                   No Brasil, persiste a modalidade assistencial de
              dade, entendendo ambas como estratégias políticas                fazer política no campo do social, nos espaços de re­
              que buscam a garantia de direitos.                               lação entre o Estado e os setores excluídos, o que, se­
                  Sendo assim, a Constituição de 1988 garante ao               gundo Yazbek (2006), pode ser traduzido nas ques­
              cidadão brasileiro total e irrestrito direito no que
                                                                               tões relacionadas às políticas estatais de corte social
              tange aos direitos sociais, assegurados por meio da
                                                                               e ao enfrentamento da crescente pauperização das
              assistência social, saúde e previdência, ou seja, o tri­
                                                                               classes subalternas que têm se constituído em temá­
              pé constitutivo da seguridade social que pressupõe
              a universalidade dos direitos, de forma uniforme e               ticas presentes nas análises e estudos das políticas
              equivalente para as populações rurais e urbanas.                 sociais públicas no Brasil. Por outro lado, o caráter
                  Nesse contexto faz­se necessário que entendamos              regulador da intervenção estatal no âmbito das rela­
              que a “seguridade social enquanto conjunto de po­                ções sociais tem dado o formato das políticas sociais
              líticas e ações de reprodução social dos indivíduos              no País, que são traduzidas como políticas casuís­
              humanos se introduz na agenda de compromissos                    ticas, inoperantes, fragmentadas, superpostas, sem
              da humanidade com o advento do capitalismo”                      regras estáveis ou reconhecimento de direitos.
              (FALCÃO, 2006, p. 111). É nesse cenário da era ca­                  Agora, é importante ressaltar que a expansão ca­
              pitalista que é introduzido um novo modo político                pitalista no Brasil em sua forma monopolista se dá
              de condução da vida societária.
                                                                               pela apreensão de suas ambiguidades, contradições
                  Por meio das investidas dos movimentos sociais,
                                                                               e desigualdades que se evidenciam de um lado pelo
              as questões da pobreza ganham visibilidade, não
                                                                               tratamento impune e selvagem à força de trabalho
              podendo mais ser tratada como fenômeno conjun­
                                                                               e, por outro, na presença de um capitalismo moder­
              tural, passando a fenômeno estrutural que decorre
              de um modo de produção que engendra a exclusão,                  no, marcado pelo avanço tecnológico na industriali­
              as desigualdades sociais e a injustiça social (FAL­              zação e pelas altas taxas de concentração e acumu­
              CÃO, 2006).                                                      lação, uma vez que, as intervenções do Estado per­
                  Por outro lado, a seguridade social em seu sen­              meiam o quadro das interlocuções e mediações
              tido amplo se apresenta como peça fundamental e                  que constituem o campo da política social pública,
              estratégica nos pactos estabelecidos pela classe do­             inscrevendo­se no bojo das relações sociais.
              minante com os diversos segmentos da sociedade,                      Assim, o contraste entre miséria e abundância nos
              em especial com a classe trabalhadora, garantindo,               mostra que a evolução econômica capitalista brasi­
              assim, uma revolução passiva, a qual desenhou uma                leira fortaleceu mais a desigualdade do que a dimi­
              nova paisagem capitalista, com alguns elementos
                                                                               nuiu, pois, para Yazbek (2006, p. 40), embora as po­
              em destaque:
                                                                               líticas governamentais no campo social expressem o
                  a) a evolução de um capitalismo individualista
                                                                               “caráter contraditório das lutas sociais, acabam por
                     e selvagem, para um capitalismo planificado,
                                                                               reiterar o perfil da desigualdade no país e mantêm
                     transnacional e monopolista;
                                                                               essa área de ação submersa e paliativa”.
                  b) a generalização e mundialização do assalariado;
                  c) a forte expansão das funções do Estado­nação;                Pode­se evidenciar que a questão social no Brasil
                  d) a introdução de um pacto social com os vários             começa a partir da Primeira República, com o pro­
                     segmentos da sociedade civil, principalmente              cesso da industrialização e da implantação do ca­
                     com a classe trabalhadora;                                pitalismo no País, no qual surgem o operariado e a
                  e) as relações sociais de dominação e poder to­              burguesia nacional, o acirramento das contradições
                     mam forma corporativista, funcional, tendo o              entre capital e trabalho como explicação maior da
                     Estado como mediador principal.                           desigualdade social.

                                                                         219


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Unidade Didática — Movimentos Sociais

            AvAnços DA PArTiCiPAção CiDADã                                 •	 o	direito	de	a	mulher	votar;
               A preocupação com a participação cidadã tem sido            •	 o	direito	a	greve	para	reivindicar	melhores	sa­
            uma constante ao longo do tempo. Existe intersubje­               lários e condições de trabalho;
            tividade a respeito de que os ganhos para um sistema           •	 a	economia	baseada	na	mão-de-obra	livre;
            político são sempre elevados em sociedades que es­             •	 a	criação	de	sindicatos;
            timulam e possibilitam a ingerência dos cidadãos na
                                                                           •	 a	garantia	dos	direitos	civis	e	sociais,	entre	outros.
            determinação do seu destino. A utilização da partici­
            pação cívica sempre foi considerada fundamental no
            processo de construção de uma nação.                             !    DICA
               Desse modo, apontamos alguns avanços que foram             www.ipp­uerj.net
            construídos na sociedade brasileira a partir da arti­
            culação dos movimentos sociais ao longo da história:


                *      ANOTAÇÕES




                                                                    220


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AULA 5 — A Sociedade Civil e a Construção de Espaços Públicos



                                                                 AULA

                                           ____________________   5




                                                                                                                               Unidade Didática – Movimentos Sociais
                               A SOCIEDADE CIVIL E A CONSTRUÇÃO
                                     DE ESPAÇOS PÚBLICOS

                 Conteúdo
                 •	 A participação popular no processo de construção das políticas públicas

                 Competências e habilidades
                 •	 Capacidade de conhecer e participar dos mecanismos reguladores das políticas públicas

                 Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                 Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.

                 Duração
                 2 h/a – via satélite com professor interativo
                 2 h/a – presenciais com professor local
                 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




              A PArTiCiPAção PoPulAr no ProCesso                               diante sufrágio universal, que atribui poder aos
              De ConsTrução DAs PolíTiCAs PúbliCAs                             eleitos para a tarefa da representação. Esse tem sido,
                 Para abordarmos essa discussão, vamos primeiro                durante muito tempo, o principal indicador usado
              entender o que é democracia, a partir da definição               para medir o desenvolvimento democrático. No
              de Bobbio (2000, p. 56), que define a democracia                 entanto, o que deve ser considerado nos dias atuais
              representativa por meio da participação indireta da              são os espaços políticos e não o número de votantes,
              população nos processos decisórios. Nessa forma                  pois, “para dar um juízo sobre o estado da democra­
              de governo, a população elege seus representantes e              tização num dado país, o critério não deve mais ser
              lhes confere poder de decisão. Em geral, a expressão             o de ‘quem’ vota, mas o de ‘onde’ se vota” (BOBBIO,
              “democracia representativa” significa que as delibe­             2000, p. 68).
              rações coletivas, isto é, as deliberações que dizem                 A representação é, sem dúvida, um assunto que
              respeito à coletividade inteira, são tomadas não                 tem suscitado muita discussão no universo político.
              diretamente por aqueles que dela fazem parte, mas                Diante desse fato, os movimentos sociais, nas déca­
              por pessoas eleitas para essa finalidade.                        das de 1970 e 1980, tinham como objetivo a mu­
                 Ou seja, um dos elementos fundamentais da de­                 dança social, configuradas em inúmeras lutas popu­
              mocracia representativa é o voto, alcançado me­                  lares para inserir suas reivindicações no texto final

                                                                         221


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Unidade Didática — Movimentos Sociais

            da Constituição Federal de 1988, a qual agregou as           incidência dos direitos humanos e, mais, refletir so­
            reivindicações sociais no tocante aos princípios da          bre como a sociedade civil está e/ou pode se organi­
            participação da população nos processos decisórios           zar e responder às demandas das pessoas em geral é
            e à mudança das práticas de elaboração e execução            entender como a cartilha do capitalismo neoliberal
            de políticas públicas. A Constituição de 1988 repre­         articula os direitos humanos nessa mesma socieda­
            sentou um marco no processo de descentralização              de civil, espaço dos movimentos sociais, que histo­
            político­administrativa do País.                             ricamente se consolidaram e se relacionam. A com­
               O conjunto de inovações trazidas pela nova                preensão e a relação entre essas categorias – neo­
            Constituição não significou a efetivação imediata            liberalismo, sociedade civil e direitos humanos – são
            dos espaços de participação na gestão pública. Por           pressupostos para analisar as implicações da desi­
            outro lado, ainda se têm resquícios da cultura pa­           gualdade social nas relações cotidianas e as respos­
            trimonialista, mas Gohn (2003, p. 211) ressalta que          tas que muitas organizações sociais podem oferecer
            “os conflitos sociais contemporâneos têm encon­              a essa problemática. Esse é um caminho que, pen­
            trado novas formas de se expressar, diferentes das           sado pela ótica das políticas públicas, torna possível
            tradicionais, baseadas na conciliação, na negociação         (re)pensar as estratégias em execução e as ações que
            pessoal. Trata­se do surgimento da forma Conselho            estruturalmente possam ser arquitetadas no âmbito
            como órgão de mediação povo­poder”.
                                                                         da sociedade civil para uma intervenção qualificada
               A inserção na sociedade civil dos mecanismo de            na garantia dos direitos humanos.
            controle do governo, por meio dos conselhos, viabi­
            lizou a participação irrestrita das pessoas, pois a par­
            ticipação popular é entendida como o envolvimen­                   !    DICA
            to da sociedade mediante conselhos, assumindo o                  www.scielo.br
            compromisso de trabalhar pela defesa do bem­estar
                                                                             www.conpedi.org
            coletivo. Podemos usar como exemplo, a participa­
            ção no campo da saúde pública, na qual a proposta

                                                                              *
            de participação popular surgiu como consequência
                                                                                   ANOTAÇÕES
            da redução da confiança da população nas insti­
            tuições governamentais e se configurou como uma
            tendência identificada em várias reformas no setor,
            implementadas em diferentes países, ainda que nem
            sempre com a mesma denominação. Vários estudos
            sustentam a participação popular na elaboração de
            políticas públicas de saúde como instrumento de
            aperfeiçoamento dos serviços oferecidos (JACOBI,
            2002; SERAPIONI, 2003).
               Outro exemplo evidente desse compasso entre go­
            verno e sociedade civil e a experiência do orçamento
            participativo, o qual tem uma visão otimista do ser hu­
            mano, na qual a participação dos cidadãos na toma­
            da das decisões públicas somente não ocorre por não
            existirem mecanismos institucionais apropriados.

              Para concluir
              É por isso que discutir o papel da sociedade civil,
            enquanto espaço de construção de hegemonia para

                                                                       222


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AULA 6 — O Caráter Educativo do Movimento Social Popular



                                                             AULA

                                           ____________________   6
                          O CARÁTER EDUCATIVO DO MOVIMENTO




                                                                                                                                  Unidade Didática – Movimentos Sociais
                                   SOCIAL POPULAR

                 Conteúdo
                 •	 O	caráter	educativo	dos	movimentos	populares
                 •	 A	produção	das	ciências	sociais	sobre	a	educação	popular
                 •	 O	caráter	educativo	de	fato

                 Competências e habilidades
                 •	 Capacidade	de	interagir	com	a	diversidade	nos	diversos	campos	das	relações	sociais

                 Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal
                 Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade.

                 Duração
                 2 h/a – via satélite com professor interativo
                 2 h/a – presenciais com professor local
                 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo




              o CAráTer eDuCATivo Dos MoviMenTos                               vos agentes que buscam construir uma identidade
              PoPulAres                                                        coletiva, fundada nos interesses dos subordinados”.
                 Inicialmente, os movimentos populares eram vis­                  No entanto, é importante ressaltar que essa forma
              tos apenas como grupos que reivindicavam questões                renovada da educação não ocorre por meio de um pro­
              básicas relativas ao problema da habitação, uso do               grama previamente estabelecido, mas, sim, por meio
              solo, serviços etc. Na contramão dessa informação,               de princípios que são formulados por agentes ins­
              essa outra vertente que apresenta um movimento                   titucionais oriundos da articulação da Igreja, de par­
              sociocultural com potencial para uma cultura de                  tidos políticos, universidades, sindicatos, entre outros.
              ruptura com a alienação, com a cultura dominante,                E sua aplicação e difusão se dão a partir do trabalho
              no sentido de construir sua própria história.                    das lideranças da parcela da população organizada.
                Conforme Gohn (2003, p. 163), é atribuído aos                     Os trabalhos científicos que tratam dessa questão
              “movimentos populares urbanos um papel de desta­                 se baseiam em artigos, teses e resenhas que foram
              que no processo de transformação social, como no­                realizados sobre a literatura da educação popular.

                                                                         223


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Educação sem fronteiras: serviço social
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Educação sem fronteiras: serviço social

  • 1. Educação sem fronteiras SERVIÇO SOCIAL Autores Professora Especialista Edilene Maria de Oliveira Araújo Professora Ma. Amirtes Menezes de Carvalho de Silva Professora Ma. Angela Cristina Dias do Rego Catonio Professora Ma. Maria Clotilde Pires Bastos 4 www.interativa.uniderp.br www.unianhanguera.edu.br Anhanguera Publicações Valinhos/SP, 2009 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 1 5/28/09 3:24:30 PM
  • 2. © 2009 Anhanguera Publicações Proibida a reprodução final ou parcial por qualquer meio de Ficha Catalográfica realizada pela Bibliotecária impressão, em forma idêntica, resumida ou modificada em língua Alessandra Karyne C. de Souza Neves – CRB 8/6640 portuguesa ou qualquer outro idioma. Impresso no Brasil 2009 S514 Serviço social / Edilene Maria de Oliveira Araújo ...[et al.]. - Valinhos : Anhanguera Publicações, 2009. 256 p. - (Educação sem fronteiras ; 4). ISBN: 978-85-62280-44-3 1. Comunicação – Metodologia da pesquisa. 2. Direito – Legislação social. 3. Movimento social. I. Araújo, Edilene Maria de Oliveira. II. Título. III. Série. ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DE CAMPO GRANDE/MS CDD: 360 Presidente Prof. Antonio Carbonari Netto Diretor Acadêmico Prof. José Luis Poli Diretor Administrativo Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior ANHANGUERA PUBLICAÇÕES CAMPUS I Diretor Chanceler Prof. Diógenes da Silva Júnior Profa. Dra. Ana Maria Costa de Sousa Reitor Gerente Acadêmico Prof. Dr. Guilherme Marback Neto Prof. Adauto Damásio Vice-Reitor Gerente Administrativo Profa. Heloísa Helena Gianotti Pereira Prof. Cássio Alvarenga Netto Pró-Reitores Pró-Reitor Administrativo: Adm. Marcos Lima Verde Guimarães Júnior Pró-Reitora de Graduação: Profa. Heloisa Helena Gianotti Pereira Pró-Reitor de Extensão, Cultura e Desporto: Prof. Ivo Arcângelo Vendrúsculo Busato ANHANGUERA EDUCACIONAL S.A. UNIDERP INTERATIVA Diretor Prof. Dr. Ednilson Aparecido Guioti Coodernação Prof. Wilson Buzinaro COORDENAÇÃO PEDAGÓGICA Profa. Terezinha Pereira Braz / Profa. Aparecida Lucinei Lopes Taveira Rizzo / Profa. Maria Massae Sakate / Profa. Adriana Amaral Flores Salles / Profa. Lúcia Helena Paula Canto (revisora) PROJETO DOS CURSOS Administração: Prof. Wilson Correa da Silva / Profa. Mônica Ferreira Satolani Ciências Contábeis: Prof. Ruberlei Bulgarelli Enfermagem: Profa. Cátia Cristina Valadão Martins / Profa. Roberta Machado Pereira Letras: Profa. Márcia Cristina Rocha Figliolini Pedagogia: Profa. Vivina Dias Sol Queiroz Serviço Social: Profa. Maria de Fátima Bregolato Rubira de Assis / Profa. Ana Lúcia Américo Antonio Tecnologia em Gestão e Marketing de Pequenas e Médias Empresas: Profa. Fabiana Annibal Faria de Oliveira Biazetto Tecnologia em Gestão e Serviço de Saúde: Profa. Irma Marcario Tecnologia em Logística: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias Tecnologia em Marketing: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias Tecnologia em Recursos Humanos: Prof. Jefferson Levy Espindola Dias 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 2 5/28/09 3:24:30 PM
  • 3. Nossa Missão, Nossos Valores _______________________________ A Anhanguera Educacional completa 15 anos em 2009. Desde sua fundação, buscou a ino- vação e o aprimoramento acadêmico em todas as suas ações e programas. É uma Instituição de Ensino Superior comprometida com a qualidade dos cursos que oferece e privilegia a preparação dos alunos para a realização de seus projetos de vida e sucesso no mercado de trabalho. A missão da Anhanguera Educacional é traduzida na capacitação dos alunos e estará sempre preocupada com o ensino superior voltado às necessidades do mercado de trabalho, à adminis- tração de recursos e ao atendimento aos alunos. Para manter esse compromisso com a melhor relação qualidade/custo, adotaram-se inovadores e modernos sistemas de gestão nas instituições de ensino. As unidades no Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Santa Catarina, São Paulo e Rio Grande do Sul preservam a missão e difundem os valores da Anhanguera. Atuando também no Ensino a Distância, a Anhanguera Educacional orgulha-se de poder es- tar presente, por meio do exemplar trabalho educacional da Uniderp Interativa, nos seus pólos espalhados por todo o Brasil. Boa aprendizagem e bons estudos! Prof. Antonio Carbonari Netto Presidente — Anhanguera Educacional 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 3 5/28/09 3:24:31 PM
  • 4. . 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 4 5/28/09 3:24:31 PM
  • 5. AULA 1 — A Base do Pensamento Econômico Apresentação ____________________ A Universidade Anhanguera/UNIDERP, ao longo de sua existência, prima pela excelência no desenvolvimento de seu sólido projeto institucional, concebido a partir de princípios modernos, arrojados, pluralistas, democráticos. Consolidada sobre patamares de qualidade, a Universidade conquistou credibilidade de par- ceiros e congêneres no país e no exterior. Em 2007, sua entidade mantenedora (CESUP) passou para o comando do Grupo Anhanguera Educacional, reconhecido pelo compromisso com a qualidade do ensino, pela forma moderna de gestão acadêmico-administrativa e pelos propósi- tos responsáveis em promover, cada vez mais, a inclusão e a ascensão social. Reconhecida pela ousadia de estar sempre na vanguarda, a Universidade impôs a si mais um desafio: o de implantar o sistema de ensino a distância. Com o propósito de levar oportunida- des de acesso ao ensino superior a comunidades distantes, implantou o Centro de Educação a Distância. Trata-se de uma proposta inovadora e bem-sucedida, que, em pouco tempo, saiu das frontei- ras do Estado do Mato Grosso do Sul e se expandiu para outras regiões do país, possibilitando o acesso ao ensino superior de uma enorme demanda populacional excluída. O Centro de Educação a Distância atua por meio de duas unidades operacionais: a Uniderp Interativa e a Faculdade Interativa Anhanguera(FIAN). Com os modelos alternativos ofereci- dos e respectivos pólos de apoio presencial de cada uma das unidades operacionais, localizados em diversas regiões do país e exterior, oferece cursos de graduação, pós-graduação e educação continuada, possibilitando, dessa forma, o atendimento de jovens e adultos com metodologias dinâmicas e inovadoras. Com muita determinação, o Grupo Anhanguera tem dado continuidade ao crescimento da Instituição e realizado inúmeras benfeitorias na estrutura organizacional e acadêmica, com re- flexos positivos nas práticas pedagógicas. Um exemplo é a implantação do Programa do Livro- Texto – PLT, que atende às necessidades didático-pedagógicas dos cursos de graduação, viabiliza a compra, pelos alunos, de livros a preços bem mais acessíveis do que os praticados no mercado e estimula-os a formar a própria biblioteca, promovendo, assim, a melhoria na qualidade de sua aprendizagem. É nesse ambiente de efervescente produção intelectual, de construção artístico-cultural, de formação de cidadãos competentes e críticos, que você, acadêmico(a), realizará os seus estudos, preparando-se para o exercício da profissão escolhida e uma vida mais plena na sociedade. Prof. Guilherme Marback Neto 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 5 5/28/09 3:24:31 PM
  • 6. 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 6 5/28/09 3:24:31 PM
  • 7. Autores ____________________ AMIRTES MENEZES DE CARVALHO E SILVA Graduação: Pedagogia – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 1998 Pós-graduação: Fundamentos da Educação – Área de Concentração: Psicologia da Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 2001 Mestrado: Em Educação – Área de Concentração: Psicologia – Universidade de Mato Grosso do Sul – UFMS – 2003 EDILENE MARIA DE OLIVEIRA ARAÚJO Graduação: Serviço Social – Faculdades Unidades Católica de Mato Grosso – FUCMT – 1986 Pós-graduação Lato Sensu: Formação de Formadores em Educação de Jovens e Adultos – Universidade Nacional de Brasília – UNB – 2003 Pós-graduação Lato Sensu: Gestão de Iniciativas Sociais – Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ – 2002 Pós-graduação Lato Sensu: Administração em Marketing e Comércio Exterior – UCDB – 1998 ANgELA CRISTINA DIAS DO REgO CATONIO Graduação: Letras – Língua Portuguesa e Língua Inglesa/Universidade Católica Dom Bosco – UCDB, Campo Grande/MS – 1996 Especialização: Comunicação Social/Universidade Metodista de São Paulo – UMESP, São Paulo/SP, 1999 Mestrado: Comunicação Social/Universidade Metodista de São Paulo – IMESP, São Bernardo do Campo/SP, 2000 MARIA CLOTILDE PIRES BASTOS Graduação: Pedagogia com Habilitação em Administração e Supervisão Escolar de 1º e 2º Graus – Universidade Católica Dom Bosco – UCDB – 1981 Pós-graduação Lato Sensu: Metodologia do Ensino Superior – Universidade para o Desenvolvimento do Estado e da Região do Pantanal – UNIDERP – 1988 Pós-graduação Strictu Sensu: Educação – Universidade Federal de Mato Grosso do Sul – UFMS – 1997 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 7 5/28/09 3:24:31 PM
  • 8. 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 8 5/28/09 3:24:31 PM
  • 9. Sumário ____________________ MÓDULO – COMUNICAÇÃO E METODOLOgIA DA PESQUISA UNIDADE DIDÁTICA – ESTÁgIO SUPERVISIONADO EM SERVIÇO SOCIAL AULA 1 Estágio supervisionado e a prática do saber ...................................................................................... 3 AULA 2 Legislação e a profissão do assistente social ....................................................................................... 13 UNIDADE DIDÁTICA – COMUNICAÇÃO SOCIAL AULA 1 Linguagem e sua função social ........................................................................................................... 23 AULA 2 Modalidades verbais e não verbais na comunicação ......................................................................... 29 AULA 3 Comunicação: conceitos e modelos ................................................................................................... 33 AULA 4 Funções da linguagem e tipos de comunicação................................................................................. 38 AULA 5 Habilidades em comunicação............................................................................................................. 42 AULA 6 Comunicação e novas tecnologias da comunicação ......................................................................... 46 AULA 7 Relações humanas ............................................................................................................................... 49 AULA 8 Comportamento e moda .................................................................................................................... 51 UNIDADE DIDÁTICA – METODOLOgIA DA PESQUISA CIENTÍFICA AULA 1 O conhecimento e a ciência ................................................................................................................ 59 AULA 2 O método científico ............................................................................................................................ 63 AULA 3 O processo de pesquisa ....................................................................................................................... 67 AULA 4 A pesquisa qualitativa ......................................................................................................................... 72 AULA 5 Leitura e registro ................................................................................................................................. 76 AULA 6 Apresentação de trabalhos acadêmicos – Normas da ABNT ............................................................ 79 SEMINÁRIO INTEGRADO..................................................................................................................... 94 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 9 5/28/09 3:24:32 PM
  • 10. MÓDULO – DIREITO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS UNIDADE DIDÁTICA – DIREITO E LEgISLAÇÃO SOCIAL AULA 1 A aplicabilidade do direito no serviço social ..................................................................................... 97 AULA 2 A pessoa e seu inter-relacionamento social ....................................................................................... 106 AULA 3 A institucionalização da sociedade..................................................................................................... 118 AULA 4 O direito familiar ................................................................................................................................ 132 AULA 5 A estruturação dos direitos constitucionais e as garantias fundamentais: direitos humanos e cidadania ........................................................................................................................................... 143 AULA 6 O direito infraconstitucional e suas aplicações no serviço social – a legislação social e a proteção da sociedade ........................................................................................................................................ 160 AULA 7 O direito trabalhista e as relações políticas de trabalho .................................................................... 169 AULA 8 O direito previdenciário – sistema brasileiro de seguridade social .................................................. 193 UNIDADE DIDÁTICA – MOVIMENTOS SOCIAIS AULA 1 Movimentos sociais............................................................................................................................. 209 AULA 2 Aspectos teóricos – histórico dos movimentos sociais no Brasil ...................................................... 212 AULA 3 Movimentos sociais e cidadania ......................................................................................................... 215 AULA 4 Políticas sociais – a contribuição dos movimentos sociais ............................................................... 218 AULA 5 A sociedade civil e a construção de espaços públicos........................................................................ 221 AULA 6 O caráter educativo do movimento social popular ........................................................................... 223 AULA 7 Os movimentos sociais e a articulação entre educação não formal e sistema formal de ensino .... 226 AULA 8 Movimentos sociais em suas diferentes expressões ........................................................................... 229 AULA 9 Tendências dos movimentos sociais na realidade brasileira contemporânea .................................. 232 AULA 10 Redes de ações coletivas ...................................................................................................................... 239 SEMINÁRIO INTEGRADO..................................................................................................................... 243 00_Abertura_SSocial_4Sem.indd 10 5/28/09 3:24:32 PM
  • 11. Módulo DIREITO SOCIAL E MOVIMENTOS SOCIAIS Professora Ma. Laura Marcia Rosa dos Santos Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 207 5/15/09 2:15:07 PM
  • 12. Unidade Didática — Movimentos Sociais Apresentação Caro(a) acadêmico(a), Conhecer a mobilidade das classes sociais no Brasil é muito importante. Diante dessa proposta, esta uni­ dade didática tem como objetivo estudar e compreender as temáticas classes sociais e as influências dos mo­ vimentos sociais no Brasil. Correlacionar os fenômenos sociais que ocorrem na sociedade brasileira ao longo dos tempos com a atuação do serviço social se faz necessário para se entender como esse fenômeno interfere na ação diária do profissional da área social. Se olharmos para o passado, observamos que as lutas que aconteceram não foram em vão, tornando neces­ sário conhecer as teorias e a trajetória dos movimentos sociais no Brasil, bem como a dimensão educativa dos movimentos sociais na formação da cidadania, a contribuição dos movimentos na elaboração e implemen­ tação de políticas sociais e o seu papel na articulação educação não formal com o sistema formal de ensino e as tendências contemporâneas. Grata e até mais! Professora Ma. Laura Marcia Rosa dos Santos 208 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 208 5/15/09 2:15:08 PM
  • 13. AULA 1 — Movimentos Sociais AULA ____________________ 1 Unidade Didática – Movimentos Sociais MOVIMENTOS SOCIAIS Conteúdo • A luta de classes • Movimentos sociais Competências e habilidades • Identificar os aspectos históricos e sociais que interferem diretamente nas questões sociais na atualidade Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com professor interativo 2 h/a – presenciais com professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo As questões acerca das lutas e movimentos na so­ Vale ressaltar que a defesa dos direitos sociais e ciedade têm ganhado campo desde o século XIX. humanos, da democracia e da justiça social faz parte Nesta perspectiva buscaremos resgatar os movimen­ da luta dos assistentes sociais, o que requer muita tos e lutas empreendidas pela sociedade civil, mais atenção para fatos e acontecimentos que marcam a especificamente pelas camadas populares em decor­ história da sociedade. rência das demandas e reivindicações ocorridas no espaço urbano. A luTA De ClAsses Ao longo do processo iremos abordar os pontos De modo geral, o debate central para os estudos básicos dos fatos históricos ocorridos no Brasil, mas de lutas e movimentos está presente na história, que também têm relação e sofrem influência norte­ uma vez que ela se desenvolve a partir da população americana e europeia. No bojo da discussão será civil, ou seja, parte principalmente das camadas so­ enfatizada a questão da cidadania, para demonstrar ciais mais pobres. As lutas têm o caráter de rebelião as alterações que foram acontecendo em sua pró­ contra a ordem estabelecida. Diante desse fato, far­ pria concepção, resgatando, assim, seus princípios se­á um recorte a partir do século XVIII, no qual articulatórios e as conquistas concebidas a respeito, as lutas tinham em comum o desejo de libertação particularmente pelas camadas populares. da metrópole. As mudanças ocorrem não porque os 209 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 209 5/15/09 2:15:08 PM
  • 14. Unidade Didática — Movimentos Sociais grupos (liberais radicais) que lideravam as lutas se vista a passagem de um tipo de sociedade a outro”. impuseram, mas devido ao apoio da elite conserva­ Na produção textual em curso, tomamos como re­ dora ao príncipe herdeiro de uma monarquia deca­ ferência a explicitação do conceito formulado por dente para não perder seus privilégios. Calado (1999, p. 136) concernente a esses sujeitos Por outro lado, o século XIX traz para a histó­ coletivos. ria os conflitos que abrangiam as “zonas rurais e Organizações coletivas empenhadas na luta em urbanas, pois dado o sistema produtivo existente, defesa de seus interesses econômicos e socioculturais, baseado na hegemonia da monocultura do café, a buscando construir sua identidade, de forma pro­ produção ocorria no campo mas a comercialização, cessual, tendo como referência oposta a conduta dos do produto e da mão­de­obra, ocorria na cidade” que eles situam como seus adversários ou inimigos. (GOHN, 2005, p. 18). Nesse período surgem as se­ A sociedade civil historicamente tem desempe­ guintes categorias problemáticas de lutas: as que lu­ nhado um papel importante no debate sobre direi­ tam em torno da questão da escravidão, em torno tos humanos. Terreno fértil onde nascem os con­ das cobranças do Fisco, de pequenos camponeses, flitos, as ações coletivas organizadas e encabeçadas contra Legislações e Atos do Poder Público, pela pela sociedade civil engendram a dinâmica de re­ mudança do regime político e as lutas entre catego­ lações sociopolíticas e humanas que dão sentido à rias socioeconômicas. sociedade. Composta por uma gama de atores que O século XX imprimiu um novo caráter às lutas atuam para dar forma a esse conjunto da vida espi­ sociais no Brasil. As questões urbanas ganham ca­ ritual e intelectual, permeada de relações ideológi­ racterísticas próprias, advindas das novas funções co­culturais (GRAMSCI, 1984), a sociedade civil é que passam a se concentrar nas cidades. À medida fiadora de ações coletivas que afetam a dinâmica e que o desenvolvimento vai se instalando na socie­ (re)configuram as relações sociais. Locus dos movi­ dade por meio da indústria e, em consequência mentos sociais, essa mesma sociedade civil é espaço disso, as novas configurações sociais que surgem na para construção de hegemonia e atua como media­ sociedade darão o tom para as ações e conflitos no dora da infraestrutura econômica e o Estado em seu meio urbano. Consequentemente, novas categorias sentido restrito. O Estado em seu sentido mais am­ de lutas emergem, como as de lutas sociais da classe plo é constituído, portanto, pela esfera da sociedade operária por melhores salários e condições de vida; civil e pela esfera da sociedade política (conjunto lutas populares e médias por moradia; lutas sociais de mecanismos em que a classe dominante detém o no campo; lutas da categoria dos militares; lutas e monopólio legal da repressão e da violência (RA­ movimentos de raça, etnia, cor, gênero; lutas cívicas, MOS, 2005). Em uma relação dialógica, a socieda­ entre outros. de civil exerce a hegemonia pela direção política, e o consenso e a sociedade política pela coerção. Na MoviMenTos soCiAis dialética entre coerção e consenso, ditadura e hege­ As concepções e conceitos referentes a movimen­ monia, são expressos o poder de uma classe. to social, como observa Scherer­Warren (1996, p. Desde que a concepção marxista sobre o papel 18), variam desde a afirmação de que “toda ação da luta de classes para o entendimento da sociedade coletiva com caráter reivindicativo ou de protesto começa a ser alterado em meados da década de 1970 é um movimento social, independente do alcance (GOSS; PRuDêNCIO, 2004), novas questões pas­ ou significado político ou cultural da luta”, ao ex­ sam a ser introduzidas para análise e compreensão tremo de considerar movimento social como “ape­ da realidade social, dentre elas a ênfase em outras nas um número muito limitado de ações coletivas relações que não apenas econômicas como caminho de conflito, aquelas que atuam na produção da so­ para pensar as relações, o deslocamento de atenção ciedade ou seguem orientações globais, tendo em da sociedade política para a sociedade civil e da luta 210 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 210 5/15/09 2:15:09 PM
  • 15. AULA 1 — Movimentos Sociais de classes para os movimentos sociais. Os sujeitos movimentos sociais se fecundarem. É o que aponta políticos deixam de ser analisados pela relação clas­ Dias (2004), em uma análise sobre a semelhança en­ se­partido­Estado. Em outras palavras, a categoria tre os movimentos populares tradicionais e os con­ classes sociais torna­se insuficiente para entender os temporâneos, a partir da arqueologia foucaltiana: movimentos arquitetados no âmbito da sociedade [...] compreende­se que o húmus discursivo de civil. onde nascem as reflexões sobre os movimentos Surge, assim, o que alguns autores da área cha­ sociais não seria o liberalismo, esse fenômeno do mam de novos movimentos sociais, com atuação mundo ocidental, nem o Estado Liberal, nem a so­ pautada em questões identitárias e com foco na ciedade civil em si mesmos, mas as práticas políti­ politização de espaços alternativos de luta, que não cas e de poder, os modos de atualização da liberda­ apenas os partidos políticos e sindicatos. Entre as al­ de e igualdade na sociedade civil e as conquistas da terações mais significativas está a ideia de que o po­ realização da cidadania e dos direitos individuais lítico passa a ser um componente presente em toda (GOHN, 2004, p. 98). prática social e não apenas em espaços específicos, Em se tratando de estratégias, os movimentos so­ o que configura os movimentos sociais como “ações ciais contemporâneos em plena era da globalização sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural e da informação atuam em redes, formas de arti­ que viabilizam distintas formas da população se or­ culação que potencializam a ação dos sujeitos que, ganizar e expressar suas demandas” (GOHN, 2004, interligados por meio de uma teia de relações, am­ p. 13). Essas mesmas ações coletivas criam identida­ pliam sua esfera de atuação. des em espaços não institucionalizados que geram transformações no espaço social. A essência de atuação dos movimentos sociais é chamar o sujeito como forma de resistir à domina­ * ANOTAÇÕES ção social. Resistir ao poder é defender o sujeito. As novas contestações não visam criar um novo tipo de sociedade, mas “mudar a vida”, defender os direitos do homem, assim como o direito à vida para os que estão ameaçados pela fome e pelo ex­ termínio, e também o direito à livre expressão ou à livre escolha de um estilo e de uma história de vida pessoais (TOuRAINE apud GOSS; PRuDêNCIO, 2004, p. 80). Na ausência de adversários, os movimentos so­ ciais discutem e pautam questões que antes esta­ vam na esfera privada, como as questões de gênero, sexual e étnicas e ao mesmo tempo compartilham de lutas mais abrangentes. Alguns movimentos da sociedade civil de cunho identitário na busca pela afirmação de suas diferenças acabam tocando em questões estruturais. E é na sociedade construída, sustentada e media­ da pelas relações de poder, como apontamos ante­ riormente, que estão criadas as bases férteis para os 211 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 211 5/15/09 2:15:10 PM
  • 16. Unidade Didática — Movimentos Sociais AULA ____________________ 2 ASPECTOS TEÓRICOS – HISTÓRICO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL Unidade Didática – Movimentos Sociais Conteúdo • As teorias clássicas sobre as ações coletivas • Teorias contemporâneas norte-americanas da ação coletiva e dos movimentos sociais • Teorias na era da globalização: a mobilidade política • Os paradigmas europeus • As questões brasileiras Competências e habilidades • Capacidade de introduzir o acadêmico no universo histórico e social das questões sociais, a partir da realidade do Brasil e do mundo Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com professor interativo 2 h/a – presenciais com professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo As TeoriAs ClássiCAs sobre As Ações Esse paradigma clássico foi apropriado por uma ColeTivAs nova geração de pesquisadores, tendo como ponto As questões assinaladas conduziram, no nível teó­ de partida e referencial histórico para essa análise rico, a uma reflexão sobre alguns elementos históri­ dois motivos: por um lado, a memória histórica das cos que estruturam a criação dos movimentos sociais. primeiras teorias dos movimentos sociais e ações Essa reflexão possibilitará retomar os paradigmas coletivas e, por outro, as referências e matrizes teó­ clássicos e contemporâneos. Cabe observar que não ricas de vários conceitos que estão sendo retomados se trata de evidenciar a perpetuação de mecanismos nos anos 1990 pelo próprio paradigma norte­ame­ de dominação e de determinadas mazelas da cultura ricano (GOHN, 2007). social e da política brasileira, mas de apreender esses O período clássico durou até os anos 1960. No mecanismos e como eles se atualizam. entanto, não há um consenso nas abordagens, o 212 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 212 5/15/09 2:15:10 PM
  • 17. AULA 2 — Aspectos Teóricos – Histórico dos Movimentos Sociais no Brasil que nos leva a considerar cinco grandes linhas com meira corrente de teoria sobre os movimentos diferentes ênfases com características comuns, que sociais, no trabalho de Heebert Blumer (1939). são: 2. A segunda, desenvolvida ao longo dos anos 1940 e 1950, teve como teóricos Eric Fromm [...] o núcleo articulador das análises é a teoria da (1941), Hoffer (1951) e Kornhruser (1959). ação social, e a busca de compreensão dos compor­ 3. A terceira predominou nos anos 1950 com um tamentos coletivos é nela a meta principal. [...] A viés político forte que articulava as classes e re­ ênfase na ação institucional, contraposta à não ins­ lações sociais de produção na busca do entendi­ titucional, também era uma preocupação prioritária mento tanto dos movimentos revolucionários e um denominador que dividia os dois tipos básicos como da mobilização partidária, presente nos de ação: a do comportamento coletivo institucional trabalhos de Lipset (1950) e Heberle (1951). e a do não institucional (GOHN, 2007, p. 23). 4. Combinação das teorias da Escola de Chicago Segundo Gohn (2007), pode­se dividir em cin­ com a teoria da ação social de Parsons. co grandes correntes teóricas a abordagem clássica 5. A quinta corrente denominada organizacional­ sobre ação coletiva, sendo que em três delas os mo­ institucional, não gerou nenhuma teoria sobre vimentos sociais especificados como teorias e nas os movimentos sociais. outras duas como ações coletivas. A seguir apresen­ tamos as correntes: Elementos comparativos entre as teorias contem­ 1. A Escola de Chicago e alguns interacionistas porâneas norte­americanas da ação coletiva e as teo­ simbólicos do início do século. Tida como a pri­ rias sobre movimentos sociais na era da globalização: Mobilização de recursos Mobilização política Analisa os movimentos dos direitos civis Impera a política do “politicamente correto” A teoria da mobilização política reintroduz a psicologia A psicologia é rejeitada como explicativo social como instrumento para a compreensão do comportamento coletivo Com o desenvolvimento do processo político, Explica os movimentos sociais no âmbito organizacional formal o campo da cultura foi reativado O recurso deixa de ser o eixo central condutor A variável mais importante é a dos recursos das análises e passa a ser o processo político Dá ênfase à visão economicista, baseada na lógica Ênfase na estrutura das oportunidades políticas racional da interação entre os indivíduos Concebiam os movimentos sociais em termos de Busca entender a identidade coletiva um setor de mercado, livre e aberto a grupos e ideias dos grupos e a interação com sua cultura A mobilização das bases do movimento O interacionismo ressurge na forma é analisada pela ótica econômica de interacionismo simbólico A ênfase está na problemática da consciência política, O consenso objetiva a obtenção de recursos a qual é aplicada para entender os movimentos financeiros e o conflito, as mudanças sociais de conflitos e os de consenso os paradigmas Os movimentos sociais devem ser entendidos em Constrói-se uma nova teoria, que passa a termos de uma teoria de conflito da ação coletiva ser denominada “mobilização política” Os atores são competidores em um mesmo cenário, Refutam a ideia de incluir como movimentos sem que haja contradição de interesses, porque sociais as diferentes formas de ação coletiva não aborda a problemática das classes sociais A sociedade é vista como um arranjo estático das Resgate da premissa tradicional da ação coletiva elites e não elites, relativamente homogêneo Destaca o caráter estrutural Reforça a análise estrutural 213 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 213 5/15/09 2:15:11 PM
  • 18. Unidade Didática — Movimentos Sociais As quesTões brAsileirAs ! IMPORTANTE Na América Latina, mais especificamente no Bra­ Por meio dos movimentos sociais, as pessoas se en­ sil, as questões teóricas voltadas para os movimentos volvem em lutas simbólicas sobre os significados e ganham corpo a partir do final da década de 1970, interpretações dos fatos e coisas. quando se fala dos novos movimentos sociais em encontros, seminários e colóquios acadêmicos. os PArADigMAs euroPeus Os paradigmas desse período são divididos, e isso se dá no âmbito das interpretações das ações. Segundo Segundo Gohn (2007), na Europa pode­se dis­ Gohn (2007, p. 283­284), no Brasil o que predominou tinguir duas grandes linhas de abordagem sobre as nos anos 1970 foram as análises de cunho marxista, in­ teorias que determinam o paradigma a partir dos fluenciadas pela corrente franco­espanhola de Castells, anos 1960: a neomarxista e a culturalista­acionalis­ Borja, Lojkine e Preteceille e as análises acionalistas de ta, que se consagrou como a teoria dos Novos Mo­ Touraine. Na década de 1980, as análises são influen­ vimentos Sociais. ciadas por Foucault, Guattari, Melucci, entre outros. As características gerais desse novo movimento Ainda nos anos 1980, o cenário das lutas no Bra­ seriam: sil apresenta um conjunto de ações que passam pelo • o modelo teórico é baseado na cultura, mas ne- plano da atuação concreta, da análise, do otimismo ga os valores e normas herdadas do passado. A para a perplexidade e, depois, para descrença. Vários ideologia é deixada de lado e sofre influência fatores colaboram para isso, inclusive as alterações pós­estruturalista e pós­modernista de cultura, nas políticas públicas e na composição dos agentes centrando suas atenções nos discursos como e atores que participam de sua implementação, ges­ expressões de práticas culturais; tão e avaliação (GOHN, 2007). • nega o marxismo como campo teórico, por Nos anos 1990, é preciso entender o contexto a tratar a ação coletiva apenas no nível das estru­ partir da era da globalização, pois o País passa por turas, da ação das classes; transformações econômicas e nova ênfase é dada às • elimina o sujeito histórico redutor da humani­ políticas sociais. Nesse cenário destacam­se elemen­ dade, configurado pelas contradições do capi­ tos que exercerão grande influência sobre a dinâmica talismo e formado pela “consciência autêntica” dos movimentos sociais, principalmente os popula­ de uma vanguarda partidária; res. Nesse sentido, pode­se apontar a crise econômica • a política ganha centralidade na análise, sendo que levou à diminuição dos empregos no mercado utilizada principalmente no âmbito das rela­ formal; as políticas econômicas dão suporte às ati­ vidades na economia informal; a economia semi­ ções microssociais e culturais; comunitária encontra nas organizações não gover­ • os atores sociais são analisados por suas ações namentais uma forma para servir de suporte como coletivas e pela identidade coletiva criada no estruturas organizativas do processo de produção; e processo. Ressalta­se que essa identidade é o número de pessoas sem­teto, morando permanen­ criada por grupo e não por identidade social. temente nas ruas, cresce de modo assustador. Por outro lado, na década de 1990, novas práticas Segundo Mouffe (apud GOHN, 2007), a novida­ civis surgem no cenário nacional de movimentos que de dos novos movimentos deriva das novas manei­ já existiam, mas com uma nova roupagem. Estamos ras de subordinação ao capitalismo tardio, no qual falando do Movimento dos Trabalhadores Rurais se insurge a banalização da vida social, a burocrati­ Sem­Terra, a união Ruralista Brasileira, como tam­ zação da sociedade e a massificação da vida social bém os movimentos centrados nas questões éticas ou pela poderosa invasão dos meios de comunicação de revalorização da vida humana. Mas essas questões de massa. serão aprofundadas no decorrer das aulas. 214 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 214 5/15/09 2:15:12 PM
  • 19. AULA 3 — Movimentos Sociais e Cidadania AULA ____________________ 3 Unidade Didática – Movimentos Sociais MOVIMENTOS SOCIAIS E CIDADANIA Conteúdo • O conceito de cidadania • A relação entre movimentos sociais e cidadania no Brasil Competências e habilidades • Capacidade de compreender e exercitar o significado da palavra cidadania no contexto social que permeia as relações sociais na sociedade brasileira atual Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com professor interativo 2 h/a – presenciais com professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo o ConCeiTo De CiDADAniA de participação integral na comunidade – ou, como Na medida em que observamos a constituição de eu diria, de cidadania – o qual não é inconsistente direitos referentes à questão social no Brasil, faz­se com as desigualdades que diferenciam os vários ní­ necessário explicar a maneira como esse processo é veis econômicos na sociedade. Em outras palavras, pensado em relação à forma como utilizamos, aqui, a desigualdade do sistema de classes sociais pode o conceito de cidadania. ser aceitável desde que a igualdade de cidadania seja reconhecida (MARSHALL, 1967, p. 62). Como ponto de partida, gostaríamos de retomar algumas reflexões e questões clássicas explicitadas Então, podemos dizer que a mais recente fase da pelo sociólogo Thomas H. Marshall, a respeito da evolução da cidadania seria caminhar rumo à igual­ cidadania na sociedade inglesa, no período pós­ dade social. Se este é o caso, para que as argumenta­ guerra; pois ele estava preocupado com a relação de­ ções sigam uma lógica realizar­se­á uma divisão do mocracia e capitalismo. Ressaltando, em seu texto, o conceito de cidadania, distinguindo­se três dimen­ que vem a ser a hipótese sociológica latente do ensaio sões: a civil, a política e a social, cada uma relaciona­ do economista Alfred Marshall: da a um período formativo. [Alfred Marshall] Postula que há uma espécie de A cidadania civil teria se desenvolvido no século igualdade humana básica associada com o conceito XVII, como resposta ao absolutismo, caracterizan­ 215 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 215 5/15/09 2:15:13 PM
  • 20. Unidade Didática — Movimentos Sociais do­se pelos direitos necessários à liberdade indivi­ leira, mas se caracteriza pelo caráter conciliatório e dual, pela liberdade de ir e vir, de palavra, pensa­ de negociação entre a elite nacional, a coroa portu­ mento, entre outros. guesa e a inglesa. A solução monárquica e conserva­ Na cidadania política, associada ao século XIX, dora estava garantida, e a Constituição de 1824 re­ desenvolvem­se os direitos referentes à participação gulou os direitos políticos dos cidadãos e definiu no exercício do poder político, com extensão do di­ quem teria direito de votar e ser votado. reito ao voto em escala cada vez maior. Apesar de certo grau de democracia – grande par­ Quanto à cidadania social, desenvolvida princi­ te da população adulta masculina podia exercer seus palmente no século XX, inclui os direitos a um mí­ direitos políticos –, os brasileiros alçados à categoria nimo de bem­estar econômico­social, sendo o siste­ de cidadãos pela Constituição de 1824 eram predo­ ma educacional e os serviços sociais as instituições minantemente analfabetos e viviam em áreas rurais a ele relacionadas. sob o comando dos grandes proprietários, e na ci­ dade os eleitores eram em sua maioria funcionários públicos influenciados e controlados pelo governo. A relAção enTre MoviMenTos soCiAis A escravidão foi o grande entrave para o desen­ e CiDADAniA no brAsil volvimento dos direitos civis no Brasil, pois negava Os direitos do cidadão e do homem e a cidadania a condição de humanidade para as pessoas consi­ são históricos, resultam das relações e dos conflitos deradas escravas. Em 1888, quando a elite descobre sociais em determinados momentos da história de que a escravidão impedia a integração do País nos um povo. Ou seja, a formulação e o desenvolvimento mercados internacionais, além de bloquear o de­ dos direitos civis, políticos, sociais, econômicos e cul­ senvolvimento das classes sociais e do mercado de turais seguiram no Brasil e no resto do mundo um trabalho, ela finalmente abole a escravidão, mas não processo marcado por avanços e retrocessos, ao passo revê o formato de divisão de bens (a terra), pois o que certos direitos estavam sendo discutidos e garan­ movimento pela independência preservou as elites tidos em algum lugar do planeta, em outro continen­ nacionais no poder, manteve a nação dividida entre te ou país estavam sendo violados ou nem estavam senhores e não criou um sistema educacional públi­ em discussão. Os direitos que estavam garantidos por co de qualidade. muito tempo passaram a ser negligenciados por con­ Com a urbanização, a industrialização e o surgi­ ta de interesses ideológicos, políticos e/ou econômi­ mento de uma pequena classe operária no Rio de Ja­ cos. Além do mais, dentro de uma mesma sociedade, neiro e São Paulo, alguns direitos básicos como a or­ os direitos do homem e do cidadão não são garanti­ ganização sindical, as manifestações e reivindicações dos do mesmo modo a todas as pessoas. públicas e as greves, aparecem no cenário nacional. No Brasil, a construção da cidadania e a afirma­ Em 1930, verifica­se um avanço dos direitos so­ ção dos direitos têm percorrido caminhos difíceis e ciais com a criação do Ministério do Trabalho e com bastante tortuosos, pois, apesar das influências que uma ampla legislação trabalhista e previdenciária, recebemos, construímos um processo diferencia­ culminando com a Consolidação das Leis do Traba­ do nas discussões e na implementação dos direitos lho (CLT), em 1943. civis, políticos e sociais. Diante dessa constatação, Em relação ao desenvolvimento dos direitos políti­ dividiremos o processo histórico por períodos, a co­ cos, a instabilidade democrática do País entre 1930 e meçar pela Independência. 1964 alterna ditadura e regimes mais democráticos, não permitindo uma plena evolução das discussões A independência sobre os direitos civis e políticos. A liberdade de ex­ A proclamação da independência em 1822 inau­ pressão e de organização chega a ser suspensa no gura a era dos direitos políticos na sociedade brasi­ período ditatorial de 1937. A derrubada de Vargas, 216 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 216 5/15/09 2:15:13 PM
  • 21. AULA 3 — Movimentos Sociais e Cidadania as eleições presidenciais e legislativas e a Constitui­ são questões novas no cenário nacional” (p. 203). ção de 1946 garantiram certa estabilidade para os Ou seja, nesse período o novo é a forma e o modo direitos civis e políticos até 1964. A partir daí, por como equacionar e encaminhar as demandas e as conta da ditadura militar, a maioria dos direitos ci­ possíveis soluções. vis e políticos foi restringida pela violência. Outro ponto é a nova concepção da ideia de co­ munidade, por se tratar não apenas de um locus os desafios contemporâneos geográfico espacial, mas por ser uma categoria da A década de 1980 inaugura no Brasil novos tem­ realidade social, de intervenção, assim como de re­ pos para a questão da cidadania, pois os movimen­ definição dos valores seculares, como os dos direi­ tos e organizações do passado se articulam com o tos humanos e a articulação entre os valores morais, novo, com a Igreja, entre outros, criando uma nova econômicos e o desejo de mudanças políticas. identidade para os movimentos nesse período, no qual novas bandeiras foram levantadas. Esses gru­ Para concluir pos eram fortalecidos pela conjuntura internacio­ Pode­se observar que a questão da cidadania foi nal, que também destacava as questões dos direitos a grande conquista dos movimentos sociais, pois as humanos como sendo básicos. pessoas estão se posicionando como protagonistas Esse processo representa para os brasileiros as da história, na qual a cidadania tutelada dá lugar à mudanças no cenário político, como também trans­ cidadania moderna, fundada na noção de direito à formações mais profundas no seio da sociedade, diferença, mas não somente a vida, mas a autode­ mas permanece no País uma enorme concentração terminação como questão de gênero, raça, idade, de renda e seus subprodutos, como a miséria e a manifestação sexual, entre outras. E reivindica­se a exclusão social. Ao lado disso, a atuação omissa e participação da sociedade nas questões civis e polí­ vacilante por parte do Estado que não promove po­ ticas, no mercado de bens e consumo, como tam­ líticas públicas adequadas e suficientes para corrigir bém a manutenção dos valores culturais. essas desigualdades sociais e regionais. Conforme Gohn (2003, p. 209), a “concepção de A garantia dos direitos civis e políticos não resol­ cidadania que resulta deste cenário busca corrigir veu os problemas históricos da cidadania no País. diferenças instituídas, destacando o valor da igual­ Contudo, esses direitos formam um quadro no dade”. A solidariedade volta a ser a mola propulsora qual os movimentos sociais podem aparecer publi­ dos grupos sociais e a participação políticas se dá na camente trazendo suas reivindicações e propostas, esfera da igualdade entre os cidadãos. ocorrendo alternância de grupos políticos no poder. Ao mesmo tempo, os problemas estruturais e secu­ lares da sociedade brasileira podem ser discutidos e estudados. * ANOTAÇÕES o paradigma Segundo Gohn (2003), as demandas da ação so­ cial contrastaram com o sistema vigente. Mas, na realidade, essas demandas não são novas, posto que “a carência de bens e serviços para os setores po­ pulares, a discriminação social contra os negros, os índios, as mulheres, o desrespeito à natureza, ou ainda o problema das crianças pobres nas ruas não 217 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 217 5/15/09 2:15:14 PM
  • 22. Unidade Didática — Movimentos Sociais AULA ____________________ 4 POLÍTICAS SOCIAIS – A CONTRIBUIÇÃO DOS MOVIMENTOS SOCIAIS Unidade Didática – Movimentos Sociais Conteúdo • Movimento social: a luta por direitos • O Estado e as políticas sociais • Avanços da participação cidadã Competências e habilidades • Identificar os elementos que contribuem e interferem na dinâmica dos movimentos sociais, a partir das políticas sociais Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com professor interativo 2 h/a – presenciais com professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo MoviMenTo soCiAl: A luTA Por DireiTos servamos a ação das organizações dos movimentos Quando nos referimos a políticas sociais, enten­ sociais, assim como as ações discursivas e as estra­ demos aquelas ações desenvolvidas pelos governos tégias práticas de intelectuais, militantes e políticos e poderes políticos constituídos, uma forma de preocupados com as desigualdades sociais. ação prática, que se traduz em leis, organizações e No contexto deste estudo, configura­se como programas de intervenção, orientadas pelo Poder movimento social a diversidade de grupos e orga­ Público, abrangendo os poderes Executivo, Legisla­ nizações, em seus diferentes graus de envolvimento tivo e Judiciário. Mas a essa definição de políticas com a questão social, que tiveram como um de seus incorporamos também a observação da maneira objetivos melhorar as condições de vida da socieda­ como certos direitos foram estabelecidos e as for­ de. Abrangeria o conjunto de iniciativas de natureza ças sociais que atuaram para isso. Dessa forma, ob­ política, educacional e cultural incorporando, dessa 218 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 218 5/15/09 2:15:15 PM
  • 23. AULA 4 — Políticas Sociais – A Contribuição dos Movimentos Sociais forma, tanto as reivindicações culturais quantos as o esTADo e As PolíTiCAs soCiAis referentes às condições socioeconômicas da socie­ No Brasil, persiste a modalidade assistencial de dade, entendendo ambas como estratégias políticas fazer política no campo do social, nos espaços de re­ que buscam a garantia de direitos. lação entre o Estado e os setores excluídos, o que, se­ Sendo assim, a Constituição de 1988 garante ao gundo Yazbek (2006), pode ser traduzido nas ques­ cidadão brasileiro total e irrestrito direito no que tões relacionadas às políticas estatais de corte social tange aos direitos sociais, assegurados por meio da e ao enfrentamento da crescente pauperização das assistência social, saúde e previdência, ou seja, o tri­ classes subalternas que têm se constituído em temá­ pé constitutivo da seguridade social que pressupõe a universalidade dos direitos, de forma uniforme e ticas presentes nas análises e estudos das políticas equivalente para as populações rurais e urbanas. sociais públicas no Brasil. Por outro lado, o caráter Nesse contexto faz­se necessário que entendamos regulador da intervenção estatal no âmbito das rela­ que a “seguridade social enquanto conjunto de po­ ções sociais tem dado o formato das políticas sociais líticas e ações de reprodução social dos indivíduos no País, que são traduzidas como políticas casuís­ humanos se introduz na agenda de compromissos ticas, inoperantes, fragmentadas, superpostas, sem da humanidade com o advento do capitalismo” regras estáveis ou reconhecimento de direitos. (FALCÃO, 2006, p. 111). É nesse cenário da era ca­ Agora, é importante ressaltar que a expansão ca­ pitalista que é introduzido um novo modo político pitalista no Brasil em sua forma monopolista se dá de condução da vida societária. pela apreensão de suas ambiguidades, contradições Por meio das investidas dos movimentos sociais, e desigualdades que se evidenciam de um lado pelo as questões da pobreza ganham visibilidade, não tratamento impune e selvagem à força de trabalho podendo mais ser tratada como fenômeno conjun­ e, por outro, na presença de um capitalismo moder­ tural, passando a fenômeno estrutural que decorre de um modo de produção que engendra a exclusão, no, marcado pelo avanço tecnológico na industriali­ as desigualdades sociais e a injustiça social (FAL­ zação e pelas altas taxas de concentração e acumu­ CÃO, 2006). lação, uma vez que, as intervenções do Estado per­ Por outro lado, a seguridade social em seu sen­ meiam o quadro das interlocuções e mediações tido amplo se apresenta como peça fundamental e que constituem o campo da política social pública, estratégica nos pactos estabelecidos pela classe do­ inscrevendo­se no bojo das relações sociais. minante com os diversos segmentos da sociedade, Assim, o contraste entre miséria e abundância nos em especial com a classe trabalhadora, garantindo, mostra que a evolução econômica capitalista brasi­ assim, uma revolução passiva, a qual desenhou uma leira fortaleceu mais a desigualdade do que a dimi­ nova paisagem capitalista, com alguns elementos nuiu, pois, para Yazbek (2006, p. 40), embora as po­ em destaque: líticas governamentais no campo social expressem o a) a evolução de um capitalismo individualista “caráter contraditório das lutas sociais, acabam por e selvagem, para um capitalismo planificado, reiterar o perfil da desigualdade no país e mantêm transnacional e monopolista; essa área de ação submersa e paliativa”. b) a generalização e mundialização do assalariado; c) a forte expansão das funções do Estado­nação; Pode­se evidenciar que a questão social no Brasil d) a introdução de um pacto social com os vários começa a partir da Primeira República, com o pro­ segmentos da sociedade civil, principalmente cesso da industrialização e da implantação do ca­ com a classe trabalhadora; pitalismo no País, no qual surgem o operariado e a e) as relações sociais de dominação e poder to­ burguesia nacional, o acirramento das contradições mam forma corporativista, funcional, tendo o entre capital e trabalho como explicação maior da Estado como mediador principal. desigualdade social. 219 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 219 5/15/09 2:15:15 PM
  • 24. Unidade Didática — Movimentos Sociais AvAnços DA PArTiCiPAção CiDADã • o direito de a mulher votar; A preocupação com a participação cidadã tem sido • o direito a greve para reivindicar melhores sa­ uma constante ao longo do tempo. Existe intersubje­ lários e condições de trabalho; tividade a respeito de que os ganhos para um sistema • a economia baseada na mão-de-obra livre; político são sempre elevados em sociedades que es­ • a criação de sindicatos; timulam e possibilitam a ingerência dos cidadãos na • a garantia dos direitos civis e sociais, entre outros. determinação do seu destino. A utilização da partici­ pação cívica sempre foi considerada fundamental no processo de construção de uma nação. ! DICA Desse modo, apontamos alguns avanços que foram www.ipp­uerj.net construídos na sociedade brasileira a partir da arti­ culação dos movimentos sociais ao longo da história: * ANOTAÇÕES 220 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 220 5/15/09 2:15:16 PM
  • 25. AULA 5 — A Sociedade Civil e a Construção de Espaços Públicos AULA ____________________ 5 Unidade Didática – Movimentos Sociais A SOCIEDADE CIVIL E A CONSTRUÇÃO DE ESPAÇOS PÚBLICOS Conteúdo • A participação popular no processo de construção das políticas públicas Competências e habilidades • Capacidade de conhecer e participar dos mecanismos reguladores das políticas públicas Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com professor interativo 2 h/a – presenciais com professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo A PArTiCiPAção PoPulAr no ProCesso diante sufrágio universal, que atribui poder aos De ConsTrução DAs PolíTiCAs PúbliCAs eleitos para a tarefa da representação. Esse tem sido, Para abordarmos essa discussão, vamos primeiro durante muito tempo, o principal indicador usado entender o que é democracia, a partir da definição para medir o desenvolvimento democrático. No de Bobbio (2000, p. 56), que define a democracia entanto, o que deve ser considerado nos dias atuais representativa por meio da participação indireta da são os espaços políticos e não o número de votantes, população nos processos decisórios. Nessa forma pois, “para dar um juízo sobre o estado da democra­ de governo, a população elege seus representantes e tização num dado país, o critério não deve mais ser lhes confere poder de decisão. Em geral, a expressão o de ‘quem’ vota, mas o de ‘onde’ se vota” (BOBBIO, “democracia representativa” significa que as delibe­ 2000, p. 68). rações coletivas, isto é, as deliberações que dizem A representação é, sem dúvida, um assunto que respeito à coletividade inteira, são tomadas não tem suscitado muita discussão no universo político. diretamente por aqueles que dela fazem parte, mas Diante desse fato, os movimentos sociais, nas déca­ por pessoas eleitas para essa finalidade. das de 1970 e 1980, tinham como objetivo a mu­ Ou seja, um dos elementos fundamentais da de­ dança social, configuradas em inúmeras lutas popu­ mocracia representativa é o voto, alcançado me­ lares para inserir suas reivindicações no texto final 221 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 221 5/15/09 2:15:16 PM
  • 26. Unidade Didática — Movimentos Sociais da Constituição Federal de 1988, a qual agregou as incidência dos direitos humanos e, mais, refletir so­ reivindicações sociais no tocante aos princípios da bre como a sociedade civil está e/ou pode se organi­ participação da população nos processos decisórios zar e responder às demandas das pessoas em geral é e à mudança das práticas de elaboração e execução entender como a cartilha do capitalismo neoliberal de políticas públicas. A Constituição de 1988 repre­ articula os direitos humanos nessa mesma socieda­ sentou um marco no processo de descentralização de civil, espaço dos movimentos sociais, que histo­ político­administrativa do País. ricamente se consolidaram e se relacionam. A com­ O conjunto de inovações trazidas pela nova preensão e a relação entre essas categorias – neo­ Constituição não significou a efetivação imediata liberalismo, sociedade civil e direitos humanos – são dos espaços de participação na gestão pública. Por pressupostos para analisar as implicações da desi­ outro lado, ainda se têm resquícios da cultura pa­ gualdade social nas relações cotidianas e as respos­ trimonialista, mas Gohn (2003, p. 211) ressalta que tas que muitas organizações sociais podem oferecer “os conflitos sociais contemporâneos têm encon­ a essa problemática. Esse é um caminho que, pen­ trado novas formas de se expressar, diferentes das sado pela ótica das políticas públicas, torna possível tradicionais, baseadas na conciliação, na negociação (re)pensar as estratégias em execução e as ações que pessoal. Trata­se do surgimento da forma Conselho estruturalmente possam ser arquitetadas no âmbito como órgão de mediação povo­poder”. da sociedade civil para uma intervenção qualificada A inserção na sociedade civil dos mecanismo de na garantia dos direitos humanos. controle do governo, por meio dos conselhos, viabi­ lizou a participação irrestrita das pessoas, pois a par­ ticipação popular é entendida como o envolvimen­ ! DICA to da sociedade mediante conselhos, assumindo o www.scielo.br compromisso de trabalhar pela defesa do bem­estar www.conpedi.org coletivo. Podemos usar como exemplo, a participa­ ção no campo da saúde pública, na qual a proposta * de participação popular surgiu como consequência ANOTAÇÕES da redução da confiança da população nas insti­ tuições governamentais e se configurou como uma tendência identificada em várias reformas no setor, implementadas em diferentes países, ainda que nem sempre com a mesma denominação. Vários estudos sustentam a participação popular na elaboração de políticas públicas de saúde como instrumento de aperfeiçoamento dos serviços oferecidos (JACOBI, 2002; SERAPIONI, 2003). Outro exemplo evidente desse compasso entre go­ verno e sociedade civil e a experiência do orçamento participativo, o qual tem uma visão otimista do ser hu­ mano, na qual a participação dos cidadãos na toma­ da das decisões públicas somente não ocorre por não existirem mecanismos institucionais apropriados. Para concluir É por isso que discutir o papel da sociedade civil, enquanto espaço de construção de hegemonia para 222 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 222 5/15/09 2:15:17 PM
  • 27. AULA 6 — O Caráter Educativo do Movimento Social Popular AULA ____________________ 6 O CARÁTER EDUCATIVO DO MOVIMENTO Unidade Didática – Movimentos Sociais SOCIAL POPULAR Conteúdo • O caráter educativo dos movimentos populares • A produção das ciências sociais sobre a educação popular • O caráter educativo de fato Competências e habilidades • Capacidade de interagir com a diversidade nos diversos campos das relações sociais Textos e atividades para autoestudo disponibilizados no Portal Verificar no Portal os textos e atividades disponibilizados na galeria da unidade. Duração 2 h/a – via satélite com professor interativo 2 h/a – presenciais com professor local 6 h/a – mínimo sugerido para autoestudo o CAráTer eDuCATivo Dos MoviMenTos vos agentes que buscam construir uma identidade PoPulAres coletiva, fundada nos interesses dos subordinados”. Inicialmente, os movimentos populares eram vis­ No entanto, é importante ressaltar que essa forma tos apenas como grupos que reivindicavam questões renovada da educação não ocorre por meio de um pro­ básicas relativas ao problema da habitação, uso do grama previamente estabelecido, mas, sim, por meio solo, serviços etc. Na contramão dessa informação, de princípios que são formulados por agentes ins­ essa outra vertente que apresenta um movimento titucionais oriundos da articulação da Igreja, de par­ sociocultural com potencial para uma cultura de tidos políticos, universidades, sindicatos, entre outros. ruptura com a alienação, com a cultura dominante, E sua aplicação e difusão se dão a partir do trabalho no sentido de construir sua própria história. das lideranças da parcela da população organizada. Conforme Gohn (2003, p. 163), é atribuído aos Os trabalhos científicos que tratam dessa questão “movimentos populares urbanos um papel de desta­ se baseiam em artigos, teses e resenhas que foram que no processo de transformação social, como no­ realizados sobre a literatura da educação popular. 223 Modulo02_SSocial_4sem_Unidade02.indd 223 5/15/09 2:15:18 PM