Revista de Leite e Produção de Silagem de Alta Qualidade
1. Leite
REVISTA
Integral
Revista Técnica da Bovinocultura de Leite - Número 25 - Ano 4 | Dezembro/Janeiro | 2009/2010
MANEJO
Recomendações para a
produção de silagem
de alta qualidade
sANidAdE
ESTRESSE CALÓRICO Mastite em novilhas:
prevalência e
Efeitos do estresse fontes de infecção
calórico na reprodução 7
2. Antibiótico bom é assim:
cura rápido e de primeira
Por dentro da notícia
Fácil de Aplicar e Rápida Recuperação dos Animais
mais
Jun/09
6
www.kinetomax.com.br
3. Terminamos 2009 com grandes novidades para os nossos leitores! A primeira, é o Pôster Escore
Corporal de Bovinos Leiteiros, que está sendo distribuído a todos os assinantes. Trata-se de um
trabalho inédito, pois apresenta a avaliação de vacas F1 HolandêsXGir, permitindo a compara-
ção com o Holandês puro. Nossa sugestão é que ele seja afixado em local de fácil visualização
para observação constante.
editorial
Outra novidade é a mudança no nosso projeto gráfico, elaborado nos moldes mais modernos
de diagramação, visando tornar a sua leitura ainda mais agradável e proveitosa. Esperamos
que gostem!
Chega de saudade! Em 2010 queremos estar ainda mais próximos de nossos leitores. Para isso,
preparamos uma programação mensal, alternando a revista com cadernos especiais.
Aguardem...
E, para fechar o ano com chave de ouro, apresentamos essa edição, feita, como sempre, com
todo o nosso carinho e dedicação.
Boas festas e uma ótima leitura!
Flávia Fontes
Editora Chefe
Mensagem de Natal
“Quem teve a idéia de cortar o tempo Desejo todas as cores desta vida,
em fatias, a que se deu o nome de ano, Todas as alegrias que puder sorrir,
foi um indivíduo genial. Industrializou a esperança Todas as músicas que puder emocionar,
fazendo-a funcionar no limite da exaustão. Doze Para você, neste novo ano,
meses dão para qualquer ser humano se cansar e Desejo que os amigos sejam mais cúmplices,
entregar os pontos. Aí entra o milagre da renovação Que sua família esteja mais unida,
e tudo começa outra vez com outro número e outra Que sua vida seja mais bem vivida.
vontade de acreditar que daqui para adiante vai ser Na verdade, gostaria de lhe dizer tantas coisas,
diferente.” Mas nada seria suficiente para
Repassar o que realmente desejo a você.
Para você, desejo o sonho realizado, Então, desejo apenas que você tenha muitos sonhos,
O amor esperado, Sonhos grandes, que eles possam
A esperança renovada. te mover a cada minuto,
Para você, rumo a sua FELICIDADE.
expediente
Editora Chefe
Flávia Adriana Pereira Vieira Fontes
Ana Luíza da Costa Cruz Borges - UFMG
Angela Maria Quintão Lana - UFMG
Contato Publicitário
Mônica Cotta siGA-NOs
DSc. Ciência Animal - CRMV-MG 5741 Antônio Último de Carvalho - UFMG (31) 3281-5862
Elias Jorge Facury Filho - UFMG monica@revistaleiteintegral.com.br
Editora Técnica José Luiz Vasconcelos - UNESP/Botucatu
Nadja Gomes Alves Marcos Neves Pereira - UFLA Diagramação
Profa. Adjunta do Departamento de Zootecnia, Mônica M. O. Pinho Cerqueira - UFMG Alessandra Alves
Universidade Federal de Lavras Norberto Mário Rodriguez - UFMG
Ronaldo Braga Reis - UFMG Assinatura Anual (6 edições) twitter.com/LEiTE_iNTEGRAL
Coordenadora Comercial e de Marketing Sandra Gesteira Coelho - UFMG Brasil - R$ 65,00
Mônica Cotta Exterior - R$ 115,00
Capa www.revistaleiteintegral.com.br
Jornalista Responsável Cristine - Grande Campeã
Alessandra Alves - MTB 14.298/MG Fêmea Jovem Nacional 2008
Fazendas Reunidas HD - Coronel Pacheco/MG As idéias contidas nos artigos assinados não
Consultoria Técnica Proprietário: Horácio Moreira Dias expressam, necessariamente, a opinião da revista milkpoint.com.br/mypoint/
Adriana de Souza Coutinho - UFLA Fotógrafo: Márcio Brigato e são de inteira responsabilidade de seus autores. revistaleiteintegral
Álan Maia Borges - UFMG Foto gentilmente cedida por Eduardo Lopes
Administração / Redação
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5. edições 2009
Artigos publicados, separados por revista e assunto:
GESTÃO
nº19 O papel da assistência técnica e/ou consultoria em momentos de crise
nº20 Novos conceitos de empreendedorismo - Parte I
nº20 Novos conceitos de empreendedorismo - Parte II
INSTALAÇÕES E AMBIÊNCIA
nº21 Efeitos do conforto na qualidade do leite, produtividade e comportamento de vacas
nº23 Metodologia de avaliação do conforto animal em instalações do tipo free-stall
REPRODUÇÃO E MELHORAMENTO GENÉTICO
nº19 Manejo reprodutivo em gado leiteiro – Parte 1
nº19 Aborto em bovinos: causas e diagnóstico diferencial
nº20 Manejo reprodutivo em gado leiteiro – Parte 2 - Índices de eficiência reprodutiva
nº21 Mapeamento do genoma bovino e suas aplicações na pecuária leiteira
nº21 Marcadores moleculares na pecuária leiteira
nº21 Efeito da utilização de gordura como fonte energética sobre o desempenho reprodutivo
nº22 Benefícios e estratégias da utilização de BST em rebanhos leiteiros – Parte I
nº23 Estratégias para incrementar a detecção de cios
nº23 Benefícios e estratégias da utilização de BST em rebanhos leiteiros – Parte II
NUTRIÇÃO E PASTAGENS
nº19 Repensando a utilização de fósforo nas dietas de vaca leiteiras
nº20 Prioridades de utilização de nutrientes em vacas leiteiras no pós-parto imediato
nº20 Aditivos alternativos para a alimentação de ruminantes
nº20 Silagem de grãos úmidos na alimentação de bovinos leiteiros
nº20 Adubação nitrogenada em pastagens: eficiência no processo
nº20 Recuperação de pastagens degradadas – Parte I - Fatores condicionantes
nº22 Silagem de grãos úmidos na alimentação de bovinos leiteiros – Parte II
nº22 Recuperação de pastagens degradadas - Parte II – Formação da pastagem
nº23 Recuperação de pastagens degradadas - Parte III – Recuperação e Renovação
nº23 Manejo racional de pastagens: desafios de um “novo” sistema de produção
QUALIDADE DO LEITE
nº22 Influência do equipamento de ordenha no controle da mastite e qualidade do leite – Parte I
nº23 Influência do equipamento de ordenha no controle da mastite e qualidade do leite – Parte II
SANIDADE
nº19 Aborto em bovinos: causas e diagnóstico diferencial
nº20 Aspectos relacionados à etiologia do deslocamento de abomaso à esquerda
nº21 Monitoramento de parâmetros metabólicos sanguíneos durante o período de transição
nº22 Coleta e envio de amostras para análises laboratoriais - Parte I – Sangue, Fezes, Urina e Secreções
nº22 Enfermidades causadas pelo Vírus da Diarréia Bovina
nº23 Falha na transferência de imunidade passiva
ESPECIAL
nº22 Coleta e envio de amostras para análises laboratoriais – Parte 1 – Sangue, fezes, urina e secreções
nº23 Coleta e envio de amostras para análises laboratoriais – Parte 2 – Análise de solo e alimentos
6. Entrevista
CRAiG BELL
O diretor executivo e um dos só-
cios da Leitíssimo, Craig Bell (ex-
Gerente Geral da Fonterra Brasil),
fala sobre a Fazenda Leite Verde,
e sobre o que atraiu produtores
da Nova Zelândia a investirem no
nordeste brasileiro.
Entrevista concedida ao Milkpoint.
Fazenda Leite Verde – Maior fazenda produtora de leite sem confinamento no Brasil
A Fazenda Leite Verde utiliza práticas e da, as vacas são livres de brucelose e tuberculose
princípios do sistema de pastoreio, desenvolvidos (a fazenda está em processo de certificação junto
na Nova Zelândia. O leite é engarrafado na própria à ADAB na Bahia para receber a certificação oficial
fazenda - inicialmente a fábrica produzirá aproxi- ao abrigo do PNCEBT- Programa Nacional de Con-
madamente 20.000 litros/dia (40% da sua capaci- trole e Erradicação da Tuberculose e Brucelose) e
dade). No entanto, foi projetada para permitir ex- se alimentam de pasto. O leite, livre de resíduos de
pansão até 150.000 litros/dia. antibióticos e carrapaticidas, segundo dados da em-
O Leitíssimo Longa Vida UHT, que será vendido presa, possui menos de 30.000 UFC/ml (Unidades
em garrafas plásticas (PET) recicláveis, é produzi- Formadoras de Colônias) e menos de 300.000 CCS/
do a partir de matéria-prima de um único rebanho ml (contagem de células somáticas).
(rastreabilidade total). Segundo os donos da fazen- O rebanho, desenvolvido na própria fazenda ao
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7. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
longo de sete anos, conta hoje cedente de
com 3.000 vacas, das quais cerca leite. Além Podemos produzir três
de 1.300 estão neste momento disso, o Su- vezes mais leite por hectare
em lactação. As vacas são prove- doeste de do que a Nova Zelândia.
nientes de cruzamentos de raças Bahia tem
selecionadas, com ênfase no de- possivel- tos durante o inverno. O custo
senvolvimento de Kiwicross (jer- mente o melhor clima no Brasil de produção é similar ao da Nova
sey com holandês), tendo como para produção de leite em pasto. Zelândia, mas essas vantagens fa-
objetivo a máxima adaptação ao zem a diferença para nós.
pasto, com baixo fornecimento A Leite Verde sempre se man-
de concentrado. Todo o sêmen teve distante da imprensa e O sudoeste da Bahia pode se
utilizado para reprodução provém mesmo de técnicos e produ- transformar em um novo pólo
de touros da Nova Zelândia. tores que desejavam visitá-la. de produção de leite, inclusive
A Fazenda utiliza 224 hec- Por que agora a propriedade com potencial para exporta-
tares em sistema de pastejo foi aberta à visitação? ção?
rotacionado com grama Tifton
irrigada. Segundo informe da as- Optamos por manter uma Existe na nossa região, Jabo-
sessoria de imprensa da empresa, posição distante durante este randi e Cocos, uma grande opor-
atualmente a fazenda é a maior período, pois queríamos ter dados tunidade para produzir leite com
produtora de leite sem confina- reais do potencial de produção da um custo baixo devido ao clima
mento do Brasil, e conta com 50 nossa região antes de divulgar re- e à abundância e qualidade de
funcionários. sultados. Agora temos dados con- água. Esta região possui todas as
fiáveis e já recebemos vários téc- condições para transformar-se
O projeto de industrialização nicos na fazenda, principalmente em um novo pólo de produção de
sempre existiu ou representa da DPA. leite no Brasil. Quanto à exporta-
uma mudança na estratégia da ção temos dúvidas, pois estamos
empresa? Por que essa decisão, Quando se diz que as condições a 1.200 km da costa e o custo de
considerando que na Nova são ainda melhores do que na logística é alto.
Zelândia, por exemplo, a verti- Nova Zelândia, o senhor se
calização não é uma realidade? refere aos custos de produção? A partir do sucesso desse em-
preendimento, o senhor acre-
Quando começamos o pro- Podemos produzir três vezes dita que outros produtores da
jeto, notamos que o Nordeste do mais leite por hectare do que a Nova Zelândia irão se estabe-
Brasil é uma região deficitária em Nova Zelândia, com um perfil lecer no Brasil?
leite, e acreditamos que é me- regular de produção durante o
lhor ter uma fazenda perto da de- ano, sem a necessidade de fazer Já existem outros fazendeiros
manda do que em uma região ex- silagem ou usar outros suplemen- da Nova Zelândia no Brasil, em
7
8. Entrevista
outras regiões, e acho que pro- não precisa preocupar-se com es- desafio, pensando em siste-
vavelmente chegarão mais. tes detalhes. mas de produção em pasto, é a
qualidade genética. Encontramos
Quais foram as grandes uma grande diferença
dificuldades enfrenta- de conversão de pasto
das por um produtor
se o Brasil deseja aumentar em leite entre as vacas
neozelandês que, há 7
seu volume de exportações, da Nova Zelândia e as
anos, decidiu se esta-
a qualidade de leite precisa brasileiras, mas acho
belecer em uma região
melhorar muito, eliminando que é possível desen-
sem tradição na ativi-
resíduos de carrapaticidas volver esse potencial
dade leiteira e com
e antibióticos, e reduzindo para as condições lo-
pouca infra-estrutura?
a contagem bacteriana no cais. Além disso, se o
leite cru. Brasil deseja aumentar
Tivemos que criar seu volume de expor-
quase toda a infra-es- tações, a qualidade do
trutura, investindo em 25 Km de Em sua opinião, quais são os leite precisa melhorar muito,
linhas de energia elétrica, 75 Km grandes desafios do setor lác- eliminando resíduos de carrapati-
de estradas, uma escola, e mui- teo tem do Brasil, se compara- cidas e antibióticos, e reduzindo
tas casas, além de desenvolver do, por exemplo à Nova Zelân- a contagem bacteriana no leite
diversas habilidades para ma- dia? cru, que é hoje de proximada-
nutenção e operação do projeto. mente 1.000.000 UFC/ml, para
Um fazendeiro na Nova Zelândia Em minha opinião, o maior menos que 50.000 UFC/ml. •
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9. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
O MAIOR EVENTO
DO SETOR NAS AMÉRICAS
Venha participar do 11º Congresso Pan-Americano do Leite, o evento que vai debater e
planejar os rumos da cadeia produtiva do leite, reunindo os maiores especialistas da área.
Além disso, serão realizadas diversas atividades simultâneas, com destaque para a Exposição
Industrial e Comercial. Faça sua inscrição e construa um setor cada vez mais forte e saudável.
22 a 25 de março de 2010 Belo Horizonte MG
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ORGANIZAÇÃO
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APOIO
10. Nossa História
TORNEiO LEiTEiRO:
onde a paixão e a técnica
caminham de mãos dadas
Eduardo Valias Vargas
Médico Veterinário
Nutron Alimentos
Nascido e criado em tradicional bacia leiteira, tenho na memória até o frio que sentia “rodeando” as
vacas nos torneios leiteiros nas fazendas. Disputa amigável, mas acirrada, entre os melhores rebanhos da
minha querida São Gonçalo do Sapucaí, aqui no sul de Minas.
Minha família participou poucas vezes. A primeira, talvez em 1945, muito antes do meu nascimento.
E não fez feio, assim como nas poucas vezes que assisti a nossa participação.
Depois, já crescido, os torneios “minguaram”, mas agora felizmente eles retomam força, com o pro-
fissionalismo atual mesclado à paixão tradicional. E esta nova realidade encontrou-me formado, traba-
lhando justamente com nutrição de vacas leiteiras. Esta gratificante lida proporcionou-me a oportuni-
dade de conviver e me tornar amigo de grandes “torneieiros”, como o Gilberto e o Fernando Vilela, de Boa
Esperança, ambos com laços de parentesco comigo, embora tenham sido os torneios leiteiros que fizeram
com que nossos caminhos se cruzassem.
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11. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
Conversando com Gilberto, na Genética, Nutrição e Manejo volumoso”. Uma dieta adequada
fazenda Campo Redondo, onde em volumoso, concentrado, mi-
ele cria excelentes animais da Se estes são os três pilares nerais, vitaminas e aditivos é
raça Holandês, fica fácil de en- da produção de leite, é no tor- realmente importante para se
tender a paixão. E a história é a neio leiteiro que se expressam vencer um torneio ou para que
mesma. “Desde moleque acom- com intensidade máxima. Inclu- qualquer vaca produza tanto leite
panhava meu pai nos torneios. sive, acho que esta é a grande quanto sua genética e o manejo
Assistia e o ajudava a tratar das contribuição do torneio para os permitam. Gilberto comenta a-
vacas”, conta. técnicos. Ali sim, são validadas as inda sobre os tamponantes, leve-
Gilberto se formou em Zoo- técnicas e tecnologias disponíveis duras e protetores hepáticos
tecnia pela Universidade Federal no mercado. como importantes aditivos em
de Lavras, então ESAL, em 1987, Segundo Gilberto, a genética uma dieta desafiadora, para altas
e hoje é realmente uma referên- é muito importante, pois em tor- produções, mas com a preserva-
cia em torneios leiteiros. Só em neios vencem as vacas de alto po- ção da saúde da vaca.
2009 participou de 10, com vacas tencial genético. “Enquanto al- É no torneio leiteiro que se
próprias ou conduzindo os tra- gumas vacas atingem seu limite e conhece, na prática, o poten-
balhos em animais de terceiros, param de aumentar a produção, cial dos alimentos. Qualidade
além dos muitos outros “por tele- em outras eu jamais descobri o da fibra, perfil de aminoácidos,
fone”. Aliás, esta é uma caracter- limite, até porque nunca matei biodisponibilidade de minerais,
ística marcante no Gilberto: ele uma vaca, graças a Deus. Termina eficiência de vitaminas e aditivos
não “esconde leite!” Para ele, o o torneio e a vaca continua a pro- são constantemente avaliados
torneio leiteiro é um local para duzir e reproduzir.” pela vaca, e o “torneieiro” sabe
troca de experiências, ajuda mú- Ainda sobre a genética, Gil- receber e interpretar o feedback
tua e grandes amizades. “A dis- berto sempre comenta da im- que ela transmite.
puta é saudável”. portância de se utilizar sêmen A água é outro nutriente es-
Destes certames, trouxe de touros provados. Criador de sencial na rotina de trabalho de
prêmios importantes, como a Holandês, ressalta a grande im- um torneio leiteiro. Nesse ponto
Campeã Novilha da Megaleite e portância dessa raça para o in- da conversa, já contamos com a
a Campeã Vaca na Agroleite, em cremento da produção de leite presença do Dr. Fernando Vilela,
Castro, Paraná, onde a vaca Sel- no mundo, inclusive por meio dos que fala da importância da tem-
vaverde Maaike 2142, de Teunis e cruzamentos. peratura da água, completando o
John Groenwold produziu 326,78 No quesito nutrição, ressalta Gilberto, que frisa a importância
Kg de leite em 11 ordenhas, com com clareza a importância do da qualidade e disponibilidade
média de 89,122 Kg de leite por volumoso na dieta. “Às vezes, constante da mesma. Ponto em
dia. algumas vacas pifam pela falta comum: a água do torneio deve
de um balanceamento adequado ser a mesma que a vaca está be-
de volumoso na dieta. A base é o bendo na fazenda.
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12. 12
Nossa História
Resultados do Torneio Leiteiro I Exposição Agropecuaria e Industrial de São Gonçalo do Sapucaí, 1945.
13. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
Em manejo, o foco deve ser o Geralmente, os torneios vão de mais e mais tecnologia, informa-
conforto e a alimentação, já que março a outubro, e este ano já ções, validações e produtos que
outras variantes, como a sani- houve, em Minas Gerais, eventos possam atender a este público
dade, por exemplo, obrigatoria- chancelados pela Associação Mi- exigente em resultados desafia-
mente deverão estar em dia. Mais neira do Holandês, como o tor- dores, com segurança para a vida
uma vez, toda a técnica disponí- neio da Megaleite, que também da vaca e do ser humano, que é
vel está sob constante observa- traz o Torneio Nacional do Giro- a principal razão de ser de todo o
ção. É necessário monitorar o lando. Para o ano que vem estão setor produtivo.
conforto térmico e da cama, a in- programados
gestão de matéria seca, o núme- vários even-
ro de tratos por dia, o número de tos, aguar-
mastigações, o tempo de rumina- dados com
ção, a consistência das fezes, o ansiedade e
aspecto da urina, dentre outros. expectativa.
Trata-se de um verdadeiro trata- Além dos prê-
do de manejo de vacas leiteiras mios, que
entrando em ação, muitas vezes, hoje podem
sem que o próprio tratador saiba chegar a um
os fundamentos técnicos do que carro zero km,
está fazendo, e fazendo bem e que são um
feito. Todos sabem que, sem isso, forte estímulo
normalmente não se vence o tor- ao retorno do
neio. investimento,
“Conduzir uma vaca em tor- há que se le- Da esquerda para a direita Fernando, Eduardo e Gilberto com a vaca Selvaverde Maaike
2142 no Torneio Leiteiro da Agroleite 2009, em Castro/PR.
neio é como pajear um neném”, var em conta
diz Gilberto. E quem o conhece a valorização e o comércio de É gratificante ver uma vaca
sabe que está falando de zelo, animais de alto potencial. Não dá campeã de torneio voltar para a
atenção, amor e respeito à vaca. para esquecer também a magia fazenda e ainda produzir muito
Bom mesmo é ver que os tor- do tradicional banho de leite, or- leite e muitas filhas, assim como
neios estão aí, agitando e emo- gulho geralmente eternizado em é gratificante conhecer o Sr. Ênio,
cionando o interior do Brasil, fotos que passam de geração em que ensinou o Gilberto, que está
desafiando todas as raças de geração. ensinando o André e o Diego a
aptidão leiteira e prestando um Aos bons e éticos “torneiei- “conhecer as vacas e cuidar delas
grande serviço à pecuária nacio- ros” do Brasil, o nosso respeito e como se estivessem pajeando um
nal, mesmo que esta não seja a admiração. Vocês fazem com que neném”. •
declarada intenção dos eventos. nós, que trabalhamos na indústria
A temporada 2010 promete. de nutrição animal, busquemos
13
14. Nutrição
UTiLiZAçãO DE iONóFOROS EM
DiETAS DE VACAS LEiTEiRAS
PARTE i – MECANiSMOS DE AçãO E EFEiTOS NA FERMENTAçãO RUMiNAL
Ricardo Andrade Reis
Professor do Departamento de Zootecnia, FCAV/UNESP, Pesquisador do CNPq
Jucileia A. da silva Morais
Zootecnista, Doutoranda em Produção Animal - Nutrição de Ruminantes
Gustavo Resende siqueira
Zootecnista, Doutorando em Produção Animal - Nutrição de Ruminantes
Introdução tida, outros produtos da fermentação, como calor,
metano e amônia, representam perdas de energia e
No ecossistema anaeróbio do rúmen os microor- proteína do alimento para o ambiente.
ganismos fermentam carboidratos e proteínas para De 2 a 12% da energia consumida pelos rumi-
obterem nutrientes necessários para seu crescimen- nantes pode ser perdida na forma de metano, um
to. Muitos dos produtos finais dessa fermentação, gás produzido no rúmen durante o processo de fer-
como os ácidos graxos voláteis e a proteína micro- mentação dos carboidratos. No rúmen, o hidrogênio
biana, são as principais fontes de nutrientes (ener- é produzido durante a fermentação anaeróbia dos
gia e nitrogênio) para o ruminante. Em contrapar- carboidratos e pode ser usado durante a síntese dos
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15. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
ácidos graxos voláteis e da ma- respondem pela produção de 22% do ecossistema, acidificação e
téria orgânica microbiana. O ex- desse gás e, conseqüentemente, eutroficação (processo de enve-
cesso de hidrogênio é eliminado, 3,3% do aquecimento global. lhecimento dos lagos pelo exces-
principalmente pela formação Em relação aos compostos so de nutrientes) do ambiente.
de metano. O balanço estequio- nitrogenados, pesquisas consi- Da mesma forma, o óxido nitroso
métrico dos ácidos graxos volá- deram que, em rebanhos lei- é um potente gás de efeito es-
teis, CO2 e metano indica que na teiros, de 20 a 30% do nitrogênio tufa, contribuindo para o aqueci-
produção de acetato e butirato, (N) consumido diariamente é mento global.
ocorre a síntese de metano, en- convertido em proteína do leite A redução na eliminação des-
quanto a formação de propionato e muscular, sendo o restante ex- ses produtos tem concentrado
retira hidrogênio do meio, redu- cretado nas fezes e urina. os esforços dos pesquisadores
zindo assim a sua formação. A in- A máxima eficiência possí- mundiais, propiciando além do
tensidade da emissão de metano vel varia com a espécie animal, aumento na eficiência de con-
proveniente da fermentação ru- idade, estágio de lactação, etc, versão dos nutrientes consumidos
minal depende, principalmente, sendo o limite teórico de aproxi- em produtos consumíveis (carne
do tipo de animal, do consumo madamente 50%. Essa baixa e leite), redução no impacto dos
de alimento e do grau de diges- eficiência de conversão do N da sistemas de produção no ambi-
tibilidade da massa ingerida. Al- dieta em proteína do leite e do ente. A manipulação ruminal, por
terações da dieta ou dos níveis de músculo pode ser resultado da meio de substâncias introduzidas
ingestão de alimentos afetam a extensa degradação da proteína na ração, ou naturalmente pre-
quantidade de metano produzido no rúmen, com altas taxas de sentes nos alimentos, tem ofe-
no rúmen e os fatores envolvidos produção e absorção de amônia; recido alternativas para aumen-
incluem ingestão de alimento, da interação do N com a fonte tar a eficiência de utilização das
tipo e quantidade de carboidrato de carboidrato, para um ótimo dietas consumidas pelos rumi-
na dieta, processamento da for- crescimento microbiano, e do nantes.
ragem, adição de lipídios e ma- metabolismo pós-absortivo do Em termos simplificados, os
nipulação da microflora ruminal. animal. principais objetivos da manipu-
O metano além de ser direta- O N perdido pode ser lixiviado lação ruminal seriam: (1) me-
mente relacionado com a eficiên- para lençóis freáticos, ou emi- lhorar os processos benéficos,
cia da fermentação ruminal e, tido para a atmosfera na forma (2) minimizar, eliminar ou alterar
conseqüente com a perda de e- de compostos voláteis. Deve-se os processos ineficientes, (3)
nergia nos sistemas de produção, considerar que concentrações su- minimizar, eliminar ou alterar os
se caracteriza como um impor- periores a 50mg de nitrato/L nos processos prejudiciais ao animal
tante gás de efeito estufa, con- lençóis freáticos são potencial- hospedeiro. Exemplos de proces-
tribuindo com cerca de 15% do mente nocivas à saúde humana. A sos cuja maximização seria válida
aquecimento global. Deve-se emissão de amônia para a atmos- em todas as circunstâncias são
considerar que os ruminantes fera contribui para a fertilização a degradação da fibra, fermen-
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16. Nutrição
tação do lactato e conversão de ou que fermentam ácido lácti- uma vez que a maioria dos ionó-
compostos nitrogenados não pro- co, e inibindo as gram-positivas foros não passa através da mem-
téicos em proteína microbiana. produtoras de ácidos acético, brana celular, tornando as célu-
Por outro lado, a produção de butírico, láctico e H2. las da bactérias gram-negativas
metano, degradação da proteína Em função da característica impermeáveis a esses compos-
e absorção de amônia são proces- de ação dos ionóforos sobre a tos. Por outro lado, as bactérias
sos que deveriam ser minimiza- população microbiana, os benefí- gram-positivas possuem apenas
dos. cios de sua ação biológica podem uma membrana porosa que não
Os resultados dessas pesquisas ser classificados em 3 áreas: impede a ação da monensina.
evidenciam que há uma grande O mecanismo de ação dos
variedade de aditivos alimenta- 1) aumento da eficiência do me- ionóforos sobre as bactérias está
res com potencial para influen- tabolismo da energia das bac- relacionado com um processo
ciar alguns componentes do me- térias ruminais e/ou do animal, chamado bomba iônica, que re-
tabolismo do rúmen. alterando a proporção dos ácidos gula o balanço químico entre o
graxos voláteis produzidos no rú- meio interno e externo da célu-
Ionóforos men e diminuindo a produção de la. Os ionóforos ao se ligarem à
metano; membrana celular das bactérias
Os ionóforos, principalmente e protozoários e, provavelmente
a monensina, são provavelmente 2) melhoria do metabolismo do a dos fungos ruminais, facilitam
os aditivos mais pesquisados em N pelas bactérias ruminais e/ou o movimento dos cátions através
dietas de ruminantes. do animal, diminuindo a absorção da membrana celular. Essas rea-
Atualmente, são conhecidos de amônia e aumentando a quan- ções culminam em uma reduzida
mais de 120 tipos de ionóforos tidade de proteína de origem concentração intracelular de K+,
resultantes da fermentação de alimentar que chega ao intestino baixo pH e maior concentração
vários tipos de actinomicetos, delgado; intracelular de Na+. Nesse caso,
produzidos principalmente por as bactérias gram-positivas são
bactérias do gênero Streptomy- 3) diminuição das desordens re- forçadas a utilizar os sistemas
ces, mas somente a monensina, sultantes da fermentação anor- de transporte celular para dissi-
lasalocida, salinomicina e lai- mal no rúmen, como acidose, par o H+ e o Na+ intracelular na
dlomicina propionato são aprova- timpanismo e coccidiose. tentativa de manter o equilíbrio
dos para uso em dietas de rumi- na célula, com o gasto de 1 ATP
nantes. Mecanismo de ação dos por próton mobilizado. Esse pro-
A ação dos ionóforos no rú- ionóforos cesso, juntamente com a baixa
men ocorre pelas mudanças na concentração de K+ intracelular,
população microbiana, selecio- As bactérias ruminais gram- reduz as reservas energéticas e a
nando as bactérias gram-negati- negativas são mais resistentes aos taxa de síntese de proteína com
vas produtoras de ácido succínico ionóforos que as gram-positivas, conseqüente menor capacidade
16
18. Nutrição
de divisão celular. Como con- ruminais parecem ser sensíveis afetada, mas se observa signifi-
seqüência, a bomba iônica não aos ionóforos, com a magnitude cativa alteração nas proporções
opera eficientemente, provo- dependente da espécie do orga- relativas. Enquanto as concentra-
cando um desequilíbrio. Devido nismo testado. Resultados de es- ções de ácido acético e butírico
a uma maior concentração de tudo in vivo, evidenciam que es- diminuem ou se mantém estáveis,
cátions dentro da célula, ocorre pécies e cepas também diferem aquelas de ácido propiônico au-
aumento da pressão osmótica, a em sensibilidade aos ionóforos e mentam significativamente em
água penetra em excesso e com que os protozoários são sensíveis resposta ao aditivo (Tabela 1).
isso a célula “incha”, tendendo a à monensina, embora o grau de A intensidade desses efeitos é
romper-se. Desse modo, as bac- sensibilidade varie com a espé- dependente do tipo de dieta e do
térias acabam morrendo ou as- cie. nível de suplementação com mo-
sumem um nicho microbiano sem nensina. Vários estudos (Tabela
expressão ruminal. Efeito dos ionóforos na 1) têm demonstrado que a suple-
Como dito anteriormente, a fermentação ruminal mentação com monensina provo-
resistência das bactérias gram- ca maior mudança na proporção
negativas aos ionóforos parece Bactérias que produzem ácido de ácidos graxos voláteis, prin-
estar relacionada à presença de lático, acético, butírico, fór- cipalmente do ácido propiônico,
uma segunda membrana que é im- mico e hidrogênio, como princi- no rúmen de animais alimentados
permeável a grandes partículas. pal produto final, são suscetíveis com dietas mais ricas em con-
No entanto, os ionóforos podem aos ionóforos, enquanto que as centrados do que naquelas com
aumentar o fluxo de íons em al- produtoras de ácido succínico e maior proporção de volumosos.
gumas bactérias gram-negativas propiônico, e aquelas que fer- Isso pode ser explicado pela dife-
que se comportam como gram- mentam lactato, são resistentes. rença na população microbiana
positivas, principalmente em Como resultado da alteração predominante no rúmen. O rú-
altas concentrações de ionóforos. na população microbiana, em men de animais alimentados com
Como exemplo, a gram-negativa função da utilização de ionóforos, feno ou rações à base de volu-
Fibrobacter succinogenes, uma ocorre uma mudança também nos mosos apresenta predominância
bactéria que degrada a celulose produtos finais da fermentação, de organismos gram-negativos,
é mais sensível aos ionóforos do em geral, com uma menor relação enquanto que em animais ali-
que outras gram-negativas. Além acetato:propionato. Rogers et al. mentados com dietas a base de
disso, com o passar do tempo, (1997) observaram que a relação grãos observa-se maior proporção
bactérias originalmente resis- acetato:propionato diminuiu em dos gram-positivos. Dessa forma,
tentes aos ionóforos podem tor- média 65 a 72%. Após a retirada espera-se maior efeito em dietas
nar-se sensíveis e algumas das di- da monensina a relação retornou com maior participação de con-
tas sensíveis podem desenvolver aos valores pré-adição. centrados do que em dietas com
resistência. Em geral, a produção total de mais volumosos, uma vez que os
Em culturas puras, os fungos ácidos graxos voláteis é pouco ionóforos atuam principalmente
18
19. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
Tabela 1. Efeito da monensina na produção de ácidos graxos voláteis (AGV) no rúmen.
Proporção molar de AGV AGV
Número de (% do total) Totais
dose de monensina estudos
(mM/l)
Acético Propiônico Butírico
Amostra de bovinos fistulados alimentados com dieta com alto concentrado
0 mg/animal/d 55 60,8 25,9 13,4 79,3
50 mg/an/d 23 63,5 29,91 (+153) 6,5 (-51)
2
66,22 (-16)
100 mg/an/d 31 51,62 40,42 (+55) 8,0 (-40)
2
90,41 (+14)
200 mg/an/d 8 52,92 39,82 (+54) 7,32 (-45) 76,9
Amostra de bovinos fistulados alimentados com pasto
0 mg/an/d 8 66,8 20,7 9,7 128,2
50 mg/an/d 8 63,3 22,3 10,6 129,4
200 mg/an/d 8 59,71 28,1 8,8 136,2
Amostra de bovinos confinados alimentados com alto concentrado
0 mg/an/d 60 56,0 31,9 7,1 81,4
100 mg/an/d 32 49,31 41,01 (+28) 5,31 (-25) 80,0
500 mg/an/d 31 47,81 43,51 (+36) 4,81 (-32) 88,3
Amostra de bovinos alimentados com pastagem ou forragem verde picada
0 mg/an/d 94 70,2 19,2 9,7 53,2
100 mg/an/d 65 68,02 22,32 (+16) 8,92 (-8) 49,1
200 mg/an/d 96 66,92 23,72 (+23) 8,52 (-12) 49,7
Amostra de bovinos consumindo dieta de confinamento
0 ppm na dieta 94 50,3 36,9 8,5 83,8
11 ppm na dieta 91 48,5 39,6 7,41 (-13) 75,92
22 ppm na dieta 94 49,0 39,9 7,02 (-18) 77,01
33 ppm na dieta 44 48,2 41,1 (+11)
2
7,0 (-18)
2
76,02
Dados adaptados de Richardson et al. (1976); Potter et al. (1976); Raun et al. (1976)
1 Significativamente diferente do controle (P<0,05)
2 Significativamente diferente do controle (P<0,01)
3 Valor entre parênteses representa a mudança (%) em relação ao controle sem monensina
sobre os microrganismos gram- de 55% dessa redução é atribuída aumentou a retenção de energia
positivos. ao menor consumo de alimento, em 15% em ovinos e em 19% em
Experimentos in vitro e in sendo os restantes 45%, devidos bovinos, como demonstrado na
vivo indicam que a monensina a efeitos específicos na fermenta- Tabela 2.
diminui a produção de metano. ção ruminal. Em função da menor A diminuição na produção de
Resultados médios de seis estu- produção de metano, menor per- metano, observada na presença
dos indicaram 25% de redução, da de energia nas fezes e na urina de ionóforo, também pode estar
com variação de 4 a 31%.Cerca (apenas em ovinos), a monensina associada à inibição no cresci-
19
20. Nutrição
Tabela 2. Partição da energia e do nitrogênio em animais suplementados com monensina.
Parâmetro Retenção em relação ao controle não suplementado (%)
Espécie animal Ovino1 Ovino1 Bovino1
Dose de monensina 10 ppm na dieta 20 ppm na dieta 3 mg/kg0,75PV
Dieta 50% grão 50% grão 80% grão
Energia
Fezes 98 93 90
Urina 92 84 99
Metano 74 69 74
Calor 102 105 104
Retida 111 115 119
Nitrogênio
Fezes 97 98 88
Urina 92 87 99
Retido 127 138 120
Adaptado de 1Joyner et al. (1979) e 2 Wedegaertner & Johnson (1983)
mento de protozoários, que co- mente monensina e observou-se da suplementação com monen-
nhecidamente produzem H2 e são pequenos efeitos na produção de sina. Por outro lado, após 54 dias
colonizados por bactérias que metano. Esse mesmo comporta- de suplementação, bezerros ali-
produzem metano. No entanto, mento foi observado na produção mentados com feno de alfafa ad
esse efeito tem sido apenas tem- de leite, consumo de alimento, libitum, apresentaram produção
porário. Com a suplementação gordura do leite, relação dos áci- de metano 25,6% menor do que
contínua de ionóforos observa-se dos graxos voláteis e composição aqueles não suplementados, su-
retorno aos níveis pré-suplemen- dos ácidos graxos do leite. Os au- gerindo menor adaptação dos mi-
tação, sugerindo seleção da po- tores relacionam esses resultados crorganismos quando a monensi-
pulação resistente. a possíveis mudanças adaptativas na foi fornecida em dietas a base
De acordo com Sauer et al. da microflora ruminal à monen- de forragem.
(1998), vacas em lactação, que sina. O uso de monensina também
nunca haviam sido suplementa- A adaptação dos microrganis- provoca alterações no metabo-
das com monensina, apresen- mos ruminais pode estar relacio- lismo do N. Em geral, observa-
taram redução de 10% a 21% na nada ao tipo de dieta. Quando os se redução na concentração
produção de metano ao longo de animais foram alimentados com de amônia ruminal. Pesquisas
65 dias de suplementação. Após dietas à base de concentrado, a visando caracterizar o efeito da
161 dias sem suplementação, os produção de metano retornou ao monensina no metabolismo do N
mesmos animais receberam nova- nível inicial 16 dias após o início mostraram que a degradação da
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21. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
proteína, o acúmulo de amônia e Como mencionado anterior- monstraram resistência a mo-
o N microbiano foram reduzidos mente, a monensina parece ter nensina após longos períodos de
em incubações in vitro com mo- efeito negativo sobre a popula- suplementação.
nensina. Duas espécies de bac- ção de protozoários do rúmen. Estudos in vivo têm mostrado
térias identificadas pela grande Esse fato tem implicação direta que a digestão ruminal da ma-
capacidade de produção de amô- sobre a população de bactérias, téria orgânica e da celulose não
nia ruminal, apesar de gram-ne- uma vez que os protozoários são é afetada pela monensina. Por
gativas, mostraram-se sensíveis importantes predadores. Assim, outro lado, relata-se que a mo-
a monensina. Nesses estudos diminuindo a atividade proto- nensina pode provocar efeitos
constatou-se também que uma zoária, possivelmente, ocorrerá negativos na digestibilidade de
maior proporção da proteína ver- aumento na população de bacté- dietas de baixa qualidade, devido
dadeira da dieta pode escapar rias, aumento na atividade fer- ao efeito letal na população de
do rúmen quando a monensina é mentativa e aumento no fluxo de fungos e protozoários do rúmen,
adicionada à dieta, com aumento proteína bacteriana para o duo- os quais possuem importante fun-
na digestibilidade total e na re- deno (apesar de ter sido obser- ção na degradação de alimentos
tenção do N. Resultados seme- vado redução no N microbiano). altamente fibrosos. •
lhantes podem ser observados na No entanto, deve-se considerar
Tabela 2. que os protozoários também de-
22. Capa
EFEITOS DO ESTRESSE
CALÓRICO NA REPRODUÇÃO
Robson Vilela sá Fortes
MSc. Medicina Veterinária
Equipe Rehagro
Maria Alexandra Torres Artunduaga
DSc. Ciência Animal
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23. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
Introdução ral do seu estado de repouso, in- qual a taxa de produção de ca-
terferindo no desempenho produ- lor de um animal homeotermo,
A queda no desempenho re- tivo e reprodutivo. em repouso, deverá aumentar
produtivo de vacas leiteiras, du- com o objetivo de manter o ba-
rante o período de verão, está Zona de Termoneutralidade lanço térmico. Em vacas leiteiras
associada com a redução na ca- esta temperatura é considerada
pacidade de termo-regulação dos Para manter as condições 5ºC (Kadzere et al., 2002). Já a
animais devida, em grande parte, homeotérmicas, o animal deverá temperatura máxima crítica é
à intensa seleção genética para estar em equilíbrio com o seu definida como a temperatura do
alta produção de leite. A popu- ambiente, incluindo a radiação, ar na qual o animal aumenta a
lação mundial está crescendo a temperatura, o movimento do produção de calor como conse-
em ritmo acelerado nas regiões ar e a umidade. Com o objetivo qüência do aumento na tempera-
tropicais e subtropicais e é lógi- de atingir este equilíbrio o ani- tura corporal que, por sua vez, é
co pensar que grande proporção mal deverá permanecer na zona o resultado da inadequada perda
dos animais domésticos, cujos de termo-neutralidade (TNZ), de calor por evaporação (Kadzere
produtos são destinados ao con- que é definida como a zona de et al., 2002). A temperatura
sumo humano, estará localizada menor produção de calor em máxima crítica em vacas leiteiras
nas regiões mais quentes, como temperaturas retais normais (a esta entre 25 e 26ºC (Berman et
vem acontecendo. Esse fato, as- elevação da temperatura retal é al., 1985).
sociado ao efeito do aquecimento considerada como um indicador Desta forma, entre os limites
global, que tem afetado cada dia de estresse térmico). Dentro da de temperatura mínima e máxi-
mais as condições climáticas das TNZ são observadas menores de- ma críticos, os animais podem
diferentes regiões, faz com que mandas fisiológicas assim como manter a temperatura corporal
o quadro de estresse calórico a produção máxima (Figura 1). estável. Acima da temperatura
seja mais crônico e tenha reper- A TNZ depende da idade, espé- máxima crítica o aumento da
cussões fisiológicas e econômicas cie, raça, ingestão de alimento, temperatura corporal influencia
graves. composição da dieta, produção, negativamente o desempenho do
Yousef (1985) definiu o estres- instalações, isolamento de teci- animal, reduzindo a produção e
se como a magnitude das forças dos (gordura corporal, pele), alterando a composição do leite.
externas ao corpo e que tendem isolamento externo (pêlo) e com- Acima de 26ºC o animal não tem
a deslocar os sistemas fisiológicos portamento do animal. capacidade de se resfriar adequa-
do seu estado de repouso. Assim, A TNZ é determinada por duas damente, entrando em quadro de
o estresse calórico nas vacas lei- escalas - a temperatura mínima estresse calórico.
teiras pode ser definido como a crítica e a temperatura máxima
soma das forças externas ao ani- crítica. A temperatura mínima Produção de calor metabólico
mal homeotérmico, que atuam crítica é definida como a tem-
deslocando a temperatura corpo- peratura do ambiente abaixo da A produção de calor metabóli-
23
24. Capa
Figura 1. Relação entre temperatura basal do animal, produção de calor e temperatura ambiente
Fonte: Adaptado de Kadzere et al. (2002)
co é responsável por aproxima- calórico é a soma do calor acu- de leite acentuam os efeitos do
damente 31% do gasto energético mulado do ambiente e a falha estresse calórico nas vacas em
de uma vaca de 600 kg de peso para dissipar o calor proveniente lactação.
vivo, produzindo 40 kg de leite, de processos metabólicos. West et al. (1990), reporta-
contendo 4% de gordura (Cop- As vacas em lactação têm ram que a temperatura do leite
pock, 1985). A atividade física maior quantidade de calor para era mais alta em vacas que rece-
aumenta a quantidade de calor dissipar do que as vacas não lac- biam tratamento com bST, quan-
produzido pela musculatura es- tantes. Purwanto et al. (1990), do compradas com vacas controle
quelética e pelos tecidos corpo- observaram que vacas de alta em climas úmidos e quentes. No
rais. Em temperaturas acima da produção (31,6 kg/dia) gera- mesmo experimento, as vacas
TNZ (35ºC), o gasto para man- ram 48% a mais de calor quando que receberam bST apresenta-
tença aumenta 20% em relação a comparadas às não lactantes. No ram-se com maior produção de
condições termo-neutras, incre- mesmo estudo, as vacas de baixa calor, tanto em ambientes termo-
mentando o gasto energético da produção (18,5 kg/dia) geraram neutros, quanto em ambientes
vaca (NRC, 1981). 25% a mais de calor quando com- quentes. Cole e Hansen (1993)
A carga de calor acumulada paradas com as não lactantes. observaram que a aplicação de
pelo animal submetido a estresse Isso sugere que as altas produções bST em vacas lactantes e não
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25. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
lactantes em climas quentes e ças anatômicas, fisiológicas e de respiração rápida e a sudoração
úmidos (Florida, USA), resulta- comportamento com o objetivo aumentam na medida em que a
ram em aumento na tempera- de manter o equilíbrio térmico. dependência do organismo pelo
tura corporal assim como na taxa Durante o período de estres- resfriamento por evaporação au-
respiratória, sugerindo que o au- se calórico os animais apresen- menta. A respiração rápida au-
mento na produção de calor não tam: diminuição na ingestão de menta de maneira aguda a perda
é devido somente à produção de alimentos, redução na atividade de CO2 por meio da ventilação
leite. Os mesmos autores sugeri- física, procura constante por pulmonar, reduzindo as concen-
ram que o uso do bST em regiões sombra e vento, aumento da taxa trações sanguíneas de ácido car-
quentes deverá ser acompanhado respiratória, assim como da cir- bônico (HCO3), alterando o ba-
por estratégias de manejo que culação sanguínea periférica e da lanço entre CO2 e bicarbonato,
reduzam o estresse calórico du- sudoração. Todas estas respostas que é necessário na manutenção
rante o verão. têm efeitos prejudiciais no status do pH sanguíneo, e resultando
fisiológico do animal assim como em um quadro de alcalose respi-
Mudanças fisiológicas relacio- na produção. ratória. Como mecanismo com-
nadas ao estresse calórico Segundo McGuire et al. (1989), pensatório, observa-se aumento
os efeitos negativos do estresse da excreção de bicarbonato pela
As mudanças fisiológicas no calórico na produção de leite urina, com conseqüente redução
animal submetido a estresse poderiam ser explicados pela di- na concentração sanguínea de
calórico ocorrem no sistema di- minuição na ingestão de alimen- bicarbonato no sangue, resul-
gestivo, no balanço ácido-básico tos, assim como, pela redução tando em um quadro de acidose
e no perfil hormonal. As respos- na absorção de nutrientes pela metabólica.
tas observadas nos diferentes veia porta. Os mesmos autores A redução nas concentrações
sistemas estão relacionadas com demonstraram que durante o es- de HCO3 compromete a capaci-
a menor ingestão de alimentos tresse calórico ocorrem mudan- dade de tamponamento do siste-
observada durante períodos de ças na circulação sanguínea que ma bicarbonato, o que pode ser
estresse calórico. Entretanto, a favorecem os tecidos periféricos, crítico durante o verão, já que
maior parte das mudanças ocorre com o objetivo de resfriar o ani- neste período os produtores cos-
como resultado dos danos ocasio- mal, alterando o metabolismo de tumam fornecer dietas ricas em
nados pelo estresse térmico no nutrientes, o que contribui para a grãos, com o objetivo de aumen-
organismo. Os neurônios termo- diminuição na produção de leite. tar a densidade energética das
sensíveis estão localizados por Animais em estresse calórico mesmas.
todo o corpo do animal e sina- apresentam alterações no equilí-
lizam ao hipotálamo alterações brio acido-básico como resultado Estresse calórico e efeitos na
na condição de termo-neutra- da evaporação, que é o principal expressão e detecção de estro
lidade, fazendo com que sejam mecanismo de dissipação de ca-
iniciadas uma série de mudan- lor durante o estresse térmico. A O estresse calórico reduz a
25
26. Capa
duração e intensidade do estro. demonstrou que a exposição de estágio de desenvolvimento foli-
Nebel et al. (1997) observaram vacas leiteiras a temperaturas e- cular mais susceptível ao estresse
que vacas Holandês, em estro levadas altera a dinâmica folicu- térmico não está precisamente
durante o verão, montaram 4,5 lar. Dentre os efeitos imediatos do definido, mas existem evidências
vezes por estro contra 8,5 mon- estresse calórico estão a redução de que os folículos antrais de 0.5
tas observadas durante o in- no tamanho da primeira e segun- – 1.0 mm de diâmetro sejam sen-
verno. Uma das possíveis causas da onda folicular dominante e o síveis.
para esta alteração pode ser a aumento do número de folículos As mudanças endocrinológi-
secreção de cortisol que tem sido maiores, indicando atenuação do cas envolvidas na alteração da
reconhecido como inibidor do processo de dominância folicular. dinâmica folicular e na depressão
comportamento sexual induzido O estresse calórico prejudica da dominância não estão bem
pelo estradiol. o crescimento de folículos de ta- esclarecidas, mas existem evi-
Gwazdauskas et al. (1981), manho médio (6 – 9 mm) devido dências que indicam que mudan-
mostraram que o estresse calóri- à emergência precoce e desapa- ças nos padrões de liberação de
co está diretamente relacionado recimento retardado da segunda gonadotrofinas, bem como nas
com a diminuição nas concen- onda folicular, fazendo com que concentrações de inibina e es-
trações de estradiol. A principal a emergência do folículo pré- teróides, poderiam estar relacio-
causa para diminuição na mani- ovulatório aconteça mais cedo nadas ao processo.
festação de estro é a letargia e aumentando a duração da O aumento do número de
física produzida pelo estresse dominância folicular. Estes dois folículos maiores, observado du-
calórico, que é um mecanismo de últimos eventos estão negativa- rante o estresse calórico, está
adaptação que limita a produção mente relacionados com a taxa associado com a elevação nas
de calor metabólico. de concepção. concentrações de hormônio folí-
Diversas estratégias de mane- Um estudo recente desen- culo estimulante (FSH) e redução
jo têm sido desenvolvidas para volvido com cabras indicou que nas concentrações plasmáticas
diminuir os efeitos negativos do folículos expostos a estresse de inibina. A inibina e o estradiol
estresse calórico na manifestação calórico durante o processo de afetam, de maneira sinérgica, a
de estro, dentre as quais podem recrutamento regrediram e não secreção de FSH. Desta forma, o
ser citadas o uso de programas de se desenvolveram em folículos estresse calórico afeta a função
inseminação artificial em tempo maiores ou ovulatórios (Ozawa et das células da granulosa, princi-
fixo (IATF) durante o verão. al., 2005). pal fonte de estradiol e inibina,
Além de afetar os folículos levando ao aumento nas concen-
Estresse calórico e efeitos na em emergência da onda folicular, trações plasmáticas de FSH. De
dinâmica folicular o estresse calórico afeta tam- maneira geral, o estresse calóri-
bém o pool de folículos antrais, co não suprime o padrão de on-
O aumento do uso da ultra- resultando em efeitos residuais das foliculares em bovinos, mas
sonografia nas últimas décadas negativos na função folicular. O inibe o processo de dominância,
26
28. Capa
ocasionando mudanças no cresci- (Ozawa et al., 2005). Embora ex- (1998), não observou mudanças
mento folicular que estariam as- istam evidências dos mecanismos na concentração de progesterona
sociadas com a síndrome de baixa celulares que afetam a ester- plasmática em vacas em lactação
fertilidade em vacas leiteiras. oideogênese em períodos de es- expostas à radiação solar direta
tresse calórico, maior quantidade durante o verão. Jonsson et al.
Estresse calórico e efeitos na de estudos sobre aspectos mo- (1997), observaram menores con-
capacidade esteroideogênica leculares deverão ser conduzidos centrações plasmáticas de pro-
para um melhor entendimento de gesterona durante o período de
Estudos realizados durante seus efeitos. verão quando comparadas com as
épocas de calor reportam baixa A redução nas concentrações observadas no inverno. Esta res-
concentração de esteróides no de estradiol durante a fase foli- posta não apresentou associação
fluido folicular, o que estaria as- cular afeta o pico pré-ovulatório com a ingestão de matéria seca,
sociado com a redução da viabi- de LH, alterando os eventos de- condição corporal ou produção de
lidade das células da granulosa, sencadeados por este hormônio leite, o que indica que a redução
bem como com a redução na e inibindo a ovulação. Esse fato nas concentrações de proges-
atividade da aromatase. Bridges é demonstrado pela baixa ampli- terona, observada neste estudo,
et al. (2005), reportaram que tude do pico de LH induzido pelo apresentou relação direta com o
folículos de vacas submetidas hormônio liberador de gonado- aumento de temperatura, e não
a estresse calórico secretaram trofinas (GnRH) em vacas com com as mudanças metabólicas e
menores concentrações de an- estresse calórico e com baixas nutricionais induzidas pelo es-
drostenediona e estradiol após a concentrações de estradiol. tresse calórico.
estimulação com gonadotrofinas. As concentrações plasmáti-
De maneira similar, Wolfenson Estresse calórico e efeitos na cas de progesterona diminuem
et al. (1995) demonstraram que concentração de progesterona em vacas submetidas a estresse
células da teca incubadas em calórico crônico, condição típica
altas temperaturas ou coletadas Os efeitos do estresse calórico durante o verão. Por outro lado,
de vacas submetidas a estresse na função do corpo lúteo (CL) as concentrações aumentam
calórico produziram menos an- têm sido avaliados por meio em vacas submetidas a estresse
drostenediona quando estimu- da dosagem das concentrações calórico agudo, como no caso de
ladas por hormônio luteinizante plasmáticas de progesterona. exposição direta a radiação solar
(LH), sugerindo então uma alte- A exposição de vacas e novilhas ou ao calor em câmaras respiro-
ração na função de seus recep- ao estresse calórico, na segunda métricas (condições experimen-
tores devido ao estresse calórico. metade do ciclo estral, resulta- tais).
Estudo recente em cabras demon- ram em aumento nas concentra- De maneira geral, a exposição
strou a diminuição na expressão ções plasmáticas de progesterona crônica ao estresse calórico su-
dos receptores de LH em folículos as quais estariam associadas prime a produção de proges-
submetidos a estresse calórico com o atraso na luteólise. Roth terona. Esse fato foi confirmado
28
29. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
por meio de estudos in vitro nos Estresse calórico e efeitos na de hidrogênio (H2O2) podem in-
quais a produção de progeste- qualidade do oócito duzir a interrupção no ciclo mei-
rona, a partir de células luteais ótico nas células, bem como mu-
de vacas durante o período de Estudos in vitro e in vivo danças morfológicas em oócitos
verão, foi menor quando com- demonstram que o oócito é sus- imaturos. As espécies reativas
parada com aquelas obtidas no ceptível ao estresse calórico ao oxigênio (ROS) são essenciais
inverno (Wolfenson et al., 2000). em várias etapas do desenvolvi- para o oócito já que atuam como
As concentrações inadequadas de mento folicular. Assim, qualquer sinalizadores para a retomada do
progesterona podem alterar o de- alteração fisiológica no ambiente processo meiótico, embora a pre-
senvolvimento folicular, levando folicular induz a produção de sença excessiva de ROS no folí-
a anormalidades na maturação oócito com capacidade reduzida culo esteja associada com defei-
do oócito e maior predisposição para fertilização e posterior de- tos citoplasmáticos e segregação
a perda embrionária precoce. As senvolvimento. Oócitos bovinos, cromossômica anormal.
baixas concentrações de proges- coletados durante o verão, apre- Devido à importância do sta-
terona também afetam o proces- sentaram menor habilidade para tus oxidativo do oócito, e sa-
so de esteroideogênese no folí- se desenvolver até o estágio de bendo que os oóocitos de bovinos
culo dominante e no subseqüente blastocisto, depois da fertiliza- apresentam altas quantidades
corpo lúteo, bem como provocam ção in vitro (Rocha et al., 1998). de ácidos graxos, a composição
alterações na morfologia e fun- O estresse calórico induz ao de ácidos graxos da membra-
ção endometrial no próximo ciclo estresse oxidativo no oócito. As- na é considerada como um fa-
estral. sim, oxidantes como o peróxido tor determinante no destino
30. Capa
(qualidade) do oócito. A variação verno para 20% durante o verão, de concepção durante o verão
no perfil de ácidos graxos no flu- variando entre 23 e 29% no outo-
ido folicular durante as diferen- no (Wolfenson et al., 2000). Isso
tes épocas do ano está associada indica que existem efeitos pro-
com a redução no desenvolvi- longados do estresse calórico na
mento do oócito. Pesquisadores fertilidade.
demonstraram que, durante o A dinâmica folicular de vacas
verão, as proporções de ácidos lactantes submetidas a estresse
graxos saturados no oócito e calórico mostra que, durante a
nas células da granulosa foram primeira onda folicular do ci-
maiores do que as proporções de clo estral seguinte, houve desen-
mono e poliinsaturados, indican- volvimento de menor quantidade
do redução do status oxidativo do de folículos de tamanho médio.
oócito. Desta forma, os autores Wolfenson et al. (1997), ob-
recomendam a administração servaram que no fluido folicu-
de antioxidantes com o objetivo lar de folículos dominantes da
de reduzir a oxidação de ácidos primeira onda, e que foram co-
graxos e estabilizar a membra- letados durante o outono no dia
na do oócito durante o estresse 7 do ciclo estral, as concentra-
calórico. A utilização de gordura ções de estradiol foram menores,
suplementar seria uma boa alter- quando comparadas com as con-
nativa, já que mudanças na com- centrações no inverno. A baixa
posição de ácidos graxos no oóci- concentração do hormônio nesta
to poderiam contribuir com a sua época do ano foi resultado da
capacidade de desenvolvimento. intensa redução na produção de
androstenediona pelas células da (Roth, 2008). De maneira similar,
Efeitos prolongados do estresse teca, que serve como substrato quando as vacas foram resfriadas
calórico sobre a reprodução para a síntese de estradiol nas 42 dias antes da coleta de oóci-
células da granulosa. tos, a proporção de estruturas
Os índices de fertilidade no Como já foi mencionado, tem- que se desenvolveram em blasto-
outono são mais baixos, quando peraturas elevadas estão associa- cistos não aumentou (Al-Katanani
comparados com os índices do das com redução na fertilidade. et al., 2002). Essas observações
inverno, mesmo tendo finalizado Experimentos em que os animais indicam que os oócitos poderiam
o período de estresse calórico. foram resfriados de maneira in- estar alterados mesmo depois da
Em Israel, por exemplo, as taxas tensa um dia antes do estro e eliminação do efeito do estresse
de concepção de vacas de alta oito dias após a inseminação ar- calórico. Roth et al. (2001), em
produção caíram de 45% no in- tificial, não melhoraram a taxa estudo realizado durante o final
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31. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
do verão e começo do inverno, indicaram que é necessário um no desenvolvimento folicular, de-
período de, pelo pressão do processo de dominân-
menos, dois ou três cia folicular, e alterações na es-
ciclos estrais para teroideogênese folicular, bem
a recuperação dos como na secreção de gonadotro-
danos ocasionados finas. A soma de todas estas alte-
pelo estresse calóri- rações faz com que a qualidade
co. Só depois deste do oócito seja alterada, compro-
período foram ob- metendo a viabilidade do em-
servados oócitos brião e, conseqüentemente, a
com habilidade eficiência reprodutiva. Diferen-
para desenvolvim- tes práticas de manejo e nutri-
ento e fertilização. cionais devem ser adotadas com
o objetivo de aliviar os efeitos
Conclusões do estresse calórico sobre a re-
produção. •
O estresse
calórico tem vários
efeitos negativos
sobre a fertilidade
de vacas leiteiras,
dentre os quais se
incluem: alterações
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32. Sanidade
MASTiTE EM NOViLHAS
PARTE i: PREVALêNCiA, FONTES DE iNFECçãO
E FORMAS DE iDENTiFiCAçãO
Mônica Maria Oliveira Pinho Cerqueira1; Renison Teles Vargas2; Adriano França da Cunha3;
Arianna Drumond Lage3; Leorges Moraes da Fonseca1; Ronon Rodrigues1; Mônica de Oliveira
Leite1; Cláudia Freire de Andrade Morais Penna1; Marcelo Resende de Souza1
1
Professores da Escola de Veterinária – UFMG
2
Professor do Centro Federal de Educação Tecnológica-Bambuí
3
Estudante do Curso de Pós-Graduação da Escola de Veterinária – UFMG.
Introdução se que algumas “janelas” permanecem abertas.
No caso em que esse raciocínio se aplica, como
Segundo a literatura científica nacional e interna- por exemplo, no que se refere à mastite em novi-
cional, a mastite continua sendo uma das principais lhas, o problema ocorre. Parece que os indicadores
causas de perdas econômicas à atividade leiteira. publicados em periódicos científicos e observados
Isso é curioso, quando se analisam as ferramentas pontualmente por alguns produtores e médicos ve-
disponíveis para o seu monitoramento e controle e terinários demonstram a necessidade de uma re-
ainda todo o conhecimento sobre os aspectos epi- visão urgente dessas ferramentas e das estratégias
demiológicos envolvidos no processo saúde-doença. empregadas. Não se pode esperar o animal iniciar
Parece um paradoxo quando se analisam o desen- a lactação para se implantar as medidas preven-
volvimento do conhecimento científico, as formas tivas para o controle da mastite. A contaminação
gerenciais de monitoramento dessa doença e os ín- pode já ter ocorrido em um momento anterior ao
dices de mastite subclínica e clínica nos diferentes de “produção propriamente dito” e, dependendo
sistemas de produção. da situação, as lesões podem já ser irreversíveis e
Nesse sentido, refletir é necessário. Será que o controle da doença estar muito comprometido.
o controle está sendo realizado no momento e da Como para a maioria dos produtores as novilhas
forma corretos? Será que as estratégias utilizadas, são animais sadios, a presença da mastite não é
que se baseiam principalmente na aplicação de notada até o início da produção de leite ou até o
ferramentas como o Programa de Seis Pontos, são primeiro episódio clínico na lactação. Com isso, um
suficientes? Será que o momento em que as “primo- animal pode ser portador de uma infecção intra-
infecções” ocorrem está sendo considerado? Bem, mamária por um ano ou mais, sem que a mesma
analisando-se a situação observada pontualmente seja diagnosticada. Por outro lado, sabendo-se que
por diferentes autores em todo o mundo, percebe- o maior desenvolvimento do tecido secretor de
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33. Revista Leite Integral - Dezembro/Janeiro - 2009/2010
leite ocorre na primeira gesta- Prevalência de infecções intra- natureza da mastite em novilhas,
ção, o fato dos animais apresen- mamárias em novilhas derrubando o dogma de que as
tarem mastite antes do parto, novilhas são livres dessa doença.
pode significar sérios prejuízos ao Até pouco tempo atrás, Pesquisadores americanos
produtor. acreditava-se que as taxas de têm sugerido que a mastite em
Considerando a falta de infor- infecções intramamárias em no- novilhas durante o período pré-
mações da ocorrência de mastite vilhas vazias e gestantes eram parto ocorre freqüentemente,
em novilhas, torna-se necessário baixas. Entretanto, vários estu- com taxas de infecção e tipos de
alertar produtores e técnicos dos têm demonstrado que uma patógenos variados. Em alguns es-
sobre alguns aspectos relaciona- alta porcentagem de glândulas tudos, as bactérias causadoras de
dos a essa enfermidade em ani- mamárias de novilhas gestan- mastite subclínica têm sido isola-
mais que representam o futuro tes está infectada por patógenos das em mais de 50% de quartos
estoque de produção de leite na causadores de mastite durante a infectados. Em outras pesquisas,
fazenda. Desconsiderar esses as- gestação, no momento do parto os resultados têm demonstrado
pectos pode significar perdas na e/ou no início da lactação. que mais de 90% das novilhas em
produtividade e rentabilidade da Nos últimos 20 anos, várias in- idade reprodutiva ou na primeira
atividade leiteira. vestigações têm sido conduzidas gestação podem estar infectadas.
com o objetivo de descrever a Comparando-se a freqüência
NutroN DreNch
Vacas mais sauDáVeis No pré e pós-parto
Geralmente as três últimas semanas de gestação e as três Para se evitar problemas como estes, utilize Nutron Drench logo
primeiras semanas após o parto são o período mais crítico do após o parto.
ciclo de produção da vaca leiteira. Isto ocorre por conta de uma Nutron Drench:
queda vertiginosa no consumo, o que pode resultar em complica- - hidrata o animal;
ções de diferentes tipos para o animal, tais como cetose, desloca- - repõem eletrólitos perdidos no momento do parto;
mento de abomaso, retenção de placenta, metrite, etc. - fornece energia (propilenoglicol).
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