SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 105
Descargar para leer sin conexión
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO
DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO
LÉO TEOBALDO KROTH
FLORIANÓPOLIS, SC.
1997
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE
PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO
Dissertação apresentada ao Centro de
Ciências Agrárias da Universidade
Federal de Santa Catarina como
requisito para obtenção do Grau de
Mestre em Agroecossistemas.
LÉO TEOBALDO KROTH
Engenheiro Agrônomo
Orientador
PROF. DR. LUIZ RENATO D’AGOSTINI
FLORIANÓPOLIS, SC.
AGOSTO DE 1997
KROTH, Léo Teobaldo. Hierarquização de critérios na
adoção de práticas de conservação do solo.
Florianópolis, 1997. 104f. Dissertação (Mestrado em
Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa
Catarina.
Orientador: Luiz Renato D’Agostni
Defesa: 12/08/1997
Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados
por [critérios de natureza econômica, preservacionista e de
humanização das atividades], objetivou-se identificar a
[hierarquia] destes [critérios] em determinar a [adoção] de
[práticas de conservação do solo].
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO (MESTRADO) EM AGROECOSSISTEMAS
CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS
UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA
FLORIANÓPOLIS (SC), BRASIL
Dissertação
submetida por LÉO TEOBALDO KROTH
como um dos requisitos para obtenção do Grau de
MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS,
Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e
Ambientais em Microbacias Hidrográficas.
Aprovada em: 12 / 08 / 97
Prof. Luiz Renato D'Agostini (Dr.)
Orientador
Prof. Paulo Emílio Lovato (Dr.)
Coordenador
BANCA EXAMINADORA:
Prof. Antônio Ayrton A. Uberti (M.Sc.)
CCA/UFSC
Prof. Júlia Sílvia Guivant (Dra.)
CFH/UFSC
Prof. Jorge L. Barcelos Oliveira (Dr.)
CCA/UFSC
Voltaire Mesquita Cézar (M.Sc.)
Eng.º Agrônomo – Epagri
Valdemar Hercílio de Freitas (M.Sc.)
Eng.º Agrônomo - Epagri
Dedico este trabalho à
Eliana e Aline
pela compreensão, incentivo e apoio
proporcionados nesta caminhada.
AGRADECIMENTOS
À Epagri, que me oportunizou a realização deste curso e pelo apoio
institucional e financeiro;
Ao Professor Luiz Renato D'Agostini, pelos ensinamentos, orientação,
amizade e paciência com que sempre me recebeu;
Ao Professor Jonas Ternes dos Anjos, pela orientação, receptividade,
incentivo e amizade;
Ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa
Catarina, por intermédio de seu Curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas;
Aos professores e colegas de curso, pelo amigável convívio e
experiências acrescentadas;
Aos funcionários e pessoal de apoio do Centro de Ciências Agrárias
pela atenção e ajuda prestada;
Ao Eng. Agr. Renato César Dittrich da Epagri, pelo apoio na
sistematização dos dados;
Às bibliotecárias e funcionárias da biblioteca da Epagri, pela pronta
atenção que sempre me foi dispensada;
À meus familiares e de minha esposa, pelo incentivo e apoio;
À Tânia e José João, Lenissa e Moacir, Nelise e Rene, Mery-Ann e
Edson, Marli e José Carlos, pela convivência, apoio e companheirismo;
Aos Extensionistas e funcionários da Gerência Regional e dos
Escritórios Municipais da Epagri da região do Alto Vale do Itajaí e do Centro de
Treinamento de Agronômica, pela contribuição na pesquisa de campo;
Aos agricultores entrevistados, pelo apoio, compreensão e paciência
ao responder os questionários e;
Aos companheiros da Epagri e a todos aqueles que contribuíram direta
ou indiretamente para a realização deste trabalho.
BIOGRAFIA DO AUTOR
Léo Teobaldo Kroth, nascido a 05 de setembro de 1961 em Ijuí - RS, é
filho de Guilherme Bruno Kroth (in memorium) e Ângela Kroth.
Em 1980 concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade no Colégio
Peperi em São Miguel D’Oeste - SC. Em 1984 ingressou no Curso de
Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa
Catarina, obtendo o título de Engenheiro Agrônomo em 17 de dezembro de
1988.
Iniciou suas atividades profissionais como Extensionista Rural da ex-
ACARESC, atual Epagri, em 13 de fevereiro de 1989, no município de
Presidente Getúlio - SC, na região do Alto Vale do Itajaí. A partir de 1991
passou a atuar como técnico específico do Projeto Microbacias, no mesmo
município, onde atuou até fevereiro de 1995.
Em março de 1995 ingressou no Curso de Pós-Graduação em
Agroecossistemas - Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e
Ambientais em Microbacias Hidrográficas do Centro de Ciências Agrárias da
Universidade Federal de Santa Catarina.
ÍNDICE
LISTA DE TABELAS...........................................................................................I
LISTA DE QUADROS .........................................................................................I
LISTA DE FIGURAS...........................................................................................II
RESUMO ...........................................................................................................III
ABSTRACT ...................................................................................................... IV
1. INTRODUÇÃO .............................................................................................1
2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO....................................................10
3. O PROCESSO DECISÓRIO.......................................................................25
3.1. Fatores de ordem econômica.............................................................26
3.2. Fatores de ordem operacional............................................................29
3.3. Fatores de ordem ambiental...............................................................31
4. ÁREA DE ESTUDO....................................................................................33
4.1. Breve Histórico da Região..................................................................33
4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí..................................35
5. PROCEDIMENTOS ....................................................................................43
5.1. Premissas básicas .............................................................................43
5.2. Plano de amostragem ........................................................................43
5.2.1. Base de dados.......................................................................43
5.2.2. Âmbito e população...............................................................44
5.2.3. Época e período de referência ..............................................44
5.3. Seleção da amostra ...........................................................................44
5.4. Definição e Operacionalização das Variáveis ....................................45
5.4.1. Caracterização das unidades de produção ...........................45
5.4.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de
conservação do solo..............................................................48
6. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................52
6.1. Caracterização das unidades de produção ........................................52
6.1.1. Idade do produtor ..................................................................52
6.1.2. Disponibilidade de mão-de-obra............................................53
6.1.3. Escolaridade do produtor.......................................................54
6.1.4. Área da propriedade..............................................................55
6.1.5. Área explorada com culturas anuais......................................56
6.1.6. Adoção de práticas de conservação do solo em áreas de
lavoura...................................................................................57
6.1.7. Nível de instrução dos produtores .........................................61
6.1.8. Nível de renda dos produtores...............................................62
6.1.9. Padrão tecnológico dos produtores .......................................63
6.1.10. Percepção dos produtores frente a novas tecnologias..........64
6.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de
conservação do solo ..........................................................................65
6.2.1. Fatores que inspiram o produtor a implantar práticas de
conservação do solo..............................................................66
6.2.2. Fatores que inspiram o produtor a não implantar práticas
de conservação do solo.........................................................70
6.2.3. Argumentos de motivação para adoção ................................71
6.2.4. Razões para implantação de um programa de conservação
do solo...................................................................................72
7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES................................................................74
7.1. Conclusões.........................................................................................74
7.2. Outras questões relevantes................................................................79
8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................83
9. ANEXOS.....................................................................................................86
9.1. Questionário.......................................................................................86
9.2. Dados relativos a amostragem...........................................................92
I
LISTA DE TABELAS
Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC. ...........9
Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente Extensão Rural
e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD - 1996.............9
Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996.....40
Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC.........40
Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região
do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985...................................................41
Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC. ............41
Tabela 7. Principais culturas anuais exploradas na região do Alto
Vale do Itajaí - SC - Safra 1994/1995. ...........................................42
Tabela 8. Principais criações da região do Alto Vale do Itajaí - SC. ..............42
Tabela 9. Posse da terra na região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985...........42
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão......................................18
II
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Localização da área de estudo ......................................................39
Figura 2. Distribuição dos produtores por faixas etárias -Alto Vale do
Itajaí - SC - 1996............................................................................53
Figura 3. Disponibilidade de mão-de-obra (UTH) nas propriedades
rurais do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996.........................................54
Figura 4. Distribuição dos produtores de acordo com a escolaridade
Alto Vale do Itajaí - SC - 1996........................................................55
Figura 5. Distribuição dos produtores de acordo com a área da
propriedade (ha) - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. .........................56
Figura 6. Distribuição percentual das propriedades de acordo com a
área explorada com culturas anuais - Alto Vale do Itajaí - SC. ......57
Figura 7. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a
adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do
Itajaí - SC - 1996............................................................................58
Figura 8. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a
adoção de combinações de práticas de conservação do solo
Alto Vale do Itajaí - (SC) - 1996. ....................................................59
Figura 9. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu
nível de instrução na percepção dos técnicos executores
do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...............62
Figura 10. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu
nível de renda na percepção dos técnicos executores
do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...............63
Figura 11. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu
padrão tecnológico na percepção dos técnicos executores
do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...............64
Figura 12. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a
percepção que têm frente a novas tecnologias na visão
dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale
do Itajaí - SC - 1996.......................................................................65
Figura 13. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os
fatores que os inspiram a adotar práticas de conservação
do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................67
Figura 14. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os
fatores que os inspiram a rejeitar as práticas de conservação
do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................70
Figura 15. Distribuição percentual dos produtores com base nos
argumentos a serem utilizados como fatores de motivação para
a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do
Itajaí - SC - 1996............................................................................72
Figura 16. Distribuição percentual dos produtores de acordo com as
razões para implantação de um programa de conservação
do solo ...........................................................................................73
III
HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS
DE CONSERVAÇÃO DO SOLO
Autor: Léo Teobaldo Kroth
Orientador: Prof. Luiz Renato D'Agostini
RESUMO
Uma das principais implicações da modernização da agricultura é a
degradação dos recursos naturais. O modelo preconizado por essa agricultura
pressupostamente baseava-se na produtividade e eficiência. Os recursos
naturais, especialmente o solo, ficavam relegados a um segundo plano. Os
insumos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidades do
sistema solo-planta. Isso fez com que o homem se distanciasse da natureza e
do próprio homem em seu sentido maior.
Mesmo compreendendo a dinâmica do processo de degradação do
meio e conhecendo alternativas para seu controle, ainda não se verifica uma
suficiente adoção de práticas de conservação do solo.
Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados
principalmente por critérios de natureza econômica, preservacionista e
operacional, objetivou-se identificar a hierarquia destes critérios em determinar
a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores participantes do
Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC.
Do universo estudado, aproximadamente 65% dos produtores são
adotantes, 30% são parcialmente adotantes e 5% não adotam práticas de
conservação do solo. Para 53,6% dos produtores os fatores de ordem
econômica são os que determinam a adoção; 69,7% dos produtores que não
adotam práticas conservacionistas o fazem por fatores de ordem econômica.
Subjetivamente, fatores relacionados com a humanização do trabalho estão
fortemente presentes. A preservação do meio parece, ainda, ser mais
dependente de constrangimentos frente à diferenciação de comportamentos do
que pela convicção da necessidade de preservação.
IV
HIERARCHIZATION OF CRITERIA IN THE ADOPTION
OF SOIL CONSERVATION PRACTICES
Author: Léo Teobaldo Kroth
Adviser: Prof. Luiz Renato D'Agostini
ABSTRACT
One of the main critical implications of modern agriculture is the
degradation of natural resources. This agriculture is presumably based on a
productivity/efficiency model. Natural resources, and mainly soil, was relegated
to a secondary plane. Industrial inputs could provide or meet all soil-plant
system needs. This forced man to draw away from nature and from himself in
the broadest sense of the term.
Although understanding the dynamics of environmental degradation
process and being aware of the alternatives for controlling it, adequate soil
conservation practices have not been adopted yet.
Assuming that soil use and management are primarily based on criteria
associated to economic, preservationist and humanization aspects, an attempt
has been made to identify the hierarchy of such criteria in determining the
adoption of soil conservation practices by farmers.
Aproximately 65percent of farmers are adopters, 30% are partial
adopters and 5% do not adopt soil conservation practices at all. For 53,6% of
farmers, economic factors are the major determiners for this adoption; 68,7% of
farmers who do not adopt soil conservation practices do so because of
economic restrictions. Subjectively, factors associated with labor humanization
are clearly evident. Environment protection seems to be still more dependent on
constraints derived from a different behavior, than on the conviction of the real
need for preservation.
1
1. INTRODUÇÃO
A agricultura brasileira, e em particular a catarinense, passou, nas
últimas décadas, por profundas mudanças, tanto no campo econômico, no
social, quanto no tecnológico.
A transformação da agricultura tradicional, responsabilizada como a
precursora da situação do subdesenvolvimento brasileiro, de acordo com os
paradigmas modernizantes, somente se daria mediante a introdução e
aplicação de fatores com origem externa ao meio rural. Para tornar isso
possível, haveria uma demanda em educação, pesquisa e difusão dos fatores
de produção industrial, a cargo do poder público, considerando-se que deveria
ocorrer a substituição da agricultura tradicional pela moderna.
As modificações ocorridas no meio rural, a partir do avanço das
relações capitalistas de produção, levaram a uma inserção profunda da
agricultura na economia de mercado, agregando novos e mais complexos
conceitos, que passaram a influenciar a tomada de decisões.
Uma das principais implicações do processo modernizante implantado
na agricultura está relacionado com a preservação dos recursos naturais. O
modelo difundido tinha bases inspiradas essencialmente na produtividade e na
eficiência. Com isso, as questões dos recursos naturais, especialmente o solo,
foram relegadas ao segundo plano, com o argumento, mesmo que subjacente,
de que os insumos químicos industriais poderiam suprir ou atender todas as
necessidade das culturas. A maneira pela qual se processou a
“industrialização” da agricultura fez com que o homem se distanciasse da
natureza e, por conseguinte, do próprio homem. A natureza se tornou tão
somente supridora de matérias primas, sendo o solo considerado apenas “meio
de suporte para as plantas” e não como parte indissociável de um todo, cuja
complexidade e significação não pode ser reduzida a de um meio em que
ocorrem processos físicos, químicos e biológicos, que proporcionam condições
para o desenvolvimento das plantas.
O aumento da pressão sobre os recursos naturais, ocasionada por uma
demanda ascendente no uso dos solos para fins agrícolas, está especialmente
2
implicado na intensificação do uso de produtos químicos sintéticos
(fertilizantes, agrotóxicos, etc.) e na mecanização das operações de cultivo. A
necessidade de crescente aumento da renda das famílias rurais, como um dos
produtos da mesma modernidade, aliada ao aumento da pressão demográfica
no meio rural, resultaram numa intensificação da utilização do solo. Como
conseqüências mais evidentes desta utilização, estão a degradação estrutural
e a erosão do solo (perda da camada fértil), redução e até eliminação da
atividade biológica, aumento do número do que era como pragas, doenças e
invasoras, diminuição do estoque de água, acarretando déficit hídrico, poluição
do lençol freático e das águas superficiais, para citar apenas algumas. Tudo
isso acabou acarretando redução nos níveis de produtividade das lavouras e
até mesmo inviabilizando seu cultivo, colocando em questão a própria
promessa da “agricultura moderna”.
Em solos do Rio Grande do Sul, cultivados com sucessão trigo-soja
sob sistema convencional1
, sem o uso de práticas de conservação do solo, as
perdas de solo foram, numa média de quatro safras, de 32t/ha ano, chegando a
97t/ha ano (RIO GRANDE DO SUL, 1985), o que representa quase 10kg de
solo por metro quadrado, ou ainda uma camada uniforme de um centímetro de
espessura. Considerando-se que a camada arável situa-se, para a maioria dos
solos de Santa Catarina, até 30cm de profundidade, e permitindo-nos uma
extrapolação no tempo e no espaço daqueles resultados experimentais, se
poderia concluir que em apenas algumas décadas poderemos ter esgotado a
capacidade produtiva desses solos.
Com a redução da produtividade, os agricultores sentiram-se
compelidos a aumentar suas áreas de lavoura, buscando, assim, garantir a
rentabilidade de seu processo produtivo, levando ao uso de muitas áreas fora
de suas aptidões agrícolas, de acordo com o sistema de classificação das
terras2
; ao uso de áreas marginais3
; à exploração de áreas de preservação
1
Sistema de manejo convencional: preparo do solo com uma aração e duas gradagens, queimando os
restos culturais do trigo e incorporando os resíduos da soja.
2
Sistema de classificação das terras: utilizado para classificar as terras de acordo com sua aptidão
agrícola, considerando as seguintes características: declividade, profundidade efetiva, pedregosidade,
drenagem, fertilidade e suscetibilidade à erosão, conforme o que é preconizado na metodologia
atualmente em uso pela Epagri.
3
determinadas pela legislação4
; a demanda por novas fronteiras agrícolas, entre
outros casos. Aliado a não aplicação de práticas adequadas à preservação da
capacidade produtiva desses solos (Tabela 1), encontra-se atualmente um
quadro bastante preocupante quanto à manutenção dos níveis de
produtividade e até mesmo da continuidade da exploração de diversas áreas
agrícolas do Estado.
Procurando de alguma forma encontrar meios de equacionar essa
situação, o serviço de extensão rural do Estado, ao longo de 40 anos de
atividades, desenvolveu uma série de Programas voltados à conservação dos
solos. No entanto, estes Programas só ocasionalmente apresentaram bons
resultados, com contribuições relativamente pouco representativas na
minimização dos efeitos nocivos da erosão sobre o solo no Estado. Segundo a
percepção que inspira os Programas atuais, isso deveu-se fundamentalmente à
visão reducionista destes Programas, que consideravam apenas a área das
lavouras como unidades de planejamento e atuação, não levando em conta
que os fatores climáticos, notadamente a chuva e o escoamento a ela
associado, determinante na ocorrência da erosão dos solos, não delimitam sua
ação em linhas retas ou aos limites legalmente instituídos.
As práticas ou procedimentos tradicionais de conservação do solo
foram menos efetivas do que se esperava ou se necessitava. A visão
tradicional se concentrava basicamente no volume e na velocidade de
escoamento da água, sem ter em conta o sistema de produção como um todo.
Quase como um pressuposto de suficiência, o manejo conservacionista
reduzia-se as práticas que antecediam as atividades de um novo ciclo de
produção agrícola, descuidando do que ocorria durante e depois desse ciclo.
No entendimento de BRAGAGNOLO et al. (1995), este enfoque enfatizava as
medidas físicas de conservação do solo no trabalho das agências
3
Áreas marginais: são assim consideradas aquelas áreas que necessitam de obras de engenharia para
torná-las agricultáveis, como macrodrenagem e sistematização, ou que não apresentam condições
naturais para o uso agrícola, em função da baixa fertilidade, pedregosidade, etc.
4
Áreas de preservação permanente: de acordo com a Lei n.º 4.771 de 15.09.65, são assim consideradas as
áreas com florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de outro curso
de água, em faixa marginal com largura mínima de acordo com a largura do curso de água, que vai de
30 metros a 500m; ao redor de lagoas, lagos e reservatórios; nas nascentes num raio de 50m., no topo
dos morros, montes, montanhas e serras; nas restingas; nas bordas de tabuleiros ou chapadas; e áreas
com altitude superior a 1.800m.
4
especializadas em conservação do solo e em conseguir a adesão dos
agricultores mediante a insistência.
Impõe-se reconhecer, assim, que um fator que contribuiu para uma
insuficiente efetividade das práticas de conservação do solo foi a metodologia
de trabalho utilizada pelos agentes de extensão, que raras vezes considerava o
agricultor como participante do processo e como agente executor e
beneficiário, ou seja, o mesmo era visto como objeto do processo e não como
sujeito. Mas mesmo o vendedor sabe que a insistência só é eficaz mediante
argumentos com conteúdo impregnado de significação para o comprador. Cabe
perguntar, então, se na “adesão mediante a insistência” os argumentos
apresentados aos agricultores se investem de significação à luz dos critérios
que priorizam e determinam as sua ações.
A inadequação metodológica parece decorrer do fato de os Programas
terem sido concebidos, em sua maioria, para atender políticas públicas e
programas de governo coadunados com os princípios da “revolução verde”,
que visavam atender interesses comerciais e políticos, em detrimento das reais
necessidades e demandas dos produtores.
Para BRAGAGNOLO et al. (1995), a concepção dos Programas de
“cima para baixo” limitava a credibilidade dos conservacionistas, dificultando o
intercâmbio e valorização de idéias. Os agricultores tem se preocupado com a
produção enquanto que os conservacionistas tem se preocupado em salvar o
solo e a água. Para os mesmos autores, outra carência do enfoque tradicional
é que não eram considerados os aspectos socioeconômicos e as
características dos sistemas de produção, o que se refletia numa falta de
entusiasmo dos agricultores para adotar práticas conservacionistas.
Normalmente, os agricultores não introduzem de forma automática práticas
convencionais de conservação do solo em suas operações rotineiras, mesmo
porque freqüentemente tanto as recomendações como as implicações de sua
implementação prática não são adequadas ou aplicáveis de forma imediata às
situações agroecológicas ou socioeconômicas específicas.
O produtor era defrontado com “tecnologias” e soluções não
adequadas à sua realidade e mesmo suas necessidades. Isso levava a um
descrédito com relação ao que lhe era proposto como alternativa para
5
equacionar os problemas de erosão do solo que enfrentava. Essa dicotomia
entre os “pacotes tecnológicos” oferecidos pelos agentes de extensão e o que
o agricultor realmente desejava ou o que lhe seria mais adequado e
apropriado, levou a uma baixa adoção das práticas de conservação do solo ou,
quando eram adotadas, isso ocorria por um período relativamente curto, sendo
posteriormente abandonadas.
A percepção mais atual quanto a melhor forma de se combater a
degradação dos solos diz respeito a um melhor “manejo das terras”, sendo que
as práticas convencionais de conservação do solo devem ser consideradas
como de apoio. Este enfoque traz como benefícios uma estreita integração das
práticas conservacionistas ao sistema de produção agrícola e o fortalecimento
das relações entre a população rural e suas terras.
Alinhado com esse novo enfoque, o serviço de extensão rural de Santa
Catarina iniciou em 1984 os primeiros trabalhos que tem na microbacia
hidrográfica5
a unidade de planejamento, com atuação em três microbacias nos
municípios de Agrolândia, Benedito Novo e Indaial, na Bacia Hidrográfica do
Rio Itajaí-Açu, ação que se estendeu para 17 microbacias no Estado nos anos
de 1985/86. Através do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, esse
enfoque se expandiu, passando atuar, em 1987, diretamente em 68
microbacias do Estado. A partir de 1991 passou a ser desenvolvido o Projeto
de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em
Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, de abrangência
estadual, prevendo inicialmente o atendimento de 520 microbacias num
período de 7 anos, beneficiando cerca de 81.000 produtores rurais,
representando 25% da área total do Estado. O objetivo desse Projeto é de
incrementar a produção e a renda da propriedade agrícola, promovendo a
adoção de práticas sustentáveis de manejo e conservação do solo e da água.
Com isso, segundo SANTA CATARINA (1989), deverá ocorrer uma utilização
mais adequada do solo e detenção das perdas do solo, do assoreamento do
leito dos rios e represas, das enchentes, da destruição das estradas, da
poluição dos mananciais e do esgotamento dos recursos naturais.
5
Microbacia Hidrográfica é definida como uma área fisiográfica drenada por um curso d’água ou por um
sistema de cursos d’água conectados e que convergem, direta ou indiretamente, para um leito ou para
um espelho d’água (BRASIL, 1987).
6
A principal estratégia do Projeto Microbacias/BIRD envolve o
planejamento conservacionista da propriedade agrícola, através da adequação
das áreas de cultivo de acordo com as classes de aptidão de uso6
e pela
adoção de práticas de preservação e recuperação do solo, como cobertura
vegetal7
, práticas mecânicas8
, práticas de preparo conservacionista9
, entre
outras.
A justificativa do uso da microbacia hidrográfica como referencial de
planejamento e de trabalho baseou-se nos seguintes pressupostos:
1. permite concentrar em uma área relativamente homogênea a ação de
diversos organismos de apoio à assistência técnica (públicos ou privados),
evitando a dispersão de atividades e a atenção à produtores isolados,
passando a trabalhar em torno de planos de ação concretos e mais globais;
2. os produtores numa microbacia podem desenvolver propósitos comuns e
ajudar-se mutuamente na implementação de planos comuns;
3. possibilidade de compartilhar recursos escassos, como máquinas de alto
custo que não estejam ao alcance de todos os agricultores e;
4. racionalidade na utilização de recursos materiais e financeiros disponíveis,
de acordo com as necessidades e prioridades.
Esse Projeto contribuiu de forma significativa, notadamente em sua
área de abrangência, para a busca da reversão do quadro de degradação dos
6
Classes de aptidão de uso: de acordo com a metodologia utilizada pelos técnicos que atuam no Projeto
Microbacias/BIRD, as terras são classificadas em 5 classes:
 Classe 1: aptidão boa para culturas anuais climaticamente adaptadas;
 Classe 2: aptidão regular para culturas anuais climaticamente adaptadas;
 Classe 3: aptidão com restrições para culturas anuais climaticamente adaptadas, aptidão regular para
fruticultura e boa aptidão para pastagens e reflorestamento;
 Classe 4: aptidão com restrições para fruticultura e aptidão regular e com restrições para pastagens e
reflorestamento; e
 Classe 5: preservação permanente (SANTA CATARINA, 1995).
7
Prática de cobertura vegetal do solo: utilização de plantas em rotação, sucessão ou consorciação com as
culturas, deixando-as na superfície do solo, visando-se a proteção superficial, bem como a manutenção
e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo.
8
Práticas mecânicas de conservação do solo: consistem na locação e construção de estruturas no sentido
transversal à direção do declive do terreno, formando obstáculos físicos capazes de reduzir e disciplinar
a velocidade da água das chuvas, promovendo seu escoamento e/ou seu armazenamento, sem perigo de
erosão (RIO GRANDE DO SUL, 1985). Incluem-se neste grupo os terraços, os cordões vegetais e de
pedra.
9
Práticas de preparo conservacionista do solo: são aquelas em que se procura evitar ao máximo o
revolvimento do solo, deixando-o coberto com os resíduos das culturas ou com espécies cultivadas com
este fim específico, para que não fique exposto à ação dos fatores erosivos. Incluem-se neste grupo:
plantio direto, cultivo mínimo, preparo reduzido, escarificação, subsolagem, entre outras.
7
solos no Estado, mas ainda com abrangência limitada no contexto geral da
agricultura de Santa Catarina (Tabela 2), principalmente por ter se concentrado
em algumas poucas práticas conservacionistas e não num sistema integrado
de manejo dos solos.
Uma adequada solução dos problemas de degradação encontrados
ainda está longe de ser alcançada, principalmente pelo fato de o referido
Projeto ter se concentrado em ações individualizadas e com alternativas
exógenas e pressupostamente universais, nem sempre respeitando ou
procurando entender a lógica do comportamento do agricultor. A falta de uma
visão holística dos planejadores e extensionistas e da própria concepção do
Projeto, por desconsiderar aspectos sociológicos, antropológicos, econômicos,
culturais, entre outros, faz com que os alcances ainda sejam pouco
significativos, notadamente com respeito às relações homem-meio,
considerando-se que um efetivo controle do processo erosivo está ligado ao
manejo integral de todos os fatores envolvidos no processo e no entendimento
dos mecanismos de ação de cada um, e não apenas em ações isoladas, que
procuram atacar o efeito e não as causas.
O presente trabalho parte, desta forma, do pressuposto de que a
adoção ou não de práticas de conservação do solo pelos agricultores, no caso
os participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí -
SC, se dá pela maior ou menor sintonia entre as concepções do Projeto, dos
extensionistas e as ideologias e lógicas que os norteiam e a percepção dos
agricultores frente aos fatores que orientam sua tomada de decisões.
Objetivando permitir que se possa ter um entendimento mais claro da
proposta desta dissertação e qual foi a fundamentação que permeou sua
concepção, este trabalho está dividido em três partes:
1. a primeira é constituída de uma introdução, na qual se buscou sintetizar a
problemática que envolve a conservação dos solos e o contexto dos
programas desenvolvidos ao longo nos anos pelo serviço de extensão rural
do Estado, e de uma análise descritiva, com base na literatura disponível e
de minhas próprias experiências e observações acumuladas durante o
período em que atuei como extensionista do Projeto Microbacias, do
processo de difusão/adoção de tecnologias agropecuárias e da lógica do
8
produtor envolvida no processo decisório, notadamente quanto aos
aspectos de ordem econômica, aos relacionados com a humanização do
trabalho (operacionais) e quanto aos aspectos ambientais e de preservação
das características do meio;
2. a segunda parte é composta pela análise e discussão dos dados obtidos no
campo com relação aos fatores que influenciam o produtor na adoção ou
não de práticas de conservação do solo. Através de questões formuladas
de forma indireta, procurando imprimir uma visão de que o produtor estaria
respondendo o que seus pares pensam e como agem no uso do solo,
procurou-se, na verdade, identificar quais são as relações de prevalência
entre os critérios do agricultor em sua percepção do significado das práticas
conservacionistas. Constitui-se, essa segunda parte, também da descrição
da área de estudo e da metodologia utilizada e;
3. na terceira parte são apresentadas as conclusões, bem como são feitas
considerações sobre o processo de adoção que podem vir a se constituir
em argumentos para reflexão de planejadores e executores de Programas
de conservação do solo, bem como sobre outros aspectos a serem
considerados em novos Projetos que venham ser elaborados e
desenvolvidos no âmbito da conservação dos solos.
9
Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC1
PRÁTICA ÁREA - ha
% DA ÁREA
CULTIVADA2 ÁREA P/FAMÍLIA
Cobertura vegetal 338.474 17,71 1,31
Cultivo mínimo 46.816 2,45 0,18
Plantio direto 80.929 4,23 0,31
Cordão vegetal (patamar) 54.661 2,86 0,21
Terraços 151.277 7,92 0,59
Fonte: Epagri, 1996a.
1
Levantamento realizado no ano de 1993.
2
Percentual de área com práticas de cobertura vegetal do solo em relação a área total
cultivada com culturas anuais no Estado.
Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente1
Extensão Rural e
Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD2
- 1996
ATIVIDADE
TOTAL DO
ESTADO*
META ALCANC
E
%
Microbacias 1.683 520 502 96
Agricultores 252.450 80.900 69.378 86
Propriedades com Planejamento
Conservacionista
- 56.630 30.801 54
Reflorestamento (ha) - 53.000 24.145 45
Área com práticas conservacionistas3
- 240.000 309.731 129
N.º de propriedades agrícolas 235.361 - - -
Área total dos estabelecimentos
agrícolas de Santa Catarina - ha
7.463.677
- - -
Área das principais lavouras - ha 2.087.677 - - -
Área das principais lavouras a serem
trabalhadas pelo Projeto - ha
761.505 - - -
Fonte: Epagri, 1996b e SANTA CATARINA (1989).
* Dados referentes a 1987, por ocasião da elaboração do Projeto Microbacias/BIRD.
1
O Projeto Microbacias, entre outros é dividido em seis componentes: Componente
Assistência Técnica e Extensão Rural, Componente Pesquisa Agropecuária, Componente
Florestal, Componente Estradas, Componente Educação Ambiental, Componente
Monitoramento de Microbacias Hidrográficas.
2
Dados acumulados até dezembro/1996.
3
Dados com repetição referentes as práticas vegetativas
10
2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO
A motivação dos agricultores em adotar práticas de conservação do
solo é um processo complexo. Ele se inicia com a percepção do problema da
erosão pelo agricultor e o conhecimento sobre quais são os fatores que
influenciam a adoção. Os agricultores que acreditam não terem o problema,
não realizam ações para minimizá-lo. Suas percepções do problema dependem
de inúmeros fatores, incluindo mensagens através de programas
governamentais e características pessoais dos agricultores, como a idade,
disposição ao risco, entre outros.
Nem sempre os agricultores vêem a erosão como um problema que
está ocorrendo em suas propriedades. Relatos apresentados por CULVER &
SEECHARAN (1986), demonstram que em 112 municípios (condados) entre os
mais erodidos dos Estados Unidos da América, 92% dos agricultores
percebiam o problema da erosão em seu município, porém somente 66%
percebiam a erosão como sendo um problema em suas propriedades. Já nos
Estados de Nebrasca e Yowa, a maioria dos agricultores que crêem não ter
problemas atuais de erosão, na verdade os têm. Isto nos remete a uma
reflexão sobre o real significado do critério conservacionista.
De acordo com D’AGOSTINI (1995), “mesmo para o leigo e para o
inculto, a noção da importância da proteção do solo contra a erosão já é bem
presente, seja para a visão orientada à produtividade ou para a visão orientada
à sustentabilidade do processo produtivo. Mas a modalidade da ação do
homem em relação ao manejo do solo e de outras partes do meio, como
qualquer outra ação humana, também se dá a partir de um complexo sistema
de valores, onde o preservacionismo geralmente não é o único e, por
enquanto, nem o mais determinante critério que inspira a ação. Normalmente, o
preservacionismo só é prioridade na medida que a degradação decorrente de
ações demandadas ou orientadas por critérios prevalecentes, ou processos
delas decorrentes, implica riscos à objetivação daqueles critérios dominantes”.
Percebe-se claramente, que o critério conservacionista está permeado
de argumentos basicamente ligados a questão da erosão do solo e não das
11
implicações resultantes de sua ocorrência, ou seja, os critérios
conservacionistas consideram sobretudo os prejuízos advindos da erosão,
notadamente os de ordem econômica, associados à redução da produtividade
e ao aumento dos custos de produção. Desta forma, o real significado do
critério conservacionista parece estar diretamente associado à percepção que
os produtores tem de que a não adoção de práticas conservacionistas pode
colocar em risco os resultados da atividade agrícola.
Com o objetivo de tentar evidenciar as variáveis relacionadas com a
adoção de tecnologias agropecuárias pelos produtores rurais, um expressivo
número de trabalhos foi conduzido por pesquisadores de diversas áreas das
ciências agrárias, humanas e econômicas. BUTTEL et al. (1990) relatam que
são aceitos como os primeiros estudos com relação a difusão-adoção de
inovações agrícolas10
aqueles realizados por Hoffer em 1942 e Ryan e Gross
em 1943, nos estados americanos de Michigan e Yowa, respectivamente; a E.
A. Wilkening, da Universidade de Chicago, é creditada a criação dos primeiros
e mais influentes estudos sobre o processo de difusão-adoção, realizados nas
décadas de 40 e 50; outras contribuições foram feitas por Fliegel, Beal &
Bohlen, Lionberger, Conghenour e Rogers, especialmente entre os anos de
1950 e 1970. De acordo com ROGERS (1995), existiam 405 publicações sobre
a questão em 1962, 1.500 em 1971, 3.085 em 1981 e em 1995 mais de 4.000.
A análise de fatores envolvidos no processo decisório do agricultor,
notadamente no que diz respeito à adoção de tecnologias, foi feita, ainda em
trabalhos desenvolvidos por CÉZAR (1978), BUTTEL et al. (1990), GOODMAN
et al. (1990), entre muitos outros. Esses trabalhos, porém, em sua maioria,
procuraram analisar a questão primordialmente sob a ótica tradicional do
modelo de difusão/adoção proposto por ROGERS (1995) ou, então, numa
abordagem basicamente econômica, não se atendo a outros aspectos que
estão presentes e que contribuem com a tomada de decisões, bem como por
que entre alguns agricultores a adoção ocorre de forma mais lenta.
Para ROGERS & SHOEMAKER (1974) a decisão individual diante de
uma inovação não é um ato imediato, mas um processo que ocorre ao longo do
10
Inovação agrícola: toda idéia ou prática percebida como nova pelo indivíduo, mesmo quando ela não é
objetivamente nova, segundo o tempo decorrido desde sua descoberta ou primeiro uso (MOLINA
FILHO, 1968).
12
tempo e que envolve uma série de fatores, que vão desde o primeiro contato
com a inovação, a decisão de adotar ou rejeitar, até a confirmação da decisão
tomada.
O modelo do processo de difusão-adoção de inovações tecnológicas
na agricultura concebido por Rogers em 1963, a partir dos diversos trabalhos
realizados neste campo e denominado de Processo de Adoção de Rogers,
revisado e renomeado em 1983 para Innovation-Decision Process, contém três
componentes principais, conforme apresentado no Quadro 1 - página 18.
Os antecedentes correspondem às variáveis presentes na situação
prévia à introdução da inovação e incluem as características do receptor e do
sistema social. As primeiras restringem-se a certos aspectos referentes
diretamente ao indivíduo. Ainda no item “características sociais”, refere-se às
atitudes dos indivíduos em relação às questões sociais. As segundas, as
características do sistema social, remetem às normas, ao que é moderno ou
tradicional, por exemplo, a padrões de tolerância em relação ao desvio e à
integração da comunicação.
O processo tem seqüência através da influência das fontes e canais de
comunicação que proporcionam estímulos ao indivíduo, em primeiro lugar
oferecendo o conhecimento da inovação e, posteriormente, canais mais locais
e interpessoais persuadem o indivíduo, que forma suas percepções em relação
à inovação.
Na fase das conseqüências, a inovação pode ser adotada
permanentemente, ou a adoção ser interrompida (descontinuidade), de acordo
com a confirmação de sua efetividade, ou mesmo pode não ser adotada em
nenhum grau.
Na fase da persuasão, quando o indivíduo forma uma idéia favorável
ou desfavorável sobre a inovação, tem papel fundamental os sentimentos, e
não o conhecimento de tal inovação, que é prévio. As características que o
agricultor percebe a respeito da inovação em questão, são importantes para ele
continuar no passo seguinte, com sua adoção ou rejeição. Essas
características vão desde vantagens relativas, à complexidade, à possibilidade
de ser observada, à possibilidade de experimentação sem grandes riscos e à
compatibilidade entre o significado da inovação e valores dos produtos. Este
13
último conceito é muito importante e é introduzido por ROGERS (1995) para
explicar como as características de uma inovação devem corresponder com
certos valores socioculturais dos potenciais adotadores. Uma inovação difundir-
se-á mais rapidamente quando existir congruência ou compatibilidade entre os
valores que ela requer e os existentes na população alvo. Isto é proposto como
relevante para escolher as inovações a serem difundidas e as estratégias
correspondentes para efetivar tal difusão.
A difusão para ROGERS (1995), é definida como sendo o processo
pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do
tempo, entre membros de um sistema social. Já a inovação é uma idéia, prática
ou objetivo que é percebido como novo por um indivíduo ou outras unidades de
adoção.
Para GUIVANT (1992), o modelo estabelece que os níveis de adoção
dependem da combinação de características pessoais do produtor (educação,
idade, espírito empreendedor, cosmopolitismo, etc.) e da propriedade rural
(área cultivada, localização, acesso a meios de transporte e de comunicação,
renda, etc.).
Os resultados das pesquisas sobre o processo de difusão-adoção,
indicam, de acordo com ILBERY (1985) para o seguinte:
1. os agricultores com menos idade e proprietários de grandes áreas buscam
mais informações do que aqueles mais idosos com propriedades menores;
2. os agricultores com maior nível de escolaridade buscam mais informações,
sendo, por isso, mais inovadores que os de menor escolaridade;
3. agricultores mais cosmopolitas tendem a ser mais inovadores, o que pode
ser atribuído a terem mais acesso aos canais de comunicação;
4. proprietários de grandes áreas, empreendedores e não avessos a riscos,
tendem a ser os primeiros a adotar inovações agrícolas.
Com base nestas percepções, COCHRANE (1979) estabeleceu a
Theory of the Treadmill sobre mudanças tecnológicas. De acordo com esta
teoria, “os produtores que primeiro adotam as inovações tecnológicas tem
maiores rendas por reduzirem os custos por unidade de produção. Com o uso
da tecnologia, o preço dos produtos tende a cair, em função de que os
commodities agrícolas tendem a ter uma baixa elasticidade de preços com a
14
demanda. O declínio dos preços força os não adotantes a também utilizar as
novas tecnologias. Como conseqüência, estes adotadores retardatários
ganham muito pouco com a tecnologia, sendo que eles as adotam somente
para permanecer na agricultura. Quem realmente se beneficia são os
consumidores em função dos preços pagos pelos produtos que adquirem. Por
seu lado, os que não as adotam são forçados a abandonar a agricultura por
não poderem competir ou então, forçados a adotar, mesmo sem benefícios”.
O processo de mudanças sociais, particularmente no meio rural, é
extremamente complexo, envolvendo aspectos nem sempre considerados
pelos planejadores e técnicos, mas que são primordiais por influenciarem
diretamente no comportamento do agricultor. Para MUSSOI (s.d.) o processo
social na agricultura observa os seguintes pressupostos:
 os produtores de subsistência são irresolutos em “experimentar” com a
sobrevivência de suas famílias, pois se uma mudança (inovação adotada)
falhar, poderá comprometer sua segurança;
 de modo geral, os pequenos produtores baseiam-se mais no quanto
poderão perder se a inovação não der resultados positivos do que
propriamente a maximização de seus lucros;
 a adoção de uma inovação é influenciada, ainda, por uma série de fatores,
como: idade, grau de escolaridade, isolamento, fatalismo, liderança,
cosmopolitismo, contato com agentes de assistência técnica, normas do
sistema social, entre muitos outros.
Ainda segundo MUSSOI (s.d.), outro fator que tem forte influência na
adoção, relaciona-se com o fato de que a grande maioria dos programas que
propõem mudanças são elaborados descendentemente, ficando os
beneficiários no final da linha, responsáveis unicamente pela execução das
determinações planejadas pelos técnicos, muitas vezes dissociadas das reais
necessidades, visando atender interesses meramente políticos. Dessa forma, o
processo de mudança se torna falho, pois os beneficiários não tem poder de
decisão, nem mesmo de opinião sobre as determinações que lhes deveriam
beneficiar.
15
Por se centrar demasiadamente nas variáveis individuais11
do produtor
e da propriedade agrícola, o modelo de pesquisa sobre difusão-adoção passa
por fortes contestações a partir dos anos 70. O modelo passou a ser associado
ao processo de modernização da agricultura químico-industrial e todos os seus
efeitos, principalmente ao meio ambiente, ao êxodo rural, às desigualdades
sociais, entre outros, enquanto beneficiava o setor agroindustrial e os grandes
proprietários rurais.
Neste mesmo contexto, passam a ser criticados também os conceitos e
a metodologia do modelo de difusão-adoção, especificamente quanto às fases
do processo de adoção estabelecidos por Rogers.
Quanto à identificação das variáveis específicas ligadas à adoção de
práticas de conservação do solo, as pesquisas iniciaram nos anos 50 nos
Estados Unidos. ERVIN & ERVIN (1982), relatam trabalhos que apresentam
resultados importantes. Um deles foi conduzido por BLASE (1960), que
demonstrou serem os seguintes fatores estatisticamente significantes para
explicar a redução de perdas do solo:
 rendimentos externos à propriedade: interpretado como um meio para
superar dificuldades financeiras;
 percepção da erosão do solo como um problema e;
 capacidade para obter financiamentos.
Os resultados obtidos por BLASE (1960), mostram que as dificuldades
econômicas tem importante papel na decisão do uso efetivo de práticas de
conservação do solo. Impõe-se reconhecer, assim, que as dificuldades
financeiras dos agricultores são concebidas como afetantes na decisão de
implementar práticas que busquem o controle da erosão nas propriedades.
Estudos recentes vem aumentando a gama de variáveis consideradas
no processo decisório de adoção de tecnologias agropecuárias, inclusive as de
conservação dos solos. Entre elas, as que se mostraram estar mais
significativamente relacionadas estão o grau de escolaridade, tamanho da
11
Variáveis individuais:
 do produtor: idade, escolaridade, renda, cosmopolitismo, aversão à riscos, etc.
 da propriedade: área, área com culturas anuais, rebanho, tipo de culturas, localização, etc.
16
propriedade, renda bruta, idade do produtor e percepção da erosão do solo
como um problema real.
PAMPEL & VAN ES (1977), concluíram que a maior experiência
agrícola explica melhor a adoção de práticas ambientais, enquanto variáveis
relacionadas com o tamanho da operação agrícola explica melhor a adoção de
práticas comerciais.
Mas em função de uma série de fatores, notadamente por terem os
estudos sido conduzidos numa região particular, numa determinada época e
refletindo um modelo local, e devido a variável dependente que reflete o uso ou
adoção de práticas ter sido mensurada de vários modos, os resultados obtidos
por PAMPEL & VAN ES (1977) não podem ser extrapolados para outras
situações, tendo em vista que o comportamento do agricultor e os objetivos dos
programas não são idênticos. Idealizar uma medida precisa do efeito da
conservação do solo, como é reconhecido pela maioria dos pesquisadores é
um grande desafio que não se pode pretender superá-lo com simples ou
complicadas medidas objetivas. Caso a intenção seja compreender a adoção,
que nem sempre corresponde com a efetividade ou extensividade do uso, o
número de práticas implementadas é suficiente. Contudo, se o objetivo final da
política conservacionista é reduzir a erosão, as variáveis encontradas devem
refletir o grau de controle da erosão de cada prática e a extensão em que cada
uma é implantada na propriedade.
ERVIN & ERVIN (1982), concluíram que a educação e a percepção do
grau de erosão foram os mais importantes fatores que influenciaram na adoção
de práticas de conservação do solo. Estes fatores tiveram moderada
significância com a experiência do agricultor, enquanto a aversão ao risco foi
diretamente relacionada com ambas. Isto indicaria que, em geral, agricultores
jovens ou menos experientes são mais receptivos a aceitar um maior número
de práticas conservacionistas. Em contrapartida, agricultores mais experientes
requereriam mais informações a respeito dos benefícios potenciais das
práticas, especialmente técnicas que lhes são desconhecidas.
Para NOVAK (1987) o agricultor precisa estar consciente da
necessidade das tecnologias conservacionistas, ser capaz de obter
informações agronômicas e econômicas para avaliar as conseqüências e
17
receber assistência na transferência e adaptação das tecnologias às condições
climáticas, de solo, administrativas e sociais. Muitos agricultores rejeitam tais
tecnologias por falta de informação e assistência necessária para avaliar as
dimensões econômicas e agronômicas das práticas recomendadas. Ineficiência
institucional no desenvolvimento e transmissão de informações e assistência
adequada são asseveradas como sendo as maiores razões da não adoção de
práticas de conservação do solo. Além disso, NOVAK (1987) levanta a questão
da possibilidade de o custo da maioria das práticas exceder os benefícios a
curto prazo e a possibilidade de uma base a longo prazo. O agricultor espera
alcançar, em curto prazo, os custos e, a longo prazo, as metas de
produtividade. A falta de retornos financeiros imediatos na dinâmica econômica
da propriedade resulta em que a maioria dos agricultores rejeita estas
tecnologias.
NOVAK (1987) coloca, ainda, que a difusão e a expectativa econômica
são complementares antes que competitivas, mas que ambas são importantes
para explicar a adoção de práticas conservacionistas. Isso sugere que os
fatores de difusão aumentam de importância quando a complexidade da
inovação cresce e decresce de importância quando o risco é reduzido através
de apoio institucional.
18
Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão
Adaptado de REOGERS & SHOEMAKER (1974)
19
O modelo de difusão de inovações tecnológicas proposto por ROGERS
(1995), descrito anteriormente, serviu de base conceitual e metodológica para a
extensão rural em praticamente todas as suas ações. E não o foi de outra
forma no que diz respeito aos Programas de Conservação do Solo
desenvolvidos em Santa Catarina.
A difusão de práticas de conservação do solo está ligada ao início das
atividades do serviço de extensão rural, que se dá a partir da década de 40. A
preocupação com a utilização correta do solo apresentava-se como uma
atividade complementar às técnicas produtivistas vigentes na época. Essas
atividades dependiam muito mais do interesse próprio dos extensionistas do
que propriamente do plano de ação da extensão rural, pois esses não eram
capacitados para tal fim e a conservação do solo não fazia parte das
prioridades, sendo, por isso, realizadas aleatória e esporadicamente.
Um dos primeiros programas de conservação do solo desenvolvidos
pela extensão rural foi o de Propriedades Demonstrativas (PDs), que consistia
em um planejamento com a finalidade de aperfeiçoar o lado administrativo da
propriedade agrícola, para posteriormente “irradiar” os resultados às demais
propriedades da comunidade. Seu objetivo era evidenciar, através da
demonstração de resultados a longo prazo, que uma boa administração,
combinando os fatores de produção (capital, trabalho e recursos naturais),
proporcionaria maior renda ao proprietário.
Ao longo dos anos foram implementados outros programas, como a
Campanha do Calcário - 1970, Projeto Catarinense de Conservação do Solo -
1970-1975, Acordo do Trigo Brasil/Canadá - 1976, entre alguns.
Em 1977, a ACARESC (atual Epagri), empresa vinculada à Secretaria
da Agricultura, responsável pela execução do Programa de Extensão Rural no
Estado de Santa Catarina, elaborou as “Diretrizes para o Trabalho em
Conservação do Solo”, tendo como justificativa, segundo SIMON (1993), que
os trabalhos em conservação do solo até então não passavam de atividades
secundárias que acompanhavam os trabalhos de fomento à produção.
Como estratégia de ação, o Estado apregoava a difusão de técnicas
conservacionistas a todos os agricultores atendidos pela extensão rural, com
20
uma forte ação educacional, visando enfrentar a erosão dos solos através de
uma maior conscientização das comunidades rurais para o problema.
Além disso, outros programas, dentro dessa mesma visão, foram
concebidos: Programa Estadual de Conservação do Solo e Água, Plano de
Ação para o Combate à Erosão, Programa Estadual de Melhoramento e
Conservação do Solo.
O programa mais recente é o Projeto de Recuperação, Conservação e
Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto
Microbacias, que teve como objetivos recuperar e conservar a capacidade
produtiva dos solos e controlar a poluição, buscando alcançar o incremento
sustentável da produtividade das culturas, da produtividade do trabalho do
agricultor e, em conseqüência, da sua renda líquida.
Mesmo com todos estes programas, a efetividade no controle da
erosão ainda não foi alcançada. Alguns deles obtiveram maiores alcances que
outros, mas mesmo assim os resultados conseguidos em grande parte não
foram duradouros.
De acordo com diagnóstico realizado pela Secretaria da Agricultura de
Santa Catarina, por ocasião da elaboração do Programa de Conservação e
Manejo Integrado do Solo e da Água (PCMISA) em 1986, os principais fatores
que impediram que programas anteriores obtivessem sucesso, no âmbito da
conservação do solo, estariam associados aos seguintes aspectos: ao
entendimento de que a conservação dos recursos naturais constituía um
problema específico e não um processo que afeta todos os setores e que,
portanto, a todos caberia levá-lo em conta; à percepção de que não era
possível integrar a conservação do solo e o desenvolvimento; à adoção de
processos que enfocam interesses restritos e imediatos em lugar de outros
mais amplos e de maiores prazos; e a ausência de políticas de
desenvolvimento embasadas na preservação dos recursos naturais em áreas
onde tais ações são necessariamente importantes.
Outro aspecto levantado diz respeito à falta de instrumentos de apoio
para as ações conservacionistas devido a uma pressuposta falta de
consciência de seus benefícios e da responsabilidade difusa dos que utilizam
os recursos naturais, aí incluído o Governo.
21
Com relação a essa percepção dos responsáveis pelo diagnóstico,
percebe-se claramente a visão reducionista dos programas concebidos. Pelo
número de programas desenvolvidos até então (1986), como poderia haver
tanta falta de consciência dos benefícios que a conservação do solo
proporciona? A questão era realmente a falta de consciência?
Como não se admitir que a questão central parece estar em outros
aspectos? Entre esses, pode-se citar os ligados à forma de elaboração dos
programas, da metodologia utilizada na difusão das práticas e na abrangência
das ações preconizadas.
Quanto a elaboração, quase sempre fruto de políticas governamentais
concebidas sem uma “competente” percepção, análise e interpretação por
parte dos planejadores da complexidade do problema erosão, que era
associado basicamente a um processo físico, buscando essencialmente o
controle das conseqüências. A abordagem não envolvia uma visão sistêmica,
especialmente quanto as causas e, muito menos, do envolvimento e
reconhecimento do ser humano como parte do processo. Desta forma, os
programas eram dessincronizados das reais necessidades e aspirações dos
agricultores e, acima de tudo, da compreensão da complexidade do problema
erosão, em que o ser humano era encarado apenas como um espectador.
Segundo D’AGOSTINI (1995), não basta conhecer o objeto, mas
principalmente compreender as propriedades de suas interfaces com o meio,
do qual somos parte; o campo de interesse já não é caracterizado por
demarcações de conteúdo, mas pelas relações entre esses, as dimensões não
mais se referem à forma, mas principalmente ao processo; (...).
Com respeito à metodologia, que era utilizada para difundir as práticas
previstas, valorizava sobremaneira a concepção dos técnicos, notadamente
conservacionista, em detrimento à visão que o agricultor tem sobre as questões
relacionadas com a conservação dos solos.
Por outro lado, a abrangência das ações propostas era por demasiado
restrita, visto que se limitava às áreas de lavoura e a práticas isoladas. As
práticas concebidas para atacar o problema da erosão não compreendiam uma
visão sistêmica, desconsiderando, assim, que os fenômenos climáticos não
tem ação restrita, o que normalmente implica uma necessária integração de
22
efeitos de práticas. O que acontecia era a difusão de práticas individualizadas e
não um sistema completo de manejo dos solos, que prevê a interação de um
conjunto de práticas, adequadas para cada situação particular.
Percebe-se claramente que a baixa efetividade dos programas de
conservação do solo desenvolvidos sempre foi creditada a problemas
estruturais, de conscientização e metodológicos. A preocupação maior sempre
foi com os resultados quantitativos, em termos de área conservada.
Era proposta uma metodologia que previa obter estes indicadores, que
tinha como fundamentação a difusão pura das práticas conservacionistas.
Como os resultados eram cobrados dos executores no âmbito do município, os
extensionistas rurais, sobre os quais era exercida uma forte supervisão, de
cujos resultados era feita sua avaliação de desempenho, partiam em busca de
resultados, não se preocupando com a forma pela qual iriam obtê-los. Para
isso, os extensionistas muitas vezes se valiam de artifícios, no seu
entendimento eficazes e válidos, como os de privilegiar a assistência aos
produtores mais receptivos a inovações. Isso levava a que todos os programas
beneficiassem praticamente sempre os mesmos produtores, que se
concentravam numa faixa de público relativamente pequena. Desta forma, uma
parte expressiva dos produtores rurais não tinha acesso às inovações,
tornando-se excluídos do processo. O resultado, então, era de que a
abrangência dos programas se restringia à área daquelas propriedades que
recebiam assistência, que basicamente era a mesma de programas anteriores.
Outro fator de forte influência nos resultados era a metodologia usada.
Por se concentrar demasiadamente em práticas isoladas, tanto os
extensionistas como os produtores não tinham visão sistêmica do processo
erosivo. Com isso, os resultados não eram eficazes, resultando, muitas vezes,
no abandono das práticas.
Para a difusão das práticas era essencialmente usado o modelo
difusionista de Rogers, que consiste, conforme já descrito, em três
componentes: antecedentes, processo e conseqüências, sendo que o
processo, por sua vez, é composto de quatro estágios: conhecimento,
conscientização, decisão e confirmação.
23
A ação extensionista encontrou inúmeras dificuldades como processo,
especialmente pela falta da percepção de que os estágios nem sempre serem
distintos e discretos no processo de adoção, nem serem seguidos por todas as
pessoas em seu processo de tomada de decisão ou mesmo não serem os mais
apropriados, representando tão somente uma maneira de descrever uma
seqüência relativamente contínua de ações, acontecimentos e influências, que
intervém entre o conhecimento inicial sobre a inovação e sua real adoção.
Emergem, assim, relações que permitem se levantar a questão de que
a não adoção das práticas de conservação do solo, preconizadas pelos
técnicos, se dá porque aquelas práticas não representam, em seu conteúdo, ou
não atendem na forma como operam, as prioridades do produtor.
Pelos estágios do processo de decisão individual, no que tange a
conservação do solo, tendo em vista o grande número de programas nesta
área já executados, pode-se inferir que a maior parte dos agricultores já tem o
“conhecimento” do processo erosivo. De uma forma ou de outra, não se pode
certamente refutar que o produtor, ao menos em parte, tenha conhecimento da
ocorrência da erosão, se não em sua propriedade, ao menos nas áreas
adjacentes. Com as informações que possui, o agricultor normalmente tem
condições técnicas de tomar uma decisão sobre a implantação ou não das
práticas. Onde, então, reside a falha no processo que levou produtores a não
adotarem a conservação do solo na escala desejável? E o que motivou os que
adotaram? O que certamente carece de maior atenção é a questão referente a
“conscientização” com respeito a todas as implicações e relações envolvidas
no processo erosivo e suas conseqüências.
Segundo D’AGOSTINI (1995), para controlar certos processos em que
o homem participa de alguma forma, não basta conhecer os procedimentos
tecnicamente mais eficazes, e muito menos aqueles suficientes. O controle da
erosão não é um fim, mas um meio, quando não uma mera e eventual
conveniência, na operacionalização de outras ações de interesse. Significa
dizer, que as dificuldades em controlar a erosão vão muito além do saber fazer
com eficácia técnica.
A ação humana nunca é isenta de critérios e, assim, a real importância
de controlar a erosão resulta ajustada a uma escala de prioridades,
24
determinada por complexas relações de valores, que não necessariamente
precisam ser compreendidas para que possamos reconhecer a medida
tecnicamente mais eficaz no controle da erosão. Porém, sem compreender a
significação dessas relações, não compreenderemos porque em muitos casos
não implementamos o que já sabemos ser eficaz.
A questão, dessa forma, transcende a questões de ordem técnica,
tendo em vista que as práticas de manejo do solo objetivando o controle da
erosão e a manutenção de sua capacidade produtiva são amplamente
conhecidas e apresentam-se possíveis em uma variada forma.
A proposta do presente trabalho, tomando por base os quatro estágios
(conhecimento, conscientização, decisão e confirmação), está em verificar e
procurar entender a lógica do processo decisório do agricultor em cada um dos
estágios, com o pressuposto de que a tomada de decisões se dá a partir de
uma lógica baseada em componentes de ordem econômica, operacional e
ambiental. Cada um destes componentes será analisado individualmente mais
adiante, em capítulo específico, em que serão discutidas as implicações de
cada um no processo de tomada de decisão visando a adoção de práticas de
conservação do solo.
Assim, procuramos identificar quais destes fatores são preponderantes
quando o agricultor adota ou rejeita as práticas de conservação do solo
propostas.
25
3. O PROCESSO DECISÓRIO
Há um conflito que persiste enquanto o ser humano se defronta com
múltiplas opções para tomar uma decisão acerca de um comportamento que
deverá ter sobre determinada questão. Segundo D’AGOSTINI et al. (1994), no
complexo sistema de relações de valores que determinam a destinação de uso
e manejo do solo agrícola por parte do produtor, os critérios12
vão do
edafológico ao financeiro, passando inclusive pelo grau de comodidade
ergonométrica do esforço muscular.
A influência dos valores sociais são determinantes da atitude e uma
das mais fortes motrizes da evolução das culturas. A predisposição para agir
de acordo com certa dinâmica dos valores sociais manifesta-se de diferentes
modos, tomando como ponto de partida as atitudes mentais que refletem as
formas de pensar e de se sentir susceptível a determinada ação. Como as
atitudes mentais não se igualam em todos os grupos ou estratos de uma
sociedade diversificada, o que vem à superfície são as atitudes sociais, que
desempenham funções específicas para cada um de nós, ajudando-nos a
formar uma idéia mais estável da realidade em que vivemos.
De acordo com CEPAL (1982), os valores e conceitos sociais
preestabelecidos são frutos e condicionantes do que, em termos gerais, se
denomina cultura. Assim, estes valores podem ser expontâneos, impostos ou
induzidos à sociedade, condicionando sua conduta. Por outro lado, se o
desenvolvimento destes valores é fruto da expressão intrínseca do grupo,
determina, mais freqüentemente, a cultura que a comunidade quer
desenvolver. Numa comunidade combinam-se, em maior ou menor grau,
ambas as situações.
O homem age, normalmente, de acordo com os valores vigentes. Este
comportamento envolve componentes dos mais variados significados e
origens.
O comportamento do produtor tem por base a conjugação de uma série
de fatores, os quais deve considerar em suas decisões. Estes fatores dizem
12
Critério: o que serve de norma para julgamento ou apreciação. Modo de apreciar. Princípio que
permite distinguir o erro da verdade.
26
respeito à sua condição e aos objetivos pelos quais desenvolve suas
atividades. Assim, certamente um produtor que tem por objetivo basicamente a
subsistência de sua família, terá como base de suas decisões fatores bastante
distintos daqueles de um produtor que tem por objetivo obter altas taxas de
retorno do capital investido.
O mesmo pode ser dito a respeito dos fatores que determinam o
comportamento do produtor frente a adoção ou rejeição de práticas de
conservação do solo. Uma gama extremamente variada de fatores está
implicada neste seu comportamento, mas para o presente estudo nos ateremos
aos componentes de ordem econômica, operacional e ambiental.
3.1. Fatores de ordem econômica
Para CEPAL (1982), a incerteza a que estão sujeitos os ganhos que
podem derivar das opções de aplicação do capital são incorporadas pelo
produtor no processo de tomada de decisões como funções de probabilidade
que lhe impulsionam a buscar, pelo menos, uma certa proporcionalidade entre
o ganho e o risco. No caso do produtor de subsistência, sua vulnerabilidade
aos efeitos de um resultado adverso é tão extrema que sua conduta é guiada
por uma espécie de "algoritmo de sobrevivência", que o leva a evitar os riscos
quaisquer que sejam os ganhos potenciais que se derivariam de correr estes
riscos (CEPAL, 1982).
A forma como os riscos são internalizados e pelas incertezas, da mais
variada ordem, enfrentadas pela atividade agrícola, são alguns dos fatores de
que se pode valer para procurar explicar a relutância do produtor em não
querer modificar seus métodos de cultivo, mesmo que as alternativas possam
vir a proporcionar ganhos adicionais. Para que o produtor venha a efetuar
mudanças no sistema produtivo, principalmente pela adoção de práticas até
então rejeitadas, é necessário que as novas tecnologias representem a
possibilidade de proporcionarem uma redução nos riscos a que a agricultura
está sujeita. A proposição de novas metodologias deve estar revestida de
significados claramente identificáveis pelo produtor, no sentido de que ele
possa ter segurança de que as alterações introduzidas em seu sistema
27
produtivo, através da adoção de novas práticas, venham a lhe proporcionar
ganhos adicionais.
A maior parte das ações humanas parece ser comandada por
interesses de caráter econômico, principalmente se este manifestar evidência
real de proporcionar diminuição nos riscos a que as ações estão sujeitas e
aumento nos ganhos advindos dessas ações.
Para SCHULTZ (1965), o comportamento dos agricultores é governado
por uma racionalidade segundo a qual eles se orientam com o objetivo de
maximizar seus lucros e minimizar seus custos na exploração dos recursos
disponíveis. No caso da agricultura, e mais especificamente da pequena
propriedade, que é a base da estrutura fundiária de Santa Catarina, em que o
caráter de subsistência se manifesta mais intensivamente, o produtor procede
de forma a não colocar em risco a segurança de sua família. Com isso, pelas
particularidades próprias da agricultura, a decisão de introduzir novas
tecnologias embute conceitos nem sempre percebidos pelos técnicos, sejam
planejadores ou executores. Assim, a argumentação para motivação do
produtor para a adoção de novas tecnologias deve estar revestida de
significados que estejam em consonância com sua lógica comportamental.
No processo de tomada de decisões objetivando introduzir novas
práticas em seu sistema produtivo, o agricultor considera os seguintes
aspectos, entre outros e não obrigatoriamente nesta ordem, dentre os fatores
de caráter econômico:
 aumento na renda;
 aumento nos custos de produção;
 diminuição nos custos de produção e;
 aumento na produtividade.
Quanto ao aumento da renda, este é o fator de que os técnicos mais se
valem para procurar mostrar aos produtores os benefícios econômicos
resultantes caso venham a adotar as tecnologias que estejam propondo. Mas
ele por si só tem pouca significação, pois para que tal situação ocorra pode
haver a necessidade de aumento no aporte de recursos financeiros, implicando
que no final do processo as taxas de retorno sejam menores, ou seja, o
28
produtor necessitou investir maiores volumes de recursos para obter menores
rendimentos líquidos.
Tendo em vista a situação em que se encontra o produtor com relação
à descapitalização e à pouca disponibilidade de recursos, a possibilidade de
redução nos custos de produção, mesmo que isto venha a ocorrer no longo
prazo, é uma das questões que mais explicitamente pode provocar mudanças
no comportamento decisório, especialmente se a redução nos custos de
produção estiver aliada à possibilidade de proporcionar ganhos adicionais de
produtividade e, conseqüentemente, de renda. Isso pode ser claramente
compreensível, pois essa condição diminui as taxas de risco a que o produtor
está sujeito. O aumento da produtividade como fator motivador desperta
interesse no produtor na medida em que ele consiga vislumbrar aumentos nos
rendimentos finais, especialmente se este fator for obtido com uma diminuição
nos custos de produção.
Para SCHULTZ (1965) em sua obra Transformação da Agricultura
Tradicional, no que se refere a sua racionalidade econômica, as propriedades
familiares, e neste conceito se enquadram praticamente todas aqueles que
constituem o universo de estudo e obtenção de informações para o presente
trabalho, a exemplo da maioria das propriedades rurais de Santa Catarina,
operam em moldes tais que nada as diferenciam de uma empresa. É
perfeitamente legítimo que abstraia-se todo o conteúdo cultural e até
psicológico envolvendo a ação dos indivíduos: seu resultado traduz a conduta
maximizadora de lucros. O agricultor não só é capaz de utilizar seus insumos
de maneira a obter a maior quantidade possível de produto, mas, mais que
isso, essa operação leva em conta o nível relativo dos preços, de maneira a
minimizar os custos e ou maximizar os resultados da produção. Isso quer dizer
que o agricultor comporta-se de maneira eficiente não só do ponto de vista
técnico, mas também alocativo. Já LIPTON (1968), citado por ABRAMOVAY
(1992), vê na lógica econômica do agricultor o contrário do que é entendido por
Schultz: não há busca do lucro, mas há aversão ao risco. Neste sentido, é claro
que os agricultores não optam por maximizar seus lucros em situações em que
ganhos adicionais seriam eventualmente possíveis, se houver em torno destes
29
ganhos adicionais um risco de perdas que impliquem uma ameaça de redução
da produção aquém da subsistência.
3.2. Fatores de ordem operacional
Para CALDAS (1964), tem-se como certo que o fator humano, com sua
psicologia e natureza própria, constitui fator decisivo capaz de impedir ou de
facilitar a propagação das soluções encontradas.
De acordo com FRANKLIN (1968) apud CEPAL (1982), o objetivos do
produtor, especialmente no caso das propriedades familiares, como é o caso
da maioria da propriedades em Santa Catarina, são, em primeiro lugar, de
caráter familiar, aí incluídas as questões inerentes ao trabalho dos membros da
família, e secundariamente econômicos, visto que seu propósito é maximizar a
força de trabalho mais do que o lucro ou outro indicador de eficiência. De
acordo com SILVA (1981), existe uma estreita vinculação entre a relação de
trabalho e o nível de tecnologia utilizado nas propriedades agrícolas.
ABRAMOVAY (1992), analisando estudos desenvolvidos por
CHAYANOV (1926/1985), assinala que não é o estudo de sua inserção na
divisão social do trabalho e o papel que aí ele desempenha que explicam o
comportamento do agricultor: ao contrário, é pelo estudo de seu
comportamento que se pode compreender a maneira como ele se insere
socialmente. Em outras palavras, o mercado, a disponibilidade de terras e o
padrão tecnológico disponível são fatores dos quais ele se serve na montagem
de seu objetivo econômico fundamental, mas não explicam por si só este
objetivo e, portanto, a conduta do agricultor.
ABRAMOVAY (1992) vai além: a lei básica de existência camponesa
pode ser resumida na expressão "balanço entre trabalho e consumo", que de
acordo com CHAYANOV (1925/1986: 271-277) é definida como "o cálculo, não
necessariamente explícito ou consciente, que estabelece o equilíbrio
econômico básico entre a penosidade do trabalho e a satisfação econômica. O
objetivo econômico principal é organizar o ano de trabalho para atender a
demanda da família, até mesmo o desejo de poupar ou investir capital, se
possível". O importante é que tanto a satisfação das necessidades de
30
consumo, como o julgamento sobre a penosidade do trabalho de atingi-la são
de natureza estritamente subjetiva. O valor que a família atribui a seu esforço -
e que explica o volume da atividade econômica - depende da estimativa que é
feita do trabalho, relativamente à satisfação das necessidades de consumo. Em
outras palavras, trata-se de determinar a utilidade marginal da renda obtida,
relativamente às necessidades de consumo, pois é isso que permite
“estabelecer a natureza da motivação da atividade econômica da família
camponesa (CHAYANOV, 1925/1986 apud ABRAMOVAY)”.
Ainda de acordo com ABRAMOVAY (1992), o que determina o
comportamento do agricultor não é o interesse de cada um dos indivíduos que
compõem a família, mas sim as necessidades decorrentes da reprodução do
conjunto familiar. Para ele, a intensidade do trabalho agrícola não é
determinada por sua relação com outros setores, mas fundamentalmente pela
razão entre a penosidade dos esforços empreendidos, relativamente à
satisfação de suas necessidades. É da relação entre a penosidade do trabalho
e a satisfação das necessidades que vai depender a escolha da família com
relação a comercialização de sua produção, ao uso de financiamentos ou ao
uso de insumos de origem industrial. A aplicação de capital não depende
apenas do fato de que esse capital pode reduzir a penosidade do trabalho, mas
sobretudo dos impactos que os gastos de investimentos terão sobre o consumo
familiar e dos usos alternativos da capacidade de trabalho poupada. Se o
investimento de capital significar gasto de dinheiro visando a redução de
esforços sem que isso se traduza num aumento da renda bruta familiar, ou de
maneira a provocar uma ociosidade do trabalho, cuja utilização teria a virtude
igualmente de aumentar a renda bruta, mesmo sem provocar gastos com
compra de equipamentos, o investimento não será feito.
Na concepção de SCHULTZ (1965), segundo ABRAMOVAY (1992),
plantar mais, por exemplo, é uma decisão que leva em conta
fundamentalmente a produtividade marginal dos fatores: o investimento no
trabalho é feito com base na melhor combinação possível dos fatores, de forma
que um trabalho adicional e que represente esforço com retorno insuficiente
não será realizado; da mesma forma, é impensável que o agricultor deixe de
esforçar-se para alcançar a situação ótima que, no quadro dos recursos por ele
31
disponíveis, pode atingir. Num momento em que não eram poucas as teses
que atribuíam a pobreza à preguiça ou à ignorância, Schultz aponta para um
comportamento absolutamente racional.
A mesma linha de raciocínio pode ser utilizada com relação à adoção
de práticas de conservação do solo. Estas somente serão aceitas pelos
produtores à medida em que proporcionarem conforto em suas atividades,
redução no esforço despendido, bem como possibilitarem ganhos adicionais de
renda. Nenhuma prática, por mais eficaz que possa ser no controle do
processo erosivo, será adotada somente por essa eficácia. O agricultor deverá
perceber nelas, as práticas conservacionistas, vantagens além daquelas
ocasionadas pelo objetivo com que foram implantadas, ou seja, além de
controlarem a erosão, precisarão implicar, mesmo que subjetivamente,
vantagens econômicas, operacionais, entre outras.
3.3. Fatores de ordem ambiental
De acordo com D’AGOSTINI (1995), a preservação do meio vem
adquirindo uma importância crescente no sistema de relações que determinam
o comportamento humano. Contudo, segundo ele, o preservacionismo não é o
único e, por enquanto, nem o mais determinante critério na objetivação de
valores que inspiram e movem o homem no uso do solo agrícola.
Os fatores relacionados com a preservação das características do meio
no qual o agricultor desenvolve suas atividades tornam-se cada vez mais
relevantes no processo de tomada de decisões. Isso, para REIJNTJES et al.
(1994), se deve principalmente a uma crescente consciência do impacto das
ações que provocam danos ao meio por parte do produtores, bem como à
mudanças das preocupações e das ações dos Governos, das Organizações
não Governamentais e das pessoas, mais voltadas agora para um
desenvolvimento sustentável, com iniciativas que visam desenvolver políticas e
tecnologias que promovam a sustentabilidade agrícola.
Os problemas ambientais são devidos, na maior parte, à exploração
excessiva e inadequada do solo, à ampliação, sem os cuidados devidos, das
áreas cultivadas, ao uso excessivo e indiscriminado de insumos químico-
32
sintéticos, principalmente pesticidas e fertilizantes, para citarmos apenas
alguns. Com isso, os solos estão apresentando uma degradação em sua
fertilidade, áreas irrigadas encontram-se com sérios problemas de salinização,
áreas significativas apresentam problemas de poluição e contaminação por
resíduos dos produtos químicos utilizados, além de várias regiões
apresentarem-se com sérios problemas com relação à água, seja pela sua
escassez ou poluição, tornando-a inviável para o uso.
Em função disso, os produtores passam a considerar os fatores de
ordem ambiental como sendo cada vez mais significativos. A valorização de
aspectos mais sustentáveis de produção, que procuram respeitar os
fenômenos naturais, como a produção de matéria orgânica, a ciclagem de
nutrientes, a criação de reservatório de nutrientes no solo, a proteção natural
contra pragas e doenças e o controle da erosão (REIJNTJES et al., 1994),
estão passando a fazer parte dos sistemas de manejo das culturas, como
forma de proporcionar a continuidade e a estabilidade da produção e da própria
atividade agrícola. Com isso, as relações de produção estão se modificando,
deixando a agricultura de ser somente uma atividade exploratória e extrativista
e o solo visto como mero suporte para as plantas, para se tornar uma relação
de troca, em que o solo responde com produções mais estáveis, de melhor
qualidade e contínuas na mesma proporção que o produtor procura respeitar a
ordem natural dos processos que nele ocorrem.
Dessa forma, as características e implicações ambientais envolvidas no
processo decisório tornam-se cada vez mais valorizadas e observadas, com
sua importância devida tendo significação nas atitudes dos produtores.
33
4. ÁREA DE ESTUDO
O presente trabalho teve como base geográfica a região do Alto Vale
do Itajaí, integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú, Estado de Santa
Catarina (Figura 1).
A seleção da região do Alto Vale do Itajaí foi feita considerando-se os
seguintes aspectos:
1. localização geográfica: relativa proximidade com Florianópolis, o que
permitiu maior agilidade na realização das entrevistas com os produtores e
a coleta dos demais dados de campo necessários;
2. desde 1984 ter participado das primeiras experiências na utilização da
microbacia hidrográfica como unidade de planejamento desenvolvidas no
Estado, ter participado do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas
(PNMH), que se iniciou em 1987 e, a partir de 1991, estar participando do
Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em
Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, o que permite supor
uma maior intensidade das ações dos técnicos com relação a difusão de
práticas de conservação do solo, em praticamente todos os municípios da
região; e
3. dados do Relatório de Atividades do Projeto Microbacias/BIRD, atestam que
são desenvolvidas e aplicadas nas microbacias da região práticas de
conservação do solo como cobertura vegetal, práticas mecânicas (terraço,
cordões de contorno) e práticas de preparo conservacionista (plantio direto,
cultivo mínimo e preparo reduzido).
4.1. Breve Histórico da Região
A colonização do território catarinense processava-se, no curso do
século XVIII, em direções paralelas, pelo Litoral e Planalto, sem ligação entre
elas. No Litoral, os estabelecimentos vicentistas e açorianos haviam distribuído
a população entre si, que se comunicava por mar ou por caminhos em que, não
34
raro, o mar completava a estrada. A Oeste, a Serra do Mar se erguia como
uma barreira.
As dificuldades de vencer a escarpa do planalto obrigava o uso da
estrada para Tubarão, no Sul do Estado, construída em 1771. Necessidades
militares de defesa do Desterro (atual Florianópolis), levaram as autoridades a
procurar uma ligação direta com Lages, vencendo a Serra do Mar e, após, a
Serra Geral, disseminando a população ao longo dessa estrada (atual BR-282).
O estabelecimento dos imigrantes alemães, que iniciaram a Colônia
Blumenau em 1850, aumentou o povoamento do Litoral ao norte da Capital da
Província. Com o desenvolvimento desta, se fez sentir a necessidade de novas
comunicações com o Planalto.
Em 1863, o engenheiro Emílio Odebrecht, da Colônia Blumenau, subiu
o Rio Itajaí Açu até a confluência dos rios Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste. Essa
primeira expedição não produziu nenhum fruto além do conhecimento do
território.
No ano seguinte, o mesmo engenheiro, tendo feito uma expedição a
Lages e Curitibanos, obteve os elementos necessários para proceder a
exploração de um “picadão” que ligasse Blumenau a Curitibanos. Somente em
1867 Emílio Odebrecht tornou a passar pelo território de Rio do Sul, deixando a
“picada” que durante muitos anos foi a única ligação de Blumenau com o
Planalto.
A história da penetração dos colonos de Blumenau confunde-se com a
das estradas de rodagem atuais. A estrada que, de Blumenau, subia o Itajaí
Açu, alcançou Lontras em 1894 (atual BR-470). As outras correntes de
povoamento surgiram em 1910, com a construção da estrada de Barracão
(atual Alfredo Wagner), pelo vale do Rio Itajaí do Sul, e em 1919 e 1921 com
as estradas de Lages e Taió.
Nessa época, ofereciam mais probabilidades de se tornarem cidades
os povoados que se formaram nas barras dos rios Lontras e Matador do que na
união dos braços dos rios Itajaí do Sul e do Oeste.
Toda a região era uma parte da vasta zona agrícola do distrito de
Indaial, não havendo qualquer traço de urbanização.
35
A partir de 1920, com a contratação de numerosas rodovias e a
concessão de terras devolutas para colonização por parte do Governo do
Estado, houve significativo aumento da população; atraídos pelo trabalho, os
colonos de origem italiana do Sul do Estado motivaram-se em se estabelecer
em núcleos.
Nos anos 30, com a implantação da Estrada de Ferro Santa Catarina,
serrarias foram estabelecidas, consolidando o ciclo madeireiro, dando origem a
um novo tipo de povoação, nascida do desenvolvimento do comércio e da
indústria. Bela Aliança, vivendo do comércio mantido pelos colonos, impôs-se
às demais localidades da região, por ser o centro de abastecimento de uma
zona mais povoada, cuja população se estabelecera às margens dos três rios
ali existentes: Trombudo, Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste.
A nova situação política, pela promoção de Bela Aliança a sede do
município, com o nome de Rio do Sul, acabou por alterar-lhe a estrutura, que
deixou de ter o mesmo quadro apresentado pelos povoados e vilas, para
tornar-se a cidade pólo da região, que hoje congrega todos os municípios da
região denominada Alto Vale do Itajaí (FECAM/AMAVI, 1992).
4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí
A região do Alto Vale do Itajaí situa-se entre os paralelos 26º34'
(latitude norte) e 27º41' (latitude sul); 49º28' (longitude leste) e 50º26' (longitude
oeste) (Figura 1). Possui uma área de 6.837 km2
, compreendendo 7,17% da
área do Estado de Santa Catarina (FECAM/AMAVI, 1992), agrupados em
24.626 propriedades agrícolas. Conforme é apresentado na Tabela 3, percebe-
se a predominância de pequenas propriedades, sendo que 60,63% possuem
área inferior a 20 hectares, ocupando somente 38,02% da área agrícola total.
A população da região é de 224.361 habitantes, dos quais 112.024
(49,93%) habitam o meio urbano e 112.337 (50,07%) o meio rural (IBGE,
1991).
Segundo Köeppen, o clima da região classifica-se parte como
mesotérmico úmido, sem estação seca, com verões quentes (clima Cfa), nas
áreas de cotas altimétricas inferiores a 700 metros, e parte como Cfb
36
(mesotérmico úmido com verão ameno), nas áreas de cotas altimétricas
superiores a 700 metros, apresentando temperatura média anual de 18ºC e
taxa de precipitação anual variando de 1.600 a 1.800 mm. A Tabela 4
apresenta os dados de temperatura e precipitação referentes a Estação
Agroclimática da Epagri de Ituporanga (latitude 27º22' S; longitude 49º35' W;
altitude 475 metros) e do Posto Pluviométrico de Salto Grande, Ituporanga
(latitude 21º24'S; longitude 49º36'W; altitude de 370 metros).
O sistema de drenagem da vertente do Atlântico compreende uma área
de aproximadamente 35.298 km2
, ou seja, 37% da área total do Estado, onde
se destaca a Bacia do Itajaí com aproximadamente 15.500 km2
. Essa bacia
conta com três grandes tributários (Rio Itajaí do Norte ou Hercílio, Rio Itajaí do
Oeste e Rio Itajaí do Sul), e possui, ainda, um grande afluente, o Rio Itajaí
Mirim, sendo a maior bacia inteiramente catarinense. A região do Alto Vale do
Itajaí compreende em torno de 44% dessa bacia.
O relevo que constitui essa unidade geomorfológica apresenta grandes
variações altimétricas. As maiores cotas estão no sudeste da área e
correspondem aos topos da Serra da Boa Vista, que atingem 1.220 metros. A
leste dessa Serra, as cotas decaem e, assim, no limite do Planalto de Lages
tem-se cotas em torno de 700 metros. As menores altitudes estão nos vales
dos rios, como por exemplo na cidade de Rio do Sul, às margens do Rio Itajaí
do Sul, que está a 350 metros de altitude. Também é grande o desnível entre
os interflúvios (900m) e a calha do Rio Itajaí do Norte (400m).
No que diz respeito aos solos, existe uma grande diversidade na
região, sendo que os predominantes são:
a) gley: solos álicos e distróficos, relevo plano, necessitam de drenagem para
uso agrícola, pouco profundos, bom potencial para a cultura do arroz
irrigado; e
b) cambissolos: álicos e distróficos, predominam em relevo ondulado e forte
ondulado
Quanto a distribuição dos estabelecimentos agrícolas por área de
lavoura, constata-se a predominância das pequenas unidades de produção,
pois 83,08%, ou 18.621 propriedades cultivam áreas inferiores a 10 hectares,
conforme é mostrado na Tabela 5.
37
No tocante a utilização das terras agrícolas da região, as áreas com
lavouras ocupam 37,37%, as pastagens 31,51%, as matas e florestas naturais
e plantadas 25,53%, sendo que 5,59% da área não é utilizada, demonstrando
uma larga utilização dos solos para as atividades agropecuárias (Tabela 6).
A região do Alto Vale do Itajaí tem na agropecuária uma das suas
principais atividades econômicas, destacando-se as culturas do fumo, milho,
cebola, mandioca e arroz irrigado como as mais representativas, assim com a
produção de leite (Tabelas 7 e 8)
Quanto a condição de posse da terra, a região apresenta 69,99% dos
produtores como proprietários, que ocupam 84,96% da área total; 7,17% de
arrendatários, com 4,09% da área; 10,18% classificados como parceiros com
4,30% da área e 12,66% ocupantes com 6,65% da área (Tabela 9).
No que diz respeito a conservação dos solos, conforme diagnóstico
realizado pela Epagri (1996c), a região apresenta um quadro bastante
preocupante, tendo em vista caracterizar-se por apresentar uma topografia
muito acidentada. Associado a essa condição, os tipos de solos predominantes
são, na sua maioria, originários de rochas sedimentares, bastante suscetíveis a
erosão. Cultivos expressivos como os de cebola e mandioca, pelo fato de
serem culturas que proporcionam baixos índices de cobertura do solo,
potencializam os problemas de erosão e conseqüente degradação do solo.
O uso intensivo do solo, aliado ao manejo inadequado que foi e ainda
continua sendo praticado nos sistemas convencionais, tem ocasionado sérios
danos à capacidade produtiva dos solos. Em grandes áreas já se perderam,
principalmente pela erosão, mais de 15cm da camada de solo (horizonte A). O
problema da formação de camadas compactadas do solo13
é generalizado em
toda a região, tendo, com isso, alterações significativas na estrutura física dos
solos.
Além da destruição da estrutura física do solo, os níveis de matéria
orgânica tem diminuído expressivamente, chegando a índices críticos, abaixo
de 1%, o que praticamente inviabiliza o uso desses solos para a agricultura.
13
Camadas compactadas do solo: camadas internas do solo, adensadas, que se formam pela ação
compactadora de máquinas e implementos agrícolas, especialmente quando o solo é cultivado em
condições não adequadas de umidade, afetando a livre circulação de ar e água e impedindo o
desenvolvimento normal das raízes das plantas.
38
O sistema de cultivo dos solos, por tradição, implica em seu
revolvimento, preparo do leito para semeadura e manutenção das culturas
livres de qualquer concorrência de outras plantas. Esse sistema de cultivo,
denominado convencional, leva ao uso de máquinas e equipamentos pesados,
com inúmeras operações, além de ser altamente dependente de insumos
químicos industriais.
Este quadro tem se refletido na queda gradual da capacidade produtiva
dos solos da região, implicando no uso cada vez maior de fertilizantes minerais
e corretivos como forma de manter a produtividade das lavouras, porém com
elevação considerável nos custos de produção.
39
Figura 1. Localização da área de estudo
40
Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996
ÁREA (ha) PROPRIEDADES % * ÁREA % *
0,0 - 9,9 8.207 33,33 33,33 56.583 9,98 9,98
9,9 - 19,9 6.724 27,30 60,63 102.441 18,06 28,04
20,0 - 49,9 7.479 30,37 91,00 209.679 36,98 65,02
50,0 - 99,9 1.138 4,62 95,62 74.890 13,21 78,23
100 - 499,9 1.014 4,12 99,74 71.648 12,63 90,86
> 500,0 64 0,26 100,00 51.840 9,14 100,00
TOTAL 24.626 100,00 - 567.081 100,00 -
Fonte: Epagri - 1996c
* Acumulado
Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC
MESES TEMP.
MÉDIA
(ºC)
MÉDIA TEMP.
MÁXIMA (ºC)
MÉDIA
TEMPERATURA
MÍNIMA (ºC)
PRECIPITAÇÃO
TOTAL (mm)
PRECIPITAÇÃO
MÁXIMA 24 h
(mm)
DIAS DE
CHUVA
(n.º)
Jan. 22.6 29.6 18.8 151.4 104.7 12.1
Fev. 22.3 28.9 18.1 157.0 105.5 12.6
Mar. 21.8 28.9 17.4 125.3 67.1 10.9
Abr. 19.4 25.4 15.3 89.4 72.2 7.9
Maio 14.6 20.7 10.8 93.6 91.0 8.2
Jun. 12.3 18.8 8.2 96.3 84.3 8.8
Jul. 11.9 18.8 7.4 11.5.7 119.5 8.7
Ago. 14.1 20.6 9.8 128.7 102.5 9.0
Set. 15.5 21.2 11.9 148.4 72.2 11.3
Out. 18.0 24.1 13.8 135.2 95.7 10.9
Nov. 20.4 27.0 15.7 101.1 56.7 8.6
Dez. 22.1 28.9 17.5 134.7 100.2 10.0
ANO 17.9 33.5 13.7 123.0 - 9.9
TOTAL - - - 1.477 - 119.0
Fonte: Epagri - 1996c
41
Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto
Vale do Itajaí - SC - 1985
ÁREA (ha) ESTABELECIMENTOS * % *
< 1,0 765 765 3,41 3,41
1,0 - 2,0 1.291 2.065 5,76 9,17
2,0 - 5,0 7.781 9.837 34,72 43,89
5,0 - 10,0 8.784 18.621 39,19 83,08
10,0 - 20,0 3.284 21.905 14,65 97,73
20,0 - 50,0 487 22.392 2,17 99,90
50,0 - 100,0 21 22.413 0,10 100,00
TOTAL 22.413 - 100,00 -
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985
* Acumulado
Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC
USO NÚMERO ÁREA * % *
Permanentes 11.620 2.023 0,45
Lavouras Temporárias 22.288 138.208 31,02
Em descanso 6.819 26.293 166.524 5,90 37,37
Pastagens Naturais 16.092 95.440 21,42
Plantadas 5.296 44.973 140.413 10,09 31,51
Matas e Naturais 12.549 100.693 22,60
florestas Plantadas 2.882 13.048 113.741 2,93 25,53
Não utilizadas** - 6.090 24.921 24.921 5,59 5,59
TOTAL - - 445.599 445.599 100,00 100,00
Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985
* Acumulado
** terras produtivas não utilizadas
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo
Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo

Más contenido relacionado

La actualidad más candente

Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)
Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)
Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)Ezequiel Redin
 
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...Ari Durrego
 
Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...
Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...
Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...Projeto_SACD
 
Pesquisa Cafeeira Na Zona Da Mata
Pesquisa Cafeeira Na Zona Da MataPesquisa Cafeeira Na Zona Da Mata
Pesquisa Cafeeira Na Zona Da MataSergio Pereira
 
Ecologia de Campo 2011
Ecologia de Campo 2011Ecologia de Campo 2011
Ecologia de Campo 2011Limnos Ufsc
 
TCC kátia Matoso
TCC kátia MatosoTCC kátia Matoso
TCC kátia Matosotaquarucu
 
Manual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticos
Manual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticosManual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticos
Manual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticosCarlos Alberto Monteiro da Silva
 
Projeto ciliar cabeceiras do purus
Projeto ciliar cabeceiras do purusProjeto ciliar cabeceiras do purus
Projeto ciliar cabeceiras do purusElaine Dutra
 
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...paulakettenhuber
 
Tc plano de manejo parque dois irmaos
Tc plano de manejo parque dois irmaosTc plano de manejo parque dois irmaos
Tc plano de manejo parque dois irmaosJoão Pedro
 

La actualidad más candente (12)

Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)
Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)
Periódico Extensão Rural 2013-1 (DEAER/UFSM)
 
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...
ANÁLISE SOCIOECONÔMICA DA AGRICULTURA DE SUBSISTÊNCIA: SÃO JOÃO, CABECEIRAS D...
 
Resumo executivo final
Resumo executivo finalResumo executivo final
Resumo executivo final
 
Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...
Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...
Diagnóstico sSocioeconômico e aAmbiental e Projeto Final de Assentamento do P...
 
Pesquisa Cafeeira Na Zona Da Mata
Pesquisa Cafeeira Na Zona Da MataPesquisa Cafeeira Na Zona Da Mata
Pesquisa Cafeeira Na Zona Da Mata
 
Ecologia de Campo 2011
Ecologia de Campo 2011Ecologia de Campo 2011
Ecologia de Campo 2011
 
TCC kátia Matoso
TCC kátia MatosoTCC kátia Matoso
TCC kátia Matoso
 
Manual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticos
Manual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticosManual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticos
Manual sobre métodologias de estudos fitossociológicos e florísticos
 
Proposta esec serra.da.canoa
Proposta esec serra.da.canoaProposta esec serra.da.canoa
Proposta esec serra.da.canoa
 
Projeto ciliar cabeceiras do purus
Projeto ciliar cabeceiras do purusProjeto ciliar cabeceiras do purus
Projeto ciliar cabeceiras do purus
 
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...
DISTRIBUIÇÃO GEOGRÁFICA DE ESPÉCIES DO BIOMA MATA ATLÂNTICA COM POTENCIAL DE ...
 
Tc plano de manejo parque dois irmaos
Tc plano de manejo parque dois irmaosTc plano de manejo parque dois irmaos
Tc plano de manejo parque dois irmaos
 

Destacado

Solos manejo integrado e ecolgico
Solos   manejo integrado e ecolgicoSolos   manejo integrado e ecolgico
Solos manejo integrado e ecolgicoAlexandre Panerai
 
Praticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadas
Praticas de conservação  do solo e recuperação de áreas degradadasPraticas de conservação  do solo e recuperação de áreas degradadas
Praticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadasFernando Assis
 
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...Alexandre Panerai
 
Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradada
Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadaPráticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradada
Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadaMaurício Coelho
 
Conservação do solo
Conservação do soloConservação do solo
Conservação do soloaloisiobie
 
Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)
Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)
Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)Elvio Giasson
 
Manual de Conservação do Solo e da Água
Manual de Conservação do Solo e da ÁguaManual de Conservação do Solo e da Água
Manual de Conservação do Solo e da ÁguaSérgio Amaral
 
Col.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do soloCol.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do sologastao ney monte braga
 
Manejo e conservação do solo - Terraceamento
Manejo e conservação do solo - Terraceamento Manejo e conservação do solo - Terraceamento
Manejo e conservação do solo - Terraceamento Ediney Dias
 
08.3 preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador
08.3   preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador08.3   preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador
08.3 preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificadorRomulo Vinicius Tio Rominho
 

Destacado (17)

Solos manejo integrado e ecolgico
Solos   manejo integrado e ecolgicoSolos   manejo integrado e ecolgico
Solos manejo integrado e ecolgico
 
Praticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadas
Praticas de conservação  do solo e recuperação de áreas degradadasPraticas de conservação  do solo e recuperação de áreas degradadas
Praticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadas
 
Aula 4-química do-solo
Aula 4-química do-soloAula 4-química do-solo
Aula 4-química do-solo
 
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...
GUIA PRÁTICO de AGRICULTURA DE CONSERVAÇÃO manual ueber_konservierende_landwi...
 
Fertilidade do Solo
Fertilidade do SoloFertilidade do Solo
Fertilidade do Solo
 
Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradada
Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradadaPráticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradada
Práticas de conservação do solo e recuperação de áreas degradada
 
Conservação do solo
Conservação do soloConservação do solo
Conservação do solo
 
Os colóides do solo
Os colóides do soloOs colóides do solo
Os colóides do solo
 
Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)
Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)
Sistema Brasileiro de Classificação da Aptidão Agrícola das Terras (SiBCAAT)
 
Manual de Conservação do Solo e da Água
Manual de Conservação do Solo e da ÁguaManual de Conservação do Solo e da Água
Manual de Conservação do Solo e da Água
 
Manejo e Conservação do Solo
Manejo e Conservação do SoloManejo e Conservação do Solo
Manejo e Conservação do Solo
 
Col.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do soloCol.agro 14.interpretacao da analise do solo
Col.agro 14.interpretacao da analise do solo
 
Manejo e conservação do solo - Terraceamento
Manejo e conservação do solo - Terraceamento Manejo e conservação do solo - Terraceamento
Manejo e conservação do solo - Terraceamento
 
Manejo Integrado de Pragas
Manejo Integrado de PragasManejo Integrado de Pragas
Manejo Integrado de Pragas
 
11 propriedades químicas do solo
11 propriedades químicas do solo11 propriedades químicas do solo
11 propriedades químicas do solo
 
08.3 preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador
08.3   preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador08.3   preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador
08.3 preparo periodico - arados de aivecas, subsolador e escarificador
 
10 Propriedades Físicas do Solo-aula
10 Propriedades Físicas do Solo-aula10 Propriedades Físicas do Solo-aula
10 Propriedades Físicas do Solo-aula
 

Similar a Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo

Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...
Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...
Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...ProjetoBr
 
Livro de Ecologia de Campo 2010
Livro de Ecologia de Campo 2010Livro de Ecologia de Campo 2010
Livro de Ecologia de Campo 2010Limnos Ufsc
 
Livro Ecologia de Campo 2010
Livro Ecologia de Campo 2010Livro Ecologia de Campo 2010
Livro Ecologia de Campo 2010Limnos Ufsc
 
Mateus donega
Mateus donegaMateus donega
Mateus donegarfoltran
 
Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6
Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6
Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6Atena Editora
 
Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013
Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013
Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013Alexandre Panerai
 
Dissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambiental
Dissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambientalDissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambiental
Dissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambientalCintia Barenho
 
Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...
Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...
Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...Karlitos Silva
 
Engenharias, Ciência e Tecnologia
Engenharias, Ciência e Tecnologia Engenharias, Ciência e Tecnologia
Engenharias, Ciência e Tecnologia Atena Editora
 
Solos nos Biomas Brasileiros 2
Solos nos Biomas Brasileiros 2Solos nos Biomas Brasileiros 2
Solos nos Biomas Brasileiros 2Atena Editora
 
Manual de Boas Práticas: Agroindústria Familiar
Manual de Boas Práticas: Agroindústria FamiliarManual de Boas Práticas: Agroindústria Familiar
Manual de Boas Práticas: Agroindústria FamiliarCinara Tanhote Sousa
 
Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...
Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...
Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...ChildFund Brasil - Fundo para Crianças
 
Boletim técnico tupanciretã
Boletim técnico tupanciretãBoletim técnico tupanciretã
Boletim técnico tupanciretãgepaunipampa
 
Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2
Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2
Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2Atena Editora
 
Gestão-de-Resíduos-Solídos
Gestão-de-Resíduos-SolídosGestão-de-Resíduos-Solídos
Gestão-de-Resíduos-SolídosMayanneBrito1
 

Similar a Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo (20)

Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...
Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...
Avaliação do desempenho de mono e policultivos orgânicos no rendimento das cu...
 
Dissertação cap.1 e cap. 2
Dissertação cap.1 e cap. 2Dissertação cap.1 e cap. 2
Dissertação cap.1 e cap. 2
 
Livro de Ecologia de Campo 2010
Livro de Ecologia de Campo 2010Livro de Ecologia de Campo 2010
Livro de Ecologia de Campo 2010
 
Livro Ecologia de Campo 2010
Livro Ecologia de Campo 2010Livro Ecologia de Campo 2010
Livro Ecologia de Campo 2010
 
Mateus donega
Mateus donegaMateus donega
Mateus donega
 
Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6
Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6
Elementos da Natureza e Propriedades do Solo 6
 
Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013
Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013
Livro principios de ecologia aplicados a agroecologia 2013
 
Dissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambiental
Dissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambientalDissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambiental
Dissertacao de cintia barenho saber local e educacao ambiental
 
Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...
Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...
Microclima e produçõ de tomate tipo cereja em ambientes protegidos com difere...
 
Engenharias, Ciência e Tecnologia
Engenharias, Ciência e Tecnologia Engenharias, Ciência e Tecnologia
Engenharias, Ciência e Tecnologia
 
Solos nos Biomas Brasileiros 2
Solos nos Biomas Brasileiros 2Solos nos Biomas Brasileiros 2
Solos nos Biomas Brasileiros 2
 
Manual de Boas Práticas: Agroindústria Familiar
Manual de Boas Práticas: Agroindústria FamiliarManual de Boas Práticas: Agroindústria Familiar
Manual de Boas Práticas: Agroindústria Familiar
 
Abacaxi tocantins
Abacaxi tocantinsAbacaxi tocantins
Abacaxi tocantins
 
vacas
vacasvacas
vacas
 
Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...
Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...
Protocolo do Plano de Garantia de Qualidade dos Dados para o Monitoramento Ba...
 
Boletim técnico tupanciretã
Boletim técnico tupanciretãBoletim técnico tupanciretã
Boletim técnico tupanciretã
 
Link 1
Link 1Link 1
Link 1
 
Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2
Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2
Gestão de Recursos Hídricos e Sustentabilidade 2
 
Dissertacao sabrina2
Dissertacao sabrina2Dissertacao sabrina2
Dissertacao sabrina2
 
Gestão-de-Resíduos-Solídos
Gestão-de-Resíduos-SolídosGestão-de-Resíduos-Solídos
Gestão-de-Resíduos-Solídos
 

Hierarquia de Critérios na Adoção de Práticas de Conservação do Solo

  • 1. UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM AGROECOSSISTEMAS HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO LÉO TEOBALDO KROTH FLORIANÓPOLIS, SC. 1997
  • 2. HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Dissertação apresentada ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina como requisito para obtenção do Grau de Mestre em Agroecossistemas. LÉO TEOBALDO KROTH Engenheiro Agrônomo Orientador PROF. DR. LUIZ RENATO D’AGOSTINI FLORIANÓPOLIS, SC. AGOSTO DE 1997
  • 3. KROTH, Léo Teobaldo. Hierarquização de critérios na adoção de práticas de conservação do solo. Florianópolis, 1997. 104f. Dissertação (Mestrado em Agroecossistemas) – Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas, Universidade Federal de Santa Catarina. Orientador: Luiz Renato D’Agostni Defesa: 12/08/1997 Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados por [critérios de natureza econômica, preservacionista e de humanização das atividades], objetivou-se identificar a [hierarquia] destes [critérios] em determinar a [adoção] de [práticas de conservação do solo].
  • 4. CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO (MESTRADO) EM AGROECOSSISTEMAS CENTRO DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA FLORIANÓPOLIS (SC), BRASIL Dissertação submetida por LÉO TEOBALDO KROTH como um dos requisitos para obtenção do Grau de MESTRE EM AGROECOSSISTEMAS, Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e Ambientais em Microbacias Hidrográficas. Aprovada em: 12 / 08 / 97 Prof. Luiz Renato D'Agostini (Dr.) Orientador Prof. Paulo Emílio Lovato (Dr.) Coordenador BANCA EXAMINADORA: Prof. Antônio Ayrton A. Uberti (M.Sc.) CCA/UFSC Prof. Júlia Sílvia Guivant (Dra.) CFH/UFSC Prof. Jorge L. Barcelos Oliveira (Dr.) CCA/UFSC Voltaire Mesquita Cézar (M.Sc.) Eng.º Agrônomo – Epagri Valdemar Hercílio de Freitas (M.Sc.) Eng.º Agrônomo - Epagri
  • 5. Dedico este trabalho à Eliana e Aline pela compreensão, incentivo e apoio proporcionados nesta caminhada.
  • 6. AGRADECIMENTOS À Epagri, que me oportunizou a realização deste curso e pelo apoio institucional e financeiro; Ao Professor Luiz Renato D'Agostini, pelos ensinamentos, orientação, amizade e paciência com que sempre me recebeu; Ao Professor Jonas Ternes dos Anjos, pela orientação, receptividade, incentivo e amizade; Ao Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, por intermédio de seu Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas; Aos professores e colegas de curso, pelo amigável convívio e experiências acrescentadas; Aos funcionários e pessoal de apoio do Centro de Ciências Agrárias pela atenção e ajuda prestada; Ao Eng. Agr. Renato César Dittrich da Epagri, pelo apoio na sistematização dos dados; Às bibliotecárias e funcionárias da biblioteca da Epagri, pela pronta atenção que sempre me foi dispensada; À meus familiares e de minha esposa, pelo incentivo e apoio; À Tânia e José João, Lenissa e Moacir, Nelise e Rene, Mery-Ann e Edson, Marli e José Carlos, pela convivência, apoio e companheirismo; Aos Extensionistas e funcionários da Gerência Regional e dos Escritórios Municipais da Epagri da região do Alto Vale do Itajaí e do Centro de Treinamento de Agronômica, pela contribuição na pesquisa de campo; Aos agricultores entrevistados, pelo apoio, compreensão e paciência ao responder os questionários e; Aos companheiros da Epagri e a todos aqueles que contribuíram direta ou indiretamente para a realização deste trabalho.
  • 7. BIOGRAFIA DO AUTOR Léo Teobaldo Kroth, nascido a 05 de setembro de 1961 em Ijuí - RS, é filho de Guilherme Bruno Kroth (in memorium) e Ângela Kroth. Em 1980 concluiu o Curso de Técnico em Contabilidade no Colégio Peperi em São Miguel D’Oeste - SC. Em 1984 ingressou no Curso de Agronomia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina, obtendo o título de Engenheiro Agrônomo em 17 de dezembro de 1988. Iniciou suas atividades profissionais como Extensionista Rural da ex- ACARESC, atual Epagri, em 13 de fevereiro de 1989, no município de Presidente Getúlio - SC, na região do Alto Vale do Itajaí. A partir de 1991 passou a atuar como técnico específico do Projeto Microbacias, no mesmo município, onde atuou até fevereiro de 1995. Em março de 1995 ingressou no Curso de Pós-Graduação em Agroecossistemas - Núcleo Temático: Relações Edafohidrológicas e Ambientais em Microbacias Hidrográficas do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina.
  • 8. ÍNDICE LISTA DE TABELAS...........................................................................................I LISTA DE QUADROS .........................................................................................I LISTA DE FIGURAS...........................................................................................II RESUMO ...........................................................................................................III ABSTRACT ...................................................................................................... IV 1. INTRODUÇÃO .............................................................................................1 2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO....................................................10 3. O PROCESSO DECISÓRIO.......................................................................25 3.1. Fatores de ordem econômica.............................................................26 3.2. Fatores de ordem operacional............................................................29 3.3. Fatores de ordem ambiental...............................................................31 4. ÁREA DE ESTUDO....................................................................................33 4.1. Breve Histórico da Região..................................................................33 4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí..................................35 5. PROCEDIMENTOS ....................................................................................43 5.1. Premissas básicas .............................................................................43 5.2. Plano de amostragem ........................................................................43 5.2.1. Base de dados.......................................................................43 5.2.2. Âmbito e população...............................................................44 5.2.3. Época e período de referência ..............................................44 5.3. Seleção da amostra ...........................................................................44 5.4. Definição e Operacionalização das Variáveis ....................................45 5.4.1. Caracterização das unidades de produção ...........................45 5.4.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo..............................................................48 6. RESULTADOS E DISCUSSÃO .................................................................52 6.1. Caracterização das unidades de produção ........................................52 6.1.1. Idade do produtor ..................................................................52 6.1.2. Disponibilidade de mão-de-obra............................................53 6.1.3. Escolaridade do produtor.......................................................54 6.1.4. Área da propriedade..............................................................55 6.1.5. Área explorada com culturas anuais......................................56 6.1.6. Adoção de práticas de conservação do solo em áreas de lavoura...................................................................................57 6.1.7. Nível de instrução dos produtores .........................................61 6.1.8. Nível de renda dos produtores...............................................62 6.1.9. Padrão tecnológico dos produtores .......................................63 6.1.10. Percepção dos produtores frente a novas tecnologias..........64
  • 9. 6.2. Fatores relacionados com a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo ..........................................................................65 6.2.1. Fatores que inspiram o produtor a implantar práticas de conservação do solo..............................................................66 6.2.2. Fatores que inspiram o produtor a não implantar práticas de conservação do solo.........................................................70 6.2.3. Argumentos de motivação para adoção ................................71 6.2.4. Razões para implantação de um programa de conservação do solo...................................................................................72 7. CONCLUSÕES E SUGESTÕES................................................................74 7.1. Conclusões.........................................................................................74 7.2. Outras questões relevantes................................................................79 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..........................................................83 9. ANEXOS.....................................................................................................86 9.1. Questionário.......................................................................................86 9.2. Dados relativos a amostragem...........................................................92
  • 10. I LISTA DE TABELAS Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC. ...........9 Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente Extensão Rural e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD - 1996.............9 Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996.....40 Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC.........40 Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985...................................................41 Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC. ............41 Tabela 7. Principais culturas anuais exploradas na região do Alto Vale do Itajaí - SC - Safra 1994/1995. ...........................................42 Tabela 8. Principais criações da região do Alto Vale do Itajaí - SC. ..............42 Tabela 9. Posse da terra na região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985...........42 LISTA DE QUADROS Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão......................................18
  • 11. II LISTA DE FIGURAS Figura 1. Localização da área de estudo ......................................................39 Figura 2. Distribuição dos produtores por faixas etárias -Alto Vale do Itajaí - SC - 1996............................................................................53 Figura 3. Disponibilidade de mão-de-obra (UTH) nas propriedades rurais do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996.........................................54 Figura 4. Distribuição dos produtores de acordo com a escolaridade Alto Vale do Itajaí - SC - 1996........................................................55 Figura 5. Distribuição dos produtores de acordo com a área da propriedade (ha) - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. .........................56 Figura 6. Distribuição percentual das propriedades de acordo com a área explorada com culturas anuais - Alto Vale do Itajaí - SC. ......57 Figura 7. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996............................................................................58 Figura 8. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a adoção de combinações de práticas de conservação do solo Alto Vale do Itajaí - (SC) - 1996. ....................................................59 Figura 9. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível de instrução na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...............62 Figura 10. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu nível de renda na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...............63 Figura 11. Distribuição percentual dos produtores de acordo com seu padrão tecnológico na percepção dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ...............64 Figura 12. Distribuição percentual dos produtores de acordo com a percepção que têm frente a novas tecnologias na visão dos técnicos executores do Projeto Microbacias - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996.......................................................................65 Figura 13. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a adotar práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................67 Figura 14. Distribuição percentual dos produtores de acordo com os fatores que os inspiram a rejeitar as práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996. ........................................70 Figura 15. Distribuição percentual dos produtores com base nos argumentos a serem utilizados como fatores de motivação para a adoção de práticas de conservação do solo - Alto Vale do Itajaí - SC - 1996............................................................................72 Figura 16. Distribuição percentual dos produtores de acordo com as razões para implantação de um programa de conservação do solo ...........................................................................................73
  • 12. III HIERARQUIZAÇÃO DE CRITÉRIOS NA ADOÇÃO DE PRÁTICAS DE CONSERVAÇÃO DO SOLO Autor: Léo Teobaldo Kroth Orientador: Prof. Luiz Renato D'Agostini RESUMO Uma das principais implicações da modernização da agricultura é a degradação dos recursos naturais. O modelo preconizado por essa agricultura pressupostamente baseava-se na produtividade e eficiência. Os recursos naturais, especialmente o solo, ficavam relegados a um segundo plano. Os insumos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidades do sistema solo-planta. Isso fez com que o homem se distanciasse da natureza e do próprio homem em seu sentido maior. Mesmo compreendendo a dinâmica do processo de degradação do meio e conhecendo alternativas para seu controle, ainda não se verifica uma suficiente adoção de práticas de conservação do solo. Pressupondo que o uso e o manejo do solo são inspirados principalmente por critérios de natureza econômica, preservacionista e operacional, objetivou-se identificar a hierarquia destes critérios em determinar a adoção de práticas de conservação do solo pelos produtores participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC. Do universo estudado, aproximadamente 65% dos produtores são adotantes, 30% são parcialmente adotantes e 5% não adotam práticas de conservação do solo. Para 53,6% dos produtores os fatores de ordem econômica são os que determinam a adoção; 69,7% dos produtores que não adotam práticas conservacionistas o fazem por fatores de ordem econômica. Subjetivamente, fatores relacionados com a humanização do trabalho estão fortemente presentes. A preservação do meio parece, ainda, ser mais dependente de constrangimentos frente à diferenciação de comportamentos do que pela convicção da necessidade de preservação.
  • 13. IV HIERARCHIZATION OF CRITERIA IN THE ADOPTION OF SOIL CONSERVATION PRACTICES Author: Léo Teobaldo Kroth Adviser: Prof. Luiz Renato D'Agostini ABSTRACT One of the main critical implications of modern agriculture is the degradation of natural resources. This agriculture is presumably based on a productivity/efficiency model. Natural resources, and mainly soil, was relegated to a secondary plane. Industrial inputs could provide or meet all soil-plant system needs. This forced man to draw away from nature and from himself in the broadest sense of the term. Although understanding the dynamics of environmental degradation process and being aware of the alternatives for controlling it, adequate soil conservation practices have not been adopted yet. Assuming that soil use and management are primarily based on criteria associated to economic, preservationist and humanization aspects, an attempt has been made to identify the hierarchy of such criteria in determining the adoption of soil conservation practices by farmers. Aproximately 65percent of farmers are adopters, 30% are partial adopters and 5% do not adopt soil conservation practices at all. For 53,6% of farmers, economic factors are the major determiners for this adoption; 68,7% of farmers who do not adopt soil conservation practices do so because of economic restrictions. Subjectively, factors associated with labor humanization are clearly evident. Environment protection seems to be still more dependent on constraints derived from a different behavior, than on the conviction of the real need for preservation.
  • 14. 1 1. INTRODUÇÃO A agricultura brasileira, e em particular a catarinense, passou, nas últimas décadas, por profundas mudanças, tanto no campo econômico, no social, quanto no tecnológico. A transformação da agricultura tradicional, responsabilizada como a precursora da situação do subdesenvolvimento brasileiro, de acordo com os paradigmas modernizantes, somente se daria mediante a introdução e aplicação de fatores com origem externa ao meio rural. Para tornar isso possível, haveria uma demanda em educação, pesquisa e difusão dos fatores de produção industrial, a cargo do poder público, considerando-se que deveria ocorrer a substituição da agricultura tradicional pela moderna. As modificações ocorridas no meio rural, a partir do avanço das relações capitalistas de produção, levaram a uma inserção profunda da agricultura na economia de mercado, agregando novos e mais complexos conceitos, que passaram a influenciar a tomada de decisões. Uma das principais implicações do processo modernizante implantado na agricultura está relacionado com a preservação dos recursos naturais. O modelo difundido tinha bases inspiradas essencialmente na produtividade e na eficiência. Com isso, as questões dos recursos naturais, especialmente o solo, foram relegadas ao segundo plano, com o argumento, mesmo que subjacente, de que os insumos químicos industriais poderiam suprir ou atender todas as necessidade das culturas. A maneira pela qual se processou a “industrialização” da agricultura fez com que o homem se distanciasse da natureza e, por conseguinte, do próprio homem. A natureza se tornou tão somente supridora de matérias primas, sendo o solo considerado apenas “meio de suporte para as plantas” e não como parte indissociável de um todo, cuja complexidade e significação não pode ser reduzida a de um meio em que ocorrem processos físicos, químicos e biológicos, que proporcionam condições para o desenvolvimento das plantas. O aumento da pressão sobre os recursos naturais, ocasionada por uma demanda ascendente no uso dos solos para fins agrícolas, está especialmente
  • 15. 2 implicado na intensificação do uso de produtos químicos sintéticos (fertilizantes, agrotóxicos, etc.) e na mecanização das operações de cultivo. A necessidade de crescente aumento da renda das famílias rurais, como um dos produtos da mesma modernidade, aliada ao aumento da pressão demográfica no meio rural, resultaram numa intensificação da utilização do solo. Como conseqüências mais evidentes desta utilização, estão a degradação estrutural e a erosão do solo (perda da camada fértil), redução e até eliminação da atividade biológica, aumento do número do que era como pragas, doenças e invasoras, diminuição do estoque de água, acarretando déficit hídrico, poluição do lençol freático e das águas superficiais, para citar apenas algumas. Tudo isso acabou acarretando redução nos níveis de produtividade das lavouras e até mesmo inviabilizando seu cultivo, colocando em questão a própria promessa da “agricultura moderna”. Em solos do Rio Grande do Sul, cultivados com sucessão trigo-soja sob sistema convencional1 , sem o uso de práticas de conservação do solo, as perdas de solo foram, numa média de quatro safras, de 32t/ha ano, chegando a 97t/ha ano (RIO GRANDE DO SUL, 1985), o que representa quase 10kg de solo por metro quadrado, ou ainda uma camada uniforme de um centímetro de espessura. Considerando-se que a camada arável situa-se, para a maioria dos solos de Santa Catarina, até 30cm de profundidade, e permitindo-nos uma extrapolação no tempo e no espaço daqueles resultados experimentais, se poderia concluir que em apenas algumas décadas poderemos ter esgotado a capacidade produtiva desses solos. Com a redução da produtividade, os agricultores sentiram-se compelidos a aumentar suas áreas de lavoura, buscando, assim, garantir a rentabilidade de seu processo produtivo, levando ao uso de muitas áreas fora de suas aptidões agrícolas, de acordo com o sistema de classificação das terras2 ; ao uso de áreas marginais3 ; à exploração de áreas de preservação 1 Sistema de manejo convencional: preparo do solo com uma aração e duas gradagens, queimando os restos culturais do trigo e incorporando os resíduos da soja. 2 Sistema de classificação das terras: utilizado para classificar as terras de acordo com sua aptidão agrícola, considerando as seguintes características: declividade, profundidade efetiva, pedregosidade, drenagem, fertilidade e suscetibilidade à erosão, conforme o que é preconizado na metodologia atualmente em uso pela Epagri.
  • 16. 3 determinadas pela legislação4 ; a demanda por novas fronteiras agrícolas, entre outros casos. Aliado a não aplicação de práticas adequadas à preservação da capacidade produtiva desses solos (Tabela 1), encontra-se atualmente um quadro bastante preocupante quanto à manutenção dos níveis de produtividade e até mesmo da continuidade da exploração de diversas áreas agrícolas do Estado. Procurando de alguma forma encontrar meios de equacionar essa situação, o serviço de extensão rural do Estado, ao longo de 40 anos de atividades, desenvolveu uma série de Programas voltados à conservação dos solos. No entanto, estes Programas só ocasionalmente apresentaram bons resultados, com contribuições relativamente pouco representativas na minimização dos efeitos nocivos da erosão sobre o solo no Estado. Segundo a percepção que inspira os Programas atuais, isso deveu-se fundamentalmente à visão reducionista destes Programas, que consideravam apenas a área das lavouras como unidades de planejamento e atuação, não levando em conta que os fatores climáticos, notadamente a chuva e o escoamento a ela associado, determinante na ocorrência da erosão dos solos, não delimitam sua ação em linhas retas ou aos limites legalmente instituídos. As práticas ou procedimentos tradicionais de conservação do solo foram menos efetivas do que se esperava ou se necessitava. A visão tradicional se concentrava basicamente no volume e na velocidade de escoamento da água, sem ter em conta o sistema de produção como um todo. Quase como um pressuposto de suficiência, o manejo conservacionista reduzia-se as práticas que antecediam as atividades de um novo ciclo de produção agrícola, descuidando do que ocorria durante e depois desse ciclo. No entendimento de BRAGAGNOLO et al. (1995), este enfoque enfatizava as medidas físicas de conservação do solo no trabalho das agências 3 Áreas marginais: são assim consideradas aquelas áreas que necessitam de obras de engenharia para torná-las agricultáveis, como macrodrenagem e sistematização, ou que não apresentam condições naturais para o uso agrícola, em função da baixa fertilidade, pedregosidade, etc. 4 Áreas de preservação permanente: de acordo com a Lei n.º 4.771 de 15.09.65, são assim consideradas as áreas com florestas e demais formas de vegetação natural situadas ao longo dos rios ou de outro curso de água, em faixa marginal com largura mínima de acordo com a largura do curso de água, que vai de 30 metros a 500m; ao redor de lagoas, lagos e reservatórios; nas nascentes num raio de 50m., no topo dos morros, montes, montanhas e serras; nas restingas; nas bordas de tabuleiros ou chapadas; e áreas com altitude superior a 1.800m.
  • 17. 4 especializadas em conservação do solo e em conseguir a adesão dos agricultores mediante a insistência. Impõe-se reconhecer, assim, que um fator que contribuiu para uma insuficiente efetividade das práticas de conservação do solo foi a metodologia de trabalho utilizada pelos agentes de extensão, que raras vezes considerava o agricultor como participante do processo e como agente executor e beneficiário, ou seja, o mesmo era visto como objeto do processo e não como sujeito. Mas mesmo o vendedor sabe que a insistência só é eficaz mediante argumentos com conteúdo impregnado de significação para o comprador. Cabe perguntar, então, se na “adesão mediante a insistência” os argumentos apresentados aos agricultores se investem de significação à luz dos critérios que priorizam e determinam as sua ações. A inadequação metodológica parece decorrer do fato de os Programas terem sido concebidos, em sua maioria, para atender políticas públicas e programas de governo coadunados com os princípios da “revolução verde”, que visavam atender interesses comerciais e políticos, em detrimento das reais necessidades e demandas dos produtores. Para BRAGAGNOLO et al. (1995), a concepção dos Programas de “cima para baixo” limitava a credibilidade dos conservacionistas, dificultando o intercâmbio e valorização de idéias. Os agricultores tem se preocupado com a produção enquanto que os conservacionistas tem se preocupado em salvar o solo e a água. Para os mesmos autores, outra carência do enfoque tradicional é que não eram considerados os aspectos socioeconômicos e as características dos sistemas de produção, o que se refletia numa falta de entusiasmo dos agricultores para adotar práticas conservacionistas. Normalmente, os agricultores não introduzem de forma automática práticas convencionais de conservação do solo em suas operações rotineiras, mesmo porque freqüentemente tanto as recomendações como as implicações de sua implementação prática não são adequadas ou aplicáveis de forma imediata às situações agroecológicas ou socioeconômicas específicas. O produtor era defrontado com “tecnologias” e soluções não adequadas à sua realidade e mesmo suas necessidades. Isso levava a um descrédito com relação ao que lhe era proposto como alternativa para
  • 18. 5 equacionar os problemas de erosão do solo que enfrentava. Essa dicotomia entre os “pacotes tecnológicos” oferecidos pelos agentes de extensão e o que o agricultor realmente desejava ou o que lhe seria mais adequado e apropriado, levou a uma baixa adoção das práticas de conservação do solo ou, quando eram adotadas, isso ocorria por um período relativamente curto, sendo posteriormente abandonadas. A percepção mais atual quanto a melhor forma de se combater a degradação dos solos diz respeito a um melhor “manejo das terras”, sendo que as práticas convencionais de conservação do solo devem ser consideradas como de apoio. Este enfoque traz como benefícios uma estreita integração das práticas conservacionistas ao sistema de produção agrícola e o fortalecimento das relações entre a população rural e suas terras. Alinhado com esse novo enfoque, o serviço de extensão rural de Santa Catarina iniciou em 1984 os primeiros trabalhos que tem na microbacia hidrográfica5 a unidade de planejamento, com atuação em três microbacias nos municípios de Agrolândia, Benedito Novo e Indaial, na Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, ação que se estendeu para 17 microbacias no Estado nos anos de 1985/86. Através do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas, esse enfoque se expandiu, passando atuar, em 1987, diretamente em 68 microbacias do Estado. A partir de 1991 passou a ser desenvolvido o Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, de abrangência estadual, prevendo inicialmente o atendimento de 520 microbacias num período de 7 anos, beneficiando cerca de 81.000 produtores rurais, representando 25% da área total do Estado. O objetivo desse Projeto é de incrementar a produção e a renda da propriedade agrícola, promovendo a adoção de práticas sustentáveis de manejo e conservação do solo e da água. Com isso, segundo SANTA CATARINA (1989), deverá ocorrer uma utilização mais adequada do solo e detenção das perdas do solo, do assoreamento do leito dos rios e represas, das enchentes, da destruição das estradas, da poluição dos mananciais e do esgotamento dos recursos naturais. 5 Microbacia Hidrográfica é definida como uma área fisiográfica drenada por um curso d’água ou por um sistema de cursos d’água conectados e que convergem, direta ou indiretamente, para um leito ou para um espelho d’água (BRASIL, 1987).
  • 19. 6 A principal estratégia do Projeto Microbacias/BIRD envolve o planejamento conservacionista da propriedade agrícola, através da adequação das áreas de cultivo de acordo com as classes de aptidão de uso6 e pela adoção de práticas de preservação e recuperação do solo, como cobertura vegetal7 , práticas mecânicas8 , práticas de preparo conservacionista9 , entre outras. A justificativa do uso da microbacia hidrográfica como referencial de planejamento e de trabalho baseou-se nos seguintes pressupostos: 1. permite concentrar em uma área relativamente homogênea a ação de diversos organismos de apoio à assistência técnica (públicos ou privados), evitando a dispersão de atividades e a atenção à produtores isolados, passando a trabalhar em torno de planos de ação concretos e mais globais; 2. os produtores numa microbacia podem desenvolver propósitos comuns e ajudar-se mutuamente na implementação de planos comuns; 3. possibilidade de compartilhar recursos escassos, como máquinas de alto custo que não estejam ao alcance de todos os agricultores e; 4. racionalidade na utilização de recursos materiais e financeiros disponíveis, de acordo com as necessidades e prioridades. Esse Projeto contribuiu de forma significativa, notadamente em sua área de abrangência, para a busca da reversão do quadro de degradação dos 6 Classes de aptidão de uso: de acordo com a metodologia utilizada pelos técnicos que atuam no Projeto Microbacias/BIRD, as terras são classificadas em 5 classes:  Classe 1: aptidão boa para culturas anuais climaticamente adaptadas;  Classe 2: aptidão regular para culturas anuais climaticamente adaptadas;  Classe 3: aptidão com restrições para culturas anuais climaticamente adaptadas, aptidão regular para fruticultura e boa aptidão para pastagens e reflorestamento;  Classe 4: aptidão com restrições para fruticultura e aptidão regular e com restrições para pastagens e reflorestamento; e  Classe 5: preservação permanente (SANTA CATARINA, 1995). 7 Prática de cobertura vegetal do solo: utilização de plantas em rotação, sucessão ou consorciação com as culturas, deixando-as na superfície do solo, visando-se a proteção superficial, bem como a manutenção e melhoria das características físicas, químicas e biológicas do solo. 8 Práticas mecânicas de conservação do solo: consistem na locação e construção de estruturas no sentido transversal à direção do declive do terreno, formando obstáculos físicos capazes de reduzir e disciplinar a velocidade da água das chuvas, promovendo seu escoamento e/ou seu armazenamento, sem perigo de erosão (RIO GRANDE DO SUL, 1985). Incluem-se neste grupo os terraços, os cordões vegetais e de pedra. 9 Práticas de preparo conservacionista do solo: são aquelas em que se procura evitar ao máximo o revolvimento do solo, deixando-o coberto com os resíduos das culturas ou com espécies cultivadas com este fim específico, para que não fique exposto à ação dos fatores erosivos. Incluem-se neste grupo: plantio direto, cultivo mínimo, preparo reduzido, escarificação, subsolagem, entre outras.
  • 20. 7 solos no Estado, mas ainda com abrangência limitada no contexto geral da agricultura de Santa Catarina (Tabela 2), principalmente por ter se concentrado em algumas poucas práticas conservacionistas e não num sistema integrado de manejo dos solos. Uma adequada solução dos problemas de degradação encontrados ainda está longe de ser alcançada, principalmente pelo fato de o referido Projeto ter se concentrado em ações individualizadas e com alternativas exógenas e pressupostamente universais, nem sempre respeitando ou procurando entender a lógica do comportamento do agricultor. A falta de uma visão holística dos planejadores e extensionistas e da própria concepção do Projeto, por desconsiderar aspectos sociológicos, antropológicos, econômicos, culturais, entre outros, faz com que os alcances ainda sejam pouco significativos, notadamente com respeito às relações homem-meio, considerando-se que um efetivo controle do processo erosivo está ligado ao manejo integral de todos os fatores envolvidos no processo e no entendimento dos mecanismos de ação de cada um, e não apenas em ações isoladas, que procuram atacar o efeito e não as causas. O presente trabalho parte, desta forma, do pressuposto de que a adoção ou não de práticas de conservação do solo pelos agricultores, no caso os participantes do Projeto Microbacias/BIRD na região do Alto Vale do Itajaí - SC, se dá pela maior ou menor sintonia entre as concepções do Projeto, dos extensionistas e as ideologias e lógicas que os norteiam e a percepção dos agricultores frente aos fatores que orientam sua tomada de decisões. Objetivando permitir que se possa ter um entendimento mais claro da proposta desta dissertação e qual foi a fundamentação que permeou sua concepção, este trabalho está dividido em três partes: 1. a primeira é constituída de uma introdução, na qual se buscou sintetizar a problemática que envolve a conservação dos solos e o contexto dos programas desenvolvidos ao longo nos anos pelo serviço de extensão rural do Estado, e de uma análise descritiva, com base na literatura disponível e de minhas próprias experiências e observações acumuladas durante o período em que atuei como extensionista do Projeto Microbacias, do processo de difusão/adoção de tecnologias agropecuárias e da lógica do
  • 21. 8 produtor envolvida no processo decisório, notadamente quanto aos aspectos de ordem econômica, aos relacionados com a humanização do trabalho (operacionais) e quanto aos aspectos ambientais e de preservação das características do meio; 2. a segunda parte é composta pela análise e discussão dos dados obtidos no campo com relação aos fatores que influenciam o produtor na adoção ou não de práticas de conservação do solo. Através de questões formuladas de forma indireta, procurando imprimir uma visão de que o produtor estaria respondendo o que seus pares pensam e como agem no uso do solo, procurou-se, na verdade, identificar quais são as relações de prevalência entre os critérios do agricultor em sua percepção do significado das práticas conservacionistas. Constitui-se, essa segunda parte, também da descrição da área de estudo e da metodologia utilizada e; 3. na terceira parte são apresentadas as conclusões, bem como são feitas considerações sobre o processo de adoção que podem vir a se constituir em argumentos para reflexão de planejadores e executores de Programas de conservação do solo, bem como sobre outros aspectos a serem considerados em novos Projetos que venham ser elaborados e desenvolvidos no âmbito da conservação dos solos.
  • 22. 9 Tabela 1. Levantamento da situação da conservação do solo em SC1 PRÁTICA ÁREA - ha % DA ÁREA CULTIVADA2 ÁREA P/FAMÍLIA Cobertura vegetal 338.474 17,71 1,31 Cultivo mínimo 46.816 2,45 0,18 Plantio direto 80.929 4,23 0,31 Cordão vegetal (patamar) 54.661 2,86 0,21 Terraços 151.277 7,92 0,59 Fonte: Epagri, 1996a. 1 Levantamento realizado no ano de 1993. 2 Percentual de área com práticas de cobertura vegetal do solo em relação a área total cultivada com culturas anuais no Estado. Tabela 2. Indicadores do desempenho do componente1 Extensão Rural e Assistência Técnica do Projeto Microbacias/BIRD2 - 1996 ATIVIDADE TOTAL DO ESTADO* META ALCANC E % Microbacias 1.683 520 502 96 Agricultores 252.450 80.900 69.378 86 Propriedades com Planejamento Conservacionista - 56.630 30.801 54 Reflorestamento (ha) - 53.000 24.145 45 Área com práticas conservacionistas3 - 240.000 309.731 129 N.º de propriedades agrícolas 235.361 - - - Área total dos estabelecimentos agrícolas de Santa Catarina - ha 7.463.677 - - - Área das principais lavouras - ha 2.087.677 - - - Área das principais lavouras a serem trabalhadas pelo Projeto - ha 761.505 - - - Fonte: Epagri, 1996b e SANTA CATARINA (1989). * Dados referentes a 1987, por ocasião da elaboração do Projeto Microbacias/BIRD. 1 O Projeto Microbacias, entre outros é dividido em seis componentes: Componente Assistência Técnica e Extensão Rural, Componente Pesquisa Agropecuária, Componente Florestal, Componente Estradas, Componente Educação Ambiental, Componente Monitoramento de Microbacias Hidrográficas. 2 Dados acumulados até dezembro/1996. 3 Dados com repetição referentes as práticas vegetativas
  • 23. 10 2. O PROCESSO DE DIFUSÃO-ADOÇÃO A motivação dos agricultores em adotar práticas de conservação do solo é um processo complexo. Ele se inicia com a percepção do problema da erosão pelo agricultor e o conhecimento sobre quais são os fatores que influenciam a adoção. Os agricultores que acreditam não terem o problema, não realizam ações para minimizá-lo. Suas percepções do problema dependem de inúmeros fatores, incluindo mensagens através de programas governamentais e características pessoais dos agricultores, como a idade, disposição ao risco, entre outros. Nem sempre os agricultores vêem a erosão como um problema que está ocorrendo em suas propriedades. Relatos apresentados por CULVER & SEECHARAN (1986), demonstram que em 112 municípios (condados) entre os mais erodidos dos Estados Unidos da América, 92% dos agricultores percebiam o problema da erosão em seu município, porém somente 66% percebiam a erosão como sendo um problema em suas propriedades. Já nos Estados de Nebrasca e Yowa, a maioria dos agricultores que crêem não ter problemas atuais de erosão, na verdade os têm. Isto nos remete a uma reflexão sobre o real significado do critério conservacionista. De acordo com D’AGOSTINI (1995), “mesmo para o leigo e para o inculto, a noção da importância da proteção do solo contra a erosão já é bem presente, seja para a visão orientada à produtividade ou para a visão orientada à sustentabilidade do processo produtivo. Mas a modalidade da ação do homem em relação ao manejo do solo e de outras partes do meio, como qualquer outra ação humana, também se dá a partir de um complexo sistema de valores, onde o preservacionismo geralmente não é o único e, por enquanto, nem o mais determinante critério que inspira a ação. Normalmente, o preservacionismo só é prioridade na medida que a degradação decorrente de ações demandadas ou orientadas por critérios prevalecentes, ou processos delas decorrentes, implica riscos à objetivação daqueles critérios dominantes”. Percebe-se claramente, que o critério conservacionista está permeado de argumentos basicamente ligados a questão da erosão do solo e não das
  • 24. 11 implicações resultantes de sua ocorrência, ou seja, os critérios conservacionistas consideram sobretudo os prejuízos advindos da erosão, notadamente os de ordem econômica, associados à redução da produtividade e ao aumento dos custos de produção. Desta forma, o real significado do critério conservacionista parece estar diretamente associado à percepção que os produtores tem de que a não adoção de práticas conservacionistas pode colocar em risco os resultados da atividade agrícola. Com o objetivo de tentar evidenciar as variáveis relacionadas com a adoção de tecnologias agropecuárias pelos produtores rurais, um expressivo número de trabalhos foi conduzido por pesquisadores de diversas áreas das ciências agrárias, humanas e econômicas. BUTTEL et al. (1990) relatam que são aceitos como os primeiros estudos com relação a difusão-adoção de inovações agrícolas10 aqueles realizados por Hoffer em 1942 e Ryan e Gross em 1943, nos estados americanos de Michigan e Yowa, respectivamente; a E. A. Wilkening, da Universidade de Chicago, é creditada a criação dos primeiros e mais influentes estudos sobre o processo de difusão-adoção, realizados nas décadas de 40 e 50; outras contribuições foram feitas por Fliegel, Beal & Bohlen, Lionberger, Conghenour e Rogers, especialmente entre os anos de 1950 e 1970. De acordo com ROGERS (1995), existiam 405 publicações sobre a questão em 1962, 1.500 em 1971, 3.085 em 1981 e em 1995 mais de 4.000. A análise de fatores envolvidos no processo decisório do agricultor, notadamente no que diz respeito à adoção de tecnologias, foi feita, ainda em trabalhos desenvolvidos por CÉZAR (1978), BUTTEL et al. (1990), GOODMAN et al. (1990), entre muitos outros. Esses trabalhos, porém, em sua maioria, procuraram analisar a questão primordialmente sob a ótica tradicional do modelo de difusão/adoção proposto por ROGERS (1995) ou, então, numa abordagem basicamente econômica, não se atendo a outros aspectos que estão presentes e que contribuem com a tomada de decisões, bem como por que entre alguns agricultores a adoção ocorre de forma mais lenta. Para ROGERS & SHOEMAKER (1974) a decisão individual diante de uma inovação não é um ato imediato, mas um processo que ocorre ao longo do 10 Inovação agrícola: toda idéia ou prática percebida como nova pelo indivíduo, mesmo quando ela não é objetivamente nova, segundo o tempo decorrido desde sua descoberta ou primeiro uso (MOLINA FILHO, 1968).
  • 25. 12 tempo e que envolve uma série de fatores, que vão desde o primeiro contato com a inovação, a decisão de adotar ou rejeitar, até a confirmação da decisão tomada. O modelo do processo de difusão-adoção de inovações tecnológicas na agricultura concebido por Rogers em 1963, a partir dos diversos trabalhos realizados neste campo e denominado de Processo de Adoção de Rogers, revisado e renomeado em 1983 para Innovation-Decision Process, contém três componentes principais, conforme apresentado no Quadro 1 - página 18. Os antecedentes correspondem às variáveis presentes na situação prévia à introdução da inovação e incluem as características do receptor e do sistema social. As primeiras restringem-se a certos aspectos referentes diretamente ao indivíduo. Ainda no item “características sociais”, refere-se às atitudes dos indivíduos em relação às questões sociais. As segundas, as características do sistema social, remetem às normas, ao que é moderno ou tradicional, por exemplo, a padrões de tolerância em relação ao desvio e à integração da comunicação. O processo tem seqüência através da influência das fontes e canais de comunicação que proporcionam estímulos ao indivíduo, em primeiro lugar oferecendo o conhecimento da inovação e, posteriormente, canais mais locais e interpessoais persuadem o indivíduo, que forma suas percepções em relação à inovação. Na fase das conseqüências, a inovação pode ser adotada permanentemente, ou a adoção ser interrompida (descontinuidade), de acordo com a confirmação de sua efetividade, ou mesmo pode não ser adotada em nenhum grau. Na fase da persuasão, quando o indivíduo forma uma idéia favorável ou desfavorável sobre a inovação, tem papel fundamental os sentimentos, e não o conhecimento de tal inovação, que é prévio. As características que o agricultor percebe a respeito da inovação em questão, são importantes para ele continuar no passo seguinte, com sua adoção ou rejeição. Essas características vão desde vantagens relativas, à complexidade, à possibilidade de ser observada, à possibilidade de experimentação sem grandes riscos e à compatibilidade entre o significado da inovação e valores dos produtos. Este
  • 26. 13 último conceito é muito importante e é introduzido por ROGERS (1995) para explicar como as características de uma inovação devem corresponder com certos valores socioculturais dos potenciais adotadores. Uma inovação difundir- se-á mais rapidamente quando existir congruência ou compatibilidade entre os valores que ela requer e os existentes na população alvo. Isto é proposto como relevante para escolher as inovações a serem difundidas e as estratégias correspondentes para efetivar tal difusão. A difusão para ROGERS (1995), é definida como sendo o processo pelo qual uma inovação é comunicada através de certos canais, através do tempo, entre membros de um sistema social. Já a inovação é uma idéia, prática ou objetivo que é percebido como novo por um indivíduo ou outras unidades de adoção. Para GUIVANT (1992), o modelo estabelece que os níveis de adoção dependem da combinação de características pessoais do produtor (educação, idade, espírito empreendedor, cosmopolitismo, etc.) e da propriedade rural (área cultivada, localização, acesso a meios de transporte e de comunicação, renda, etc.). Os resultados das pesquisas sobre o processo de difusão-adoção, indicam, de acordo com ILBERY (1985) para o seguinte: 1. os agricultores com menos idade e proprietários de grandes áreas buscam mais informações do que aqueles mais idosos com propriedades menores; 2. os agricultores com maior nível de escolaridade buscam mais informações, sendo, por isso, mais inovadores que os de menor escolaridade; 3. agricultores mais cosmopolitas tendem a ser mais inovadores, o que pode ser atribuído a terem mais acesso aos canais de comunicação; 4. proprietários de grandes áreas, empreendedores e não avessos a riscos, tendem a ser os primeiros a adotar inovações agrícolas. Com base nestas percepções, COCHRANE (1979) estabeleceu a Theory of the Treadmill sobre mudanças tecnológicas. De acordo com esta teoria, “os produtores que primeiro adotam as inovações tecnológicas tem maiores rendas por reduzirem os custos por unidade de produção. Com o uso da tecnologia, o preço dos produtos tende a cair, em função de que os commodities agrícolas tendem a ter uma baixa elasticidade de preços com a
  • 27. 14 demanda. O declínio dos preços força os não adotantes a também utilizar as novas tecnologias. Como conseqüência, estes adotadores retardatários ganham muito pouco com a tecnologia, sendo que eles as adotam somente para permanecer na agricultura. Quem realmente se beneficia são os consumidores em função dos preços pagos pelos produtos que adquirem. Por seu lado, os que não as adotam são forçados a abandonar a agricultura por não poderem competir ou então, forçados a adotar, mesmo sem benefícios”. O processo de mudanças sociais, particularmente no meio rural, é extremamente complexo, envolvendo aspectos nem sempre considerados pelos planejadores e técnicos, mas que são primordiais por influenciarem diretamente no comportamento do agricultor. Para MUSSOI (s.d.) o processo social na agricultura observa os seguintes pressupostos:  os produtores de subsistência são irresolutos em “experimentar” com a sobrevivência de suas famílias, pois se uma mudança (inovação adotada) falhar, poderá comprometer sua segurança;  de modo geral, os pequenos produtores baseiam-se mais no quanto poderão perder se a inovação não der resultados positivos do que propriamente a maximização de seus lucros;  a adoção de uma inovação é influenciada, ainda, por uma série de fatores, como: idade, grau de escolaridade, isolamento, fatalismo, liderança, cosmopolitismo, contato com agentes de assistência técnica, normas do sistema social, entre muitos outros. Ainda segundo MUSSOI (s.d.), outro fator que tem forte influência na adoção, relaciona-se com o fato de que a grande maioria dos programas que propõem mudanças são elaborados descendentemente, ficando os beneficiários no final da linha, responsáveis unicamente pela execução das determinações planejadas pelos técnicos, muitas vezes dissociadas das reais necessidades, visando atender interesses meramente políticos. Dessa forma, o processo de mudança se torna falho, pois os beneficiários não tem poder de decisão, nem mesmo de opinião sobre as determinações que lhes deveriam beneficiar.
  • 28. 15 Por se centrar demasiadamente nas variáveis individuais11 do produtor e da propriedade agrícola, o modelo de pesquisa sobre difusão-adoção passa por fortes contestações a partir dos anos 70. O modelo passou a ser associado ao processo de modernização da agricultura químico-industrial e todos os seus efeitos, principalmente ao meio ambiente, ao êxodo rural, às desigualdades sociais, entre outros, enquanto beneficiava o setor agroindustrial e os grandes proprietários rurais. Neste mesmo contexto, passam a ser criticados também os conceitos e a metodologia do modelo de difusão-adoção, especificamente quanto às fases do processo de adoção estabelecidos por Rogers. Quanto à identificação das variáveis específicas ligadas à adoção de práticas de conservação do solo, as pesquisas iniciaram nos anos 50 nos Estados Unidos. ERVIN & ERVIN (1982), relatam trabalhos que apresentam resultados importantes. Um deles foi conduzido por BLASE (1960), que demonstrou serem os seguintes fatores estatisticamente significantes para explicar a redução de perdas do solo:  rendimentos externos à propriedade: interpretado como um meio para superar dificuldades financeiras;  percepção da erosão do solo como um problema e;  capacidade para obter financiamentos. Os resultados obtidos por BLASE (1960), mostram que as dificuldades econômicas tem importante papel na decisão do uso efetivo de práticas de conservação do solo. Impõe-se reconhecer, assim, que as dificuldades financeiras dos agricultores são concebidas como afetantes na decisão de implementar práticas que busquem o controle da erosão nas propriedades. Estudos recentes vem aumentando a gama de variáveis consideradas no processo decisório de adoção de tecnologias agropecuárias, inclusive as de conservação dos solos. Entre elas, as que se mostraram estar mais significativamente relacionadas estão o grau de escolaridade, tamanho da 11 Variáveis individuais:  do produtor: idade, escolaridade, renda, cosmopolitismo, aversão à riscos, etc.  da propriedade: área, área com culturas anuais, rebanho, tipo de culturas, localização, etc.
  • 29. 16 propriedade, renda bruta, idade do produtor e percepção da erosão do solo como um problema real. PAMPEL & VAN ES (1977), concluíram que a maior experiência agrícola explica melhor a adoção de práticas ambientais, enquanto variáveis relacionadas com o tamanho da operação agrícola explica melhor a adoção de práticas comerciais. Mas em função de uma série de fatores, notadamente por terem os estudos sido conduzidos numa região particular, numa determinada época e refletindo um modelo local, e devido a variável dependente que reflete o uso ou adoção de práticas ter sido mensurada de vários modos, os resultados obtidos por PAMPEL & VAN ES (1977) não podem ser extrapolados para outras situações, tendo em vista que o comportamento do agricultor e os objetivos dos programas não são idênticos. Idealizar uma medida precisa do efeito da conservação do solo, como é reconhecido pela maioria dos pesquisadores é um grande desafio que não se pode pretender superá-lo com simples ou complicadas medidas objetivas. Caso a intenção seja compreender a adoção, que nem sempre corresponde com a efetividade ou extensividade do uso, o número de práticas implementadas é suficiente. Contudo, se o objetivo final da política conservacionista é reduzir a erosão, as variáveis encontradas devem refletir o grau de controle da erosão de cada prática e a extensão em que cada uma é implantada na propriedade. ERVIN & ERVIN (1982), concluíram que a educação e a percepção do grau de erosão foram os mais importantes fatores que influenciaram na adoção de práticas de conservação do solo. Estes fatores tiveram moderada significância com a experiência do agricultor, enquanto a aversão ao risco foi diretamente relacionada com ambas. Isto indicaria que, em geral, agricultores jovens ou menos experientes são mais receptivos a aceitar um maior número de práticas conservacionistas. Em contrapartida, agricultores mais experientes requereriam mais informações a respeito dos benefícios potenciais das práticas, especialmente técnicas que lhes são desconhecidas. Para NOVAK (1987) o agricultor precisa estar consciente da necessidade das tecnologias conservacionistas, ser capaz de obter informações agronômicas e econômicas para avaliar as conseqüências e
  • 30. 17 receber assistência na transferência e adaptação das tecnologias às condições climáticas, de solo, administrativas e sociais. Muitos agricultores rejeitam tais tecnologias por falta de informação e assistência necessária para avaliar as dimensões econômicas e agronômicas das práticas recomendadas. Ineficiência institucional no desenvolvimento e transmissão de informações e assistência adequada são asseveradas como sendo as maiores razões da não adoção de práticas de conservação do solo. Além disso, NOVAK (1987) levanta a questão da possibilidade de o custo da maioria das práticas exceder os benefícios a curto prazo e a possibilidade de uma base a longo prazo. O agricultor espera alcançar, em curto prazo, os custos e, a longo prazo, as metas de produtividade. A falta de retornos financeiros imediatos na dinâmica econômica da propriedade resulta em que a maioria dos agricultores rejeita estas tecnologias. NOVAK (1987) coloca, ainda, que a difusão e a expectativa econômica são complementares antes que competitivas, mas que ambas são importantes para explicar a adoção de práticas conservacionistas. Isso sugere que os fatores de difusão aumentam de importância quando a complexidade da inovação cresce e decresce de importância quando o risco é reduzido através de apoio institucional.
  • 31. 18 Quadro 1. Modelo do processo de inovação-difusão Adaptado de REOGERS & SHOEMAKER (1974)
  • 32. 19 O modelo de difusão de inovações tecnológicas proposto por ROGERS (1995), descrito anteriormente, serviu de base conceitual e metodológica para a extensão rural em praticamente todas as suas ações. E não o foi de outra forma no que diz respeito aos Programas de Conservação do Solo desenvolvidos em Santa Catarina. A difusão de práticas de conservação do solo está ligada ao início das atividades do serviço de extensão rural, que se dá a partir da década de 40. A preocupação com a utilização correta do solo apresentava-se como uma atividade complementar às técnicas produtivistas vigentes na época. Essas atividades dependiam muito mais do interesse próprio dos extensionistas do que propriamente do plano de ação da extensão rural, pois esses não eram capacitados para tal fim e a conservação do solo não fazia parte das prioridades, sendo, por isso, realizadas aleatória e esporadicamente. Um dos primeiros programas de conservação do solo desenvolvidos pela extensão rural foi o de Propriedades Demonstrativas (PDs), que consistia em um planejamento com a finalidade de aperfeiçoar o lado administrativo da propriedade agrícola, para posteriormente “irradiar” os resultados às demais propriedades da comunidade. Seu objetivo era evidenciar, através da demonstração de resultados a longo prazo, que uma boa administração, combinando os fatores de produção (capital, trabalho e recursos naturais), proporcionaria maior renda ao proprietário. Ao longo dos anos foram implementados outros programas, como a Campanha do Calcário - 1970, Projeto Catarinense de Conservação do Solo - 1970-1975, Acordo do Trigo Brasil/Canadá - 1976, entre alguns. Em 1977, a ACARESC (atual Epagri), empresa vinculada à Secretaria da Agricultura, responsável pela execução do Programa de Extensão Rural no Estado de Santa Catarina, elaborou as “Diretrizes para o Trabalho em Conservação do Solo”, tendo como justificativa, segundo SIMON (1993), que os trabalhos em conservação do solo até então não passavam de atividades secundárias que acompanhavam os trabalhos de fomento à produção. Como estratégia de ação, o Estado apregoava a difusão de técnicas conservacionistas a todos os agricultores atendidos pela extensão rural, com
  • 33. 20 uma forte ação educacional, visando enfrentar a erosão dos solos através de uma maior conscientização das comunidades rurais para o problema. Além disso, outros programas, dentro dessa mesma visão, foram concebidos: Programa Estadual de Conservação do Solo e Água, Plano de Ação para o Combate à Erosão, Programa Estadual de Melhoramento e Conservação do Solo. O programa mais recente é o Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias, que teve como objetivos recuperar e conservar a capacidade produtiva dos solos e controlar a poluição, buscando alcançar o incremento sustentável da produtividade das culturas, da produtividade do trabalho do agricultor e, em conseqüência, da sua renda líquida. Mesmo com todos estes programas, a efetividade no controle da erosão ainda não foi alcançada. Alguns deles obtiveram maiores alcances que outros, mas mesmo assim os resultados conseguidos em grande parte não foram duradouros. De acordo com diagnóstico realizado pela Secretaria da Agricultura de Santa Catarina, por ocasião da elaboração do Programa de Conservação e Manejo Integrado do Solo e da Água (PCMISA) em 1986, os principais fatores que impediram que programas anteriores obtivessem sucesso, no âmbito da conservação do solo, estariam associados aos seguintes aspectos: ao entendimento de que a conservação dos recursos naturais constituía um problema específico e não um processo que afeta todos os setores e que, portanto, a todos caberia levá-lo em conta; à percepção de que não era possível integrar a conservação do solo e o desenvolvimento; à adoção de processos que enfocam interesses restritos e imediatos em lugar de outros mais amplos e de maiores prazos; e a ausência de políticas de desenvolvimento embasadas na preservação dos recursos naturais em áreas onde tais ações são necessariamente importantes. Outro aspecto levantado diz respeito à falta de instrumentos de apoio para as ações conservacionistas devido a uma pressuposta falta de consciência de seus benefícios e da responsabilidade difusa dos que utilizam os recursos naturais, aí incluído o Governo.
  • 34. 21 Com relação a essa percepção dos responsáveis pelo diagnóstico, percebe-se claramente a visão reducionista dos programas concebidos. Pelo número de programas desenvolvidos até então (1986), como poderia haver tanta falta de consciência dos benefícios que a conservação do solo proporciona? A questão era realmente a falta de consciência? Como não se admitir que a questão central parece estar em outros aspectos? Entre esses, pode-se citar os ligados à forma de elaboração dos programas, da metodologia utilizada na difusão das práticas e na abrangência das ações preconizadas. Quanto a elaboração, quase sempre fruto de políticas governamentais concebidas sem uma “competente” percepção, análise e interpretação por parte dos planejadores da complexidade do problema erosão, que era associado basicamente a um processo físico, buscando essencialmente o controle das conseqüências. A abordagem não envolvia uma visão sistêmica, especialmente quanto as causas e, muito menos, do envolvimento e reconhecimento do ser humano como parte do processo. Desta forma, os programas eram dessincronizados das reais necessidades e aspirações dos agricultores e, acima de tudo, da compreensão da complexidade do problema erosão, em que o ser humano era encarado apenas como um espectador. Segundo D’AGOSTINI (1995), não basta conhecer o objeto, mas principalmente compreender as propriedades de suas interfaces com o meio, do qual somos parte; o campo de interesse já não é caracterizado por demarcações de conteúdo, mas pelas relações entre esses, as dimensões não mais se referem à forma, mas principalmente ao processo; (...). Com respeito à metodologia, que era utilizada para difundir as práticas previstas, valorizava sobremaneira a concepção dos técnicos, notadamente conservacionista, em detrimento à visão que o agricultor tem sobre as questões relacionadas com a conservação dos solos. Por outro lado, a abrangência das ações propostas era por demasiado restrita, visto que se limitava às áreas de lavoura e a práticas isoladas. As práticas concebidas para atacar o problema da erosão não compreendiam uma visão sistêmica, desconsiderando, assim, que os fenômenos climáticos não tem ação restrita, o que normalmente implica uma necessária integração de
  • 35. 22 efeitos de práticas. O que acontecia era a difusão de práticas individualizadas e não um sistema completo de manejo dos solos, que prevê a interação de um conjunto de práticas, adequadas para cada situação particular. Percebe-se claramente que a baixa efetividade dos programas de conservação do solo desenvolvidos sempre foi creditada a problemas estruturais, de conscientização e metodológicos. A preocupação maior sempre foi com os resultados quantitativos, em termos de área conservada. Era proposta uma metodologia que previa obter estes indicadores, que tinha como fundamentação a difusão pura das práticas conservacionistas. Como os resultados eram cobrados dos executores no âmbito do município, os extensionistas rurais, sobre os quais era exercida uma forte supervisão, de cujos resultados era feita sua avaliação de desempenho, partiam em busca de resultados, não se preocupando com a forma pela qual iriam obtê-los. Para isso, os extensionistas muitas vezes se valiam de artifícios, no seu entendimento eficazes e válidos, como os de privilegiar a assistência aos produtores mais receptivos a inovações. Isso levava a que todos os programas beneficiassem praticamente sempre os mesmos produtores, que se concentravam numa faixa de público relativamente pequena. Desta forma, uma parte expressiva dos produtores rurais não tinha acesso às inovações, tornando-se excluídos do processo. O resultado, então, era de que a abrangência dos programas se restringia à área daquelas propriedades que recebiam assistência, que basicamente era a mesma de programas anteriores. Outro fator de forte influência nos resultados era a metodologia usada. Por se concentrar demasiadamente em práticas isoladas, tanto os extensionistas como os produtores não tinham visão sistêmica do processo erosivo. Com isso, os resultados não eram eficazes, resultando, muitas vezes, no abandono das práticas. Para a difusão das práticas era essencialmente usado o modelo difusionista de Rogers, que consiste, conforme já descrito, em três componentes: antecedentes, processo e conseqüências, sendo que o processo, por sua vez, é composto de quatro estágios: conhecimento, conscientização, decisão e confirmação.
  • 36. 23 A ação extensionista encontrou inúmeras dificuldades como processo, especialmente pela falta da percepção de que os estágios nem sempre serem distintos e discretos no processo de adoção, nem serem seguidos por todas as pessoas em seu processo de tomada de decisão ou mesmo não serem os mais apropriados, representando tão somente uma maneira de descrever uma seqüência relativamente contínua de ações, acontecimentos e influências, que intervém entre o conhecimento inicial sobre a inovação e sua real adoção. Emergem, assim, relações que permitem se levantar a questão de que a não adoção das práticas de conservação do solo, preconizadas pelos técnicos, se dá porque aquelas práticas não representam, em seu conteúdo, ou não atendem na forma como operam, as prioridades do produtor. Pelos estágios do processo de decisão individual, no que tange a conservação do solo, tendo em vista o grande número de programas nesta área já executados, pode-se inferir que a maior parte dos agricultores já tem o “conhecimento” do processo erosivo. De uma forma ou de outra, não se pode certamente refutar que o produtor, ao menos em parte, tenha conhecimento da ocorrência da erosão, se não em sua propriedade, ao menos nas áreas adjacentes. Com as informações que possui, o agricultor normalmente tem condições técnicas de tomar uma decisão sobre a implantação ou não das práticas. Onde, então, reside a falha no processo que levou produtores a não adotarem a conservação do solo na escala desejável? E o que motivou os que adotaram? O que certamente carece de maior atenção é a questão referente a “conscientização” com respeito a todas as implicações e relações envolvidas no processo erosivo e suas conseqüências. Segundo D’AGOSTINI (1995), para controlar certos processos em que o homem participa de alguma forma, não basta conhecer os procedimentos tecnicamente mais eficazes, e muito menos aqueles suficientes. O controle da erosão não é um fim, mas um meio, quando não uma mera e eventual conveniência, na operacionalização de outras ações de interesse. Significa dizer, que as dificuldades em controlar a erosão vão muito além do saber fazer com eficácia técnica. A ação humana nunca é isenta de critérios e, assim, a real importância de controlar a erosão resulta ajustada a uma escala de prioridades,
  • 37. 24 determinada por complexas relações de valores, que não necessariamente precisam ser compreendidas para que possamos reconhecer a medida tecnicamente mais eficaz no controle da erosão. Porém, sem compreender a significação dessas relações, não compreenderemos porque em muitos casos não implementamos o que já sabemos ser eficaz. A questão, dessa forma, transcende a questões de ordem técnica, tendo em vista que as práticas de manejo do solo objetivando o controle da erosão e a manutenção de sua capacidade produtiva são amplamente conhecidas e apresentam-se possíveis em uma variada forma. A proposta do presente trabalho, tomando por base os quatro estágios (conhecimento, conscientização, decisão e confirmação), está em verificar e procurar entender a lógica do processo decisório do agricultor em cada um dos estágios, com o pressuposto de que a tomada de decisões se dá a partir de uma lógica baseada em componentes de ordem econômica, operacional e ambiental. Cada um destes componentes será analisado individualmente mais adiante, em capítulo específico, em que serão discutidas as implicações de cada um no processo de tomada de decisão visando a adoção de práticas de conservação do solo. Assim, procuramos identificar quais destes fatores são preponderantes quando o agricultor adota ou rejeita as práticas de conservação do solo propostas.
  • 38. 25 3. O PROCESSO DECISÓRIO Há um conflito que persiste enquanto o ser humano se defronta com múltiplas opções para tomar uma decisão acerca de um comportamento que deverá ter sobre determinada questão. Segundo D’AGOSTINI et al. (1994), no complexo sistema de relações de valores que determinam a destinação de uso e manejo do solo agrícola por parte do produtor, os critérios12 vão do edafológico ao financeiro, passando inclusive pelo grau de comodidade ergonométrica do esforço muscular. A influência dos valores sociais são determinantes da atitude e uma das mais fortes motrizes da evolução das culturas. A predisposição para agir de acordo com certa dinâmica dos valores sociais manifesta-se de diferentes modos, tomando como ponto de partida as atitudes mentais que refletem as formas de pensar e de se sentir susceptível a determinada ação. Como as atitudes mentais não se igualam em todos os grupos ou estratos de uma sociedade diversificada, o que vem à superfície são as atitudes sociais, que desempenham funções específicas para cada um de nós, ajudando-nos a formar uma idéia mais estável da realidade em que vivemos. De acordo com CEPAL (1982), os valores e conceitos sociais preestabelecidos são frutos e condicionantes do que, em termos gerais, se denomina cultura. Assim, estes valores podem ser expontâneos, impostos ou induzidos à sociedade, condicionando sua conduta. Por outro lado, se o desenvolvimento destes valores é fruto da expressão intrínseca do grupo, determina, mais freqüentemente, a cultura que a comunidade quer desenvolver. Numa comunidade combinam-se, em maior ou menor grau, ambas as situações. O homem age, normalmente, de acordo com os valores vigentes. Este comportamento envolve componentes dos mais variados significados e origens. O comportamento do produtor tem por base a conjugação de uma série de fatores, os quais deve considerar em suas decisões. Estes fatores dizem 12 Critério: o que serve de norma para julgamento ou apreciação. Modo de apreciar. Princípio que permite distinguir o erro da verdade.
  • 39. 26 respeito à sua condição e aos objetivos pelos quais desenvolve suas atividades. Assim, certamente um produtor que tem por objetivo basicamente a subsistência de sua família, terá como base de suas decisões fatores bastante distintos daqueles de um produtor que tem por objetivo obter altas taxas de retorno do capital investido. O mesmo pode ser dito a respeito dos fatores que determinam o comportamento do produtor frente a adoção ou rejeição de práticas de conservação do solo. Uma gama extremamente variada de fatores está implicada neste seu comportamento, mas para o presente estudo nos ateremos aos componentes de ordem econômica, operacional e ambiental. 3.1. Fatores de ordem econômica Para CEPAL (1982), a incerteza a que estão sujeitos os ganhos que podem derivar das opções de aplicação do capital são incorporadas pelo produtor no processo de tomada de decisões como funções de probabilidade que lhe impulsionam a buscar, pelo menos, uma certa proporcionalidade entre o ganho e o risco. No caso do produtor de subsistência, sua vulnerabilidade aos efeitos de um resultado adverso é tão extrema que sua conduta é guiada por uma espécie de "algoritmo de sobrevivência", que o leva a evitar os riscos quaisquer que sejam os ganhos potenciais que se derivariam de correr estes riscos (CEPAL, 1982). A forma como os riscos são internalizados e pelas incertezas, da mais variada ordem, enfrentadas pela atividade agrícola, são alguns dos fatores de que se pode valer para procurar explicar a relutância do produtor em não querer modificar seus métodos de cultivo, mesmo que as alternativas possam vir a proporcionar ganhos adicionais. Para que o produtor venha a efetuar mudanças no sistema produtivo, principalmente pela adoção de práticas até então rejeitadas, é necessário que as novas tecnologias representem a possibilidade de proporcionarem uma redução nos riscos a que a agricultura está sujeita. A proposição de novas metodologias deve estar revestida de significados claramente identificáveis pelo produtor, no sentido de que ele possa ter segurança de que as alterações introduzidas em seu sistema
  • 40. 27 produtivo, através da adoção de novas práticas, venham a lhe proporcionar ganhos adicionais. A maior parte das ações humanas parece ser comandada por interesses de caráter econômico, principalmente se este manifestar evidência real de proporcionar diminuição nos riscos a que as ações estão sujeitas e aumento nos ganhos advindos dessas ações. Para SCHULTZ (1965), o comportamento dos agricultores é governado por uma racionalidade segundo a qual eles se orientam com o objetivo de maximizar seus lucros e minimizar seus custos na exploração dos recursos disponíveis. No caso da agricultura, e mais especificamente da pequena propriedade, que é a base da estrutura fundiária de Santa Catarina, em que o caráter de subsistência se manifesta mais intensivamente, o produtor procede de forma a não colocar em risco a segurança de sua família. Com isso, pelas particularidades próprias da agricultura, a decisão de introduzir novas tecnologias embute conceitos nem sempre percebidos pelos técnicos, sejam planejadores ou executores. Assim, a argumentação para motivação do produtor para a adoção de novas tecnologias deve estar revestida de significados que estejam em consonância com sua lógica comportamental. No processo de tomada de decisões objetivando introduzir novas práticas em seu sistema produtivo, o agricultor considera os seguintes aspectos, entre outros e não obrigatoriamente nesta ordem, dentre os fatores de caráter econômico:  aumento na renda;  aumento nos custos de produção;  diminuição nos custos de produção e;  aumento na produtividade. Quanto ao aumento da renda, este é o fator de que os técnicos mais se valem para procurar mostrar aos produtores os benefícios econômicos resultantes caso venham a adotar as tecnologias que estejam propondo. Mas ele por si só tem pouca significação, pois para que tal situação ocorra pode haver a necessidade de aumento no aporte de recursos financeiros, implicando que no final do processo as taxas de retorno sejam menores, ou seja, o
  • 41. 28 produtor necessitou investir maiores volumes de recursos para obter menores rendimentos líquidos. Tendo em vista a situação em que se encontra o produtor com relação à descapitalização e à pouca disponibilidade de recursos, a possibilidade de redução nos custos de produção, mesmo que isto venha a ocorrer no longo prazo, é uma das questões que mais explicitamente pode provocar mudanças no comportamento decisório, especialmente se a redução nos custos de produção estiver aliada à possibilidade de proporcionar ganhos adicionais de produtividade e, conseqüentemente, de renda. Isso pode ser claramente compreensível, pois essa condição diminui as taxas de risco a que o produtor está sujeito. O aumento da produtividade como fator motivador desperta interesse no produtor na medida em que ele consiga vislumbrar aumentos nos rendimentos finais, especialmente se este fator for obtido com uma diminuição nos custos de produção. Para SCHULTZ (1965) em sua obra Transformação da Agricultura Tradicional, no que se refere a sua racionalidade econômica, as propriedades familiares, e neste conceito se enquadram praticamente todas aqueles que constituem o universo de estudo e obtenção de informações para o presente trabalho, a exemplo da maioria das propriedades rurais de Santa Catarina, operam em moldes tais que nada as diferenciam de uma empresa. É perfeitamente legítimo que abstraia-se todo o conteúdo cultural e até psicológico envolvendo a ação dos indivíduos: seu resultado traduz a conduta maximizadora de lucros. O agricultor não só é capaz de utilizar seus insumos de maneira a obter a maior quantidade possível de produto, mas, mais que isso, essa operação leva em conta o nível relativo dos preços, de maneira a minimizar os custos e ou maximizar os resultados da produção. Isso quer dizer que o agricultor comporta-se de maneira eficiente não só do ponto de vista técnico, mas também alocativo. Já LIPTON (1968), citado por ABRAMOVAY (1992), vê na lógica econômica do agricultor o contrário do que é entendido por Schultz: não há busca do lucro, mas há aversão ao risco. Neste sentido, é claro que os agricultores não optam por maximizar seus lucros em situações em que ganhos adicionais seriam eventualmente possíveis, se houver em torno destes
  • 42. 29 ganhos adicionais um risco de perdas que impliquem uma ameaça de redução da produção aquém da subsistência. 3.2. Fatores de ordem operacional Para CALDAS (1964), tem-se como certo que o fator humano, com sua psicologia e natureza própria, constitui fator decisivo capaz de impedir ou de facilitar a propagação das soluções encontradas. De acordo com FRANKLIN (1968) apud CEPAL (1982), o objetivos do produtor, especialmente no caso das propriedades familiares, como é o caso da maioria da propriedades em Santa Catarina, são, em primeiro lugar, de caráter familiar, aí incluídas as questões inerentes ao trabalho dos membros da família, e secundariamente econômicos, visto que seu propósito é maximizar a força de trabalho mais do que o lucro ou outro indicador de eficiência. De acordo com SILVA (1981), existe uma estreita vinculação entre a relação de trabalho e o nível de tecnologia utilizado nas propriedades agrícolas. ABRAMOVAY (1992), analisando estudos desenvolvidos por CHAYANOV (1926/1985), assinala que não é o estudo de sua inserção na divisão social do trabalho e o papel que aí ele desempenha que explicam o comportamento do agricultor: ao contrário, é pelo estudo de seu comportamento que se pode compreender a maneira como ele se insere socialmente. Em outras palavras, o mercado, a disponibilidade de terras e o padrão tecnológico disponível são fatores dos quais ele se serve na montagem de seu objetivo econômico fundamental, mas não explicam por si só este objetivo e, portanto, a conduta do agricultor. ABRAMOVAY (1992) vai além: a lei básica de existência camponesa pode ser resumida na expressão "balanço entre trabalho e consumo", que de acordo com CHAYANOV (1925/1986: 271-277) é definida como "o cálculo, não necessariamente explícito ou consciente, que estabelece o equilíbrio econômico básico entre a penosidade do trabalho e a satisfação econômica. O objetivo econômico principal é organizar o ano de trabalho para atender a demanda da família, até mesmo o desejo de poupar ou investir capital, se possível". O importante é que tanto a satisfação das necessidades de
  • 43. 30 consumo, como o julgamento sobre a penosidade do trabalho de atingi-la são de natureza estritamente subjetiva. O valor que a família atribui a seu esforço - e que explica o volume da atividade econômica - depende da estimativa que é feita do trabalho, relativamente à satisfação das necessidades de consumo. Em outras palavras, trata-se de determinar a utilidade marginal da renda obtida, relativamente às necessidades de consumo, pois é isso que permite “estabelecer a natureza da motivação da atividade econômica da família camponesa (CHAYANOV, 1925/1986 apud ABRAMOVAY)”. Ainda de acordo com ABRAMOVAY (1992), o que determina o comportamento do agricultor não é o interesse de cada um dos indivíduos que compõem a família, mas sim as necessidades decorrentes da reprodução do conjunto familiar. Para ele, a intensidade do trabalho agrícola não é determinada por sua relação com outros setores, mas fundamentalmente pela razão entre a penosidade dos esforços empreendidos, relativamente à satisfação de suas necessidades. É da relação entre a penosidade do trabalho e a satisfação das necessidades que vai depender a escolha da família com relação a comercialização de sua produção, ao uso de financiamentos ou ao uso de insumos de origem industrial. A aplicação de capital não depende apenas do fato de que esse capital pode reduzir a penosidade do trabalho, mas sobretudo dos impactos que os gastos de investimentos terão sobre o consumo familiar e dos usos alternativos da capacidade de trabalho poupada. Se o investimento de capital significar gasto de dinheiro visando a redução de esforços sem que isso se traduza num aumento da renda bruta familiar, ou de maneira a provocar uma ociosidade do trabalho, cuja utilização teria a virtude igualmente de aumentar a renda bruta, mesmo sem provocar gastos com compra de equipamentos, o investimento não será feito. Na concepção de SCHULTZ (1965), segundo ABRAMOVAY (1992), plantar mais, por exemplo, é uma decisão que leva em conta fundamentalmente a produtividade marginal dos fatores: o investimento no trabalho é feito com base na melhor combinação possível dos fatores, de forma que um trabalho adicional e que represente esforço com retorno insuficiente não será realizado; da mesma forma, é impensável que o agricultor deixe de esforçar-se para alcançar a situação ótima que, no quadro dos recursos por ele
  • 44. 31 disponíveis, pode atingir. Num momento em que não eram poucas as teses que atribuíam a pobreza à preguiça ou à ignorância, Schultz aponta para um comportamento absolutamente racional. A mesma linha de raciocínio pode ser utilizada com relação à adoção de práticas de conservação do solo. Estas somente serão aceitas pelos produtores à medida em que proporcionarem conforto em suas atividades, redução no esforço despendido, bem como possibilitarem ganhos adicionais de renda. Nenhuma prática, por mais eficaz que possa ser no controle do processo erosivo, será adotada somente por essa eficácia. O agricultor deverá perceber nelas, as práticas conservacionistas, vantagens além daquelas ocasionadas pelo objetivo com que foram implantadas, ou seja, além de controlarem a erosão, precisarão implicar, mesmo que subjetivamente, vantagens econômicas, operacionais, entre outras. 3.3. Fatores de ordem ambiental De acordo com D’AGOSTINI (1995), a preservação do meio vem adquirindo uma importância crescente no sistema de relações que determinam o comportamento humano. Contudo, segundo ele, o preservacionismo não é o único e, por enquanto, nem o mais determinante critério na objetivação de valores que inspiram e movem o homem no uso do solo agrícola. Os fatores relacionados com a preservação das características do meio no qual o agricultor desenvolve suas atividades tornam-se cada vez mais relevantes no processo de tomada de decisões. Isso, para REIJNTJES et al. (1994), se deve principalmente a uma crescente consciência do impacto das ações que provocam danos ao meio por parte do produtores, bem como à mudanças das preocupações e das ações dos Governos, das Organizações não Governamentais e das pessoas, mais voltadas agora para um desenvolvimento sustentável, com iniciativas que visam desenvolver políticas e tecnologias que promovam a sustentabilidade agrícola. Os problemas ambientais são devidos, na maior parte, à exploração excessiva e inadequada do solo, à ampliação, sem os cuidados devidos, das áreas cultivadas, ao uso excessivo e indiscriminado de insumos químico-
  • 45. 32 sintéticos, principalmente pesticidas e fertilizantes, para citarmos apenas alguns. Com isso, os solos estão apresentando uma degradação em sua fertilidade, áreas irrigadas encontram-se com sérios problemas de salinização, áreas significativas apresentam problemas de poluição e contaminação por resíduos dos produtos químicos utilizados, além de várias regiões apresentarem-se com sérios problemas com relação à água, seja pela sua escassez ou poluição, tornando-a inviável para o uso. Em função disso, os produtores passam a considerar os fatores de ordem ambiental como sendo cada vez mais significativos. A valorização de aspectos mais sustentáveis de produção, que procuram respeitar os fenômenos naturais, como a produção de matéria orgânica, a ciclagem de nutrientes, a criação de reservatório de nutrientes no solo, a proteção natural contra pragas e doenças e o controle da erosão (REIJNTJES et al., 1994), estão passando a fazer parte dos sistemas de manejo das culturas, como forma de proporcionar a continuidade e a estabilidade da produção e da própria atividade agrícola. Com isso, as relações de produção estão se modificando, deixando a agricultura de ser somente uma atividade exploratória e extrativista e o solo visto como mero suporte para as plantas, para se tornar uma relação de troca, em que o solo responde com produções mais estáveis, de melhor qualidade e contínuas na mesma proporção que o produtor procura respeitar a ordem natural dos processos que nele ocorrem. Dessa forma, as características e implicações ambientais envolvidas no processo decisório tornam-se cada vez mais valorizadas e observadas, com sua importância devida tendo significação nas atitudes dos produtores.
  • 46. 33 4. ÁREA DE ESTUDO O presente trabalho teve como base geográfica a região do Alto Vale do Itajaí, integrante da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açú, Estado de Santa Catarina (Figura 1). A seleção da região do Alto Vale do Itajaí foi feita considerando-se os seguintes aspectos: 1. localização geográfica: relativa proximidade com Florianópolis, o que permitiu maior agilidade na realização das entrevistas com os produtores e a coleta dos demais dados de campo necessários; 2. desde 1984 ter participado das primeiras experiências na utilização da microbacia hidrográfica como unidade de planejamento desenvolvidas no Estado, ter participado do Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas (PNMH), que se iniciou em 1987 e, a partir de 1991, estar participando do Projeto de Recuperação, Conservação e Manejo dos Recursos Naturais em Microbacias Hidrográficas - Projeto Microbacias/BIRD, o que permite supor uma maior intensidade das ações dos técnicos com relação a difusão de práticas de conservação do solo, em praticamente todos os municípios da região; e 3. dados do Relatório de Atividades do Projeto Microbacias/BIRD, atestam que são desenvolvidas e aplicadas nas microbacias da região práticas de conservação do solo como cobertura vegetal, práticas mecânicas (terraço, cordões de contorno) e práticas de preparo conservacionista (plantio direto, cultivo mínimo e preparo reduzido). 4.1. Breve Histórico da Região A colonização do território catarinense processava-se, no curso do século XVIII, em direções paralelas, pelo Litoral e Planalto, sem ligação entre elas. No Litoral, os estabelecimentos vicentistas e açorianos haviam distribuído a população entre si, que se comunicava por mar ou por caminhos em que, não
  • 47. 34 raro, o mar completava a estrada. A Oeste, a Serra do Mar se erguia como uma barreira. As dificuldades de vencer a escarpa do planalto obrigava o uso da estrada para Tubarão, no Sul do Estado, construída em 1771. Necessidades militares de defesa do Desterro (atual Florianópolis), levaram as autoridades a procurar uma ligação direta com Lages, vencendo a Serra do Mar e, após, a Serra Geral, disseminando a população ao longo dessa estrada (atual BR-282). O estabelecimento dos imigrantes alemães, que iniciaram a Colônia Blumenau em 1850, aumentou o povoamento do Litoral ao norte da Capital da Província. Com o desenvolvimento desta, se fez sentir a necessidade de novas comunicações com o Planalto. Em 1863, o engenheiro Emílio Odebrecht, da Colônia Blumenau, subiu o Rio Itajaí Açu até a confluência dos rios Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste. Essa primeira expedição não produziu nenhum fruto além do conhecimento do território. No ano seguinte, o mesmo engenheiro, tendo feito uma expedição a Lages e Curitibanos, obteve os elementos necessários para proceder a exploração de um “picadão” que ligasse Blumenau a Curitibanos. Somente em 1867 Emílio Odebrecht tornou a passar pelo território de Rio do Sul, deixando a “picada” que durante muitos anos foi a única ligação de Blumenau com o Planalto. A história da penetração dos colonos de Blumenau confunde-se com a das estradas de rodagem atuais. A estrada que, de Blumenau, subia o Itajaí Açu, alcançou Lontras em 1894 (atual BR-470). As outras correntes de povoamento surgiram em 1910, com a construção da estrada de Barracão (atual Alfredo Wagner), pelo vale do Rio Itajaí do Sul, e em 1919 e 1921 com as estradas de Lages e Taió. Nessa época, ofereciam mais probabilidades de se tornarem cidades os povoados que se formaram nas barras dos rios Lontras e Matador do que na união dos braços dos rios Itajaí do Sul e do Oeste. Toda a região era uma parte da vasta zona agrícola do distrito de Indaial, não havendo qualquer traço de urbanização.
  • 48. 35 A partir de 1920, com a contratação de numerosas rodovias e a concessão de terras devolutas para colonização por parte do Governo do Estado, houve significativo aumento da população; atraídos pelo trabalho, os colonos de origem italiana do Sul do Estado motivaram-se em se estabelecer em núcleos. Nos anos 30, com a implantação da Estrada de Ferro Santa Catarina, serrarias foram estabelecidas, consolidando o ciclo madeireiro, dando origem a um novo tipo de povoação, nascida do desenvolvimento do comércio e da indústria. Bela Aliança, vivendo do comércio mantido pelos colonos, impôs-se às demais localidades da região, por ser o centro de abastecimento de uma zona mais povoada, cuja população se estabelecera às margens dos três rios ali existentes: Trombudo, Itajaí do Sul e Itajaí do Oeste. A nova situação política, pela promoção de Bela Aliança a sede do município, com o nome de Rio do Sul, acabou por alterar-lhe a estrutura, que deixou de ter o mesmo quadro apresentado pelos povoados e vilas, para tornar-se a cidade pólo da região, que hoje congrega todos os municípios da região denominada Alto Vale do Itajaí (FECAM/AMAVI, 1992). 4.2. Situação Geral da região do Alto Vale do Itajaí A região do Alto Vale do Itajaí situa-se entre os paralelos 26º34' (latitude norte) e 27º41' (latitude sul); 49º28' (longitude leste) e 50º26' (longitude oeste) (Figura 1). Possui uma área de 6.837 km2 , compreendendo 7,17% da área do Estado de Santa Catarina (FECAM/AMAVI, 1992), agrupados em 24.626 propriedades agrícolas. Conforme é apresentado na Tabela 3, percebe- se a predominância de pequenas propriedades, sendo que 60,63% possuem área inferior a 20 hectares, ocupando somente 38,02% da área agrícola total. A população da região é de 224.361 habitantes, dos quais 112.024 (49,93%) habitam o meio urbano e 112.337 (50,07%) o meio rural (IBGE, 1991). Segundo Köeppen, o clima da região classifica-se parte como mesotérmico úmido, sem estação seca, com verões quentes (clima Cfa), nas áreas de cotas altimétricas inferiores a 700 metros, e parte como Cfb
  • 49. 36 (mesotérmico úmido com verão ameno), nas áreas de cotas altimétricas superiores a 700 metros, apresentando temperatura média anual de 18ºC e taxa de precipitação anual variando de 1.600 a 1.800 mm. A Tabela 4 apresenta os dados de temperatura e precipitação referentes a Estação Agroclimática da Epagri de Ituporanga (latitude 27º22' S; longitude 49º35' W; altitude 475 metros) e do Posto Pluviométrico de Salto Grande, Ituporanga (latitude 21º24'S; longitude 49º36'W; altitude de 370 metros). O sistema de drenagem da vertente do Atlântico compreende uma área de aproximadamente 35.298 km2 , ou seja, 37% da área total do Estado, onde se destaca a Bacia do Itajaí com aproximadamente 15.500 km2 . Essa bacia conta com três grandes tributários (Rio Itajaí do Norte ou Hercílio, Rio Itajaí do Oeste e Rio Itajaí do Sul), e possui, ainda, um grande afluente, o Rio Itajaí Mirim, sendo a maior bacia inteiramente catarinense. A região do Alto Vale do Itajaí compreende em torno de 44% dessa bacia. O relevo que constitui essa unidade geomorfológica apresenta grandes variações altimétricas. As maiores cotas estão no sudeste da área e correspondem aos topos da Serra da Boa Vista, que atingem 1.220 metros. A leste dessa Serra, as cotas decaem e, assim, no limite do Planalto de Lages tem-se cotas em torno de 700 metros. As menores altitudes estão nos vales dos rios, como por exemplo na cidade de Rio do Sul, às margens do Rio Itajaí do Sul, que está a 350 metros de altitude. Também é grande o desnível entre os interflúvios (900m) e a calha do Rio Itajaí do Norte (400m). No que diz respeito aos solos, existe uma grande diversidade na região, sendo que os predominantes são: a) gley: solos álicos e distróficos, relevo plano, necessitam de drenagem para uso agrícola, pouco profundos, bom potencial para a cultura do arroz irrigado; e b) cambissolos: álicos e distróficos, predominam em relevo ondulado e forte ondulado Quanto a distribuição dos estabelecimentos agrícolas por área de lavoura, constata-se a predominância das pequenas unidades de produção, pois 83,08%, ou 18.621 propriedades cultivam áreas inferiores a 10 hectares, conforme é mostrado na Tabela 5.
  • 50. 37 No tocante a utilização das terras agrícolas da região, as áreas com lavouras ocupam 37,37%, as pastagens 31,51%, as matas e florestas naturais e plantadas 25,53%, sendo que 5,59% da área não é utilizada, demonstrando uma larga utilização dos solos para as atividades agropecuárias (Tabela 6). A região do Alto Vale do Itajaí tem na agropecuária uma das suas principais atividades econômicas, destacando-se as culturas do fumo, milho, cebola, mandioca e arroz irrigado como as mais representativas, assim com a produção de leite (Tabelas 7 e 8) Quanto a condição de posse da terra, a região apresenta 69,99% dos produtores como proprietários, que ocupam 84,96% da área total; 7,17% de arrendatários, com 4,09% da área; 10,18% classificados como parceiros com 4,30% da área e 12,66% ocupantes com 6,65% da área (Tabela 9). No que diz respeito a conservação dos solos, conforme diagnóstico realizado pela Epagri (1996c), a região apresenta um quadro bastante preocupante, tendo em vista caracterizar-se por apresentar uma topografia muito acidentada. Associado a essa condição, os tipos de solos predominantes são, na sua maioria, originários de rochas sedimentares, bastante suscetíveis a erosão. Cultivos expressivos como os de cebola e mandioca, pelo fato de serem culturas que proporcionam baixos índices de cobertura do solo, potencializam os problemas de erosão e conseqüente degradação do solo. O uso intensivo do solo, aliado ao manejo inadequado que foi e ainda continua sendo praticado nos sistemas convencionais, tem ocasionado sérios danos à capacidade produtiva dos solos. Em grandes áreas já se perderam, principalmente pela erosão, mais de 15cm da camada de solo (horizonte A). O problema da formação de camadas compactadas do solo13 é generalizado em toda a região, tendo, com isso, alterações significativas na estrutura física dos solos. Além da destruição da estrutura física do solo, os níveis de matéria orgânica tem diminuído expressivamente, chegando a índices críticos, abaixo de 1%, o que praticamente inviabiliza o uso desses solos para a agricultura. 13 Camadas compactadas do solo: camadas internas do solo, adensadas, que se formam pela ação compactadora de máquinas e implementos agrícolas, especialmente quando o solo é cultivado em condições não adequadas de umidade, afetando a livre circulação de ar e água e impedindo o desenvolvimento normal das raízes das plantas.
  • 51. 38 O sistema de cultivo dos solos, por tradição, implica em seu revolvimento, preparo do leito para semeadura e manutenção das culturas livres de qualquer concorrência de outras plantas. Esse sistema de cultivo, denominado convencional, leva ao uso de máquinas e equipamentos pesados, com inúmeras operações, além de ser altamente dependente de insumos químicos industriais. Este quadro tem se refletido na queda gradual da capacidade produtiva dos solos da região, implicando no uso cada vez maior de fertilizantes minerais e corretivos como forma de manter a produtividade das lavouras, porém com elevação considerável nos custos de produção.
  • 52. 39 Figura 1. Localização da área de estudo
  • 53. 40 Tabela 3. Estrutura fundiária da região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1996 ÁREA (ha) PROPRIEDADES % * ÁREA % * 0,0 - 9,9 8.207 33,33 33,33 56.583 9,98 9,98 9,9 - 19,9 6.724 27,30 60,63 102.441 18,06 28,04 20,0 - 49,9 7.479 30,37 91,00 209.679 36,98 65,02 50,0 - 99,9 1.138 4,62 95,62 74.890 13,21 78,23 100 - 499,9 1.014 4,12 99,74 71.648 12,63 90,86 > 500,0 64 0,26 100,00 51.840 9,14 100,00 TOTAL 24.626 100,00 - 567.081 100,00 - Fonte: Epagri - 1996c * Acumulado Tabela 4. Normais climáticas para a região do Alto Vale do Itajaí - SC MESES TEMP. MÉDIA (ºC) MÉDIA TEMP. MÁXIMA (ºC) MÉDIA TEMPERATURA MÍNIMA (ºC) PRECIPITAÇÃO TOTAL (mm) PRECIPITAÇÃO MÁXIMA 24 h (mm) DIAS DE CHUVA (n.º) Jan. 22.6 29.6 18.8 151.4 104.7 12.1 Fev. 22.3 28.9 18.1 157.0 105.5 12.6 Mar. 21.8 28.9 17.4 125.3 67.1 10.9 Abr. 19.4 25.4 15.3 89.4 72.2 7.9 Maio 14.6 20.7 10.8 93.6 91.0 8.2 Jun. 12.3 18.8 8.2 96.3 84.3 8.8 Jul. 11.9 18.8 7.4 11.5.7 119.5 8.7 Ago. 14.1 20.6 9.8 128.7 102.5 9.0 Set. 15.5 21.2 11.9 148.4 72.2 11.3 Out. 18.0 24.1 13.8 135.2 95.7 10.9 Nov. 20.4 27.0 15.7 101.1 56.7 8.6 Dez. 22.1 28.9 17.5 134.7 100.2 10.0 ANO 17.9 33.5 13.7 123.0 - 9.9 TOTAL - - - 1.477 - 119.0 Fonte: Epagri - 1996c
  • 54. 41 Tabela 5. Número de estabelecimentos por áreas de lavoura - região do Alto Vale do Itajaí - SC - 1985 ÁREA (ha) ESTABELECIMENTOS * % * < 1,0 765 765 3,41 3,41 1,0 - 2,0 1.291 2.065 5,76 9,17 2,0 - 5,0 7.781 9.837 34,72 43,89 5,0 - 10,0 8.784 18.621 39,19 83,08 10,0 - 20,0 3.284 21.905 14,65 97,73 20,0 - 50,0 487 22.392 2,17 99,90 50,0 - 100,0 21 22.413 0,10 100,00 TOTAL 22.413 - 100,00 - Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 * Acumulado Tabela 6. Utilização das terras agrícolas no Alto Vale do Itajaí - SC USO NÚMERO ÁREA * % * Permanentes 11.620 2.023 0,45 Lavouras Temporárias 22.288 138.208 31,02 Em descanso 6.819 26.293 166.524 5,90 37,37 Pastagens Naturais 16.092 95.440 21,42 Plantadas 5.296 44.973 140.413 10,09 31,51 Matas e Naturais 12.549 100.693 22,60 florestas Plantadas 2.882 13.048 113.741 2,93 25,53 Não utilizadas** - 6.090 24.921 24.921 5,59 5,59 TOTAL - - 445.599 445.599 100,00 100,00 Fonte: IBGE - Censo Agropecuário 1985 * Acumulado ** terras produtivas não utilizadas