2. A SEXUALIDADE ATRAVÉS DOS
TEMPOS
• Nos primórdios da civilização, segundo as teorias de ENGELS (1982), as
atividades sexuais eram livres entre homens e mulheres, sem que isso
tivesse uma conotação de promiscuidade.
• Essa forma de relacionamento livre se modifica em consequência do
acúmulo de bens nos clãs, surgindo as primeiras propriedades privadas, o
relacionamento sexual passa a ser exercida por um casal, para que seus
filhos legítimos pudessem herdar os bens desse clã.
• Nessa forma de organização familiar, o sexo passa a ter como objetivo a
reprodução; as mulheres se tornam submissas aos maridos, a quem se
mantêm fiéis sexualmente; o mesmo não ocorre com os homens que
podiam manter atividades sexuais fora do casamento.
3. • Os Tabus e Mitos surgem a fim de estabelecer limites ao sexo. Quanto a
masturbação, sexo anal e homossexualismo originaram-se exatamente
por não se tratarem de atividades procriativas, pondo em risco a
perpetuação da espécie, esses mitos surgiram numa época em que a
sobrevida do ser humano girava em torno dos 30 anos e havia
necessidade de homens para as guerras, lavouras e para o trabalho.
• COSTA (1986), ressalta que a sexualidade dentro da concepção religiosa é
carregada de tabus que afetam a maneira de se encarar a sexualidade, e o
primeiro deles refere-se ao “pecado“ de Adão e Eva, a partir do qual, tudo
o que diz respeito ao relacionamento sexual está ligado a um sentimento
“de vergonha”. Esta tem sido uma forma de os homens viverem a
sexualidade de maneira reprimida. (a partir do século XVI).
4. A SEXUALIDADE NO BRASIL
• Na sociedade brasileira, em virtude da influência portuguesa em nossa
colonização, a sexualidade dentro do casamento era patriarcal (e só se
admitia o desejo e o prazer sexual do homem fora do lar), amplamente
apoiado pela Igreja Católica, para combater o concubinato o (forma de
união predominante nas camadas rurais e populares).
• Esse esquema se manteve estável até meados da década de 50, quando
se desencadeou, na Europa, o “movimento beat” com reflexos no Brasil.
Esse movimento, representando uma contestação dos jovens ao modelo
social vigente, trazia em seu bojo a “revolução sexual”, pregando uma
nova concepção de sexo desvinculado de compromisso, o uso de drogas e
novos hábitos de vestir e falar.
5. • Na década de 60, segundo SALES (1988), um outro movimento
começa a tomar vulto, o “movimento hippie”, que surgiu como uma
grande esperança de derrubada de muitos mitos políticos, culturais,
sociais e entre eles os sexuais, como o da virgindade e da
superioridade masculina.
• Novos conceitos começam a ser discutidos como o direito ao prazer
sem restrição, a liberação sexual da mulher através da pílula
anticoncepcional e a produção, em larga escala, de revistas
pornográficas.
• O homem, apesar de acreditar no seu direito de buscar o prazer e o
seu exercício pleno, vivia em conflito entre esses ideais de liberdade
e uma educação sexual rígida da qual era fruto.
6. O Inicio da Sexualidade
• As manifestações de prazer acontecem precocemente podendo ser
visualizadas em imagens ultrassonográficas de fetos do sexo masculino,
como por exemplo a ereção peniana. Já as meninas desde os primeiros
dias de vida apresentam lubrificação vaginal.
• Sensações sexuais estão presentes durante todo o desenvolvimento da
criança, desde a amamentação até o início pubertário, quando então há
uma intensificação destas sensações.
• O aumento do interesse sexual coincide com o surgimento dos
caracteres sexuais secundários. Este interesse é influenciado pelas
profundas alterações hormonais deste período da vida e pelo contexto
psicossocial.
7. • Apesar da sexualidade ser definida como um conjunto de fenômenos que
permeia todos os aspectos de nossa existência ela é vista inicialmente
como um fenômeno biológico. Porém, sabe-se que é também social e
psicológico e só pode ser compreendido quando situado no âmbito e nas
regras da cultura em que se vive. Em cada sociedade são diferentes as
proibições e permissividades em relação à atividade sexual. No processo
de adaptação cultural do ser humano, o controle da sexualidade é um
dos aspectos centrais. Praticamente todas as culturas impõem alguma
forma de restrição ao comportamento sexual.
• A complexidade e ambiguidade da sexualidade residem principalmente
no fato da reprodução não ser seu objetivo primordial. Historicamente
podemos observar que a sociedade humana em um período se articula
com uma proibição ao livre exercício da sexualidade, o tabu do incesto
(Lévy-Strauss apud Dor, 1989). A religião também exerceu e ainda exerce
grande influência no comportamento sexual dos indivíduos.
8. • Em nossa sociedade, sexo ainda é um tabu e os problemas relativos à
sexualidade são muito frequentes. Acompanhar desde cedo o processo
de desenvolvimento pode ajudar o adolescente a prevenir problemas
futuros como abuso sexual, gravidez não desejada, promiscuidade ou
dificuldades sexuais propriamente ditas como frigidez, impotência
sexual e ejaculação precoce.
Desenvolvimento Psicossexual
• Freud, o “pai” da psicanálise, elaborou uma teoria sobre a sexualidade
classificando o desenvolvimento sexual em cinco fases: oral, anal, fálica,
latência e genital, conforme a idade do indivíduo e a localização
corporal da principal fonte de sentimentos prazerosos.
9. Primeiro ano de vida
Nesta etapa da vida, o bebê a princípio não se diferencia de sua mãe,
sentindo-se ligado a ela, como se ambos fossem uma só pessoa. Sua
comunicação com o mundo se dá principalmente através da boca, pela
sucção e pelo choro. O bebê sente-se bem quando suas necessidades
orgânicas internas são saciadas através da amamentação. Ele sente-se
seguro e calmo também quando é acariciado e aconchegado ao colo.
Esta etapa foi denominada por Freud de “fase oral”, pois a boca é a parte
do corpo onde há primazia dos sentimentos prazerosos. Porém, não é só
a boca a detentora destes sentimentos prazerosos nesta fase. O bebê
também gosta e necessita ser acariciado em todo o seu corpo. Durante o
primeiro ano de vida o bebê descobre fortuitamente seus genitais e
sente prazer em tocá-los.
10. Segundo ano de vida
Durante o segundo ano de vida a criança se desliga parcialmente das
necessidades orais, passando a se concentrar em outras atividades
recém adquiridas. Ela já consegue andar e explorar melhor o ambiente
em que vive. Nesta etapa muita atenção é dada às regiões genitais, pois
é nesta fase que se adquire o controle esfincteriano. A partir dos 18
meses a criança já tem potencialmente maturidade neurológica para
conter os esfíncteres, quando está desperta. Com o treinamento
exercido pelos pais, a criança concentra grande parte de sua energia na
aprendizagem deste controle e fica atenta à manipulação de seu corpo,
quando é higienizada. Freud denominou esta etapa de “Fase anal”, por
observar o grande prazer que as crianças demonstravam na região anal.
11. Terceiro ano de vida
Esta etapa é muito marcante no desenvolvimento do ser humano. As
crianças descobrem de fato seus órgãos genitais e percebem as
diferenças que existem entre meninos e meninas. É também nesta fase
que percebemos uma ligação afetiva preferencial da criança com o
genitor do sexo oposto. Ao descobrir os genitais, a grande diferença
entre os sexos observada pelas crianças é a presença do pênis nos
meninos e a sua falta nas meninas.
12. Esta fase se caracteriza por uma grande curiosidade sexual. As crianças
adoram olhar as pessoas desnudas e também serem olhadas e se
manipularem. Ao descobrir os genitais, estes são explorados e
manipulados. A manipulação é prazerosa e com isso a criança tende a
repeti-la outras vezes. Freud denominou esta etapa da vida de “Fase
fálica”, devido à primazia de as sensações prazerosas estarem
anatomicamente localizadas na região do “falus” genital (Freud, 1958b).
Ao descobrir a diferença entre os sexos no terceiro ano de vida, o
menino tende a se aproximar apaixonadamente de sua mãe, tentando
excluir o pai desta relação. Porém, provavelmente sente muita culpa por
isso, pois o pai também é amado e importante para ele. A este
“triângulo amoroso” Freud denominou de “Complexo de Édipo”,
baseado na peça homônima “Édipo rei”, escrita na antigüidade por
Sófocles. Esta peça ilustra a relação amorosa existente entre pais e
filhos, a quebra do tabu do incesto e sua repercussão no futuro (Azoubel
Neto, 1993). Freud define o Complexo de Édipo como um conjunto
organizado de desejos amorosos e hostis que a criança experimenta
relativamente a seus pais.
13. Segundo Freud, ele teme ser castigado por desejar a exclusão do pai e
perder seu pênis; ser castrado e se tornar uma menina, que ele imagina
ter sido castrada. A menina, quando descobre que não tem pênis,
demonstra sentimento de inferioridade. Tenta urinar na mesma posição
dos meninos e muitas vezes afirma ter preferido ser homem. Depois de
algum tempo entende que nunca vai ter um pênis, pois sua mãe jamais
teve um. A partir daí ela se aproxima do pai, que possui o que ela não
tem.
14. Sétimo ano de vida á Puberdade
Nesta idade as crianças já estão na escola, iniciando seu aprendizado
formal. Grande parte da energia libidinal é deslocada para este
aprendizado. Muitas atividades novas surgem. A criança passa a conviver
com muitas outras crianças e sente muito prazer nestas atividades,
desligando-se parcialmente das questões relativas a seus genitais. Freud
denominou este período de “Fase de latência”, na qual parece não haver
primazia de sentimentos prazerosos em nenhuma parte anatômica do
corpo.
O período de latência se iniciaria quando o complexo de Édipo entra em
declínio. Este declínio corresponderia à consciência da criança de que é
impossível realizar seu duplo desejo, amoroso e hostil, em relação aos
pais.
15. Ao se desligar um pouco de suas tensões sexuais, a criança passa a se
interessar pelo aprendizado da escola, que lhe possibilita a aquisição de
novos conhecimentos e diferentes conquistas. Esta fase termina com o
início da puberdade. A energia libidinal nesta fase de latência está mais
voltada ao ensino formal e à aquisição de novas habilidades.
Período Pubertário
O início da puberdade, com o estímulo dos hormônios sexuais, propicia
uma intensificação das emoções sexuais. Com o desenvolvimento do
corpo e dos órgãos genitais, há um aumento do desejo sexual, que agora
tem um órgão sexual pronto para consumá-lo. A masturbação volta a ser
frequente, não mais como uma atividade auto-erótica e sim com um fim
sexual (Knobel, 1984).
16. Características do comportamento sexual na
adolescência
O comportamento sexual de um indivíduo depende não só da etapa de
desenvolvimento em que se encontra, como do contexto familiar e social
em que vive. Na atualidade, a sociedade tem fornecido mensagens
ambíguas aos jovens, deixando dúvidas em relação à época mais adequada
para o início das relações sexuais. Nessa etapa da vida sexual do
adolescente, as seguintes características do comportamento do
adolescente são:
Adolescência precoce (10 aos 14 anos)
Esta é a fase da grande transformação biológica, em que o comportamento
sexual depende destas mudanças físicas. Os adolescentes ficam se
comparando uns aos outros e, como há uma grande variabilidade no
desenvolvimento pubertário, os que ainda não se desenvolveram se
sentem inferiorizados e os que já têm um corpo formado se angustiam
com a nova postura que têm de assumir, sem ter ainda maturidade.
17. Nesta etapa a sexualidade ainda é indiferenciada e a masturbação é a
conduta sexual mais frequente. As mudanças do corpo, neste período,
são mais rápidas do que a capacidade dos adolescentes de assimilarem
cada nova imagem que surge. Sintomas hipocondríacos e
psicossomáticos são frequentes, como: bulimia, anorexia, cefaleias,
alergias,depressão.
18. Adolescência média (15-16 anos)
O relacionamento amoroso geralmente se inicia nesta fase. Já há uma
aceitação maior das transformações físicas, resultando em um corpo adulto
com capacidade reprodutiva. As meninas tendem a usar roupas que
expõem seu corpo sedutoramente. No namoro as carícias são progressivas
até culminar com a relação sexual genital, que ocorre geralmente nesta
fase. A sexualidade contribui com a autoestima do jovem e faz parte da
formação da identidade do indivíduo. É durante a adolescência que se
define e se consolida a identidade sexual.
19. Adolescência tardia (17 a 20 anos)
Nesta etapa a identidade sexual já está definida e a maior estabilidade
afetiva favorece a busca de um objeto amoroso único. O namoro
apaixonado é frequente. À medida em que há maior maturidade psicológica
e social, o jovem evolui para a independência econômica da família e para
um relacionamento afetivo mais duradouro.
20. Abuso sexual
• Ter a noção de que o sentimento sexual existe e está presente em todas
as etapas da vida é um dado importante que se deve ter em mente para
se prevenir o abuso sexual, frequente em nosso meio. As crianças e
adolescentes são vulneráveis a abusos sexuais e às vezes se submetem
porque têm prazer em serem acariciados e manipulados. Durante a
adolescência há uma reativação do complexo de Édipo, que agora pode
ser concretizado de fato, pois já há maturidade biológica para isso. E,
além do desejo que os filhos sentem pelos pais, também há o desejo dos
pais pelos filhos, que estão no auge de sua beleza e potência físicas.
Consequentemente o abuso sexual ocorre com mais frequência dentro
da própria casa do adolescente, e este se sente sem condições de buscar
ajuda para se livrar desta situação em que tantos sentimentos
contraditórios estão envolvidos.
21. • Pais e adolescentes devem ser orientados para que estes não se
exponham a situações em que o abuso sexual possa ocorrer. É
importante também orientá-los sobre aspectos de seu
desenvolvimento, respondendo suas dúvidas a respeito de sexo,
conscientizando-os da presença intensa dos sentimentos sexuais
em todos os seres humanos.
22. Gravidez na Adolescência
• A atividade sexual na adolescência vem se iniciando cada vez mais
precocemente, com consequências indesejáveis imediatas como o
aumento da frequência de doenças sexualmente transmissíveis (DST)
nessa faixa etária; e gravidez, muitas vezes também indesejável e que por
isso, pode terminar em aborto (Basso et al, 1991; Mimica & Piato, 1991;
Taquete, 1992; Oh et al, 1993; Crespin, 1998; Chabon et al., 2000)
• Na atualidade, vê-se o exercício da sexualidade começando cada vez mais
cedo, impulsionado pela imposição social que leva crianças
a adolescerem precocemente e, de forma semelhante, leva os adolescentes
a rapidamente ingressarem na vida adulta, mesmo não estando preparados
psicologicamente.
23. • O conflito de gerações, a pressão social e a busca da identidade trazem
ambiguidade e um problema comum aos jovens: o de lidar com suas
mudanças corporais e conflitos interiores no campo da sexualidade.
• Esse despertar da sexualidade na adolescência é acompanhado por uma
grande leva de desinformação. Os pais, por não disporem de informação
ou por constrangimento em falar sobre sexo com seus filhos, acabam não
cumprindo seu papel de educador. Assim, as famílias não transmitem a
orientação sexual adequada, deixando o jovem em desvantagem.
• O direcionamento de diversos fatores, como o desconhecimento do corpo,
a omissão da família/escola sobre assuntos pertinentes à adolescência, o
pouco envolvimento dos serviços públicos, o bombardeamento ativo ao
qual estão expostos pela mídia, com programas, novelas e até
propagandas apelando ao sexo, fazem com que os jovens iniciem
precocemente suas atividades sexuais.
24. Construção da Identidade sexual
• Durante a adolescência é comum observarmos uma fase de
“homossexualidade”, em que as meninas convivem com suas amigas
intimamente, trocando confidências e os meninos buscam parceiros para
brincadeiras e vivências. É uma fase de experimentação sexual, que
geralmente não influi na identidade sexual adulta futura. A identidade
sexual adulta se define e se afirma durante todo o processo evolutivo
pela identificação.
• Freud diz que é somente após a puberdade que o comportamento sexual
assume sua forma definitiva. A identidade sexual só é consolidada no
final da adolescência, com a passagem para a idade adulta (Aberastury et
al., 1988). Segundo a teoria psicanalítica, na infância existe uma
“bissexualidade” que vai sendo substituída pela identidade sexual
masculina ou feminina à medida que ocorrem as transformações
biológicas do corpo e as condutas psicológicas e sociais são apreendidas.
A moda unissex mostra claramente a ambivalência da definição sexual na
adolescência.
25. Orientação a ser dada pelo
Profissional de Saúde
• Como é durante a adolescência que o desenvolvimento sexual
adquire a sua plenitude, permitindo a procriação, é fundamental
que este tema seja privilegiado pela equipe de saúde que atende o
adolescente.
• Um adolescente pode procurar um serviço de saúde para esclarecer
dúvidas em relação a seu corpo ou ao funcionamento de seus
órgãos genitais ou com queixas somáticas ou dificuldades de
relacionamento em algum ambiente social que tem como pano de
fundo um problema de natureza sexual. Portanto qualquer
atendimento de um adolescente em um serviço de saúde a questão
da sexualidade deve ser abordada.
26. • A orientação a ser dada pelo profissional de saúde não pode ser
preconceituosa e nem carregada de códigos morais ou religiosos.
• É necessário orientar o adolescente e sua família sobre as
transformações que ocorrem em seu corpo, sobre as sensações
sexuais, o caráter normal da masturbação, da curiosidade sexual, do
tamanho dos órgãos genitais e sobre o ato sexual propriamente dito
e suas consequências.
• No caso de adolescentes que já tenham atividade sexual genital, ou
estejam prestes a iniciá-la, estes devem ser orientados quanto à
anticoncepção e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis.
• O profissional de saúde deve estar aberto e disponível a responder
perguntas que o adolescente ou sua família possam ter.