SlideShare una empresa de Scribd logo
1 de 3
Descargar para leer sin conexión
HAICAIS
Botão orvalhado
Fulgura ao sol da manhã:
Canteiro de rosas.
Ângela Guerra - SF nº02¹2014
Mordida a pêra,
O rapaz se estica todo:
Abundante suco.
Manoel F. Menendez – SP
Dessas flores murchas,
Se entorno a água do vaso,
Virão novas flores.
Neide Rocha Portugal – PR
Há pouco chovia –
Agora apenas o vento
É dono da rua.
Humberto Del Maestro – ES
Sertão nordestino,
Fogueiras, fogos, bebidas...
Noite de São João.
João Batista serra-Ce
Pássaro azul,
Na contenção do seu vôo,
Sobra perspicácia.
Na manhã de domingo,
Passeio a colher flores:
Só trouxe gardênia.
Aí vem setembro:
Crianças querem saber
Quando é Cosme-e-Damião.
Tapete de cores
Para alguma santidade:
Paineiras floridas.
Sanhaço perscruta,
Silente, meu mamoeiro:
Tem mamão devês.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Trilha do mosteiro:
O andarilho vai convicto,
Buscar paz de espírito.
Vai de galho em galho,
Pára, olha, me vigia:
Esquilo mineiro...
Cai um temporal
Sobre o calor de domingo:
São águas de março.
Chove em Parati:
Mil peixinhos vêm à tona,
Provar outras águas.
Antonio Cabral Filho – RJ
TROVAS
Felicidade, um evento,
Uma graça fugidia...
Como lufada de vento,
Passa por nós, algum dia!
Fernando Vasconcelos – Pr
Desse jeito, esperneando,
Considero-te a criança,
Que sempre tenta chorando
Quando o que quer não alcança
João Batista Serra – CE
Dê-se ao jovem liberdade
Para sem medo ele ousar.
- É no ardor da mocidade
Que o sonho aprende a voar.
A. A. de Assis - PR
Raia o dia, terno e lindo,
Piam na mata, nambus,
E o sol acorda sorrindo
Dentro de um ninho de luz.
Humberto Del Maestro – ES
Se a tua cruz é pesada,
E vives só de lamento,
Hás de encontrar pela estrada
Outros com amis sofrimento.
Jessé Nascimento – RJ
A lenda de Cantagalo,
Encontro mui benfazejo:
Do belo canto do galo
Com o nome do lugarejo.
Henny Kropf – RJ
Não confies no destino,
Pois na última viagem
Não vale o desatino,
Bondade vira passagem.
Osael de Carvalho – RJ
Pintei o sete contigo,
Na minha imaginação;
Agora, pra meu castigo,
Te tenho no coração.
Arlindo Nóbrega – SP
Eu velejo mar adentro,
Sem temer a tempestade,
Indo em busca do meu centro
A toda velocidade.
Ivone Vebber – RS
Nesta pedra está gravada
Toda a minha emoção
De saber que não sou nada
Além de mera ilusão.
Silvério da Costa – SC
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
Franc Assis Nascimento - Go
Ao brincar com seu cabelo
E puxar o seu vestido,
Vento sede a um sexy apelo
E revela ter crescido.
Olivaldo Júnior – SP
Ano VIII nº60 Outubro 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho
Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br
http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
OS ESPELHOS
Os espelhos que vivem em mim
Encontram nos seus olhos
O afeto, o silêncio
E a sinceridade.
Espelho
Minha imagem pelo ar,
Solto os impulsos
Nos fios de ternura
E me alimento dos desejos
Que moram em sua pele.
Luiz Fernandes da Silva - Pb
Primavera
Hibiscos vermelhos floridos
Pinhados de beija-flores.
Selmo Vasconcellos – RO
PAUTA
Solam guitarras
Sutis enlevos
Alcoóis
Ventríloquos
À meia voz flutuam
Inevitável silêncio
A sede e a fome sacio
Imaginária paisagem
Balem ovelhas ao longe
Incompleto
O meu nome balbucio
Dias semanas não sei
Quiprocós
Tartamudo repasso
Notas de uma canção
Hélvio Lima – MG
LONGA ESTRADA
Todo poeta
Tem a cabeça cheia
De letras,
Palavras, frases,
Pensamentos loucos,
Que tenta, com a mão,
Colocar no papel,
Na máquina de escrever,
No teclado do PC.
Porém, como é longa
E acidentada a estrada
Entre a cabeça e a mão
do poeta!
Araci Barreto – RJ
OCULTO
Visto ao longe
Sou nebuloso
Como alto da serra
Em dia cinza,
Coberto
Meu verde-mistério
Só pra quem vê de perto.
Marlos Degani – RJ
BLA-BLA-BLA
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Existe muita gente no senado
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Muita gente na
Câmara dos deputados
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Muita gente com fome
Sem casa
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
De dois em dois anos eleições
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Bla-bla-bla
Lírian Tabosa – RJ
POEMAS DO TOUCHÉ
Pássaros no ninho:
Novas vidas que iluminam
Os olhinhos do menino.
GUERREIRA ILUMINADA
Aquém do escuro silêncio
Servido em redomas azuis;
No sorriso da guerreira
Brilha a lúcida trincheira
Em versos de ira e luz.
FRUTA
Eu te amo como quando
Saboreio as fruta madura,
Na cumplicidade da degustação.
Te amo como quando
Mordo com prazer.
Enterrando os dentes
Em polpas e fibras
Amparando o sumo
Na ponta da língua.
Amar
É a consistência da semente.
Gênese.
CHAMA
A saudade é azul...
Cinzentas
São as tempestades.
Que rabis na alma...
Antonio Luiz Lopes Touché – SP
AMANHECE
Orvalho cai
Gotas de mel
De teus lábios
De rosa
Eu beija-flor
Sugo-te o
Doce
Faço-te prosa
Semíramis Reis – RJ
SALDO ESCASSO
Após devorar
A sagrada esperança
De Agostinho Neto,
Com gosto de suor africano
Explorado em solo brasileiro,
Regada a muito café
E mergulhado em insônia,
Vou passear no quintal
Ver se colho um poema
Ou o sal da escassez.
NOITE
Depois de trabalhar
O dia inteiro
A noite fica exausta
E se dependura
Lá do céu sobre nós
E dorme como os morcegos...
É por isso que acordamos
Chamuscados de escuridão.
METAPOÉTICA
De tanto
Alavancar o poema
Acabei pavimentando
O verso
E instalando a poesia
Sempre no ponto final.
COMPLEXO DE KAFKA
Não fossem os calafrios
Da pobre coitada mãe
Que vivia em panos quentes
Pra manter seu pai
Em banho-maria
Teríamos mais psicanalistas
Tentando livrar as pessoas
Dos estados parasitários
E Kafka transformado
em barata.
LARGO DA BATALHA
Já diz tudo
O nome do local
Que nos lembra
Algo longe
Transido de combates
E ainda agora
Nos seus arredores
Chegam avisos da pólvora:
Seguem escaramuças
Por seu corpo escarpado,
Todo respingado de rubro.
PONTO CEM RÉIS
Não sei quantos reis
Passaram por este ponto
E não sei ainda
Se era sem réis
Caso houvesse pedágio
Transitar livremente.
ENQUETE
O vovô anarquista
Perguntou para o netinho
Se acreditava em Papai Noel:
- Por quê, vai me dar presente?
Inquiriu o garoto, todo serelepe,
Enquanto o avô confabulava
Com seus bigodes:
- Que menino materialista!
ANTI GULLAR
Inútil a luta corporal
Sem poemas concretos
Sobre romances de cordel
A sós dentro da noite veloz
Pra cometer poema sujo
E acender uma luz no chão
Em plena vertigem do dia
Causar crime na flora
E sair por aí fazendo barulhos
Com muitas vozes
E argumentação contra
A morte da arte
Pleno de antologias...
HORA DA RVOLUÇÃO
É hora da revolução!
É hora da revolução!
Não! Não é nenhum
Sinal dos tempos
Nem devido à queda
De algum ditador.
É que eu vi
Um homem no ônibus
Lendo o Manifesto Comunista.
PRÊMIO JUSTO
Corredor polonês
Só para o maldito inventor
Do corredor polonês,
Que eu fui.....
CACETE BAIANO
Depois de apanhar
Até gato morto miar,
Por dizer gracinhas
Para a menina dos olhos
Do paizão ciumento,
Diz que ganhou
O maior cacete baiano.
APROPRIAÇÃO INDÉBITA
Eu sei que o boca-a-boca
É a melhor propaganda,
Mas não adianta resmungos
Nem choro pelos cantos.
Só devolvo o beijo
Que te roubei dormindo,
Se vieres tomá-lo
Boca-a-boca...
DEUSES DE PAUPÉRIA
Era uma cidade
Fundada por ATA
E lá estava escrito:
Artigo Único –
Aqui todos somos felizes,
Pela graça dos deuses.
E todos tudo fazem
Para o bem de todos.
§ Único – Revogam-se
as disposições em contrário.
POEMINHO IDEOLÓGICO
Comunismo:
Você, foi-se....
Eu martelo,
Hasta la revolución !
Antonio Cabral Filho – RJ

Más contenido relacionado

Más de ANTONIO CABRAL FILHO

Letras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJ
Letras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJLetras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJ
Letras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJANTONIO CABRAL FILHO
 
Revista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJ
Revista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJRevista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJ
Revista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJANTONIO CABRAL FILHO
 
Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)
Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)
Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)ANTONIO CABRAL FILHO
 
Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)
Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)
Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)ANTONIO CABRAL FILHO
 
Letras Taquarenses Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses  Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - RjLetras Taquarenses  Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - RjANTONIO CABRAL FILHO
 
Letras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - RjLetras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - RjANTONIO CABRAL FILHO
 
Letras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - RjLetras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - RjANTONIO CABRAL FILHO
 

Más de ANTONIO CABRAL FILHO (7)

Letras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJ
Letras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJLetras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJ
Letras Taquarenses N 67 Out 2015 (Lt67out15) * Antonio Cabral Filho - RJ
 
Revista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJ
Revista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJRevista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJ
Revista Gente De Palavra nº 33 * Antonio Cabral Filho - RJ
 
Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)
Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)
Letras Taquarenses Ano (Lt66 jul15)
 
Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)
Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)
Letras Taquarenses Ano IX Nº 65 Junho 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj(Lt65 xx2)
 
Letras Taquarenses Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses  Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - RjLetras Taquarenses  Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Ano IX Nº 64 Maio 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
 
Letras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - RjLetras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Ano IX Nº 63 Mar/Abr 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
 
Letras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - RjLetras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
Letras Taquarenses Nº 62 Jan/Fev 2015 * Antonio Cabral Filho - Rj
 

Letras Taquarenses Nº 60 * Antonio Cabral Filho - Rj

  • 1. HAICAIS Botão orvalhado Fulgura ao sol da manhã: Canteiro de rosas. Ângela Guerra - SF nº02¹2014 Mordida a pêra, O rapaz se estica todo: Abundante suco. Manoel F. Menendez – SP Dessas flores murchas, Se entorno a água do vaso, Virão novas flores. Neide Rocha Portugal – PR Há pouco chovia – Agora apenas o vento É dono da rua. Humberto Del Maestro – ES Sertão nordestino, Fogueiras, fogos, bebidas... Noite de São João. João Batista serra-Ce Pássaro azul, Na contenção do seu vôo, Sobra perspicácia. Na manhã de domingo, Passeio a colher flores: Só trouxe gardênia. Aí vem setembro: Crianças querem saber Quando é Cosme-e-Damião. Tapete de cores Para alguma santidade: Paineiras floridas. Sanhaço perscruta, Silente, meu mamoeiro: Tem mamão devês. Caminho do mar: A navalha no meu rosto, Corta que nem gelo. Trilha do mosteiro: O andarilho vai convicto, Buscar paz de espírito. Vai de galho em galho, Pára, olha, me vigia: Esquilo mineiro... Cai um temporal Sobre o calor de domingo: São águas de março. Chove em Parati: Mil peixinhos vêm à tona, Provar outras águas. Antonio Cabral Filho – RJ TROVAS Felicidade, um evento, Uma graça fugidia... Como lufada de vento, Passa por nós, algum dia! Fernando Vasconcelos – Pr Desse jeito, esperneando, Considero-te a criança, Que sempre tenta chorando Quando o que quer não alcança João Batista Serra – CE Dê-se ao jovem liberdade Para sem medo ele ousar. - É no ardor da mocidade Que o sonho aprende a voar. A. A. de Assis - PR Raia o dia, terno e lindo, Piam na mata, nambus, E o sol acorda sorrindo Dentro de um ninho de luz. Humberto Del Maestro – ES Se a tua cruz é pesada, E vives só de lamento, Hás de encontrar pela estrada Outros com amis sofrimento. Jessé Nascimento – RJ A lenda de Cantagalo, Encontro mui benfazejo: Do belo canto do galo Com o nome do lugarejo. Henny Kropf – RJ Não confies no destino, Pois na última viagem Não vale o desatino, Bondade vira passagem. Osael de Carvalho – RJ Pintei o sete contigo, Na minha imaginação; Agora, pra meu castigo, Te tenho no coração. Arlindo Nóbrega – SP Eu velejo mar adentro, Sem temer a tempestade, Indo em busca do meu centro A toda velocidade. Ivone Vebber – RS Nesta pedra está gravada Toda a minha emoção De saber que não sou nada Além de mera ilusão. Silvério da Costa – SC Urubu sobre o telhado E voando abertamente Ficou muito bem olhado Pelo suspiro da gente. Franc Assis Nascimento - Go Ao brincar com seu cabelo E puxar o seu vestido, Vento sede a um sexy apelo E revela ter crescido. Olivaldo Júnior – SP Ano VIII nº60 Outubro 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho Rua São Marcelo, 50/202 Rio de Janeiro – RJ Cep 22.780-300 Email: letrastaquarenses@yahoo.com.br http://blogdopoetacabral.blogspot.com.br / http://letrastaquarenses.blogspot.com.br Filiado à FEBAC
  • 2. OS ESPELHOS Os espelhos que vivem em mim Encontram nos seus olhos O afeto, o silêncio E a sinceridade. Espelho Minha imagem pelo ar, Solto os impulsos Nos fios de ternura E me alimento dos desejos Que moram em sua pele. Luiz Fernandes da Silva - Pb Primavera Hibiscos vermelhos floridos Pinhados de beija-flores. Selmo Vasconcellos – RO PAUTA Solam guitarras Sutis enlevos Alcoóis Ventríloquos À meia voz flutuam Inevitável silêncio A sede e a fome sacio Imaginária paisagem Balem ovelhas ao longe Incompleto O meu nome balbucio Dias semanas não sei Quiprocós Tartamudo repasso Notas de uma canção Hélvio Lima – MG LONGA ESTRADA Todo poeta Tem a cabeça cheia De letras, Palavras, frases, Pensamentos loucos, Que tenta, com a mão, Colocar no papel, Na máquina de escrever, No teclado do PC. Porém, como é longa E acidentada a estrada Entre a cabeça e a mão do poeta! Araci Barreto – RJ OCULTO Visto ao longe Sou nebuloso Como alto da serra Em dia cinza, Coberto Meu verde-mistério Só pra quem vê de perto. Marlos Degani – RJ BLA-BLA-BLA Bla-bla-bla Bla-bla-bla Existe muita gente no senado Bla-bla-bla Bla-bla-bla Muita gente na Câmara dos deputados Bla-bla-bla Bla-bla-bla Muita gente com fome Sem casa Bla-bla-bla Bla-bla-bla De dois em dois anos eleições Bla-bla-bla Bla-bla-bla Bla-bla-bla Lírian Tabosa – RJ POEMAS DO TOUCHÉ Pássaros no ninho: Novas vidas que iluminam Os olhinhos do menino. GUERREIRA ILUMINADA Aquém do escuro silêncio Servido em redomas azuis; No sorriso da guerreira Brilha a lúcida trincheira Em versos de ira e luz. FRUTA Eu te amo como quando Saboreio as fruta madura, Na cumplicidade da degustação. Te amo como quando Mordo com prazer. Enterrando os dentes Em polpas e fibras Amparando o sumo Na ponta da língua. Amar É a consistência da semente. Gênese. CHAMA A saudade é azul... Cinzentas São as tempestades. Que rabis na alma... Antonio Luiz Lopes Touché – SP AMANHECE Orvalho cai Gotas de mel De teus lábios De rosa Eu beija-flor Sugo-te o Doce Faço-te prosa Semíramis Reis – RJ SALDO ESCASSO Após devorar A sagrada esperança De Agostinho Neto, Com gosto de suor africano Explorado em solo brasileiro, Regada a muito café E mergulhado em insônia, Vou passear no quintal Ver se colho um poema Ou o sal da escassez.
  • 3. NOITE Depois de trabalhar O dia inteiro A noite fica exausta E se dependura Lá do céu sobre nós E dorme como os morcegos... É por isso que acordamos Chamuscados de escuridão. METAPOÉTICA De tanto Alavancar o poema Acabei pavimentando O verso E instalando a poesia Sempre no ponto final. COMPLEXO DE KAFKA Não fossem os calafrios Da pobre coitada mãe Que vivia em panos quentes Pra manter seu pai Em banho-maria Teríamos mais psicanalistas Tentando livrar as pessoas Dos estados parasitários E Kafka transformado em barata. LARGO DA BATALHA Já diz tudo O nome do local Que nos lembra Algo longe Transido de combates E ainda agora Nos seus arredores Chegam avisos da pólvora: Seguem escaramuças Por seu corpo escarpado, Todo respingado de rubro. PONTO CEM RÉIS Não sei quantos reis Passaram por este ponto E não sei ainda Se era sem réis Caso houvesse pedágio Transitar livremente. ENQUETE O vovô anarquista Perguntou para o netinho Se acreditava em Papai Noel: - Por quê, vai me dar presente? Inquiriu o garoto, todo serelepe, Enquanto o avô confabulava Com seus bigodes: - Que menino materialista! ANTI GULLAR Inútil a luta corporal Sem poemas concretos Sobre romances de cordel A sós dentro da noite veloz Pra cometer poema sujo E acender uma luz no chão Em plena vertigem do dia Causar crime na flora E sair por aí fazendo barulhos Com muitas vozes E argumentação contra A morte da arte Pleno de antologias... HORA DA RVOLUÇÃO É hora da revolução! É hora da revolução! Não! Não é nenhum Sinal dos tempos Nem devido à queda De algum ditador. É que eu vi Um homem no ônibus Lendo o Manifesto Comunista. PRÊMIO JUSTO Corredor polonês Só para o maldito inventor Do corredor polonês, Que eu fui..... CACETE BAIANO Depois de apanhar Até gato morto miar, Por dizer gracinhas Para a menina dos olhos Do paizão ciumento, Diz que ganhou O maior cacete baiano. APROPRIAÇÃO INDÉBITA Eu sei que o boca-a-boca É a melhor propaganda, Mas não adianta resmungos Nem choro pelos cantos. Só devolvo o beijo Que te roubei dormindo, Se vieres tomá-lo Boca-a-boca... DEUSES DE PAUPÉRIA Era uma cidade Fundada por ATA E lá estava escrito: Artigo Único – Aqui todos somos felizes, Pela graça dos deuses. E todos tudo fazem Para o bem de todos. § Único – Revogam-se as disposições em contrário. POEMINHO IDEOLÓGICO Comunismo: Você, foi-se.... Eu martelo, Hasta la revolución ! Antonio Cabral Filho – RJ