*Letras Taquarenses Nº 55 * Antonio Cabral Filho - Rj
1. HAICAIS
Madrugada clara
Pétalas desabrochadas,
Caixas enfolhadas.
Manoel F. Menendez – SP
Incessante chuva.
Em dia de escuridão
Luzes acesas como?
Eliana Ruiz Jimenez – SC
Pio da coruja
Rompe o silêncio da noite –
Viro o travesseiro.
Neide Rocha Portugal – PR
Sonhos de menino
Entre bolhas de sabão...
- Mistério de um sopro!
Humberto Del Maestro – ES
Criança curiosa
Põe a mão na taturana,
Choro convulsivo.
Renata Paccola – SP
Olho ao meu redor
E sinto pena do tédio:
Escravo dos fúteis.
Queixada na trilha,
Roncando e rangendo os dentes:
Ataque certeiro.
Chove de mansinho
Na manhã de primavera:
Frio tropical.
No baile das flores,
Beija-flores fazem festa:
Eis a primavera.
Caminho do mar:
A navalha no meu rosto,
Corta que nem gelo.
Trilha do mosteiro:
O andarilho vai convicto,
Buscar paz de espírito.
Begônias e pedras
Castigam-se mutuamente:
Musgo gera flor.
Vai de galho em galho,
Pára, olha, me vigia:
Esquilo mineiro...
Cai um temporal
Sobre o calor de domingo:
São águas de março.
Chove em Parati:
Mil peixinhos vêm à tona,
Provar outras águas.
Antonio Cabral Filho - RJ
TROVAS
Os teus olhos cor de jade,
De uma ternura sem lei,
Foram feitos da saudade
De um mundo que eu inventei.
Humberto Del Maestro – ES
Neste Brasil de bonança,
De riquezas tão reais,
Quisera ter a esperança
De ver rico e pobre iguais.
Jessé Nascimento – RJ
Vem chegando a primavera,
Os jardins ficam floridos...
Almas cheias de quimera
E corações coloridos.
Henny Kropf – RJ
Suscitando a inquietude
De uma longa odisséia,
A trova, mais que virtude,
É gênese de uma idéia.
Silvério da Costa – SC
Urubu sobre o telhado
E voando abertamente
Ficou muito bem olhado
Pelo suspiro da gente.
Franc AssisNascimento - Go
Quando vi a nossa foto
Desgastada na gaveta,
Vi nascer um terremoto
Neste inóspito poeta.
Olivaldo Júnior - SP
Poluição é o nosso ocaso...
No ar, os danos afligem:
Chaminés lançam descaso
Tampando o sol com fuligem.
Eliana Ruiz Jimenez - SC
Saudade, ponte estendida
Entre o passado e o presente.
E o tempo – rio da vida,
A correr eternamente.
Franklin Coutinho - Rj.
Quando, manhã, bem cedinho,
Abrindo os olhos desperto,
Através do teu carinho
Vejo logo um céu aberto.
Walter Siqueira - Rj
Em 25 de Abril
Portugal respira fundo,
Manda à puta que pariu
Salazar e todo o mundo.
&
Amizade não tem preço
Nem é presente que enjeito,
É sempre mais que mereço
E guardo aqui bem no peito.
&
Lua de sangue ou vermelha
Não traz-me revelação,
Pois em nada se assemelha
Com a minha revolução.
&
Nenhum eclipse de sangue
Ofusca meu horizonte,
Em nada me faz exangue
Até que meu sol desponte.
Antonio Cabral Filho – RJ
Ano VIII nº55 Maio 2014 Distribuição Gratuita Editor: Antonio Cabral Filho
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2. AVISO AOS MARGINAUTAS
Deus não está. Saiu para jantar
Curtindo uma de poeta
Marginal – sem métrica, sem
Rima , sem rumo, devidamente
Liberto de compromissos
Com toda a humanidade
E com a comunidade estelar.
Deus duvidou: ser ou não ser
Um poeta marginal?
E saiu abraçado com
Um soldado, não se sabe
Se do bem ou do mal,
Cambaleando,
Embriagado de verdade.
ILMA FONTES – SE
QUEM?
Tudo é cru e tudo universo
Mais se renova do que parece?
Não o real o que enxergamos?
O mais está sempre mais longe?
Sinal mais longe,
mais que o som,
então: quem disse
de cada coisa
o verdadeiro nome?
ARICY CURVELLO – ES
ESTABILIDADE
Vivemos como casal:
Você trabalha demais,
Me sustenta,
Proíbe isso e aquilo,
Exige a casa arrumada,
Quer almoço à uma hora,
O jantar às sete e meia,
Sobremesas variadas...
Com teus caprichos concordo,
E por vingança, te engordo...
LEILA MÍCCOLIS – RJ
SANGUE NAS RETINAS
Não era vampiro
Nem assassino contumaz,
Mas emanava sangue
De seus olhos...
ANTONIO CABRAL FILHO
SOBRE AS HORAS
Enquanto barcos singram
Os mares – baleias na
Esperança de peixes – calmo,
Contrói o Tempo teias
E ruínas – febre, traição,
Morte e vilania – na boca
Insone da noite
Mastigando o dia
TANUSSI CARDOSO – Rj
MÃE
A claridade da manhã
Desenhava o horizonte
Como um sorriso de mãe
ANTONIO LUIZ LOPES – SP
DAS CARÍCIAS
Minha mão
Percorre teu corpo
Como água seguindo o rio,
Encontrando emoções,
Encontrando sentimentos.
WALMOR DS COLMENERO
MEMORABILIA 6
Donanja faz café
Numa tarde de maio
Benze portais ergue
Os santos do fim do mundo
: chamas para as quais
Serão levados a pé
Sobre milênios de milhos
Todos os tontos
Sem fé
IACYR ANDERSON FREITAS
CONTINUA NA PRÓXIMA
O seriado que eu vivi
Não teve fim,
Acabou,
Continua na próxima semana
Com a dor que
Ficou
MOACY CIRNE – RN
CAMINHADA
Quando me sentarei contigo
Na ternura das coisas justas
E tu me envolverás
Em teu perfume selvagem
E violento?
Quando te darei de presente
Minha alma inquieta?
JOSÉ JACKSON SAMPAIO– Ce
CAMINHOS
O teu sonho criou asas
E voou...voou...voou...
Para um lugar de magia.
E tão contente tu estavas
Que tua vida brilhou
No esplendor
De um novo dia.
E quando tu retornaste
Tudo ficou diferente
A vida mudou de cor.
Em tudo, pois, triunfaste
Ao seguires para sempre
Os caminhos do amor.
AURI ANTONIO SUDATI – RS
POÉTICA
Não sei dizer palavras
Dúbias. Meu sermão
Chama ao lobo verdugo
E ao cordeiro irmão.
JOSÉ PAULO PAES –Sp