1. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE ITAPURANGA
LEVI JÚNIO DE CAMARGO
MARCELO AUGUSTO MORAIS MARTINS
SAMANDA CANDIDA BOTELHO
TATIANE CRISTINA DE CAMARGOS
O GEÓGRAFO DO NORDESTE BRASILEIRO: MANUEL CORREIA
DE OLIVEIRA ANDRADE
ITAPURANGA
2011
2. UNIVERSIDADE ESTADUAL DE GOIÁS
UNIDADE UNIVERSITÁRIA DE ITAPURANGA
LEVI JÚNIO DE CAMARGO
MARCELO AUGUSTO MORAIS MARTINS
SAMANDA CANDIDA BOTELHO
TATIANE CRISTINA DE CAMARGOS
O GEÓGRAFO DO NORDESTE BRASILEIRO: MANUEL CORREIA
DE OLIVEIRA ANDRADE
Trabalho apresentado com requisito a nota parcial do
terceiro bimestre à disciplina de História do Pensamento
Geográfico do Curso de Licenciatura Plena em Geografia
da Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária
de Itapuranga com orientação do professor, Wellington
Ribeiro.
ITAPURANGA
2011
3. O GEÓGRAFO DO NORDESTE BRASILEIRO: MANUEL CORREIA DE
OLIVEIRA ANDRADE
Algumas abordagens sobre sua trajetória
No dia 3 de agosto de 1922, no Engenho Jundiá, em Vicência, Estado de
Pernambuco, nasce Manoel Correia de Oliveira Andrade. Os seus pais são Joaquim Correia
Xavier de Andrade (senhor de engenho e criador de gado) e Zulmira Azevedo Correia de
Andrade. Manoel faz os quatro primeiros anos do ensino formal em Vicência, mas, aos dez
anos de idade, muda-se com a sua família para Recife. No Liceu Pernambucano dessa cidade,
ele conclui o ensino fundamental e, no Instituto Carneiro Leão, o curso complementar pré-
jurídico. Durante o curso pré-jurídico, ele se casa com Maria de Lourdes Sales Menezes, uma
colega de curso que ele chama de Lourdinha e, com ela, tem cinco filhos.
Em seguida, Manoel Correia ingressa na Faculdade de Direito do Recife. O jovem
estudante, porém, não se contentava em cursar apenas uma faculdade, porque, ao cabo de dois
anos, decide realizar, concomitantemente, o curso de Licenciatura em Geografia e História, na
antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras Manoel da Nóbrega, hoje chamada de
Universidade Católica de Pernambuco. Por sua vez, em 1945, ele conclui o bacharelado em
Direito, e, em 1947, diploma-se em Geografia e História.
Apesar de ser filho de senhor de engenho, Manoel Correia torna-se membro do
Partido Comunista aos vinte anos de idade. Por essa razão, os trabalhadores rurais passam a
chamá-lo de “Correinha” e nele confiam. Naquela organização, entretanto, ele permanece
somente sete meses. A despeito disto, as tendências esquerdizantes que possui facilitam a sua
atuação profissional em vários sindicatos, como advogado trabalhista contratado.
Segundo Vainsencher, mesmo tendo trabalhado no Sindicato dos Ferroviários, no
Sindicato dos Trabalhadores da Indústria de Exploração de Pedras de Jaboatão, e no Sindicato
dos Trabalhadores na Indústria de Papel e Papelão, o jovem advogado não estava satisfeito
com a sua área de atuação, considerando-a como demandante de muito labor e retribuidora de
pouco retorno financeiro. Ele decide incrementar o ritmo de suas leituras e, em uma delas,
entusiasma-se com a obra do sociólogo Caio Prado Júnior, “Evolução política do
Brasil”. Manoel Correia dá início, então, ao estudo das revoluções ocorridas durante o período
regencial, e passa a freqüentar bastante a Biblioteca Pública - local onde funciona hoje
o Arquivo Público Estadual.
4. Pouco a pouco, aquele advogado dedica menos tempo à sua carreira jurídica e
mais à pesquisa. Em uma das viagens que faz ao sul do Brasil, ele conhece pessoalmente Caio
Prado Júnior, e surge daí uma preciosa oportunidade. O ilustre sociólogo estava selecionando
especialistas em Geografia, em cada região do país, para que escrevessem sobre as diversas
questões agrárias do país, e propõe a Manoel Correia que se encarregue da parte concernente
à realidade nordestina.
Como fruto dessa oportunidade, nasceria o livro “A terra e o homem no
Nordeste”, que foi prefaciado pelo próprio Caio Prado Júnior e publicado pela Editora
Brasiliense. Essa obra causa uma grande reação nos geógrafos brasileiros, que a consideram
como não-científica porque não se destinava a propósitos acadêmicos, e, sim, a registrar e
analisar um longo processo político.
Em 1952, contrariando um antigo desejo de seu pai, Manoel Correia passa a se
dedicar inteiramente ao ensino médio. Começa lecionando Geografia do Brasil e História, nos
colégios Vera Cruz, Padre Félix e Americano Batista. Ensina também Geografia Física, na
Faculdade de Filosofia do Recife; Geografia Geral, no Colégio Estadual de Pernambuco; e
Geografia Econômica, na Faculdade de Ciências Econômicas da Universidade Federal de
Pernambuco (UFPE).
Por participar de manifestações de rua e atos de oposição a Agamenon Magalhães,
por ser integrante do grupo de estudantes que pisoteou e rasgou o retrato de Getúlio Vargas
(no bar Lero Lero), e por participar da luta política contra o Estado Novo, Manoel Correia é
preso no Governo do interventor Etelvino Lins. Acontece que o delegado da Ordem Social era
seu primo, Fábio Correia, que, diante das circunstâncias, se vê obrigado a cumprir com o
dever. Manoel Correia é processado, em 1944, pelo Tribunal de Segurança Nacional e, no ano
seguinte, anistiado através de um decreto do presidente Getúlio Vargas.
Mas, a despeito de toda a repressão existente na época, ele é um dos oradores no
enterro do estudante Demócrito de Souza Filho, representando os concluintes de Direito do
ano de 1945. O escritor iria preso, ainda, por integrar o GEPA, um Órgão criado por Miguel
Arraes de Alencar, governador de Pernambuco, para assistir à população e ao trabalhador
pobre do sertão.
Vainsencher ainda diz que Manoel Correia escreveu a obra “A terra e o homem
no Nordeste”, com o objetivo de esclarecer políticos e estudiosos acerca da reforma agrária.
Apesar de ter sido elaborado por um professor universitário, trata-se de um trabalho mais
militante que acadêmico. Por essa razão, o livro é apreendido após o golpe de 1964, uma vez
que os militares o consideram como sendo um material de cunho subversivo. Segundo o
5. próprio autor declararia, “o livro A terra e o homem no Nordeste lhe deu cargos importantes,
elogios e prisões”.
O jovem professor conheceu vários países e realidades fora do Brasil: estudou na
École Pratique de Hautes Études, na França; passou quinze dias em um congresso em Israel e
viajou por todo o Estado; lecionou nas Universidades de Sukuba, no Japão, e na Universidade
de Buenos Aires, na Argentina; deu palestras e conferências no Peru, no México, na
Colômbia, na França e nos Estados Unidos (Califórnia), entre outros.
Em 1984, Manoel Correia foi nomeado Diretor do Centro de Documentação e de
Estudos da História Brasileira Rodrigo Mello Franco de Andrade (CEHIBRA), da Fundação
Joaquim Nabuco, cargo que ocupou até 2003. O volume de sua produção científica foge dos
padrões e limites dos demais membros da Academia Pernambucana de Letras. O incansável
pesquisador possui mais de cem (100) livros e duzentos e cinqüenta (250) artigos publicados,
inclusive muitos deles em várias línguas.
É de importância registrar que, além de companheira de uma longa jornada, a sua
esposa, Lurdinha, sempre foi uma de suas maiores colaboradoras, lendo e revisando todos os
trabalhos que o autor escreve. Compulsivo por leitura, Manoel Correia possui uma biblioteca
particular avaliada entre trinta mil e quarenta mil obras.
Comprometido com a reforma agrária, com um Brasil e um Nordeste, em
particular, menos iníquos e mais desenvolvidos, Manoel Correia de Oliveira Andrade declara
ser um homem realizado. E a Fundação Joaquim Nabuco, como escreveu o folclorista Mário
Souto Maior, se orgulha de ter sido, por muitos anos, o berço e a oficina de trabalho daquele
notável pesquisador.
Morreu no dia 22 de junho de 2007, no Recife, em conseqüência de problemas
cardíacos. Seu corpo foi velado na Academia Pernambucana de Letras.
Pelo seu reconhecimento no Brasil e em outros países, Manuel Correia de
Andrade recebeu e ainda recebe grandes homenagens.
Concepção de Manuel Correia de Andrade para a Geografia, Região, Espaço e
Território segundo Marcos Aurélio Saquet (2010)
Segundo Saquet, Andrade foi um dos pesquisadores que teve centralidade de
renovação da geografia no Brasil, desde os anos de 1950 juntamente com outros autores
estrangeiros. Publicou uma obra que obteve destaque internacional, “A terra e o homem do
6. Nordeste”. Nesta obra, Andrade coloca como conceito principal a região, considerando
elementos da natureza e da sociedade, evidenciando aspectos fundamentais do uso da terra, da
ocupação e das relações de trabalho no Nordeste brasileiro, assim Saquet a descreve. Saquet
ainda enfatiza que na obra o território é compreendido como área e Estado-nação, considerado
de maneira subjacente na argumentação metodológica, seus elementos da natureza destacados
são os rios, a vegetação, o clima, o regime pluviométrico e o solo. As atividades sociais
evidenciadas são o cultivo da cana-de-açúcar e do algodão, a criação de gado, a policultura de
subsistência, a estrutura fundiária, a mão-de-obra etc.
Saquet ainda aborda uma opinião de Maia (2009) que fez sobre a obra. Maia diz
que “A terra e o homem no Nordeste” marca na geografia agrária brasileira, uma fonte
fundamental de análise para os estudos sobre a estrutura fundiária e as relações de trabalho no
campo, antecedendo o processo de renovação da geografia brasileira desencadeado nos anos
1970.
Autores que pesquisaram a vida e as obras de Andrade, perceberam que era
influenciado pela geografia crítica ou marxista, pensadores que trabalhavam com o
materialismo histórico e dialético entre outros autores de referências importantes como Yves
Lacoste, François Perroux e Bernard Kayser. Sobre suas influências Marxistas, Evangelista
(2010) questiona se Andrade poderia ser um marxista, logo vem à resposta que é não.
Segundo Evangelista, Manuel Correia de Andrade criticou severamente, em uma de suas
palestras, os marxistas virgens, aqueles que diziam ser marxistas, mas não liam Marx ou mal
o faziam. Essa atitude concretiza que Andrade não se prendia a Marx.
Retomando a base do texto de Saquet, podemos notar que Andrade em uma de
suas obras publicada em 1974, há um esforço feito para aplicar a teoria dos pólos de
desenvolvimento para compreender os países do chamado terceiro mundo. Neste sentido,
Andrade considerou cinco níveis distintos: o nacional, o macro-regional, o sub-regional e o
local, ratificando sua elaboração metodológica anterior em Andrade, 1970/1967. Isto gerou
classificações de áreas ou zonas distintas, caracterizadas considerando aspectos econômicos,
políticos, culturais e naturais, inerentes à organização do espaço por meio de hierarquias entre
os pólos de desenvolvimento. O conceito de organização espacial, juntamente com a noção de
área, é central em sua argumentação. O território, desse modo, corresponde a uma área
delimitada do espaço, caracterizado a partir da influência econômica dos pólos e de um
procedimento classificatório de regionalização para fins de planejamento.
Em outra obra, “Geografia: ciência da sociedade” de 2006/1987, Saquet diz que
Andrade revela uma fase de síntese teórico-metodológica resultante, certamente, de suas
7. reflexões teóricas, conceituais e empíricas. É uma obra basilar da renovação da geografia
produzida no Brasil e marca um salto qualitativo na produção intelectual de Manuel Correia
de Andrade.
Uma revelação interessante que Saquet faz é sobre Andrade no conceito de
território. Em uma obra de Andrade publicada em 1991, o território aparece como Estado-
nação, o que já era abordado em outras anteriormente. Mas nessa o conceito de território foi
qualificado a partir de relações de poder mais ampla que extrapolam a atuação do Estado e
envolvem os movimentos sociais, principalmente os populares, conhecidos como revoltas
internas que antecederam no Brasil. Agora em 1994, Andrade faz uma reflexão mais
significativa sobre o conceito de território, ele compreende a partir das idéias de domínio, de
poder e de gestão de certa área, seja por parte do Estado, seja por parte de grandes empresas,
que é a concepção que temos de território atualmente. Andrade não ficou estudando a
territorialidade somente do Brasil, partiu para outros países como EUA e Suíça.
Economia e Meio Ambiente sob olhar de Manuel Correia de Andrade para Evangelista
(2010)
Helio de Araujo Evangelista, professor doutor da UFF não tinha intenção de
estudar Manuel Correia de Andrade, mas a postura que passava em suas palestras despertou o
interesse em Evangelista.
Neste texto já ficou claro a visão que Evangelista tinha sobre o marxismo de
Andrade, agora veremos Andrade interagindo com o meio ambiente.
Segundo Evangelista, Manuel Correia de Andrade não foi um geomorfólogo,
embora tivesse conhecimento de geomorfologia. Ele não foi um botânico, embora tivesse uma
curiosidade inata que tudo levava a conhecer. A questão ambiental para ele estava eivada por
uma dimensão social. A questão ambiental era muito mais que um recurso, um meio, um
enfoque, para melhor adentrar na complexidade de uma dada área.
Uma obra clássica intitulada “A terra e o homem no nordeste” revela segundo
Evangelista, que é impossível conhecer uma situação econômica, uma realidade social, enfim,
sem estar a par do quadro natural no qual a população está inserida e muito particularmente
em termos se dá esta relação. Essa reflexão enseja o desafio aos economistas, aos sociólogos,
e também aos geógrafos, de ter sempre em conta que o meio ambiente é um nervo básico do
fato social, assim Andrade procurava conhecer o meio ambiente para melhor entender a
população que dele dependia.
8. Evangelista observou que Manuel Correia de Andrade não se limitava a esta ou
aquela corrente. Ele se servia da economia, de suas correntes, para compreender o que estava
à sua frente.
Para Evangelista, a relação economia e meio ambiente apresenta um especial
caráter para ele. O meio ambiente não envolve apenas uma dimensão de recurso. O meio
ambiente não é apenas matéria-prima. A relação economia e meio ambiente está muito
marcada pela sua formação de geógrafo, o que significa assinalar que meio ambiente envolve
uma totalidade que abriga a dimensão cultural. O alimento, por exemplo, não é apenas um
produto orgânico, é também a afirmação de uma identidade. O ato de ser, ser pernambucano,
baiano, sergipano, etc. está impregnado por uma dimensão cultural forjada pelo seu meio;
assim, a economia não apenas se expressa em moeda, em número, economia é empresa,
interesse, investimento, porém, com cor local. Economia não um ente abstrato que é
independente do lugar. De forma alguma. A economia tem cor local, está impregnada de
particularidades decorrentes do meio natural onde aquela população está inserida, mas, está
impregnada de nuances, hábitos, folclores, que se expressam numa moeda, numa maneira de
fazer circular a economia que depende da ambiência no qual se insere.
9. Referências
VAINSENCHER, Semira Adler. Manuel Correia de Andrade. Pesquisadora da Fundação
Joaquim Nabuco. Disponível em:
http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/index.php?
option=com_content&view=article&id=739&Itemid=192. Acesso em 12/09/11.
LIMA, Marcos Costa. Homenagem a Manuel Correia de Andrade: a geografia e apolítica do
Nordeste brasileiro. Revista Brasileira de Ciências Sociais. Disponível em:
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-69092007000300001&script=sci_arttext. Acesso
em 12/09/11.
SAQUET, Marcos Aurelio. Contribuições para o entendimento da obra de Manuel Correia de
Andrade: geografia, região, espaço e território. 2010. Disponível em:
http://www.e-publicacoes.uerj.br/index.php/geouerj/article/viewFile/1481/1241. Acesso em:
12/09/11.
EVANGELISTA, Helio de Araujo. Manuel Correia de Andrade e a perspectiva ambiental no
seu pensamento econômico. 2010. Disponível em:
http://www.seer.ufal.br/index.php/repd/article/viewFile/219/pdf_12. Acesso em: 12/09/11