O documento descreve vários movimentos artísticos de vanguarda do início do século XX, incluindo o Futurismo, Cubismo, Expressionismo, Dadaísmo e Surrealismo. O Futurismo italiano exaltava a vida moderna e a velocidade, enquanto o Cubismo buscava representar formas e volumes de maneira geométrica. O Expressionismo alemão procurava expressar emoções e visões pessimistas por meio de formas exageradas.
2. Vanguarda (do francês avant-gar-de , "proteção frontal") em sentido literal faz referência ao batalhão militar que precede as tropas em ataque durante uma batalha. Daí deduz-se que vanguarda é aquilo que "está à frente".
3. Os movimentos europeus de vanguarda eram aqueles que, segundo seus pró-prios autores, guiavam a cultura de seus tempos, estando de certa forma à frente deles. Muitos destes movi-mentos acabaram por assumir um com-portamento próximo ao dos partidos políticos: possuíam militantes, lan-çavam manifestos e acreditavam que a verdade encontrava-se com eles.
4. Entre os inúmeros movimentos ino-vadores, surgidos nas primeiras dé-cadas do século XX , e que con-tribuíram decisivamente para a constituição da chamada moderni-dade artística , devemos destacar 5:
18. ODE TRIUNFAL (TRECHO) – Álvaro de Campos (F. Pessoa) À dolorosa luz das grandes lâmpadas eléctricas da fábrica Tenho febre e escrevo. Escrevo rangendo os dentes, fera para a beleza disto, Para a beleza disto totalmente desconhecida dos antigos. Ó rodas, ó engrenagens, r-r-r-r-r-r-r eterno! Forte espasmo retido dos maquinismos em fúria! Em fúria fora e dentro de mim, Por todos os meus nervos dissecados fora, Por todas as papilas fora de tudo com que eu sinto! Tenho os lábios secos, ó grandes ruídos modernos, De vos ouvir demasiadamente de perto, E arde-me a cabeça de vos querer cantar com um excesso De expressão de todas as minhas sensações, Com um excesso contemporâneo de vós, ó máquinas!
19. Algumas ideias do Futurismo italiano, como o menosprezo à mulher e a exaltação da guerra (considerada um meio para “limpar” o planeta, livrando-o dos fracos), antecipariam ideo-logicamente aquilo que seria o Fascismo italiano, nas décadas de 1930-40. Como confirma-ção, temos o fato de que nessas décadas Marinetti se aproximou de Mussolini, e o Futurismo passou a ser uma espécie de arte oficial do Fascismo italiano. Ao lado, Benitto Mussolini, ditador fascista.
24. À direita: Pablo Picasso (Espanha, 1881-1973). Acima: Georges Braque (França, 1882 - 1963).
25. Les Demoiselles de Avignon (1907), do pintor espanhol Pablo Picasso. COMENTÁRIO: Esta obra representa, para além de uma obra-prima do cubismo mundial, a violação de todas as tra-dições e convenções vi-suais naturalistas ociden-tais, ao apresentar cinco prostitutas representadas de forma cubista, como se nota na mulher nua senta-da à direita, vista simulta-neamente de frente e de costas. Os rostos das per-sonagens refletem o início do Período Negro, na obra de Pablo Picasso, asseme-lhando-se a máscaras e esculturas africanas. Les Demoiselles de Avignon (1907), do pintor espanhol Pablo Picasso. COMENTÁRIO: Esta obra representa, para além de uma obra-prima do cubismo mundial, a violação de todas as tra-dições e convenções vi-suais naturalistas ociden-tais, ao apresentar cinco prostitutas representadas de forma cubista, como se nota na mulher nua senta-da à direita, vista simulta-neamente de frente e de costas. Os rostos das per-sonagens refletem o início do Período Negro, na obra de Pablo Picasso, asseme-lhando-se a máscaras e esculturas africanas.
26. A pintura foi feita com o uso das cores preto e branco - algo que demonstrava o sentimento de repúdio do artista ao bombardeio da cidadezinha espanhola. Claramente em estilo cubista, Picasso retrata pessoas, animais e edifícios nascidos pelo intenso bombardeio da força aérea alemã (Luftwaffe), já sob o controle de Hitler, aliado de Francisco Franco.
27. Sua composição retrata as figuras ao estilo dos frisos dos templos gregos, através de um enquadramento triangular das mesmas. O posicionamento diagonal da cabeça feminina, olhando para a esquerda, remete o observador a dirigir também seu olhar da direita para a esquerda, até o lampião trazido ainda aceso sobre um braço decepado e, finalmente, à representação de uma bomba explodindo.
28. Morando em Paris, o artista soube dos fatos desumanos e brutais através de jornais - e daí supõe-se tenha saído a inspiração para a retratação monocromática do fato. Conta-se que, em 1940, com Paris ocupada pelos nazistas, um oficial alemão, diante de uma fotografia reproduzindo o painel, perguntou a Picasso se havia sido ele quem tinha feito aquilo. O pintor, então, teria respondido: "Não, foram vocês!".
29.
30.
31. Entra pela janela o anjo camponês ; com a terceira luz na mão ; minucioso, habituado aos interiores de cereal, aos utensílios que dormem na fuligem; os seus olhos rurais não compreendem bem os símbolos desta colheita: hélices, motores furiosos; e estende mais o braço; planta no ar, como uma árvore a chama do candeeiro . (...) (Eugênio de Andrade, Antologia Pessoal da Poesia Portuguesa . Porto, Campo das Letras, 1999.)
32. Entra pela janela o anjo camponês ; com a terceira luz na mão ; (...) e estende mais o braço; planta no ar, como uma árvore a chama do candeeiro .
33.
34. Ao lado, Homem com a guitarra (1911), quadro do francês Geor-ges Braque.
35. Dois ano depois (1913), Braque voltou ao tema com a Mulher com a guitarra .
36. Ao lado, a tela “A guitarra”, do espanhol Juan Gris (acima). Ao lado, a tela “A guitarra”, do espanhol Juan Gris (acima).
39. A literatura cubista valorizava a proposta da vanguarda europeia de se aproximar ao máximo as manifestações artísticas, preocupando-se com a construção dos texto e ressaltando a importância dos espaços em branco e em preto da folha de papel e da impressão tipográfica, o que no Brasil influenciou enormemente a chamada poesia concreta dos anos de 1960.
40. Ao lado, o poema A Pomba apunhalada e o jato d'água , do francês Guillaume Apollinaire (na foto acima).
44. Quando nasci, um anjo torto desses que vivem na sombra disse: Vai, Carlos! ser gauche na vida. As casas espiam os homens que correm atrás de mulheres. A tarde talvez fosse azul, não houvesse tantos desejos. O bonde passa cheio de pernas: pernas brancas pretas amarelas. Para que tanta perna, meu Deus, pergunta meu coração. Porém meus olhos não perguntam nada. POEMA DE SETE FACES Carlos Drummond de Andrade
45. O homem atrás do bigode é sério, simples e forte. Quase não conversa. Tem poucos, raros amigos o homem atrás dos óculos e do -bigode, Meu Deus, por que me abandonaste se sabias que eu não era Deus se sabias que eu era fraco. Mundo mundo vasto mundo, se eu me chamasse Raimundo seria uma rima, não seria uma solução. Mundo mundo vasto mundo, mais vasto é meu coração. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. De Alguma poesia (1930) POEMA DE SETE FACES Carlos Drummond de Andrade
46. Eu não devia te dizer mas essa lua mas esse conhaque botam a gente comovido como o diabo. POEMA DE SETE FACES Carlos Drummond de Andrade Já o Poema de Sete Faces , de 1.930 com estrutura cubista, o poeta o escreveu aos 28 anos de idade. A cada uma das sete estrofes são demonstradas as múltiplas faces num mesmo momento da vida dele.
47.
48. Nos quadrinhos, a afirmação de que “o tradicional único ponto de vista foi abandonado” e de que “a perspectiva foi fraturada” remete-nos a algumas das propostas do Cubismo, corrente estética da qual Pablo Picasso (1881-1973) foi um dos iniciadores. Alude, especificamente, ao que se denominou “simultaneísmo”: a fusão de planos temporais e espaciais distintos, a mistura de planos, como se o observador tivesse o dom da ubiquidade e pudesse observar o objeto de vários ângulos simultaneamente. O quadro reproduzido em e exemplifica esses procedimentos: basta observar a multiplicidade de perspectivas que faz com que os olhos e a boca da figura pareçam “fragmentos” de um rosto, rearticulado de uma maneira arbitrária, não convencional.
53. "Passeava com dois ami-gos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exaus-to, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza". Comentário de Munch sobre a concepção da tela “O grito”, de 1893 (à esquerda). Comentário de Munch sobre a concepção da tela “O grito”, de 1893 (à esquerda). "Passeava com dois ami-gos ao pôr-do-sol – o céu ficou de súbito vermelho-sangue – eu parei, exaus-to, e inclinei-me sobre a vedação – havia sangue e línguas de fogo sobre o azul escuro do fjord e sobre a cidade – os meus amigos continuaram, mas eu fiquei ali a tremer de ansiedade – e senti o grito infinito da Natureza".
54. Quadros polêmicos de Mun-ch. Ao lado, Madonna (1894-95) e acima, Puberdade (95).
55. À esquerda, o busto do pintor belga James Ensor (por Edmond De Valériola, 1930). Em destaque, seu quadro L'ironie , de 1911.
56. Composição nº 6 do pintor russo Василий Кандинский (Wassily Kandinsky) que se encontra no Museu Ermitage de São Petesburgo, Rússia.
59. Numa das voltas olhando para trás, viu a montanha curvada, com o sol lhe mordendo as ilhargas. Era Loge, deus do incêndio... As montanhas desembestavam assustadas, grimpando os itatins com gestos de socorro, contorcidas. Loge perseguia as medrosas, lambido de chamas, trinando. Fräulein escutou um xilofone, o tema conhecido. E o encantamento do fogo principiou para Brunilda. (Mário de Andrade, Amar, Verbo Intransitivo )
60. Deriva do Expressionismo a sugestão de conteúdos psicológicos por meio de imagens do mundo exterior intensamen-te distorcidas (“montanha curvada”, “as montanhas desembestavam assusta-das... contorcidas”), assim como o peculiar subjetivismo das associações (figuras da natureza associadas a elementos míticos presentes na ópera wagneriana, tudo compondo um quadro da imaginação e do desejo da persona-gem).
61. Aves inteiras saltavam das travessas: os leitões, à unha, hesitavam entre dois reclamos igualmente enérgicos, dos dois lados da mesa. (...) Moderação! Moderação! Clamavam os inspetores, afundando a boca em aterros de farofa dignos do Sr. Revy. Alguns rapazes declamavam saúdes, erguendo, em vez de taça, uma perna de porco. À extremidade da última das mesas um pequeno apanhara um trombone e aplicava-se, muito sério, a encher-lhe o tubo de carne assada. Maurílio descobriu um repolho recheado e devorava-o às gargalhadas, afirmando que era munição para os dias de gala. Cerqueira, ratazana, curvado, redobrado, sobre o prato, comia como um restaurante, comia, comia, comia como as sarnas, como um cancro. Sanches, meio embriagado, beijava os vizinhos, caindo, com os beiços em tromba. (Raul Pompeia, O Ateneu )
67. O ready made nomeia a principal estratégia de fazer artístico do artista Marcel Duchamp. Essa es-tratégia refere-se ao uso de ob-jetos industrializados no âmbito da arte, desprezando noções co-muns à arte histórica como esti-lo ou manufatura do objeto de arte, e referindo sua produção primariamente à idéia.
72. MAS O QUE SIGNIFICA “DADÁ”? Segundo Tristan Tzara, não significa nada. Encontrei o nome casualmente ao me-ter uma espátula num tomo fechado do Petit Larrouse e lendo logo, ao abrir-se o livro, a primeira linha me saltou à vista: DADÁ. Tristan Tzara
73. Criado a partir de um clima de instabilidade, medo e revolta pro-vocado pela guerra, o movimento dadá pretendia ser uma resposta à nítida decadência da civilização representada pelo conflito. Daí provém a irreverência, o deboche, a agressividade e o ilogismo dos textos e manifestações dadaístas.
74. O elefante Celebes , de Max Ernst, um dos fundadores do Dadaísmo. Neste quadro, o artista de-senvolve a técnica da montagem e da colagem, muito utili-zada pelos dadaís-tas.
75. Mais do que deplorar a guerra, os dadaístas, e os que depois se tor-naram surrealistas, tiveram uma po-sição ideológica. Eles não deram apenas um espelho para sociedade, eles exigiram atenção. Eles explo-ram a sua decadência moral com uma ferocidade inédita na arte. Eles estavam contra a guerra, contra o materialismo, contra o nacionalismo e conformismo. Mas suas raízes es-tão bem profundas.
77. PARA FAZER UM POEMA DADAÍSTA (T. Tzara) Pegue um jornal. Pegue uma tesoura. Escolha neste jornal um artigo que tenha o comprimento que você queira dar ao seu poema. Corte o artigo. Corte em seguida com cuidado cada palavra dele e ponha-as em um saco.
78. Agite delicadamente. Pegue, depois, um recorte após outro. Copie as palavras rigorosamente na ordem em que saíram. O poema se parecerá com você. E eis que você se tornará um escritor infinitamente original e de sensibilidade fascinante, mesmo que incompreendido pelo público.
79. A postura dadaísta é de demolição dos conceitos tradicionais da arte e, em geral, da cultura de uma sociedade que, sendo defensora de valores “requintados”, promoveu a barbárie que foi a Primeira Guerra Mundial. O Dadaísmo reflete nas artes, a total falta de perspectiva em relação ao futuro dos artistas da época.
80. Certa vez, o poeta e escritor alemão Hugo Ball (na foto) que inclu-sive havia escrito o manifesto dadaísta, de-clamou um “poema-fonético” no Cabaret Voltaire, ponto de en-contro dos dadaístas. Ele recitou um poema dando ênfase nas vo-gais, imitando o som dos elefantes.
81. gadji beri bimba glandridi lauli lonni cadori gadjama bim beri glassala glandridi glassala tuffm i zimbrabim blassa galassasa tuffm i zimbrabim… Essas palavras não têm significado em nenhuma língua conhecida. O poema dadaísta explora apenas os sons...
82. Na literatura, o Dadaísmo caracteriza-se pela agressividade, pela improvisação, pela desordem, pela rejeição a qualquer tipo de racionalização e equilíbrio, pela livre associação de palavras (técnica da "escrita automática", que seria mais tarde aproveitada pelo Surrealismo) e pela invenção de palavras com base na exploração apenas de seu significante. Um exemplo dessas propostas é o poema fonético 'Die Schlacht' (A batalha), de Ludwig Kassak.
83. Berr... bum, bumbum, bum... Ssi... bum, papapa bum, bumm Zazzau... Dum, bum, bumbumbum Prä, prä, prä... ra, hä-hä, aa... Hahol... No Brasil , não existiu nenhuma manifes-tação artística considerável dos da-daístas, nem no campo da Literatura, nem no campo das demais artes.
85. Sigmund Freud Fortemente influenciado pelas teorias psicanalí-ticas de Sigmund Freud (1856-1939), o Surrealis-mo enfatiza o papel do inconsciente na ativida-de criativa.
102. Freud, na psicanálise, e Bergson, na fi-losofia, já haviam destacado a importân-cia do mundo interior do ser humano. En-caravam o inconsciente, o subconsciente e a intuição, como fontes inesgotáveis e superiores de conhecimento do homem, pon-do assim em segundo plano o pensamento sensível, racional e consciente, ou seja, por na tela ou no papel os desejos inte-riores profundos, sem se importar com a incoerência, significados, adequação, etc. Na literatura esse princípio recebeu o nome de “escrita automática”.
103. A outra linha de atuação surrealista, a onírica, busca a transposição do univeso dos sonhos para o plano artístico. O so-nho, segundo Freud, é a manifestação das zonas ocultas da mente: o inconsciente e o subconsciente. Os surrealistas preten-diam criar uma arte livre da razão, que correspondesse à transferência direta das imagens artísticas do inconsciente para o papel, como se o escritor estivesse so-nhando acordado. Isso também aconteceu no cinema, principalmente com Luís Bruñuel.
104. PRÉ-HISTÓRIA Mamãe vestida de rendas Tocava piano no caos. Uma noite abiu as asas Cansada de tanto som, Equilibrou-se no azul, De tonta não mais olhou Para mim, para ninguém! Cai no álbum de retratos. MURILO MENDES
105. Por que se pode associar o poema “Pré-História” ao Surrealismo? Em virtude da associação ilógica de imagens — ou associação de imagens segundo uma “lógica” subconsciente ou inconsciente. Murilo Mendes foi um dos poetas brasileiros mais marcados pelo Surrealismo, como evidencia este poema em que a morte da mãe é vista de uma perspectiva infantil, com lembranças de seu passado (“vestida de rendas”, “tocava piano”) misturadas ao presente de sua ausência (o “álbum de retratos”).
106. O livro Macunaíma de Mário de Andrade talvez seja o melhor exemplo de influência do sur-realismo na literatura brasileira. Escrito em apenas seis dias, com uma narrativa mágica, quase automática, reelabora temas de mitologia indígena e visões folclóricas. É uma das o-bras modernistas brasileiras mais afinadas com a literatura de vanguarda no mundo, na sua época. Nesse romance en-contram-se dadaísmo, futuris-mo, expressionismo e surrealis-mo aplicados às raízes da cultura brasileira.
109. Un chien andalou (Um cão andaluz) é um filme surrea-lista lançado em 1929 na França e dirigido/escrito por Luis Buñuel e Salvador Dalí. É considerado o maior repre-sentante do cinema experi-mental surrealista, embora exista outros filmes do gêne-ro. Foi realizado em 1928, época ainda do ápice das vanguardas européias, o filme nasceu de uma cola-boração de Luis Buñuel com o pintor Salvador Dalí. Cena do filme