O documento resume o capítulo 1 do livro "Renovar a Teoria Crítica e Reiventar a Emancipação Social" de Boaventura de Sousa Santos. O capítulo discute a "Sociologia das Ausências" e a "Sociologia das Emergências" como formas de entender racionalidades alternativas ignoradas. Propõe a "tradução" entre saberes como forma de ampliar nosso entendimento do mundo.
1. UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
FACED - PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO
TÍTULO: EMANCIPAÇÃO SOCIAL E UNIVERSIDADE
LEITURAS A PARTIR DE BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS
PROFESSOR/ RESPONSÁVEL: Jaime José Zitkoski
PROFESSORA/ COLABORADORA: Maria Elly Genro
LIVRO
Renovar a Teoria Crítica e Reiventar a Emancipação Social
CAPÍTULO I
A Sociologia das Ausências e a Sociologia das Emergências:
para uma ecologia de saberes
Grupo II
Cesar dos Santos
Valério
Maria Terezinha
Stropper
Luis Paulo Arena
Maria Salete Aumond
Luciane Bello
3. PARA UMA SOCIOLOGIA DAS AUSÊNCIAS E UMA SOCIOLOGIA DAS
EMERGÊNCIAS
INTRODUÇÃO
Projeto: A reinvenção da emancipação social – estuda alternativas à
Globalização Neoliberal.
Objetivo: Determinar em que medida está sendo produzida uma
globalização alternativa, suas possibilidades e limites.
Hipótese: Os conflitos entre globalização neoliberal hegemônica e
globalização contra hegemônica são mais intensos nos países
periféricos.
Justificativa: - Países periféricos e semi-periféricos:
movimentos/Iniciativas: democracia participativa, sistemas de produção
alternativos, multiculturalismo, direitos coletivos, biodiversidade e
cidadania -> outros discursos e narrativas sobre o mundo: reflexões
epistemológicas (epistemologias do sul). Alguns exemplos: Seattle –
1999 (OMC); MAB; Movimento “chipko” e o “empate”; Orçamento
participativo.
4. Fatores que contribuíram para essa reflexão: Projeto conduzido fora
dos centros hegemônicos de poder. Interação entre o conhecimento
científico e o não científico.
CRÍTICA DE BOAVENTURA: RAZÃO INDOLENTE (LEIBNIZ)
A base de sustentação do pensamento hegemônico produz e reforça
as inexistências. A não credibilidade das experiências alternativas, leva
ao desperdício da experiência.
Contexto sociopolítico no qual a razão indolente se desenvolveu:
Revoluções industriais, colonialismo, imperialismo, neoliberalismo.
Globalização: escala sem precedentes, privilegia realidades que se
alargam sobre o globo. O resto: local, particular -> vistas como
alternativas não credíveis.
5. Lógica produtivista capitalista: lucro, trabalho produtivo. O resto:
improdutivo -> produção social da inexistência -> o resultado é a
subtração do mundo, a contração do presente e o desperdício das
experiências.
Fora dos debates encontram-se os saberes não científicos, nem
filosóficos, saberes não ocidentais.
A experiência social em todo mundo é mais ampla e variada do que a
tradição científica e filosófica ocidental reconhece.
A experiência desperdiçada nutre a idéia de que não há alternativas;
Tornar visíveis tais experiências, dar credibilidade a essas
experiências.
Ciências Sociais: responsável por desperdiçar alternativas.
RAZÃO INDOLENTE:
a)Razão Metonímica: – como é concebido o presente (contração).
b)Razão Proléptica: – como é concebido o futuro a partir da
monocultura do tempo linear (futuro dilatado). História tem o sentido e
a direção conferidos pelo progresso -> ilimitado e infinito.
6. Razão Metonímica:
Metonímia
É uma racionalidade que facilmente toma a parte pelo todo, pois tem
um conceito de totalidade feito de partes homogêneas. E nada que
fica de fora dessa totalidade interessa. Contrai, diminui, subtrai o
presente e precisamos ter uma visão do nosso presente.
O resto é considerado inexistente.
Necessidade: propor um novo modelo de racionalidade.
Propõe uma razão cosmopolita (sociologia das ausências, sociologia
das emergências e trabalho de tradução). O presente seja expandido
e o futuro contraído. A idéia de determinação do futuro é substituída
pelo cuidado com o futuro. Ex: A economia ambiental pode ser
substituída pela economia ecológica?
Produz a inexistência do que não cabe na sua totalidade e no seu
tempo linear.
Pichação ou grafitismo?
7. - SOCIOLOGIA DAS AUSÊNCIAS - Movimento transgressivo insurgente.
A existência de cinco monoculturas que produzem as ausências em
nossa racionalidade ocidental. Uma racionalidade preguiçosa.
- A primeira ausência, a do Saber e do Rigor - Toma como única
verdade o pensamento científico, Passa a reduzir o presente
desconsiderando os conhecimentos e práticas populares existentes
nas sociedades. O saber torna-se (ignorante). Não valoriza outras
culturas, povos e grupos sociais que produzem conhecimentos nas
práticas populares. Ex.: Centros urbanos e periferias das cidades.
- A segunda ausência, a de Tempo Linear, - Culturalmente absorvemos
a idéia de que os conhecimentos científicos e culturais vindos do Norte
sempre estariam na vanguarda da modernidade.
8. Com o pensamento neoliberalista passamos a desacreditar na
eficiência de nossas instituições, organizações e pensamento científico
por nos considerarmos países subdesenvolvidos, atrasados. O
pensamento de que o Norte proporcionaria as melhores idéias e formas
de viver e de estar neste mundo. O (residual).
- A terceira ausência, a da Naturalização das Diferenças – Baseia-se na
forma de organização das diferentes culturas em determinados países.
Ex.: Etnia, sexuais e de castas. Civilização Hinduísta, divididos em
castas, são povos politeístas marcados por grandes disparidades sócio-
econômicas. A Índia, abriga inúmeras castas e tribos, numa
multiplicidade de religiões e seitas. .Afeganistão e o Paquistão - Burca
A (inferioridade) é produzida pela hierarquia dominante
desconsiderando algumas vezes as relações capital – trabalho. Os
inferiores os são por natureza e por isso a hierarquia vem a ser a causa
das diferenças. Ex.: Mutilação das meninas na África (clitóris), Judeus-
circuncisão.
9. - A quarta ausência, a da Existência de uma Escala Dominante - Vem
ao longo dos tempos tendo como o universalismo, e atualmente a
globalização como representatividade de domínio e ocupação.
Universalismo - Pretende impor uma concepção de direitos a nível
universal, ou seja os direitos humanos desenvolvidos num conceito
ocidental devem segundo esta óptica, ser aplicados a todos os
indivíduos independentemente da sua cultura, ignorando
singularidades culturais e localismos específicos que poderão entrar em
conflito com esta posição, (o local ou particular).
Ex.: Amazônia - Água - Patrimônio da Humanidade.
Globalização - O discurso hoje, a consagração de uma geopolítica
neoliberal que orienta as políticas ambientais, a transformação da
natureza em mercadoria e, por outro lado, as mobilizações por
reconhecimento de identidades coletivas em diversos países. Ex.:
direitos de cidadania. Cria ausências no particular e no local. Ex.: Mc’
Donalds.
10. - A quinta ausência, a do Produtivismo Capitalista, -
Crescimento econômico e produtividade em um ciclo de produção
determinam a produtividade do trabalho humano ou da natureza, e
tudo o mais não conta. É improdutivo. Maneira contrária a cultura
indígena ou a dos camponeses de se organizar a terra. Ex:
Biodiversidade - Sustentabilidade-Plantio e o repouso da terra Índios-
Fertilizantes
EPISTEMICÍDIO
A morte de conhecimentos alternativos reduz a realidade, descredibiliza
não somente os conhecimentos alternativos mas também os povos, os
grupos sociais cujas práticas são construídas nesses conhecimentos.
Quem são os nossos Heróis e Heroínas? Walt Disney, Branca de Neve.
12. SOCIOLOGIA DAS EMERGÊNCIAS
A Crítica da razão Proléptica é feita e enfrentada por outra sociologia
“ Sociologia das Emergências”.
Fala de sinais, possibilidades que existem no presente e que são
possibilidades emergentes (muitas vezes invisíveis) e são sinais do
futuro.
Devemos buscar credibilizar, ampliar simbolicamente as possibilidades
de ver o futuro (Ampliação da visão simbólica).
A sociologia das Emergência produz experiências possíveis, mas que não
estão dadas, porque não existem alternativas para isso, porém são
possíveis e já existem como emergências. Não se trata portanto de um
futuro abstrato, pois já temos pistas, sinais.
13. A sociologia das Emergências nos permite abandonar essa idéia de
“futuro sem limites” e substituir pelo futuro com algo concreto (que
está em construção por estas emergências).
AMPLIAR O PRESENTE E CONTRAIR O FUTURO
Não temos “receitas para esse mundo” (Ex. Rosa Luxemburgo e Marx ).
É necessário criar inteligibilidade no interior da pluralidade sem
destruir a diversidade. Como por exemplo articular o movimento
feminista com o indígena, com o camponês com o urbano. E isso é
possível pela tradução .
14. Tradução, como um processo intercultural e intersetorial. Traduzir
“saberes” em “outros saberes”, traduzir práticas, sujeitos e buscar
inteligibilidade. Para isso é preciso fazer a tradução entre estes
diferentes movimentos observando o que é diferente e o que é
semelhante. Esse é o princípio fundamental da Epistemologia do qual
ele chama de “Epistemologia do Sul”.
“Não há justiça global sem justiça cognitiva global, ou seja, sem justiça
entre os conhecimentos”.
Boaventura coloca que “não há nenhuma cultura que seja completa,
então é preciso fazer a tradução para ver a diversidade sem
relativismo”. Desta forma este procedimento da tradução é um
processo em que se dá sentido ao mundo que não tem um sentido
único, porque ele é um sentido de todos nós. A fim de criar uma nova
concepção de dignidade humana e de consciência humana.
15. DEBATE COM O PÚBLICO
Cuidado para não “canibalizar” ao traduzir
Boaventura propõe :
- -tradução recíproca (eu e você), transformando conceitos existentes;
--imaginação epistemológica distinguindo critérios cognitivos
(administram forma de saber) e critérios éticos-políticos (decidem
intervenção no real);
-- outro diálogo da humanidade;
-- conhecimento deve ser produzido de forma horizontal, compartilhada;
-- ecologia de saberes: extensão ao contrário;
-- somos uma cultura de palavras e não poesia e espiritualidade (ex:
#indígenas na UFRGS);
--erros da razão indolente: reducionismo, determinismo e dualismo
(ansiedade de pertença dificulta pensar o novo).
16.
17. REFLEXÃO: Para a utopia conservadora do neoliberalismo, se
há desemprego e exclusão social, se há fome e pandemias na
periferia do sistema mundial, isso não é o efeito das deficiências
ou dos limites das leis do mercado. É antes o resultado do fato de
essas leis ainda não terem sido plenamente aplicadas. O
horizonte das utopias conservadoras é, assim, um horizonte
fechado, um fim da história. Por isso a pretensão do controle total
sobre a realidade presente através de saberes e de poderes
extremamente eficazes; a rejeição radical de alternativas ao
status quo. Devemos contrapor a ideia da totalidade do controle
(como poder ou como saber), escapar dessa perversão.
Segundo Boaventura devemos acreditar que há razões credíveis
para defender a possibilidade de alternativas. De que não
necessitamos obrigatoriamente de novos conhecimentos, mas de
que devemos encontrar alternativas às alternativas. Entender que
a modernidade ocidental produz a não contemporaneidade do
contemporâneo, e que a idéia de simultaneidade esconde as
assimetrias dos tempos históricos que nela convergem.
18. BIBLIOGRAFIA
SANTOS, Boaventura de Sousa, 1940 – Renovar a teoria crítica e
reinventar a emancipação social / Boaventura de Sousa Santos;
tradução Mouzar Benedito. – São Paulo: Boitempo, 2007.
SANTOS, Boaventura de Sousa – A gramática do tempo: para uma
nova cultura política / Boaventura de Sousa Santos – 3 ed. – São
Paulo: Cortez, 2010 – (coleção para um novo senso comum; v 4.
VÍDEO
Performance Teatral – O MENESTREL - Intérprete – Moacir Reis /
TJSC - Florianópolis - 23/11/ 2001.
http://www.youtube.com/watch?v=vlLh8K6FF8A