1. Futebol: uma breve trajetória em busca do “novo”
Caros amigos do GECUPOM/Futebol antes de iniciar esse relato, sobre
minha breve experiência no futebol, gostaria de salientar que é um grande
prazer poder estar escrevendo para o blog desse grupo, que com orgulho me
incluo como um dos fundadores.
É impossível falar do GECUPOM, sem mencionar o Prof. Paulo Capela,
exímio conhecedor do futebol. Seu discurso enquanto professor, formador de
professores (treinadores ???), baseava-se no questionamento das “coisas” que
eram tratadas como verdades absolutas, inquestionáveis. Hoje percebo que o
que impulsiona qualquer profissional, é a capacidade de questionar e buscar o
novo. Professor, seus ensinamentos estarão comigo por onde o futebol, e a
vida me levarem.
Feita a justa homenagem, inicio esse breve relato, alertando que as
opiniões expostas em seguida, não são definitivas e muitas ainda estão em
construção. Não pretendo afirmar nada, simplesmente expor o que acredito.
Ficaria satisfeito se ao final do texto os leitores pudessem refletir sobre os
pontos abordados.
Minha ligação com o futebol vem de infância, como brincadeira predileta,
jogava todos os dias e lugares possíveis com qualquer objeto que se
parecesse com uma bola. Vivenciei o conhecido futebol de rua, da
improvisação, da alegria, da espontaneidade, da não-mecanização...tempos
bons em que se jogava por jogar, por divertimento, sem responsabilidades, por
prazer. Além desse, conheci o outro, da mecanização, da responsabilidade,
ainda que não de forma profissional, fui apresentado a um futebol onde a busca
pela vitória extrapolava o simples divertimento... Em um determinado período,
fui obrigado a fazer uma escolha, continuar, ou estudar...por estar escrevendo
esse texto vocês podem imaginar pelo que optei.
Quando entrei na faculdade tinha um único desejo, trabalhar com o que
mais gostava de brincar... Parecia óbvio e lógico a trajetória: entrar na
faculdade aprender tudo sobre futebol e pronto, estaria apto a trabalhar.
Durante o período que permaneci na universidade, direcionei muitos estudos
2. para o futebol, realizei estágios, me envolvi com treinamentos, arbitragem,
grupos de estudos, etc. Com o passar do tempo percebi que se pretendia atuar
no meio futebolístico, precisava buscar experiência extra-universidade além
das que os professores poderiam nos oferecer. Aquele foi o primeiro passo
rumo à construção de uma carreira, principalmente porque conheci uma
realidade não se aprende sentado, mas sim no campo, no dia a dia.
Por ter “saído” cedo, ainda cursava a terceira fase naquela altura,
consegui associar o que era prática e o que era teoria, e quando e onde essas
duas se interligavam. Dessa forma levava o questionamento em duas direções,
da universidade para o campo e do campo para a universidade. Com surpresa,
passei a perceber que esses dois pólos estavam muito distantes. Assim surgiu
uma questão: será que não consigo aplicar a teoria na prática, ou a prática
não tem teoria? Dependendo onde esse questionamento era levantado, as
respostas eram: a teoria não tem nada a ver com a prática, o futebol é
campo, é prática, a teoria é para quem nunca chutou uma bola na vida
(“profissionais” do campo), ou ainda, a prática sem base teórica não tem
valor, o empirismo não tem validade científica, quem não estuda não sabe
ensinar (“profissionais” da universidade). Essas eram as informações que
possuía para atuar. Não conseguia entender como o futebol era tratado com
tanta simplicidade, e preconceito, por ambas as partes. Porque teoria
(universidade) e prática (campo) não poderiam caminhar juntas? Seria mesmo
que profissionais formados em universidade não poderiam atuar em cargos de
expressão, e profissionais, da prática, não poderiam realizar pesquisa, ou ter
sua opinião respeitada e considerada?
Minha trajetória profissional sempre esteve associada a uma formação
acadêmica, em nível de especialização e depois mestrado. Infelizmente
percebo, ainda hoje, uma grande distância entre teoria e prática no futebol.
Quem está somente no campo defende que os “cientistas” não podem resolver
os problemas do futebol, já os “doutores de laboratório” argumentam que os
“práticos” não refletem os problemas, resolvem tudo por instinto. Será? Quem
está certo? Há uma verdade para isto? Questionamentos como estes
chegaram a me incomodar, mas hoje não mais. Particularmente acredito que
teoria e prática, podem, e devem caminhar juntas, mas é importante que haja
3. uma flexibilidade, respeito e humildade de ambas as partes. Ainda hoje não
consigo perceber, durante uma partida, o que é teoria e o que é prática, então
por que tratá-las de forma isoladas?
Atualmente entendo isso da seguinte forma: teorizo a prática e pratico a
teoria (pelo menos tento!). Quanto ao futuro próximo não sou excessivamente
otimista a ponto de acreditar que isso será unanimidade, principalmente pelos
discursos dos práticos (e intocáveis?!?!). Estes acreditam já saberem de tudo
que precisam e que no futebol não há mais nada para se criar, já está tudo
inventado, todo o resto é besteira. Por outro lado os teóricos acreditam que
guardam os segredos do sucesso e que quem deseja o conhecimento deve ir
buscá-lo.
Em seguida a este breve parêntese, retomemos as experiências...
Depois de formado, tracei um “plano”, que culminaria em curto prazo
trabalhar em um dos dois clubes profissionais de futebol de Florianópolis.
Como já vinha atuando em uma escolinha licenciada, determinei que aquele
seria o caminho a seguir. Recém formado, aplicava “tudo” que havia aprendido
na universidade, porém passei a refletir sobre os conteúdos, e cheguei a
conclusão que necessitava de outros conhecimentos para ensinar uma
modalidade coletiva. Aquela situação foi crítica, porque o que tinha como
certeza não me respondia mais os problemas do campo. Eis o dilema: agora
que saí da universidade, o que fazer? Então decidi voltar, e discutir com
colegas, e professores, que la permaneciam, sobre esses “problemas”.
Angustiado com isto passei a direcionar minhas leituras para outros textos, que
iam além dos períodos de maturação e desenvolvimento motor.
Apenas os textos não estavam sendo suficientes para sanar algumas
dúvidas. Eis que em conversas informais, com um professor que considero
bastante, e nem era da área do futebol, me levou a repensar as práticas. Ele
me desafiou, com a indagação: você quer entender/conhecer de futebol? Então
procuro enxergá-lo além dele. Pode parecer algo óbvio, mas fez total diferença
naquele momento. Percebi que estava tentando responder os problemas de
uma forma lógica, aritmética, pressupondo que a soma das partes resultaria na
construção de um todo consistente.
4. Como ainda atuava na escolinha, e possuía autonomia para aplicar as
“novas idéias”, fui utilizando o método ensaio e erro. O novo desafio me deixou
motivado principalmente quando passei e observei que as crianças
apresentaram boa aceitação para a proposta. A nova intervenção se baseava
essencialmente no ensino pela teoria dos jogos coletivos, ou seja, ensinar o
futebol jogando futebol. Além de atrativa e divertida era mais informativa. A
idéia era tão “diferente” do convencional das demais escolinhas, que alguns
pais vinham questionar essa forma de ensino. Para eles era inconcebível
aprender futebol sem antes praticar passe, chute, domínio, controle... era uma
loucura! A meta era além de mostrar as crianças outra forma de praticar, e
aprender futebol, pôr em exercício ensinamentos que conhecia dos livros.
Ainda que subjetivamente, acredito que consegui alcançar esses
objetivos, principalmente por conversas informais que tinha com as crianças,
perguntando-lhe o que eles pensavam dessa “nova maneira”, e as respostas
eram diversas, do tipo: nunca tinha treinado futebol dessa forma; os treinos são
mais divertidos; não vejo a hora passar durante os treinamentos; essa forma de
treinar é melhor, porque não preciso ficar tanto tempo parado nas filas
esperando para chutar... Senti-me satisfeito pelo trabalho que iniciei, mas não
por muito tempo, após 6 meses dessa “mudança” recebi um convite para
integrar a comissão técnica de uma equipe infantil em um clube profissional de
Florianópolis.
O convite estava sendo esperado há muito tempo, e como não poderia
ser diferente aceitei. Dessa forma assumi o cargo de preparador físico na
categoria sub15. Sabia que era a porta de entrada para o futebol profissional, e
precisava realizar um bom trabalho, para continuar no ano seguinte. Antes de
iniciar, ouvi a seguinte frase de um amigo: você quer viver do futebol? Então
faça algo diferente, não se contente em repetir o que já está estabelecido como
verdade absoluta. De imediato concordei, e procurei (procuro !!!) levar a campo
o que até o momento estava nos textos. Parecia ser algo fácil de ser aplicada,
afinal de contas quem não deseja o novo?
Não precisei nem de uma semana para perceber que aquele “lema” não
seria muito bem aceito, visto que um dos primeiros “conselhos” que recebi,
5. quando cheguei na “prática” foi: você deseja trabalhar (e sobreviver !!!) no
futebol? Então não invente, faça o feijão com arroz!!!!!
Imaginem como me senti com a nova informação? Percebi que não seria
simples aplicar as novas idéias, precisaria antes ganhar a confiança das
pessoas que estavam “acima”. Isso não foi fácil, pois como não era ex-atleta e
estava recém formado, era tratado como um preparador físico inexperiente,
que nunca tinha trabalhado em lugar nenhum. De fato isso era verdade, mas o
preconceito em algumas ocasiões foram excessivos, e me deixavam
extremamente desmotivado, não o suficiente para me fazer desistir. Sabia que
meu objetivo estava além daquilo, e tinha certeza que um dia teria o respeito
dos companheiros de trabalho. E como consegui esse respeito? Simples,
mostrando que estava ali para contribuir, e que de fato era inexperiente, mas
que queria muito aprender com eles. É comum, as pessoas que estão a muito
tempo na prática pensarem que apenas quem conhece futebol é quem viveu no
futebol por décadas ( ou seja, tempo = qualificação!!), e que os acadêmicos
que “aprenderam” na universidade conhecem da teoria, e como futebol não é
teoria... Dessa forma entendi o que era o tal futebol que a universidade não
havia, e nem poderia ter me ensinado.
Cheguei a conclusão que precisava apresentar algo que lhes fizesse me
perceber como importante para a categoria, então assumi uma atitude
extremamente profissional, que não é muito comum nas categorias de base.
Respeitando horários, escutando mais do que falando, observando, me
propondo a ajudar, não menosprezando ninguém, me mostrando interessado
pelo conhecimento de todos, me vestindo adequadamente, usando linguajar
adequado, foram as atitudes que adotei para me fazer notar. Esse
comportamento me auxiliou muito, e em pouco tempo já observava um
tratamento diferente, percebendo que o conhecimento que trazia da
universidade, passava a ser considerado e aproveitado. Resumindo em seis
meses de atuação como preparador físico, fui promovido a categoria sub17. É
importante ressaltar que nesse período inicial realizei os trabalhos, e métodos,
que era tido como feijão com arroz. Realizava o que se esperava de um
preparador físico “padrão”, ou seja, aperfeiçoar a condição orgânica dos
atletas. Tive a sorte de trabalhar com um treinador que me ajudou muito,
6. deixando-me tranqüilo para atuar, principalmente no que se referia a liderança
frente ao grupo, que se consegue somente com tempo e experiência.
A categoria sub17 foi uma experiência muito rica, onde apliquei idéias
que se aproximavam das minhas convicções. Por sorte, atuei ao lado de um
grande profissional, que me dava total autonomia, e confiava no trabalho.
Formamos uma boa dupla, nos entendíamos, confiávamos um no outro e
conseguimos desempenhar bons trabalhos. Vivenciamos grandes momentos
da categoria, e aprendi muito com ele, principalmente com relação a liderança
e gerenciamento de grupo. Grande profissional, que considero amigo, que
tratando do futebol com tanta paixão, me influencia até hoje.
Apesar de na posição de preparador físico já aplicar idéias que
considerava importantes para o treinamento, ainda não podia aplicá-las
integralmente. O motivo era simples, não era o treinador, e os conceitos
extrapolavam a função de preparador físico. Como tínhamos uma relação de
confiança e respeito, não me sentia a vontade de “invadir” o que era
considerado de responsabilidade dele, apesar de sempre conversarmos sobre
o assunto, e também por considerar o trabalho dele muito bom. Naqueles
tempos já procurava visualizar o jogo sobre um prisma global, apesar de ser
responsável por uma “parte” em especifico, que era o condicionamento físico,
tentava pautar a intervenção sob uma perspectiva de futebol-coletivo-global.
Essa concepção me conduziu a enxergar o jogo com outros olhos.
Durante as partidas, de profissionais e de categorias de base, me apegava
mais as dinâmicas da equipe, ao contexto. Com o tempo fui me perguntando
como era possível que por detrás daquela aparente desordem não houvesse
uma ordem? Passei a tentar identificar a ordem no meio da “desordem”. Dessa
forma reflexões, e estudos, encaminharam-se para outros caminhos.
Os livros de treinamento (físico, técnico, táticos e psicológicos)
passaram a dar lugar a outras leituras “complementares”, que apesar de não
abordarem a modalidade de uma forma direta, explicavam (explicam) muito
bem o futebol. Por conseqüência, autores como Edgar Morin, Ruben Alves,
Fritjof Capra, e outros, passaram a fazer parte das bibliografias consultadas.
7. Essas leituras me fizeram compreender a máxima de um grande treinador que
citava: quem apenas sabe de futebol não sabe nada de futebol.
Voltando ao campo... o tempo passou e depois de quatro anos atuando
como preparador físico fui convidado ser treinador da categoria sub17. Apesar
de há muito tempo vir pensando como treinador, percebi que nunca havia
pensado na idéia de atuar como. A insegurança veio à tona, mas queria muito
colocar em prática “tudo” que acreditava ser uma forma diferente de tratar o
futebol, e a oportunidade estava ali...
Por já conhecer, e me dar muito bem com o grupo de atletas na qual
seria responsável, o início não foi tão difícil. Conversamos bastante, e lhes
“desafiei” a experimentar uma proposta nova, onde a participação deles seria
fundamental para o êxito do processo. Estávamos em período final competição,
dessa forma apesar de ter noção de que qualquer intervenção precisa de
tempo para apresentar resultado, ainda precisava lidar com a nossa
expectativa em alcançar o título. Infelizmente não alcançamos nosso objetivo
na competição, mas constatei que as idéias eram sim “aplicáveis”, porém
precisavam de tempo para se concretizarem.
Após a desclassificação do campeonato estadual, assumi a
responsabilidade de preparar a equipe, agora com outros atletas mais novos,
para uma competição, de nível nacional, da categoria juvenil. Convicto da
metodologia que ia adotar, iniciei o trabalho, mas logo encontrei dificuldades
com o grupo. Com o passar dos treinamentos fui observando que os atletas
não estavam acostumados a treinar futebol sob uma perspectiva complexa. A
impressão foi que os atletas treinavam por “instinto”, ou seja, nunca haviam
refletido sobre suas ações e reações. Em inúmeras ocasiões, em que as
atividades exigiam o mínimo de concentração e entendimento global, os atletas
apresentavam muitas dificuldades.
Inicialmente pensei que o problema estivesse com a metodologia, em
seguida, comigo, e por ultimo com os atletas. Após muita reflexão conclui que o
que vinha ocorrendo era muito óbvio. Exigir que repentinamente os jovens
passassem a entender o futebol sob uma perspectiva global, era no mínimo
incoerente. Apesar dessa constatação não abandonei a idéia, mas sim
8. reformulei e adaptei à situação que estava presente. Conseguimos evoluir, mas
não foi suficiente para alcançarmos o título da competição. Apesar de, sob uma
avaliação subjetiva, estarmos no caminho para melhorar ainda mais, não me
mantiveram no cargo, e com a saída aprendi algumas lições do futebol “real”:
(1) a evolução é reconhecida se estiver associada a bons resultados numéricos
(vitórias e títulos); (2) o futebol não se explica apenas pelo método (dentro e
fora do campo) adotado pelo treinador; (3) nenhuma estrutura consistente, e
duradoura, se constrói sem uma base sólida; (4) ninguém consegue fazer
omeletes sem ovos e (5) idéias para se concretizarem, devem ser
compactuadas, ou seja, todos (dirigentes e comissão técnica) precisam
acreditar, confiar e se empenhar para efetivarem os objetivos, caso contrário há
uma enorme probabilidade de fracasso.
Com esses pensamentos, e sem saber como seguiria dentro do clube,
resolvi me dedicar ainda mais aos estudos. Assim resolvi aproveitar o período
de férias, e fui visitar um país que vem abordando o futebol, há muito tempo,
sob uma ótica a qual entendo ser bastante coerente. Por intermédio de um
professor conhecido, consegui contato com um pesquisador de Portugal,
referencia na área de ensino dos jogos desportivos coletivos, especificamente
o futebol. Dessa forma, não satisfeito com a leitura de suas obras, fui até lá e
permaneci sob sua orientação por 2 meses. Período mágico. Além debater
assuntos de interesse profissional, obtive contato com uma realidade diferente
da presente no Brasil. Nem melhor e nem pior, simplesmente diferente,
enriquecedora. Ao contrário do que muitos pensam, os portugueses tem sim
muito a nos ensinar, mas também aprender conosco.
De volta ao Brasil, continuava ainda vinculado ao clube, como auxiliar
técnico da categoria sub23, porém tinha o desejo de voltar atuar com técnico.
Essa oportunidade apareceu no primeiro dia que desembarquei no país. Fui
convidado a assumir uma categoria mirim (sub13) em um clube no estado de
São Paulo. Havia dois motivos para aceitar, primeiro a possibilidade de atuar
em um clube de expressão no cenário nacional e internacional e segundo, uma
nova oportunidade de aplicar “aquelas” e novas idéias que haviam acabado de
desembarcar comigo.
9. Hoje, completados 6 meses de atuação, consigo perceber que o trabalho
está apresentando resultados, não apenas numéricos, mas principalmente
enquanto processo. Fui contratado para desenvolver um conceito que se
baseia no ensino do futebol sob uma perspectiva global, integral.
Amadurecido pela experiência inicial, e por se tratar de crianças (12 e 13
anos), adotei uma nova estratégia para desenvolver o trabalho. Pensei que
antes de tentar ensinar algo precisava conquistar a confiança dos novos
“comandados”. Como fazer isso? Tentando deixar o treino o mais prazeroso
possível, e como fazer isso? Ensinando o futebol de uma forma natural para
eles, ou seja, brincando, jogando. Utilizando-me de uma variedade de
atividades, fui despertado o interesse deles em treinar... O novo estava se
mostrando novamente atrativo para quem praticava (e aplicava!!!!!)
Com o passar do tempo, os próprios garotos passaram a perceber que
todas as atividades estavam relacionadas com o jogo de futebol
“convencional”. Com conversas diárias (futebol teórico !!!!) fui percebendo, que
ao contrário do início do trabalho, os atletas começaram a apresentar um
entendimento global, na qual jogos e treinos apresentavam-se como duas
faces de uma mesma moeda. Hoje em conversas de intervalos de jogos
oficiais, na qual os questiono o que estão percebendo e sentido “lá dentro”
enquanto atores principais do espetáculo, as respostas são variadas,
qualificadas e coerentes, demonstrando dessa forma que não apenas agem,
mas se vêem como criadores a atuantes de um contexto.
Acredito que toda reflexão parte de uma pergunta. Após o nosso
primeiro jogo, 1 mês após inicio do trabalho, me fiz o seguinte questionamento:
qual a verdadeira função de um treinador, que atua em categorias de base?
Fiquei com este questionamento por um bom tempo rondando, e hoje posso
dizer que é: criar nos atletas, através de treinamentos e conversas, a maior
autonomia possível, que lhes permitam tomar decisões baseadas em
experiências, vivências; pode parecer loucura, mas nós treinadores devemos
deixar, cada vez mais, os atletas independentes dos treinadores durante os
jogos. Não acredito que a função de treinador um dia se extinguirá, mas tenho
plena convicção que outras qualificações serão exigidas dos comandantes,
10. principalmente dos responsáveis pela formação de futuros atletas. Não serão
admitidos, no futuro, treinadores que somente entendam de futebol, afinal de
contas quem entende apenas de futebol...
Não se admitirá treinadores que realizam as mesmas intervenções, sem
uma reflexão e teorização. Precisaremos justificar, na teoria e na prática,
nossas atuações e convicções. Não será admitido o caos pelo caos,
precisaremos nos aproximar cada vez mais de explicações plausíveis que
justifiquem resultados (positivos e negativos). Creio que estará mais perto do
sucesso o profissional que confiando nos seus conceitos, não abandone os
questionamentos e reflexões constantes de sua prática (e teoria?).
Caros amigos! Tentei, mas pelo jeito não consegui ser breve. Espero
que com essas linhas acima escritas possam surgir novos debates, reflexões e
questionamentos, e os levem a entender que o futebol está além do futebol.
São Paulo, 19 de setembro de 2011.
Leandro Teixeira Floriano
Treinador categoria sub13 – SC Corinthians Paulista
Mdo. Programa de pós-graduação em Educação Física – CDS/UFSC