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LICÍNIO ANTÓNIO TEIXEIRA BORGES
EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO
EM
MONDIM DE BASTO
DESDE O MARQUÊS DE POMBAL À TRANSIÇÃO PARA A
CONTEMPORANEIDADE
Universidade do Minho
Braga 1999
2
Índice
1ª Parte............................................................................................................................. 8
Geografia Sociedade e Tecido Económico em Mondim de Basto, ............................. 8
1- Geografia..................................................................................................................... 9
1.1 - Geografia física. ....................................................................................................... 9
2 - Geografia política.................................................................................................... 10
2.1 – Mondim. ................................................................................................................ 10
2.2 – Atei. ....................................................................................................................... 11
2.3 – Ermelo. .................................................................................................................. 11
3 – A População.............................................................................................................. 14
3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade).................... 14
QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991) ..... 15
GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População................................................................... 16
3.2 - A População Activa................................................................................................ 19
Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões.......................................... 19
Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII) ............................................................... 19
Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para
Fins do Século XVIII.................................................................................................... 22
Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX.............................. 22
Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em Fins do
Século XIX. .................................................................................................................... 23
4 – A Sociedade.............................................................................................................. 24
4.1- O Clero.................................................................................................................... 24
4.2 - A Nobreza. ............................................................................................................ 28
4.3 - O Terceiro Estado................................................................................................... 29
5 – O TECIDO ECONÓMICO ................................................................................... 30
5. 1 - A Agricultura....................................................................................................... 30
5.2 - O Vinho. ................................................................................................................ 31
5.3 – Cereais. ................................................................................................................. 32
5.4 – Pecuária................................................................................................................ 32
5.5 – Fruticultura.......................................................................................................... 33
5.6 – Indústria. .............................................................................................................. 34
5.7 – Comércio. ............................................................................................................. 36
3
6 – Rede Viária.............................................................................................................. 36
7 – Emigração. .............................................................................................................. 39
7.1 – Emigração para o Brasil ..................................................................................... 39
( A partir da 2ª metade do século XIX) .......................................................................... 39
7.2 – Condicionalismos................................................................................................. 40
Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870.42
2ª Parte........................................................................................................................... 44
A Escolarização............................................................................................................. 44
Em .................................................................................................................................. 44
Mondim de Basto.......................................................................................................... 44
EDUCAÇÃO................................................................................................................. 45
– Génesis do Sistema Educativo Mondinense. ............................................................... 45
1.1 A Reforma Pombalina. ........................................................................................ 45
Quadro nº 7. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Pombalino.................... 47
Gráfico nº 2. Distribuição das Cadeiras.......................................................................... 47
1.2 - O Período Mariano................................................................................................. 50
Quadro nº 8. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Mariano...................... 51
Quadro nº 9. A Implantação Efectiva dos Professores Régios do Século XVIII em
Mondim de Basto ........................................................................................................... 54
1.3 - A Real Junta da Directoria Geral dos Estudos....................................................... 55
1.4 - Conclusão............................................................................................................... 56
2 – CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO MONDINENSE...................... 59
- A REFORMA DE COSTA CABRAL......................................................................... 59
Introdução....................................................................................................................... 59
2. 1 – Efeitos Fundamentais da Reforma em Mondim de Basto. ................................... 59
Quadro n.º10. Número das Escolas Primárias Portuguesas de 1843 A 1859................. 62
3 – O Movimento da Regeneração. Um Tom de Esperança. ......................................... 65
3.1 – Inquéritos de 1863 – 1864. .................................................................................... 65
Quadro nº 11. Estatística das Escolas de Instrução Primária do concelho de Mondim de
Basto, Segundo os dados da Inspecção de 1863 - 1864 ................................................. 66
1 – Das Escolas............................................................................................................... 66
2 – Dos Professores: ....................................................................................................... 67
3 – População das escolas e ensino dos alunos .............................................................. 67
3.2. – Análise sumária sobre os resultados dos inquéritos. ............................................ 68
3.2.1. - Das escolas......................................................................................................... 68
3.2.2 - Do professorado. ................................................................................................ 69
Quadro nº 12 . Professores do ensino elementar em Mondim de Basto a cargo do
Estado à data do Inquérito de 1863-64........................................................................... 69
3.2.3 – Dos alunos. ......................................................................................................... 70
Quadro nº 13. Inquéritos Escolares: 1873/1874 ............................................................. 72
Mapa estatístico dos alunos de instrução primária......................................................... 72
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a
escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 73
1873 / 1874................................................................................................................... 73
4
Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a
escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 74
1873 / 1874................................................................................................................... 74
Mapa Estatístico dos Alunos de Instrução Primária, com Relação ao Ano Lectivo 1873 /
1874 ................................................................................................................................ 75
Quadro n.º 14.Resultado da Inspecção no dia 6 de Julho de 1875 .................... 76
3.4 – Conclusões............................................................................................................. 77
4 – A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO EM MONDIM DE BASTO .................... 81
- A REFORMA DE RODRIGUES SAMPAIO. ............................................................ 81
Introdução..................................................................................................................... 81
4.1 - Aspectos fundamentais da reforma. ....................................................................... 81
4.2 – Efeitos práticos da Reforma em Mondim.............................................................. 84
4.2.1 - A Rede Escolar.................................................................................................... 85
4.2.2 - O Professorado.................................................................................................... 85
Quadro nº 15. Professores do ensino elementar a cargo do Estado,, da Câmara
Municipal de Mondim de Basto e das Confrarias das Almas de 1878 a 1910............... 93
4.2.3 - Nomeação dos Professores.................................................................................. 96
4.2.4 - Mobilidade/Estabilidade do Corpo Docente. ...................................................... 96
4.2.5 - Os professores Particulares. ............................................................................... 96
4.2.6– Os Professores Adjuntos...................................................................................... 98
4.2.7 – Os Salários.......................................................................................................... 98
4.3 – As Comissões Promotoras de Beneficência. ....................................................... 100
4.4 – Dos Alunos .......................................................................................................... 101
Quadro nº 16. Número de alunos aprovados em exame de Instrução Primária entre
1882 - 1894 em Mondim de Basto ............................................................................... 102
Quadro nº 17 ................................................................................................................ 102
Quadro nº 18 ................................................................................................................ 102
Quadro n.º 19 ............................................................................................................... 102
4.5 - Conclusões ........................................................................................................... 103
5 - OS EDIFÍCIOS ESCOLARES ............................................................................... 104
5.1 - Mondim de Basto. ................................................................................................ 104
Quadro nº 20. Receitas e despesas da Câmara Municipal para a Educação (1901 a
1904)............................................................................................................................. 108
5. 2 – Atei. .................................................................................................................... 108
Quadro nº 21. Orçam. da Inst. Primária para o ano de 1886 na freguesia de Atei....... 110
5. 3 – Bilhó. .................................................................................................................. 112
5. 4 – Anta e Bobal....................................................................................................... 114
5. 5 – Ermelo. ............................................................................................................... 115
5. 6 – Fervença. ........................................................................................................... 117
5. 7 – Paradança.......................................................................................................... 118
5. 8 – Vilar de ferreiros. ............................................................................................. 120
5.9 – Vilarinho............................................................................................................. 121
5. 10 – Campanhó, Vilar de Viando e Pardelhas..................................................... 122
Quadro nº 22. Situação dos edifícios escolares em Mondim de Basto em 1915... 124
5
Total............................................................................................................................. 124
3º Parte.......................................................................................................................... 126
A Alfabetização em Mondim de Basto ........................................................................ 126
2ª Metade do séc. XIX.................................................................................................. 126
1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................... 127
2 - PROVENIÊNCIA DOS TESTAMENTOS. ........................................................... 128
QUADRO Nº 23. Distribuição dos Testamentos por Freguesias. .......................... 129
GRÁFICO Nº 3. Proveniência dos Testamentos...................................................... 129
2.1 – Tipo de testadores e respectiva profissão. ....................................................... 129
Quadro Nº 24. Profissão dos Testadores (as). .......................................................... 130
Gráfico Nº 4. Profissão dos Testadores..................................................................... 130
2.2 – Testadores face à alfabetização. ....................................................................... 130
Quadro Nº 25. Tipos de Assinaturas......................................................................... 131
3 – TESTEMUNHAS................................................................................................... 131
3.1 – Profissões das testemunhas............................................................................... 131
Quadro nº 26. Profissões das Testemunhas.............................................................. 132
3.2- As assinaturas das testemunhas......................................................................... 132
Quadro nº 27. Número de Chancelas Contabilizadas por Profissão. .................... 133
Quadro nº 28. Tipos de Assinaturas ......................................................................... 133
Quadro nº 29. Grupos de Assinantes de “ Cruz”..................................................... 134
3.3- Frequência de assinatura das testemunhas....................................................... 135
II ................................................................................................................................... 137
4 - OS JURADOS........................................................................................................ 137
4.1 – A instituição do júri........................................................................................... 137
4.2 – Quem é convidado para jurado?...................................................................... 137
Quadro nº 30. Recenseamento do Júri Comum de 1900 a 1911............................. 138
GRÁFICO Nº 5. PROFISSÕES DOS JURADOS................................................... 138
5 – Conclusão. ............................................................................................................. 139
6 - ANÁLISE DO GRAU DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MONDINENSE
EM 1878 E A SUA EVOLUÇÃO ATÉ 1890.............................................................. 141
6.1 – Introdução............................................................................................................ 141
QUADRO Nº31 . CENSOS DE 1878 PARA MONDIM DE BASTO .................... 142
6.2 - O NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE
MONDIM DE BASTO EM 1878............................................................................... 144
6
7 - ANÁLISE DO NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO
CONCELHO DE MONDIM DE BASTO COM BASE NOS CENSOS DE 1890. 148
Quadro nº 32. RESULTADOS DOS CENSOS DE 1890 ........................................ 148
7.1 - Escalas de classificação do conceito de alfabeto, segundo o censo de 1890... 149
7.2 – Análise dos dados............................................................................................... 149
8 – Conclusão. ............................................................................................................. 151
Quadro nº 33. Comparação Entre Índices de Alfabetização a Nível Nacional e
Mondim de Basto........................................................................................................ 151
MÉDIA ........................................................................................................................ 151
MONDIM..................................................................................................................... 151
MÉDIA NACIONAL.................................................................................................. 151
4ª Parte.......................................................................................................................... 154
O Desenvolvimento...................................................................................................... 154
1 - O LENTO CAMINHO DA MUDANÇA............................................................. 155
1.1 – Introdução............................................................................................................ 155
2 – A ESTRUTURA SOCIAL: PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS .................... 156
2.1 - O Povo. ................................................................................................................ 156
2.2 - O Clero. ............................................................................................................... 158
2.3 - A Nobreza. .......................................................................................................... 159
2.4 - A Burguesia......................................................................................................... 160
2.5 – Conclusão. .......................................................................................................... 160
3 - FUNÇÕES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA ESCOLARIZAÇÃO
...................................................................................................................................... 161
3.1 - A Alfabetização como Desenvolvimento............................................................. 161
3.2 - A Escolarização e o seu Papel Alfabetizador....................................................... 164
4 - MATERIALIDADE E ACÇÃO........................................................................... 166
4.1 -- As Elites e a Classe Média na Gestão Municipal e Paroquial....................... 166
4.1.1 – Biografia 1:...................................................................................................... 168
4.1.2 - Biografia 2: ...................................................................................................... 168
4.2 – Oportunidades e Destinos de Vida................................................................... 169
QUADRO Nº 34. Oportunidades e Destinos de Vida dos Alunos que Fizeram o
Exame Elementar entre 1882 e 1894 ........................................................................ 170
4.3 - HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EMIGRANTES ................................. 173
5 - CONCLUSÕES FINAIS....................................................................................... 177
7
BIBLIOGRAFIA:......................................................................................................... 182
MANUSCRITA........................................................................................................... 182
1 - ARQUIVOS CENTRAIS...................................................................................... 182
2 - ARQUIVOS DISTRITAIS ................................................................................... 182
3 - ARQUIVOS LOCAIS........................................................................................... 183
4 - ARQUIVOS PAROQUIAIS................................................................................. 183
BIBLIOGRAFIA IMPRESSA: ................................................................................. 184
8
1ª Parte
Geografia,
Sociedade
E Tecido Económico em
Mondim de Basto
9
1- Geografia.
1.1 - Geografia física.
Mondim.
Concelho rural, distrito e diocese de Vila Real, província de Trás - os - Montes
situa-se na margem esquerda do Tâmega e faz parte integrante da Região de Basto,
região que se caracteriza por uma certa identidade de aspectos comuns a toda ela. Não
apenas as condições gerais do clima e posição mas ainda as particularidades da natureza
e do relevo do solo, o manto vegetal e as marcas da presença humana, nos darão o
sentimento de não sairmos da mesma terra, como escreveu Orlando Ribeiro.
A Região de Basto estendendo-se pelo troço médio da bacia hidrográfica do rio
Tâmega, com uma área aproximada de 825 Km2 quadrados, é definida a Noroeste e a
Norte pela serra da Cabreira e serra das Alturas, a Oeste pelo planalto do Monte Longo
e a Este pela serra do Alvão e Altos das Caravelas. É limitada a Norte pelos concelhos
de Boticas e Montalegre, a sul pelo concelho de Amarante, a Oeste pelos concelhos de
Vieira do Minho, Fafe e Felgueiras e a Este pelos concelhos de Vila Real e Vila Pouca
de Aguiar. Faz parte da denominada Região de Basto, região de montanhas
“entrecortada de fecundas campinas e vales (VASCONCELLOS, 1942: III: 191). “Esta
região da bacia média do Tâmega reveste uma fisionomia peculiar, em que, se ainda
aparecem traços transmontanos, já dominam as características do território de entre
Douro e Minho (TABORDA, 1932: 9).
O Concelho tem uma área de 178,48 km2, distribuídos por oito freguesias: Atei,
Bilhó, Campanhó, Ermelo, Mondim de Basto, Paradança, Pardelhas e Vilar de Ferreiros
Encontra-se inserido na faixa de transição entre o litoral e o interior norte o que
faz com que a sul existam áreas planas sujeitas a uma forte ocupação e a norte a
montanha, sinuosa, fortemente declivada e pouco propícia à colonização. Existem, por
isso, poucos solos propícios à fixação das populações. A tipologia dos solos
condicionou ao longo dos séculos a forma de povoamento. Assim, encontramos no
concelho duas formas de povoamento: o disperso e o concentrado. O primeiro assenta
num esquema social, vindo dos séculos XVII e XVIII, em que a propriedade se
mantinha pelo sistema de morgadio. As grandes propriedades tinham implantado a
“Casa Senhorial” e dependências agrícolas em lugares estratégicos possibilitando o
10
controlo das casas dos caseiros que se encontravam dispersas por áreas de exploração
menores e que dependiam directamente de uma família. O segundo é visível na zona de
montanha e resulta das condições naturais. O grosso da população vive na sede do
concelho, sede esta que funciona como pólo aglutinador do mesmo.
2 - Geografia política.
( a partir da segunda metade do século XVIII )
2.1 – Mondim.
Havia recebido foral de D. Manuel I em 3.6.1514. Em fins do século XVIII era
“Donatário dele o Marquês de Marialva. Foi da correição de Guimarães e hoje [finais
de setecentos], pela regulação da lei de mil setecentos e noventa e dois só lhe pertence
pela provedoria. Está unido á correição de Vila Real, a quem também é sujeito pelo
eclesiástico, por ser do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, eleito pelo corregedor
da dita comarca, confirmado pelo donatário, e juiz de órfãos, separado” (MENDES,
1981: 501).
Esta forma de poder irá ser alterada brevemente. Efectivamente em 1820 foi
proclamado o regime liberal. Em 1826, a 29 de Abril é outorgada ao reino a carta
constitucional. O país transforma-se num vespeiro de sublevações. A 26 de Novembro
de 1830, por reforma administrativa, são instituídas as Juntas de Paróquia as quais, por
decreto de 19 de Fevereiro de 1831 vêem os suas competências muito alargadas: para
além do poder político recebem o encargo da administração temporal das igrejas e
capelas, acabadas de subtrair à autoridade dos prelados.
Em 1851, a Câmara envia ao Duque da Saldanha uma carta a felicitá-lo pelo
movimento da Regeneração.
Em 1 de Fevereiro de 1865 a mesma Câmara solicita à Rainha, num extenso
documento, que seja criada a Comarca de Mondim de Basto, deixando assim de
pertencer à de Vila Pouca de Aguiar e procurando-se dessa forma que não passasse a
pertencer à de Celorico de Basto, conforme uma proposta de Lei previa.
Pelo decreto de 26.09.1895, foi este concelho agrupado ao de Celorico de Basto,
vindo a ser suprimido em 26.06.1896. Foi restaurado em 26.01.1898. Assim se mantém
até hoje.
11
2.2 – Atei.
Teve foral concedido por D. Manuel em 3.6.1514. Era vigairaria da
apresentação do convento de Santa Clara de Vila do Conde.
Era donatário o Marquês de Marialva. Tinha cadeia e Casa da Câmara. “Foi da
correição e provedoria de Guimarães e hoje [finais de setecentos], só é da dita
provedoria e comarca de Vila Real, a quem também pertence pelo eclesiástico por ser
do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, juiz de órfãos, sargento-mor de
ordenanças que serve neste concelho e nos de Mondim , Cerva e Ermelo, e sete capitães
da sua repartição “(MENDES, ob. cit.: 469).
Em 1835 deu-se a revolução de Setembro que trouxe ao poder Passos Manuel.
Por decreto de 6 de Novembro reduziam-se a 351 os concelhos do País, sendo
suprimidos 465, entre os quais Atei que passou a integrar-se como simples freguesia no
de Cerva até 1853 altura em que passa definitivamente para o de Mondim de Basto.
2.3 – Ermelo.
Em Abril de 1196 D. Sancho I concedeu-lhe a 1ª carta de foral, que foi
confirmada mais tarde, em Março de 1218, por nova carta. A 3 de Junho de 1514, D.
Manuel I concedeu-lhe nova carta.
A antiga freguesia era abadia de apresentação do Marquês de Marialva.
Na resposta ao inquérito dirigido pelo padre Luís Cardoso, lemos: “Esta
freguesia fica situada entre dois montes de serras, uma é o Marão da parte do
nascente, e da parte do norte a serra da Lousa, há mais serra que vales mas não se
descobrem povoações nenhumas. Esta freguesia é comarca de Vila Real Arcebispado
de Braga, Termo e concelho da vila de Ermelo da provedoria da vila de Guimarães. É
donatário desta igreja o ilustríssimo e excelentíssimo Marquês de Marialva...
Há nesta vila e freguesia Juiz ordinário dois vereadores um procurador,
nomeados em pauta e confirmados pelo donatário, estes fazem câmara, tem escrivão
do judicial (...) e orfãos. Tem escrivão da câmara e fazem quatro vereações no ano,
correição e fazem audiência às segundas feiras...” (CARDOSO, 1758: Vol 13, Maço
30, folha 241).
12
Em 1840 a freguesia da Campeã, com Vila Cova e Quintã passam a pertencer ao
concelho de Ermelo.
Em 1843 tentou-se acabar também com este concelho mas, por força da vontade
popular que enviou à Rainha um extenso documento com noventa assinaturas onde se
fazia uma longa exposição para que o concelho se mantivesse, este manter-se-á mais
alguns anos.
A 31 de Dezembro de 1853 o concelho não resiste à investida da Regeneração e
é extinto, por reforma administrativa e anexado ao de Mondim de Basto.
Em 1/08/1867 a Junta de Paróquia reúne-se extraordinariamente sob a
presidência de Francisco Assunção Monteiro e com a presença dos vereadores José
Maria Pinheiro e Manuel José Alves Machado e do regedor da freguesia, Manuel da
Costa Peixoto, cumprindo o que determinava a lei de 26 de Julho e instruções de 11
de Julho do mesmo ano, para dar o parecer sobre a nova divisão do território relativo à
formação da paróquia civil, o presidente disse que “reunindo Ermelo, outrora cabeça
de concelho, todos os requisitos que a lei exige, deve constituir-se em sede de
paróquia civil anexando-se-lhe as freguesias de Campanhó, Pardelhas, Bilhó e Lamas
de Olo, as quais com esta de Ermelo formaram por mais de três séculos o concelho
deste nome, e cujo número de fogos se eleva actualmente a 719, que apresentava a sua
proposta à discussão da Junta e Regedor para que, tendo em vista a comodidade dos
povos, deliberassem e dessem a sua consulta sobre este objecto. Em seguida, a junta e
regedor, depois de maduras reflexões, tendo em consideração as relações tradicionais
desta freguesia de Ermelo, atendendo a que foi cabeça de concelho de 1514 até 1853,
e que tem desde remota época uma cadeira de instrução primária, que há nela uma
feira mensal, a que concorrem com seus gados todas as freguesias indicadas, que é a
mais populosa pois consta de 305 fogos, e fica no centro de todas, e que apesar de ser
unida em 1853 a Mondim de Basto, se conservou nela sempre um distrito de Juiz de
Paz; atendendo a que a freguesia de Campanhó contém somente 76 fogos, fica
distante de Ermelo 6 quilómetros e não pode fazer parte da paróquia de Mondim de
Basto, em razão da longitude e dificultosa passagem do rio Olo; atendendo a que a
freguesia de Pardelhas dista de Ermelo somente 3 quilómetros, e contém apenas 55
fogos; atendendo a que a freguesia do Bilhó consta de 230 fogos, fica distante de
Ermelo 5 quilómetros não podendo formar de per si paróquia civil, nem ser anexada a
Mondim ou Atei pela grande distância, dez ou onze quilómetros, e por causa dos
13
péssimos caminhos, e grandes ribeiros; atendendo a que a freguesia de Lamas de Olo,
apesar de ficar distante de Ermelo 9 quilómetros não pode formar paróquia civil, por
conter somente 53 fogos, e não pode pertencer senão a Ermelo por ficar distante das
outras paróquias do concelho mais de 12 quilómetros; atendendo principalmente à
facilidade de comunicações entre todas estas freguesias; à identidade dos seus hábitos
e costumes pois se tem regulado sempre pelo mesmo livro de posturas, e enquanto
formavam o antigo concelho, viveram sempre em boa harmonia. Por todas as
ponderosas razões alegadas a divisão a apontar é circunscrita como se acha pela
própria natureza do solo e assim deve ser aproveitada..... pelo governo de sua
majestade para constituir em paróquia civil as freguesias mencionadas, designando
Ermelo para sua sede. E concluída assim a presente sessão ordenou o presidente que
se extraísse cópia dela assinada por todos os membros e regedor e fosse enviada à
administração deste concelho para seguir o devido destino” (A.J.F.E.).
Apesar destes argumentos não serão concretizadas estas justas aspirações.
Mais tarde, de 26 de Junho de 1896 a 13 de Janeiro de 1898 pertencerá ao
concelho de Celorico de Basto.
Nesta data volta de novo, e agora definitivamente, ao Concelho de Mondim de
Basto, com uma área aproximada de 4.108 ha, tendo como limites as freguesias de
Mondim de Basto, Vilar de Ferreiros, Bilhó, Pardelhas, Paradança, Campanhó e Vila
Real e como povoados os lugares de Assureira, Barreiro, Covas, Ermelo, Fervença,
Paço, Ponte de Olo e Varzigueto.
A integração de Ermelo no concelho de Mondim de Basto fará com que caia
numa espécie de adormecimento, tanto por culpa do poder central como concelhio,
perdendo muito da sua dinâmica. Aliás isto é confirmado por uma notícia publicada a
12/05/1909 no jornal “O PROGRESSO DE MONDIM ” onde se lê: “a freguesia de
Ermelo começa a despertar do sono indiferente em que tem vivido e a interessar-se
pelos seus melhoramentos. Ouvimos que se a diligência conseguir o serviço de correio
para Vila Real pelo caminho mais curto, que é de Mondim por Ermelo e Campeã, com
o que muito lucrará esta terra e até todo o concelho, pois pode receber em dia a
correspondência permutada com a sua capital de distrito, ao passo que por Vila Pouca
a demora é de três dias, com prejuízo tanto para o comércio como para os serviços
inerentes”.
14
3 – A População.
3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade).
A análise da componente demográfica de uma área específica é fundamental
para o seu conhecimento qualitativo e quantitativo, assim como para avaliar com
rectidão o potencial de desenvolvimento dessa área, de modo a que os vários agentes
actuantes e todas as instituições obtenham um suporte para as suas diversas formas de
intervenção, definição de necessidades e implementação dos programas de acção.
A evolução da população no concelho está efectivamente associada a marcos da
história nacional, que directa ou indirectamente tiveram reflexo nos mais ínfimos
espaços da nação. Consequentemente estes marcos produziram alterações profundas na
sociedade em geral e em particular na distribuição e estrutura da população.
O estudo apresentado apenas evidencia uma vertente simplista da análise
demográfica, uma vez que, apenas pretende retractar o sentido evolutivo da população
do concelho (quadro nº 1).
Na realização deste estudo ficaram patentes, devendo-se realçar certas
incongruências e imperfeições nos dados observados, revelando-se muitas vezes a
recolha de dados impossível para medir todas as ocorrências da evolução da população
que este estudo exigia.
15
QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991)
ANO CONC.º FOGOS POPULA. FONTE
1796 Mondim
Atei
Ermelo
Atei
Ermelo
724
320
483
2303
1106
1441
Da Visitação de Ribeiro de Castro
1798
Mondim
Atei
Ermelo
724
320
483 (*)
2303
1106
1441
Censo de Pina Manique
1801 Mondim
Atei
Ermelo
662
309
2471
2466
1171
1959
Tábuas Topográficas e Estatísticas de 1801
1864 Mondim 7059 Censo nº 1 de Janeiro de 1864.
Lisboa, 1868.
1875 Mondim 1843 Anuário Estatístico do Reino de Portugal
1878 Mondim 1811 7016 Censo de João da Costa, Lisboa, I.N.E.,1881
1890 Mondim 7109 Censo da População de Portugal,
1.12.1890, Vol I,pag.230/1 , Vol II, pag. 281
e Vol III, pag. 182 e 248.
1900 Mondim 7641 INE
1911 “ 7923 ”
1920 “ 8398 “
1930 “ 9508 “
1940 “ 9508 “
1950 “ 10539 “
1960 “ 10328 “
1970 “ 9640 “
1981 “ 9904 “
1991 “ 9518 “
2001 “ 9540 “
2011 “ 7496 “
16
GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População.
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1801 1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011
A evolução da população do concelho evidencia uma forte irregularidade, cujas
causas resultam dos reflexos da conjugação de dois importantes fenómenos
demográficos, crescimento natural e crescimento migratório. Estes últimos assentam nas
transformações socioeconómicas e políticas que ocorreram no território e em particular
no concelho.
Atendendo ao ano a que o início deste estudo se reporta 1796, finais do século
XVIII, o concelho1
regista uma população absoluta de 4850 habitantes, por comparação
com a contagem seguinte que dista no tempo cinco anos (1801), o mesmo concelho
regista um relativo aumento da sua população absoluta, ou seja, um crescimento
efectivo na ordem dos 15,38%, totalizando um valor absoluto de 5596 habitantes.
A evolução de 1796 para 1801 (um espaço muito curto) revela-nos importantes
alterações de quantitativos, sobretudo no concelho de Ermelo onde se assiste a um
aumento de 400% do número de fogos (de 438 para 2471) e do número de habitantes
em 50% (de 1441 para 2059), o que é manifestamente impossível. A evolução do
número médio de pessoas por fogo - de um valor normal para um valor anómalo -, leva-
nos à conclusão de que houve erro no cômputo de 1801. Aliás, se atendermos ao censo
de Pina Manique de 1798 verificamos que o número de fogos atribuídos a Ermelo é de
480 - menos três do que o censo de Columbano - e que se entendermos que o índice três
é aceitável teremos uma população de 1440 indivíduos, o que é praticamente igual ao
número de Columbano e reforça portanto a ideia de que o censo de 1801 está
1
Junção da população de Mondim, Ermelo e Atei.
17
efectivamente muito exagerado. Naturalmente temos que ter sempre presente que
estamos a falar de possíveis hipóteses dado que não nos podemos esquecer da forma
como os censos anteriores a 1864 foram feitos, baseados num sistema de recolha de
dados muito imperfeitos de que resultaram números que nos devem merecer muitas
cautelas quando os utilizamos, como nos diz Amado Mendes “não exijamos mais das
fontes demográficas do século XVIII do que elas nos podem dar - uma indicação
aproximada da realidade com a qual se relacionam”.
Ao longo de todo o século XIX a população de Mondim (incluímos os três
concelhos) aumenta muito insignificativamente. Várias são as hipóteses explicativas,
entre as quais sobressairão a forte saída para o estrangeiro - principalmente o Brasil -
num movimento bastante regular a partir dos meados do século XIX e que se prolongará
pelo século seguinte, o que fará da região de Basto uma das regiões onde o fenómeno da
emigração será mais fortemente acentuado. Outra das hipóteses a considerar tem a ver
com as condições económicas. O concelho era bastante diminuído de rendimentos - à
excepção de um número muito reduzido de famílias -, e a fracas condições económicas
corresponderiam fracas condições de sobrevivência que se reflectiam num número
diminuto de casamentos e da natalidade e num número elevado de mortalidade.
De 1801 a 1864, a população absoluta passou de 5596 para 7059, registando um
acréscimo do efectivo populacional da ordem dos 26,14%, para um período de 63 anos,
o que reflecte um ritmo de crescimento populacional lento comparado com o anterior.
São conhecidas desta época as tendências migratórias para o Brasil.
A contagem da população a partir de 1864 passa a ter um carácter oficial, já que
é efectuado por organismos nacionais, os quais procuram abranger a totalidade do reino.
De 1864, data do primeiro censo oficial, até 1950, o concelho evidenciou um
relativo aumento da população absoluta, registando nesta última década o seu valor
máximo jamais atingido, ou seja, um total de 10539 habitantes.
Para testar as incompatibilidades na contagem da população, o “Censo de João
da Costa de 1878“ regista para o mesmo ano uma população absoluta da ordem dos
7016 habitantes, valor inferior ao do ano de 1864 contrariando assim a tendência geral
já exposta.
Neste período a taxa de crescimento efectivo variou entre os -0,6% de 1864 a
1878; 1,32% de 1878 a 1890; 7,48% de 1890 a 1900.
A primeira metade do século XX, corresponde a um período de forte
crescimento populacional no concelho, registando taxas de crescimento efectivo que
18
variam entre os 3,69% de 1900 a 1911 e os 13,2% registados no período que vai de
1920 a 1930. Contudo este ritmo de crescimento não foi gradual, pois na década
seguinte registou praticamente um crescimento nulo, mais concretamente, a população
absoluta de 1940 correspondia aproximadamente à da década anterior.
Dobrada a primeira metade do século XX, a tendência geral da evolução da
população do concelho passa por uma crescente diminuição dos efectivos
populacionais. Assim sendo, de uma população absoluta de 10539 em 1950 passamos
para 10328, em 1960.
Nestas décadas são particularmente visíveis as consequências dos movimentos
migratórios, tendo-se pautado a estrutura demográfica do concelho pela maior ou menor
incidência do fenómeno dentro do mesmo.
De 1960 a 1970 a população absoluta passou de 10328 para 9640 habitantes, de
1970 a 1981, inverte-se a tendência oficializada na década de 50, neste período o
concelho evidenciou um relativo aumento da sua população absoluta, passando de 9640
para 9904 habitantes. Contudo na década seguinte 1991, registou-se novamente uma
diminuição da população absoluta, centrando-se nos 9518 habitantes.
Em termos de crescimento efectivo a segunda metade do século trouxe para o
concelho taxas negativas, variando entre os -6,66%, registados no período que vai de
1960 a 1970 e os 2,7% registados na década seguinte. É de salientar pela negativa que
de 1981 a 1991 o concelho evidenciou nova quebra da taxa de crescimento efectivo,
registando o valor de -3,89%.
Rematando esta análise pode-se concluir que a evolução da população do
concelho de Mondim de Basto conheceu dois momentos distintos, atendendo ao período
em análise.
O primeiro período engloba o ano de 1796 até 1950, em que a tendência geral da
evolução da população é positiva. Registando uma taxa de variação da ordem dos
117,2% (curiosidade - foram necessários 154 anos para a população duplicar).
O segundo período, que vai de 1950 a 1991, regista uma evolução negativa da
população, evidenciando uma taxa de variação que se cifra nos -17,9% da população.
19
3.2 - A População Activa.
O concelho de Mondim de Basto possui uma vasta área de montanha, o que vai
moldar em parte as actividades que nele se desenvolvem. Destas destaca-se como
actividade predominante a agrícola, aproveitando por um lado a capacidade do uso dos
solos e por outro os recursos hídricos disponíveis. A tipologia geográfica faz com que
“os homens sejam corpulentos, robustos e muito aptos para o serviço militar por causa
da aspereza da situação, valentes e cobiçosos de honra. As mulheres são igualmente
fortes e ajudam seus maridos na cultura das terras”, como nos diz Ribeiro de Castro.
Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões
PROFISSÕES MONDIM % ATEI % ERMELO % TOTAL %
Eclesiásticos 33 2,3 8 2,3 12 2,5 53 4
P. Literárias 7 1,1 4 1,1 1 0,2 12 1
Sem ocupação 66 10,8 22 6,3 71 14,8 159 11
Cirurgiões 1 0,2 1 0,3 2 0,4 4 0
Boticários 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0
Barbeiros 4 0,6 2 0,6 9 1,9 15 1
Lavradores 196 32,1 87 24,8 268 55,8 551 38
Jornaleiros 104 17 111 31,6 19 4 234 16
Alfaiates 28 4,6 14 4 18 3,8 60 4
Sapateiros 5 0,8 3 0,8 2 0,4 10 1
Carpinteiros 9 1,5 8 2,3 24 5 41 3
Negociantes 0 0 6 1,7 0 0 6 0
F. courama 50 8,2 0 0 0 0 50 3
Pedreiros 2 0,3 3 0,9 6 1,2 11 1
Ferreiros 3 0,5 1 0,3 3 0,6 7 0
Ferradores 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0
Almocreves 2 0,3 4 1,1 2 0,4 8 1
Criados 47 7,7 37 10,5 25 5,2 109 8
Criadas 52 8,5 38 10,8 18 3,8 108 7
Total 611 100 351 100 480 100 1442 100
Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII)2
.
Este quadro permite-nos verificar como é que a população se distribuía pelas
diferentes actividades económicas nos fins do século XVIII. Assim:
2
O cálculo das percentagens foi feito por nós.
20
Para a província de Vila Real são referidos cinquenta e seis grupos ocupacionais.
Para Mondim (somando os três concelhos) são referidos apenas dezanove, o que revela
a pouca especialização das profissões.
Os dados apresentados permitem-nos verificar o peso que cada actividade económica
apresenta para o conjunto da população activa dos locais em análise. De um total de
4850 habitantes, cerca de 1/3 dessa população, mais concretamente 1442 indivíduos
exerce uma actividade económica. Este é um valor comum ao resto da província. “...Isto
permite-nos sugerir que a classificação levada a efeito terá sido, essencialmente, dos
cabeças dos agregados familiares...“ como Joel Serrão constatou. No entanto do total da
população activa, saliente-se o facto de cerca de 11% desta população corresponder aos
indivíduos sem ocupação.
Mondim é sem dúvida o lugar com uma população activa mais elevada, 42,4%
logo seguido pelo lugar de Ermelo, 33,3% e pelo lugar de Atei com cerca de 24,3%.
De um modo geral não existem grandes contrastes ao nível da distribuição dos activos
segundo a sua profissão relativamente aos três lugares. Só pontualmente no caso dos
eclesiásticos que apresentam um maior número em Mondim; os carpinteiros estão
bastante representados em Ermelo; “negociantes” é uma actividade apenas presente em
Atei; assim como os fabricantes de courama apenas figuram em Mondim.
Como os dados evidenciam é de salientar a supremacia das actividades ligadas à
agricultura (lavradores e jornaleiros) que compreende 54% do total da população activa.
Para alem desta actividade, a classe dos criados e das criadas evidenciam também uma
forte ocupação, cerca de 15% da população activa.
Sem dúvida que o sector primário, alicerçado pela grande percentagem de
população activa na agricultura, respectivamente 38% de lavradores e 16% de
jornaleiros, aparece como o principal sector económico. Comparando o total de
lavradores dos três lugares, Mondim 32;1%; Atei 24,8% e Ermelo 55,8% com o total de
jornaleiros, Mondim 17%; Atei 31,6% e Ermelo 4% verificamos que a propriedade se
encontra pouco dividida em Mondim e Atei e muito dividida em Ermelo o que explicará
a existência de tão diminuto número de jornaleiros neste concelho, onde serão os
próprios donos das terras quem as trabalha. Curiosamente não aparece o conceito de
proprietários.
Outra actividade económica que subsiste com elevados efectivos activos diz
respeito à categoria dos criados e criadas, que no total representa 15% da população
activa total.
21
Se associarmos as anteriores classes podemos concluir que os regimes de poder
pessoal (Feudo) controlam fortemente e preservam a autoridade e o poder de grandes
proprietários da terra.
Atendendo a esta estrutura funcional predominante, e dado o peso pouco
significativo das outras actividades económicas, como sapateiros com 1%, carpinteiros,
3%, ferreiros e ferradores com valores inferiores a 1%, é provável que exercessem a sua
actividade profissional em parceria com a agricultura.
A actividade comercial apresenta uma parcela relativamente pequena do total da
população activa. Mais concretamente 1% de almocreves e menos de 1% para o grupo
dos negociantes. Por um lado a existência de um sistema de economia fechado, da qual
não se exclui um sistema de produção virado para o auto-consumo, pode estar na base
da fraca importância deste sector e por outro, dado o facto de por aqui não passar
qualquer via importante funcionava como factor desencorajador. Não entendemos, no
entanto, como é que sendo Mondim o concelho mais importante dos três, ali não se faça
referência à existência de qualquer negociante. De qualquer modo podemos ver aqui
uma fraca presença do grupo social da Burguesia.
Os eclesiásticos representam uma actividade com relativa expressão,
concretamente 4% da população activa o que revela o forte peso que a Igreja possui
enquanto instituição “eclesiástica” e “nobiliárquica”. Não se trata de um valor
conjuntural pois que, ao longo de todo o século XIX, o número será sempre elevado.
É insignificante o número de pessoas literárias referidas. Já o padre Luís
Cardoso havia afirmado que aqui encontrou referência a apenas duas pessoas “insignes
nas artes liberais” (CARDOSO, 1758: ob. cit., vol 24, maço 176, folha 1159).Trata-se
de Frei Manuel de Jesus Maria Joseph, Geral dos Carmelitas Descalços e do doutor
Desembargador da Relação do Porto Manuel de Carvalho Pais.
A situação pouco evoluirá ao longo do século XVIII3
.
Se fizermos o agrupamento por sectores de actividade - excluindo os sem
ocupação e os clérigos que representam 15% do total - ficamos com 17 grupos assim
distribuídos: Sector Primário : lavradores e jornaleiros; Sector Secundário: fabricantes
de courama, carpinteiros, sapateiros, pedreiros e ferreiros; Sector Terciário: negociantes,
3
Devemos salientar a figura de José Bernardo Borges de Azevedo Mourão, nascido a 7 de Abril de 1767, na Rua
Velha, na casa dos Azevedos Mourões. Doutorou-se em Teologia na Universidade de Coimbra aos 27 anos de
idade em 20.06.1794. Entre outros aspectos da sua vida, interessa-nos o facto de a partir de 1806 passar a Mestre
de Latim no convento de Palmela. Será, a partir de 1821, cónego da Sé de Lisboa, cidade onde granjeou grande
fama. Escreveu várias obras, de cariz político, fundamentalmente, das quais salientamos “Resposta e Parecer sobre
o Método de Convocar as Cortes”.
22
criados, criadas, alfaiates, almocreves, cirurgiões, boticários, pessoas literárias,
ferradores e barbeiros obtemos o seguinte quadro:
Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para
Fins do Século XVIII.
Activos por Sector Número %
Activos no Sector Primário 785 54
Activos no sector Secundário 119 8
Activos no Sector Terciário 638 38
TOTAL 1442 100
A ordem de importância dos vários sectores - primário, terciário e secundário -
é sempre idêntica no conjunto da província, como Joel Serrão já havia constatado.
Ao longo do século XIX, o concelho de Mondim de Basto continuará a revelar-
se profundamente rural (quadro nº 4). Até 1853 são extintos os concelhos de Atei e
Ermelo por razões de carácter administrativo.
Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX4
De todas as idades - 20 anos 20 a 39
anos
40 a 59
anos
+ de 60
anos
Sem
Ocupação
Lucrativa
Serviço
doméstico
PROFISSÕES TOTAL H M H M H M H M H M H M H M
Trabalhos Agrícolas 4.624 2.224 2.400 612 566 863 1000 612 751 436 384 775 919 10 71
Extracção de minerais 2 1 1
Indústria 332 172 160 18 23 84 67 40 51 30 19 103 140 1
Transportes 9 7 2 1 3 1 1 2
Comércio 96 42 54 2 3 17 20 14 10 9 21 22 36 2
Força Publica 1 1 1 3
Administração Publica 12 12 6 5 1 7 7
Profissões Liberais 30 28 2 4 10 1 6 1 8 5 10 7 12
Vive dos Rendimentos 3 2 1 2 1
4
Não entendemos porque é que as pessoas consideradas “Sem Ocupação Lucrativa” e “Serviço Doméstico”
aparecem situadas na coluna das idades, quando seria mais lógico aparecerem na das profissões. Será que esses
indivíduos exerciam uma actividade que não cabia dentro das actividades tipo? Ou será que entram como uma
terceira coluna?
23
Improdutivos. Profissão
Desconhecida
116 34 82 11 14 4 11 5 19 14 38
Fonte: (INE, Censos de 1890: 182, 183).
Do século XVIII para o século XIX, atendendo à comparação dos quadros 2 e
4 é difícil estabelecer uma relação directa entre as profissões expressas nos referidos
quadros, no entanto estabelecendo a relação das profissões, podemos construir um novo
quadro que nos dá o total de indivíduos por sector da actividade e a respectiva % para
fins do século XIX.
Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em
Fins do Século XIX.
Activos por sector Total %
Primário 4624 90,6%
Secundário 332 6,5%
Terciário 151 2,9%
TOTAL 5107 100
Partindo deste ponto, o sector primário é fortemente reforçado face à
percentagem da população activa a trabalhar na agricultura, dado que um dos aspectos
mais relevantes da importância da actividade agrícola se prende com elevados valores
da sua população activa.
A estrutura da propriedade não deve divergir muito do século anterior, sendo
muito dividido e de pequena dimensão, resultado não só das irregularidades do relevo,
mas também das iniciativas individuais de apropriação da terra (presúria).
A actividade agrícola caracteriza-se pelo uso de técnicas tradicionais, suporte de
trabalho de alguns artesãos, como por exemplo, ferreiros, ferradores, e a jusante da
produção, por uma actividade comercial de base local da qual sobressai os fabricantes
de courama e os negociantes.
Relativamente ao sector secundário verifica-se um aumento do total absoluto da
população activa, fruto do aumento demográfico. No entanto este sector face ao período
anterior regista uma diminuição do seu peso relativo, passando de 8% no século XVIII
para 6,5% no séc. XIX.
24
Sem especificar que tipo de indústria está relacionada com o Concelho (quadro
n.º 4), podemos desde já avançar com as suas possíveis características. Predominam as
indústrias (manufacturas) de ramos tradicionais que exploram alguma matéria prima
local (curtumes, têxtil).
O sector terciário, que regista um decréscimo acentuado da sua população activa,
verifica o aparecimento da participação da Administração Pública e da Força pública na
população activa deste sector. As actividades ligadas ao sector terciário incluem
profissões instáveis de fraca relevância económica, que no século XVIII era exercida
em parceria com actividades do sector primário.
4 – A Sociedade.
“Na sociedade de antigo Regime, o mais aparente é a divisão em estados ou
ordens - clero, nobreza e braço popular. É uma divisão jurídica, por um lado, é por outro
uma divisão de valores e de comportamentos que estão estereotipados, fixados de uma
vez para sempre, salvo raras excepções. Cada qual ocupa uma posição numa hierarquia
rígida, segundo tem, ou não títulos, e tem, ou não direito a certas formas de tratamento”
(GODINHO, 1977: 72). É visível ainda em 1796 a sociedade mondinense estruturada
daquela forma.
4.1- O Clero.
Em fins do século XVIII são 53 os membros registados por C. Ribeiro de Castro.
Este número refere-se apenas aos sacerdotes, tendo sido excluídos os Párocos,
normalmente um por cada freguesia, os Ordinandos e os Pretendentes, o que elevaria o
número total.
Dos sacerdotes temos 1 por cada 91,5 habitantes do concelho (incluímos Atei e
Ermelo) e 5,9 sacerdotes de média por freguesia. No conjunto da província de Trás-os-
Montes havia em 1796, segundo Ribeiro de Castro, 3,6 padres por freguesia e 1 padre
por 97,5 habitantes (SOUSA, 1976: 16). Estes valores reforçam o peso do clero em
Mondim dada a média ser superior ao resto da província.
O clero tinha algumas propriedades e um rendimento de décimas de 136:340 réis
em Atei, 173: 380 réis em Ermelo e de 289:500 réis em Mondim (MENDES, ob. cit:
488 e 501).
Como é sabido o décimo ou dízimo era 1/10 da produção nacional, cuja
instituição remonta ao século XII. A pressão social e económica do clero não resulta
25
propriamente do número dos que o constituem, mas sim dos laços que a si prendem toda
a população sobre a qual exercem uma forte pedagogia, interferindo necessariamente
nos seus destinos (GODINHO, ob. cit: 87).
Relativamente à proveniência social do Clero Secular verificamos que em
Mondim de Basto o recrutamento era feito em todos os grupos sociais com um peso
maior para os oriundos do povo.
Isto compreendesse dado estarmos perante uma sociedade tipicamente rural pelo
que ao longo dos séculos XVIII e XIX há da parte dos pequenos e médios proprietários,
mais do que um fugir à miséria “uma propensão para ordenar seus filhos com o fim de
honrarem as famílias” (SOUSA, 1976: 17), e da parte dos outros grupos sociais uma
necessidade de promoção social, onde todos procuram ter em casa pelo menos um
padre, de preferência o filho mais velho. E se até na hora de fazer o testamento as
primeiras palavras são sempre de profundo respeito para com a igreja, reflectindo-se no
desejo de, na hora da mesma se ter o maior número de missas possível e rezadas pelo
maior número de padres, também é possível ver aí uma forma de promoção e prestígio
social reforçados ainda nos muitos legados que são feitos à Igreja, normalmente em
terras ou em dinheiro, para pagamento de ofícios, ofertas ao altar ou para obras de
assistência.
Quanto ao local de origem dos membros do clero registados quase todos são
originários da terra onde exercem as suas funções pastorais. A título de exemplo
vejamos o caso de Atei na visitação de 1795: são oito os padres, para além do pároco,
dos ordinandos e dos pretendentes. Apenas dois são de fora do concelho. Um é de
Mondim e o outro da freguesia de S. Martinho de Mateus, Vila Real.
Quanto à sua formação, apenas o pároco, António José de Neiva Machado tinha
boa instrução pois era formado em Cânones. Dos oito sacerdotes todos tinham uma
instrução sofrível ou menos que mediana. A escrita era sofrível ou mesmo medíocre.
Só dois são referidos como pobres. Os outros tinham património legítimo ou
suficiente. Tendo em consideração os dados fornecidos pela visitação de 1825 (anexo
n.º 4), verificamos que os religiosos regressados a Mondim após o fim das Ordens
Religiosas em 1834, por decreto de 28 de Maio assinado por Joaquim António de
Aguiar, haviam pertencido às ordens de S. João Evangelista, S. Francisco, Arrábidos e
Beneditinos. De entre eles merece destaque o Beneditino Revº Frei António de S.
Bernardo Queirós, que foi Dom Abade no mosteiro de Arnóia. Homem extremamente
26
culto teve a honra de ser sepultado na igreja matriz quando tal prática já se havia
abandonado pois os enterros já eram feitos no cemitério público.
Continuando ainda a analisar os dados verificamos que nessa data, para além dos
párocos e dos ordinandos, encontramos 2 padres no Bilhó, 11 em Mondim, 4 em
Ermelo, 1 em Vilar de Ferreiros, 2 em Paradança, 0 em Campanhó e 0 em Pardelhas,
num total de 20. Atei não entrava pois fora incluída na 1ª parte da visitação.
Destes, apenas o pároco de Vilar de Ferreiros era graduado em Cânones pela
Universidade de Coimbra. Todos os outros, pela avaliação feita pelo visitador, eram
trapalhões ou desmazelados; tinham fracas qualidades de espírito ou desleixados.
Quanto a conhecimentos ficavam-se por poucos, sofríveis ou medianos. Esta escala
merece da nossa parte algumas reservas dado não concordarmos com o citado visitador.
De facto, se o pároco do Bilhó ensina aos minoristas leitura, escrita e gramática, ao
ponto do minorista Luís da Cunha vir a ser futuro professor e director da escola; se o
mesmo se passa com o minorista Inácio da Costa de Vilar de Ferreiros que estuda
gramática com o seu pároco; com quatro minoristas de Mondim que também recebem
lições de gramática ensinada pelo respectivo pároco, então os párocos dispunham dos
conhecimentos essenciais e, o que se revela importante, transmitiam-nos àqueles que
eventualmente os viriam a substituir. Como nota curiosa registe-se o facto do pároco de
Ermelo ser dado a leituras “romanescas e fortes” . Que tipo de leituras não sabemos mas
ficamos a saber que o facto do citado pároco praticar leituras diversas pode indiciar um
espírito aberto, culto e crítico.
A conduta moral era, de um modo geral, boa.
Apesar do fim das ordens religiosas, o padre não vê beliscada a influência moral,
religiosa ou política de que dispunha. Continua a fazer o registo de baptismos,
casamentos e óbitos. Alguns são ainda professores e outros exercem cargos políticos.
Impõe, afinal, o ritmo de vida da paróquia.
No último quartel do século XIX o número ainda é elevado. A título de
exemplo encontramos dois padres na casa do Retiro e dois na casa do Outeiro.
“Mondim era um alfobre de vocações religiosas, haja em vista que tinha 15 capelas
além da Srª da Graça, e numerosos altares nas melhores casas particulares” (CASTRO,
1968: 65).
27
Sendo o clero tão numeroso não nos admira que muitos desses membros tenham
tido uma vida política e romântica também muito agitada5
. De facto são numerosos os
padres que têm filhos e que os assumem na maioria das vezes6
, como numerosos são os
que têm ou tiveram relações sexuais com mulheres à data das várias visitações.
Por sua vez foi das mãos de um padre que partiu a feitura do primeiro jornal de
Mondim chamado o Progresso de Mondim onde a apologia ao regime monárquico era
por demais evidente. É claro que o regime surgido com a 1ª república fará acabar com o
citado jornal e o seu autor e mentor, padre António Guilherme de Queirós Saavedra irá
partir em 1910 para o exílio no Brasil donde só regressará 15 anos mais tarde. Também
os cargos de presidente das Juntas de Paróquia e de Presidente da Câmara serão
ocupados por padres, o que se por um lado demonstra bem do poder dos mesmos, por
outro lado também quererá dizer que se eles ocupavam esses cargos é porque seriam dos
poucos que saberiam ler e escrever, condição sem dúvida essencial para se ocupar
aqueles cargos. A entrada no século XX irá modificar as coisas. Efectivamente, se
continuamos a ver muito jovem a ir estudar para os seminários, alguns abandonam os
estudos à procura de um emprego público e por outro lado outros jovens encontram nos
liceus a possibilidade de prosseguimento dos estudos que até então quase só
encontravam no seminário. Isso fará com que o anteriormente numeroso grupo de
padres se vá tornando cada vez menor, mas ainda com alguma importância, como atesta
o facto de às portas da implantação da República termos a completar a sua formação
religiosa António Guilherme de Queirós Saavedra, Adão de Moura, Manuel Inácio de
Moura Guerra, António Gomes Ribeiro e José Bento Martins de Carvalho Ramos,
segundo os dados retirados do citado jornal.
5
O duvidoso comportamento moral de alguns padres conduzia-os a situações delicadas e pouco favoráveis à
credibilidade que era suposto terem. Por isso, frei Caetano Brandão escrevia : “depois do estudo e da oração,
segue-se a obrigação de instruir as almas nos preceitos da vida eterna (...) que as obrigações do homem eclesiástico
não se devem restringir unicamente à reza do breviário; mas (...) sobre esta tem outra mais própria e inalienável por
ser de instituição divina, que é de se pôr hábil para desempenhar a qualidade de mestre público da Religião”
(SOUSA, 1976: 440, citado por MAGALHÃES, 1989: 122).
6
A 4. 5. 1893 o padre Tomás Peixoto, de Ermelo escreve no seu testamento: “declaro que por fragilidades humanas,
tenho com uma mulher livre quatro filhos, de nomes José Joaquim, Francisco, Patrocina e Maria Emília, todos
nascidos e baptizados na freguesia de Ermelo. Todos os filhos acima mencionados, foram por mim criados em
minha companhia e debaixo da minha protecção e assim se conservam actualmente, os quais são de menor idade e
para descargo da minha consciência a todos perfilho e reconheço como meus filhos para todos os efeitos legais“.
ACMM, In livro de testamentos nº 25, página 13.
28
4.2 - A Nobreza.
É antiga a tradição nobre em Mondim de Basto. De facto desde o princípio da
nacionalidade que encontramos na região de Basto famílias nobres muito importantes.
No entanto não nos interessa fazer aqui o estudo dessas famílias, interessando-
nos antes perceber a sua evolução a partir da segunda metade do século XVIII.
Assim, em fins do século XVIII é donatário dos três concelhos o Marquês de
Marialva que cobrava de foro “oitenta réis aos casados e quarenta aos viúvos o que
importava em 127:000 réis”. Aqui se incluía também o foro cobrado ao concelho de
Cerva. De rendimentos totais obtém 1.830:000 réis em Ermelo, 900:000 no lugar do
Bilhó, 1. 940:000 réis em Mondim, 1.200:00 no lugar de Vilar de Ferreiros e em Atei
1.401:000 réis e ainda “há duas barcas no rio Tâmega , uma no porto do Arnado, donde
se junta o rio Basto, outra chamada de Baixo, no porto de Rebufa, que ambas são
foreiras ao mesmo donatário” (MENDES, ob. cit: 469).
Incluímos ainda no grupo da Nobreza os licenciados, os Juízes de Fora, os
Bacharéis, os Médicos e o professor de Gramática Latina que dava aula em Mondim.
Não poderemos incluir os poucos comerciantes assinalados dado que não o seriam “de
grosso trato” (Lobão in GODINHO ob. cit: 246 e ss). Embora o peso deste grupo social
seja muito diminuto em termos de quantitativos não podemos deixar de referir alguns
membros que tiveram alguma importância, tais como:
- Dr. Manuel Francisco da Silva Veiga Magro e Moura, cavaleiro da Ordem de
Cristo, Desembargador da Relação do Porto. Ano de 1758 (ANTT, Leitura de Bacharéis
Mc 39 nº 7). Era filho de João Francisco Magro e Moura, natural de Pedravedra em
Mondim de Basto.
- Dr. Manuel António de Oliveira e Andrade, de Atei. Requereu a Carta de Armas
a 16.6.1762, que lhe foi concedida.
- Pedro António Teixeira de Carvalho, da casa de Viacova, Mondim. Bacharel. À
data do inquérito do padre Luís Cardoso era o Sargento-mor dos quatro concelhos:
Mondim, Atei, Cerva e Ermelo.
- Teve um filho, o Dr. Manuel Vicente Teixeira de Carvalho, que foi
desembargador do Paço e cavaleiro da Ordem de Cristo. Teve carta de Brasão de Armas
a 30.10.1786.
- Teve este, por sua vez, dois filhos: Eduardo Augusto Teixeira de Carvalho, Juiz
de Órfãos em Barcelos, em 1831 e Pedro António Teixeira de Carvalho,
Desembargador da Relação de Goa, na Índia.
29
- João Manuel de Carvalho Pires, de Mondim, teve Carta de Armas em 1.7.1781.
Com o advento do liberalismo a estrutura social foi fortemente abalada. “Os fidalgos de
terras de Basto vão-se acabando. Tenho pena e saudade. Aqui há trinta anos, com os
brasões e apelidos das famílias heráldicas dentre Vizela e Tâmega recompunha-se a
história lendária de Portugal. Quem soubesse ler a simbólica das arrogantes armas
encimadas nos portões das quintas, podia leccionar um curso de história pátria com
tanta filosofia como frei Bernardo de Brito e o sr. João Félix Pereira, o das várias
faculdades. Em redor daqueles paços senhoriais pesava um silêncio triste e torvo. Era o
luto de Portugal de D. João II e de D. Manuel.
Afinal, o temperamento sanguíneo dos cavalheiros de Basto borbulhou em
comichões de novas ideias, todos eles se coçaram mais ou menos com a carta
constitucional. A liberdade vencera; mas as proeminências congénitas daquela plêiade
de Bayards, quase todos capitães-mores, desvaneceram-se nas brumas da epopeia, que
nunca mais terá pessoa em que pegue naquela região onde já não há tradição da velha
tirania dos patíbulos, excepto o vinho que ainda é de enforcado” (BRANCO, 1903: II: 9
e ss).
4.3 - O Terceiro Estado.
Naturalmente o grupo social mais numeroso, divide os seus modos de vida por:
proprietário, arrendatário, ser amo ou ter ofício de mester. Preocupa-o a sobrevivência
no dia-a-dia. Rouba à natureza os solos para cultivo e dos melhores frutos guarda as
melhores sementes que lançará à terra na sementeira seguinte, numa escolha criteriosa
que, por tradição, fará passar de geração em geração.
O povo mondinense revela-se, ao mesmo tempo, lavrador e artesão.
Encontramo-lo, quando as condições atmosféricas não o deixam ir para o campo, na sua
oficina improvisada a (re) construir as suas pipas, sacholas, tamancos, carros de bois. À
mulher competirá cozer a broa, fazer os “enchidos”, o queijo e trabalhar o linho.
Nestas tarefas detectam-se vários “saberes” desde a arte de entrançar o junco,
donde resultavam as croças, os coruchos e perneiras; o fazer de cestos com rebentos de
castanheiros; chapéus com palha de centeio; capuchas em lã escura; tricotar meiotes de
lã; tecer farrapos; trabalhar o ferro; trabalhar a madeira para as alfaias agrícolas; cozer o
pão; construção do forno, moinho e canastro; a armação em madeira e o telhado de
30
colmo de uma casa tradicional; trabalhar o granito, etc., tudo isto com recurso a técnicas
rudimentares que traduzem simultaneamente uma influência e uma adaptação ao meio.
Sendo lavrador e dispondo de cabeças de gado, o mondinense adapta a sua
construção habitacional a essas circunstâncias. Assim as construções de apoio à
agricultura fazem normalmente parte do mesmo bloco habitacional e deste é reservado o
piso térreo para funcionar como “corte” (permanência do gado) ou como palheiro e
também como simples armazém de alfaias agrícolas. No lugar do Barreiro disseram-nos
que a permanência do gado no piso térreo servia também para, com o seu arfar, aquecer
a habitação no Inverno. Há ainda os casos de habitações que já não são utilizadas como
tal sendo-o antes para, no piso inferior funcionar de corte e o superior de palheiro.
5 – O TECIDO ECONÓMICO
5. 1 - A Agricultura
A actividade agrícola surge com uma importância significativa mais em termos
sociais que em termos económicos, principalmente porque ocupa praticamente todos os
braços úteis.
Apesar da pobreza dos solos a população mondinense ao longo dos séculos
trabalhou os solos e aperfeiçoou técnicas que levaram à extensão das áreas cultivadas.
Mondim sempre foi obrigada a sobreviver à custa da agricultura. Nas zonas baixas, os
terrenos aluviais têm boa capacidade agrícola. A zona de montanha é constituída por
terrenos pobres. O tipo de sua superfície acidentada é de muita elevação, a sua posição
geográfica, que lhe deixa abertos o Sudoeste ás ventanias, que trazem as chuvas do mar,
e o Noroeste aos gelos de Sanábria , obstam à sua fertilidade, e produzem as geadas, que
são o principal inimigo das culturas destes terrenos. O clima também é pouco favorável.
Os invernos são longos e os verões secos e curtos. Todas estas condicionantes
contribuíram para que a produção agrícola nunca tivesse atingido níveis muito notáveis.
Daí o recurso à pastorícia7
, - actividade complementar - a qual não teve qualquer
dificuldade de adaptação, principalmente nos terrenos acima dos 450 metros de altitude.
7
Havendo alguma contradição entre as informações prestadas nas Memórias Paroquiais e os conhecimentos que
temos e que nos chegam por Via Oral, percorremos as freguesias de montanha inquirindo os actuais pastores sobre
o tempo de prática da actividade. Todos referem que já a herdaram dos pais e avós num recuar de tempos que nos
faz acreditar ser a actividade já ancestral e como tal incorrectas as informações prestadas pelo padre Luís Cardoso
na obra referida.
31
Usando técnicas rudimentares, o recurso a prolongados pousios era prática comum.
“O pousio, o compascuo, a rotina, a ignorância, o abandono em que as povoações destes
terrenos têm vivido até aqui, são a causa da decadência da agricultura” queixava-se o
Governador Civil (SOUSA, 1976: 64).
A adubação dos solos era prática já ancestral: o gado pisava e fazia apodrecer
nas “cortes” e nos caminhos por onde passava os matos rasteiros que eram cortados nos
baldios, convertendo-os em estrume, que depois eram espalhados como fertilizantes
pelos solos a cultivar.
As pequenas áreas de exploração agrícola localizavam-se em redor dos
povoados onde apresentam culturas praticadas em solos armados em estruturas de
compartimentação - socalcos ou muros -, e de rega - moinhos, açudes, levadas –
arduamente conquistados aos declives da topografia, com muito esforço e engenho, num
espaço temporal que se perde no tempo. Atestam esse esforço e engenho as Levadas de
água que com os seus muitos quilómetros de extensão potenciam o efeito de
demonstração do funcionamento dos principais sistemas de produção do mundo rural do
norte de Portugal, que fazem a admiração de qualquer técnico. Duas há a destacar em
Ermelo: a Porca Ruça, que começava no rio Olo e a Chelas na ribeira de Sião. Este
sistema permitia que a sua força motriz movimente cinco moinhos, dois lagares de
azeite e na passagem regue campos agrícolas e uma em Atei que começava no rio
Póvoa, e por efeito de gravidade regava os férteis campos do lugar.
5.2 - O Vinho.
Verde, de enforcado, revelava-se importante, principalmente em Atei e em
Mondim, e menos em Ermelo. Há referência, até, em meados do século XIX, a dois
negociantes de vinhos de Atei estabelecidos na cidade do Porto que se encarregariam de
vender naquela cidade o vinho desta região. Também abundavam os lagares e
alambiques, reveladores da importância do vinho e seus derivados na economia destas
populações. No entanto nem em todos os anos agrícolas o vinho produzido o era em
excesso, ou muito raramente o era, dado que nem sempre chega sequer para consumo
interno, havendo necessidade de o importar da Região Duriense, o qual era tabelado a
preços muito superiores ao produzido aqui. A título de exemplo vejam-se os preços do
ano de 1843 : vinho maduro: 480 réis o almude; vinho verde: 320 réis o almude.
32
5.3 – Cereais.
O centeio era, na primeira metade do século XIX o cereal mais importante,
ocupando extensas áreas de cultivo nas zonas planálticas do concelho. Anos haveria em
que a boa produção permitia que algum fosse vendido sobretudo na região vinícola do
Douro, onde escasseava, tal como nos refere o “Relatório acerca das Industrias no
Distrito de Vila Real” (SOUSA, ob. cit.: 79). O centeio não fornece apenas o grão mas
também a palha que servirá para a cobertura dos telhados, de uma maneira muito sui
generis. Lentamente irá ser substituída pela Lousa, que dará ao casario um imponente
aspecto, principalmente no norte do concelho. À medida que o século vai avançando, o
milho - facilmente adaptável às férteis veigas de Atei e Mondim -, ganhou gradual
importância, tornando-se num óptimo complemento alimentar. Contudo a sua produção
nem sempre será em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades destes povos,
havendo necessidade de se recorrer à importação do mesmo. Realmente era vulgar a
aquisição de milho, por parte da câmara, por manifesta falta deste no concelho. Ou
porque se não cultivava em quantidades suficientes ou porque a filoxera atacava os
milheirais, deixando-os num estado lastimável. A 23 de Junho de 1909, deliberou a
câmara “adquirir sulfureto de carbono, a fim de combater a filoloxera e a bicha amarela
que tanto prejuízo causava nas vinhas e nos milheirais”. Isto demonstra que, mesmo
depois de entrados no século XX o problema se mantinha (ACMM, acta da sessão de 23
de Junho de 1909). Nesta mesma acta regista-se como nota curiosa o facto de o
Administrador do Conselho adiantar do seu próprio bolso o dinheiro para nova
importação de milho dado que a Câmara não dispunha de verbas. Aliás essa era uma
prática corrente dado vir referida em muitas das actas que consultámos.
5.4 – Pecuária.
É impossível imaginarmos o homem mondinense sem o vermos acompanhado
pelos seus animais.
Segundo as informações recolhidas pelo citado padre Luís Cardoso, a freguesia
de Ermelo tinha “... todo o género de gado... muitas perdizes, algumas lebres, muitos
porcos monteses e lobos e mais bicharia” (CARDOSO, ob. cit: Vol 13, Maço 30, folha
242).
33
O mesmo se passava em relação a Mondim e a Atei. O gado constitui desde muito
cedo um elemento de relevo na economia mondinense. Fornecia a carne e o leite, que
com o queijo e a manteiga constituía bons complementos alimentares. Naturalmente que
facilmente se compreende por que o gado constituía um dos principais artigos de
comércio: era uma mercadoria que se deslocava por si própria, factor relevante para a
época e a região, devido às carências de vias de comunicação e de meios de transporte.
Era também o produto mais transaccionado nas feiras locais.
5.5 – Fruticultura.
Se durante muitos séculos a castanha, o centeio e o vinho foram a base da
alimentação, à medida que o século XVIII avança alarga-se a área de exploração de
novos produtos: azeite e milho.
Em fins do Século XVIII, dizia Columbano R. de Castro que aqui se colhia toda
a qualidade de frutos, os quais se exportavam para a província do Minho (MENDES,
ob. cit: 504).
A batata só quando já for adiantado o século XIX.
Associados a estas culturas estão o surgimento dos lagares de azeite - no final do
século XIX há vários em laboração -, os canastros ou espigueiros para armazenamento
do milho e as eiras em pedra, onde o mesmo era desfolhado. Estas obras vão ficar
localizadas junto das habitações. Os espigueiros mais antigos datam de 1835.
No que diz respeito à exploração florestal, as populações mantêm alguns
castanheiros para fornecimento de frutos e madeira. Aliás, a castanha teve grande
expressão nas aldeias serranas. Era consumida na sopa ou como substituto do pão.
Ainda hoje as pessoas mais idosas de Ermelo nos lembram que até a davam aos porcos,
nos anos em que a “fartura” era maior.
Limoeiros e laranjeiras também eram cultivados embora com pouca importância
económica.
Naturalmente que os aspectos económicos preocupavam os representantes
municipais. Isso vê-se pela leitura das actas das respectivas reuniões. Todos os meses os
preços dos produtos essenciais eram fixados e vigiado o seu cumprimento. O milhão, o
centeio, o vinho e o azeite são os quatro produtos que figuram em todas as actas.
Pontualmente aparece o preço da castanha, da cereja e do medronho, entre outros, o que
revela os aspectos da sua sazonalidade. Se compararmos os preços daqueles produtos
34
em três anos escolhidos aleatoriamente num prazo de dez anos - mês de Março de 1843,
mês de Julho de 1849 e mês de Abril de 1852, obtemos os seguintes valores: (13/03/
1843): milhão: 640 réis; centeio: 500; azeite: 4800 o almude. Para (30/07/1849):
milhão: 320 réis; centeio: 300; vinho: 240; azeite: 4300 e trigo: 600. (19/3/1852):
milho:400 réis; centeio: 380; trigo: 540; vinho verde: 400; vinho maduro: 720 e azeite
50008
.
As pessoas podiam sempre optar por comprar os líquidos em quartilhos, dado
que figuram sempre os preços para esta medida. Será um sinal evidente do pouco poder
de compra das populações?
A primeira observação a fazer prende-se com o facto dos preços do milho terem
baixado bastante. Naturalmente que isso se deve ao facto desse produto ter visto
aumentada a área de cultivo, funcionando a lei da oferta e da procura.
O centeio e o azeite oscilam de preços o que revela que os mesmos ora subiam
ora desciam consoante a produção anual.
Por sua vez o vinho maduro e o trigo mantêm preços elevados pois eram
produtos importados, o que os encarecia.
“O crescimento económico marca passo. A agricultura, a actividade económica
quase exclusiva das populações do distrito, permanece uma agricultura de subsistência,
rotineira e arcaica, desprovida de capitais e progressos técnicos de melhoramento de
plantas, animais e de granjeio” (SOUSA, ob. cit: 50).
5.6 – Indústria.
Era exercida ao nível doméstico e essencialmente artesanal - sempre como
complemento à satisfação das necessidades básicas -, com exploração de matérias-
primas locais. Desde tempos remotos que em Mondim se exploraram minas de chumbo,
cobre, ferro, volfrâmio e estanho. Segundo o padre Luís Cardoso, “em Ermelo... dizem
que no sítio do Linhar onde chamam Prado há sinais de estanho fino, mas disso se não
saber” (SOUSA, ob. cit.: 68).
Também Columbano refere a mesma mina de estanho fino dizendo que “embora
agora já estivesse fechada já de lá se havia retirado grande quantidade de mineral”
(MENDES, ob. cit.: 490).
8
AJFE: Das actas de vereação dos dias e meses referidos.
35
O mesmo autor refere para Mondim de Basto “uma fábrica de curtumes e
couros que já esteve em maior abundância e ainda hoje tem quinze comerciantes.
Entretêm-se nesta fabrica até cinquenta pessoas e giram neste negócio mais de
6.000:000 de réis. Pode-se adiantar muito mais, pois tem no mesmo concelho todos os
preparos necessários para esta fábrica, do qual tiram grande interesse” (MENDES, ob.
cit: 504).
Para Atei não é referida qualquer indústria.
O governo Setembrista, na década de 1830, através de decretos assinados por
Passos Manuel, pedia para que fosse dada prioridade aos produtos nacionais. Para isso
procedeu à realização de um inquérito onde pedia que lhe fosse indicado o número de
fábricas (pouco mais que simples oficinas), a sua localização, a identificação dos
proprietários e o número de trabalhadores utilizados. Para Ermelo são referenciadas 4
fábricas de aguardente e 6 de cal, - estas com 32 trabalhadores - (situadas na actual
freguesia de Campanhó). Segundo as mesmas fontes, as fábricas de cal apenas
trabalhavam no verão, preparando em cada época três fornadas. As de aguardente
trabalhavam 20 a 120 dias, dependendo da quantidade de vinho ou de medronhos a
destilar e utilizavam grandes quantidades de lenha como combustível, apanhada nos
terrenos baldios, tornando-os muito empobrecidos e por isso alvo das críticas do
governador Civil de Vila Real que em 1853 escrevia: “As fornalhas das máquinas de
destilação consomem inumeráveis carros de combustível cada dia, e ainda felizmente
que o sistema de Berorne veio substituir os antigos caldeirões de companhia, que
consumiam para fazer cada vinte e um almudes de aguardente dez carros de lenha
(SOUSA, ob. cit: 68). Entretanto a já citada mina de estanho estava em plena laboração
mas fechará na década seguinte, dado que as receitas não cobriam as despesas.
A tecelagem9
era também praticada, mas para abastecimento de casa.
Trabalhava-se a lã e o linho, produtos que abundavam no local, em detrimento dos
produtos vindos de fora.
Elucidativo é o facto de em 2200 teares existentes no distrito em 1860, 513
estarem localizados em Mondim de Basto, ou seja cerca de 20% (SOUSA, ob. cit: 40).
A indústria da cera também tinha alguma importância no concelho dado que a
mesma era exportada principalmente para a cidade do Porto.
9
A tecelagem aparece-nos essencialmente como profissão feminina. As mulheres aprendiam a tecer logo que
chegassem com os pés ás Premedeiras (são os pedais que permitem a mudança dos liços). Os materiais utilizados
eram : Ripo, Espadela, Maço, Sedeiro, Roca, Fuso, Sarilho, Dobadoira, Caneleiro, Urdideira, Noveleiro, Tábua dos
Liços, Restilho, Tear Normal, Tear de Franja e Lançadeira.
36
A situação económica do distrito de Vila Real em geral e a dos três concelhos
em particular, ao longo do século XIX, revela-se dramática e inquietante o que leva a
que, desassombradamente o Governador Civil - António Pinto de Lemos - em meados
do século XIX, acuse o Estado de votar no esquecimento a província transmontana, a
“jóia mais preciosa da coroa portuguesa, a qual, em paga do aumento que traz à riqueza
nacional, se deixa consumir numa inanição incrível, como se a terra, de que faz parte,
lhe fora madrasta” (SOUSA, ob. cit: 13).
5.7 – Comércio.
“O comércio efectuado dentro da própria província desempenhava
naturalmente uma importante função, visto tratar-se de uma economia que
frequentemente tinha de bastar-se a si própria” ( MENDES, ob. cit: 13).
As feiras revelavam-se importantes para o comércio local e até regional. São antigas
as de Mondim e de Ermelo.
Se qualquer um podia ser feirante sazonal já em relação ao número de
negociantes referidos por Ribeiro de Castro para fins do século XVIII - apenas 6 - isso é
demonstrativo do pouco desenvolvimento da actividade comercial como actividade
independente e reforça a ideia de que a região vivia fundamentalmente dos recursos da
terra e que o comércio era uma actividade muito complementar. Se os seis negociantes
referidos são todos de Atei, isso terá a ver com o facto de aí passar uma via de
comunicação que ligava Chaves a Braga. Para além daquela via de comunicação havia
também no rio Tâmega duas barcas que faziam a ligação entre Trás-os-Montes e a
província do Minho. Vimos também em várias actas que as tropas de Chaves quando
por aqui passavam ficavam aquarteladas em Atei. Estas razões contribuiriam por si para
o aparecimento da profissão de negociante.
6 – Rede Viária.
Dum modo geral cada uma das sedes dos três concelhos fica implantada no
centro do território geográfico que corresponde a cada qual. Os seus núcleos
populacionais mais afastados distam no máximo uma hora a pé, formando assim uma
rede bastante homogénea e bem distribuída. Essa distribuição está umbilicalmente
37
ligada à rede viária que atravessa os concelhos. São duas as vias principais,
complementadas por um emaranhado de veredas e caminhos vicinais.
O primeiro era a estrada que de Chaves partia para Vila Real. Daqui e pela
estrada do Marão “a mais áspera da província e talvez do reino”, no dizer de Ribeiro de
Castro, partia da zona da Campeã um ramal para Mondim de Basto, passando por
Ermelo e fazia a ligação para o Minho (Braga), pelo vale do rio Olo. Tinha aqui duas
importantes pontes: a medieval, denominada dos Presuntos, construída em pedra e
situada num local chamado Várzea e a segunda, em madeira, situada num local
denominado de Abelheira. Ao longo de todo o século XIX esta ponte será alvo de várias
intervenções de reparação, dado que tinha um movimento interessante de pessoas e
carros de tracção animal, que a danificavam, segundo as actas da vereação.
No local denominado Alto do Alvão esta estrada devia ser sinuosa, estreita e
péssima de condições dado que em 1874 um cidadão da Campeã se dirige à
Administração do Concelho de Mondim a queixar-se contra um seu vizinho proprietário
o qual havia aberto uma vala na estrada para dar passagem a águas de rega tendo
estragado a estrada e não permitindo por isso a passagem ao seu carro de bois. Pedia por
isso que o infractor fosse devidamente castigado10
.
Em Mondim a estrada flectia para a esquerda para, depois de se passar a ponte,
se entrar na província do Minho, em direcção a Guimarães e Braga. Essa ponte tinha os
pegões em pedra mas o tabuleiro, de oito arcos, era de madeira. De passagem
obrigatória, por não haver mais nenhuma, será alvo de alguns arranjos até à sua
substituição no reinado de Dª Maria II. Efectivamente “sendo de instante necessidade
efectuar a construção da ponte sobre o rio Tâmega, em Mondim de Basto, para a qual
foi estabelecido um imposto especial por carta de lei de 12 de Setembro de 1842, manda
Sua Majestade El-Rei, que o Director das Obras Públicas do distrito de Vila Real remeta
sem demora, a este ministério o novo projecto para a execução daquela obra, e o
respectivo programa de arrematação, elaborados em harmonia com as indicações que,
sobre o primitivo trabalho técnico por ele proposto, foram feitas em consulta do
Conselho de Obras Públicas e Minas, e mandadas observar em data de 16 de Novembro
último; devendo o sobredito Director ficar na inteligência de que, tendo o governo em
especial atenção esta importante obra, tornará efectiva a sua responsabilidade pela falta
do cumprimento ao que lhe fica determinado.
10
ACMM: Livro de Registo de correspondência Entrada, nº 1.
38
Paço, em 16 de Fevereiro de 1856.= António Maria de Fontes Pereira de Mello11
.
Eram depois estabelecidas as condições da obra e a tabela dos direitos de
trânsito. Assim, não deveria exceder 600 palmos em cumprimento, em 30 de largura e
seria construída em cinco anos. Os direitos variavam de 10 réis para os passageiros a pé
ou a cavalo e os 180 réis para carro carregado12
. A ponte só será inaugurada em 188213
.
A segunda era a estrada que ligava Mondim, Atei até à serra do Alvão onde
entroncava na que ia para Chaves, vinda de Braga e tinha uma importante ponte sobre o
rio Tâmega no lugar de Cavêz. Esta era uma estrada muito importante para as gentes de
Mondim pois era por ela que se fazia a principal ligação com Vila Real.
Como caminhos secundários mas que revelavam alguma importância, devemos
destacar dois: o primeiro que partia de Mondim por Vilar de Ferreiros e Bilhó e o
segundo que, partindo de Ermelo vinha entroncar naquele e pela serra do Alvão dava
ligação a Vila Real e a Chaves. Esses caminhos eram pouco percorridos dado que os
Invernos eram rigorosos, transformando-os em verdadeiros rios e também porque os
assaltos eram frequentes.
Fazendo parte da rede viária não podemos deixar de destacar a importância que
as Barcas de passagem dos rios tinham. De facto são referidas duas para o concelho de
Atei em que, apesar de às vezes virarem e morrer gente, nunca o movimento de
passageiros abrandou. Também para Mondim se refere o facto de, com a entrada em
funcionamento da nova ponte no último quartel do século XIX, não deixarem as Barcas
de ter uma grande utilidade, ao ponto até de a lei permitir ao construtor da nova ponte os
direitos por trinta anos sobre as mesmas. O facto é que passados os ditos trinta anos o
construtor continuou a levar dinheiro pela travessia nas barcas numa atitude
perfeitamente injusta, mas naturalmente rendosa.
Em fins do século XVIII as estradas eram precárias e em número reduzido o que
naturalmente não facilitava os transportes.
Em meados do século XIX, o Visconde de Lemos dizia: “Por que não há
estradas que ponham em comunicação estes povos com os do Minho e do Distrito,
11
D. do G. de 22 de Fevereiro, nº 45. Esta ponte só será inaugurada em 1882.
12
In Jornal Povo de Basto, nº 209, ano V, de 11.12.1914.
13
A obra demorou afinal muitos mais anos a construir do que inicialmente previsto, isto porque no registo de um
casamento efectuado na igreja de Mondim em 22.2.1857 consta como testemunha presente no acto, António
Caetano P. F. S. Andrade, que se intitulou como Chefe de Secção Encarregado das Obras Públicas na ponte de
Mondim de Basto. E num outro registo de casamento ocorrido na mesma igreja em 21.1.1858 esteve presente
como testemunha o capitão Luís António dos Santos que se intitulou como Chefe dos Trabalhos na ponte de
Mondim.
39
vivem miseravelmente; são grosseiros em tudo o que importa a civilização; os seus
produtos não acham saída; a povoação emigra, por falta de trabalho” (SOUSA, ob. cit:
80).
A partir do último quartel do século XIX vamos assistir a uma mobilização mais
ou menos concertada dos residentes, para que se criem condições para que se acelerem
as ligações entre o concelho e a capital de distrito.
Em fins do século XIX, princípios do XX, são inúmeras as pressões para que o
governo conclua a estrada nº 47 - ligação de Mondim a Ribeira de Pena - No entanto
será em 1909 que um grupo de 125 indivíduos naturais de Mondim de Basto, Ribeira de
Pena e Vila Pouca de Aguiar, mas residentes em Pernambuco, no Brasil, decidem enviar
a El-Rei uma petição, por intermédio do mondinense Alfredo Álvares de Carvalho onde
se pedia a conclusão da citada estrada, iniciada já há trinta anos, mas onde faltavam
ainda catorze quilómetros para que ficasse concluída. Recebido pelo Marquês de
Alvito, o sr. Alfredo A. Carvalho recebeu a promessa de que a estrada finalmente iria
ser concluída. A notícia causou grande alegria nas populações locais e foi manchete em
vários jornais da época, tais como o “Século”, a “Mala da Europa” e o “Diário de
Notícias”14
. No entanto, será preciso esperar pelo advento da República para ser
cumprida a promessa.
7 – Emigração.
7.1 – Emigração para o Brasil
( A partir da 2ª metade do século XIX)
A emigração mondinense ao longo da 2ª metade do século XIX e princípios
do XX teve um carácter transoceânico.
O seu estudo torna-se difícil, dadas as lacunas existentes em relação aos
elementos disponíveis no que toca aos movimentos migratórios, à diversidade de fontes,
à dificuldade de quantificar a emigração clandestina e até muitas vezes por razões de
ordem política.
14
O “ Século “ escrevia: “ Ao chefe do Estado, pelo sr. Alfredo Alvares de Carvalho, comerciante em Pernambuco,
uma representação assignada por 125 portugueses residentes na referida cidade brasileira, na qual se pede a
conclusão da estrada distrital que liga os concelhos de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar
com a sede do distrito, estrada esta que ha 30 anos foi começada...”. Citado no “Progresso de Mondim “ nº 134 em
1909.
40
7.2 – Condicionalismos.
“Na Europa, os países mais evoluídos encontram-se a braços com as
consequências sócio - económicas das respectivas revoluções industriais em curso, que
se traduzem por largas migrações dos campos para as cidades, das tarefas agrícolas ou
artesanais para a indústria ou para o sector dos serviços” (SERRÃO, 1980: 166)
enquanto do lado de lá do Atlântico o Brasil procura desenvolver-se, mas a libertação
dos escravos cria problemas de falta de mão-de-obra e daí o recurso à mão-de-obra
europeia. E é nesta base que devemos compreender a corrente migratória para o Brasil.
É claro que outra das razões assentará no facto de se partir para “uma terra conhecida”,
isto é, onde se falava a mesma língua.
“A nossa melhor colónia é o Brasil, depois que deixou de ser colónia nossa”,
assim escrevia Herculano na década de 1870 (SERRÃO, 1973: 61).
Por sua vez, com o fim dos morgadios, a propriedade passa a ser alvo de maiores
divisões - devido a partilhas - e isso fará com que a grande propriedade dê lugar à média
e pequena fazendo com que rendeiros e lavradores procurem em primeiro lugar garantir
a sua subsistência e a de suas famílias e depois pagar a renda. De facto o predomínio da
pequena propriedade implicava uma agricultura pouco produtiva e como tal geradora de
baixos rendimentos. Perante este cenário sem futuro, não nos admira que os jovens
vejam na emigração a possibilidade de, por um lado se libertarem das modernas formas
de servidão e por outro procurar no império do Brasil a fortuna de que outros falam e
que todos julgam estar ao seu alcance. Naturalmente que o “brasileiro” quando vem
passar férias fala de uma forma empolgada do país de onde vem e naturalmente não
daria nas suas descrições a mesmo ênfase aos aspectos negativos, que eram muitos. É
este o mais importante leitmotiv: Sonha-se com o eldorado brasileiro e para lá se
emigra, com a intenção de enriquecer depressa e depressa se regressar à pátria como
“brasileiro” endinheirado e digno de admiração. Naturalmente que a realidade se
revelará diferente e a sorte apenas bafejará alguns.
O esquema de partida é igual para todos. Começa por um pedido do competente
passaporte às autoridades distritais, cujo Governador Civil despacha por um prazo de
três meses a respectiva autorização (nos anos por nós analisados encontramos o caso de
um único indivíduo que deixou caducar o prazo e teve de requerer novo passaporte).
41
Parte-se muito novo. A média de idades para os anos estudados é de 20,9 anos
de idade. Muitos têm 10 ou 11 anos. Quase todos embarcam da cidade do Porto com
destino ao Maranhão. Aqui cabe a pertinência de uma questão. Indo quase todos os
jovens trabalhar para a firma comercial Álvares de Carvalho isso não os obrigaria a ser
possuidores dos rudimentos indispensáveis do Ler, Escrever ou Contar? Provavelmente
sim. E continuando nesta linha de raciocínio não poderemos pensar que estes jovens
teriam feito pelo menos a 3ª classe cujo móbil era o poderem emigrar?
Outros jovens, cremos que num número muito limitado vão clandestinamente
sem avisar a administração local de tal intenção o que traz alguns problemas
institucionais15
.
Encontramos, entre os que partem, apenas duas mulheres e uma já com 75 anos
de idade, que provavelmente se iria juntar a algum familiar. São valores insignificantes,
portanto, e prova que a emigração é tipicamente masculina.
Não se pense, porém, que só os filhos de famílias pobres é que emigravam, dado
que também emigram filhos de famílias remediadas ou mesmo abastadas. Estes, de um
modo geral não partem como mão-de-obra indiferenciada, pois quando partem já sabem
que se vão juntar nos negócios que o primo ou qualquer outro parente lá tem,
contribuindo assim - com trabalho duro - para o aumento das fortunas, que cheguem o
mais depressa possível para fazer casa, comprar terras e melhorar o modo de vida.
E o regresso de “brasileiros” endinheirados fará espicaçar noutros a vontade de
partir, num ciclo que se repetirá e se prolongará até aos nossos dias, ao ponto de ainda
hoje em Mondim quase todos terem parentes no Brasil.
O retorno de alguns deveria ser encarado como um factor potencialmente
positivo de desenvolvimento dado que as grandes somas investidas e os conhecimentos
trazidos contribuiriam a seu modo para o desenvolvimento do concelho. Porém nem
sempre assim foi.
De facto não houve visão por parte de quem chegou endinheirado para fazer
investimentos em actividades produtivas. O dinheiro foi gasto na construção de
imponentes solares e na aquisição de propriedades, por aqui se quedando. O concelho
permaneceria igualmente rural durante décadas e décadas até praticamente aos nossos
dias.
15
Vimos em vários registos camarários o Administrador chamar o pai do emigrante e obrigá-lo ao pagamento de
coimas por causa dos filhos terem partido clandestinamente.
42
Pela análise do quadro número 6 verificamos que nos primeiros anos a
emigração se revela muito tímida, o que é reforçado pelo facto de entre 1837 e 1850 –
anos por nós também analisados -, apenas terem emigrado três pessoas: duas de Vilar de
Ferreiros em 1842 e uma de Ermelo em 1845.
Nos anos em que se verifica um maior número de saídas isso poderá estar
directamente relacionado com maus anos agrícolas. (A partir de 1850 a filoxera atacou
muitas vezes as vinhas e os milheirais, o que contribuía para o empobrecimento dos
povos). Desses anos destacamos 1857, com 40 saídas; 1862 com 45 saídas e 1869 com
25 saídas.
As freguesias que mais contribuem com mão-de-obra para o Brasil são Mondim
e Atei, que por si só entram com 126 emigrantes, quase 50% do total. Várias serão as
hipóteses explicativas mas ao seu complexo conjunto não serão alheios os factos de
ambas as freguesias se encontraram no limite fronteiriço com a província do Minho e
como esta era a província de onde mais se emigrava criava-se nestas freguesias um
fenómeno de arrastamento. Para além disso é nestas freguesias que havia um maior
número de alfabetizados e como tal mais bem capacitados para arranjaram um emprego
como caixeiros, sobretudo. Também a pequena divisão da propriedade inibiria os jovens
de por cá quererem ficar.
Nas freguesias onde a saída é nula ou pouco significativa isso terá a ver com o
facto de se tratar de freguesias de montanha, isoladas e com falta de acessibilidades e
também com a pouca população aí existente.
Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870.
ANOS MONDIM ATEI BILHÓ PARADª V.FERREIR ERMELO CAMPAN PARDELHA TOTAL
1850 0 0 0 0 0 0 0 0 0
51 0 0 0 0 0 0 0 0 0
52 0 0 0 0 0 0 0 0 0
53 0 0 3 0 1 5 1 0 10
54 0 0 3 0 0 1 0 0 4
55 0 1 0 0 0 1 0 0 2
56 0 0 0 0 0 0 0 0 0
57 13 11 7 0 7 2 0 0 40
58 3 3 3 1 1 2 1 0 14
59 6 1 0 0 0 0 0 0 7
60 1 5 0 0 0 0 0 0 6
61 5 8 0 2 5 4 0 0 24
43
62 9 2 9 4 7 10 4 0 45
63 0 0 0 2 3 0 0 0 5
64 3 4 1 0 1 1 0 0 10
65 1 1 0 1 0 0 0 0 3
66 3 3 0 0 0 1 0 0 7
67 3 3 0 0 0 0 0 0 6
68 0 3 0 1 0 0 0 0 4
69 8 13 4 0 0 0 0 0 25
1870 6 7 2 0 0 4 0 0 19
TOTAL 61 65 32 11 25 31 6 0 231
Fonte: ADVR: Livros de Registos de Passaportes números 123 a 131.
Tese final
Tese final
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Tese final

  • 1. 1 LICÍNIO ANTÓNIO TEIXEIRA BORGES EDUCAÇÃO, SOCIEDADE E DESENVOLVIMENTO EM MONDIM DE BASTO DESDE O MARQUÊS DE POMBAL À TRANSIÇÃO PARA A CONTEMPORANEIDADE Universidade do Minho Braga 1999
  • 2. 2 Índice 1ª Parte............................................................................................................................. 8 Geografia Sociedade e Tecido Económico em Mondim de Basto, ............................. 8 1- Geografia..................................................................................................................... 9 1.1 - Geografia física. ....................................................................................................... 9 2 - Geografia política.................................................................................................... 10 2.1 – Mondim. ................................................................................................................ 10 2.2 – Atei. ....................................................................................................................... 11 2.3 – Ermelo. .................................................................................................................. 11 3 – A População.............................................................................................................. 14 3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade).................... 14 QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991) ..... 15 GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População................................................................... 16 3.2 - A População Activa................................................................................................ 19 Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões.......................................... 19 Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII) ............................................................... 19 Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para Fins do Século XVIII.................................................................................................... 22 Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX.............................. 22 Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em Fins do Século XIX. .................................................................................................................... 23 4 – A Sociedade.............................................................................................................. 24 4.1- O Clero.................................................................................................................... 24 4.2 - A Nobreza. ............................................................................................................ 28 4.3 - O Terceiro Estado................................................................................................... 29 5 – O TECIDO ECONÓMICO ................................................................................... 30 5. 1 - A Agricultura....................................................................................................... 30 5.2 - O Vinho. ................................................................................................................ 31 5.3 – Cereais. ................................................................................................................. 32 5.4 – Pecuária................................................................................................................ 32 5.5 – Fruticultura.......................................................................................................... 33 5.6 – Indústria. .............................................................................................................. 34 5.7 – Comércio. ............................................................................................................. 36
  • 3. 3 6 – Rede Viária.............................................................................................................. 36 7 – Emigração. .............................................................................................................. 39 7.1 – Emigração para o Brasil ..................................................................................... 39 ( A partir da 2ª metade do século XIX) .......................................................................... 39 7.2 – Condicionalismos................................................................................................. 40 Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870.42 2ª Parte........................................................................................................................... 44 A Escolarização............................................................................................................. 44 Em .................................................................................................................................. 44 Mondim de Basto.......................................................................................................... 44 EDUCAÇÃO................................................................................................................. 45 – Génesis do Sistema Educativo Mondinense. ............................................................... 45 1.1 A Reforma Pombalina. ........................................................................................ 45 Quadro nº 7. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Pombalino.................... 47 Gráfico nº 2. Distribuição das Cadeiras.......................................................................... 47 1.2 - O Período Mariano................................................................................................. 50 Quadro nº 8. O Actual Distrito de Vila Real no Mapa Escolar Mariano...................... 51 Quadro nº 9. A Implantação Efectiva dos Professores Régios do Século XVIII em Mondim de Basto ........................................................................................................... 54 1.3 - A Real Junta da Directoria Geral dos Estudos....................................................... 55 1.4 - Conclusão............................................................................................................... 56 2 – CONSOLIDAÇÃO DO SISTEMA EDUCATIVO MONDINENSE...................... 59 - A REFORMA DE COSTA CABRAL......................................................................... 59 Introdução....................................................................................................................... 59 2. 1 – Efeitos Fundamentais da Reforma em Mondim de Basto. ................................... 59 Quadro n.º10. Número das Escolas Primárias Portuguesas de 1843 A 1859................. 62 3 – O Movimento da Regeneração. Um Tom de Esperança. ......................................... 65 3.1 – Inquéritos de 1863 – 1864. .................................................................................... 65 Quadro nº 11. Estatística das Escolas de Instrução Primária do concelho de Mondim de Basto, Segundo os dados da Inspecção de 1863 - 1864 ................................................. 66 1 – Das Escolas............................................................................................................... 66 2 – Dos Professores: ....................................................................................................... 67 3 – População das escolas e ensino dos alunos .............................................................. 67 3.2. – Análise sumária sobre os resultados dos inquéritos. ............................................ 68 3.2.1. - Das escolas......................................................................................................... 68 3.2.2 - Do professorado. ................................................................................................ 69 Quadro nº 12 . Professores do ensino elementar em Mondim de Basto a cargo do Estado à data do Inquérito de 1863-64........................................................................... 69 3.2.3 – Dos alunos. ......................................................................................................... 70 Quadro nº 13. Inquéritos Escolares: 1873/1874 ............................................................. 72 Mapa estatístico dos alunos de instrução primária......................................................... 72 Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 73 1873 / 1874................................................................................................................... 73
  • 4. 4 Mapa da distribuição por disciplinas e classes, dos alunos que frequentaram a escola e dos que apresentam à inspecção ............................................................. 74 1873 / 1874................................................................................................................... 74 Mapa Estatístico dos Alunos de Instrução Primária, com Relação ao Ano Lectivo 1873 / 1874 ................................................................................................................................ 75 Quadro n.º 14.Resultado da Inspecção no dia 6 de Julho de 1875 .................... 76 3.4 – Conclusões............................................................................................................. 77 4 – A UNIVERSALIZAÇÃO DO ENSINO EM MONDIM DE BASTO .................... 81 - A REFORMA DE RODRIGUES SAMPAIO. ............................................................ 81 Introdução..................................................................................................................... 81 4.1 - Aspectos fundamentais da reforma. ....................................................................... 81 4.2 – Efeitos práticos da Reforma em Mondim.............................................................. 84 4.2.1 - A Rede Escolar.................................................................................................... 85 4.2.2 - O Professorado.................................................................................................... 85 Quadro nº 15. Professores do ensino elementar a cargo do Estado,, da Câmara Municipal de Mondim de Basto e das Confrarias das Almas de 1878 a 1910............... 93 4.2.3 - Nomeação dos Professores.................................................................................. 96 4.2.4 - Mobilidade/Estabilidade do Corpo Docente. ...................................................... 96 4.2.5 - Os professores Particulares. ............................................................................... 96 4.2.6– Os Professores Adjuntos...................................................................................... 98 4.2.7 – Os Salários.......................................................................................................... 98 4.3 – As Comissões Promotoras de Beneficência. ....................................................... 100 4.4 – Dos Alunos .......................................................................................................... 101 Quadro nº 16. Número de alunos aprovados em exame de Instrução Primária entre 1882 - 1894 em Mondim de Basto ............................................................................... 102 Quadro nº 17 ................................................................................................................ 102 Quadro nº 18 ................................................................................................................ 102 Quadro n.º 19 ............................................................................................................... 102 4.5 - Conclusões ........................................................................................................... 103 5 - OS EDIFÍCIOS ESCOLARES ............................................................................... 104 5.1 - Mondim de Basto. ................................................................................................ 104 Quadro nº 20. Receitas e despesas da Câmara Municipal para a Educação (1901 a 1904)............................................................................................................................. 108 5. 2 – Atei. .................................................................................................................... 108 Quadro nº 21. Orçam. da Inst. Primária para o ano de 1886 na freguesia de Atei....... 110 5. 3 – Bilhó. .................................................................................................................. 112 5. 4 – Anta e Bobal....................................................................................................... 114 5. 5 – Ermelo. ............................................................................................................... 115 5. 6 – Fervença. ........................................................................................................... 117 5. 7 – Paradança.......................................................................................................... 118 5. 8 – Vilar de ferreiros. ............................................................................................. 120 5.9 – Vilarinho............................................................................................................. 121 5. 10 – Campanhó, Vilar de Viando e Pardelhas..................................................... 122 Quadro nº 22. Situação dos edifícios escolares em Mondim de Basto em 1915... 124
  • 5. 5 Total............................................................................................................................. 124 3º Parte.......................................................................................................................... 126 A Alfabetização em Mondim de Basto ........................................................................ 126 2ª Metade do séc. XIX.................................................................................................. 126 1 – INTRODUÇÃO...................................................................................................... 127 2 - PROVENIÊNCIA DOS TESTAMENTOS. ........................................................... 128 QUADRO Nº 23. Distribuição dos Testamentos por Freguesias. .......................... 129 GRÁFICO Nº 3. Proveniência dos Testamentos...................................................... 129 2.1 – Tipo de testadores e respectiva profissão. ....................................................... 129 Quadro Nº 24. Profissão dos Testadores (as). .......................................................... 130 Gráfico Nº 4. Profissão dos Testadores..................................................................... 130 2.2 – Testadores face à alfabetização. ....................................................................... 130 Quadro Nº 25. Tipos de Assinaturas......................................................................... 131 3 – TESTEMUNHAS................................................................................................... 131 3.1 – Profissões das testemunhas............................................................................... 131 Quadro nº 26. Profissões das Testemunhas.............................................................. 132 3.2- As assinaturas das testemunhas......................................................................... 132 Quadro nº 27. Número de Chancelas Contabilizadas por Profissão. .................... 133 Quadro nº 28. Tipos de Assinaturas ......................................................................... 133 Quadro nº 29. Grupos de Assinantes de “ Cruz”..................................................... 134 3.3- Frequência de assinatura das testemunhas....................................................... 135 II ................................................................................................................................... 137 4 - OS JURADOS........................................................................................................ 137 4.1 – A instituição do júri........................................................................................... 137 4.2 – Quem é convidado para jurado?...................................................................... 137 Quadro nº 30. Recenseamento do Júri Comum de 1900 a 1911............................. 138 GRÁFICO Nº 5. PROFISSÕES DOS JURADOS................................................... 138 5 – Conclusão. ............................................................................................................. 139 6 - ANÁLISE DO GRAU DE ALFABETIZAÇÃO DA POPULAÇÃO MONDINENSE EM 1878 E A SUA EVOLUÇÃO ATÉ 1890.............................................................. 141 6.1 – Introdução............................................................................................................ 141 QUADRO Nº31 . CENSOS DE 1878 PARA MONDIM DE BASTO .................... 142 6.2 - O NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE MONDIM DE BASTO EM 1878............................................................................... 144
  • 6. 6 7 - ANÁLISE DO NÍVEL DE ESCOLARIDADE POR FREGUESIA NO CONCELHO DE MONDIM DE BASTO COM BASE NOS CENSOS DE 1890. 148 Quadro nº 32. RESULTADOS DOS CENSOS DE 1890 ........................................ 148 7.1 - Escalas de classificação do conceito de alfabeto, segundo o censo de 1890... 149 7.2 – Análise dos dados............................................................................................... 149 8 – Conclusão. ............................................................................................................. 151 Quadro nº 33. Comparação Entre Índices de Alfabetização a Nível Nacional e Mondim de Basto........................................................................................................ 151 MÉDIA ........................................................................................................................ 151 MONDIM..................................................................................................................... 151 MÉDIA NACIONAL.................................................................................................. 151 4ª Parte.......................................................................................................................... 154 O Desenvolvimento...................................................................................................... 154 1 - O LENTO CAMINHO DA MUDANÇA............................................................. 155 1.1 – Introdução............................................................................................................ 155 2 – A ESTRUTURA SOCIAL: PERMANÊNCIAS E MUDANÇAS .................... 156 2.1 - O Povo. ................................................................................................................ 156 2.2 - O Clero. ............................................................................................................... 158 2.3 - A Nobreza. .......................................................................................................... 159 2.4 - A Burguesia......................................................................................................... 160 2.5 – Conclusão. .......................................................................................................... 160 3 - FUNÇÕES E PRÁTICAS DA ALFABETIZAÇÃO E DA ESCOLARIZAÇÃO ...................................................................................................................................... 161 3.1 - A Alfabetização como Desenvolvimento............................................................. 161 3.2 - A Escolarização e o seu Papel Alfabetizador....................................................... 164 4 - MATERIALIDADE E ACÇÃO........................................................................... 166 4.1 -- As Elites e a Classe Média na Gestão Municipal e Paroquial....................... 166 4.1.1 – Biografia 1:...................................................................................................... 168 4.1.2 - Biografia 2: ...................................................................................................... 168 4.2 – Oportunidades e Destinos de Vida................................................................... 169 QUADRO Nº 34. Oportunidades e Destinos de Vida dos Alunos que Fizeram o Exame Elementar entre 1882 e 1894 ........................................................................ 170 4.3 - HISTÓRIAS DE VIDA DE ALGUNS EMIGRANTES ................................. 173 5 - CONCLUSÕES FINAIS....................................................................................... 177
  • 7. 7 BIBLIOGRAFIA:......................................................................................................... 182 MANUSCRITA........................................................................................................... 182 1 - ARQUIVOS CENTRAIS...................................................................................... 182 2 - ARQUIVOS DISTRITAIS ................................................................................... 182 3 - ARQUIVOS LOCAIS........................................................................................... 183 4 - ARQUIVOS PAROQUIAIS................................................................................. 183 BIBLIOGRAFIA IMPRESSA: ................................................................................. 184
  • 8. 8 1ª Parte Geografia, Sociedade E Tecido Económico em Mondim de Basto
  • 9. 9 1- Geografia. 1.1 - Geografia física. Mondim. Concelho rural, distrito e diocese de Vila Real, província de Trás - os - Montes situa-se na margem esquerda do Tâmega e faz parte integrante da Região de Basto, região que se caracteriza por uma certa identidade de aspectos comuns a toda ela. Não apenas as condições gerais do clima e posição mas ainda as particularidades da natureza e do relevo do solo, o manto vegetal e as marcas da presença humana, nos darão o sentimento de não sairmos da mesma terra, como escreveu Orlando Ribeiro. A Região de Basto estendendo-se pelo troço médio da bacia hidrográfica do rio Tâmega, com uma área aproximada de 825 Km2 quadrados, é definida a Noroeste e a Norte pela serra da Cabreira e serra das Alturas, a Oeste pelo planalto do Monte Longo e a Este pela serra do Alvão e Altos das Caravelas. É limitada a Norte pelos concelhos de Boticas e Montalegre, a sul pelo concelho de Amarante, a Oeste pelos concelhos de Vieira do Minho, Fafe e Felgueiras e a Este pelos concelhos de Vila Real e Vila Pouca de Aguiar. Faz parte da denominada Região de Basto, região de montanhas “entrecortada de fecundas campinas e vales (VASCONCELLOS, 1942: III: 191). “Esta região da bacia média do Tâmega reveste uma fisionomia peculiar, em que, se ainda aparecem traços transmontanos, já dominam as características do território de entre Douro e Minho (TABORDA, 1932: 9). O Concelho tem uma área de 178,48 km2, distribuídos por oito freguesias: Atei, Bilhó, Campanhó, Ermelo, Mondim de Basto, Paradança, Pardelhas e Vilar de Ferreiros Encontra-se inserido na faixa de transição entre o litoral e o interior norte o que faz com que a sul existam áreas planas sujeitas a uma forte ocupação e a norte a montanha, sinuosa, fortemente declivada e pouco propícia à colonização. Existem, por isso, poucos solos propícios à fixação das populações. A tipologia dos solos condicionou ao longo dos séculos a forma de povoamento. Assim, encontramos no concelho duas formas de povoamento: o disperso e o concentrado. O primeiro assenta num esquema social, vindo dos séculos XVII e XVIII, em que a propriedade se mantinha pelo sistema de morgadio. As grandes propriedades tinham implantado a “Casa Senhorial” e dependências agrícolas em lugares estratégicos possibilitando o
  • 10. 10 controlo das casas dos caseiros que se encontravam dispersas por áreas de exploração menores e que dependiam directamente de uma família. O segundo é visível na zona de montanha e resulta das condições naturais. O grosso da população vive na sede do concelho, sede esta que funciona como pólo aglutinador do mesmo. 2 - Geografia política. ( a partir da segunda metade do século XVIII ) 2.1 – Mondim. Havia recebido foral de D. Manuel I em 3.6.1514. Em fins do século XVIII era “Donatário dele o Marquês de Marialva. Foi da correição de Guimarães e hoje [finais de setecentos], pela regulação da lei de mil setecentos e noventa e dois só lhe pertence pela provedoria. Está unido á correição de Vila Real, a quem também é sujeito pelo eclesiástico, por ser do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, eleito pelo corregedor da dita comarca, confirmado pelo donatário, e juiz de órfãos, separado” (MENDES, 1981: 501). Esta forma de poder irá ser alterada brevemente. Efectivamente em 1820 foi proclamado o regime liberal. Em 1826, a 29 de Abril é outorgada ao reino a carta constitucional. O país transforma-se num vespeiro de sublevações. A 26 de Novembro de 1830, por reforma administrativa, são instituídas as Juntas de Paróquia as quais, por decreto de 19 de Fevereiro de 1831 vêem os suas competências muito alargadas: para além do poder político recebem o encargo da administração temporal das igrejas e capelas, acabadas de subtrair à autoridade dos prelados. Em 1851, a Câmara envia ao Duque da Saldanha uma carta a felicitá-lo pelo movimento da Regeneração. Em 1 de Fevereiro de 1865 a mesma Câmara solicita à Rainha, num extenso documento, que seja criada a Comarca de Mondim de Basto, deixando assim de pertencer à de Vila Pouca de Aguiar e procurando-se dessa forma que não passasse a pertencer à de Celorico de Basto, conforme uma proposta de Lei previa. Pelo decreto de 26.09.1895, foi este concelho agrupado ao de Celorico de Basto, vindo a ser suprimido em 26.06.1896. Foi restaurado em 26.01.1898. Assim se mantém até hoje.
  • 11. 11 2.2 – Atei. Teve foral concedido por D. Manuel em 3.6.1514. Era vigairaria da apresentação do convento de Santa Clara de Vila do Conde. Era donatário o Marquês de Marialva. Tinha cadeia e Casa da Câmara. “Foi da correição e provedoria de Guimarães e hoje [finais de setecentos], só é da dita provedoria e comarca de Vila Real, a quem também pertence pelo eclesiástico por ser do arcebispado de Braga. Tem juiz ordinário, juiz de órfãos, sargento-mor de ordenanças que serve neste concelho e nos de Mondim , Cerva e Ermelo, e sete capitães da sua repartição “(MENDES, ob. cit.: 469). Em 1835 deu-se a revolução de Setembro que trouxe ao poder Passos Manuel. Por decreto de 6 de Novembro reduziam-se a 351 os concelhos do País, sendo suprimidos 465, entre os quais Atei que passou a integrar-se como simples freguesia no de Cerva até 1853 altura em que passa definitivamente para o de Mondim de Basto. 2.3 – Ermelo. Em Abril de 1196 D. Sancho I concedeu-lhe a 1ª carta de foral, que foi confirmada mais tarde, em Março de 1218, por nova carta. A 3 de Junho de 1514, D. Manuel I concedeu-lhe nova carta. A antiga freguesia era abadia de apresentação do Marquês de Marialva. Na resposta ao inquérito dirigido pelo padre Luís Cardoso, lemos: “Esta freguesia fica situada entre dois montes de serras, uma é o Marão da parte do nascente, e da parte do norte a serra da Lousa, há mais serra que vales mas não se descobrem povoações nenhumas. Esta freguesia é comarca de Vila Real Arcebispado de Braga, Termo e concelho da vila de Ermelo da provedoria da vila de Guimarães. É donatário desta igreja o ilustríssimo e excelentíssimo Marquês de Marialva... Há nesta vila e freguesia Juiz ordinário dois vereadores um procurador, nomeados em pauta e confirmados pelo donatário, estes fazem câmara, tem escrivão do judicial (...) e orfãos. Tem escrivão da câmara e fazem quatro vereações no ano, correição e fazem audiência às segundas feiras...” (CARDOSO, 1758: Vol 13, Maço 30, folha 241).
  • 12. 12 Em 1840 a freguesia da Campeã, com Vila Cova e Quintã passam a pertencer ao concelho de Ermelo. Em 1843 tentou-se acabar também com este concelho mas, por força da vontade popular que enviou à Rainha um extenso documento com noventa assinaturas onde se fazia uma longa exposição para que o concelho se mantivesse, este manter-se-á mais alguns anos. A 31 de Dezembro de 1853 o concelho não resiste à investida da Regeneração e é extinto, por reforma administrativa e anexado ao de Mondim de Basto. Em 1/08/1867 a Junta de Paróquia reúne-se extraordinariamente sob a presidência de Francisco Assunção Monteiro e com a presença dos vereadores José Maria Pinheiro e Manuel José Alves Machado e do regedor da freguesia, Manuel da Costa Peixoto, cumprindo o que determinava a lei de 26 de Julho e instruções de 11 de Julho do mesmo ano, para dar o parecer sobre a nova divisão do território relativo à formação da paróquia civil, o presidente disse que “reunindo Ermelo, outrora cabeça de concelho, todos os requisitos que a lei exige, deve constituir-se em sede de paróquia civil anexando-se-lhe as freguesias de Campanhó, Pardelhas, Bilhó e Lamas de Olo, as quais com esta de Ermelo formaram por mais de três séculos o concelho deste nome, e cujo número de fogos se eleva actualmente a 719, que apresentava a sua proposta à discussão da Junta e Regedor para que, tendo em vista a comodidade dos povos, deliberassem e dessem a sua consulta sobre este objecto. Em seguida, a junta e regedor, depois de maduras reflexões, tendo em consideração as relações tradicionais desta freguesia de Ermelo, atendendo a que foi cabeça de concelho de 1514 até 1853, e que tem desde remota época uma cadeira de instrução primária, que há nela uma feira mensal, a que concorrem com seus gados todas as freguesias indicadas, que é a mais populosa pois consta de 305 fogos, e fica no centro de todas, e que apesar de ser unida em 1853 a Mondim de Basto, se conservou nela sempre um distrito de Juiz de Paz; atendendo a que a freguesia de Campanhó contém somente 76 fogos, fica distante de Ermelo 6 quilómetros e não pode fazer parte da paróquia de Mondim de Basto, em razão da longitude e dificultosa passagem do rio Olo; atendendo a que a freguesia de Pardelhas dista de Ermelo somente 3 quilómetros, e contém apenas 55 fogos; atendendo a que a freguesia do Bilhó consta de 230 fogos, fica distante de Ermelo 5 quilómetros não podendo formar de per si paróquia civil, nem ser anexada a Mondim ou Atei pela grande distância, dez ou onze quilómetros, e por causa dos
  • 13. 13 péssimos caminhos, e grandes ribeiros; atendendo a que a freguesia de Lamas de Olo, apesar de ficar distante de Ermelo 9 quilómetros não pode formar paróquia civil, por conter somente 53 fogos, e não pode pertencer senão a Ermelo por ficar distante das outras paróquias do concelho mais de 12 quilómetros; atendendo principalmente à facilidade de comunicações entre todas estas freguesias; à identidade dos seus hábitos e costumes pois se tem regulado sempre pelo mesmo livro de posturas, e enquanto formavam o antigo concelho, viveram sempre em boa harmonia. Por todas as ponderosas razões alegadas a divisão a apontar é circunscrita como se acha pela própria natureza do solo e assim deve ser aproveitada..... pelo governo de sua majestade para constituir em paróquia civil as freguesias mencionadas, designando Ermelo para sua sede. E concluída assim a presente sessão ordenou o presidente que se extraísse cópia dela assinada por todos os membros e regedor e fosse enviada à administração deste concelho para seguir o devido destino” (A.J.F.E.). Apesar destes argumentos não serão concretizadas estas justas aspirações. Mais tarde, de 26 de Junho de 1896 a 13 de Janeiro de 1898 pertencerá ao concelho de Celorico de Basto. Nesta data volta de novo, e agora definitivamente, ao Concelho de Mondim de Basto, com uma área aproximada de 4.108 ha, tendo como limites as freguesias de Mondim de Basto, Vilar de Ferreiros, Bilhó, Pardelhas, Paradança, Campanhó e Vila Real e como povoados os lugares de Assureira, Barreiro, Covas, Ermelo, Fervença, Paço, Ponte de Olo e Varzigueto. A integração de Ermelo no concelho de Mondim de Basto fará com que caia numa espécie de adormecimento, tanto por culpa do poder central como concelhio, perdendo muito da sua dinâmica. Aliás isto é confirmado por uma notícia publicada a 12/05/1909 no jornal “O PROGRESSO DE MONDIM ” onde se lê: “a freguesia de Ermelo começa a despertar do sono indiferente em que tem vivido e a interessar-se pelos seus melhoramentos. Ouvimos que se a diligência conseguir o serviço de correio para Vila Real pelo caminho mais curto, que é de Mondim por Ermelo e Campeã, com o que muito lucrará esta terra e até todo o concelho, pois pode receber em dia a correspondência permutada com a sua capital de distrito, ao passo que por Vila Pouca a demora é de três dias, com prejuízo tanto para o comércio como para os serviços inerentes”.
  • 14. 14 3 – A População. 3.1 – A Evolução Demográfica: (dos fins do século XVIII à actualidade). A análise da componente demográfica de uma área específica é fundamental para o seu conhecimento qualitativo e quantitativo, assim como para avaliar com rectidão o potencial de desenvolvimento dessa área, de modo a que os vários agentes actuantes e todas as instituições obtenham um suporte para as suas diversas formas de intervenção, definição de necessidades e implementação dos programas de acção. A evolução da população no concelho está efectivamente associada a marcos da história nacional, que directa ou indirectamente tiveram reflexo nos mais ínfimos espaços da nação. Consequentemente estes marcos produziram alterações profundas na sociedade em geral e em particular na distribuição e estrutura da população. O estudo apresentado apenas evidencia uma vertente simplista da análise demográfica, uma vez que, apenas pretende retractar o sentido evolutivo da população do concelho (quadro nº 1). Na realização deste estudo ficaram patentes, devendo-se realçar certas incongruências e imperfeições nos dados observados, revelando-se muitas vezes a recolha de dados impossível para medir todas as ocorrências da evolução da população que este estudo exigia.
  • 15. 15 QUADRO Nº 1: A Evolução da População de Mondim de Basto (1796 / 1991) ANO CONC.º FOGOS POPULA. FONTE 1796 Mondim Atei Ermelo Atei Ermelo 724 320 483 2303 1106 1441 Da Visitação de Ribeiro de Castro 1798 Mondim Atei Ermelo 724 320 483 (*) 2303 1106 1441 Censo de Pina Manique 1801 Mondim Atei Ermelo 662 309 2471 2466 1171 1959 Tábuas Topográficas e Estatísticas de 1801 1864 Mondim 7059 Censo nº 1 de Janeiro de 1864. Lisboa, 1868. 1875 Mondim 1843 Anuário Estatístico do Reino de Portugal 1878 Mondim 1811 7016 Censo de João da Costa, Lisboa, I.N.E.,1881 1890 Mondim 7109 Censo da População de Portugal, 1.12.1890, Vol I,pag.230/1 , Vol II, pag. 281 e Vol III, pag. 182 e 248. 1900 Mondim 7641 INE 1911 “ 7923 ” 1920 “ 8398 “ 1930 “ 9508 “ 1940 “ 9508 “ 1950 “ 10539 “ 1960 “ 10328 “ 1970 “ 9640 “ 1981 “ 9904 “ 1991 “ 9518 “ 2001 “ 9540 “ 2011 “ 7496 “
  • 16. 16 GRÁFICO Nº 1. A Evolução da População. 0 2000 4000 6000 8000 10000 12000 1801 1864 1878 1890 1900 1911 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1981 1991 2001 2011 A evolução da população do concelho evidencia uma forte irregularidade, cujas causas resultam dos reflexos da conjugação de dois importantes fenómenos demográficos, crescimento natural e crescimento migratório. Estes últimos assentam nas transformações socioeconómicas e políticas que ocorreram no território e em particular no concelho. Atendendo ao ano a que o início deste estudo se reporta 1796, finais do século XVIII, o concelho1 regista uma população absoluta de 4850 habitantes, por comparação com a contagem seguinte que dista no tempo cinco anos (1801), o mesmo concelho regista um relativo aumento da sua população absoluta, ou seja, um crescimento efectivo na ordem dos 15,38%, totalizando um valor absoluto de 5596 habitantes. A evolução de 1796 para 1801 (um espaço muito curto) revela-nos importantes alterações de quantitativos, sobretudo no concelho de Ermelo onde se assiste a um aumento de 400% do número de fogos (de 438 para 2471) e do número de habitantes em 50% (de 1441 para 2059), o que é manifestamente impossível. A evolução do número médio de pessoas por fogo - de um valor normal para um valor anómalo -, leva- nos à conclusão de que houve erro no cômputo de 1801. Aliás, se atendermos ao censo de Pina Manique de 1798 verificamos que o número de fogos atribuídos a Ermelo é de 480 - menos três do que o censo de Columbano - e que se entendermos que o índice três é aceitável teremos uma população de 1440 indivíduos, o que é praticamente igual ao número de Columbano e reforça portanto a ideia de que o censo de 1801 está 1 Junção da população de Mondim, Ermelo e Atei.
  • 17. 17 efectivamente muito exagerado. Naturalmente temos que ter sempre presente que estamos a falar de possíveis hipóteses dado que não nos podemos esquecer da forma como os censos anteriores a 1864 foram feitos, baseados num sistema de recolha de dados muito imperfeitos de que resultaram números que nos devem merecer muitas cautelas quando os utilizamos, como nos diz Amado Mendes “não exijamos mais das fontes demográficas do século XVIII do que elas nos podem dar - uma indicação aproximada da realidade com a qual se relacionam”. Ao longo de todo o século XIX a população de Mondim (incluímos os três concelhos) aumenta muito insignificativamente. Várias são as hipóteses explicativas, entre as quais sobressairão a forte saída para o estrangeiro - principalmente o Brasil - num movimento bastante regular a partir dos meados do século XIX e que se prolongará pelo século seguinte, o que fará da região de Basto uma das regiões onde o fenómeno da emigração será mais fortemente acentuado. Outra das hipóteses a considerar tem a ver com as condições económicas. O concelho era bastante diminuído de rendimentos - à excepção de um número muito reduzido de famílias -, e a fracas condições económicas corresponderiam fracas condições de sobrevivência que se reflectiam num número diminuto de casamentos e da natalidade e num número elevado de mortalidade. De 1801 a 1864, a população absoluta passou de 5596 para 7059, registando um acréscimo do efectivo populacional da ordem dos 26,14%, para um período de 63 anos, o que reflecte um ritmo de crescimento populacional lento comparado com o anterior. São conhecidas desta época as tendências migratórias para o Brasil. A contagem da população a partir de 1864 passa a ter um carácter oficial, já que é efectuado por organismos nacionais, os quais procuram abranger a totalidade do reino. De 1864, data do primeiro censo oficial, até 1950, o concelho evidenciou um relativo aumento da população absoluta, registando nesta última década o seu valor máximo jamais atingido, ou seja, um total de 10539 habitantes. Para testar as incompatibilidades na contagem da população, o “Censo de João da Costa de 1878“ regista para o mesmo ano uma população absoluta da ordem dos 7016 habitantes, valor inferior ao do ano de 1864 contrariando assim a tendência geral já exposta. Neste período a taxa de crescimento efectivo variou entre os -0,6% de 1864 a 1878; 1,32% de 1878 a 1890; 7,48% de 1890 a 1900. A primeira metade do século XX, corresponde a um período de forte crescimento populacional no concelho, registando taxas de crescimento efectivo que
  • 18. 18 variam entre os 3,69% de 1900 a 1911 e os 13,2% registados no período que vai de 1920 a 1930. Contudo este ritmo de crescimento não foi gradual, pois na década seguinte registou praticamente um crescimento nulo, mais concretamente, a população absoluta de 1940 correspondia aproximadamente à da década anterior. Dobrada a primeira metade do século XX, a tendência geral da evolução da população do concelho passa por uma crescente diminuição dos efectivos populacionais. Assim sendo, de uma população absoluta de 10539 em 1950 passamos para 10328, em 1960. Nestas décadas são particularmente visíveis as consequências dos movimentos migratórios, tendo-se pautado a estrutura demográfica do concelho pela maior ou menor incidência do fenómeno dentro do mesmo. De 1960 a 1970 a população absoluta passou de 10328 para 9640 habitantes, de 1970 a 1981, inverte-se a tendência oficializada na década de 50, neste período o concelho evidenciou um relativo aumento da sua população absoluta, passando de 9640 para 9904 habitantes. Contudo na década seguinte 1991, registou-se novamente uma diminuição da população absoluta, centrando-se nos 9518 habitantes. Em termos de crescimento efectivo a segunda metade do século trouxe para o concelho taxas negativas, variando entre os -6,66%, registados no período que vai de 1960 a 1970 e os 2,7% registados na década seguinte. É de salientar pela negativa que de 1981 a 1991 o concelho evidenciou nova quebra da taxa de crescimento efectivo, registando o valor de -3,89%. Rematando esta análise pode-se concluir que a evolução da população do concelho de Mondim de Basto conheceu dois momentos distintos, atendendo ao período em análise. O primeiro período engloba o ano de 1796 até 1950, em que a tendência geral da evolução da população é positiva. Registando uma taxa de variação da ordem dos 117,2% (curiosidade - foram necessários 154 anos para a população duplicar). O segundo período, que vai de 1950 a 1991, regista uma evolução negativa da população, evidenciando uma taxa de variação que se cifra nos -17,9% da população.
  • 19. 19 3.2 - A População Activa. O concelho de Mondim de Basto possui uma vasta área de montanha, o que vai moldar em parte as actividades que nele se desenvolvem. Destas destaca-se como actividade predominante a agrícola, aproveitando por um lado a capacidade do uso dos solos e por outro os recursos hídricos disponíveis. A tipologia geográfica faz com que “os homens sejam corpulentos, robustos e muito aptos para o serviço militar por causa da aspereza da situação, valentes e cobiçosos de honra. As mulheres são igualmente fortes e ajudam seus maridos na cultura das terras”, como nos diz Ribeiro de Castro. Quadro nº 2. Distribuição da População por Profissões PROFISSÕES MONDIM % ATEI % ERMELO % TOTAL % Eclesiásticos 33 2,3 8 2,3 12 2,5 53 4 P. Literárias 7 1,1 4 1,1 1 0,2 12 1 Sem ocupação 66 10,8 22 6,3 71 14,8 159 11 Cirurgiões 1 0,2 1 0,3 2 0,4 4 0 Boticários 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0 Barbeiros 4 0,6 2 0,6 9 1,9 15 1 Lavradores 196 32,1 87 24,8 268 55,8 551 38 Jornaleiros 104 17 111 31,6 19 4 234 16 Alfaiates 28 4,6 14 4 18 3,8 60 4 Sapateiros 5 0,8 3 0,8 2 0,4 10 1 Carpinteiros 9 1,5 8 2,3 24 5 41 3 Negociantes 0 0 6 1,7 0 0 6 0 F. courama 50 8,2 0 0 0 0 50 3 Pedreiros 2 0,3 3 0,9 6 1,2 11 1 Ferreiros 3 0,5 1 0,3 3 0,6 7 0 Ferradores 1 0,2 1 0,3 0 0 2 0 Almocreves 2 0,3 4 1,1 2 0,4 8 1 Criados 47 7,7 37 10,5 25 5,2 109 8 Criadas 52 8,5 38 10,8 18 3,8 108 7 Total 611 100 351 100 480 100 1442 100 Fonte: (MENDES, ob. cit: quadro nº XIII)2 . Este quadro permite-nos verificar como é que a população se distribuía pelas diferentes actividades económicas nos fins do século XVIII. Assim: 2 O cálculo das percentagens foi feito por nós.
  • 20. 20 Para a província de Vila Real são referidos cinquenta e seis grupos ocupacionais. Para Mondim (somando os três concelhos) são referidos apenas dezanove, o que revela a pouca especialização das profissões. Os dados apresentados permitem-nos verificar o peso que cada actividade económica apresenta para o conjunto da população activa dos locais em análise. De um total de 4850 habitantes, cerca de 1/3 dessa população, mais concretamente 1442 indivíduos exerce uma actividade económica. Este é um valor comum ao resto da província. “...Isto permite-nos sugerir que a classificação levada a efeito terá sido, essencialmente, dos cabeças dos agregados familiares...“ como Joel Serrão constatou. No entanto do total da população activa, saliente-se o facto de cerca de 11% desta população corresponder aos indivíduos sem ocupação. Mondim é sem dúvida o lugar com uma população activa mais elevada, 42,4% logo seguido pelo lugar de Ermelo, 33,3% e pelo lugar de Atei com cerca de 24,3%. De um modo geral não existem grandes contrastes ao nível da distribuição dos activos segundo a sua profissão relativamente aos três lugares. Só pontualmente no caso dos eclesiásticos que apresentam um maior número em Mondim; os carpinteiros estão bastante representados em Ermelo; “negociantes” é uma actividade apenas presente em Atei; assim como os fabricantes de courama apenas figuram em Mondim. Como os dados evidenciam é de salientar a supremacia das actividades ligadas à agricultura (lavradores e jornaleiros) que compreende 54% do total da população activa. Para alem desta actividade, a classe dos criados e das criadas evidenciam também uma forte ocupação, cerca de 15% da população activa. Sem dúvida que o sector primário, alicerçado pela grande percentagem de população activa na agricultura, respectivamente 38% de lavradores e 16% de jornaleiros, aparece como o principal sector económico. Comparando o total de lavradores dos três lugares, Mondim 32;1%; Atei 24,8% e Ermelo 55,8% com o total de jornaleiros, Mondim 17%; Atei 31,6% e Ermelo 4% verificamos que a propriedade se encontra pouco dividida em Mondim e Atei e muito dividida em Ermelo o que explicará a existência de tão diminuto número de jornaleiros neste concelho, onde serão os próprios donos das terras quem as trabalha. Curiosamente não aparece o conceito de proprietários. Outra actividade económica que subsiste com elevados efectivos activos diz respeito à categoria dos criados e criadas, que no total representa 15% da população activa total.
  • 21. 21 Se associarmos as anteriores classes podemos concluir que os regimes de poder pessoal (Feudo) controlam fortemente e preservam a autoridade e o poder de grandes proprietários da terra. Atendendo a esta estrutura funcional predominante, e dado o peso pouco significativo das outras actividades económicas, como sapateiros com 1%, carpinteiros, 3%, ferreiros e ferradores com valores inferiores a 1%, é provável que exercessem a sua actividade profissional em parceria com a agricultura. A actividade comercial apresenta uma parcela relativamente pequena do total da população activa. Mais concretamente 1% de almocreves e menos de 1% para o grupo dos negociantes. Por um lado a existência de um sistema de economia fechado, da qual não se exclui um sistema de produção virado para o auto-consumo, pode estar na base da fraca importância deste sector e por outro, dado o facto de por aqui não passar qualquer via importante funcionava como factor desencorajador. Não entendemos, no entanto, como é que sendo Mondim o concelho mais importante dos três, ali não se faça referência à existência de qualquer negociante. De qualquer modo podemos ver aqui uma fraca presença do grupo social da Burguesia. Os eclesiásticos representam uma actividade com relativa expressão, concretamente 4% da população activa o que revela o forte peso que a Igreja possui enquanto instituição “eclesiástica” e “nobiliárquica”. Não se trata de um valor conjuntural pois que, ao longo de todo o século XIX, o número será sempre elevado. É insignificante o número de pessoas literárias referidas. Já o padre Luís Cardoso havia afirmado que aqui encontrou referência a apenas duas pessoas “insignes nas artes liberais” (CARDOSO, 1758: ob. cit., vol 24, maço 176, folha 1159).Trata-se de Frei Manuel de Jesus Maria Joseph, Geral dos Carmelitas Descalços e do doutor Desembargador da Relação do Porto Manuel de Carvalho Pais. A situação pouco evoluirá ao longo do século XVIII3 . Se fizermos o agrupamento por sectores de actividade - excluindo os sem ocupação e os clérigos que representam 15% do total - ficamos com 17 grupos assim distribuídos: Sector Primário : lavradores e jornaleiros; Sector Secundário: fabricantes de courama, carpinteiros, sapateiros, pedreiros e ferreiros; Sector Terciário: negociantes, 3 Devemos salientar a figura de José Bernardo Borges de Azevedo Mourão, nascido a 7 de Abril de 1767, na Rua Velha, na casa dos Azevedos Mourões. Doutorou-se em Teologia na Universidade de Coimbra aos 27 anos de idade em 20.06.1794. Entre outros aspectos da sua vida, interessa-nos o facto de a partir de 1806 passar a Mestre de Latim no convento de Palmela. Será, a partir de 1821, cónego da Sé de Lisboa, cidade onde granjeou grande fama. Escreveu várias obras, de cariz político, fundamentalmente, das quais salientamos “Resposta e Parecer sobre o Método de Convocar as Cortes”.
  • 22. 22 criados, criadas, alfaiates, almocreves, cirurgiões, boticários, pessoas literárias, ferradores e barbeiros obtemos o seguinte quadro: Quadro n.º 3. A Distribuição da População Activa por Sectores de Actividade para Fins do Século XVIII. Activos por Sector Número % Activos no Sector Primário 785 54 Activos no sector Secundário 119 8 Activos no Sector Terciário 638 38 TOTAL 1442 100 A ordem de importância dos vários sectores - primário, terciário e secundário - é sempre idêntica no conjunto da província, como Joel Serrão já havia constatado. Ao longo do século XIX, o concelho de Mondim de Basto continuará a revelar- se profundamente rural (quadro nº 4). Até 1853 são extintos os concelhos de Atei e Ermelo por razões de carácter administrativo. Quadro n.º 4. Profissões Identificadas para fins do Século XIX4 De todas as idades - 20 anos 20 a 39 anos 40 a 59 anos + de 60 anos Sem Ocupação Lucrativa Serviço doméstico PROFISSÕES TOTAL H M H M H M H M H M H M H M Trabalhos Agrícolas 4.624 2.224 2.400 612 566 863 1000 612 751 436 384 775 919 10 71 Extracção de minerais 2 1 1 Indústria 332 172 160 18 23 84 67 40 51 30 19 103 140 1 Transportes 9 7 2 1 3 1 1 2 Comércio 96 42 54 2 3 17 20 14 10 9 21 22 36 2 Força Publica 1 1 1 3 Administração Publica 12 12 6 5 1 7 7 Profissões Liberais 30 28 2 4 10 1 6 1 8 5 10 7 12 Vive dos Rendimentos 3 2 1 2 1 4 Não entendemos porque é que as pessoas consideradas “Sem Ocupação Lucrativa” e “Serviço Doméstico” aparecem situadas na coluna das idades, quando seria mais lógico aparecerem na das profissões. Será que esses indivíduos exerciam uma actividade que não cabia dentro das actividades tipo? Ou será que entram como uma terceira coluna?
  • 23. 23 Improdutivos. Profissão Desconhecida 116 34 82 11 14 4 11 5 19 14 38 Fonte: (INE, Censos de 1890: 182, 183). Do século XVIII para o século XIX, atendendo à comparação dos quadros 2 e 4 é difícil estabelecer uma relação directa entre as profissões expressas nos referidos quadros, no entanto estabelecendo a relação das profissões, podemos construir um novo quadro que nos dá o total de indivíduos por sector da actividade e a respectiva % para fins do século XIX. Quadro n.º 5. A Distribuição da População por Sectores de Actividade em Fins do Século XIX. Activos por sector Total % Primário 4624 90,6% Secundário 332 6,5% Terciário 151 2,9% TOTAL 5107 100 Partindo deste ponto, o sector primário é fortemente reforçado face à percentagem da população activa a trabalhar na agricultura, dado que um dos aspectos mais relevantes da importância da actividade agrícola se prende com elevados valores da sua população activa. A estrutura da propriedade não deve divergir muito do século anterior, sendo muito dividido e de pequena dimensão, resultado não só das irregularidades do relevo, mas também das iniciativas individuais de apropriação da terra (presúria). A actividade agrícola caracteriza-se pelo uso de técnicas tradicionais, suporte de trabalho de alguns artesãos, como por exemplo, ferreiros, ferradores, e a jusante da produção, por uma actividade comercial de base local da qual sobressai os fabricantes de courama e os negociantes. Relativamente ao sector secundário verifica-se um aumento do total absoluto da população activa, fruto do aumento demográfico. No entanto este sector face ao período anterior regista uma diminuição do seu peso relativo, passando de 8% no século XVIII para 6,5% no séc. XIX.
  • 24. 24 Sem especificar que tipo de indústria está relacionada com o Concelho (quadro n.º 4), podemos desde já avançar com as suas possíveis características. Predominam as indústrias (manufacturas) de ramos tradicionais que exploram alguma matéria prima local (curtumes, têxtil). O sector terciário, que regista um decréscimo acentuado da sua população activa, verifica o aparecimento da participação da Administração Pública e da Força pública na população activa deste sector. As actividades ligadas ao sector terciário incluem profissões instáveis de fraca relevância económica, que no século XVIII era exercida em parceria com actividades do sector primário. 4 – A Sociedade. “Na sociedade de antigo Regime, o mais aparente é a divisão em estados ou ordens - clero, nobreza e braço popular. É uma divisão jurídica, por um lado, é por outro uma divisão de valores e de comportamentos que estão estereotipados, fixados de uma vez para sempre, salvo raras excepções. Cada qual ocupa uma posição numa hierarquia rígida, segundo tem, ou não títulos, e tem, ou não direito a certas formas de tratamento” (GODINHO, 1977: 72). É visível ainda em 1796 a sociedade mondinense estruturada daquela forma. 4.1- O Clero. Em fins do século XVIII são 53 os membros registados por C. Ribeiro de Castro. Este número refere-se apenas aos sacerdotes, tendo sido excluídos os Párocos, normalmente um por cada freguesia, os Ordinandos e os Pretendentes, o que elevaria o número total. Dos sacerdotes temos 1 por cada 91,5 habitantes do concelho (incluímos Atei e Ermelo) e 5,9 sacerdotes de média por freguesia. No conjunto da província de Trás-os- Montes havia em 1796, segundo Ribeiro de Castro, 3,6 padres por freguesia e 1 padre por 97,5 habitantes (SOUSA, 1976: 16). Estes valores reforçam o peso do clero em Mondim dada a média ser superior ao resto da província. O clero tinha algumas propriedades e um rendimento de décimas de 136:340 réis em Atei, 173: 380 réis em Ermelo e de 289:500 réis em Mondim (MENDES, ob. cit: 488 e 501). Como é sabido o décimo ou dízimo era 1/10 da produção nacional, cuja instituição remonta ao século XII. A pressão social e económica do clero não resulta
  • 25. 25 propriamente do número dos que o constituem, mas sim dos laços que a si prendem toda a população sobre a qual exercem uma forte pedagogia, interferindo necessariamente nos seus destinos (GODINHO, ob. cit: 87). Relativamente à proveniência social do Clero Secular verificamos que em Mondim de Basto o recrutamento era feito em todos os grupos sociais com um peso maior para os oriundos do povo. Isto compreendesse dado estarmos perante uma sociedade tipicamente rural pelo que ao longo dos séculos XVIII e XIX há da parte dos pequenos e médios proprietários, mais do que um fugir à miséria “uma propensão para ordenar seus filhos com o fim de honrarem as famílias” (SOUSA, 1976: 17), e da parte dos outros grupos sociais uma necessidade de promoção social, onde todos procuram ter em casa pelo menos um padre, de preferência o filho mais velho. E se até na hora de fazer o testamento as primeiras palavras são sempre de profundo respeito para com a igreja, reflectindo-se no desejo de, na hora da mesma se ter o maior número de missas possível e rezadas pelo maior número de padres, também é possível ver aí uma forma de promoção e prestígio social reforçados ainda nos muitos legados que são feitos à Igreja, normalmente em terras ou em dinheiro, para pagamento de ofícios, ofertas ao altar ou para obras de assistência. Quanto ao local de origem dos membros do clero registados quase todos são originários da terra onde exercem as suas funções pastorais. A título de exemplo vejamos o caso de Atei na visitação de 1795: são oito os padres, para além do pároco, dos ordinandos e dos pretendentes. Apenas dois são de fora do concelho. Um é de Mondim e o outro da freguesia de S. Martinho de Mateus, Vila Real. Quanto à sua formação, apenas o pároco, António José de Neiva Machado tinha boa instrução pois era formado em Cânones. Dos oito sacerdotes todos tinham uma instrução sofrível ou menos que mediana. A escrita era sofrível ou mesmo medíocre. Só dois são referidos como pobres. Os outros tinham património legítimo ou suficiente. Tendo em consideração os dados fornecidos pela visitação de 1825 (anexo n.º 4), verificamos que os religiosos regressados a Mondim após o fim das Ordens Religiosas em 1834, por decreto de 28 de Maio assinado por Joaquim António de Aguiar, haviam pertencido às ordens de S. João Evangelista, S. Francisco, Arrábidos e Beneditinos. De entre eles merece destaque o Beneditino Revº Frei António de S. Bernardo Queirós, que foi Dom Abade no mosteiro de Arnóia. Homem extremamente
  • 26. 26 culto teve a honra de ser sepultado na igreja matriz quando tal prática já se havia abandonado pois os enterros já eram feitos no cemitério público. Continuando ainda a analisar os dados verificamos que nessa data, para além dos párocos e dos ordinandos, encontramos 2 padres no Bilhó, 11 em Mondim, 4 em Ermelo, 1 em Vilar de Ferreiros, 2 em Paradança, 0 em Campanhó e 0 em Pardelhas, num total de 20. Atei não entrava pois fora incluída na 1ª parte da visitação. Destes, apenas o pároco de Vilar de Ferreiros era graduado em Cânones pela Universidade de Coimbra. Todos os outros, pela avaliação feita pelo visitador, eram trapalhões ou desmazelados; tinham fracas qualidades de espírito ou desleixados. Quanto a conhecimentos ficavam-se por poucos, sofríveis ou medianos. Esta escala merece da nossa parte algumas reservas dado não concordarmos com o citado visitador. De facto, se o pároco do Bilhó ensina aos minoristas leitura, escrita e gramática, ao ponto do minorista Luís da Cunha vir a ser futuro professor e director da escola; se o mesmo se passa com o minorista Inácio da Costa de Vilar de Ferreiros que estuda gramática com o seu pároco; com quatro minoristas de Mondim que também recebem lições de gramática ensinada pelo respectivo pároco, então os párocos dispunham dos conhecimentos essenciais e, o que se revela importante, transmitiam-nos àqueles que eventualmente os viriam a substituir. Como nota curiosa registe-se o facto do pároco de Ermelo ser dado a leituras “romanescas e fortes” . Que tipo de leituras não sabemos mas ficamos a saber que o facto do citado pároco praticar leituras diversas pode indiciar um espírito aberto, culto e crítico. A conduta moral era, de um modo geral, boa. Apesar do fim das ordens religiosas, o padre não vê beliscada a influência moral, religiosa ou política de que dispunha. Continua a fazer o registo de baptismos, casamentos e óbitos. Alguns são ainda professores e outros exercem cargos políticos. Impõe, afinal, o ritmo de vida da paróquia. No último quartel do século XIX o número ainda é elevado. A título de exemplo encontramos dois padres na casa do Retiro e dois na casa do Outeiro. “Mondim era um alfobre de vocações religiosas, haja em vista que tinha 15 capelas além da Srª da Graça, e numerosos altares nas melhores casas particulares” (CASTRO, 1968: 65).
  • 27. 27 Sendo o clero tão numeroso não nos admira que muitos desses membros tenham tido uma vida política e romântica também muito agitada5 . De facto são numerosos os padres que têm filhos e que os assumem na maioria das vezes6 , como numerosos são os que têm ou tiveram relações sexuais com mulheres à data das várias visitações. Por sua vez foi das mãos de um padre que partiu a feitura do primeiro jornal de Mondim chamado o Progresso de Mondim onde a apologia ao regime monárquico era por demais evidente. É claro que o regime surgido com a 1ª república fará acabar com o citado jornal e o seu autor e mentor, padre António Guilherme de Queirós Saavedra irá partir em 1910 para o exílio no Brasil donde só regressará 15 anos mais tarde. Também os cargos de presidente das Juntas de Paróquia e de Presidente da Câmara serão ocupados por padres, o que se por um lado demonstra bem do poder dos mesmos, por outro lado também quererá dizer que se eles ocupavam esses cargos é porque seriam dos poucos que saberiam ler e escrever, condição sem dúvida essencial para se ocupar aqueles cargos. A entrada no século XX irá modificar as coisas. Efectivamente, se continuamos a ver muito jovem a ir estudar para os seminários, alguns abandonam os estudos à procura de um emprego público e por outro lado outros jovens encontram nos liceus a possibilidade de prosseguimento dos estudos que até então quase só encontravam no seminário. Isso fará com que o anteriormente numeroso grupo de padres se vá tornando cada vez menor, mas ainda com alguma importância, como atesta o facto de às portas da implantação da República termos a completar a sua formação religiosa António Guilherme de Queirós Saavedra, Adão de Moura, Manuel Inácio de Moura Guerra, António Gomes Ribeiro e José Bento Martins de Carvalho Ramos, segundo os dados retirados do citado jornal. 5 O duvidoso comportamento moral de alguns padres conduzia-os a situações delicadas e pouco favoráveis à credibilidade que era suposto terem. Por isso, frei Caetano Brandão escrevia : “depois do estudo e da oração, segue-se a obrigação de instruir as almas nos preceitos da vida eterna (...) que as obrigações do homem eclesiástico não se devem restringir unicamente à reza do breviário; mas (...) sobre esta tem outra mais própria e inalienável por ser de instituição divina, que é de se pôr hábil para desempenhar a qualidade de mestre público da Religião” (SOUSA, 1976: 440, citado por MAGALHÃES, 1989: 122). 6 A 4. 5. 1893 o padre Tomás Peixoto, de Ermelo escreve no seu testamento: “declaro que por fragilidades humanas, tenho com uma mulher livre quatro filhos, de nomes José Joaquim, Francisco, Patrocina e Maria Emília, todos nascidos e baptizados na freguesia de Ermelo. Todos os filhos acima mencionados, foram por mim criados em minha companhia e debaixo da minha protecção e assim se conservam actualmente, os quais são de menor idade e para descargo da minha consciência a todos perfilho e reconheço como meus filhos para todos os efeitos legais“. ACMM, In livro de testamentos nº 25, página 13.
  • 28. 28 4.2 - A Nobreza. É antiga a tradição nobre em Mondim de Basto. De facto desde o princípio da nacionalidade que encontramos na região de Basto famílias nobres muito importantes. No entanto não nos interessa fazer aqui o estudo dessas famílias, interessando- nos antes perceber a sua evolução a partir da segunda metade do século XVIII. Assim, em fins do século XVIII é donatário dos três concelhos o Marquês de Marialva que cobrava de foro “oitenta réis aos casados e quarenta aos viúvos o que importava em 127:000 réis”. Aqui se incluía também o foro cobrado ao concelho de Cerva. De rendimentos totais obtém 1.830:000 réis em Ermelo, 900:000 no lugar do Bilhó, 1. 940:000 réis em Mondim, 1.200:00 no lugar de Vilar de Ferreiros e em Atei 1.401:000 réis e ainda “há duas barcas no rio Tâmega , uma no porto do Arnado, donde se junta o rio Basto, outra chamada de Baixo, no porto de Rebufa, que ambas são foreiras ao mesmo donatário” (MENDES, ob. cit: 469). Incluímos ainda no grupo da Nobreza os licenciados, os Juízes de Fora, os Bacharéis, os Médicos e o professor de Gramática Latina que dava aula em Mondim. Não poderemos incluir os poucos comerciantes assinalados dado que não o seriam “de grosso trato” (Lobão in GODINHO ob. cit: 246 e ss). Embora o peso deste grupo social seja muito diminuto em termos de quantitativos não podemos deixar de referir alguns membros que tiveram alguma importância, tais como: - Dr. Manuel Francisco da Silva Veiga Magro e Moura, cavaleiro da Ordem de Cristo, Desembargador da Relação do Porto. Ano de 1758 (ANTT, Leitura de Bacharéis Mc 39 nº 7). Era filho de João Francisco Magro e Moura, natural de Pedravedra em Mondim de Basto. - Dr. Manuel António de Oliveira e Andrade, de Atei. Requereu a Carta de Armas a 16.6.1762, que lhe foi concedida. - Pedro António Teixeira de Carvalho, da casa de Viacova, Mondim. Bacharel. À data do inquérito do padre Luís Cardoso era o Sargento-mor dos quatro concelhos: Mondim, Atei, Cerva e Ermelo. - Teve um filho, o Dr. Manuel Vicente Teixeira de Carvalho, que foi desembargador do Paço e cavaleiro da Ordem de Cristo. Teve carta de Brasão de Armas a 30.10.1786. - Teve este, por sua vez, dois filhos: Eduardo Augusto Teixeira de Carvalho, Juiz de Órfãos em Barcelos, em 1831 e Pedro António Teixeira de Carvalho, Desembargador da Relação de Goa, na Índia.
  • 29. 29 - João Manuel de Carvalho Pires, de Mondim, teve Carta de Armas em 1.7.1781. Com o advento do liberalismo a estrutura social foi fortemente abalada. “Os fidalgos de terras de Basto vão-se acabando. Tenho pena e saudade. Aqui há trinta anos, com os brasões e apelidos das famílias heráldicas dentre Vizela e Tâmega recompunha-se a história lendária de Portugal. Quem soubesse ler a simbólica das arrogantes armas encimadas nos portões das quintas, podia leccionar um curso de história pátria com tanta filosofia como frei Bernardo de Brito e o sr. João Félix Pereira, o das várias faculdades. Em redor daqueles paços senhoriais pesava um silêncio triste e torvo. Era o luto de Portugal de D. João II e de D. Manuel. Afinal, o temperamento sanguíneo dos cavalheiros de Basto borbulhou em comichões de novas ideias, todos eles se coçaram mais ou menos com a carta constitucional. A liberdade vencera; mas as proeminências congénitas daquela plêiade de Bayards, quase todos capitães-mores, desvaneceram-se nas brumas da epopeia, que nunca mais terá pessoa em que pegue naquela região onde já não há tradição da velha tirania dos patíbulos, excepto o vinho que ainda é de enforcado” (BRANCO, 1903: II: 9 e ss). 4.3 - O Terceiro Estado. Naturalmente o grupo social mais numeroso, divide os seus modos de vida por: proprietário, arrendatário, ser amo ou ter ofício de mester. Preocupa-o a sobrevivência no dia-a-dia. Rouba à natureza os solos para cultivo e dos melhores frutos guarda as melhores sementes que lançará à terra na sementeira seguinte, numa escolha criteriosa que, por tradição, fará passar de geração em geração. O povo mondinense revela-se, ao mesmo tempo, lavrador e artesão. Encontramo-lo, quando as condições atmosféricas não o deixam ir para o campo, na sua oficina improvisada a (re) construir as suas pipas, sacholas, tamancos, carros de bois. À mulher competirá cozer a broa, fazer os “enchidos”, o queijo e trabalhar o linho. Nestas tarefas detectam-se vários “saberes” desde a arte de entrançar o junco, donde resultavam as croças, os coruchos e perneiras; o fazer de cestos com rebentos de castanheiros; chapéus com palha de centeio; capuchas em lã escura; tricotar meiotes de lã; tecer farrapos; trabalhar o ferro; trabalhar a madeira para as alfaias agrícolas; cozer o pão; construção do forno, moinho e canastro; a armação em madeira e o telhado de
  • 30. 30 colmo de uma casa tradicional; trabalhar o granito, etc., tudo isto com recurso a técnicas rudimentares que traduzem simultaneamente uma influência e uma adaptação ao meio. Sendo lavrador e dispondo de cabeças de gado, o mondinense adapta a sua construção habitacional a essas circunstâncias. Assim as construções de apoio à agricultura fazem normalmente parte do mesmo bloco habitacional e deste é reservado o piso térreo para funcionar como “corte” (permanência do gado) ou como palheiro e também como simples armazém de alfaias agrícolas. No lugar do Barreiro disseram-nos que a permanência do gado no piso térreo servia também para, com o seu arfar, aquecer a habitação no Inverno. Há ainda os casos de habitações que já não são utilizadas como tal sendo-o antes para, no piso inferior funcionar de corte e o superior de palheiro. 5 – O TECIDO ECONÓMICO 5. 1 - A Agricultura A actividade agrícola surge com uma importância significativa mais em termos sociais que em termos económicos, principalmente porque ocupa praticamente todos os braços úteis. Apesar da pobreza dos solos a população mondinense ao longo dos séculos trabalhou os solos e aperfeiçoou técnicas que levaram à extensão das áreas cultivadas. Mondim sempre foi obrigada a sobreviver à custa da agricultura. Nas zonas baixas, os terrenos aluviais têm boa capacidade agrícola. A zona de montanha é constituída por terrenos pobres. O tipo de sua superfície acidentada é de muita elevação, a sua posição geográfica, que lhe deixa abertos o Sudoeste ás ventanias, que trazem as chuvas do mar, e o Noroeste aos gelos de Sanábria , obstam à sua fertilidade, e produzem as geadas, que são o principal inimigo das culturas destes terrenos. O clima também é pouco favorável. Os invernos são longos e os verões secos e curtos. Todas estas condicionantes contribuíram para que a produção agrícola nunca tivesse atingido níveis muito notáveis. Daí o recurso à pastorícia7 , - actividade complementar - a qual não teve qualquer dificuldade de adaptação, principalmente nos terrenos acima dos 450 metros de altitude. 7 Havendo alguma contradição entre as informações prestadas nas Memórias Paroquiais e os conhecimentos que temos e que nos chegam por Via Oral, percorremos as freguesias de montanha inquirindo os actuais pastores sobre o tempo de prática da actividade. Todos referem que já a herdaram dos pais e avós num recuar de tempos que nos faz acreditar ser a actividade já ancestral e como tal incorrectas as informações prestadas pelo padre Luís Cardoso na obra referida.
  • 31. 31 Usando técnicas rudimentares, o recurso a prolongados pousios era prática comum. “O pousio, o compascuo, a rotina, a ignorância, o abandono em que as povoações destes terrenos têm vivido até aqui, são a causa da decadência da agricultura” queixava-se o Governador Civil (SOUSA, 1976: 64). A adubação dos solos era prática já ancestral: o gado pisava e fazia apodrecer nas “cortes” e nos caminhos por onde passava os matos rasteiros que eram cortados nos baldios, convertendo-os em estrume, que depois eram espalhados como fertilizantes pelos solos a cultivar. As pequenas áreas de exploração agrícola localizavam-se em redor dos povoados onde apresentam culturas praticadas em solos armados em estruturas de compartimentação - socalcos ou muros -, e de rega - moinhos, açudes, levadas – arduamente conquistados aos declives da topografia, com muito esforço e engenho, num espaço temporal que se perde no tempo. Atestam esse esforço e engenho as Levadas de água que com os seus muitos quilómetros de extensão potenciam o efeito de demonstração do funcionamento dos principais sistemas de produção do mundo rural do norte de Portugal, que fazem a admiração de qualquer técnico. Duas há a destacar em Ermelo: a Porca Ruça, que começava no rio Olo e a Chelas na ribeira de Sião. Este sistema permitia que a sua força motriz movimente cinco moinhos, dois lagares de azeite e na passagem regue campos agrícolas e uma em Atei que começava no rio Póvoa, e por efeito de gravidade regava os férteis campos do lugar. 5.2 - O Vinho. Verde, de enforcado, revelava-se importante, principalmente em Atei e em Mondim, e menos em Ermelo. Há referência, até, em meados do século XIX, a dois negociantes de vinhos de Atei estabelecidos na cidade do Porto que se encarregariam de vender naquela cidade o vinho desta região. Também abundavam os lagares e alambiques, reveladores da importância do vinho e seus derivados na economia destas populações. No entanto nem em todos os anos agrícolas o vinho produzido o era em excesso, ou muito raramente o era, dado que nem sempre chega sequer para consumo interno, havendo necessidade de o importar da Região Duriense, o qual era tabelado a preços muito superiores ao produzido aqui. A título de exemplo vejam-se os preços do ano de 1843 : vinho maduro: 480 réis o almude; vinho verde: 320 réis o almude.
  • 32. 32 5.3 – Cereais. O centeio era, na primeira metade do século XIX o cereal mais importante, ocupando extensas áreas de cultivo nas zonas planálticas do concelho. Anos haveria em que a boa produção permitia que algum fosse vendido sobretudo na região vinícola do Douro, onde escasseava, tal como nos refere o “Relatório acerca das Industrias no Distrito de Vila Real” (SOUSA, ob. cit.: 79). O centeio não fornece apenas o grão mas também a palha que servirá para a cobertura dos telhados, de uma maneira muito sui generis. Lentamente irá ser substituída pela Lousa, que dará ao casario um imponente aspecto, principalmente no norte do concelho. À medida que o século vai avançando, o milho - facilmente adaptável às férteis veigas de Atei e Mondim -, ganhou gradual importância, tornando-se num óptimo complemento alimentar. Contudo a sua produção nem sempre será em quantidade suficiente para satisfazer as necessidades destes povos, havendo necessidade de se recorrer à importação do mesmo. Realmente era vulgar a aquisição de milho, por parte da câmara, por manifesta falta deste no concelho. Ou porque se não cultivava em quantidades suficientes ou porque a filoxera atacava os milheirais, deixando-os num estado lastimável. A 23 de Junho de 1909, deliberou a câmara “adquirir sulfureto de carbono, a fim de combater a filoloxera e a bicha amarela que tanto prejuízo causava nas vinhas e nos milheirais”. Isto demonstra que, mesmo depois de entrados no século XX o problema se mantinha (ACMM, acta da sessão de 23 de Junho de 1909). Nesta mesma acta regista-se como nota curiosa o facto de o Administrador do Conselho adiantar do seu próprio bolso o dinheiro para nova importação de milho dado que a Câmara não dispunha de verbas. Aliás essa era uma prática corrente dado vir referida em muitas das actas que consultámos. 5.4 – Pecuária. É impossível imaginarmos o homem mondinense sem o vermos acompanhado pelos seus animais. Segundo as informações recolhidas pelo citado padre Luís Cardoso, a freguesia de Ermelo tinha “... todo o género de gado... muitas perdizes, algumas lebres, muitos porcos monteses e lobos e mais bicharia” (CARDOSO, ob. cit: Vol 13, Maço 30, folha 242).
  • 33. 33 O mesmo se passava em relação a Mondim e a Atei. O gado constitui desde muito cedo um elemento de relevo na economia mondinense. Fornecia a carne e o leite, que com o queijo e a manteiga constituía bons complementos alimentares. Naturalmente que facilmente se compreende por que o gado constituía um dos principais artigos de comércio: era uma mercadoria que se deslocava por si própria, factor relevante para a época e a região, devido às carências de vias de comunicação e de meios de transporte. Era também o produto mais transaccionado nas feiras locais. 5.5 – Fruticultura. Se durante muitos séculos a castanha, o centeio e o vinho foram a base da alimentação, à medida que o século XVIII avança alarga-se a área de exploração de novos produtos: azeite e milho. Em fins do Século XVIII, dizia Columbano R. de Castro que aqui se colhia toda a qualidade de frutos, os quais se exportavam para a província do Minho (MENDES, ob. cit: 504). A batata só quando já for adiantado o século XIX. Associados a estas culturas estão o surgimento dos lagares de azeite - no final do século XIX há vários em laboração -, os canastros ou espigueiros para armazenamento do milho e as eiras em pedra, onde o mesmo era desfolhado. Estas obras vão ficar localizadas junto das habitações. Os espigueiros mais antigos datam de 1835. No que diz respeito à exploração florestal, as populações mantêm alguns castanheiros para fornecimento de frutos e madeira. Aliás, a castanha teve grande expressão nas aldeias serranas. Era consumida na sopa ou como substituto do pão. Ainda hoje as pessoas mais idosas de Ermelo nos lembram que até a davam aos porcos, nos anos em que a “fartura” era maior. Limoeiros e laranjeiras também eram cultivados embora com pouca importância económica. Naturalmente que os aspectos económicos preocupavam os representantes municipais. Isso vê-se pela leitura das actas das respectivas reuniões. Todos os meses os preços dos produtos essenciais eram fixados e vigiado o seu cumprimento. O milhão, o centeio, o vinho e o azeite são os quatro produtos que figuram em todas as actas. Pontualmente aparece o preço da castanha, da cereja e do medronho, entre outros, o que revela os aspectos da sua sazonalidade. Se compararmos os preços daqueles produtos
  • 34. 34 em três anos escolhidos aleatoriamente num prazo de dez anos - mês de Março de 1843, mês de Julho de 1849 e mês de Abril de 1852, obtemos os seguintes valores: (13/03/ 1843): milhão: 640 réis; centeio: 500; azeite: 4800 o almude. Para (30/07/1849): milhão: 320 réis; centeio: 300; vinho: 240; azeite: 4300 e trigo: 600. (19/3/1852): milho:400 réis; centeio: 380; trigo: 540; vinho verde: 400; vinho maduro: 720 e azeite 50008 . As pessoas podiam sempre optar por comprar os líquidos em quartilhos, dado que figuram sempre os preços para esta medida. Será um sinal evidente do pouco poder de compra das populações? A primeira observação a fazer prende-se com o facto dos preços do milho terem baixado bastante. Naturalmente que isso se deve ao facto desse produto ter visto aumentada a área de cultivo, funcionando a lei da oferta e da procura. O centeio e o azeite oscilam de preços o que revela que os mesmos ora subiam ora desciam consoante a produção anual. Por sua vez o vinho maduro e o trigo mantêm preços elevados pois eram produtos importados, o que os encarecia. “O crescimento económico marca passo. A agricultura, a actividade económica quase exclusiva das populações do distrito, permanece uma agricultura de subsistência, rotineira e arcaica, desprovida de capitais e progressos técnicos de melhoramento de plantas, animais e de granjeio” (SOUSA, ob. cit: 50). 5.6 – Indústria. Era exercida ao nível doméstico e essencialmente artesanal - sempre como complemento à satisfação das necessidades básicas -, com exploração de matérias- primas locais. Desde tempos remotos que em Mondim se exploraram minas de chumbo, cobre, ferro, volfrâmio e estanho. Segundo o padre Luís Cardoso, “em Ermelo... dizem que no sítio do Linhar onde chamam Prado há sinais de estanho fino, mas disso se não saber” (SOUSA, ob. cit.: 68). Também Columbano refere a mesma mina de estanho fino dizendo que “embora agora já estivesse fechada já de lá se havia retirado grande quantidade de mineral” (MENDES, ob. cit.: 490). 8 AJFE: Das actas de vereação dos dias e meses referidos.
  • 35. 35 O mesmo autor refere para Mondim de Basto “uma fábrica de curtumes e couros que já esteve em maior abundância e ainda hoje tem quinze comerciantes. Entretêm-se nesta fabrica até cinquenta pessoas e giram neste negócio mais de 6.000:000 de réis. Pode-se adiantar muito mais, pois tem no mesmo concelho todos os preparos necessários para esta fábrica, do qual tiram grande interesse” (MENDES, ob. cit: 504). Para Atei não é referida qualquer indústria. O governo Setembrista, na década de 1830, através de decretos assinados por Passos Manuel, pedia para que fosse dada prioridade aos produtos nacionais. Para isso procedeu à realização de um inquérito onde pedia que lhe fosse indicado o número de fábricas (pouco mais que simples oficinas), a sua localização, a identificação dos proprietários e o número de trabalhadores utilizados. Para Ermelo são referenciadas 4 fábricas de aguardente e 6 de cal, - estas com 32 trabalhadores - (situadas na actual freguesia de Campanhó). Segundo as mesmas fontes, as fábricas de cal apenas trabalhavam no verão, preparando em cada época três fornadas. As de aguardente trabalhavam 20 a 120 dias, dependendo da quantidade de vinho ou de medronhos a destilar e utilizavam grandes quantidades de lenha como combustível, apanhada nos terrenos baldios, tornando-os muito empobrecidos e por isso alvo das críticas do governador Civil de Vila Real que em 1853 escrevia: “As fornalhas das máquinas de destilação consomem inumeráveis carros de combustível cada dia, e ainda felizmente que o sistema de Berorne veio substituir os antigos caldeirões de companhia, que consumiam para fazer cada vinte e um almudes de aguardente dez carros de lenha (SOUSA, ob. cit: 68). Entretanto a já citada mina de estanho estava em plena laboração mas fechará na década seguinte, dado que as receitas não cobriam as despesas. A tecelagem9 era também praticada, mas para abastecimento de casa. Trabalhava-se a lã e o linho, produtos que abundavam no local, em detrimento dos produtos vindos de fora. Elucidativo é o facto de em 2200 teares existentes no distrito em 1860, 513 estarem localizados em Mondim de Basto, ou seja cerca de 20% (SOUSA, ob. cit: 40). A indústria da cera também tinha alguma importância no concelho dado que a mesma era exportada principalmente para a cidade do Porto. 9 A tecelagem aparece-nos essencialmente como profissão feminina. As mulheres aprendiam a tecer logo que chegassem com os pés ás Premedeiras (são os pedais que permitem a mudança dos liços). Os materiais utilizados eram : Ripo, Espadela, Maço, Sedeiro, Roca, Fuso, Sarilho, Dobadoira, Caneleiro, Urdideira, Noveleiro, Tábua dos Liços, Restilho, Tear Normal, Tear de Franja e Lançadeira.
  • 36. 36 A situação económica do distrito de Vila Real em geral e a dos três concelhos em particular, ao longo do século XIX, revela-se dramática e inquietante o que leva a que, desassombradamente o Governador Civil - António Pinto de Lemos - em meados do século XIX, acuse o Estado de votar no esquecimento a província transmontana, a “jóia mais preciosa da coroa portuguesa, a qual, em paga do aumento que traz à riqueza nacional, se deixa consumir numa inanição incrível, como se a terra, de que faz parte, lhe fora madrasta” (SOUSA, ob. cit: 13). 5.7 – Comércio. “O comércio efectuado dentro da própria província desempenhava naturalmente uma importante função, visto tratar-se de uma economia que frequentemente tinha de bastar-se a si própria” ( MENDES, ob. cit: 13). As feiras revelavam-se importantes para o comércio local e até regional. São antigas as de Mondim e de Ermelo. Se qualquer um podia ser feirante sazonal já em relação ao número de negociantes referidos por Ribeiro de Castro para fins do século XVIII - apenas 6 - isso é demonstrativo do pouco desenvolvimento da actividade comercial como actividade independente e reforça a ideia de que a região vivia fundamentalmente dos recursos da terra e que o comércio era uma actividade muito complementar. Se os seis negociantes referidos são todos de Atei, isso terá a ver com o facto de aí passar uma via de comunicação que ligava Chaves a Braga. Para além daquela via de comunicação havia também no rio Tâmega duas barcas que faziam a ligação entre Trás-os-Montes e a província do Minho. Vimos também em várias actas que as tropas de Chaves quando por aqui passavam ficavam aquarteladas em Atei. Estas razões contribuiriam por si para o aparecimento da profissão de negociante. 6 – Rede Viária. Dum modo geral cada uma das sedes dos três concelhos fica implantada no centro do território geográfico que corresponde a cada qual. Os seus núcleos populacionais mais afastados distam no máximo uma hora a pé, formando assim uma rede bastante homogénea e bem distribuída. Essa distribuição está umbilicalmente
  • 37. 37 ligada à rede viária que atravessa os concelhos. São duas as vias principais, complementadas por um emaranhado de veredas e caminhos vicinais. O primeiro era a estrada que de Chaves partia para Vila Real. Daqui e pela estrada do Marão “a mais áspera da província e talvez do reino”, no dizer de Ribeiro de Castro, partia da zona da Campeã um ramal para Mondim de Basto, passando por Ermelo e fazia a ligação para o Minho (Braga), pelo vale do rio Olo. Tinha aqui duas importantes pontes: a medieval, denominada dos Presuntos, construída em pedra e situada num local chamado Várzea e a segunda, em madeira, situada num local denominado de Abelheira. Ao longo de todo o século XIX esta ponte será alvo de várias intervenções de reparação, dado que tinha um movimento interessante de pessoas e carros de tracção animal, que a danificavam, segundo as actas da vereação. No local denominado Alto do Alvão esta estrada devia ser sinuosa, estreita e péssima de condições dado que em 1874 um cidadão da Campeã se dirige à Administração do Concelho de Mondim a queixar-se contra um seu vizinho proprietário o qual havia aberto uma vala na estrada para dar passagem a águas de rega tendo estragado a estrada e não permitindo por isso a passagem ao seu carro de bois. Pedia por isso que o infractor fosse devidamente castigado10 . Em Mondim a estrada flectia para a esquerda para, depois de se passar a ponte, se entrar na província do Minho, em direcção a Guimarães e Braga. Essa ponte tinha os pegões em pedra mas o tabuleiro, de oito arcos, era de madeira. De passagem obrigatória, por não haver mais nenhuma, será alvo de alguns arranjos até à sua substituição no reinado de Dª Maria II. Efectivamente “sendo de instante necessidade efectuar a construção da ponte sobre o rio Tâmega, em Mondim de Basto, para a qual foi estabelecido um imposto especial por carta de lei de 12 de Setembro de 1842, manda Sua Majestade El-Rei, que o Director das Obras Públicas do distrito de Vila Real remeta sem demora, a este ministério o novo projecto para a execução daquela obra, e o respectivo programa de arrematação, elaborados em harmonia com as indicações que, sobre o primitivo trabalho técnico por ele proposto, foram feitas em consulta do Conselho de Obras Públicas e Minas, e mandadas observar em data de 16 de Novembro último; devendo o sobredito Director ficar na inteligência de que, tendo o governo em especial atenção esta importante obra, tornará efectiva a sua responsabilidade pela falta do cumprimento ao que lhe fica determinado. 10 ACMM: Livro de Registo de correspondência Entrada, nº 1.
  • 38. 38 Paço, em 16 de Fevereiro de 1856.= António Maria de Fontes Pereira de Mello11 . Eram depois estabelecidas as condições da obra e a tabela dos direitos de trânsito. Assim, não deveria exceder 600 palmos em cumprimento, em 30 de largura e seria construída em cinco anos. Os direitos variavam de 10 réis para os passageiros a pé ou a cavalo e os 180 réis para carro carregado12 . A ponte só será inaugurada em 188213 . A segunda era a estrada que ligava Mondim, Atei até à serra do Alvão onde entroncava na que ia para Chaves, vinda de Braga e tinha uma importante ponte sobre o rio Tâmega no lugar de Cavêz. Esta era uma estrada muito importante para as gentes de Mondim pois era por ela que se fazia a principal ligação com Vila Real. Como caminhos secundários mas que revelavam alguma importância, devemos destacar dois: o primeiro que partia de Mondim por Vilar de Ferreiros e Bilhó e o segundo que, partindo de Ermelo vinha entroncar naquele e pela serra do Alvão dava ligação a Vila Real e a Chaves. Esses caminhos eram pouco percorridos dado que os Invernos eram rigorosos, transformando-os em verdadeiros rios e também porque os assaltos eram frequentes. Fazendo parte da rede viária não podemos deixar de destacar a importância que as Barcas de passagem dos rios tinham. De facto são referidas duas para o concelho de Atei em que, apesar de às vezes virarem e morrer gente, nunca o movimento de passageiros abrandou. Também para Mondim se refere o facto de, com a entrada em funcionamento da nova ponte no último quartel do século XIX, não deixarem as Barcas de ter uma grande utilidade, ao ponto até de a lei permitir ao construtor da nova ponte os direitos por trinta anos sobre as mesmas. O facto é que passados os ditos trinta anos o construtor continuou a levar dinheiro pela travessia nas barcas numa atitude perfeitamente injusta, mas naturalmente rendosa. Em fins do século XVIII as estradas eram precárias e em número reduzido o que naturalmente não facilitava os transportes. Em meados do século XIX, o Visconde de Lemos dizia: “Por que não há estradas que ponham em comunicação estes povos com os do Minho e do Distrito, 11 D. do G. de 22 de Fevereiro, nº 45. Esta ponte só será inaugurada em 1882. 12 In Jornal Povo de Basto, nº 209, ano V, de 11.12.1914. 13 A obra demorou afinal muitos mais anos a construir do que inicialmente previsto, isto porque no registo de um casamento efectuado na igreja de Mondim em 22.2.1857 consta como testemunha presente no acto, António Caetano P. F. S. Andrade, que se intitulou como Chefe de Secção Encarregado das Obras Públicas na ponte de Mondim de Basto. E num outro registo de casamento ocorrido na mesma igreja em 21.1.1858 esteve presente como testemunha o capitão Luís António dos Santos que se intitulou como Chefe dos Trabalhos na ponte de Mondim.
  • 39. 39 vivem miseravelmente; são grosseiros em tudo o que importa a civilização; os seus produtos não acham saída; a povoação emigra, por falta de trabalho” (SOUSA, ob. cit: 80). A partir do último quartel do século XIX vamos assistir a uma mobilização mais ou menos concertada dos residentes, para que se criem condições para que se acelerem as ligações entre o concelho e a capital de distrito. Em fins do século XIX, princípios do XX, são inúmeras as pressões para que o governo conclua a estrada nº 47 - ligação de Mondim a Ribeira de Pena - No entanto será em 1909 que um grupo de 125 indivíduos naturais de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar, mas residentes em Pernambuco, no Brasil, decidem enviar a El-Rei uma petição, por intermédio do mondinense Alfredo Álvares de Carvalho onde se pedia a conclusão da citada estrada, iniciada já há trinta anos, mas onde faltavam ainda catorze quilómetros para que ficasse concluída. Recebido pelo Marquês de Alvito, o sr. Alfredo A. Carvalho recebeu a promessa de que a estrada finalmente iria ser concluída. A notícia causou grande alegria nas populações locais e foi manchete em vários jornais da época, tais como o “Século”, a “Mala da Europa” e o “Diário de Notícias”14 . No entanto, será preciso esperar pelo advento da República para ser cumprida a promessa. 7 – Emigração. 7.1 – Emigração para o Brasil ( A partir da 2ª metade do século XIX) A emigração mondinense ao longo da 2ª metade do século XIX e princípios do XX teve um carácter transoceânico. O seu estudo torna-se difícil, dadas as lacunas existentes em relação aos elementos disponíveis no que toca aos movimentos migratórios, à diversidade de fontes, à dificuldade de quantificar a emigração clandestina e até muitas vezes por razões de ordem política. 14 O “ Século “ escrevia: “ Ao chefe do Estado, pelo sr. Alfredo Alvares de Carvalho, comerciante em Pernambuco, uma representação assignada por 125 portugueses residentes na referida cidade brasileira, na qual se pede a conclusão da estrada distrital que liga os concelhos de Mondim de Basto, Ribeira de Pena e Vila Pouca de Aguiar com a sede do distrito, estrada esta que ha 30 anos foi começada...”. Citado no “Progresso de Mondim “ nº 134 em 1909.
  • 40. 40 7.2 – Condicionalismos. “Na Europa, os países mais evoluídos encontram-se a braços com as consequências sócio - económicas das respectivas revoluções industriais em curso, que se traduzem por largas migrações dos campos para as cidades, das tarefas agrícolas ou artesanais para a indústria ou para o sector dos serviços” (SERRÃO, 1980: 166) enquanto do lado de lá do Atlântico o Brasil procura desenvolver-se, mas a libertação dos escravos cria problemas de falta de mão-de-obra e daí o recurso à mão-de-obra europeia. E é nesta base que devemos compreender a corrente migratória para o Brasil. É claro que outra das razões assentará no facto de se partir para “uma terra conhecida”, isto é, onde se falava a mesma língua. “A nossa melhor colónia é o Brasil, depois que deixou de ser colónia nossa”, assim escrevia Herculano na década de 1870 (SERRÃO, 1973: 61). Por sua vez, com o fim dos morgadios, a propriedade passa a ser alvo de maiores divisões - devido a partilhas - e isso fará com que a grande propriedade dê lugar à média e pequena fazendo com que rendeiros e lavradores procurem em primeiro lugar garantir a sua subsistência e a de suas famílias e depois pagar a renda. De facto o predomínio da pequena propriedade implicava uma agricultura pouco produtiva e como tal geradora de baixos rendimentos. Perante este cenário sem futuro, não nos admira que os jovens vejam na emigração a possibilidade de, por um lado se libertarem das modernas formas de servidão e por outro procurar no império do Brasil a fortuna de que outros falam e que todos julgam estar ao seu alcance. Naturalmente que o “brasileiro” quando vem passar férias fala de uma forma empolgada do país de onde vem e naturalmente não daria nas suas descrições a mesmo ênfase aos aspectos negativos, que eram muitos. É este o mais importante leitmotiv: Sonha-se com o eldorado brasileiro e para lá se emigra, com a intenção de enriquecer depressa e depressa se regressar à pátria como “brasileiro” endinheirado e digno de admiração. Naturalmente que a realidade se revelará diferente e a sorte apenas bafejará alguns. O esquema de partida é igual para todos. Começa por um pedido do competente passaporte às autoridades distritais, cujo Governador Civil despacha por um prazo de três meses a respectiva autorização (nos anos por nós analisados encontramos o caso de um único indivíduo que deixou caducar o prazo e teve de requerer novo passaporte).
  • 41. 41 Parte-se muito novo. A média de idades para os anos estudados é de 20,9 anos de idade. Muitos têm 10 ou 11 anos. Quase todos embarcam da cidade do Porto com destino ao Maranhão. Aqui cabe a pertinência de uma questão. Indo quase todos os jovens trabalhar para a firma comercial Álvares de Carvalho isso não os obrigaria a ser possuidores dos rudimentos indispensáveis do Ler, Escrever ou Contar? Provavelmente sim. E continuando nesta linha de raciocínio não poderemos pensar que estes jovens teriam feito pelo menos a 3ª classe cujo móbil era o poderem emigrar? Outros jovens, cremos que num número muito limitado vão clandestinamente sem avisar a administração local de tal intenção o que traz alguns problemas institucionais15 . Encontramos, entre os que partem, apenas duas mulheres e uma já com 75 anos de idade, que provavelmente se iria juntar a algum familiar. São valores insignificantes, portanto, e prova que a emigração é tipicamente masculina. Não se pense, porém, que só os filhos de famílias pobres é que emigravam, dado que também emigram filhos de famílias remediadas ou mesmo abastadas. Estes, de um modo geral não partem como mão-de-obra indiferenciada, pois quando partem já sabem que se vão juntar nos negócios que o primo ou qualquer outro parente lá tem, contribuindo assim - com trabalho duro - para o aumento das fortunas, que cheguem o mais depressa possível para fazer casa, comprar terras e melhorar o modo de vida. E o regresso de “brasileiros” endinheirados fará espicaçar noutros a vontade de partir, num ciclo que se repetirá e se prolongará até aos nossos dias, ao ponto de ainda hoje em Mondim quase todos terem parentes no Brasil. O retorno de alguns deveria ser encarado como um factor potencialmente positivo de desenvolvimento dado que as grandes somas investidas e os conhecimentos trazidos contribuiriam a seu modo para o desenvolvimento do concelho. Porém nem sempre assim foi. De facto não houve visão por parte de quem chegou endinheirado para fazer investimentos em actividades produtivas. O dinheiro foi gasto na construção de imponentes solares e na aquisição de propriedades, por aqui se quedando. O concelho permaneceria igualmente rural durante décadas e décadas até praticamente aos nossos dias. 15 Vimos em vários registos camarários o Administrador chamar o pai do emigrante e obrigá-lo ao pagamento de coimas por causa dos filhos terem partido clandestinamente.
  • 42. 42 Pela análise do quadro número 6 verificamos que nos primeiros anos a emigração se revela muito tímida, o que é reforçado pelo facto de entre 1837 e 1850 – anos por nós também analisados -, apenas terem emigrado três pessoas: duas de Vilar de Ferreiros em 1842 e uma de Ermelo em 1845. Nos anos em que se verifica um maior número de saídas isso poderá estar directamente relacionado com maus anos agrícolas. (A partir de 1850 a filoxera atacou muitas vezes as vinhas e os milheirais, o que contribuía para o empobrecimento dos povos). Desses anos destacamos 1857, com 40 saídas; 1862 com 45 saídas e 1869 com 25 saídas. As freguesias que mais contribuem com mão-de-obra para o Brasil são Mondim e Atei, que por si só entram com 126 emigrantes, quase 50% do total. Várias serão as hipóteses explicativas mas ao seu complexo conjunto não serão alheios os factos de ambas as freguesias se encontraram no limite fronteiriço com a província do Minho e como esta era a província de onde mais se emigrava criava-se nestas freguesias um fenómeno de arrastamento. Para além disso é nestas freguesias que havia um maior número de alfabetizados e como tal mais bem capacitados para arranjaram um emprego como caixeiros, sobretudo. Também a pequena divisão da propriedade inibiria os jovens de por cá quererem ficar. Nas freguesias onde a saída é nula ou pouco significativa isso terá a ver com o facto de se tratar de freguesias de montanha, isoladas e com falta de acessibilidades e também com a pouca população aí existente. Quadro n.º 6. A Emigração de Mondim de Basto para o Brasil entre 1850 e 1870. ANOS MONDIM ATEI BILHÓ PARADª V.FERREIR ERMELO CAMPAN PARDELHA TOTAL 1850 0 0 0 0 0 0 0 0 0 51 0 0 0 0 0 0 0 0 0 52 0 0 0 0 0 0 0 0 0 53 0 0 3 0 1 5 1 0 10 54 0 0 3 0 0 1 0 0 4 55 0 1 0 0 0 1 0 0 2 56 0 0 0 0 0 0 0 0 0 57 13 11 7 0 7 2 0 0 40 58 3 3 3 1 1 2 1 0 14 59 6 1 0 0 0 0 0 0 7 60 1 5 0 0 0 0 0 0 6 61 5 8 0 2 5 4 0 0 24
  • 43. 43 62 9 2 9 4 7 10 4 0 45 63 0 0 0 2 3 0 0 0 5 64 3 4 1 0 1 1 0 0 10 65 1 1 0 1 0 0 0 0 3 66 3 3 0 0 0 1 0 0 7 67 3 3 0 0 0 0 0 0 6 68 0 3 0 1 0 0 0 0 4 69 8 13 4 0 0 0 0 0 25 1870 6 7 2 0 0 4 0 0 19 TOTAL 61 65 32 11 25 31 6 0 231 Fonte: ADVR: Livros de Registos de Passaportes números 123 a 131.