3. Cena II
Bom dia meu caro
fidalgo! O que o traz
por cá?
Nada! Não fiz nada
de mal!
4. Isso dizes tu! Toda a vida a
passear, com uma e com
outra! Sobe já, que estamos
atrasados!
Nem penses nisso! Vou
mas é para aquela barca.
5. Aqui não entra você!
Tratou mal toda a gente
e ainda quer favores!
Isso é que era bom
Já olhou bem para
mim? Quando estava
vivo, todos me tiravam
o chapéu!
6. Já de volta? Eu bem
te disse! Vá, pega
nos remos e dá cá
uma ajuda
Maldita hora! Ai,
que pouca sorte
a minha…
7. Cena III
Até que enfim meu
rico onzeneiro!
Estava a ver que
nunca mais
chegavas. Onde
tens andado?
A trabalhar no
duro. Mas tive
esta infelicidade!
Logo eu, que
não devo nada a
ninguém.
8. Tu és cá dos meus.
Somos da mesma
cepa, irmão!
Embora
Aí não vou! Aquela
barca parece-me bem
melhor.
9. Aqui só entram pessoas de
bem! Não gente como tu,
que só pensa em roubar os
outros!
Eu? Sou o mais pobre
dos homens! Nunca
tive nada na vida
10. Rema mas é! Vamos
aproveitar a maré
Amigo diabo, deixa-
me ir buscar o meu
dinheiro!
11. Cena IV
Sou o Joane! Não me
conheces? Posso entrar
na tua linda barca?
Quem aí vem?
12. O que te aconteceu?
Intestinos! Uma
diarreia sem fim!
Não houve médico
que me salvasse.
Para onde vais?
13. Oh seu filho de um . . .
malandro! Ladrão, bandido,
velhaco, cornudo dum raio,
que sejas maldito para
sempre tu e toda a tua
família!
Inferno amigo
Joane! Um sítio
bem quentinho.
Vais adorar!
14. Tu não tens culpa de
nada! A tua cabeça é que
não ajuda. Espera só um
bocadinho. Pode ser que
venha ainda alguém que
mereça mais do que tu.
Anjinho, leva-me
contigo anjinho!
17. Tu sim! Roubaste e
enganaste que te
fartaste!
Mas tantas vezes
fui à igreja, tantas
prendas aos
santos, missas,
confissões!
Isso não serviu de
nada?
18. Estás carregado
deles! Esta barca
não é para
pecadores. Aqui
não cabes
Valha-me deus! Só
trago estas
forminhas comigo!
Para fazer uns
sapatinhos
19. Cena VI
Nem penses!
Sou homem
da igreja. O
meu lugar é
naquela
barca. Anda
Florença
minha.
Sabes dançar
frade? E a tua
querida
também?
Vamos bailar
no convés!
Entra.
21. Cena VII
Viva! Trago aqui
todos os meus
bens e umas
raparigas bem
jeitosas que
trabalharam para
mim.
Já cá devias estar!
Estamos mesmo de
saída. Não me faças
perder mais tempo.
22. Podes voltar
para trás.
Não venhas
para aqui
maçar-me.
Vou mas é à outra
barca! Penei tanto
em vida que bem
mereço o céu.
Ajudei tanta gente
que se dizia devota.
É esta a minha
paga?
23. Cena VII
Deixa-me
embarcar com o
meu bode! Pago
o que for
preciso
Nem penses nisso!
Aqui só vão
crentes, gente da
igreja