O documento descreve os contratempos enfrentados por uma princesa durante uma viagem entre cidades, incluindo condições climáticas adversas que danificaram as estradas e veículos. A princesa também avistou um grupo de homens amarrados que estavam sendo forçados a trabalhar na construção de um convento.
5. 1. A resposta deve contemplar três destes
aspectos:
[condições climatéricas adversas:]
«voltou a chover» (l. 1); «esta chuva»
(«este frio») (l. 11);
[consequência da precipitação:] «os
atoleiros» (ll. 1-2);
6. [desgaste dos meios de transporte:]
«eixos» que se partem e «raios das
rodas» que se racham «como
gravetos» (l. 2);
visão perturbadora de «um pardo
ajuntamento de homens, alinhados
[...] e atados uns aos outros por
cordas» (ll. 7-8).
7. 1.
Na viagem de Montemor a Évora, a
princesa e a sua comitiva confrontam-se com
vários imprevistos: o primeiro é constituído
pelas condições climatéricas adversas que
degradam o estado das estradas, assim
dificultando a viagem e aumentando o desconforto dos viajantes: «voltou a chover» (l.
1); «já não chegava o péssimo tempo que faz,
esta chuva, este frio» (l. 11); o segundo tem a
ver com os efeitos da chuva no estado da estrada e nos meios de transporte: «tornaram
os atoleiros» (l. 1), «partiram-se eixos, rachavam-se como gravetos os raios das rodas» (l.
2); o terceiro consiste na descoberta,
8. pela princesa, de um grupo de homens
amarrados uns aos outros, recrutados à
força para irem trabalhar nas obras do
convento de Mafra: «viu parado um pardo
ajuntamento de homens, alinhados na beira
do caminho e atados uns aos outros por
cordas, seriam talvez uns quinze» (ll. 9-10),
que mandou saber «que homens eram
aqueles e o que tinham feito, que crimes, e
se iam para o Limoeiro ou para África» (ll. 1314); e D. Maria Bárbara acabará por ficar a
saber que «aqueles homens vão trabalhar
para Mafra, nas obras do convento real (...),
vão atados (...) porque não vão de vontade,
se os soltam fogem» (ll. 17-19).
9. 2. A resposta deve contemplar
a ideia de contraste entre
a vontade de festejar a anunciada
felicidade «das suas bodas» (l. 10)
e a visão da realidade brutal (a
constatação da escravatura de homens
no trabalho e construção do convento)
negativamente conotada pelo adjectivo
«lastimoso» e pelo nome «grilhetas».
10. 2.
O excerto estabelece um contraste entre
o estado de espírito da princesa D. Maria
Bárbara, profundamente incomodada pela
visão daquele grupo de homens amarrados,
vítimas de grande violência, roubados às
suas famílias, e o ambiente festivo criado à
volta do seu casamento. Tudo devia ser
«ledice e regozijo» (l. 10), mas era-o só no
círculo restrito da corte que integrava o
cortejo nupcial; lá fora, o povo, triste,
agrilhoado, é forçado a trabalhar para que
um rei vaidoso e megalómano veja cumprida
a sua promessa no prazo marcado.
11. 3. A resposta deve contemplar apenas um dos
recursos e o comentário à respectiva
expressividade:
A construção anafórica — «Maria
Bárbara não viu, não sabe, não tocou [...]
não serviu, não aliviou, não enxugou» (ll.
26-29) — realça o forte contraste negativo
entre a indiferença da princesa face à
construção do convento e essa
construção como fonte de desgosto e de
sofrimento para os trabalhadores.
12. A comparação — «o convento é para
si como um sonho sonhado» (ll. 30-31) —
sublinha que o convento não faz parte da
realidade de Maria Bárbara. É um sonho
inconsistente, sem imagens; «sonho
sonhado» — redundância que reforça o
afastamento do real.
13. A metáfora — «uma névoa impalpável» (l. 31) — traduz a incapacidade de
Maria Bárbara para representar o
convento. Este, apesar de existir porque
Maria Bárbara existe, não é, para a
princesa, mais do que essa «névoa»
abstracta.
14. 3.
O recurso de estilo mais visível é a
construção anafórica — «Maria Bárbara não
viu, não sabe, não tocou com o dedinho
rechonchudo a primeira pedra, nem a
segunda, não serviu com as suas mãos o
caldo dos pedreiros, não aliviou com bálsamo
as dores que Sete-Sóis sente no coto do
braço quando retira o gancho, não enxugou
as lágrimas da mulher que teve o seu homem
esmagado» (ll. 25-29) —, que realça o
contraste entre a indiferença da princesa face
à construção do convento e o sofrimento que
essa mesma construção acarreta para
trabalhadores e suas famílias.
15. 4. A resposta deve apresentar frases que
sintetizem o conteúdo da cada uma das
partes encontradas:
• os contratempos surgidos durante a
viagem da princesa de Montemor a
Évora (1.º e 2.º períodos do 1.º
parágrafo);
16. • a curiosidade e a perturbação que a
princesa revela perante o «pardo
ajuntamento» (l. 7) e o amor do oficial
pela princesa (último período do 1.º
parágrafo e o 2.º parágrafo);
• a reflexão em torno do desinteresse da
princesa por um convento que está a
ser construído para celebrar o seu
nascimento.
17. 4.
O texto divide-se em três partes lógicas:
os primeiro e segundo períodos do
primeiro parágrafo constituem a primeira
parte, em que se enumeram os
contratempos e alguns dos imprevistos
surgidos durante a viagem de D. Maria
Bárbara de Montemor a Évora; já a segunda
parte inclui o terceiro período do primeiro
parágrafo e todo o segundo parágrafo, que
se referem ao aparecimento de um
18. grupo de homens amarrados a caminho
das obras do convento e ao amor
impossível de um jovem oficial pela
princesa, a quem presta informação
sobre o «pardo ajuntamento de homens,
alinhados na beira do caminho»;
finalmente, a terceira parte é constituída
pelo terceiro parágrafo e nela
deparamos com uma reflexão em torno
do desinteresse da princesa por um
convento que está a ser construído para
celebrar o seu nascimento.
21. Cumpre o ponto 1 («sintetiza o seu
assunto numa expressão sugestiva [títulofrase-slogan-máxima-lema-epígrafe»), mas
evita «A força do destino».
22. Reescreve o primeiro verso do poema,
trocando apenas cada um dos «cumpre» por
outro verbo (com isso se perceberá que
«cumprir» é polissémico e cada uma das formas
verbais tem sentido diferente). Não uses nenhum
dos verbos que estão em nota à direita.
Cada um segue o destino que lhe calhou
vive
foi marcado
23. Ilustra graficamente o quiasmo nos vv. 3-4:
Nem cumpre o que deseja,
X
Nem deseja o que cumpre.
24. O uso do quiasmo — a troca da posição
de «cumpre» e «deseja» — acaba por
servir para destacar a insatisfação dos
seres humanos face ao seu destino e a
inutilidade de se lhe tentar fugir.
25. Comenta o valor expressivo da comparação nos
vv. 5-6.
A comparação dos homens com «as
pedras nas orlas dos canteiros» visa
acentuar a impossibilidade de se lutar
contra o destino.
26. Que atitude nos é aconselhada no último
quarteto?
É-nos aconselhada uma atitude de
resignação e luto por Eusébio.
27. Respondendo à pergunta 4 [lê-a antes de completares o
que ponho a seguir]:
O texto, como sucede tanto com Ricardo Reis, é
fundamentalmente diretivo. Essa índole imperativa
socorre-se, nos primeiros quatro versos, de um
sujeito aparentemente singular («cada um [dos
homens]»), através do qual se faz uma
generalização, vincando-se um facto universal. A
mudança para a 1.ª pessoa do plural dá-se quando
se explicita melhor, mais próximo de nós, o efeito
do destino (vv. 5-8) e, sobretudo, quando se usa o
conjuntivo enquanto forma de imperativo. Através
de uma ordem que nos é dada exacerba-se a
impossibilidade de se proceder de outro modo.
28.
29. Na p. 110 do manual, no ponto 1,
temos dois textos de José Gomes
Ferreira. Analisa um deles (ou ambos),
tendo como termo de contraste — ou de
analogia — a escrita, a ideologia, de
Ricardo Reis.
Evita, porém, um comentário
constantemente repartido (‘enquanto X é
assim, Y é assado’).
Sugiro de cem a cento e quarenta
palavras.
30.
31. TPC — Resolve o ponto 1, de
Escrita, no cimo da p. 105. (Nota que o
assunto desta dissertação, embora seja
sugerido por citação de Ricardo Reis,
não é, no essencial, literário. Trata-se de
um tema ao estilo de grupo III de exames
nacionais.)