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O MITO COMO POSSIBILIDADE TERAPÊUTICA NA ASSISTÊNCIA EM
SAÚDE MENTAL

                                                                  Andréa Graupen
                                                    andreagraupen@yahoo.com.br
Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB.

                                         Cínthia Jaqueline Rodrigues Bezerra Galiza
              Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB.

                                                  Flawbert Farias Guedes Pinheiro
              Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB.

                                                         Hélio Eloi de Galiza Junior
                                    UNIPE - Centro Universitário de João Pessoa - PB.

RESUMO
A partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira, abriu-se um espaço para a inovação de
novos dispositivos de cuidado para com as pessoas com sofrimento mental (SCHWEIG,
et al, 2010). Serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
possibilitam construir novas práticas de intervenção na assistência em saúde mental,
mais humanizadas e que trabalhem numa perspectiva de cuidado integral da pessoa em
sofrimento psíquico. Neste contexto foi criada então, em um CAPS, no Recife/PE, a
Oficina Terapêutica de Mitos. Tal oficina funciona como um espaço de escuta interna e
produção de saúde visto que os mitos são, acima de tudo, fenômenos psíquicos e
revelam a natureza da psique. A escuta das narrativas mitológicas ajuda a superar, seja
pela identificação com os personagens míticos seja pela natureza religiosa das próprias
narrativas os conflitos internos e abre um espaço de re-significação da própria
experiência. Tal pesquisa foi realizada no CAPS se mostrou de grande importância para
um trabalho em saúde mental que inclua a religiosidade como promotora de saúde, visto
que ela é de acordo com Dalgalarrondo (2008) uma das experiências mais marcantes da
experiência humana e da subjetividade.
As narrativas míticas são histórias que acompanham os homens desde tempos
imemoriais e, independente de terem certa cronologia e localização geográfica, falam de
vivências que são atemporais, arquetípicas. Adentrar o universo mítico é uma
possibilidade de se reconectar com o sagrado e com as infinitas possibilidades da
existência. As narrativas míticas, com seu manancial simbólico e religioso, são
utilizadas como instrumento terapêutico e se revelam como um poderoso instrumento de
promoção da saúde. O presente trabalho se propõe a apresentar um relato de
experiência onde se observa que entrar em contato com tais narrativas, plenas de
obstáculos, tarefas e transformações, ativa nos indivíduos pontos pessoais de saúde. Ao
elaborarem os conteúdos mobilizados a partir da escuta, estão os indivíduos
participando ativamente do seu processo de construção e reconstrução de significados,
tornando-se assim sujeitos do seu processo de saúde.

Palavras-chave: Mitologia. Saúde mental. Oficina terapêutica.
2

ABSTRACT
From the Brazilian Psychiatric Reform, opened up a space for innovation of new
devices to care for people with mental distress (Schweiger et al, 2010). Alternative
services such as the Centers for Psychosocial Care (CAPS), allow building new
practices of intervention in mental health care, and more humane working from a
perspective of comprehensive care of the person in distress. In this context it was
created then, in CAPS in Recife / PE, a work that uses myths in a therapeutic context.
This workshop serves as a listening space domestic production and health since the
myths are, above all, psychic phenomena and reveal the nature of the psyche. Listening
to the mythological narratives helps overcome either by identification with the mythical
characters is the religious nature of the conflicts within their own narratives and open a
space for redefining the experience itself. This research was conducted at CAPS proved
of great importance for work in mental health that includes religion as a promoter of
health, as it is according to Dalgalarrondo (2008) one of the most remarkable
experiences          of         human          experience          and        subjectivity.
The narratives are mythical stories that accompany the men since time immemorial,
whether they were right timing and geographical location; speak of experiences that are
timeless, archetypal. Entering the mythical universe is a chance to reconnect with the
sacred and the infinite possibilities of existence. The mythical narratives, with their
stock symbols and religious, are used as a therapeutic tool and reveal themselves as a
powerful tool for health promotion. The present work is to present an experience report
observing that come into contact with such narratives, full of obstacles, tasks and
transformations, active points in individuals' personal health. In developing the content
mobilized from hearing, individuals are actively participating in the process of
construction and reconstruction of meanings, thus becoming the subjects of their health
process.

KEY WORDS: Mythology. Mental health. Therapeutic workshop.


INTRODUÇÃO
A partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira, abriu-se um espaço para a inovação de
novos dispositivos de cuidado para com as pessoas com sofrimento mental (SCHWEIG,
et al, 2010). Serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS),
possibilitam construir novas práticas de intervenção na assistência em saúde mental,
mais humanizadas e que trabalhem numa perspectiva de cuidado integral da pessoa em
sofrimento psíquico. Neste contexto foi criada então, em um CAPS, no Recife/PE, a
Oficina Terapêutica de Mitos.
De acordo com Campbell (1990) somos capturados pelos mitos que são “pistas para as
potencialidades espirituais da vida humana” (CAMPBELL, 1990, p. 6). Para o autor tais
pistas auxiliam na busca de uma experiência de estar vivo, não numa busca de sentido e
afirma que
                        [...] o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que
                        nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância
                        no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que
                        realmente sintamos o enlevo de estar vivos. (CAMPBELL, 1990, p. 5).
3



Já de acordo com Armstrong (2009b) os mitos nascem, ou são criados a partir da busca
humana por sentido e “desde a origem mais remota inventamos histórias que permitem
situar nossas vidas num cenário mais amplo e nos dão a sensação de que a vida, apesar
de todas as provas caóticas e arrasadoras em contrário, possui valor e significado.”
(ARMSTRONG, 2009b, p. 8).
Os mitos e os contos de fada, sob a luz da psicologia analítica de C. G. Jung, são a
expressão e representação de acontecimentos psíquicos, assim como os sonhos. Os
mitos se expressam em linguagem simbólica e dizem respeito às verdades mais
profundas do ser humano.
Para a compreensão da mitologia na perspectiva analítica o conceito de arquétipo é
fundamental tendo em vista que atrelado a ele, encontra-se o conceito do inconsciente
coletivo; tais fundamentos teóricos são pontos principais que diferenciam a psicologia
analítica de outras teorias psicológicas.


                        Dei o nome de arquétipos a esses padrões, valendo-me de uma expressão de
                        Santo Agostinho: Arquétipo significa um “Typos” (impressão, marca-
                        impressão), um agrupamento definido de caracteres arcaicos, que, em forma
                        e significado, encerra motivos mitológicos, os quais surgem em forma pura
                        nos contos de fadas, nos mitos, nas lendas e no folclore. (JUNG, 1985, p. 33).

Jung, ao examinar exaustivamente séries de sonhos observou seqüências completas de
imagens inconscientes que continham um motivo que era recorrente. Denominou-os
motivos mitológicos, que são os temas arquetípicos que habitam as camadas mais
profundas (ou mitológicas) da psique. Tais conteúdos possuem um poder enorme de
atração e fascínio, influenciando diretamente a humanidade.

                        É que as representações míticas, com seu simbolismo característico, atingem
                        as profundezas da alma humana, os subterrâneos da história, aonde a razão, a
                        vontade e a boa intenção nunca chegam. Isso porque elas também provêm
                        daquelas profundezas e falam uma linguagem, que, na verdade, a razão
                        contemporânea não entende, mas mobilizam e põem a vibrar o mais íntimo
                        dos homens. (JUNG, 2004, p.13)


Como os mitos, ou narrativas mitológicas, dizem respeito e nos conduzem aos aspectos
estruturais dos indivíduos, tanto no nível coletivo quanto individual o seu estudo é de
extrema importância para uma compreensão integral do ser humano.
4

Partindo então da perspectiva junguiana, onde a narrativa mitológica tem um papel
importante para a compreensão dos indivíduos nos seus aspectos singulares e coletivos
já que trazem em si temas que são atemporais (morte, nascimento, perdas,
transformações, casamento, separações) surge a possibilidade de trabalhar com tais
narrativas como instrumento de promoção de saúde.
Campbell (1990) afirma que todos os mitos são verdadeiros em diferentes sentidos, pois
“toda mitologia tem a ver com a sabedoria da vida, relacionada a uma cultura específica.
Integra o indivíduo na sociedade e a sociedade no campo da natureza. Une o campo da
natureza à minha natureza. É uma força harmonizadora.” (CAMPBELL, 1990, p. 58).
O trabalho terapêutico com o mito pode ligar o indivíduo a si - mesmo e à sociedade,
criando uma dupla ponte entre o dentro e o fora de cada um.
O trabalho expressivo dentro desta oficina surge com a noção junguiana de que a psique
se exprime basicamente por imagens. A imagem é a linguagem, a priori, do inconsciente
e antecede a comunicação verbal, a palavra. O recurso plástico auxilia a dar contornos e
corporalidade ao que é indizível de outra forma a não ser pela própria imagem. O
símbolo, ou imagem simbólica, aponta para algo além da compreensão imediata,
impulsiona na direção de um sentido.

                       O símbolo é uma forma extremamente complexa. Nela se reúnem opostos
                       numa síntese que vai além das capacidades de compreensão disponíveis no
                       presente e que ainda não pode ser formulada dentro de conceitos.
                       Inconsciente e consciente aproximam-se. Assim, o símbolo não é racional,
                       porém as duas coisas ao mesmo tempo. Se é de uma parte acessível à razão,
                       de outra parte lhe escapa para vir fazer vibrar as cordas ocultas no
                       inconsciente. (SILVEIRA, 2001, p. 71).

Ao plasmar imagens o indivíduo sai de sua atitude passiva, infantil, de mero espectador
e assume um papel ativo frente ao seu processo. Não apenas fala sobre coisas, mas
também as executa com as próprias mãos, envolve-se por completo. (JUNG, 2004).
Através do trabalho expressivo é possível dar forma a conteúdos inconscientes,
despotencializando-os de sua carga afetiva que muitas vezes ameaça a integridade
psíquica (JUNG, 2000). A proposta não apenas despotencializar, mas, através do
trabalho ativo de construção da imagem, criar um diálogo que envolva consciente e
inconsciente.
Os pontos pessoais de saúde, em pessoas com determinados transtornos mentais
(depressão, transtorno bipolar do humor, transtorno obsessivo-compulsivo) podem ser
ativados a partir da escuta e elaboração expressiva das narrativas mitológicas já que
através da identificação com as personagens/divindades os indivíduos podem
5

resignificar suas próprias histórias, pensar em estratégias de enfrentamento do próprio
transtorno, sendo sujeitos ativos tanto no seu tratamento, como na sua vida.
De acordo com Armstrong (2009) “a mitologia é uma forma de arte que aponta para o
que é intemporal na existência humana, e nos ajuda a superar o fluxo caótico de eventos
aleatórios, vislumbrando o âmago da realidade.” (ARMSTRONG, 2009b, p.12).

MÉTODO
As oficinas ocorreram ao longo do ano de 2005, sendo no total 40 oficinas, realizadas
semanalmente, com duração de 2 horas cada, no CAPS-Casa Forte, serviço privado de
atenção em saúde mental. O grupo era composto por adultos, com idades entre 25 e 63
anos, de ambos os sexos, com diagnósticos de depressão, transtorno obsessivo-
compulsivo e transtorno bipolar do humor. A oficina ocorria em um salão grande, com
almofadas e uma área externa com jardim e mesas amplas para a realização dos
trabalhos expressivos. Participaram em média 10 usuários a cada encontro, sendo que os
mesmos variavam a cada semana. Os encontros seguiam a seguinte estrutura: narrativa
do mito previamente selecionado pela facilitadora, trabalho expressivo a partir dos
conteúdos mobilizados (pintura, colagem, modelagem, desenho, teatro, poesia, escrita
livre) e compartilhamento da experiência. Foram eleitos apenas os mitos greco-romanos
pela familiaridade dos mesmos. A escolha dos mitos era feita a partir dos conteúdos
mobilizados a cada encontro.

RESULTADOS E DISCUSSÃO
Através da análise do discurso e das imagens produzidas, pode-se dizer que a oficina
facilitou aos usuários/as do serviço o contar e resignificar sua própria história. A
identificação homem/divindade propiciou um fortalecimento do ego, mais capaz de
suportar as vicissitudes da vida criando espaços de transformação do si - mesmo e
conseqüentemente do mundo que o cerca. Através da escuta dos mitos, abriu-se aos
usuários do serviço um momento de “escuta interna”, onde puderam ser ampliadas as
possibilidades de ação e confronto com diversas questões da vida e da própria história.
Todos/as usuários no momento de compartilhar, referiram uma sensação de auto-estima
elevada ao terem suas experiências pessoais afinadas com a trajetória mítica dos/as
divindades, podendo desta forma lidar de maneira mais positiva com sua mitologia
pessoal. Como produto coletivo de uma das atividades, os usuários criaram um poema
que evidencia o potencial positivo das narrativas míticas no trabalho em saúde mental:
6

                                A cada mito que escuto
                                A cada história contada
                                   Eu fico a meditar
                               E me encontro fascinada.

                                Se pudesse eu voaria
                                Assim como fez Ícaro
                              Tomando o devido cuidado
                               Para não cair no abismo.

                               Apesar de ser um mito
                             Guardo todas as histórias
                                Aqui no pensamento
             Pois sabemos que essas histórias são de grande ensinamento.

                             Escutamos com entusiasmo
                               Guardamos no coração
                            Levamos conosco a lembrança
                                Dessa grande lição.

                           Oh! Mito que exalta os deuses
                          Aqui estamos nós, homens de bem
                              Almejando prosperidade,
                                 Paz e amor. Amem.

Observamos então que ao se ampliarem as possibilidades de atuação em saúde mental
podemos nos debruçar sobre estratégias de enfrentamento que incluem todas as
dimensões da vida, pois o logos sem o mito empobrece. Aqui, mythos e logos, apesar de
distintos se complementam e ao logos não cabe aliviar a dor ou o sofrimento.
(ARMSTRONG, 2009a).

                      O logos não sabe responder perguntas sobre o valor da vida humana. O
                      cientista pode tornar as coisas mais eficientes e descobrir fatos maravilhosos
                      acerca do universo físico, porém não consegue decifrar o sentido da vida.
                      Isso compete ao mito e ao culto (ARMSTRONG, 2009a, p. 17).

Então ao trabalharmos com o mito estamos incluindo uma parte que apenas atualmente
passa a encontrar espaço no trabalho em saúde, o mythos que durante muito tempo foi
renegado como sendo menor e fantasioso. Neste trabalho devolvemos o mito para o
lugar de onde nunca saiu verdadeiramente, a mente humana.


CONCLUSÕES
Os mitos são histórias que nos acompanham há muito tempo, independente de terem
certa cronologia e localização geográfica, falam de vivências que são atemporais,
7

arquetípicas. O homem necessita ouvir histórias para alimentar a sua capacidade de
reorganizar e recontar a sua própria história, as narrativas mitológicas ajudam a
organizar a experiência de estar no mundo e a dar contornos ao próprio mundo.
Adentrar o universo mítico é uma possibilidade de se reconectar com o sagrado e com
as infinitas possibilidades de cada indivíduo. As narrativas míticas, com seu manancial
simbólico e religioso, são um poderoso instrumento de promoção da saúde mental.
Entrar em contato com as narrativas míticas, plenas de obstáculos, tarefas,
transformações e possibilidades faz ressoar nos indivíduos pontos pessoais de saúde. Ao
elaborarem expressivamente os conteúdos mobilizados a partir da escuta, estão os
indivíduos participando ativamente do seu processo de construção e reconstrução de
significados, tornando-se assim sujeitos do seu processo de saúde.



REFERÊNCIAS

ARMSTRONG, K. Em nome de Deus. O fundamentalismo no judaísmo, no
cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009a.

ARMSTRONG, K. Breve história do mito. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras,
2009b.

CAMPBELL, J. O Poder do Mito. 13. ed. São Paulo: Palas Athena, 1990.

JUNG, C.G. Fundamentos de Psicologia Analítica. 3. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1985.

JUNG, C. G. A Prática da Psicoterapia. 9. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2004.

SCHWEIG, Graziele Ramos et. al. Cuidado e saúde mental: desafios à formação
profissional na perspectiva da reforma psiquiátrica. Asociación Madres de Plaza de
Mayo.         Memorias          7º        Congresso.        Disponível        em:
<http://www.madres.org/asp/contenido.asp?clave=3519>. Acesso em: 11 de Janeiro de
2010.

SILVEIRA, N. Jung, Vida & Obra. 18. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.

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  • 1. 1 O MITO COMO POSSIBILIDADE TERAPÊUTICA NA ASSISTÊNCIA EM SAÚDE MENTAL Andréa Graupen andreagraupen@yahoo.com.br Mestranda do Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB. Cínthia Jaqueline Rodrigues Bezerra Galiza Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB. Flawbert Farias Guedes Pinheiro Programa de Pós Graduação em Ciências das Religiões - PPGCR/ UFPB. Hélio Eloi de Galiza Junior UNIPE - Centro Universitário de João Pessoa - PB. RESUMO A partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira, abriu-se um espaço para a inovação de novos dispositivos de cuidado para com as pessoas com sofrimento mental (SCHWEIG, et al, 2010). Serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), possibilitam construir novas práticas de intervenção na assistência em saúde mental, mais humanizadas e que trabalhem numa perspectiva de cuidado integral da pessoa em sofrimento psíquico. Neste contexto foi criada então, em um CAPS, no Recife/PE, a Oficina Terapêutica de Mitos. Tal oficina funciona como um espaço de escuta interna e produção de saúde visto que os mitos são, acima de tudo, fenômenos psíquicos e revelam a natureza da psique. A escuta das narrativas mitológicas ajuda a superar, seja pela identificação com os personagens míticos seja pela natureza religiosa das próprias narrativas os conflitos internos e abre um espaço de re-significação da própria experiência. Tal pesquisa foi realizada no CAPS se mostrou de grande importância para um trabalho em saúde mental que inclua a religiosidade como promotora de saúde, visto que ela é de acordo com Dalgalarrondo (2008) uma das experiências mais marcantes da experiência humana e da subjetividade. As narrativas míticas são histórias que acompanham os homens desde tempos imemoriais e, independente de terem certa cronologia e localização geográfica, falam de vivências que são atemporais, arquetípicas. Adentrar o universo mítico é uma possibilidade de se reconectar com o sagrado e com as infinitas possibilidades da existência. As narrativas míticas, com seu manancial simbólico e religioso, são utilizadas como instrumento terapêutico e se revelam como um poderoso instrumento de promoção da saúde. O presente trabalho se propõe a apresentar um relato de experiência onde se observa que entrar em contato com tais narrativas, plenas de obstáculos, tarefas e transformações, ativa nos indivíduos pontos pessoais de saúde. Ao elaborarem os conteúdos mobilizados a partir da escuta, estão os indivíduos participando ativamente do seu processo de construção e reconstrução de significados, tornando-se assim sujeitos do seu processo de saúde. Palavras-chave: Mitologia. Saúde mental. Oficina terapêutica.
  • 2. 2 ABSTRACT From the Brazilian Psychiatric Reform, opened up a space for innovation of new devices to care for people with mental distress (Schweiger et al, 2010). Alternative services such as the Centers for Psychosocial Care (CAPS), allow building new practices of intervention in mental health care, and more humane working from a perspective of comprehensive care of the person in distress. In this context it was created then, in CAPS in Recife / PE, a work that uses myths in a therapeutic context. This workshop serves as a listening space domestic production and health since the myths are, above all, psychic phenomena and reveal the nature of the psyche. Listening to the mythological narratives helps overcome either by identification with the mythical characters is the religious nature of the conflicts within their own narratives and open a space for redefining the experience itself. This research was conducted at CAPS proved of great importance for work in mental health that includes religion as a promoter of health, as it is according to Dalgalarrondo (2008) one of the most remarkable experiences of human experience and subjectivity. The narratives are mythical stories that accompany the men since time immemorial, whether they were right timing and geographical location; speak of experiences that are timeless, archetypal. Entering the mythical universe is a chance to reconnect with the sacred and the infinite possibilities of existence. The mythical narratives, with their stock symbols and religious, are used as a therapeutic tool and reveal themselves as a powerful tool for health promotion. The present work is to present an experience report observing that come into contact with such narratives, full of obstacles, tasks and transformations, active points in individuals' personal health. In developing the content mobilized from hearing, individuals are actively participating in the process of construction and reconstruction of meanings, thus becoming the subjects of their health process. KEY WORDS: Mythology. Mental health. Therapeutic workshop. INTRODUÇÃO A partir da Reforma Psiquiátrica Brasileira, abriu-se um espaço para a inovação de novos dispositivos de cuidado para com as pessoas com sofrimento mental (SCHWEIG, et al, 2010). Serviços substitutivos como os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), possibilitam construir novas práticas de intervenção na assistência em saúde mental, mais humanizadas e que trabalhem numa perspectiva de cuidado integral da pessoa em sofrimento psíquico. Neste contexto foi criada então, em um CAPS, no Recife/PE, a Oficina Terapêutica de Mitos. De acordo com Campbell (1990) somos capturados pelos mitos que são “pistas para as potencialidades espirituais da vida humana” (CAMPBELL, 1990, p. 6). Para o autor tais pistas auxiliam na busca de uma experiência de estar vivo, não numa busca de sentido e afirma que [...] o que estamos procurando é uma experiência de estar vivos, de modo que nossas experiências de vida, no plano puramente físico, tenham ressonância no interior de nosso ser e de nossa realidade mais íntimos, de modo que realmente sintamos o enlevo de estar vivos. (CAMPBELL, 1990, p. 5).
  • 3. 3 Já de acordo com Armstrong (2009b) os mitos nascem, ou são criados a partir da busca humana por sentido e “desde a origem mais remota inventamos histórias que permitem situar nossas vidas num cenário mais amplo e nos dão a sensação de que a vida, apesar de todas as provas caóticas e arrasadoras em contrário, possui valor e significado.” (ARMSTRONG, 2009b, p. 8). Os mitos e os contos de fada, sob a luz da psicologia analítica de C. G. Jung, são a expressão e representação de acontecimentos psíquicos, assim como os sonhos. Os mitos se expressam em linguagem simbólica e dizem respeito às verdades mais profundas do ser humano. Para a compreensão da mitologia na perspectiva analítica o conceito de arquétipo é fundamental tendo em vista que atrelado a ele, encontra-se o conceito do inconsciente coletivo; tais fundamentos teóricos são pontos principais que diferenciam a psicologia analítica de outras teorias psicológicas. Dei o nome de arquétipos a esses padrões, valendo-me de uma expressão de Santo Agostinho: Arquétipo significa um “Typos” (impressão, marca- impressão), um agrupamento definido de caracteres arcaicos, que, em forma e significado, encerra motivos mitológicos, os quais surgem em forma pura nos contos de fadas, nos mitos, nas lendas e no folclore. (JUNG, 1985, p. 33). Jung, ao examinar exaustivamente séries de sonhos observou seqüências completas de imagens inconscientes que continham um motivo que era recorrente. Denominou-os motivos mitológicos, que são os temas arquetípicos que habitam as camadas mais profundas (ou mitológicas) da psique. Tais conteúdos possuem um poder enorme de atração e fascínio, influenciando diretamente a humanidade. É que as representações míticas, com seu simbolismo característico, atingem as profundezas da alma humana, os subterrâneos da história, aonde a razão, a vontade e a boa intenção nunca chegam. Isso porque elas também provêm daquelas profundezas e falam uma linguagem, que, na verdade, a razão contemporânea não entende, mas mobilizam e põem a vibrar o mais íntimo dos homens. (JUNG, 2004, p.13) Como os mitos, ou narrativas mitológicas, dizem respeito e nos conduzem aos aspectos estruturais dos indivíduos, tanto no nível coletivo quanto individual o seu estudo é de extrema importância para uma compreensão integral do ser humano.
  • 4. 4 Partindo então da perspectiva junguiana, onde a narrativa mitológica tem um papel importante para a compreensão dos indivíduos nos seus aspectos singulares e coletivos já que trazem em si temas que são atemporais (morte, nascimento, perdas, transformações, casamento, separações) surge a possibilidade de trabalhar com tais narrativas como instrumento de promoção de saúde. Campbell (1990) afirma que todos os mitos são verdadeiros em diferentes sentidos, pois “toda mitologia tem a ver com a sabedoria da vida, relacionada a uma cultura específica. Integra o indivíduo na sociedade e a sociedade no campo da natureza. Une o campo da natureza à minha natureza. É uma força harmonizadora.” (CAMPBELL, 1990, p. 58). O trabalho terapêutico com o mito pode ligar o indivíduo a si - mesmo e à sociedade, criando uma dupla ponte entre o dentro e o fora de cada um. O trabalho expressivo dentro desta oficina surge com a noção junguiana de que a psique se exprime basicamente por imagens. A imagem é a linguagem, a priori, do inconsciente e antecede a comunicação verbal, a palavra. O recurso plástico auxilia a dar contornos e corporalidade ao que é indizível de outra forma a não ser pela própria imagem. O símbolo, ou imagem simbólica, aponta para algo além da compreensão imediata, impulsiona na direção de um sentido. O símbolo é uma forma extremamente complexa. Nela se reúnem opostos numa síntese que vai além das capacidades de compreensão disponíveis no presente e que ainda não pode ser formulada dentro de conceitos. Inconsciente e consciente aproximam-se. Assim, o símbolo não é racional, porém as duas coisas ao mesmo tempo. Se é de uma parte acessível à razão, de outra parte lhe escapa para vir fazer vibrar as cordas ocultas no inconsciente. (SILVEIRA, 2001, p. 71). Ao plasmar imagens o indivíduo sai de sua atitude passiva, infantil, de mero espectador e assume um papel ativo frente ao seu processo. Não apenas fala sobre coisas, mas também as executa com as próprias mãos, envolve-se por completo. (JUNG, 2004). Através do trabalho expressivo é possível dar forma a conteúdos inconscientes, despotencializando-os de sua carga afetiva que muitas vezes ameaça a integridade psíquica (JUNG, 2000). A proposta não apenas despotencializar, mas, através do trabalho ativo de construção da imagem, criar um diálogo que envolva consciente e inconsciente. Os pontos pessoais de saúde, em pessoas com determinados transtornos mentais (depressão, transtorno bipolar do humor, transtorno obsessivo-compulsivo) podem ser ativados a partir da escuta e elaboração expressiva das narrativas mitológicas já que através da identificação com as personagens/divindades os indivíduos podem
  • 5. 5 resignificar suas próprias histórias, pensar em estratégias de enfrentamento do próprio transtorno, sendo sujeitos ativos tanto no seu tratamento, como na sua vida. De acordo com Armstrong (2009) “a mitologia é uma forma de arte que aponta para o que é intemporal na existência humana, e nos ajuda a superar o fluxo caótico de eventos aleatórios, vislumbrando o âmago da realidade.” (ARMSTRONG, 2009b, p.12). MÉTODO As oficinas ocorreram ao longo do ano de 2005, sendo no total 40 oficinas, realizadas semanalmente, com duração de 2 horas cada, no CAPS-Casa Forte, serviço privado de atenção em saúde mental. O grupo era composto por adultos, com idades entre 25 e 63 anos, de ambos os sexos, com diagnósticos de depressão, transtorno obsessivo- compulsivo e transtorno bipolar do humor. A oficina ocorria em um salão grande, com almofadas e uma área externa com jardim e mesas amplas para a realização dos trabalhos expressivos. Participaram em média 10 usuários a cada encontro, sendo que os mesmos variavam a cada semana. Os encontros seguiam a seguinte estrutura: narrativa do mito previamente selecionado pela facilitadora, trabalho expressivo a partir dos conteúdos mobilizados (pintura, colagem, modelagem, desenho, teatro, poesia, escrita livre) e compartilhamento da experiência. Foram eleitos apenas os mitos greco-romanos pela familiaridade dos mesmos. A escolha dos mitos era feita a partir dos conteúdos mobilizados a cada encontro. RESULTADOS E DISCUSSÃO Através da análise do discurso e das imagens produzidas, pode-se dizer que a oficina facilitou aos usuários/as do serviço o contar e resignificar sua própria história. A identificação homem/divindade propiciou um fortalecimento do ego, mais capaz de suportar as vicissitudes da vida criando espaços de transformação do si - mesmo e conseqüentemente do mundo que o cerca. Através da escuta dos mitos, abriu-se aos usuários do serviço um momento de “escuta interna”, onde puderam ser ampliadas as possibilidades de ação e confronto com diversas questões da vida e da própria história. Todos/as usuários no momento de compartilhar, referiram uma sensação de auto-estima elevada ao terem suas experiências pessoais afinadas com a trajetória mítica dos/as divindades, podendo desta forma lidar de maneira mais positiva com sua mitologia pessoal. Como produto coletivo de uma das atividades, os usuários criaram um poema que evidencia o potencial positivo das narrativas míticas no trabalho em saúde mental:
  • 6. 6 A cada mito que escuto A cada história contada Eu fico a meditar E me encontro fascinada. Se pudesse eu voaria Assim como fez Ícaro Tomando o devido cuidado Para não cair no abismo. Apesar de ser um mito Guardo todas as histórias Aqui no pensamento Pois sabemos que essas histórias são de grande ensinamento. Escutamos com entusiasmo Guardamos no coração Levamos conosco a lembrança Dessa grande lição. Oh! Mito que exalta os deuses Aqui estamos nós, homens de bem Almejando prosperidade, Paz e amor. Amem. Observamos então que ao se ampliarem as possibilidades de atuação em saúde mental podemos nos debruçar sobre estratégias de enfrentamento que incluem todas as dimensões da vida, pois o logos sem o mito empobrece. Aqui, mythos e logos, apesar de distintos se complementam e ao logos não cabe aliviar a dor ou o sofrimento. (ARMSTRONG, 2009a). O logos não sabe responder perguntas sobre o valor da vida humana. O cientista pode tornar as coisas mais eficientes e descobrir fatos maravilhosos acerca do universo físico, porém não consegue decifrar o sentido da vida. Isso compete ao mito e ao culto (ARMSTRONG, 2009a, p. 17). Então ao trabalharmos com o mito estamos incluindo uma parte que apenas atualmente passa a encontrar espaço no trabalho em saúde, o mythos que durante muito tempo foi renegado como sendo menor e fantasioso. Neste trabalho devolvemos o mito para o lugar de onde nunca saiu verdadeiramente, a mente humana. CONCLUSÕES Os mitos são histórias que nos acompanham há muito tempo, independente de terem certa cronologia e localização geográfica, falam de vivências que são atemporais,
  • 7. 7 arquetípicas. O homem necessita ouvir histórias para alimentar a sua capacidade de reorganizar e recontar a sua própria história, as narrativas mitológicas ajudam a organizar a experiência de estar no mundo e a dar contornos ao próprio mundo. Adentrar o universo mítico é uma possibilidade de se reconectar com o sagrado e com as infinitas possibilidades de cada indivíduo. As narrativas míticas, com seu manancial simbólico e religioso, são um poderoso instrumento de promoção da saúde mental. Entrar em contato com as narrativas míticas, plenas de obstáculos, tarefas, transformações e possibilidades faz ressoar nos indivíduos pontos pessoais de saúde. Ao elaborarem expressivamente os conteúdos mobilizados a partir da escuta, estão os indivíduos participando ativamente do seu processo de construção e reconstrução de significados, tornando-se assim sujeitos do seu processo de saúde. REFERÊNCIAS ARMSTRONG, K. Em nome de Deus. O fundamentalismo no judaísmo, no cristianismo e no islamismo. São Paulo: Companhia de Bolso, 2009a. ARMSTRONG, K. Breve história do mito. 1.ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2009b. CAMPBELL, J. O Poder do Mito. 13. ed. São Paulo: Palas Athena, 1990. JUNG, C.G. Fundamentos de Psicologia Analítica. 3. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 1985. JUNG, C. G. A Prática da Psicoterapia. 9. ed. Petrópolis-RJ: Vozes, 2004. SCHWEIG, Graziele Ramos et. al. Cuidado e saúde mental: desafios à formação profissional na perspectiva da reforma psiquiátrica. Asociación Madres de Plaza de Mayo. Memorias 7º Congresso. Disponível em: <http://www.madres.org/asp/contenido.asp?clave=3519>. Acesso em: 11 de Janeiro de 2010. SILVEIRA, N. Jung, Vida & Obra. 18. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2001.