3. DIRETRIZES GERAIS
segunda geração do modernismo brasileiro
revisão crítica do antepassado histórico-cultural;
visão crítica [irônica] do “estar-no-mundo”;
resgata-se a crença de que se pode ser realmente humano;
preocupação religiosa e filosófica;
análise do ser humano e de suas angústias;
desejo de compreender a relação entre o indivíduo e a sociedade;
retomada de formas poéticas da tradição.
4. CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
segunda geração do modernismo brasileiro
características
ironia
elaboração
linguís0ca
poesia
meta5sica
e
social
descrença
principais obras
Alguma
poesia
Sen/mento
do
mundo
A
rosa
do
povo
Boitempo
5. CIDADEZINHA QUALQUER
Carlos Drummond de Andrade
Casas
entre
bananeiras
mulheres
entre
laranjeiras
pomar
amor
cantar.
Um
homem
vai
devagar.
Um
cachorro
vai
devagar.
Um
burro
vai
devagar.
Devagar...
As
janelas
olham.
Eta
vida
besta,
meu
Deus.
lirismo
meta+sico:
visão
irônica
[corrosiva
do
mundo];
leitura
aguda
do
co0diano;
aspectos
formais:
paralelismo
sintá0co
[repe0ção}
sugere
a
monotonia
da
cidade
pequena.
6. SENTIMENTO DO MUNDO
Carlos Drummond de Andrade
Tenho
apenas
duas
mãos
E
o
sen0mento
do
mundo,
mas
estou
cheio
de
escravos,
minhas
lembranças
escorrem
e
o
corpo
transige
na
confluência
do
amor.
Quando
me
levantar,
o
céu
estará
morto
e
saqueado,
eu
mesmo
estarei
morto,
morto
meu
desejo,
morto
o
pântano
sem
acordes.
Os
camaradas
não
disseram
que
havia
guerra
e
era
necessário
trazer
fogo
e
alimento.
Sinto-‐me
disperso,
anterior
a
fronteiras,
humildemente
vos
peço
que
me
perdoeis,
Quando
os
corpos
passarem,
eu
ficarei
sozinho
desfiando
a
recordação
do
sineiro,
da
viúva,
do
microscopista
que
habitavam
a
barraca
e
que
não
foram
encontrados
ao
amanhecer
esse
amanhecer
mais
noite
que
a
noite.
7. SENTIMENTO DO MUNDO
Carlos Drummond de Andrade
lirismo
social/filosófico:
visão
agônica
da
existência
diante
do
contexto
da
II
Guerra
Mundial;
[a
angús0a
do
sujeito
poé0co
é
intensificada
pelo
paradoxo
no
úl0mo
verso]
[por
intermédio
do
discurso
poé0co,
o
locutor
ar0cula
a
memória
do
tempo
terrível
–
noite]
aspectos
formais:
versos
livres;
es0lís0ca
da
repe0ção
[segunda
estrofe]:
reforço
poé0co;
8. OS INOCENTES DO LEBLON
Carlos Drummond de Andrade
Os
inocentes
do
Leblon
não
viram
o
navio
entrar.
Trouxe
bailarinas?
trouxe
imigrantes?
trouxe
um
grama
de
rádio?
Os
inocentes,
defini0vamente
inocentes,
tudo
ignoram,
mas
a
areia
é
quente,
e
há
um
óleo
suave
que
eles
passam
nas
costas,
e
esquecem.
lirismo
social:
crí0ca
à
alienação
da
burguesia;
[a
alienação
polí0ca
é
intensificada
pela
figura
do
óleo
–
bronzeador
–
que
separa]
aspectos
formais:
versos
livres
e
brancos;
metáfora.
9. A ROSA DO POVO
Carlos Drummond de Andrade
Irmãos,
cantai
esse
mundo
que
não
verei,
mas
virá
um
dia,
dentro
em
mil
anos,
talvez
mais…
não
tenho
pressa.
Um
mundo
enfim
ordenado,
uma
pátria
sem
fronteiras,
sem
leis
e
regulamentos,
uma
terra
sem
bandeiras,
sem
igrejas
nem
quartéis,
sem
dor,
sem
febre,
sem
ouro,
um
jeito
só
de
viver,
mas
nesse
jeito
a
variedade,
a
mul0plicidade
toda
que
há
dentro
de
cada
um.
Uma
cidade
sem
portas,
de
casas
sem
armadilha,
um
país
de
riso
e
glória
como
nunca
houve
nenhum.
Este
país
não
é
meu
nem
vosso
ainda,
poetas.
Mas
ele
será
um
dia.
O
país
de
todo
homem.
10. A ROSA DO POVO
Carlos Drummond de Andrade
o
locutor
dirige-‐se
aos
poetas,
considerando-‐os
como
irmãos;
seu
chamado
visa
a
fazer
com
que
os
poetas
se
iden0fiquem
com
a
causa
ou
abracem
o
ideal
por
ele
defendido
e
se
unam
no
sonho
de
uma
sociedade
futura
representada
pela
cidade
do
amanhã
um
projeto
utópico
que
ele
não
verá,
mas
que
certamente
se
tornará
realidade.
a
cidade
corresponde
à
utopia
de
um
novo
mundo
social;
trata-‐se
de
uma
cidade
ideal,
sem
lugar
específico,
que
não
existe
senão
como
sonho;
ela
representa
um
mundo
mais
justo,
sem
leis
opressoras;
uma
nova
ordem
social,
igualitária
e
que
respeite
as
par0cularidades
dos
indivíduos,
com
suas
crenças,
valores
e
idiossincrasias.
11. POEMA DE SETE FACES
Carlos Drummond de Andrade
Quando
nasci,
um
anjo
torto
desses
que
vivem
na
sombra
disse:
Vai,
Carlos!
ser
gauche
na
vida.
As
casas
espiam
os
homens
que
correm
atrás
de
mulheres.
A
tarde
talvez
fosse
azul,
não
houvesse
tantos
desejos.
O
bonde
passa
cheio
de
pernas
pernas
brancas
pretas
amarelas.
Para
que
tanta
perna,
meu
Deus,
pergunta
meu
coração.
Porém
meus
olhos
não
perguntam
nada.
O
homem
atrás
do
bigode
é
sério,
simples
e
forte.
Quase
não
conversa.
Tem
poucos,
raros
amigos
O
homem
atrás
dos
óculos
e
do
bigode
12. POEMA DE SETE FACES
Carlos Drummond de Andrade
Meu
Deus,
por
que
me
abandonaste
se
sabias
que
eu
não
era
Deus
se
sabias
que
eu
era
fraco.
Mundo
mundo
vasto
mundo,
se
eu
me
chamasse
Raimundo
seria
uma
rima,
não
seria
uma
solução.
Mundo
mundo
vasto
mundo,
mais
vasto
é
meu
coração.
Eu
não
devia
te
dizer
mas
essa
lua
mas
esse
conhaque
botam
a
gente
comovido
como
o
diabo.
13. POEMA DE SETE FACES
Carlos Drummond de Andrade
por
intermédio
de
procedimento
cubista,
o
locutor
apresenta
suas
“sete”
faces:
01)
gauche:
outsider;
02)
desejos
sexuais
[homens/
que
correm
atrás
das
mulheres];
03)
seriedade
[bigode];
04)
intelectual
[óculos];
05)
religiosa
[Meu
Deus...]
06)
coração
maior
que
o
mundo;
07)
lirismo
[comoção];
modernidade:
cubismo;
versos
livres
e
brancos;
paródia
paródias:
Bíblia
[1ª.
e
5ª.
estrofes];
parnasianismo
[Raimundo];
discurso
român0co
[7ª
estrofe];
o
poema
se
ar0cula
como
tenta0va
de
definir
o
“eu”
que
escreve
14. NO MEIO DO CAMINHO
Carlos Drummond de Andrade
No
meio
do
caminho
0nha
uma
pedra
Tinha
uma
pedra
no
meio
do
caminho
Tinha
uma
pedra
No
meio
do
caminho
0nha
uma
pedra
Nunca
me
esquecerei
desse
acontecimento
Na
vida
de
minhas
re0nas
tão
fa0gadas
Nunca
me
esquecerei
que
no
meio
do
caminho
Tinha
uma
pedra
Tinha
uma
pedra
no
meio
do
caminho
No
meio
do
caminho
0nha
uma
pedra
aspectos
formais:
versos
livres
e
brancos;
pontuação
rela0va;
prosaísmo;
repe0ção;
aspectos
temá3cos:
releitura
crí0ca
do
soneto
“Nel
mezzo
del
camin”,
de
Olavo
Bilac;
[poema
piada:
nega
veementemente
os
preceitos
parnasiano/conservadores].
15. QUADRILHA
Carlos Drummond de Andrade
João
amava
Teresa
que
amava
Raimundo
que
amava
Maria
que
amava
Joaquim
que
amava
Lili
que
não
amava
ninguém.
João
foi
para
os
Estados
Unidos,
Teresa
para
o
convento
Raimundo
morreu
de
desastre,
Maria
ficou
para
0a,
Joaquim
suicidou-‐se
e
Lili
casou
com
J.
Pinto
Fernandes
que
não
0nha
entrado
na
história.
visão
irônica
do
amor
9tulo
metafórico:
ruptura
c/
senso
comum,
na
medida
em
que
se
vê
amor
como
desencontro
ironia:
para
o
eu
lírico,
amor
é
desencontro
e
interesse
[sexual
e
financeiro]
16. POESIA
Carlos Drummond de Andrade
Gastei
meia
hora
pensando
um
verso
Que
a
pena
não
quer
escrever
No
entanto
ele
está
cá
dentro
Inquieto
vivo.
Ele
está
cá
dentro
E
não
quer
sair.
Mas
a
poesia
deste
momento
Inunda
minha
vida
inteira.
metalinguagem,
visão
análoga
à
do
roman3smo
celebração
da
poesia
enquanto
revelação,
inspiração,
sen3mento,
estado
de
espírito
17. POLÍTICA LITERÁRIA
Carlos Drummond de Andrade
O
poeta
municipal
discute
com
o
poeta
estadual
Qual
deles
é
capaz
de
bater
o
poeta
federal.
Enquanto
isso
o
poeta
federal
0ra
ouro
do
nariz
lirismo
social
[não
se
trata
de
metalinguagem,
pois
não
se
fala
do
fazer
poé*co]
visão
irônica
das
disputas
literárias
18. CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Carlos Drummond de Andrade
Alguns
anos
vivi
em
Itabira.
Principalmente
nasci
em
Itabira.
Por
isso
sou
triste,
orgulhoso:
de
ferro.
Noventa
por
cento
de
ferro
nas
calçadas.
Oitenta
por
cento
de
ferro
nas
almas.
E
esse
alheamento
do
que
na
vida
é
porosidade
e
comunicação.
A
vontade
de
amar,
que
me
paralisa
o
trabalho,
vem
de
Itabira,
de
suas
noites
brancas,
sem
mulheres
nem
horizontes
E
o
hábito
de
sofrer,
que
tanto
me
diverte,
é
doce
herança
itabirana.
De
Itabira
trouxe
prendas
diversas
que
ora
te
ofereço:
esta
pedra
de
ferro,
futuro
aço
do
Brasil;
este
São
Benedito
do
velho
santeiro
Alfredo
Duval;
este
couro
de
anta,
estendido
no
sofá
da
sala
de
visitas;
este
orgulho,
esta
cabeça
baixa.
Tive
ouro,
0ve
gado,
0ve
fazendas.
Hoje
sou
funcionário
público.
Itabira
é
apenas
uma
fotografia
na
parede.
Mas
como
dói!
19. CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO
Carlos Drummond de Andrade
memória
afe3va
aspectos
biográficos
ferro:
duro,
frio,
resistente
[condição
do
mineiro]
ferro:
o
mineiro
não
é
leve,
poroso,
comunica/vo
metonímias
de
Itabira
[pedra,
santo,
couro
de
anta]
terceira
estrofe:
enumeração
caó0ca
[modernismo]
o
eu-‐lírico
sinaliza
a
condição
de
uma
classe
[ex-‐proprietários
rurais
que
se
tornaram
burocratas]